Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Função Tubular 1: Na+, Cl-, Água e Glicose MONITOR: AFFONSO HENRIQUE SOBREIRA XAVIER 1. INTRODUÇÃO O os rins desempenham uma função importantíssima na regulação do líquido extracelular (LEC) a partir da quantidade do íon sódio que é excretado na urina, uma vez que o Na+ é um carregador de água, contribuindo de forma substancial para a osmolaridade do LEC. Sabemos assim que apenas pequena parcela de Na+ é excretado na urina diariamente, fazendo os rins o papel de reabsorver quase que completamente o que é filtrado no glomérulo. A partir da ingestão de uma dieta ocidental que contém aproximadamente 120 mmoles de Na+, os rins reabsorvem cerca de 99,6% do Na+ filtrado até o momento em que o fluido tubular (FT) alcança a pelve renal. Desse modo, não é surpreendente que cada segmento do néfron faça sua própria e única contribuição para a homeostasia do Na+. 2. O TRANSPORTE DE SÓDIO E CLORETO PELO NÉFRON O túbulo proximal reabsorve a maior fração do Na+ filtrado (~ 67%), nesse segmento a reabsorção deve ser um processo praticamente isosmótico. A alça de Henle reabsorve uma fração menor, porém significativa do Na+ filtrado (≈25%). Os segmentos entre o TCD e o túbulo coletor cortical (TCC), reabsorvem ≈ 5% da carga filtrada de Na+. Finalmente, o ducto coletor medular reabsorve ≈3% da carga filtrada de Na+. Vale ressaltar aqui que a reabsorção de Na+ acontece por duas vias: transcelular e paracelular. a) Reabsorção Transcelular – Para iniciar sua movimentação, o Na+ atravessa passivamente a membrana apical das células epiteliais dos túbulos (Como a concentração intracelular de Na+ ([Na+]i) é baixa e a voltagem celular é negativa em relação ao lúmen, o gradiente eletroquímico favorece a entrada passiva de Na+ através da membrana apical). Esse mecanismo ocorre nos segmentos proximal, REA e TCD, utilizando cotransportadores ou trocadores, já no DC cortical e medular, usam um sistema de canais epiteliais, o ENaC. Em seguida, o passo seguinte é a passagem desse íon pela membrana basolateral para o interstício, que ocorre quase que exclusivamente pela bomba Na/K, mantendo a concentração de Na+ baixa dentro da célula e aumentando a concentração intracelular de K+. b) Reabsorção Paracelular – Esse mecanismo é o mesmo para todos os segmentos do néfron, onde o gradiente eletroquímico transepitelial governa toda a movimentação de Na+. a força movente resultante para o Na+ é positiva (favorecendo a reabsorção passiva de Na+) apenas nos segmentos S2 e S3 do túbulo proximal e no REA. O Na+ também pode- se mover contra o gradiente do lúmen tubular para o sangue por meio do arraste pelo solvente, o movimento do H2O a partir Função Tubular 1: Na+, Cl-, Água e Glicose I MONITOR: AFFONSO HENRIQUE SOBREIRA XAVIER do lúmen também arrasta Na+ e Cl– na mesma direção. Em geral, o vazamento da via paracelular diminui ao longo do néfron a partir do túbulo proximal (o mais vazado) até os ductos coletores papilares. Assim, o fluido luminal no néfron distal atinge concentrações muito menores de Na+ e Cl– quando comparado ao fluido do túbulo proximal. 3. TRANSPORTE A NÍVEL CELULAR 3.1.SÓDIO • Túbulo Proximal: na primeira metade existem diferentes tipos de transportes localizados na membrana apical, sempre obedecendo o gradiente fovorável (estabelecida pela bomba Na/K presente na membrana basolateral). Muitos desses cotransportadores movidos por Na+ são eletrogênicos, carregando uma resultante de cargas positivas para o interior da célula, levando consigo outros íons. Além da entrada pelos cotransportadores, a entrada de Na+ também se dá acoplada à saída de H+ através do trocador Na-H (NHE3) eletroneutro. A bomba Na/K e, em menor extensão, o cotransportador Na/HCO3 (NBC) são também responsáveis pelo segundo passo da reabsorção de Na+, ou seja, o movimento do Na+ da célula para o sangue. Devido à voltagem transepitelial lúmen-negativa no início do túbulo proximal, assim como à via