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Produto vetorial Se −→v = (v1, v2, v3) e −→w = (w1, w2, w3) são vetores no espaço tridimensional, então de�- nimos o produto vetorial −→v ×−→w como sendo I o vetor nulo −→ 0 se −→v = −→0 ou −→w = −→0 , I o vetor do espaço tridimensional que satisfaz as três condições a seguir se −→v 6= −→0 e −→w 6= −→0 : (1) −→v ×−→w tem comprimento ||−→v ×−→w || = ||−→v || ||−→w ||sen θ, onde θ é o ângulo entre −→v e −→w . (2) O vetor −→v ×−→w é simultaneamente perpendicular a −→v e a −→w (com isso de�nimos a direção de −→v ×−→w ). (3) O sentido do vetor −→v ×−→w é dado pela regra a mão direita descrita a seguir. Regra da mão direita: Posicione sua mão direita reta, com o polegar perpendilar aos outros 4 dedos, de forma que esses 4 dedos �quem no sentido do vetor −→v de como na �gura abaixo. Se θ é o ângulo entre os vetores −→v e −→w (lembrando que este é o menor ângulo entre os vetores), arraste os 4 dedos que estão direcionados no sentido do vetor −→v pelo ângulo θ (com a palma da mão virada para o ângulo θ) até atingir o sentido do vetor −→w . O sentido do vetor −→v ×−→w é o sentido no qual o polegar da sua mão direita aponta à medida que esse movimento de arraste é realizado. Atenção: Você precisa utilizar a mão direita. Nunca use a mão equerda para determinar o sentido. Se você for canhoto, tome cuidado com isso. Como um vetor é completamente identi�cado pelo seu comprimento, sua direção e seu sentido, então o vetor −→v ×−→w está bem de�nido. θ −→v −→w −→v ×−→w θ Observação 1. O produto vetorial só está de�nido para vetores do espaço tridimensional. Portanto, não existe produto vetorial entre vetores do plano. Observação 2. O resultado do produto vetorial é um vetor do espaço tridimencional, enquanto o resultado do produto escalar é um escalar (ou seja, um número real). Por isso, os produtos recebem esses nomes. Se −→u , −→v e −→w são vetores do espaço tridimencional e α um escalar, então as propriedades a seguir são satisfeitas. 1 (1) −→v ×−→w = −(−→w ×−→v ) Ou seja, os vetores −→v ×−→w e −→w ×−→v são vetores simétricos um do outro. Essa propriedade é chamada de anti-comutatividade. De fato, os vetores −→v ×−→w e −→w ×−→v tem mesmo comprimento (||−→v || ||−→w ||sen θ) e mesma direção (que é a direção perpendicular a −→v e a −→w ), mas eles possuem sentidos opostos, pois (utilizando a regra da mão direita) ao arrastarmos os dedos no sentido do vetor −→v por θ até obter o sentido do vetor −→w , o polegar aponta no sentido oposto ao obtido ao arrastarmos os dedos no sentido do vetor −→w por θ até obter o sentido do vetor −→v . −→w −→v −→v ×−→w −→w ×−→v (2) (−→v ×−→w ) • −→v = 0 e (−→v ×−→w ) • −→w = 0 De fato, como o vetor −→v × −→w é perpendicular a −→v , então (−→v × −→w ) • −→v = 0. Da mesma forma, como o vetor −→v ×−→w é perpendicular a −→w , então (−→v ×−→w ) • −→w = 0. (3) α(−→v ×−→w ) = (α−→v )×−→w = −→v × (α−→w ) (4) −→v × (−→w +−→u ) = (−→v ×−→w ) + (−→v ×−→u ) e (−→w +−→u )×−→v = (−→w ×−→v ) + (−→u ×−→v ) Ou seja, vale a distributividade do produto vetorial com relação à soma. Observação 3. Tome cuidade com a ordem do produto vetorial ao fazer uma distributivi- dade com relação à soma, pois o produto vetorial não é comutativo. (5) −→v ×−→w = −→0 se, e somente se, −→v = α−→w ou −→w = α−→v . De fato, temos que −→v × −→w = −→0 se, e somente se, ||−→v × −→w || = 0. Mas isto acontece se, e somente se, ou −→v = −→0 , ou −→w = −→0 ou sen θ = 0 (o que ocorre apenas quando θ = 0 ou θ = π e, portanto, quando os vetores são paralelos). Como o vetor nulo é múltiplo esca- lar de qualquer vetor e dois vetores não-nulos são paralelos se, e somente se, um é múltiplo escalar do outro, então concluímos que −→v × −→w = −→0 se, e somente se, ou −→v é múltiplo escalar de −→w ou −→w é múltiplo escalar de −→v . 2 O produto vetorial em termos das componentes dos vetores Vamos obter uma fórmula para o produto vetorial de dois vetores em termos das compo- nentes destes vetores, utilizando o produto vetorial entre os vetores canônicos. Observe que o produto vetorial entre dois vetores canônicos distintos possui comprimento 1, pois os vetores canônicos tem norma 1 e são perpendiculares entre si (o que implica que o ângulo entre eles é θ = π 2 e , portanto, sen θ = 1), tem a direção do outro vetor canônico diferente deles (pois o produto vetorial tem direção simultaneamente perpendicular aos dois vetores) e tem sentido dado pela regra da mão direita. Concluímos assim, que o produto vetorial entre dois vetores canônicos distintos ou é o vetor canônico restante ou é o simétrico dele. (1) O produto vetorial −→ i × −→j é o vetor unitário que tem mesma direção do vetor −→ k e sen- tido igual ao de −→ k (pela regra da mão direita). Portanto, −→ i ×−→j = −→ k . Pela anti- comutatividde do produto vetorial, −→ j ×−→i = − −→ k . (2) O produto vetorial −→ j × −→ k é o vetor unitário que tem mesma direção do vetor −→ i e sen- tido igual ao de −→ i (pela regra da mão direita). Portanto, −→ j × −→ k = −→ i . Pela anti- comutatividde do produto vetorial, −→ k ×−→j = −−→i . (3) O produto vetorial −→ i × −→ k é o vetor unitário que tem mesma direção do vetor −→ j e sen- tido oposto ao de −→ j (pela regra da mão direita). Portanto, −→ i × −→ k = −−→j . Pela anti- comutatividade do produto vetorial, −→ k ×−→i = −→j . Por outro lado, como um vetor é paralelo a ele mesmo, então −→ i ×−→i = −→0 , −→j ×−→j = −→0 e −→ k × −→ k = −→ 0 . Na prática, para lembrar de forma mais fácil os produtos vetoriais entre os vetores canônicos, podemos pensar que: se �zermos uma roda com os vetores −→ i , −→ j e −→ k posicionados no sentido horário, então: (i) O produto vetorial