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09 - GÁLATAS

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GÁLATAS
W i l l i a m Simmons
INTRODUÇÃO
1. O Espírito Santo e Gálatas
A p e s so a e a o b ra d o E sp írito S a n to d e ­
sem p en h a ra m um p a p el p ro em in en te nas 
igrejas da Galácia. O evangelism ona Galácia, 
p o r e x e m p lo , fo i in ic ia d o p o r um m o v i­
m e n to s o b re n a tu ra l d o E sp ír ito S a n to (At
13.2,4). O Espírito m anifestou tam bém dons 
c a rism á tico s em seu m e io . O s d isc íp u lo s 
da A n tioq u ia d e P isíd ia, p o r e x e m p lo , são 
d escrito s c o m o s e n d o c h e io s d e alegria 
e d o E sp írito S a n to (1 3 .5 2 ) . O S e n h o r c a ­
pacitou Paulo e B a m a b é para executar sinais 
e m aravilh as e m Ic ô n io (1 4 .3 ) . P au lo m a ­
n ife sto u o d o m d e cu ra e m Listra, q u a n ­
do um aleijado foi com pletam ente restaurado 
(1 4 .8 -1 0 ; 1 C o 1 2 .9 ). C laram en te , a fu n ­
d a çã o d as ig re jas d a G a lá c ia e o m in is té ­
rio d e P a u lo e B a rn a b é en tre esta s ig re jas 
fo ra m o re su lta d o d o tra b a lh o d o E sp íri­
to Santo .
O Espírito Santo d esem p en h o u tam bém 
u m p ap el-ch av e em resolver os m uitos p ro ­
blem as na G alácia . A lgo estava terrivelm ente 
errad o e m m e io a estas c o n g re g a çõ e s in i­
ciais d e P au lo . E m b o ra o s gálatas fo sse m 
o s p rim eiro s a ouvir o ev a n g e lh o livre da 
lei, estav am se v o ltan d o p ara o legalism o 
(At 13-39; G l 4 .8 -10). Paulo havia claram ente 
pregado a justificação pela fé, m as eles estavam 
b u sca n d o serem ju stificad o s p elas o b ras 
(G l 2 .1 6 ; 3 .1 ,1 0 ,1 1 ). A lém d isso , fo i b e m 
n o m e io d eles q u e P au lo exp licita m en te 
proclam ou que iria para os gentios (At 13.46- 
48). A gora algum as destas p esso as estavam 
q u e ren d o se to rn ar ju d eu s (G l 5 .2 ). F ica ­
ram fascinados e estavam em perigo d e jogar 
fora a sua sa lv ação (3 .1 ; 4 .1 1 ,1 9 ) .
P ro cu ra n d o tra z er d e v o lta o s g álatas 
p ara a c o n g re g a ç ã o , P au lo n ã o reafirm a 
sim p lesm en te a m en sa g em d o ev an gelh o , 
re ite ra n d o q u e as fo rm u la çõ e s d o u trin á­
rias n ã o d esfa rã o o d an o q u e e x iste lá. E le 
deve apontar para algo mais tangível, alguma 
ex p e r iê n c ia in q u estio n áv el p ara afastar os
gálatas para lo n g e d o s d eso rd eiros. É aqui 
q u e Paulo se con centra ria exp eriên cia com 
o E sp írito S a n to (B e tz , 1 9 7 4 ,1 4 6 ).
P o r e x e m p lo , e m G á la ta s P a u lo n ã o 
a s so c ia p rin c ip a lm e n te c o n c e ito s -c h a v e 
c o m o “g ra ç a ”, “ju s tiça ” e “a d o ç ã o ” c o m a 
cru z e a re ssu rre içã o . P e lo co n trá rio , e s ­
tes tem as p rincip ais são re lacio n ad o s à e x ­
p e riê n c ia d o E sp írito (3 .2 ,5 ,1 4 ; 4 .6 ,2 9 ; 5 .5 ;
6 .8 ) . A lé m d is so , te rm o s s o c io ló g ic o s 
n e g a tiv o s c o m o “im a tu ro ”, “e s c r a v o ” e 
“p e d a g o g o ” (3 -2 4 ,2 5 ; 4 .1 ,2 ) sã o co n tra s ­
ta d o s c o m te rm o s m ais p o sitiv o s a s so c i­
a d o s c o m o E sp írito , tais c o m o “filh o s ”, 
“liv res” e “P a i” (3 .1 9 — 4 .7 ) (Lull, 1 9 8 0 ,1 1 8 , 
1 2 7 -1 2 8 ,1 3 1 )- O p o n to c en tra l d e P au lo 
é q u e o recebim ento do Espírito p elos gálatas 
serv e c o m o u m a p ro v a in e g á v e l d e q u e 
e les são filhos d e D eus (3-1-5) (W edderburn, 
1 9 8 8 ,1 7 1 ). A e x p e r iê n c ia d o E sp ír ito e o 
receb im en to da graça estão correlacionados 
virtualmente u m a o outro nesta carta. A m bos 
cria m um a c o n s c iê n c ia d e q u e D e u s está 
v e rd a d e ira m e n te tra b a lh a n d o n o c ren te .
E sta v e rd a d e se to rn a p a rticu la rm en te 
e v id e n te n o q u e diz re sp e ito à d o u trin a 
d e Paulo da justificação p ela fé. Em Gálatas, 
o d o m d o E sp ír ito e a ju s t i f ic a ç ã o sã o 
in sep a rá v e is , p o is P a u lo n o ta q u e o E s­
p írito fo i re c e b id o p e lo s g á la ta s da m e s ­
m a fo rm a q u e A b ra ã o r e c e b e u a ju stiça 
d e D e u s (3 .6 , cf. ta m b é m R m 8 .1 -1 7 ; 1 Co 
6 .11 ; 2 Co 3 .8 ,9 ) (D ahl, 1 9 7 7 ,1 3 3 ). Som ente 
c o m b a s e n a fé e m C ris to , o s g e n t io s 
in c irc u n c iso s sã o h a b ita d o s p e lo E sp íri­
to Santo d e D eus, sep aradam ente das obras 
d a le i. D e s te m o d o , a p re s e n ç a d o E sp í­
rito n o m e io d o s g á la ta s é o e n d o ss o d i­
v in o q u e re d e fin e o lu g ar d a le i e e s ta b e ­
le c e a ce n tra liz a ç ã o da fé.
A im p o rtân cia te o ló g ica d o E spírito em 
G á la ta s é e v id e n te a p artir d o s e x e m p lo s 
d a d o s a c im a . Is to é , a m a n e ira e m q u e o 
E sp ír ito o p e ro u e n tre o s g á la ta s re v e la a 
n a tu rez a d e D e u s e su a r e la ç ã o p ara c o m 
E le . A lém d isso , o a rg u m e n to d e P a u lo 
s o m e n te te rá p e s o se o tra b a lh o d o E s­
1123
GÁLATAS
pírito for distinto e inegavelmente real. 
A função do “clamor Abba” em4.6,7 prova 
este ponto (Lemmer, 1992,359). Debai­
xo da influência carismática do Espíri­
to, os gálatas gritam “Abba, Pai!”. Este clamor 
de êxtase cria uma consciência filial que 
é um testemunho para a realidade de seu 
lugar em Deus. É a prova primária que 
diz: “Você pertence”. Esta deve ser uma 
realidade contínua na Igreja para que haja 
qualquer força no apelo de Paulo. Por­
tanto, tal atividade do Espírito não é uma 
parte incidental do culto de adoração. Mais 
do que isto, é essencial para a presença 
de Deus no meio dos crentes. Quer di­
zer que eles nasceram do Espírito e que 
o Espírito os capacita a viverem como 
cristãos (4.21-31; 5.16-26).
Finalmente, as implicações sociológi­
cas do Espírito em Gálatas são também 
importantes. Se Deus demonstra sua so­
lidariedade amorosa para com os cren­
tes da galácia concedendo seu Espírito pela 
fé, como podem discriminar e nutrir as 
diferenças entre si mesmos? Por isso, não 
pode haver judeu nem grego, nem escravo 
nem livre, nem homem nem mulher, porque 
eles são todos um em Cristo Jesus (3.28) 
(Heine, 1987,153). Apresença unificadora 
do Espírito é o que faz separação de Pedro 
dos gentios ainda mais inaceitável (2.11- 
15) (Dunn, 1992,116,117).
Segue-se que a carta aos gálatas é de 
significado especial para os pentecostais. 
Porque na presença permanente do Espí­
rito Santo está a legitimidade da vida e da 
adoração cristã. A habitação do Espírito, 
acompanhada de seus dons e frutos, ser­
ve como evidência de que alguém foi to­
talmente aceito por Deus. E um sinal tan­
gível de que fomos justificados pela fé, 
separadamente da lei. Deste modo, a pre­
sença dinâmica do Espírito na vida do crente 
marca claramente o fim da lei e qualquer 
tentativa de assegurar justiça através das 
obras. O Espírito cria uma solidariedade 
divina com o Pai que nada pode dissol­
ver. Em outras palavras, a atividade sobre­
natural do Espírito não é algum aspecto 
incidental da adoração pentecostal. É o sinal 
divino autenticando nossa experiência de 
salvação. O Espírito serve como o cami­
nho para o desenvolvimento maduro em 
Cristo. Serve como a chave para a liberda­
de cristã e a libertação da obediência ser­
vil a lei. Gera uma atmosfera de unidade e 
aceitação mútua, que proíbe discrimina­
ção e segregação no corpo de Cristo.
Estas verdades guiarão o restante do 
estudo. Mas antes de nos dirigirmos ao 
texto, devemos nos fazer algumas perguntas 
importantes. Temos permitido que nos­
sas obras para Cristo substituam as obras 
de Cristo? Alguma forma de legalismo, não 
importando quão sutil seja, tem minado 
a graça de Deus em nossas vidas? Um espírito 
de justiça pelas obras tem deslocado a obra 
do Espírito em nosso serviço a Deuse aos 
homens? Finalmente, estamos buscando 
uma religião que possamos controlar em 
lugar de uma fé que guia? Felizmente, o 
cuidado de Paulo pelos gálatas nos aju­
dará a direcionar estes assuntos.
2. Autoria
a . E v id ên c ia In te r n a
Não pode haver nenhuma dúvida de 
que Paulo escreveu a carta aos Gálatas. É 
considerada uma das mais “Paulinas” de 
todas as cartas do Novo Testamento. Sua 
afinidade com Romanos é inconfundível 
e tem sido descrita como um rascunho 
daquela grande carta. Quase toda linha pulsa 
com o espírito e mente do grande apósto­
lo. Como em Romanos, os dois grandes 
temas paulinos, justificação somente pela 
fé e a vida no Espírito, formam a parte principal 
do conteúdo de Gálatas. Seu vocabulário 
mostra consistentemente a mão do após­
tolo. Palavras como “graça”, “fé”, “justiça”, 
“lei”, “carne” e “Espírito” aparecem em toda 
página e são usadas no sentido paulino 
clássico. Não precisamos nutrir nenhuma 
reserva com relação à autoria paulina de 
Gálatas (Bruce, 1982,1).
b. E v id ên c ia E x tern a
O que podemos reunir de fora do texto 
bíblico apóia igualmente a autoria paulina. 
Os primeiros patriarcas da igreja aceitam 
unanimemente Paulo como o autor, e os 
cânones mais antigos da Escritura listam
1124
GÁLATAS
G á la ta s c o m as c a rta s p a u lin a s (B e tz ,
1 9 7 9 ,1 ).
3- Ocasião
P a u lo e s c re v e u p a ra o s g á la ta s p o rq u e 
d e s o rd e iro s e “a g ita d o re s ” se in filtraram 
e m su as ig re ja s (1 .7 ; 5 .1 0 -1 2 ) . E sta v a m 
e sp a lh a n d o h e re s ia s q u e a m e a ç a v a m a 
própria salvação dos convertid os de Paulo. 
