Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO PROF. DR. MÁRCIO DE OLIVEIRA Reitor: Prof. Me. Ricardo Benedito de Oliveira Pró-Reitoria Acadêmica: Maria Albertina Ferreira do Nascimento Diretoria EAD: Prof.a Dra. Gisele Caroline Novakowski PRODUÇÃO DE MATERIAIS Diagramação: Alan Michel Bariani Thiago Bruno Peraro Revisão Textual: Fernando Sachetti Bomfim Marta Yumi Ando Simone Barbosa Produção Audiovisual: Adriano Vieira Marques Márcio Alexandre Júnior Lara Osmar da Conceição Calisto Gestão de Produção: Cristiane Alves © Direitos reservados à UNINGÁ - Reprodução Proibida. - Rodovia PR 317 (Av. Morangueira), n° 6114 Prezado (a) Acadêmico (a), bem-vindo (a) à UNINGÁ – Centro Universitário Ingá. Primeiramente, deixo uma frase de Só- crates para reflexão: “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida.” Cada um de nós tem uma grande res- ponsabilidade sobre as escolhas que fazemos, e essas nos guiarão por toda a vida acadêmica e profissional, refletindo diretamente em nossa vida pessoal e em nossas relações com a socie- dade. Hoje em dia, essa sociedade é exigente e busca por tecnologia, informação e conheci- mento advindos de profissionais que possuam novas habilidades para liderança e sobrevivên- cia no mercado de trabalho. De fato, a tecnologia e a comunicação têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, diminuindo distâncias, rompendo fronteiras e nos proporcionando momentos inesquecíveis. Assim, a UNINGÁ se dispõe, através do Ensino a Distância, a proporcionar um ensino de quali- dade, capaz de formar cidadãos integrantes de uma sociedade justa, preparados para o mer- cado de trabalho, como planejadores e líderes atuantes. Que esta nova caminhada lhes traga muita experiência, conhecimento e sucesso. Prof. Me. Ricardo Benedito de Oliveira REITOR 33WWW.UNINGA.BR UNIDADE 01 SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................................ 4 1. APRENDIZAGEM ................................................................................................................................................... 5 2. DESENVOLVIMENTO HUMANO .......................................................................................................................... 7 2.1 TEORIA DO DESENVOLVIMENTO HUMANO DE JEAN PIAGET ...................................................................... 9 2.2 O ENFOQUE INTERACIONISTA DO DESENVOLVIMENTO HUMANO: VIGOTSKY ....................................... 13 APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO: UM INÍCIO DE CONVERSA PROF. DR. MÁRCIO DE OLIVEIRA ENSINO A DISTÂNCIA DISCIPLINA: PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 4WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA D O DE SE NV OL VI M EN TO | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA INTRODUÇÃO Caso seja perguntado sobre qual o signi� cado dos termos aprendizagem e desenvolvimento, é possível que você tenha uma resposta na ponta da língua para tal questionamento. No entanto, esses conceitos são bastante complexos para a área da Psicologia e da Educação, sendo necessária uma atenção especial para o estudo dos mesmos. Para entender de maneira mais completa os aspectos da aprendizagem e do desenvolvimento humano, é preciso analisar esses termos em seu conjunto, buscando relacioná- los com as mais variadas áreas do conhecimento, sobretudo a partir da Psicologia e da Educação. Esse entendimento vai sendo melhor consolidado a partir da leitura de diversos autores que dedicaram seus estudos para tal área. Vale salientar que cada indivíduo possui um modo de aprendizagem diferenciado, da mesma maneira, o processo de desenvolvimento também se difere de pessoa para pessoa. Essa evolução é dependente de vários fatores: organismo biológico, aspectos sociais, interação etc. E cada linha de estudo avalia um ou mais aspectos diferentes. Desta maneira, para entender o desenvolvimento humano, bem como o processo de aprendizagem humana, é fundamental analisar vários aspectos de maneira conjunta, de maneira macro. Esta unidade está dividida em 04 (quatro) tópicos. No primeiro serão analisadas as especi� cidades do processo de aprendizagem, bem como suas principais características. No segundo tópico a discussão será acerca do desenvolvimento humano, considerando suas especi� cidades. No terceiro, a discussão versará sobre a Teoria do Desenvolvimento Humano de Jean Piaget. O último tópico apresentará conhecimentos relacionados ao enfoque interacionista do desenvolvimento humano, tendo como base o estudioso Vigotsky. 5WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA D O DE SE NV OL VI M EN TO | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 1. APRENDIZAGEM O processo de aprendizagem acontece quase que cotidianamente na vida das pessoas. Essa atividade, muitas vezes, é realizada sem o conhecimento de quem está aprendendo, como se fosse algo naturalizado do ser humano. No entanto, a aprendizagem carrega consigo características que lhes são especí� cas, sendo necessária uma atenção especial para ela, a � m de entende-la como uma prática merecedora de estudos, destaques, cuidados, acompanhamento. Aqui, vamos enfatizar o processo de aprendizagem que ocorre nas instituições escolares, geralmente guiado pela � gura do professor. É sabido que existem várias concepções diferentes que buscam dar conta de explicar o que signi� ca aprendizagem, cada concepção está baseada em uma visão teórica diferenciada, a partir do entendimento de ser humano, sociedade, � losó� co, político, teórico. Figura 1 - Processo de aprendizagem mediado pelo professor. Fonte: Icema (2015). Campos (1987) descreve que o processo de aprendizagem apresenta, ao menos, 06 (seis) principais características, pois é: dinâmico, contínuo, global, pessoal, gradativo e cumulativo. A aprendizagem é um processo dinâmico porque é uma atividade que depende de quem está aprendendo, necessitando de uma participação total e global do aprendiz. Além disso, é contínuo porque se inicia quando criança e � naliza na terceira idade, perpassando por toda a vida de uma pessoa, ou seja, do início da vida se estendendo até seu � m. A aprendizagem também é global, pois envolve a mudança de comportamento do aprendiz, exigindo uma participação total por parte do indivíduo. O processo de aprendizagem é pessoal porque é único do indivíduo, cada pessoa pode se desenvolver de uma maneira diferente/especí� ca. Ainda é gradativo e cumulativo, pois acrescenta-se novos elementos à aprendizagem anterior e possibilita o acúmulo de experiências, respectivamente (CAMPOS, 1987). 6WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA D O DE SE NV OL VI M EN TO | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Para afunilarmos os estudos ora apresentados, vamos enfatizar duas correntes principais que analisam o processo de aprendizagem: Teorias do Condicionamento e Teorias Cognitivistas. No primeiro grupo, estão as teorias que de� nem a aprendizagem pelas suas consequências comportamentais e enfatizam as condições ambientais como forças propulsoras da aprendizagem. Ainda nessa perspectiva, “[...] a aprendizagem é a conexão entre o estímulo e a resposta. Completada a aprendizagem, estímulo e resposta estão de tal modo unidos, que o aparecimento do estímulo evoca a resposta” (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2002, p. 115). Nesse sentido, as Teorias do Condicionamento buscam enfatizar que o condicionamento é um processo de aprendizagem e modi� cação de comportamento por meio de mecanismos de estímulo e resposta, e essa modi� cação ocorre sobre o Sistema Nervoso Central (SNC) do indivíduo. No segundo grupo, Bock, Furtado e Teixeira (2002, p. 115) enfatizam que “[...] estão as teorias que de� nem a aprendizagem como um processo de relação do sujeito com o mundo externo e que tem consequências no plano da organização interna do conhecimento (organização cognitiva)”. Essa concepção defende que a aprendizagem é um elemento proveniente da comunicação entre o sujeito e o mundo,se acumulando sob a forma de riqueza de conteúdos cognitivos. Indicação de fi lme: Sociedade dos Poetas Mortos Direção: Peter Weir Local e ano: EUA, 1989 Principais temas a serem debatidos: Processo de ensino e aprendizagem Sinopse: O fi lme relata a história de um professor chamado Keating que possui métodos de aprendizagem diferenciados da escola onde ele trabalhará. Naquela época os alunos não tinham opção de escolher suas profi ssões, quem as escolhiam eram seus responsáveis. Keating incentiva seus alunos a pensar de maneira própria, mas a direção da escola fi ca insatisfeita com a atuação dele, principalmente quando ele fala sobre a Sociedade dos Poetas Mortos. Os alunos gostam do novo professor e começam a superar seus medos e problemas. Os alunos formam uma nova Sociedade dos Poetas Mortos e vivem sobre o ideal Carpe Diem. Eles fazem encontros a noite em uma caverna para ler poemas. Um aluno em questão ganha ênfase no fi lme, é Neil, apaixonado por artes. Seu pai quer colocá-lo em um colégio militar, mas Neil não aceita e comete suicídio. Keating é acusado de ser responsável pela morte do aluno. O diretor assume suas aulas e os alunos fazem uma manifestação a favor de Keating (PORTAL EDUCAÇÃO, 2013). 7WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA D O DE SE NV OL VI M EN TO | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Figura 2 - Comunicação entre o sujeito e o mundo. Fonte: Pixaby (2017). Enquanto documento auxiliador no trabalho docente, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) (BRASIL, 1997) contribuem para uma análise da aprendizagem. De acordo com esse documento, pode-se a� rmar que o aluno necessita elaborar hipóteses e experimentar cada uma delas a � m de alcançar uma aprendizagem signi� cativa. Essa aprendizagem contribui para que o aluno entenda o contexto em que vive, além de buscar compreender as características de si mesmo. O professor é o responsável mais direto do processo de aprendizagem no interior de uma instituição escola, ele é quem contribui na organização do ambiente e fornece subsídios para que a aprendizagem ocorra. Portanto, é fundamental que o docente conheça a realidade de seus alunos e oferte mecanismos su� cientes para que esse processo ocorra da melhor maneira possível, de modo que os alunos se superem a cada dia, aprendendo cada vez mais. Após essa discussão acerca da aprendizagem, a seguir vamos discutir sobre o desenvolvimento humano, considerando as suas principais características. 2. DESENVOLVIMENTO HUMANO Da mesma forma que o processo de aprendizagem demanda cuidados em sua análise, o desenvolvimento humano também carece de uma atenção bastante especial para a sua análise, ao passo que possui especi� cidades em sua caracterização. O desenvolvimento humano refere-se ao desenvolvimento mental e ao crescimento orgânico. Bock, Furtado e Teixeira (2002, p. 98) enfatizam que: A aprendizagem, então, quando signifi cativa proporciona maior conhecimento – e conhecimento mais duradouro, representativo – para o indivíduo, de modo que este último possa aplicar o que aprendeu em sua vida cotidiana. 8WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA D O DE SE NV OL VI M EN TO | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA O desenvolvimento mental é uma construção contínua, que se caracteriza pelo aparecimento gradativo de estruturas mentais. Estas são formas de organização da atividade mental que se vão aperfeiçoando e solidi� cando até o momento em que todas elas, estando plenamente desenvolvidas, caracterizarão um estado de equilíbrio superior quanto aos aspectos da inteligência, vida afetiva e relações sociais. Assim, é possível entender que o desenvolvimento humano está relacionado, necessariamente, a aspectos voltados às necessidades � siológicas, afetivas e intelectuais, que se apresentam em constante transformação e adaptação. Bock, Furtado e Teixeira (2002) enfatizam que o desenvolvimento humano deve ser entendido como uma globalidade e tem sido abordado, principalmente, a partir de quatro aspectos básicos: físico-motor, intelectual, afetivo-emocional e social. Nas palavras dos autores: Aspecto físico-motor: refere-se ao crescimento orgânico, à maturação neuro� siológica, à capacidade de manipulação de objetos e de exercício do próprio corpo. (...) Aspecto intelectual: é a capacidade de pensamento, raciocínio. (...) Aspecto afetivo-emocional: é o modo particular de o indivíduo integrar as suas experiências. É o sentir. (...) Aspecto social: é a maneira como o indivíduo reage diante das situações que envolvem outras pessoas (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2002, p. 1000, grifos do original). Vale ressaltar que cada teoria pode se ater a um desses aspectos de maneira principal, no entanto, é fundamental sabermos que esses aspectos – indissociados – formam o desenvolvimento humano. Ainda é importante frisar que, desde os primeiros dias de vida, o ser humano vai se desenvolvendo, as suas atividades vão ganhando, cada vez mais, signi� cados. Esse desenvolvimento é bastante complexo e tem estreita relação com a história individual de cada um e com a história desse ser humano com o meio social. Relacionando o desenvolvimento humano com a área da Educação (sobretudo com o processo de aprendizagem), estudar esse desenvolvimento possibilita conhecer as características comuns de uma faixa etária, permitindo que o professor se atente às individualidades dos seus alunos, de modo a observar os (e intervir nos) comportamentos dos discentes. Quanto mais conhecimento acerca das características do ser humano, melhor o processo de ensino, buscando alcançar a aprendizagem e desenvolvimento humano. 9WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA D O DE SE NV OL VI M EN TO | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Figura 3 - Primeiros anos de vida do ser humano. Fonte: Google Images (2017). A partir desse cenário, a seguir vamos destacar dois principais autores que apresentam estudos fundamentais para a análise da aprendizagem e do desenvolvimento humano: Piaget e Vigotsky, respectivamente. 2.1 Teoria do Desenvolvimento Humano de Jean Piaget Conforme mencionamos, o processo de aprendizagem e desenvolvimento humano pode ser apresentado sob várias perspectivas. Nesse momento, a abordagem discutida será a Teoria do Desenvolvimento Humano de Jean Piaget. No entanto, antes de iniciarmos a discussão acerca da teoria, vamos conhecer um pouco sobre quem foi esse estudioso. Figura 4 - Jean Piaget. Fonte: A mente é maravilhosa (2017). De acordo com o Portal Educação (2014), Jean Piaget foi um renomado psicólogo e � lósofo suíço que nasceu no dia 09 de agosto de 1896, em Neuchâtel (Suíça) e � cou conhecido por seu trabalho grandioso no campo da inteligência infantil. O estudioso passou parte da sua carreira pro� ssional interagindo com os infantes, buscando entender seu processo de raciocínio. Seus estudos in� uenciaram – e ainda in� uenciam – grandes áreas como Psicologia e Pedagogia. 10WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA D O DE SE NV OL VI M EN TO | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Embora muitos educadores pensem que Piaget foi pedagogo, ele não estudou Pedagogia e nem desenvolveu um método para lecionar para o público infanto-juvenil, no entanto, suas ideias, ainda hoje, são levadas em consideração nos estudos da Educação (NOVA ESCOLA, 2008). Piaget publicou seu primeiro trabalho sobre observação de um pardal albino aos 11 anos de idade. Esse foi o marco de sua carreira cientí� ca. Ele frequentou a Universidade de Neuchâtel (estudou Biologia e Filoso� a), e recebeu o título de doutorado em Biologia no ano de 1918, aos 22 anos de idade. Após se formar, Jean Piaget foi para Zurich e trabalhou como psicólogo experimental e psiquiatra. Em 1919, o estudioso mudou-se para a França, trabalhou no Laboratório de Alfred Binet e concluiu que o pensamento lógico se desenvolve gradualmente. Nesse mesmo ano, Piaget começou a pesquisar sobre a mente humana e o desenvolvimento das habilidades cognitivas. Elese considerou um epistemólogo genético porque investigou a natureza e a gênese do conhecimento nos seus processos e estágios de desenvolvimento (PORTAL EDUCAÇÃO, 2014). Dois anos depois, em 1921, Piaget voltou para a Suíça e se tornou diretor de estudos no Instituto Jean Jaques Rousseau da Universidade de Genebra, iniciando um de seus maiores trabalhos quando observou crianças brincando, realizando registros de suas palavras, ações e processo de raciocínio. Posteriormente, em 1923, casou-se e teve três � lhas (que contribuíram para seus estudos, pois o pai observava demasiadamente o desenvolvimento delas). Registros apontam que Piaget foi o único suíço a ser convidado para lecionar na Universidade de Sorbonne (na França), onde trabalhou até 1963, data de seu falecimento (PORTAL EDUCAÇÃO, 2014). Piaget ainda fundou e dirigiu o Centro Internacional para Epistemologia Genética, escreveu 75 (setenta e cinco) livros e inúmeros trabalhos cientí� cos. Faleceu em Genebra, no dia 17 de setembro de 1980. Pádua (2009) enfatiza que Piaget ganhou notoriedade como psicólogo infantil, no entanto seu foco não era estudar especi� camente sobre crianças, mas analisar a capacidade do conhecimento humano e seu desenvolvimento. Desta forma, é fundamental entendermos que Piaget, embora tenha realizado estudos sobre as crianças, tinha sua atenção voltada fundamentalmente para o processo de desenvolvimento das pessoas, e isso o fez buscar, então, conhecimentos a partir da observação das crianças. O biólogo produziu uma das mais completas teorias do desenvolvimento intelectual, denominada Epistemologia Genética, sobretudo pelo fato de estudar o período que engloba desde o nascimento até a idade adulta do ser