de um vetor canônico com ele mesmo é o vetor nulo. (ii) O produto vetorial de dois vetores canônicos distintos selecionados no sentido horário na roda é o simétrico do vetor canônico restante. (iii) O produto vetorial de dois vetores canônicos distintos selecionados no sentido anti-horário na roda é o simétrico do vetor canônico restante. −→ i ×−→j = −→ k −→ j ×−→i = − −→ k −→ j × −→ k = −→ i −→ k ×−→j = −−→i −→ k ×−→i = −→j −→i × −→ k = −−→j 3 Observação 4. Não é verdade, em geral, que −→u × (−→v ×−→w ) = (−→u ×−→v )×−→w . Por exemplo, −→ i × (−→j ×−→j ) = −→i ×−→0 = −→0 , mas (−→i ×−→j )×−→j = −→ k ×−→j = −−→i . Logo, −→i × (−→j ×−→j ) 6= ( −→ i ×−→j )×−→j . Sejam −→v = (v1, v2, v3) e −→w = (w1, w2, w3) dois vetores do espaço tridimensional. Temos que −→v = v1 −→ i + v2 −→ j + v3 −→ k e −→w = w1 −→ i +w2 −→ j +w3 −→ k . Pela distributividade do produto vetorial com relação à soma, temos que −→v ×−→w = (v1 −→ i + v2 −→ j + v3 −→ k )× (w1 −→ i + w2 −→ j + w3 −→ k ) = v1w1( −→ i ×−→i ) + v1w2( −→ i ×−→j ) + v1w3( −→ i × −→ k ) + v2w1( −→ j ×−→i ) + v2w2( −→ j ×−→j ) + v2w3( −→ j × −→ k ) + v3w1( −→ k ×−→i ) + v3w2( −→ k ×−→j ) + v3w3( −→ k × −→ k ) = v1w1 −→ 0 + v1w2 −→ k + v1w3(− −→ j ) + v2w1(− −→ k ) + v2w2 −→ 0 + v2w3 −→ i + v3w1 −→ j + v3w2(− −→ i ) + v3w3 −→ 0 = v1w2 −→ k − v1w3 −→ j − v2w1 −→ k + v2w3 −→ i + v3w1 −→ j − v3w2 −→ i = (v2w3 − v3w2) −→ i + (v3w1 − v1w3) −→ j + (v1w2 − v2w1) −→ k = (v2w3 − v3w2, v3w1 − v1w3, v1w2 − v2w1). Concluímos assim, o seguinte resultado: Teorema 1. Sejam −→v = (v1, v2, v3) e −→w = (w1, w2, w3) vetores do espaço tridimensional. O produto vetorial −→v ×−→w é dado por −→v ×−→w = (v2w3 − v3w2, v3w1 − v1w3, v1w2 − v2w1) . Considere a matriz 2× 3 cuja primeira linha é constituída das coordenadas de −→v e cuja se- gunda linha é constituída das coordenadas de−→w , ou seja, considere a matriz A = [ v1 v2 v3 w1 w2 w3 ] . Para calcular o produto vetorial −→v × −→w de forma prática, basta observar que a primeira co- ordenada do produto vetorial é o determinante da matriz 2 × 2 obtida ao excluir a primeira coluna de A, a segunda coordenada do produto vetorial é o negativo do determinante da matriz 2× 2 obtida ao excluir a segunda coluna de A e a terceira coordenada do produto vetorial é o determinante da matriz 2× 2 obtida ao excluira terceira coluna de A. Ou seja, −→v ×−→w = ( det [ v2 v3 w2 w3 ] ,− det [ v1 v3 w1 w3 ] , det [ v1 v2 w1 w2 ]) . Observação 5. Ao utilizar essa forma de calcular o produto vetorial, não se esqueça do sinal negativo da segunda coordenada do vetor. Exemplo 1. Em cada caso, calcule o produto vetorial −→v ×−→w para os vetores −→v e −→w dados. (a) −→v = (2, 2,−2) e −→w = (−1, 4, 1). (b) −→v = (1, 0, 7) e −→w = (−7, 0, 1). (c) −→v = (2,−1, 3) e −→w = (1, 4, 5). Resolução: (a) A = [ 2 2 −2 −1 4 1 ] e −→v ×−→w = ( det [ 2 −2 4 1 ] ,−det [ 2 −2 −1 1 ] ,det [ 2 2 −1 4 ]) = (2 + 8,−(2− 2), 8 + 2) = (10, 0, 10). 