E ste s “fa lso s irm ã o s ” ( 2 .4 ) p a re c e m ser 
sem e lh a n te s ao s ju d eu s cristão s legalistas 
e n c o n tr a d o s e m A to s 1 1 .1 -3 e 1 5 .1 -3 - 
F a r ise u s c o n v e r tid o s re iv in d ica v a m q u e 
p a ra o s g e n tio s s e r e m sa lv o s , d ev e ria m 
o b e d e c e r a le i d e M o isé s e s e r e m c ircu n - 
c id a d o s (1 5 .5 ) . N a G a lá c ia , p a r e c e q u e 
tais p esso a s d iscutiram d izen d o q u e P aulo 
o s h a v ia e v a n g e l iz a d o s o m e n te p e la 
m e ta d e , e q u e a le i d e M o isé s p re c isa v a 
s e r a cre sc e n ta d a p ara q u e fo ss e m salv o s. 
O s h e r e g e s e s ta v a m e n tã o b u s c a n d o 
c o m p e lir o s g e n tio s a se re m c irc u n c id a - 
d o s (G l 5 .1 ) e a o b se rv a re m as le is c e r i­
m o n ia is ju d ia s , c o m o o s fe r ia d o s re lig i­
o s o s e as reg ra s d e p u r ific a ç ã o (2 .1 -1 4 ;
4 .1 0 ). E stavam ten tan d o su bstitu ir o e v a n ­
g e lh o d a g ra ça , q u e P a u lo p re g o u , p o r 
u m s is te m a d e ju s tif ic a ç ã o p e la s o b ra s .
E m re su m o , q u e r ia m re in s ta u ra r o ju d a ­
ísm o c o m o o m o d e lo re lig io s o p rim á rio 
p a ra o s c r is tã o s g e n tio s . O s g e n tio s te r i­
am q u e se to m a r ju deus para fazerem parte 
d o p o v o d e D e u s . P o r e s ta s ra z õ e s os 
d esordeiros n a G alácia são freqü en tem ente 
ch a m a d o s d e ju d a iz a n te s (c f. 2 .1 4 ) .
O s ju d a iz a n tes p e rc e b e ra m q u e P au lo 
e seu e v a n g e lh o d e sa lv a çã o p e la g raça 
através da fé eram grand es o b stá cu lo s q u e 
o s im p ed ia m d e rea lizar seu s o b je tiv o s . 
A tacaram e n tã o a p e s so a e a a u to rid ad e 
d e P a u lo e m u m e s fo rç o p ara m in ar su a 
in flu ê n cia n a G a lá c ia (4 .1 6 ) . E n fatizav am 
q u e e le n ã o e ra u m d iscíp u lo d o Je s u s h is­
tó rico c o m o P ed ro , T ia g o e J o ã o (2 -9 ). D e 
fa to , P a u lo era s im p le sm e n te u m p ro d u ­
to d este s a p ó s to lo s “c o lu n a s ” e q u e d e ­
v ia a e le s o seu c o n h e c im e n to re lig io so , 
b e m c o m o a su a e x p e r iê n c ia re lig io s a
(1 .1 8 ,1 9 ) . A cu sa ra m P a u lo d e h ip o cris ia , 
p re g a n d o a c irc u n c isã o e m a lg u m as c o ­
locações, m as proibindo-a na G alácia (5.11).
P a u lo p e r c e b e u c o m p le ta m e n te a n a ­
tu re z a c r ít ic a d a s itu a ç ã o . S e a h e re s ia 
ju d a iz a n te t iv e s se s u c e s s o , fa ria d o cris ­
tia n ism o u m a m e ra s e ita d o ju d a ís m o . 
S e u e n s in o g o lp e o u o c o r a ç ã o d o c r is ­
A Galácia era uma província romana cujo nome provem dos invasores gauleses que a ocuparam no terceiro 
século a.C. Paulo fundou igrejas na Galácia, e então partiu. Escreveu aos gálatas após terem ocorrido pro­
blemas que foram causados por estranhos que discordavam de seus ensinos. Estes desordeiros eram cha­
mados de judaizantes.
jBÊaSm
M a r M e d i t e r r â n e a
i G A L A C I A
C A P A D O C I A
/ • Antioquia 4
>
1
• Icônio
m I
Listra Portões ^
da Cilícia /
>C
1125
GÁLATAS
tianismo. O que os judaizantes prega­
vam não era o evangelho, absolutamente
(1.7); e se o gálatas aceitassem este ensino 
falso, estariam se afastando de Deus e 
caindo em desgraça (1.7; 5.4). Se eles 
concordassem em ser circuncidados, se 
colocariam debaixo da .maldição da lei
(3.10,11), e Cristo não seria de nenhum 
proveito para eles (5-1,2). Por tais ra­
zões, Paulo pronunciou uma dupla mal­
dição aos desordeiros e declarou que 
eles aguardariam o julgamento de Deus 
(1.8-10; 5.10).
Paulo escreveu também para se de­
fender contra a calúnia de seus adver­
sários. Contudo, assim o fez só porque 
sua autoridade apostólica estava vitalmente 
ligada ao evangelho livre da lei para os 
gentios. Então, no que se relaciona a seu 
chamado e mensagem, enfatizou sua in­
dependência dos apóstolos de Jerusalém 
(1.18— 2.6). Contudo, teve que conven­
cer também os gálatas de que Tiago, Pedro, 
e João aceitaram sua mensagem e mis­
são para os gentios (2.7-10). Além dis­
so, Paulo teve que expor os motivos fal­
sos dos judaizantes. Eles não estavam in­
teressados no bem-estar dos gálatas. Ao 
invés disso, queriam ganhar glória por 
si mesmos e evitar a perseguição (4.17; 
6.13). Queriam escravizar os gálatas aos 
“rudimentos fracos e pobres” deste mundo, 
convertendo-os ao judaísmo (4.3,9).
4. Data e Destino
Embora a carta aos Gálatas seja inques­
tionavelmente escrita por Paulo, seu destino 
e data são de difícil determinação. Pau­
lo claramente endereça a carta às “igre­
jas na Galácia” (1.2). Em seus dias, po­
rém, a palavra “Galácia” tinha um signi­
ficado duplo. Poderia se referir ao reino 
antigo de Gauls, que abrangia as regi­
ões do norte de Ponto, Frigia e Capadócia. 
Por outro lado, “Galácia” poderia se re­
ferir também à província romana da Galácia, 
que se estendia ao sul, incluindo as ci­
dades de Antioquia da Pisídia, Listra, Derbe, 
e Icônio. Aqueles que acreditam que Paulo 
escreveu para as regiões do norte, apoi­
am a “Teoria da Galácia do Norte”; aqueles 
que sustentam que as igrejas da Galácia
eram localizadas na região sul, afirmam 
a “Teoria da Galácia do Sul”. Cada teo­
ria afeta a data da carta.
a . A T eoria d a G a lá c ia d o 
N orte
Esta teoria enfoca a atividade missionária 
de Paulo como registrado em Atos 16.1- 
6 e 18.23. Ambas as passagens explicita­
mente mencionam “Galácia” e resumem 
brevemente as viagens de Paulo em sua 
segunda e terceira viagens missionárias. 
Se Paulo se dirigiu a esta região logo depois 
de sua segunda viagem missionária, não 
poderia ter escrito antes de 51-52 d.C. Se 
ele escreveu aos gálatas próximo ao fi­
nal cie sua terceira viagem missionária, teria 
escrito aproximadamente em 55-56 d.C.
Esta teoria particular deve superar duas 
dificuldades principais. Atos não regis­
tra Paulo estabelecendo quaisquer igre­
jas nesta região do norte. Tudo que se 
diz é que ele passou pela região e forta­
leceu os discípulos (At 18.23). Além disso, 
esta teoria sustenta que Paulo escreveu 
aos gálatasdepois do decreto chamado 
de “Concilio de Jerusalém” de Atos 15. 
Se é assim, por que ele não se referiu ex­
plicitamente à decisão do concilio quando 
lutava com os judaizantes na Galácia? Além 
disso, Gálatas 2.11-15 mostra Pedro ce­
dendo à pressão dos legalistas de Jeru­
salém e recusando-se a ter comunhão com 
os gentios incircuncisos da Antioquia. É 
difícil acreditar que Pedro teria negado 
seu próprio testemunho dado em Atos
11.14-17 e 15.7-11. Ele teria também vi­
olado a decisão de Tiago e da Igreja em 
Jerusalém como um todo (At 15.13-31).
b. A T eoria d a G a lá c ia d o Sul
Esta teoria afirma que “as igrejas na Galácia”
(1.2) eram aquelas estabelecidas por Pau­
lo em sua primeira viagem missionária. 
Embora a palavra “Galácia” não apareça 
em Atos 13— 14, a região corresponde à 
província romana da Galácia. Se Paulo 
escreveu a carta aos Gálatas próximo ao
- final de sua primeira viagem missionária, 
então a carta poderia ter sido escrita por
1126
GÁLATAS1
volta de 48-49 d.C., fazendo dela a mais 
antiga das cartas de Paulo. Além disso, os 
gálatas teriam recebido a carta anterior ao 
Concüio dejerusalém, de forma que Pedro 
não teria tido qualquer instrução de Tiago 
e da igreja em Jerusalém com relação à 
comunhão com os gentios. Deste modo, 
sua retirada do círculo de comunhão com 
os crentes gentios na Antioquia se torna 
mais compreensível. Este cenário explica 
também por que Paulo, em Gálatas, não 
se referiu ao Concilio dejerusalém.
Estudiosos respeitáveis formaram argu­
mentos formidáveis em defesa de ambas 
as teorias. O destino exato de Gálatas e, 
conseqüentemente, a data precisa não podem 
ser determinados com certeza. Contudo, 
a Teoria da Galácia do Sul parece se har­
monizar melhor com aquilo que sabemos 
de Atos e das próprias palavras de Paulo 
em Gálatas. Este ponto de vista significa 
que os princípios básicos da teologia de 
Paulo já haviam sido estabelecidos em uma 
primeira fase no desenvolvimento da Igreja.
ESBOÇO
Apesar das circunstâncias difíceis em que 
Paulo escreveu, Gálatas é uma carta bem 
organizada. Ela consiste nos três seguin­
tes argumentos bem definidos: autobio­
gráficos, teológicos e práticos. A seção 
autobiográfica discute a autoridade apos­
tólica de Paulo. A seção teológica apre­
senta claramente as principais doutrinas 
da fé. A seção prática pede a aplicação 
destas convicções. Estas seções são co­
locadas entre uma introdução e uma con­
clusão.
Quando trabalhamos através do esboço, 
torna-se clara a ênfase que Paulo dá ao 
Espírito Santo.