humano. Suas produções enfatizam os laços da inteligência e da lógica, bem como das mais variadas funções cognitivas: memória, linguagem e percepção (PÁDUA, 2009). Neste momento, vamos discutir acerca dos períodos de� nidos por Jean Piaget acerca do desenvolvimento humano, a citar: Sensório-motor, Pré-operatório, Operações Concretas e Operações formais. De acordo com o estudioso, cara momento é caracterizado por aquilo que de melhor o indivíduo consegue fazer em determinada faixa etária. Bock, Furtado e Teixeira (2002, p. 101) enfatizam que, de acordo com Piaget, “[...] todos os indivíduos passam por todas essas fases ou períodos, nessa sequência, porém, o início e o término de cada uma delas dependem das características biológicas do indivíduo e de fatores educacionais sociais”. Partindo dessa premissa, é fundamental entender que as divisões propostas pelo estudioso a � m de organizar os períodos do desenvolvimento humano são referências, e não normas rígidas. Abaixo, destacaremos as principais características de cada uma dessas fases. 11WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA D O DE SE NV OL VI M EN TO | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Período Sensório-Motor: essa etapa corresponde a idade entre 0 e 2 anos. De acordo com Piaget, nesse período, a criança conquista, por meio da percepção e dos movimentos, todo o universo que a cerca (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2002). Nesse período, o bebê realiza uma prática de ação não interiorizada e não verbal, de modo a não empregar, ainda, a linguagem falada. No entanto, o bebê emprega a percepção (sensório) e as ações (motor). Aqui, a inteligência é limitada à ação. Ainda é importante salientar que nesse período, o indivíduo se limita aos exercícios dos aparelhos re� exos, que foram herdados, como, por exemplo, a sucção. Essas atividades são melhoradas conforme o bebê ou a criança as treinam. O período Sensório-motor envolve percepção e movimentação, por isso, o nome escolhido por Piaget. Aos poucos, a criança percebe que os objetos (que antes existiam apenas quando estavam no seu campo visual) existem mesmo quando não estão vendo ou os tocando. Outro aspecto que chama a atenção é o fato de que próximo aos dois anos de idade, a criança é capaz de realizar a fala imitativa, buscando ‘copiar’ ou imitar a fala das pessoas adultas a sua volta. SENSÓRIO-MOTOR • O contato com o meio é direto e imediato, sem representação ou ideias. • O bebê constrói ações para buscar assimilar mentalmente o meio. • O bebê vai, aos poucos, se separando dos obje- tos. • A noção de espaço e tempo é construída pela ação. Quadro 1 - Principais características do Período Sensório-motor. Fonte: o autor (2017). Período Pré-operatório: esse período corresponde ao desenvolvimento entre os 02 e 07 anos de idade. Durante esse momento o que mais de importante acontece com a criança é, de acordo com Bock, Furtado e Teixeira (2002), a aquisição da linguagem. Nesse momento, a criança se apropria de uma forma a mais para a comunicação entre os indivíduos. A linguagem, dessa forma, possibilita que o indivíduo exteriorize seus pensamentos, por exemplo. Essa prática faz com que haja a possibilidade de a criança corrigir ações futuras, de maneira que ela antecipe o que fará. Bock, Furtado e Teixeira (2002, p. 103, grifos do original) escrevem que “[...] como decorrência do aparecimento da linguagem, o desenvolvimento do pensamento se acelera”. Essa fase é conhecida, por muitas pessoas, como a fase dos ‘porquês’, pois a criança realiza perguntas demasiadamente. Nessa etapa, a criança está em idade escolar e, consequentemente, ocorre uma maior maturação neuro� siológica, permitindo o desenvolvimento de novas habilidades, a exemplo da coordenação motora � nal – primordial para o processo de escrita e desenho com materiais escolares como o lápis, por exemplo, possibilitando movimentos mais delicados e precisos. 12WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA D O DE SE NV OL VI M EN TO | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA PRÉ-OPERATÓRIO • Desenvolvimento de funções simbólicas; • Egocentrismo; • Aparecimento das representações mentais; • É fundamental a criança se basear na aparência para justifi car ou relacionar os fatos. Quadro 2 - Principais características do Período Pré-operatório. Fonte: o autor (2017). Período das Operações Concretas: esse período é característico no � m da infância e início da adolescência, ou seja, entre os 7 e 11/12 anos de idade. Uma peculiaridade dessa etapa é a construção da lógica, em que o indivíduo consegue estabelecer relações que permitem a coordenação de diferentes pontos de vista (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2002). Nesse período há maior possibilidade de a criança ou adolescente trabalhar em grupo, cooperar com outras pessoas, estabelecer a sua autonomia pessoal. Piaget analisou, de acordo com Bock, Furtado e Teixeira (2002, p. 104, grifos do original), que nessa fase acontece o [...] surgimento de uma nova capacidade mental da criança: as operações, isto é, ela consegue realizar uma ação física ou mental dirigida para um � m (objetivo) e revertê-la para o seu início. Assim, nesse período, a criança ou o adolescente desenvolve capacidades de relações entre causa e efeito, meio e � m, sequência de ideias, entendimento de diferentes pontos de vista, etc. Ainda é importante ressaltar que no período das Operações Concretas, ocorre o aparecimento da vontade no indivíduo, este adquire autonomia crescente em relação à pessoa adulta, organizando seus próprios valores morais como, por exemplo, respeito, honestidade e justiça. OPERAÇÕES CON- CRETAS • A criança adquire o conceito de irreversibilidade; • A criança busca as diferenças além do que é per- cebido; • O indivíduo estabelece relações, classifi cações e séries. Quadro 3 - Principais características do Período das Operações Concretas. Fonte: o autor (2017). Período das Operações Formais: esse período corresponde dos 11/12 anos em diante, ou seja, da adolescência em frente. Aqui o adolescente consegue realizar operações no plano das ideias, sem a necessidade de manipular um objeto material, como no período anterior (BOCK; FURTADO, TEIXEIRA, 2002). O adolescente consegue, a partir das características dessa fase, abstrair e generalizar,buscando entender melhor o meio social o qual convive, conseguindo apurar conclusões de puras hipóteses. Bock, Furtado e Teixeira (2002, p. 106) explicam que, de acordo com Piaget: 13WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA D O DE SE NV OL VI M EN TO | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Do ponto de vista de suas relações sociais, também, ocorre o processo de caracterizar-se, inicialmente, por uma fase de interiorização, em que, aparentemente, é antissocial. Ele se afasta da família, não aceita conselhos dos adultos; mas, na realidade, o alvo de sua re� exão é a sociedade, sempre analisada como passível de ser reformada e transformada. Posteriormente, atinge o equilíbrio entre pensamento e realidade, quando compreende a importância da re� exão para a sua ação sobre o mundo real. De certa maneira, nessa etapa, o adolescente busca se encontrar em grupos de pessoas com características parecidas com as suas, de modo a desenvolver um sentimento de pertença. Busca, então, libertar-se dos adultos, com o objetivo de efetivar suas relações com seus pares para, assim, ser aceito no grupo de amigos. OPERAÇÕES FORMAIS • Raciocínio dedutivo; • Valorização do pensamento; • Formulação de hipóteses para a solução de problemas; • Aprimoramento da diferenciação entre o su- jeito e o objeto. Quadro 4 - Principais características do Período das Operações Formais. Fonte: o autor (2017). Após essa análise acerca da Epistemologia Genética (teoria desenvolvida por Jean Piaget), a seguir vamos discutir os principais aspectos do desenvolvimento humano e da aprendizagem traçados por Vigotsky. 2.2 O Enfoque Interacionista do Desenvolvimento Humano: Vigotsky Vigotsky contribuiu muito para os estudos acerca do processo de aprendizagem e desenvolvimento do ser humano. Mas, quem foi esse estudioso tão in� uente na área da Psicologia e Educação? Após apresentarmos a sua biogra� a, de forma resumida, apresentaremos as suas principais ideias, a � m de que você tenha uma compreensão maior acerca da sua contribuição cientí� ca. Vigotsky foi um psicólogo bielo-russo e produziu estudos acerca do desenvolvimento da aprendizagem e do papel das relações sociais nesse processo, portanto, seu pensamento � cou conhecido como Sócio Interacionista. Lev Semenovitch Vigotsky nasceu em Orsha no dia 17 de novembro de 1896, foi � lho de uma família culta e judia, vivendo em Gomel até os 17 anos de idade, se destacando enquanto aluno do curso secundário (FRAZÃO, 2017). Com 18 anos, Vigotsky iniciou os estudos no curso de Medicina, porém, o