4 (b) A = [ 1 0 7 −7 0 1 ] e −→v ×−→w = ( det [ 0 7 0 1 ] ,−det [ 1 7 −7 1 ] ,det [ 1 0 −7 0 ]) = (0− 0,−(1 + 49), 0− 0) = (0,−50, 0). (c) A = [ 2 −1 3 1 4 5 ] e −→v ×−→w = ( det [ −1 3 4 5 ] ,− det [ 2 3 1 5 ] , det [ 2 −1 1 4 ]) = (−5− 12,−(10− 3), 8 + 1) = (−17,−13, 9). Utilizando o produto vetorial para calcular áreas Observe que se −→v e −→w não forem paralelos, então podemos considerar o paralelogramo cujos lados possuem direção e comprimento determinados pelos vetores −→v e −→w . Se considerarmos a base do paralelogramo como sendo um dos lados paralelos ao vetor −→w , então podemos obter pelo triângulo destacado na �gura abaixo −→w −→v −→w −→vh θ h|| −→v || ||proj−→w−→v || θ que se θ é o ângulo entre −→v e −→w , então sen θ = h ||−→v || ⇒ h = ||−→v ||sen θ. Logo, a área do paralelogramo é Área = base · h = ||−→w || · ||−→v ||sen θ = ||−→v ×−→w ||. Concluímos assim que a norma do vetor −→v ×−→w é numericamente igual à área do paralelo- gramo determinado por −→v e por −→w . Exemplo 2. Determine a área do paralelogramo determinado pelos vetores −→v = (1, 2, 3) e −→w = (4, 5, 6). −→v ×−→w = ( det [ 2 3 5 6 ] ,− det [ 1 3 4 6 ] , det [ 1 2 4 5 ]) = (12− 15,−(6− 12), 5− 8) = (−3, 6,−3). ‖−→v ×−→w ‖ = √ (−3)2 + 62 + (−3)2 = √ 9 + 36 + 9 = √ 54 = 3 √ 6. Logo, a área do paralelogramo é 3 √ 6 unidades de área. Exemplo 3. Determine a área do paralelogramo ABCD de vértices A = (1, 0, 1), B = (3, 1, 4), C = (0, 5, 7) e D = (−2, 4, 4). 5 x y z -3 -2 -1 1 2 3 0 1 2 3 4 5 6 7 0 1 2 3 4 5 A B D C O que fazemos nesse caso é considerar um dos vértices do paralelogramo e construir dois vetores com ponto inicial nesse vértice: um cujo ponto �nal é o vértice seguinte do paralelogramo e um cujo ponto �nal é o vértice anterior do paralelogramo. Por exemplo, se considerarmos o vértice A, o vértice seguinte à ele é o vértice B e o vértice anterior a ele é o vértice D. Nesse caso, vamos considerar os vetores −→ AB e −−→ AD. Vamos obter as coordenadas destes vetores. −→ AB = −−→ OB − −→ OA = (3, 1, 4)− (1, 0, 1) = (3− 1, 1− 0, 4− 1) = (2, 1, 3). −−→ AD = −−→ OD − −→ OA = (−2, 4, 4)− (1, 0, 1) = (−2− 1, 4− 0, 4− 1) = (−3, 4, 3). Observe que o paralelogramo ABCD é equivalente ao paralelogramo gerado pelos vetores −→ AB e−−→ AD. Logo, a área do paralelogramo será ‖ −→ AB × −−→ AD‖. Vamos calcular essa norma. −→ AB × −−→ AD = ( det [ 1 3 4 3 ] ,− det [ 2 3 −3 3 ] , det [ 2 1 −3 4 ]) = (3− 12,−(6 + 9), 8 + 3) = (−9,−15, 11). ‖ −→ AB × −−→ AD‖ = √ (−9)2 + (−15)2 + 112 = √ 81 + 225 + 121 = √ 427. Logo, a área do paralelogramo é √ 427 unidades de área. Observe que podemos utilizar o produto vetorial para calcular áreas de triângulos também, uma vez que a área de todo triângulo corresponde a metade da área de um paralelogramo. A B C D 