1. Introdução (1.1-10)
1.1. Saudação (1.1-5)
1.2. Ponto Central de Paulo: Um Só 
Evangelho (1.6-10)
2. O A rgum ento Autobiográfico 
de Paulo (1.11— 2.14)
2.1. O Evangelho e a Chamada de Paulo 
São de Deus (1.11-17)
2.2. A Independência de Paulo de 
Jerusalém (1.18-24)
2.3. O Evangelho de Paulo É Confirmado 
pelos Apóstolos dejerusalém (2.1-10)
2.4. Confrontação de Paulo com Pedro 
(2.11-14)
3. O Argumento Teológico de Paulo
(2.15— 4.11)
3.1. A Justificação É pela Fé, Não pelas 
Obras da Lei (2.15-21)
3.2. O Espírito É Recebido pela Fé (3.1-5)
3-3- Abraão É Justificado pela Fé (3.6-9)
3.4. A Maldição da Lei (3.10-12)
3.5. A Promessa do Espírito (3.13,14)
3.6. A Prioridade da Promessa acima 
da Lei (3.15-18)
3.7. O Propósito da Lei (3.19-25)
3.8. Unidade em Cristo (3.26-29)
3.9. O Espírito e a Adoção (4.1-7)
3.10. A Advertência e a Repreensão São 
Renovadas (4.8-11)
4. O Argumento Prático de Paulo
(4.12—6.10)
4.1. Um Apelo à Reconciliação (4.12-16)
4.2. Os Falsos Motivos dos Judaizantes 
(4.17-20)
4.3. Os Filhos Verdadeiros Nascem pelo 
Espírito (4.21-31)
4.4. Esperando no Espírito (5.1-5)
4.5. A Advertência e a Repreensão São 
Renovadas (5.6-12)
4.6. Vivendo no Espírito (5.13-26)
4.7. Semeando para Agradar ao Espírito 
(6 .1-10)
5. Conclusão (6.11-18)
5.1. O Sinal de Autenticidade de Paulo 
(6 .11)
5.2. Mais uma Vez: Expondo os 
Judaizantes (6.12-15)
5-3. Palavras e Bênçãos Finais (6.16-18)
COMENTÁRIO
1. Introdução (1 .1 -1 0 )
1.1 . S a u d a ç ã o (1 .1 -5 )
Paulo não perde tempo em chegar ao 
âmago da questão em Gálatas. Ele usa cada 
palavra de sua saudação para defender o
1127
GÁLATAS1
evangelho da graça. Sua estratégia é ba­
sicamente dupla. Deve substanciar sua 
autoridade apostólica e destacar a sufici­
ência completa de Cristo para a salvação. 
Ambas as questões abordam os proble­
mas que os judaizantes criaram na Galácia. 
Em um esforço para ganhar atenção ali, 
devem desacreditar Paulo; a fim de atrair 
os gálatas ao judaísmo, devem arruinar a 
pessoa e o trabalho de Cristo.
Paulo segue as convenções das cartas 
greco-romanas ao escrever esta carta. Isto 
é, ele se identifica como o autor, inclui 
uma saudação, e continua a remeter aos 
destinatários (Hansen, 1994,31,32). Des­
te modo, a primeira palavra do texto é “Pau­
lo”. Mas mesmo aqui, Paulo pode estar 
expondo seu chamado especial para mi­
nistrar aos gentios. Pois seu nome hebreu, 
Saulo, foi usado somente antes de sua 
primeira viagem missionária. Começan­
do com Atos 13-9, as referências ao apóstolo 
são sempre mencionadas pelo seu nome 
grego, Paulo. É como se Paulo quisesse 
que sua identidade inteira fosse associa­
da ao mundo gentio, inclusive seu pró­
prio nome (Cole, 1984,30).
A próxima palavra no texto é “apósto­
lo”. O significado desta palavra é deriva­
do da palavra rabínica da administração 
religiosa sbaliach , que designava alguém 
que foi “enviado” ou “comissionado” ofi­
cialmente para realizar uma tarefa espe­
cífica (Bruce, 1982,72). Aquele assim comis­
sionado era capacitado com a mesma 
autoridade daquele que o enviou (cf. At
9.1,2, onde Saulo obteve documentos oficiais 
do sumo-sacerdote, autorizando-o a per­
seguir os cristãos em Damasco). O Senhor 
Jesus e a igreja primitiva usaram este ter­
mo para designar liderança espiritual. Em 
seu sentido restrito ela se refere aos doze 
apóstolos originais designados pelo Senhor 
(Mt 10.2-4; Lc 6.13-16; At 1.19-26). Em seu 
sentido mais amplo, a igreja primitiva usava 
o termo “apóstolos” para designar os mi­
nistros enviados para pregar o evangelho 
(At 14.4,14; Rm 16.7; Gl 1.19).
Paulo claramente reivindica ser um 
apóstolo no sentido restrito em Gálatas 
como em suas outras cartas (1.1; cf. Rm
1.1; 1 Co 1.1; Ef 1.1). Também deve-se dizer
que, uma vez que ele foi diretamente 
comissionado pelo Senhor, Paulo está 
enfatizando que ele mesmo e sua men­
sagem foram autorizados por Deus, deforma 
que ele fala com a autoridade de Cristo 
(2 Co 10.8). Seu apostolado se apóia na 
mesma base dos apóstolos anteriores a 
ele. Então, se qualquer um na Galácia rejeitar 
sua autoridade apostólica, terá também 
que rejeitara autoridade dos demais após­
tolos, inclusive Tiago, Pedro e João, os 
chamados apóstolos “colunas” (Gl 2.9).
Paulo não inclui um artigo (“o”) antes da 
palavra “apóstolo”. Sua ausência faz com 
que “apóstolo” sirva mais como uma des­
crição do caráter de Paulo, do que um títu­
lo ou ofício. Paulo não diz que foi designa­
do para um ofício específico na Igreja. Na 
verdade, Pedro e o restante dos apóstolos 
indicaram Matias como um apóstolo para 
substituir Judas (At 1.12-26), porém nunca 
mais se ouviu falar de Matias. Em contras­
te, Paulo foi divinamente chamado e está 
sendo usado por Deus para divulgar o 
Evangelho a todo o mundo gentio (At 9.1— 
28.31). Deste modo, através de um traba­
lho sobrenatural de Deus, todo o ser de Paulo 
assume a natureza de “apóstolo”. Em ou­
tras palavras, “apóstolo” não é algum tra­
balho que Paulo faça ou um posto admi­
nistrativo que ele ocupe; é o que ele é.
Conseqüentemente, a autoridade apos­
tólica de Paulo “não é de homens nem 
por homem algum”. Estas palavras podem 
refletir as acusações dos judaizantes. Eles 
provavelmente reivindicaram que Paulo 
era apenas um “João-ninguém que apa­
receu depois” no que se refere à fé. Ele 
não foi um discípulo dejesus durante seu 
ministério terrestre. De fato, era bem 
conhecido que rejeitou a fé e perseguiu 
violentamente a igreja, começandocom 
Estevão (At 7.58—8.3; 9-1,2). Os judaizantes 
reivindicavam que tudo o que Paulo sa­
bia a respeito dejesus foi aprendido com 
homens como Tiago, Pedro e João. Ele é 
discípulo deles , não um discípulo d e je ­
sus. Queriam dizer que Paulo era subor­
dinado aos apóstolos originais, e que estava 
fazendo uma reivindicação falsa da au­
toridade apostólica. Acusavam Paulo de 
ser uma fraude, e que sua mensagem de
1128
GÁLATAS1
justificação pela fé, separadamente das obras 
da lei, seria igualmente fraudulenta.
Estas acusações são a causa de Paulo 
declarar enfaticamente que seu chama­
do e mensagem “não eram de homens, 
nem por homem algum”. O lugar de Paulo 
no reino não teve sua origem em qual­
quer homem ou grupo de homens. Nem 
Deus comunicou sua vontade a Paulo através 
de quaisquer intermediários humanos. 
Antes, a autoridade e a missão apostóli­
cas de Paulo para os gentios vieram como 
um mandato divino, através de uma re­
velação sobrenatural na estrada de Da­
masco (At 9.1-8; 22.1-11; 26.9-20) (Kim, 
1981, 82, 97,98). Como os profetas anti­
gos, Paulo sustenta que foi divinamente 
escolhido para cumprir um papel crucial 
no plano de salvação de Deus (cf. Is 49.1- 
3; Jr 1.4,5; Gl 1.15,16).
Em contraste total a ser nomeado apóstolo 
por outras pessoas, a autoridade de Pau­
lo veio “por Jesus Cristo e Deus o Pai”. A 
divindade de jesus está fortemente implícita 
neste ponto, pois Ele é colocado na mes­
ma ordem que Deus, o Pai (1.12). O ponto 
de Paulo é que ele recebeu uma comis­
são conjunta dejesus Cristo e de Deus Pai. 
Sem dúvida os desordeiros na Galácia se 
compunham de muitos daqueles que 
conheciam a Jesus de Nazaré. Por essa razão,
o fato de Paulo ter incluído o nome “Je ­
sus” com “Cristo” tem significado aqui: “Jesus” 
quer di2er “Salvador” e era o nome de­
signado que foi dado a nosso Senhor por 
ocasião de seu nascimento (Mt 1.21,25; 
Lc 1.31; 2.11). Embora Paulo tenha sido 
confrontado pelo Cristo exaltado na es­
trada de Damasco, entendeu completa­
mente que o Messias, isto é, “o Ungido”, 
é a mesma pessoa que o Jesus da Galiléia. 
Seu uso repetido de tais frases como “Je ­
sus Cristo” e “Cristojesus” demonstra que 
Paulo se recusa a permitir qualquer dicotomia 
essencial entre o Jesus terreno e o Cristo 
exaltado (Rm 1.3; 1 Co 1.1; 2 Co 1.1; Gl 
2.16; Fp 2.11; Cl 2.6). Então aqueles que 
reivindicam terem conhecido ajesus, não 
têm nenhuma vantagem sobre o apósto­
lo Paulo. Ele também conheceu ajesus.
A ressurreição do Jesus terreno mos­
tra que Ele e o Cristo exaltado são a mes­
ma pessoa. Mencionando a ressurreição, 
Paulo afirma simultaneamente uma con­
vicção no judaísmo conservador e apre­
senta uma doutrina cardeal da fé cristã (cf.
1 Co 15). Os fariseus, ao contrário dos 
saduceus, acreditavam que os mortos seriam 
ressuscitados no último dia (Mt 22.23-32; 
Mc 12.18; At 23.6-10). Para eles, a ressur­
reição era o evento principal dividindo 
esta era presente da era porvir. Para Paulo, 
a ressurreição de Jesus pelo Pai já mar­
cou a mudança das eras. Jesus é a primícia 
da ressurreição (1 Co 15.20-23). Sua cruz 
e ressurreição são os eventos do final dos 
tempos, que, em certo grau, trazem a era 
por vir para o presente. Em um modo 
correspondente, o derramamento do Espírito 
Santo concede ao crente “as primícias do 
Espírito” e anuncia os poderes da era futura 
(At 2; Rm 8.23; 1 Co 12.1— 14.40; Gl 5.5).
Aqueles que foram ressuscitados com 
Cristo e capacitados por seu Espírito for­
mam uma comunidade do final dos tem­
pos, já trazendo até certo ponto o reino a 
este mundo. Conseqüentemente, por todas 
as suas cartas, e especialmente Romanos 
e Gálatas, Paulo entende que a vida cris­
tã normal deva ser uma realização extra­
ordinária. Ele exorta os crentes a viverem 
a vida ressurrecta “andando no Espírito” 
(Rm 6.1-10; 8.1-27; Gl 5.16-18,25). Esta 
“escatologia percebida” fará com que a 
legitimidade da Igreja permaneça até a 
manifestação gloriosa dos filhos de Deus 
e a liberação de toda a criação (Rm 8.18-
21). Claro, a pergunta importante é: Por 
que os gálatas seriam tentados a abraçar 
a revelação primitiva e parcial do judaís­
mo quando já haviam entrado em uma vida 
habilitada pelo Espírito em Cristo? Por que 
deveriam ficar embaraçados nos elementos 
deste mundo, quando já haviam sido li­
bertos pelo Cristo exaltado, através do 
Espírito? Estas são as perguntas que Pau­
lo quer que eles ponderem enquanto expõe 
o Evangelho nesta carta.