paracelular ser permeável ao Na+, aproximadamente um terço do Na+ que é transportado a partir do lúmen para o sangue pela via transcelular difunde-se de volta para o lúmen pela via paracelular (“vazamento”). Figura a seguir: Fonte: Boron, 2015. • Ramos Delgados da Alça de Henle: O transporte de Na+ pelos ramos delgados descendente e ascendente da alça de Henle é quase que exclusivamente passivo e paracelular. • Ramo Espesso da Alça de Henle: A via transcelular inclui dois mecanismos de captação de Na+ através da membrana apical. O cotransportador Na/K/Cl (NKCC2) acopla a entrada de 1 íon Na+, 1 íon K+ e 2 íons Cl– em um processo eletroneutro a favor do gradiente de concentração do Na+ e do Cl–. A segunda via de entrada de Na+ é um NHE3. a bomba Na/K basolateral mantém baixa a [Na+]i e move o Na + para o sangue Na+ Um aspecto importante para a reabsorção de Na+ pela via paracelular no REA é a voltagem lúmen-positiva. Como os canais para K+ dominam a condutância da membrana apical, a voltagem a membrana Função Tubular 1: Na+, Cl-, Água e Glicose I MONITOR: AFFONSO HENRIQUE SOBREIRA XAVIER apical do REA é mais negativa que aquela da membrana basolateral, o que resulta em uma voltagem transepitelial lúmen-positiva. Como o REA possui baixa permeabilidade à água, a remoção do NaCl luminal deixa o TF restante hiposmótico. essa maneira, o REA é também chamado de segmento diluidor. Figura a seguir: Fonte: Boron, 2015 NOTA: os diuréticos de alça (p. ex., furosemida e bumetanida) inibem o cotransportador Na/K/Cl. • Túbulo Convoluto Distal: O passo apical da captação de Na+ é mediado pelo cotransportador Na/Cl eletroneutro (NCC) que pertence à mesma família que o NKCC2 presente no REA. O passo basolateral da reabsorcao de Na+, assim como nas outras celulas, e mediado pela bomba Na/K. Figura a seguir: • Fonte: Boron, 2015 NOTA: o NCC é inibido por diuréticos tiazídicos, menos potentes, porém eficaze s na remoção do excesso de Na+ do organismo. • Túbulo Coletores Iniciais e Corticais: A reabsorcao de Na+ nesses segmentos do nefron e no tubulo conector e transcelular e mediada pelo tipo celular majoritario: a celula principal. O Na+ passa pela membrana apical das celulas principais atraves dos ENaCs. ducto coletor. O passo basolateral da reabsorcao de Na+ e mediado pela bomba Na/K, a qual tambem fornece a forca movente eletroquímica para a entrada de Na+. luminal. Alem disso, alteracoes nos niveis de aldosterona ou AVP podem modular o número de ENaCs abertos na membrana apical e talvez possam, dessa maneira, afetar a contribuição relativa do potencial químico do Na+ a voltagem da membrana apical. Figura a seguir: Fonte: Boron, 2015 NOTA: O ENaC é o único bloqueado de forma específica por baixas concentrações do fármaco diurético amiloride. • Ducto Coletor Medular: é provável que os ENaCs medeiem a entrada apical de Na+ nesses segmentos e que a bomba Na/K seja responsável pela extrusão do Na+ da células através da membrana basolateral. Função Tubular 1: Na+, Cl-, Água e Glicose I MONITOR: AFFONSO HENRIQUE SOBREIRA XAVIER 3.2. CLORETO • Túbulo Proximal: no túbulo proximal inicial a via paracelular parece ser a rota predominante (O arraste pelo solvente também contribui no segmento S1). Figura a seguir: Fonte: Boron, 2015 A via transcelular é predominante no túbulo proximal final, onde o influxo de Cl– é energeticamente desfavorável e ocorre através da membrana apical por meio de uma troca de Cl– luminal por ânions celulares (p. ex., formato, oxalato, HCO3 - e OH–), mediada pelo CFEX (SLC26A6). O passo de saída basolateral do Cl– transportado pela via transcelular pode ocorrer em parte através de um canal para Cl–, CFTR. Alémdisso, a membrana basolateral do túbulo proximal pode também possuir o cotransportador K/Cl (KCC), proveniente da mesma família do NKCC2 e do NCC. Figura a seguir: Fonte: Boron, 2015 • Ramo Espesso Ascendente da Alça de Henle: A reabsorção de Cl– no REA ocorre principalmente pelo cotransporte de