6 Exemplo 4. Determine a área do triângulo ABC, onde A = (3, 2, 0), B = (0, 4, 3) e C = (1, 0, 2). A área do triângulo é metade da área do paralelogramo gerado pelos vetores −→ AB e −−→ BC e, portanto, a área do triângulo é || −→ AB × −−→ BC|| 2 . Vamos determinar os vetores −→ AB e −−→ BC, calcular o produto vetorial deles e a norma desse produto vetorial. −→ AB = −−→ OB − −→ OA = (0, 4, 3)− (3, 2, 0) = (0− 3, 4− 2, 3− 0) = (−3, 2, 3). −→ AC = −→ OC − −−→ OB = (1, 0, 2)− (0, 4, 3) = (1− 0, 0− 4, 2− 3) = (1,−4,−1). −→ AB × −−→ BC = ( det [ 2 3 −4 −1 ] ,− det [ −3 3 1 −1 ] , det [ −3 2 1 −4 ]) = (−2 + 12,−(3− 3), 12− 2) = (10, 0, 10). ‖ −→ AB × −−→ BC‖ = ||(10, 0, 10)|| = √ 102 + 02 + 102 = √ 200 = 10 √ 2. Logo, a área do triângulo ABC é || −→ AB × −−→ BC|| 2 = 10 √ 2 2 = 5 √ 2 unidades de área. Exemplo 5. Determine a área do triângulo ABC de vértices A = (2, 4, 4), B = (1, 2, 1) e C = (3, 3, 3). x y z 1 2 3 1 2 3 0 1 2 3 4 B A C A área do triângulo é metade da área do paralelogramo gerado pelos vetores −→ AB e −−→ BC e, portanto, a área do triângulo é || −→ AB × −−→ BC|| 2 . Vamos determinar os vetores −→ AB e −−→ BC, calcular o produto vetorial deles e a norma desse produto vetorial. −→ AB = −−→ OB − −→ OA = (1, 2, 1)− (2, 4, 4) = (1− 2, 2− 4, 1− 4) = (−1,−2,−3). −→ AC = −→ OC − −−→ OB = (3, 3, 3)− (1, 2, 1) = (3− 1, 3− 2, 3− 1) = (2, 1, 2). −→ AB × −−→ BC = ( det [ −2 −3 1 2 ] ,− det [ −1 −3 2 2 ] , det [ −1 −2 2 1 ]) = (−4 + 3,−(−2 + 6),−1 + 4) = (−1,−4, 3). ‖ −→ AB × −−→ BC‖ = ||(−1,−4, 3)|| = √ (−1)2 + (−4)2 + 32 = √ 26. 7 Logo, a área do triângulo ABC é || −→ AB × −−→ BC|| 2 = √ 26 2 unidades de área. Produto misto Sejam −→u , −→v e −→w vetores do espaço tridimensional. De�nimos o produto misto de −→u , −→v e −→w como sendo o produto −→u • (−→v ×−→w ) . Observação 6. Como o produto escalar de dois vetores é um escalar, então o resultado do produto misto é um número real (uma vez que ele é o produto escalar do vetor −→u com o vetor −→v ×−→w ). Pela fórmula do produto vetorial, temos que −→u • (−→v ×−→w ) = (u1, u2, u3) • (v2w3 − v3w2, v3w1 − v1w3, v1w2 − v2w1) = u1(v2w3 − v3w2) + u2(v3w1 − v1w3) + u3(v1w2 − v2w1) = u1 det [ v2 v3 w2 w3 ] − u2 det [ v1 v3 w1 w3 ] + u3 det [ v1 v2 w1 w2 ] . Considere a matriz A, 3 × 3, cuja primeira linha é constituída das coordenadas do vetor −→u , segunda linha é constituída das coordenadas do vetor −→v e terceira linha é constituída das coordenadas do vetor −→w . Ou seja, considere a matriz A = u1 u2 u3v1 v2 v3 w1 w2 w3 . Se utilizarmos a expansão em cofatores pela primeira linha da matriz A, obtemos detA = u1 · (−1)1+1 · det [ v2 v3 w2 w3 ] + u2 · (−1)1+2 · det [ v1 v3 w1 w3 ] + u3 · (−1)1+3 · det [ v1 v2 w1 w2 ] = u1 det [ v2 v3 w2 w3 ] − u2 det [ v1 v3 w1 w3 ] + u3 det [ v1 v2 w1 w2 ] = −→u • (−→v ×−→w ) O que mostramos foi o seguinte