Os judaizantes quiseram seguramen­
te marginalizar o apóstolo Paulo, para retratá- 
lo como um dissidente que não teve ne­
nhum seguidor, como alguém que foi isolado 
à margem da Igreja. Paulo opõe-se a tais 
esforços mencionando “todos os irmãos
1129
GÁLATAS1
que estão comigo” (1.2). A palavra “irmãos” 
provavelmente se refira aos companhei­
ros de Paulo freqüentemente menciona­
dos em suas cartas (1 Co 1.1; 2 Co 1.1; F p l. 1; 
Cl 1.1; 1 Ts 1.1,2; 2Ts 1.1; Fm 1). Embora 
a expressão comunique um significado 
masculino em um jargão contemporâneo, 
era provavelmente entendido em termos 
mais genéricos nos dias de Paulo, pois Paulo 
se dirige também a companheiras mulheres 
em suas cartas (Rm 16.1,2; Fp 4.2,3). De 
qualquer modo, o mencionar “irmãos” 
evidencia uma solidariedade com Paulo, 
que suporta a oposição aos judaizantes 
(Ridderbos, 1957,41). Ele não está só em 
sua convicção de que Deus justifica pela 
fé, sem as obras da lei.
“Às igrejas da Galácia” indica que esta 
carta era uma carta circular. Depois de ter 
sido lida em uma igreja, seria passada para 
a próxima até que alcançasse as igrejas 
de uma região inteira.
O ponto mais esclarecedor é que Pau­
lo não inclui nenhum agradecimento aos 
santos, como faz em suas outras cartas (cf. 
Rm f .8; 1 Co 1.4; Fp 1.3). Esta introdução 
concisa e sem agradecimentos mostra como 
a relação entre Paulo e os gálatas está tensa. 
Não obstante, ele ainda se dirige a eles 
como “igrejas”. Apesar de suas dificulda­
des e da ameaça dos judaizantes, os gálatas 
ainda fazem parte do corpo de Cristo. Eles 
ainda não cometeram apostasia.
Paulo parece estar combinando as formas 
greco-romanas e hebraicas de saudação 
em 1.3. Os gregos e os romanos sauda­
vam um ao outro com cha,7'ein. Isto sig­
nificava algo como “saúde e que tudo lhe 
vá bem ”. Mas Paulo transformou esta 
saudação secular em uma saudação re­
pleta de um conteúdo cristão. Na teolo­
gia paulina, “graça” serve como um ter­
mo de proteção cercando toda a bonda­
de de Deus que é de modo preeminente 
visto na pessoa e na obra dejesus Cristo. 
“Paz” vem do hebraico shalom e designa 
o sentido de bem-estar total que só pode 
vir de uma relação correta com Deus. 
Conseqüentemente a fonte destas bênçãos 
é Deus, “nosso Pai e o Senhor Jesus Cris­
to” (cf. 2 Co 1.2-4; 9-8). Além disso, a di­
vindade de Cristo está em evidência aqui.
Assim como o Pai, Jesus serve como a fonte 
de graça e paz divinas.
A suficiência completa de Cristo — 
seguramente o ponto crucial da questão 
em Gálatas — é expresso em 1.4. Jesus 
“deu a si mesmo pelos nossos pecados”. 
Os judaizantes argumentaram que a morte 
dejesus não é suficiente para nos salvar. 
Deve-se crer em jesus e tam bém na cir­
cuncisão (5.6; 6.15). Deve-se crer em Cristo 
e nas obras da lei (2-16). Paulo nega ca­
tegoricamente tal teologia, se é que se pode 
chamá-la assim. Não há lugar para a “jus­
tiça própria”, a qual o próprio Antigo 
Testamento descreve como “trapos de 
imundície” (Is 64.6). Ele se opõe a este 
ensino falso com uma linguagem expiatória 
que provavelmente se originou com o 
próprio Senhor (cf. Mc 10.45). Jesus é a 
expiação completamente suficiente, cum­
prindo todos os requisitos sacrificiais do 
Antigo Testamento (cf. Is 53.5,12; Rm3.25,26; 
4.25). Jesus é a única fonte da verdadeira 
justiça e do verdadeiro perdão dos peca­
dos (G12.20,21; 3.1,13;-4.4; 5.1,11,24; 6.12,14).
Uma vez mais, a cruz de Cristo é vista 
como o evento do final dos tempos. A 
expiação de Cristo não nos perdoa sim­
plesmente dos nossos pecados, mas tam­
bémnos livra “da presente era maligna”. 
Esta era é dominada pelo “deus deste mundo” 
(2 Co 4.4; 1 Co 2.6; Ef 2.2) que já está con­
denado 0o 3-18). Mas a libertação dos santos 
começa agora mesmo (Gl 5.1). Por causa 
da cruz de Cristo e da habitação do Espí­
rito Santo, a liberdade espiritual do último 
dia é trazida para a experiência presente 
do cristão. Isto é o “andar no Espírito” (5.5). 
Bruce habilmente declara: “A habitação do 
Espírito não só os ajuda a prosseguir em 
confiança para a vida da era vindoura (cf. 
5.5); Ele os habilita a apreciá-la mesmo 
enquanto estiverem no corpo mortal em 
que vivem na era presente. Graças à obra 
do Espírito, aplicando aos crentes a redenção 
e a vitória ganha por Cristo, o ‘ainda não’ 
se tornou para eles o ‘já’” (Bruce, 1982,76).
As palavras de Paulo claramente assi­
nalam a distinção ética que existe entre 
as duas eras. A cruz dá à luz a “nova cri­
ação” do tempo do fim (6.15). O novo 
nascimento nunca pode ser realizado pela
1130
GÁLATAS1
lei, que Paulo indica pertencer a esta era 
maligna. A lei é simplesmente outro exemplo 
dos “princípios básicos” (stoicheia ) des­
te mundo que só conduz à escravidão (4.3, 
9). Mas o Espírito, a promessa de Abraão, 
permite ao crente viver a vida ressurrecta 
(3.6; 4.5,28,29; cf. Rm 4.18-21).
Paulo é cuidadoso ao acrescentar que 
a obra salvadora de Cristo era feita “de acordo 
com a vontade de nosso Deus e Pai”. Ele 
toca em vários pontos importantes aqui:
1) Está reivindicando que o próprio Deus criou 
o plano de redenção em Jesus Cristo.
2) Reconhece a preeminência do Pai no pla­
no divino. Embora tenha representado 
repetidamente Jesus como sendo igual ao 
Pai, em última instância o Filho submete 
tudo ao Pai (1 Co 15-20-28).
3) Incluiu os gálatas na família de Deus. Além 
disso, os judaizantes estavam argumentando 
que a fim de ser filho de Deus, primeira­
mente teria de se tornar filho de Abraão 
(Gl 3-6-9,18; 4.22). Por esse motivo, Pau­
lo procura mencionar “o Pai” em três dos 
primeiros cinco versículos de Gálatas. O 
próprio Espírito testemunha em seus co­
rações que eles são filhos de Deus (4.6,7). 
Por causa da graça de Deus em Cristo,
Paulo termina sua saudação com palavras 
de louvor (1.5). Em nenhuma de suas outras 
cartas inclui palavras de louvor na sau­
dação. Alguns argumentam que Paulo insere 
estas palavras no lugar onde expressa 
normalmente agradecimento. Por outro 
lado, pode estar se protegendo contra a 
fiscalização crítica dos judaizantes. Pau­
lo sabe que os judeus ortodoxos habitu­
almente colocam após o nome divino, a 
palavra berakh ah (bênção judaica tradi­
cional). Ao incluir palavras de louvor neste 
ponto, Paulo também expressa sua reve­
rência ao Pai.
1.2. Ponto Central dePaulo:
Um Só E v a n g e lh o (1 .6 -1 0)
Talvez Gálatas seja a mais “humana” 
das cartas de Paulo. Por causa da situa­
ção crítica na Galácia, ele expõe comple­
tamente a sua alma nesta carta. Suas emoções 
e seu espírito se derramam em cada pá­
gina. Em outras palavras, ao defender o
evangelho, Paulo revela também sua per­
sonalidade e caráter.
O corpo desta carta tem início com um 
choque e uma afronta pelos gálatas esta­
rem “tão depressa” abandonando aquEle 
que os chamou (1.6). As palavras “tão 
depressa” sustentam uma data anterior da 
carta como descrito na introdução. Logo 
após a fundação das igrejas na Galácia, 
os judaizantes se infiltraram em seus postos 
e buscaram seduzi-los para longe de Cristo.
A palavra grega para “deserção” (m eta- 
tithemi) foi usada no grego clássico para 
descrever tanto uma mudança de visões 
políticas, quanto abandonar um oficial 
comandante em batalha. Esta última imagem 
caracteriza os crentes da Galácia. Paulo 
não retrata os gálatas como vítimas ino­
centes, sendo arrastados contra sua von­
tade. Pelo contrário, claramente afirma que 
estão decididos a abandonar aquele que 
os chamou. Paulo aponta os judaizantes 
como tendo começado a desordem, mas 
justamente coloca a culpa nos gálatas por 
cooperarem com a sua heresia. E eles ain da 
estão cooperando, como mostra o tem­
po verbal no presente “abandonando”.
A indignação de Paulo não é principal­
mente devido à rejeição deles em relação 
à sua própria pessoa. Na verdade, a crise 
na Galácia não é sobre submissão à sua 
liderança apostólica em si (Duncan, 1966, 
16,17). Afinal, não foi ele que os chamou 
pela graça de Cristo. Só Deus pode cha­
mar de modo eficaz para a salvação (1 Co
1.9). Ninguém sabia disto melhor que o 
próprio apóstolo (1.15). Então, em um sen­
tido fundamental, os gálatas estão aban­
donando a Deus, deixando o único Deus 
verdadeiro que chama pela graça em Cristo. 
Deste modo, para Paulo, a graça é tanto 
o meio pelo qual Deus opera, quanto o 
lugar para o qual eles são chamados (Rm 
5.2; 6.14; 11.6; Ef 2.5,8). Voltar-se a um 
deus que os chama ao legalismo e à es­
cravidão da lei é voltar-se a um deus fal­
so. Os gálatas estão correndo o risco de 
cair em desgraça. Estão à beira da perdi­
ção eterna.
É claro que uma visão distorcida de Deus 
inevitavelmente assume uma expressão 
doutrinária. Ao darem as costas a Deus,
1131
GÁLATAS1
os gálatas se viraram para “ outro evangelho”, 
embora Paulo rapidamente acrescente que 
“não é outro” (1.7). A aparente contradi­
ção na declaração de Paulo é esclarecida 
pelo vocabulário especial que emprega. 
A palavra para “outro” no versículo 6 é 
heteron e se refere a algo que é qualitati­
vamente diferente. O uso de heteron ser­
ve para descrever a diferença entre uma 
maçã e outra fruta, como uma laranja. Mas 
a palavra para “outro” no versículo 7 é allon , 
que se refere a algo que é quantitativamente 
diferente. Seria usado allon para descre­
ver a diferença entre duas maçãs.
Em outras palavras, Paulo não está re­
jeitando um evangelho por estar simples­
mente em uma outra forma em relação 
ao que ele pregava. Tiago, Pedro e João 
revestiram sua mensagem de modo di­
ferente de Paulo, mas ainda era o evan­
gelho da graça. Não, Paulo está rejeitando 
uma mensagem que era essencialmen­
te diferente no conteúdo daquela que ele 
pregava aos gálatas (Lightfoot, 1957,77). 
A mensagem dos judaizantes tinha um 
conteúdo diferente do evangelho da graça; 
“não é, de modo algum, o evangelho” (NIV). 
É por isso que Paulo pode dizer que aqueles 
(note o plural) que estão perturbando aos 
gálatas estavam tentando “transtornar o 
evangelho”, transformando-o em algo 
diferente (1.7). Estavam conscientemente 
torcendo a mensagem, transformando- 
a em um sistema de justificação pelas obras. 
Além disso, os verbos “lançando” e “ten­
tando” estão no tempo presente, que indica 
que os judaizantes estão trabalhando até 
mesmo enquanto Paulo escreve a carta.