Na/K/Cl através da membrana apical, da mesma forma que para a reabsorção de Na+. A saída de Cl– através da membrana celular basolateral por canais para Cl– pertencentes à família ClC. Figura a seguir: Fonte: Boron, 2015 • Túbulo Convoluto Distal: O passo apical ocorre pela NCC semelhante ao transporte de Na+. Os canais para Cl–, provavelmente similares aqueles presentes no REA, medeiam o passo da saída basolateral de Cl–. Figura a seguir: Função Tubular 1: Na+, Cl-, Água e Glicose I MONITOR: AFFONSO HENRIQUE SOBREIRA XAVIER Fonte: Boron, 2015 • Ductos Coletores: Primeiro, a célula principal gera uma voltagem transepitelial (≈40 mV, lúmen- negativa) favorável à difusão paracelular de Cl–. Figura a seguir: Fonte: Boron, 2015 Segundo, as células b-intercaladas reabsorvem Cl– por meio de um processo transcelular que envolve o trocador Cl-HCO3 através das membranas apicais e os canais para Cl– na membrana basolateral. Figura a seguir: Fonte: Boron, 2015 3.3. ÁGUA – REABSORÇÃO PASSIVA E SECUNDÁRIA AO TRANSPORTE DE SOLUTO • Túbulo Proximal: A via para o movimento de água através do epitélio tubular proximal parece ser um misto entre as rotas transcelular e paracelular, com o predomínio da via transcelular. A presença de uma elevada densidade de canais para água aquaporina 1 (AQP1) tanto na membrana apical quanto na basolateral explica o alto movimento de água através das células do túbulo proximal. • Alça de Henle e Néfron Distal: Primeiro, o REA e todos os segmentos posteriores possuem permeabilidade relativamente baixa à água na ausência de AVP (ou hormônio antidiurético). Segunda, a reabsorção de NaCl associada a baixa permeabilidade a água permite que esses segmentos possuam [Na+] e osmolalidade luminais baixas em relação ao fluido intersticial circunjacente. 3.4. GLICOSE A concentração de glicose no plasma em jejum e normalmente de 4 a 5 mM (70 a 100 mg/dL) e é regulada pela insulina e por outros hormônios. Os rins filtram a glicose livremente no glomérulo e, então, a reabsorvem, de modo que normalmente apenas quantidades vestigiais aparecem na urina. O túbulo proximal reabsorve quase toda a carga filtrada de glicose, a maior parte ao longo do primeiro terço desse segmento. Segmentos mais Função Tubular 1: Na+, Cl-, Água e Glicose I MONITOR: AFFONSO HENRIQUE SOBREIRA XAVIER distais reabsorvem quase todo o restante. Ademais, a reabsorção de glicose ocorre contra o gradiente de concentração e, portanto, deve ser ativa. A reabsorção de glicose é transcelular; a glicose move-se a partir do lúmen para a célula do túbulo proximal através do cotransporte de Na/glicose, e do citoplasma para o sangue por difusão facilitada. Na membrana apical, um membro da família de cotransportadores de Na/glicose (SGLT) acopla o movimento da eletricamente neutra D-glicose e Na+. Uma vez dentro da célula, a glicose sai através da membrana basolateral por um transportador de glicose membro da família GLUT (independentes de Na+). Na parte inicial do túbulo proximal (segmento S1), um transportador de glicose de alta capacidade e baixa afinidade, denominado SGLT2, medeia a captação de glicose apical. Os GLUTs do segmento inicial são GLUT2 no túbulo proximal inicial, na membrana basolateral. Figura a seguir: Fonte: Boron, 2015 Na parte final do túbulo proximal (segmento S3), um cotransportador de alta afinidade e baixa capacidade, denominado SGLT1, é responsável pela captação de glicose apical. Os GLUTs do segmento inicial são GLUT1 no túbulo proximal inicial, na membrana basolateral. Figura a seguir: Fonte: Boron, 2015 OBSERVAÇÃO: A excreção de glicose na urina ocorre somente quando a concentração plasmática excede um limiar. É apenas acima deste limiar de ∼200 mg/dL (∼11 mM) que a glicose aparece na urina. A excreção de glicose aumenta linearmente à medida que a [glicose] no plasma aumenta ainda mais. REFERÊNCIA: BORON, W. F.; BOULPAEP, E. L. Fisiologia Médica. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015.
Compartilhar