teorema, que nos diz como obter o produto misto em termos das coordenadas dos vetores. Isto nos auxiliará a fazer as contas. Teorema 2. Se −→u = (u1, u2, u3), −→v = (v1, v2, v3) e −→w = (w1, w2, w3), então −→u • (−→v ×−→w ) = det u1 u2 u3v1 v2 v3 w1 w2 w3 . Exemplo 6. Calcule o produto misto entre os vetores −→u = (1, 0, 3), −→v = (5,−1, 4) e −→w = (0, 2,−1). −→u • (−→v ×−→w ) = det 1 0 35 −1 4 0 2 −1 = 23. Se −→u , −→v , −→w e −→r são vetores do espaço tridimensional e α é um escalar, então as seguintes propriedades são válidas: 8 1. −→u • (−→v ×−→w ) = −→v • (−→w ×−→u ) = −→w • (−→u ×−→v ) De fato, devido à comutatividade dos números reais, temos −→u • (−→v ×−→w ) = u1(v2w3 − v3w2) + u2(v3w1 − v1w3) + u3(v1w2 − v2w1) = u1v2w3 − u1v3w2 + u2v3w1 − u2v1w3 + u3v1w2 − u3v2w1 = v1(w2u3 − w3u2) + v2(w3u1 − w1u3) + v3(w1u2 − w2u1) = −→v • (−→w ×−→u ). De forma análoga, −→u • (−→v ×−→w ) = u1(v2w3 − v3w2) + u2(v3w1 − v1w3) + u3(v1w2 − v2w1) = u1v2w3 − u1v3w2 + u2v3w1 − u2v1w3 + u3v1w2 − u3v2w1 = w1(u2v3 − u3v2) + w2(u3v1 − u1v3) + w3(u1v2 − u2v1) = −→w • (−→u ×−→v ). 2. −→u • (−→v ×−→w ) = −−→u • (−→w ×−→v ) Essa propriedade decorre diretamente da anti-comutatividade do produto vetorial. 3. −→u • (−→v × (−→w +−→r )) = −→u • (−→v ×−→w ) +−→u • (−→v ×−→r ) De fato, pela distributividade do produto vetorial e do produto escalar com relação a soma: −→u • (−→v × (−→w +−→r )) = −→u • [(−→v ×−→w ) + (−→v ×−→r )] = −→u • (−→v ×−→w )+−→u • (−→v ×−→r ). 4. α [−→u • (−→v ×−→w )] = (α−→u ) • (−→v ×−→w ) = −→u • ((α−→v )×−→w ) = −→u • (−→v × (α−→w )) 5. −→u • (−→v ×−→w) = (−→v ×−→w ) • −→u Esta propriedade é uma consequência direta da comutatividade do produto escalar. Vetores colineares e vetores coplanares Dizemos que dois vetores não-nulos −→v e −→w do espaço tridimensional são colineares se −→v e −→w são paralelos. Pelas propriedades de produto vetorial, podemos concluir o seguinte teorema: Teorema 3. Se −→v e −→w são dois vetores não-nulos do espaço tridimensional, então −→v e −→w são colineares se, e somente se, −→v × −→w = 0 (ou seja, se, e somente se, ambos os vetores são paralelos a alguma reta do espaço tridimensional). Observe que se −→v e −→w forem colineares, existe uma reta passando pela origem do espaço tridimensional que contém simultaneamente os representantes de −→v e de −→w que tem ponto inicial na origem (por isso o nome colineares). De fato, basta tomar essa reta como sendo a reta passando pela origem do sistema de coordenadas e tem a mesma direção dos dois vetores. Dizemos que os vetores −→u , −→v e −→w do espaço tridimensional são coplanares se o produto misto deles é nulo, ou seja, se −→u • (−→v ×−→w ) = 0. Observe que isto ocorre apenas nas seguintes situações: se algum dos três vetores −→u , −→v e −→w for o vetor nulo, se os vetores −→v e −→w forem paralelos (pois, nesse caso, teremos −→v × −→w = 0) ou se o vetor −→u for perpendicular ao vetor −→v ×−→w . Note que, em qualquer uma das três situações, existe um plano contendo simultaneamente os representantes dos vetores −→u , −→v e −→w com ponto inicial na origem. De fato, se algum dos 9 três vetores for o vetor nulo, então o plano determinado pelos outros dois vetores contém os vetores (uma vez que um representante do vetor nulo é apenas um ponto). Se os vetores −→v e −→w forem paralelos, então o vetor −→w está contido no plano determinado pelos representantes de −→v e −→u . Por �m, se o vetor −→u for perpendicular ao vetor −→v ×−→w , então os três vetores −→u , −→v e −→w são perpendiculares ao vetor −→v ×−→w , e portanto, seus representantes com ponto inicial na origem estão contidos em um mesmo plano. Concluímos assim o seguinte resultado: Teorema 4. Se −→u , −→v e −→w são três vetores do espaço tridimensional, então −→u • (−→v ×−→w ) = 0 se, e somente se, existe um plano contendo simultaneamente os representantes destes vetores com ponto inicial na origem (ou seja, se, e somente se, estes vetores são todos paralelos a algum plano do espaço tridimensional). −→u −→v −→w Exemplo 7. Em cada caso, determine se existe ou não algum plano do espaço tridimensional que é simultaneamente paralelo aos vetores −→u , −→v e −→w . (a) −→u = (1, 2, 3), −→v = (2,−1, 4) e −→w = (5, 0,−2). (b) −→u = (1,−2, 3), −→v = (1, 2, 1) e −→w = (1, 0, 2). (c) −→u = (1, 2,−1), −→v = (1, 0, 1) e −→w = (0, 1, 0). (d) −→u = (1, 2,−1), −→v = (1, 2,−3) e −→w = (2, 4,−6). Resolução: (a) Como −→u • (−→v × −→w ) = det 1 2 32 −1 4 5 0 −2 = 65 6= 0, então os vetores −→u , −→v e −→w não são coplanares e, portanto, não existe nenhum plano do espaço tridimensional que seja paralelo simultaneamente a esses três vetores. (b) Como −→u • (−→v ×−→w ) = det 1 −2 31 2 1 1 0 2 = 0, então os vetores −→u , −→v e −→w são coplanares e, portanto, existe um plano do espaço tridimensional que é paralelo simultaneamente a esses três vetores. (c) Como −→u • (−→v × −→w ) = det 1 2 −11 0 1 0 1 0 = −2 6= 0, então os vetores −→u , −→v e −→w não são coplanares e, portanto, não existe nenhum plano do espaço tridimensional que seja paralelo simultaneamente a esses três vetores. 10 (d) Como −→u • (−→v ×−→w ) = det 1 2 −11 2 −3 2 4 −6 = 0, então os vetores −→u , −→v e −→w são coplanares e, portanto, existe um plano do espaço tridimensional que é paralelo simultaneamente a esses três vetores. Exemplo 8. Determine todos os valores de α para os quais os vetores −→u = (2, 1,−4), −→v = (−1, α, 0) e −→w = (1,−1, 2) são coplanares. Como −→u • (−→v × −→w ) = det 2 1 −4−1 α 0 1 −1 2 = 8α − 2, então os vetores são coplanares ape- nas quando 8α− 2 = 0 e, portanto, quando α = 2 8 = 1 4 . Exemplo 9. Determine se existe algum plano do espaço tridimensional que contém simulta- neamente os