A intensidade do espírito de Paulo é 
comprovada em 1.8,9. Em um esforço para 
alcançar os gálatas, ele recorre a formas 
de expressões extremas. Cria o que po­
deria ser chamado de “o panorama do pior 
caso” e segue pronunciando uma maldi­
ção dupla sobre qualquer um que pregue 
uma mensagem falsa na Galácia. Para ter 
a certeza de que se dirige a toda possibi­
lidade concebível, Paulo usa aquilo que 
os gramáticos chamam de uma “condição 
negada” ou uma “condição contrária ao 
fato”. De um modo hipotético, ele exor­
ta os gálatas a considerarem as seguintes
possibilidades: Se a liderança ortodoxa da 
Igreja, que inclui Paulo e seus colegas, ou 
se mesmo um anjo do céu, vier a pregar 
uma mensagem contrária àquela que foi 
primeiramente entregue na Galácia, que 
tal pessoa seja condenada ao inferno!
A palavra traduzida “eternamente con­
denado” nos versículos 8 e 9 é anathem a. 
Esta palavra é usada ao longo de toda a 
tradução grega das Escrituras hebraicas 
(a LXX ou Septuaginta) para traduzir herem
— uma palavra hebraica que se refere a 
alguém ou a algo que deveria ser destruído 
por Deus. Por exemplo, quando Israel 
entrou à terra prometida para destruir os 
pagãos, viram sua missão em termos de 
herem . Qualquer coisa que fosse o ob­
jeto de ira e vingança divina era herem . 
O pontode Paulo é claro. Qualquer um 
ou qualquer coisa que pregue um evan­
gelho diferente do que foi originalmen­
te pregado na Galácia deve ser conde­
nado eternamente.
A inclusão de um “anjo de céu” pode 
ser mais que um dispositivo retórico. Uma 
tradição hebraica antiga cria que Deus usou 
anjos para comunicar a lei a Moisés no 
Sinai (cf. 3.19,20). Os judaizantes podem 
ter se referido a esta tradição em um es­
forço para conquistar os gálatas para a lei. 
Então, Paulo adverte que ainda que um 
destes anjos viesse e pregasse algo con­
trário ao evangelho da graça, deveria ser 
condenado ao inferno.
A situação na Galácia é tão séria que 
Paulo não deixa nenhum espaço para erro 
ou engano. Por não querer que os gálatas 
se enganem, repete-o no versículo 9. As 
palavras introdutórias “como já vo-lo dis­
semos” , podem se referir a uma advertência 
prévia que Paulo entregou enquanto es­
tava na Galácia. Estava ciente disso e te­
meu a influência corrupta dos judaizantes 
em uma primeira fase de seu ministério. 
Deste modo, Paulo pronuncia uma du­
pla maldição sobre estes, encomendan­
do-os à ira de Deus.
O ataque agressivo de Paulo aos desor­
deiros traz à mente uma de suas acusa­
ções contra ele. Os judaizantes calunia­
ram Paulo como sendo um “bajulador,” 
descrevendo-o como alguém que estava
1132
GÁLATAS1
disposto a fazer concessões aos requisi­
tos da lei para agradar os gentios. Reivin­
dicavam que a razão de Paulo não exigir 
que os gentios fossem circuncidados ou 
que se submetessem à lei de Moisés, era 
uma forma de poder ganhar mais convertidos 
para si mesmo.
A base para esta acusação é obscura. 
Os judaizantes podem ter visto a vonta­
de que Paulo tinha de acomodar vários 
grupos étnicos pela causa do evangelho, 
como uma busca das massas (1 Co 9-19- 
23). Afinal, ele não mandou que Timó­
teo fosse circuncidado em Listra (At 16.1-
3)? Entretanto, recusou que Tito fosse 
circuncidado emjerusalém (Gl 2.1-5). Isto 
não comprovaria que Paulo era um hipócrita, 
operando com base nos padrões huma­
nos ao invés de se submeter a Deus?
Paulo se opõe às acusações fazendo a 
pergunta retórica: “Porque persuado eu 
agora a homens ou a Deus?” (1.10). A maneira 
como esta pergunta é colocada pede uma 
resposta negativa. Isto é, considerando sua 
batalha com os judaizantes e a mensagem 
escandalosa da cruz que ele prega (5.11; 
6.12; cf. 1 Co 1.20-25), parece que Paulo 
está “tentando ganhar a aprovação dos 
homens” e não a de Deus? Claro que não!
A declaração final no versículo 10 pode 
soar como se Paulo admitisse ser um 
“bajulador” ao declarar: “Se estivesse ainda 
agraciando aos homens”. Mas este não é 
o caso. Paulo emprega, além disso, uma 
“condição contrária aos fatos” para con­
seguir tornar seu ponto bem claro. Se ele 
ainda estivesse tentando agradar aos 
homens (e na realidade não estava), então 
ele não seria um servo de Cristo — mas 
ele é de fato um doutos (“escravo”) de 
Cristo, comprometido com a vontade de 
seu Mestre (Rm 1.1).
A boa vontade de Paulo para com os 
vários grupos de pessoas representa a sua 
estratégia missionária. Realmente, por esta 
razão Timóteo foi circuncidado. Uma vez 
que sua mãe era judia e seu pai gentio 
(At 16.1), Timóteo não poderia ministrar 
eficazmente em nenhuma das duas cul­
turas. Sua circuncisão o “normalizou” com 
respeito ao mundo judeu, dando-lhe 
maiores oportunidades para evangelizar;
o que não teria nada a ver com a sua 
salvação. Porém, a situação com Tito foi 
diferente. Seus pais eram gentios (2.3). 
Contudo, os judaizantes estavam insis­
tindo para que ele fosse circuncidado a 
f im d e ser salvo. Paulo recusou-se a ce­
der à pressão deles (2.5). Em tudo isto, 
Paulo nunca transigiu quanto ao conteúdo 
do evangelho. Para o judeu e o gentio, 
o único modo de salvação era através da 
graça, por meio da fé.
Podemos concluir a partir desta seção 
que Paulo exercitou um amor cristão maduro 
ao lidar com os gálatas. Ele se importou 
o bastante para confrontá-los quando se 
desviaram da verdade do Evangelho. A 
Igreja hoje tem uma necessidade deses- 
peradora deste tipo de amor. É um amor 
não egocêntrico, mas tem um interesse 
genuíno no bem-estar e no desenvolvi­
mento espiritual dos outros. É um amor 
que está mais preocupado com a quali­
dade espiritual dos membros da Igreja, do 
que com a quantidade de membros da Igreja.
2. O Argumento Autobiográfico de
Paulo (1 .1 1 — 2.14)
Aqui se evidencia o conhecimento que 
Paulo tinha da retórica grega. Um orador 
treinado começaria seu discurso dando 
uma exortação extensa, que seria então 
seguida por algum tipo de narrativa im­
portante. Em 1.1-10 Paulo exortou os gálatas 
a não abandonarem aquele que os cha­
mou e para permanecerem fiéis ao ver­
dadeiro evangelho.
Aqueles que pregam um evangelho falso 
devem ser condenados ao inferno. Come­
çando pelo versículo 11, Paulo relata a 
história de sua própria conversão e cha­
mada. O propósito desta seção autobio­
gráfica é validar mais adiante o seu Evan­
gelho, relatando os meios sobrenaturais 
pelos quais este lhe foi comunicado.
2.1. O Evangelho e a Cham ada 
de Paulo São de Deus 
( 1.11- 17)
As palavras de abertura do versículo
11, “faço-vos saber, irmãos”, provavelmente 
não significam que Paulo esteja partilhando
1133
GÁLATAS1
novas informações com os gálatas. É im­
provável que ele tenha fundado as igre­
jas da Galácia sem dizer-lhes como rece­
beu o evangelho. Melhor que isso, estas 
palavras são simplesmente um dispositi­
vo literário que Paulo usa para lembrar 
aos gálatas aquilo que uma vez conhe­
ceram. Suas ações indicam que se esque­
ceram daquilo que Paulo partilhou com 
eles no princípio, e quer que recordem 
que o evangelho que lhes proclamou não 
se originou com qualquer ser humano. Os 
judaizantes provavelmente estavam es­
palhando o boato que a doutrina de Paulo, 
da justificação pela fé separadamente das 
obras da lei, havia sido inventada pelo 
próprio Paulo; que seu evangelho não 
era uma mensagem divina. Retrataram 
Paulo como um inventor de religião.
Paulo descreve esta acusação através 
do uso especial da gramática grega. A palavra 
grega usada para “por” é hypo, e neste 
contexto transmite a idéia de “agência” 
ou “meio”. Em.outras palavras, seu evan­
gelho não veio a ele por qualquer agên­
cia ou meio humanos (veja o verso 12). 
Ele não recebeu o evangelho de qualquer 
ser humano. Aqui Paulo emprega a lin­
guagem de tradição oral judaica. A pala­
vra para “recebe” (paralam ban o) foi usada 
pelos judeus para descrever a transmis­
são da tradição religiosa. Paulo rejeita então 
a noção que seu evangelho é simplesmente 
um vínculo em uma longa cadeia de en­
sinos religiosos. Por mais honrada que esta 
designação pudesse ser, ele não era so­
mente um guarda de convicções e credos 
sagrados.
Neste sentido, Paulo era diferente de 
seus gálatas convertidos. Eles receberam 
o evangelho através dele; ele, por outro 
lado, não o recebeu através de alguma outra 
pessoa, nem foi ensinado por algum ou­
tro ser humano. Além disso, o mal dos 
judaizantes está em evidência aqui. Estes, 
sem dúvida, argumentavam que tudo o 
que Paulo sabia sobre o evangelho havia 
sido aprendido com aqueles que tiveram 
uma relação mais próxima com Jesus. E 
todos sabem que o professor é superior 
àquele que é ensinado (Mt 10.24; Lc 6.40). 
Paulo nega a dependência de qualquer
professor humano. Pelo contrário, ele 
recebeu o evangelho através da “revela­
ção dejesus Cristo”.
Com estas palavras Paulo reflete a crença 
antiga de que a verdade não pode ser 
recebida primeiramente através do ensi­
no, mas através de revelação sobrenatu­
ral (Betz, 1979, 62). Ele mesmo recebeu 
o evangelho através da revelação “dejesus 
Cristo”. O significado das palavras “reve­
lação dejesus Cristo” é aberto à interpretação. 
Paulo quer dizer que Jesus Cristo era a 
origem da revelação para ele, ou que Je ­
sus Cristo era o conteúdo da revelação? 
Na verdade, Paulo pode ter ambas as idéias 
em mente. Gálatas 1.15,16 declara que 
agradou Deusrevelar seu Filho em Pau­
lo, de forma que ele pudesse pregar o 
evangelho entre os gentios. Se Paulo es­
tiver se referindo nestes versículos à sua 
experiência na estrada de Damasco (e parece 
provável que o esteja fazendo), foi o Cristo 
ressurreto que primeiramente o confrontou 
para o evangelho (At 9-1-16; 22.1-16; 26.9- 
18). Jesus não era somente a fonte da 
revelação a Paulo, mas foi Ele quem for­
mou também o conteúdo do evangelho.
A falta de dependência de Paulo na 
tradição da igreja parece contradizer o que 
ele mesmo diz em outro lugar. Em 1 Coríntios
11.23-26 e 15.3-8, Paulo indica claramente, 
usando uma terminologia tipicamente 
judaica para a recepção e transmissão da 
tradição religiosa, que ele recebeu as tra­
dições da Ceia do Senhor e da ressurrei­
ção, daqueles que estavam no Senhor antes 
dele. Ele até elogia os coríntios por rete­
rem firmemente as tradições que lhes passou
(11.2). Além disso, existem muitos luga­
res nos escritos de Paulo que indicam o 
uso de antigas tradições da igreja (cf. Fp
2.5-11; 1 Ts 4.1,2,15-17; 1 Tm 3.16; 4.8- 
10; 2 Tm 2.11-13). Como, então, pode 
reivindicar a dependência exclusiva da 
revelação divina em Gálatas 1.11,12?
Respondendo a esta pergunta devemos 
fazer a distinção entre a essência da men­
sagem do evangelho e as muitas históri­
as e eventos que comunicam esta men­
sagem. Nenhum ser humano comunicou 
a Paulo a mensagem principal, de que somos 
justificados pela fé separadamente das obras
1134
GÁLATAS 1
da lei. Nenhum ser humano o ensinou que 
tanto os judeus quanto os gentios são iguais 
aos olhos de Deus, e que são aceitos por 
Ele com base na fé em Cristo. Mas isto não 
significa que Paulo não tenha aprendido 
várias convicções e práticas cristãs daqueles 
que foram convertidos antes dele. Portanto, 
seu evangelho e chamada vieram pela 
revelação divina, mas ele respeitou os 
ensinos que foram formulados desde o 
início da Igreja.
Para apoiar a sua reivindicação da re­
velação direta, Paulo relata sua perseguição 
à Igreja (1.13,14). A conexão entre sua 
perseguição à Igreja e sua reivindicação 
da revelação divina não é logo aparente. 
Mas sua estratégia parece dupla: Ele pri­
meiramente os lembra daquilo que ou­
viram no passado. Então usa as próprias 
palavras de seus inimigos para alcançar 
os seus objetivos.
Paulo lembra aos gálatas que eles ou­
viram falar do modo de vida que teve no 
passado. Ele não fala de sua “antiga fé” 
ou “antiga religião”. Antes, representa o 
judaísmo como um modo de se aproxi­
mar da vida. Paulo não vê sua antiga vida 
no judaísmo como algo louvável. Ele nunca 
procurou esconder o início obscuro que 
teve na Igreja. Freqüentemente relacio­
nava sua perseguição à Igreja quando 
contava como veio a Cristo (At 22.1-21; 
26.4-18; 1 Co 15.8-10). Deste modo, Pau­
lo alcança pelo menos quatro realizações:
1) Destacando a conduta deplorável que ti­
nha antes de sua conversão, Paulo reitera 
a graça de Deus em sua vida. Somente a 
pura graça de Deus poderia transformar 
tal assassino violento em um servo obedi­
ente ao Evangelho.
2) Demonstra que o zelo religioso não con­
duz necessariamente à santidade. Na ver­
dade o oposto é freqüentemente o caso 
(Fp 3.6).
3) Seus inimigos não perderam a oportuni­
dade de trazer à tona o passado obscuro 
do apóstolo Paulo. Sugeriram que sua 
perseguição assassina à igreja simplesmente 
mostrava o seu caráter. Paulo era um ho­
mem violento, cujas palavras não mereci­
am confiança. Concluíram que seu “Evan­
gelho” era somente umproduto de seu caráter
falho. Trazendo seu passado à luz, Paulo 
uma vez mais desarmou seus adversários.
4) Finalmente, a perseguição de Paulo à Igreja 
demonstra que ele não era um “investiga­
dor” em relação ao cristianismo. Não es­
tava insatisfeito com sua vida no judaís­
mo e não era alguém que de boa vontade 
havia se convertido ao cristianismo (At 26.9). 
Deste modo, sua chamada e conversão só 
poderiam ter vindo pela inteivenção mi­
lagrosa de Deus.
Paulo admite que perseguiu a Igreja 
“intensamente”, além daquilo que seria 
razoavelmente esperado. Na verdade, seu 
objetivo era “destruir” a Igreja — libertar 
a terra de todos os crentes (At 9-1,2).
No versículo 14, Paulo enfatiza seu 
excelente desempenho no judaísmo (cf.
2 Co 11.22; Fp 3-5,6). Ele “era o melhor 
da classe”, avançando além de muitos de 
seus contemporâneos no judaísmo. Seu 
compromisso total é visto em seu zelo às 
tradições de seus pais (isto é, aos ensi­
nos verbais dos fariseus, que reivindica­
vam serem originados de Moisés; Mt 15.2- 
6; Mc 7.5-13). Provavelmente Paulo apren­
deu estas tradições enquanto estudava aos 
pés de Gamaliel (At 22.3). Deste modo, 
Paulo não estava satisfeito em cumprir os 
613 mandamentos do Antigo Testamen­
to, mas procurou seguir os inumeráveis 
preceitos religiosos de seus antepassados. 
Qualquer acusação de que ele fosse mo­
derado quantó à circuncisão por nunca 
ter sido realmente dedicado à lei, não tem 
fundamento.
Paulo usa a palavra “zeloso” para des­
crever sua dedicação a estas tradições 
ancestrais (cf. também Fp 3-6). Esta pa­
lavra é derivada da palavra grega z e loo 
e significa “ferver”. Ela descreve clara­
mente a grande intensidade do compro­
misso de Paulo com o judaísmo dos fariseus. 
Este uso especial de “zelo”, porém, teve 
uma longa história na tradição religiosa 
judaica. Pode ser atribuída ajudas Macabeus 
e mais notavelmente associada aos “Zelotes” 
(Bruce, 1982,91). Estes últimos estavam 
comprometidos com “a regra exclusiva 
de Deus” e não vacilaram em usar de meios 
violentos para incrementar seus fins re­
ligiosos e políticos. Realmente, para o judeu
1135
GÁLATAS1
fervoroso, não existia nenhuma virtude 
mais elevada do que o zelo a Jeová. O 
zelo de Finéias, por exemplo, o levou a 
matar um homem hebreu que contami­
nou Israel por coabitar com uma mulher 
midianita (Nm 25.6-13). O salmista lou­
va Finéias por esta ação e diz que seu 
zelo assassino f o i con tad o com o ju stiça 
diante de Deus (Sl 106.30,31).
Seria possível que Paulo estivesse co­
piando o zelo de Finéias em sua perse­
guição à igreja? Será que acreditava que 
sua ação violenta contra a Igreja seria contada 
como justiça diante de Deus? E a sua ex­
periência na estrada de Damasco o con­
venceu de que existe um zelo que não é 
de acordo com o conhecimento (Rm 10.2)? 
Não importando como podemos responder 
a estas perguntas, uma coisa é clara: Paulo 
não mais associa o crédito de justiça com 
o zelo desviado. Ele agora percebe que a 
fé que Abraão tinha é que justifica alguém 
aos olhos de Deus (Gn 15.6).
No versículo 15, Paulo relata sua cha­
mada em termos que fazem lembrar os 
profetas do Antigo Testamento (Is 49-1- 
6; Jr 1.5). Sua conversão não foi simples­
mente uma dentre muitas na Igreja. Sua 
vinda para a fé foi uma parte importante 
do plano de Deus para as eras. Como Paulo 
relata, agradou a Deus separá-lo desde o 
ventre de sua mãe para que servisse ao 
evangelho. A frase “me separou desde o 
ventre de minha mãe” (cf. nota da NIV) 
recorda a mão soberana de Deus na vida 
de grandes homens de fé (Jz 13.5; Sl 22.10; 
58.3; 71.6). Então, Paulo acredita que Deus 
o predestinou a ser o apóstolo para os 
gentios, mesmo antes de seu nascimen­
to. A opinião de Paulo é que sua chama­
da é uma obra completamente de Deus.
A palavra utilizada para “separar” em
1.15 reflete a raiz hebraicaparash (de onde 
vem a palavra “fariseu”). Os fariseus se 
orgulhavam de serem os “separados”, isto 
é, as pessoas realmente consagradas a Deus. 
É como se Paulo estivesse dizendo que 
embora fosse um fariseu (Fp 3.5), nunca 
fora realmente separado para a verdadeira 
obra de Deus até que se tornou um cris­
tão. Para Paulo, Deus operou em duas fases 
distintas em sua vida:
1) Na sabedoria eterna de Deus ele foi sepa­
rado para a obra do reino;
2) Foi chamado para ser um apóstolo para
os gentios.
Indubitavelmente, Paulo teve uma 
perspicácia extraordinária no papel especial 
que deveria desempenhar no plano da 
salvação que fora elaboradopor Deus. 
Contudo, o ponto mais importante aqui 
não é o papel propriamente dito, mas como 
tudo aconteceu. Sua chamada e missão 
deviam-se completamente à graça de Deus. 
Além disso, recebeu este papel especial 
através de revelação divina (1.16). A pa­
lavra “revelar” deve ser associada à pala­
vra “agradar” em 1.15. Em outras palavras, 
Deus se agradou em revelar seu Filho ao 
apóstolo Paulo — uma referência à sua 
experiência na estrada de Damasco.
Existe muito debate sobre o significa­
do das palavras “em mim”. A palavra “em” 
se refere a localização? Isto é, Paulo está 
dizendo que recebeu uma revelação interna 
de Cristo em seu espírito? Ou deveriam estas 
palavras ser traduzidas como “para mim”, 
em que no caso Paulo está descrevendo 
uma revelação objetiva de Cristo que existia 
externamente? Ou estas palavras deveri­
am ser interpretadas com o significado de 
“por mim”, de forma que Paulo seja o ins­
trumento ou o meio pelo qual Cristo foi 
revelado a outros? Em um determinado 
sentido, todas as três interpretações são 
válidas, mas “para mim” se harmoniza melhor 
com outros registros da conversão de Paulo 
(At 9.1-19; 22.6-18; 1 Co 9.1; 15.8). Além 
disso, a descrição de uma revelação ex­
terna objetiva coincide com a chamada 
profética que Paulo expressou em 1.15 (cf. 
Is 6.1-9; Ez 1.4— 3.11).
A revelação de Cristo teve um profun­
do efeito transformador na mente e no es­
pírito de Paulo. Significava que ele estava 
terrivelmente errado em perseguir os cristãos 
e em rejeitar ajesus como o Messias. Mas, 
provavelmente o mais importante, signi­
ficava que ele estava fundamentalmente 
errado em rejeitar o entendim ento de Deus 
retratado por Jesus e os primeiros cristãos. 
A aceitação dos rejeitados e pecadores por 
parte dejesus em nome de Deus, e a acei­
tação dos gentios por parte dos primeiros
1136
GÁLATAS 1
cristãos helenistas, significava que Deus 
desejava ter comunhão com os descren­
tes (Mt 11.19-24; Lc 7.34-50; At 11.19,20; 
Rm 4.5).
Paulo percebeu que sua teologia esta­
va essencialmente errada “desde a sua base”. 
Assim como já foi observado, isto era 
especialmente verdadeiro no que dizia 
respeito à lei. Seu zelo pela lei na verda­
de o conduziu a opor-se a Deus e ao seu 
povo. Aquilo que ele pensou que traria a 
justiça e a vida, só trouxe o pecado e a 
morte (Rm 7.9-11). Tal profunda experi­
ência teve naturalmente conseqüências 
pesadas. Nisto reside o valor de interpretar 
“em mim” como “por mim”. Paulo perce­
beu que deveria partilhar tal visão extra­
ordinária de Deus com os outros, e que 
ele seria o instrumento primário para rea­
lizar esta visão no mundo. Conseqüente­
mente Paulo indica que a revelação de Cristo 
na estrada de Damasco teve um propósi­
to específico — d e fo rm a qu e ele pudesse 
“pregar [a Cristo] entre os gentios”.
O tema de independência é novamente 
captado nos versículos 16b e 17. Ao re­
ceber a visão, Paulo não a outorgou ime­
diatamente a “qualquer homem”, e não 
buscou especificamente conselho com os 
apóstolos de Jerusalém. Ao invés disso, 
entrou na Arábia e então seguiu para 
Damasco.
O relato de Paulo parece estar em conflito 
com o registro de Lucas em Atos, que não 
mostra nenhuma viagem para a Arábia, 
mas indica que logo após a sua conver­
são, Paulo entrou em Damasco. Depois 
de ser batizado por Ananias e receber sua 
visão, começou a pregar nas sinagogas 
daquele lugar (At 9.8-20). Contudo, o uso 
de Paulo da palavra “imediatamente” em 
Gálatas 1.16 sugere que não existiu ne­
nhum período interveniente entre sua 
conversão e sua viagem pela Arábia.