pontos A = (1, 1, 0), B = (2, 3,−1), C = (1, 2,−2) e D = (2, 2, 1). Observe que os pontos A,B,C e D pertencem à um mesmo plano se, e somente se, os ve- tores −→ AB, −→ AC e −−→ AD são coplanares. Como −→ AB = (2− 1, 3− 1,−1− 0) = (1, 2,−1), −→ AC = (1− 1, 2− 1,−2− 0) = (0, 1,−2), −−→ AD = (2− 1, 2− 1, 1, 0) = (1, 1, 1) e −→ AB • ( −→ AC × −−→ AD) = det 1 2 −10 1 −2 1 1 1 = 0, então os vetores −→ AB, −→ AC e −−→ AD são coplanares e, portanto, existe um plano do espaço tridi- mensional que contém simultaneamente os pontos A,B,C e D. Interpretação geométrica do produto misto Sejam −→u , −→v e −→w vetores não-nulos que não são coplanares. Considere o paralelepípedo determinado por −→u , −→v e −→w de base −→v e −→w . −→w −→v −→u Lembramos que o volume de um paralelepípedo é igual ao produto da área de sua base pela sua altura. Como a base do nosso paralelelepípedo é o paralelogramo formado pelos vetores −→v e −→w , então a área da base é numericamente igual a ||−→v ×−→w ||. 11 −→v ×−→w −→w −→v −→uproj−→v ×−→w−→u Observe que a altura do paralelepípedo é h = ||proj−→v ×−→w−→u || = ∥∥∥∥−→u • (−→v ×−→w )||−→v ×−→w ||2 −→v ×−→w ∥∥∥∥ = |−→u • (−→v ×−→w )|||−→v ×−→w ||2 ||−→v ×−→w || = |−→u • (−→v ×−→w )|||−→v ×−→w || . Logo, o volume do paralelepípedo é Volume = (área da base) · h = ||−→v ×−→w || · | −→u • (−→v ×−→w )| ||−→v ×−→w || = |−→u • (−→v ×−→w )|. O que mostramos foi o seguinte teorema: Teorema 5. Dados três vetores não-coplanares do espaço tridimensional −→u , −→v e −→w , o módulo do produto misto de −→u , −→v e −→w , isto é, |−→u • (−→v × −→w )| é numericamente igual ao volume do paralelepípedo determinado por −→u , −→v e −→w . Exemplo 10. Considere os vetores −→u = (1, 2, 3), −→v = (5, 4, 1) e −→w = (0, 2, 6). Como −→u • (−→v ×−→w ) = det 1 2 35 4 1 0 2 6 = −8 6= 0, então os vetores −→u , −→v e −→w não são coplanares e o volume do paralelepípedo gerado por estes vetores é |−→u • (−→v ×−→w )| = | − 8| = 8 unidades de volume. Exemplo 11. O volume do paralelepípedo gerado pelos vetores −→u = (1, 2,−1), −→v = (1, 0, 1) e −→w = (0, 1, 0) é |−→u • (−→v ×−→w )| = | − 2| = 2 unidades de volume. 12 Volume de um tetraedro O produto misto também pode ser usado para calcular o volume de um tetraedro gerado por três vetores não coplanares −→u , −→v e −→w . D C B −→w −→v −→u A Para tanto usamos que o volume do tetraedro é exatamente 1 6 do volume do paralelepípedo gerado pelos vetores −→u , −→v e −→w e, portanto, Volume do tetraedro = 1 6 |−→u • (−→v ×−→w )| . Exemplo 12. Calcule o volume do tetraedro de vértices A = (0, 0, 1), B = (1, 2, 0), C = (1, 0, 2) e D = (0, 1, 1). Observe que esse tetraedro é o tetraedro gerado pelos vetores −→ AB = (1, 2,−1), −→ AC = (1, 0, 1) e −−→ AD = (0, 1, 0). Como | −→ AB • ( −→ AC × −−→ AD)| = | − 2| = 2, então o volume do tetraedro é 2 6 = 1 3 unidades de volume. 13