Para solucionar este aparente confli­
to, o significado de “Arábia” desempenha 
um papel crucial. A interpretação tradi­
cional é que se refira à península do Sinai. 
Aqueles que defendem esta interpretação 
acreditam que logo depois de sua con­
versão, Paulo entrou no deserto do Sinai 
para um período de contemplação reti­
rada e quieta, a fim de separar as pesa­
das implicações de sua experiência na 
estrada de Damasco. Em apoio a isto, é 
observado que Moisés recebeu a lei no 
monte Sinai e que Elias também teve co­
munhão com Deus ali. Paulo está, então, 
seguindo a tradição destes profetas, ten­
do comunhão com Deus no deserto três 
anos após sua conversão.
Embora esta interpretação possa parecer 
bastante plausível, está carregada de di­
ficuldades. Como foi observado, Lucas 
apresenta Paulo indo diretamente para 
Damasco após a sua conversão. Éimprovável 
que Lucas tenha omitido um período de 
três anos na vida de Paulo. Além disto, 
Paulo foi cuidadoso em dar um relato preciso 
dos primeiros anos de seu ministério. Se 
ele fosse diretamente para Damasco e não 
para o deserto do Sinai, seus adversários 
notariam seguramente esta discrepância. 
Então é mais que provável que a palavra 
“Arábia” esteja sendo usada em um sen­
tido mais amplo que o deserto do Sinai. 
Poderia se referir também ao reino dos 
nabateanos, sendo Damasco a principal 
cidade. Note as palavras de Paulo em 2 
Coríntios 11.32-33, onde declara que o 
governador do rei Aretas procurou capturá- 
lo em Damasco. Paulo não foi capturado 
por ter sido baixado de cima de um muro 
em uma cesta. Isto significa que logo depois 
de sua conversão, ele começou a evangelizar 
por todo o reino da Arábia. Esta interpretação 
preserva a harmonia entre o relato de Lucas 
em Atos e as próprias palavras de Paulo 
em Gálatas.
2.2. A Independência de Paulo 
deJerusalém (1.18-24)
Os adversários de Paulo reivindicam 
que a autoridade que possuíam veio de 
Jerusalém (2.4,5,11-14; 4.25,26). Pornão 
ir até estes, Paulo demonstra que sua 
chamada e apostolado são independentes 
da autoridade mais alta da igreja. Embora 
os judaizantes apelassem para as auto­
ridades terrenas, Paulo reivindica a re­
comendação mais alta, isto é, Deus. Por 
ter recebido seu evangelho e ter sido cha­
mado através da revelação divina, não
1137
GÁLATAS1
tinha nenhuma necessidade “de ir à es­
cola” em Jerusalém. Nisto reside o pro­
pósito da frase, “depois, passados três anos, 
fui ajerusalém ” (1.18). Sua ausência de 
Jerusalém mostra que ele não sentiu 
nenhuma necessidade de inquirir dos 
outros apóstolos. Porém, está aberto a 
interpretação o modo como os três anos 
deveriam ser considerados. Paulo está 
falando de três anos depois de seu re­
torno de Damasco ou de três anos de­
pois de sua conversão? Se for conside­
rado o tempo de seu retomo a Damas­
co, teriam se passado mais de três anos 
desde que Paulo esteve em Jerusalém.
Quando Paulo foi para Jerusalém, queria 
falar com Pedro. Pedro desempenha um 
papel proeminente em Gálatas e na his­
tória da igreja primitiva. Era um dos apóstolos 
“colunas” (2.9). Tinha sido reconhecido 
como o apóstolo para os judeus (2.7,8). 
E foi o apóstolo confrontado por Paulo 
em Antioquia (2.11-14). Os evangelhos 
e Atos reconhecem igualmente o papel 
proeminente de Pedro. Foi o Senhor quem 
lhe deu o nome aramaico “Cefas” (do grego 
“Petros”), significando uma “rocha” ou 
“pedra” (Mt 16.16-19). Pedro fazia parte 
do círculo íntimo do Senhor (Mt 17.1; 26.37; 
Mc 5.37; 9.2; Lc 8.51; 9.28). Ele pode ter 
sido um dos primeiros apóstolos a ver o 
Senhor ressuscitado (Lc 24.34; 1 Co 15.5) 
e parece ter sido o primeiro líder da Igre­
ja emjerusalém (Gl 1.18; At 1.15). Assim, 
a menção de Paulo de seu encontro com 
Pedro é muito importante.
Por que Paulo se encontrou com Pedro? 
A palavra traduzida para “ver” ou “inqui­
rir” (historeo) originalmente significava 
investigar ou aprender algo por investi­
gação (cf. nossa palavra “história”). Na­
quele tempo, porém, esta palavra signi­
ficava visitar alguém com a finalidade de 
ficar mais familiarizado. Assim, Paulo visitou 
Pedro com a finalidade de obter informações 
sobre o evangelho, ou simplesmente queria 
ficar melhor familiarizado com o apósto­
lo dos judeus? É improvável que Paulo tenha 
buscado informações sobre a mensagem 
essencial do evangelho. Se fosse assim, 
seu argumento sobre ser independente 
dos apóstolos de Jerusalém teria sidomencionado. Ao mesmo tempo é difícil 
acreditar que estes dois grandes apósto­
los não tenham falado sobre a fé e assun­
tos relativos à Igreja.
Em outras palavras, a visita de Paulo 
a Pedro alcançou ambos os objetivos. Ele 
conheceu melhora Pedro e provavelmente 
obteve informações sobre as tradições 
da Igreja, assim como a Ceia do Senhor, 
a ressurreição e o batismo cristão. Mas 
Pedro não lhe ensinou sobre o conteú­
do e o significado do evangelho, pois Paulo 
já o vinha pregando por pelo menos três 
anos. Sua ênfase em tê-lo visitado por 
apenas “quinze dias” sustenta esta inter­
pretação. Ele não estava presente o tempo 
suficiente para ter sido preparado por Pedro, 
como seus adversários estavam reivin­
dicando.
O cuidado de Paulo em relatar os fa­
tos pode ser visto também no versículo 
19- Depois de declarar que ele não viu 
nenhum dos outros apóstolos, recorda 
que viu Tiago, o irmão do Senhor. A 
menção de Paulo a respeito de Tiago com 
os outros apóstolos levanta a pergun­
ta: Paulo viu Tiago como um apóstolo, 
ou ele quer dizer que não viu nenhum 
outro apóstolo, mas viu outra pessoa 
importante na igreja? Parece que Paulo 
não restringiu o significado de “após­
tolo” aos Doze (cf. 1 Co 15.5-7). Assim, 
Paulo provavelmente considera Tiago 
como sendo um apóstolo em quem ele 
viu o Senhor ressurreto. Não obstante, 
a autoridade apostólica de Tiago não é 
a questão central aqui. Paulo quer que 
os gálatas saibam que seu encontro com 
Tiago não tinha nenhum significado 
material. Ele menciona Tiago porque, 
juntamente com Pedro, é visto como sendo 
importante para os judaizantes.
A intensidade do espírito de Paulo é 
evidente no versículo 20. Ele jura diante 
do Senhor que não está mentindo. De um 
modo tipicamente hebraico ele afirma 
solenemente “diante [da face de] Deus”, 
que aquilo que escreveu é a verdade. A 
seriedade do juramento indica que outros 
relatos com relação aos primeiros anos 
de Paulo na Igreja foram divulgados e al­
cançaram os gálatas.
1138
GÁLATAS 2
As palavras de Paulo no versículo 21 
coincidem com Atos 9-26-30. A fim de 
escapar do intento assassino dos judeus 
helenísticos dejerusalém, Paulo fugiu para 
a costa de Tarso via Cesaréia (9-30). Seu 
ponto é que em seguida à sua breve vi­
sita a Pedro, distanciou-se dos apósto­
los de Jerusalém. Não houve tempo para 
que recebesse deles qualquer aula par­
ticular extensa.
Parece haver outra discrepância entre 
o que Paulo diz em 1.22 e o registro de 
Lucas em Atos. Em Gálatas, Paulo afirma 
que as igrejas da Judéia não o conheci­
am “pessoalmente”. Como Paulo pôde 
perseguir os cristãos emjerusalém e ain­
da permanecer desconhecido (At 8.3; 9 -26- 
31)? É possível que a maioria dos cristãos 
que fugiram de Jerusalém como resulta­
do da perseguição a Estevão, ainda não 
tivessem retornado para lá. Aqueles que 
escaparam da perseguição não conheceriam 
a aparência de Paulo. Paulo pode também 
ter simplesmente coordenado a perseguição, 
usando outros para realmente prender os 
crentes. Deste modo, ele não teria sido 
reconhecível para a Igreja emjerusalém. 
Em todo caso, os cristãos emjerusalém 
não o conheciam como um crente, somente 
como um perseguidor.
As notícias da conversão de Paulo fo­
ram rapidamente divulgadas na Igreja. A 
gramática dos versículos 23 e 24 indica 
que as igrejas da Judéia continuaram ouvindo 
o mesmo relatório. A pessoa que uma vez 
os perseguiu estava agora pregando a fé 
que uma vez tentou destruir. É interessante 
que a frase “a fé” representa “o Evange­
lho”. Isto testifica a centralização da fé na 
igreja primitiva. Não há qualquer indica­
ção de que as igrejas da Judéia tenham 
questionado a pregação do evangelho por 
parte de Paulo. Aparentemente entenderam 
que aquilo que ele pregava era exatamente 
aquilo em que criam. Esta é uma pode­
rosa mensagem dirigida aos judaizantes. 
Desde o início, as igrejas da Judéia acei­
taram a sua pregação da “fé” e louvaram 
a Deus por causa disto.
Paulo construiu um argumento pode­
roso contra seus acusadores. Sua experi­
ência no Senhor e seus anos iniciais de
ministério autenticam sua chamada e evan­
gelho. O evangelho não lhe foi ensinado 
por outras pessoas, e Paulo não foi comis­
sionado pela liderança da Igreja. Foi Deus 
quem o chamou e revelou seu Filho nele. 
Deste modo, não teve nenhuma necessi­
dade de consultar a ninguém, e começou 
imediatamente a pregar o evangelho por 
toda a Palestina, Síria e Cilícia. Teve um 
contato mínimo com a Igreja em jerusa­
lém e com a sua liderança.
Agora que Paulo estabeleceu sua in­
dependência da igreja mãe, muda a na­
tureza de seu argumento. Ele é indepen­
dente, mas não é um dissidente. Deve agora 
continuar mostrando que, embora não exija 
a afirmação dos apóstolos dejerusalém, 
ele, todavia, havia sido aceito por eles. E 
nisto reside a lição pessoal para cada um 
de nós que foi chamado pelo Senhor:
1) Nosso testemunho pessoal somente tem 
poder à medida que se relaciona com o 
restante do corpo de Cristo.
2) Nossa visão pessoal de Cristo deve 
conesponder à compreensão da Igreja como 
um todo.
3) Finalmente, nossa interpretação das Es­
crituras deve estar em harmonia com aquelas 
de fé e integridade genuínas (2 Pe 1.20). 
Se estes princípios se sustentam, então nossa 
chamada e ministério serão, simultanea­
mente, únicos e comuns.
2 .3 • O Evangelho de Paulo 
É Confirmado pelos 
Apóstolos de Jerusalém 
(2 .1- 10)
Pela terceira vez Paulo usa a palavra 
“então” (cf. 1.18,21). Ele está claramente 
relatando uma série cronológica de eventos, 
sendo cuidadoso para não omitir nada. 
Não deve dar a seus adversários qualquer 
oportunidade para desacreditar seu tes­
temunho. Então, o texto em 2.1-10 des­
creve a visita seguinte que Paulo fez a 
Jerusalém. Isto teria acontecido cerca de 
quatorze anos depois de seu encontro com 
Pedro e Tiago em 1.18-20 (veja 2.1). Uma 
vez mais devemos perguntar. Paulo está 
descrevendo a visita da época de sua 
conversão ou da ocasião cie sua última visita
1139
GÁLATAS 2
ajerusalém? Uma vez que está enfatizando 
seu contato não freqüente comjerusalém, 
os quatorze anos podem ser considera­
dos da época de sua última visita. Se isto 
é verdade, então sua segunda viagem a 
Jerusalém aconteceu cerca de dezessete 
anos depois de sua conversão, conside­
rando que ele já havia passado três anos 
na Arábia (1.17,18).
A questão central aqui é: O encontro 
descrito em 2.1-10 é o denominado “Concilio 
de Jerusalém” de Atos 15 ou a “Visita da 
Escassez” de Atos 11.27-30? Se optarmos 
pelo primeiro, então devemos presumir 
que os “falsos irmãos” de Gálatas 2.4 são 
os mesmos homens que vieram a Antioquia 
em Atos 15.1. Estes homens pertenceri­
am à “seita dos fariseus” (15-5); esta ex­
plicitamente exigia que os gentios fossem 
circuncidados e obedecessem a lei de Moisés. 
Sua campanha judaizante foi destaiída pelo 
concilio, e Tiago emitiu um decreto es­
crito informando as igrejas quanto à sua 
decisão (15.23-29).
Porém, identificar Gálatas 2.1-10 com 
Atos 15 traz mais problemas do que 
soluções.
• Em Gálatas, Paulo diz que subiu ajerusa­
lém “por uma revelação” (2.2), enquanto 
que em Atos, a Igreja em Antioquia enviou 
Paulo e Barnabé ajerusalém (At 15.2).
• Em Gálatas Paulo claramente declara que 
seu encontro com os apóstolos de Jerusa­
lém foi de caráter particular (G12.2), mas 
a conferência de Atos 15 foi feita em pú­
blico.
• Em Gálatas Paulo simplesmente declara que 
apresentou seu Evangelho aos apóstolos 
e que Tito não foi compelido a ser circun- 
cidado (G12.3). Ele não diz que a circun­
cisão foi a principal razão da reunião ter 
sido convocada, como é tão evidente no 
relato de Atos.
• Também em Gálatas 2 nada é dito sobre 
as diretrizes específicas apresentadas em 
Atos 15.20,21,29. Reciprocamente, deve- 
se lembrar que é feita referência ao pobre 
em Gálatas 2.10, mas não no relato de Atos.
• Finalmente, se a reunião mencionada em 
Gálatas 2.1-10 é a mesma de Atos 15, por 
que Paulo simplesmente não se refere ao 
decreto de Tiagopara resolver o assunto
quando lida com os judaizantes na Galácia?
Por essas e outras razões que serão 
discutidas abaixo, concluímos que a reunião 
mencionada em Gálatas 2.1-10 não é o 
Concilio de Jerusalém de Atos 15. Ao in­
vés disso, é provável que tenha sido uma 
reunião que Paulo teve durante a “Visita 
da Escassez” de Atos 11.27-30.
Embora Paulo fosse motivado pela 
revelação divina, tem também seus pés 
firmemente plantados no chão. Ele é um 
estrategista inteligente, que compreende 
os motivos e os desejos das pessoas. Por 
exemplo, Paulo antecipa a oposição em 
Jerusalém e deste modo leva Barnabé e 
Tito juntamente consigo (2.1). Ele esco­
lheu estes auxiliares porque representam 
o âmbito de seu ministério. No que se refere 
ao evangelho, Paulo se sente confortável 
com os cristãos judeus circuncidados como 
Barnabé. Mas também é capaz de ter 
comunhão com cristãos gentios incircuncisos 
como Tito. E o mais importante, tanto 
Barnabé como Tito afirmam completamente 
a Paulo e ao seu evangelho.
Barnabé se destaca de modo proemi­
nente na vida de Paulo e da igreja primi­
tiva (At 4.36,37). Foi ele quem primeira­
mente apresentou Paulo à igreja e o acom­
panhou em sua primeira viagem missionária 
(At 9-27; 11.22-25; 13-1— 14.28). Também 
a menção de Barnabé em Gálatas 2.1, sem 
qualquer qualificação ou apresentação, indica 
que era bem conhecido dos gálatas. Final­
mente, os judaizantes não se esqueceri­
am de dizer aos gálatas que Barnabé jun­
tou-se a Pedro em Antioquia quando este 
último separou-se dos gentios (2.11-14).
Tito, sendo menos proeminente que 
Barnabé, foi provavelmente levado para 
ajudar na viagem (Atos 12.25; 15.37-41). 
Foi um importante companheiro de Paulo 
(2 Co 2.13; 7.6). Porém, como um gentio 
incircunciso, Tito poderia servir como um 
“teste” para a missão livre da lei de Paulo 
para os gentios. Pelo fato de os apósto­
los de Jerusalém não o terem obrigado a 
ser circuncidado, nenhum gentio pode­
ria ser forçado a ser circuncidado na igreja.
Paulo não diz que “nós” subimos a je ­
rusalém, mas que levou Barnabé consi­
go. Isto significa que Paulo tomou delibera­
1140
GÁLATAS 2
damente a iniciativa de que estas pesso­
as o acompanhassem nesta visita. Deste 
modo, se os gálatas tivessem quaisquer 
perguntas sobre a reunião emjerusalém, 
poderiam se referir a Barnabé e Tito.
Paulo diz que subiu “por uma revela­
ção”. Uma vez mais destaca a importân­
cia da revelação sobrenatural em sua vida 
e ministério (1.12,16). O ponto de Paulo 
é que fazendo esta viagem, estava sendo 
obediente à vontade revelada de Deus. 
Sua submissão a esta vontade se posiciona 
em contraste total ao que seus inimigos 
partilharam com os gálatas. Eles prova­
velmente disse que Paulo tinha sido “cha­
mado para ser repreendido” pelos após­
tolos de Jerusalém e teve que responder 
por seu ministério na Galácia. Então Paulo 
declara que fez a viagem por ter sido ins­
pirado por Deus, e não intimidado por seres 
humanos.
Paulo não compartilha o conteúdo da 
revelação, então não sabemos por que 
o Senhor o dirigiu para que fosse a Jeru­
salém. Contudo, podemos ter certeza de 
que Paulo n ão f o i a jeru salém p orqu e d u ­
vidava d a v a lid ad e d e su a c h a m a d a e 
m en sagem . Embora digamos mais na 
seqüência, seu motivo parece ter sido mais 
pragmático do que teológico. Se os após­
tolos de Jerusalém falhassem em enxer­
gar o que Deus estava fazendo através 
de Paulo, então seus esforços teriam sido 
muito prejudicados. Por outro lado, se 
tivessem o discernimento espiritual para 
reconhecer a graça de Deus em sua vida, 
seu trabalho no meio dos gentios teria 
sido ajudado.
Emjerusalém, Paulo não submeteu seu 
evangelho ao exame das massas. Perce­
bendo que um debate público poderia trazer 
mais problemas que soluções, escolheu 
apresentar seu evangelho em uma oca­
sião particular (2.2). Particularmente, apre­
sentou seu evangelho “para aqueles que 
pareciam ser alguma coisa” — ou líde­
res — (uma frase usada duas vezes no 
versículo 6 e novamente no versículo 9, 
onde “aqueles reputados para serem co­
lunas” são especificamente identificados 
como Tiago, Pedro e João). Aos ouvidos 
modernos, a descrição de Paulo sobre os
apóstolos de Jerusalém parece negativa 
e um pouco sarcástica. Contudo, seu objetivo 
não é depreciar a posição de Tiago, Pedro, 
e João. Ele está simplesmente relatando 
a estima destas pessoas sob a perspectiva 
d a Igreja em jeru sa lém (Verseput, 1993,
49). Embora Paulo reconheça a autoridade 
deles, não aceita a veneração irregular que 
os judaizantes lhes prestavam (2.6).
Paulo usa um exemplo do atletismo 
quando expressa as preocupações que teve 
na reunião (cf. também 1 Co 9.25-27; Fp 
3.12-14). A imagem é a de um corredor 
de longa distância que esforçou-se ao 
máximo na corrida, mas que foi desclas­
sificado apenas por algum detalhe técni­
co. Paulo temia que todos os seus esfor­
ços pudessem ser destruídos por questões 
que não tivessem nada a ver com o evan­
gelho propriamente dito, como circuncisão 
e leis referentes à alimentação. Se a lide­
rança errasse por impor tais regras aos 
gentios, Paulo teria sem dúvida continu­
ado o seu trabalho e pregado a mesma 
mensagem. Porém os seus esforços teri­
am sido extremamente frustrados.
No versículo 3, Paulo retorna ao assunto 
de Tito. Seu “teste” funcionou. Tito não 
foi “constrangido a circuncidar-se”. Como 
nós deveríamos interpretar “circuncidar- 
se”? Será que isto significa que a circun­
cisão não foi nem mencionada na reunião, 
e por esta razão Tito não foi forçado a sofrer 
o ritual? Se este foi o caso, então Paulo 
poderia ter entendido o silêncio de Tiago, 
Pedro e João como um endosso implíci­
to de seu evangelho livre da lei para os 
gentios (Bruce, 1982, 106 a seguir). Ou 
as palavras “não constrangido” significam 
que Tito subm eteu-se voluntariam ente à 
circuncisão, mas não foi forçado a fazê- 
lo? Ou Paulo está declarando que os “fal­
sos irmãos” de 2.4 insistiam na questão 
da circuncisão, mas fracassaram em colocá- 
la na ordem do dia? Embora digamos mais 
na seqüência, a última opção parece ser 
a mais provável. Depois de se encontra­
rem com Tiago, Pedro ejoão, alguns ten­
taram forçar Tito a ser circuncidado, mas 
Paulo e Barnabé (observe o “nós” no 
versículo 5) resistiram com sucesso a seus 
esforços.
1141
GÁLATAS 2
Quem eram estas pessoas que procu­
ravam que Tito fosse circuncidado? A 
identidade dos adversários de Paulo em 
Gálatas levantava muitas perguntas. Eles 
são as mesmas pessoas de quem lemos 
em Atos 15.1-5? Os inimigos de Paulo em 
Gálatas consideram-se cristãos, ou são eles 
judeus não-cristãos que motivados pela 
política e nacionalismo judaicos, procu­
ravam influenciar a Igreja na Galácia? É 
até possível que os adversários de Paulo 
sejam gentios que se tomaram prosélitos 
ao judaísmo antes de aceitarem a Cristo. 
Podem ter discutido que se tivessem que 
ser circuncidados para serem salvos, os 
demais gálatas deveriam fazer o mesmo. 
Além disso, poder-se-ia perguntar se Paulo 
está se dirigindo a um único grupo ou a 
vários grupos com convicções e intentos 
semelhantes. Em outras palavras, todos 
os termos: “alguns... que vos inquietam”
(1.7), “falsos irmãos” (2.4), “alguns... da 
parte de Tiago” (2.12), “quem vos fasci­
nou” (3-1), aqueles que são zelosos para 
vos conquistar (4.17,18) e “aqueles que 
vos andam inquietando” (5.12) se referem 
às mesmas pessoas?
Provavelmente nunca saberemos a 
identidade exata de tais pessoas ou gru­
pos, mas Paulo seguramente vê a todos 
como inimigos do evangelho da graça. Em 
2.4 ele os descreve comopseu dadelpho i 
(lit., “falsos irmãos”). Deste modo Paulo 
não os considera cristãos, embora seu uso 
da palavra “irmãos” possa indicar que os 
desordeiros viam-se como parte da Igre­
ja. De qualquer modo, estes falsos irmãos 
não eram membros das igrejas locais na 
Galácia, pois Paulo os descreve como 
agentes estrangeiros que se infiltraram na 
Galácia com intento hostil.
Eles estão envolvidos

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