transferiu para o curso de Direito na Universidade de Moscou. Nesse mesmo período, o autor estudou Literatura e História da Arte. 14WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA D O DE SE NV OL VI M EN TO | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Figura 5 - Vigotsky. Fonte: Infoescola (2017). No ano de 1917, Vigotsky se graduou em Direito, depois de formado, retornou para Gomel. Lá, fundou uma editora e um laboratório de psicologia no instituto de Treinamento de Professores, ministrando cursos de Psicologia. A partir daí, dedicou-se, enfaticamente, aos estudos dos processos mentais humanos (FRAZÃO, 2017). O interesse de Vigotsky pelas funções mentais superiores, cultura, linguagem e processos orgânicos cerebrais o levaram a trabalhar com pesquisadores neuro� siologistas como Alexander Luria e Alexei Leontiev, que deixaram importantes contribuições para o Instituto de De� ciência de Moscou, entre eles o livro “A Formação Social da Mente” onde aborda os processos psicológicos tipicamente humanos, analisando-os a partir da infância e do seu contexto histórico-cultural (FRAZÃO, 2017, s/p). Após a sua morte, as suas ideias foram repudiadas pelo governo soviético. Suas obras foram proibidas naquela localidade entre 1936 e 1958 (período da censura do regime stalinista). Fato esse que ‘atrasou’ a publicação dos livros “Pensamento e Linguagem” no Brasil, que ocorrera no ano de 1962 e “A Formação Social da Mente” em 1984. Vigotsky faleceu de tuberculose em Moscou no dia 11 de junho de 1934, antes de completar seus 38 anos de idade (FRAZÃO, 2017). Após estudarmos um pouco sobre a vida de Vigotsky, a partir de agora, vamos entender sobre as suas pesquisas relacionadas ao desenvolvimento do ser humano. INDICAÇÃO DE FILME: O enigma de Kaspar Hauser Direção: Werner Herzog Local e ano: Alemanha Ocidental, 1974 Principais temas a serem debatidos: O papel das relações sociais no desenvolvimento humano. 15WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA D O DE SE NV OL VI M EN TO | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Uma ideia bastante difundida a partir dos estudos de Vigotsky (2009) é que, desde o nascimento, somos socialmente dependentes de outras pessoas, de maneira a entrarmos em um processo histórico de relações com o mundo (meio social) e com quem nele está (indivíduos que nos relacionamos). Portanto, a sua abordagem buscou caracterizar os vários aspectos tipicamente humanos (memória, atenção voluntária, pensamento etc.) do comportamento e elaborar hipóteses acerca de como tais características se formam ao longo da história do indivíduo. Bock, Furtado e Teixeira (2002, p. 107) enfatizam que: Um pressuposto básico da obra de Vigotsky é que as origens das formas superiores de comportamento consciente – pensamento, memória, atenção voluntária, etc. –, formas essas que diferenciam o homem dos outros animais, devem ser achadas nas relações sociais que o homem mantém. Mas Vigotsky não via o homem como ser passivo, consequência dessas relações. Esse excerto contribui para pensarmos que o estudioso entendia o ser humano como fruto das suas relações sociais, porém, esse indivíduo não era passivo, pelo contrário: era ativo e agia sobre o mundo, sempre em relações interativas. Vigotsky (1996) criou três termos muito relevantes para os estudos do desenvolvimento humano: Zona de Desenvolvimento Proximal, Nível de Desenvolvimento Real e Nível de Desenvolvimento Potencial. A seguir, de forma breve, vamos apontar o que vem a ser cada um deles. A Zona de Desenvolvimento Proximal é a distância entre o Nível de Desenvolvimento Real (determinado pela capacidade de um indivíduo resolver problemas sozinho) e o Nível de Desenvolvimento Potencial (capacidade de o indivíduo resolver problemas em colaboração de outros indivíduos ou parceiros mais experientes) (VIGOTSKY, 1996). Sinopse: O fi lme é uma história baseada em fatos reais, que relata o processo de socialização de um garoto na cidade de Nuremberg (Alemanha). Kaspar Hauser era um garoto que viveu durante anos de sua vida trancado numa torre sem contato algum com a sociedade. Ele tinha apenas contato com um homem que “cuidava” dele todos os dias. Kaspar não falava, nem se movia. Até que um dia esse mesmo homem começou a ensinar algumas palavras e a dar seus primeiros passos. Foi assim que, pela primeira vez teve contato com a natureza. Um certo dia, Kaspar é encontrado no meio de uma praça “paralisado”, segurando apenas uma carta que fora escrita pelo homem que cuidou dele no período em que esteve enclausurado. E aí começa a sua aventura e desenvolvimento. Este fi lme mostra grande evolução do garoto na civilização (DIA A DIA EDUCAÇÃO, s/d). Vigotsky (1996) sempre considerou o ser humano inserido na sociedade e, desta forma, sua abordagem e seus estudos foram orientados para os processos de desenvolvimento do indivíduo, enfatizando a dimensão sócio histórica e a interação do ser humano com o outro no espaço social. 16WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA D O DE SE NV OL VI M EN TO | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NOME CONCEITO Zona de Desenvolvimento Proximal É a distância entre os outros dois níveis; Nível de Desenvolvimento Real Capacidade de resolver os problemas sozinho; Nível de Desenvolvimento Potencial Capacidade de solucionar problemas com auxílio de alguém mais experiente. Quadro 5 – ZDP, NDR, NDP. Fonte: o autor (2017). Nessa linha de raciocínio, estes conceitosbuscam contribuir, inclusive, para que professores organizem suas aulas, de modo a pensarem no aluno como um ser capaz de desenvolver-se por meio da contribuição de pessoas mais experientes (outros alunos, professores, responsáveis, etc.). Vigotsky (1996) ainda enfatiza que aprendizagem e desenvolvimento são indissociáveis. Logo, esses aspectos caminham juntos, de maneira que o indivíduo, a partir das relações exteriores, aprende coisas novas enquanto se desenvolve. Utilizando os estudos de Vigotsky nas escolas, é possível estabelecer que as instituições de ensino devem ser lugares de interação social entre seus membros. Alunos, professores e demais pro� ssionais da Educação devem ser considerados parceiros no processo de aprendizagem e desenvolvimento, de modo que o corpo discente seja visto como um ser aprendente. Após analisarmos as principais ideias de Vigotsky, a seguir discutiremos acerca de outras duas teorias do desenvolvimento e da aprendizagem: Humanismo e Behaviorismo. INDICAÇÃO DE LEITURA: Linguagem, Desenvolvimento e Aprendizagem AUTORES: L. S. Vigotsky, A. R. Luria, A. N. Leontiev ANO DE PUBLICAÇÃO: 2016 (14º edição) O QUE PODE SER ENCONTRADO NO LIVRO: Três dos principais representantes da psicologia soviética LEONTIEV, LURIA e VIGOTSKY estão presentes nesta coletânea, organizada por professores do Instituto de Biomédicas e da Faculdade de Educação da USP. Centrados em temática pertencente à psicologia cognitiva (percepção, memória, atenção, solução de problemas, fala, atividade motora), os três autores soviéticos estudaram desde processos neurofi siológicos até relações entre o funcionamento intelectual e a cultura em que os indivíduos estão inseridos. 17WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA D O DE SE NV OL VI M EN TO | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Assim, trabalharam intensamente não apenas com temas de psicologia do desenvolvimento como também com as relações entre linguagem e pensamento, com implicações para a neurologia, psiquiatria e educação (VIGOTSKY, LURIA, LEONTIEV, 2016). 1818WWW.UNINGA.BR UNIDADE 02 SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................................... 19 1. HUMANISMO ....................................................................................................................................................... 20 2. BEHAVIORISMO .................................................................................................................................................. 26 OUTRAS TEORIAS DE DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM PROF. DR. MÁRCIO DE OLIVEIRA ENSINO A DISTÂNCIA DISCIPLINA: PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 19WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA D O DE SE NV OL VI M EN TO | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA INTRODUÇÃO Para além das teorias desenvolvidas por Piaget e Vigotsky (sobre aprendizagem e desenvolvimento humano), existem outras teorias que buscam caracterizar essas etapas a que passam os seres humanos. É fato que a Teoria da Epistemologia Genética e a Teoria Sócio Interacionista são as mais conhecidas nos cursos de licenciatura, no entanto, é fundamental conhecer outras correntes a � m de analisar – por meio de vários elementos – o desenvolvimento humano e o processo de aprendizagem. Um fator fundamental é pensarmos que as teorias possuem características diferentes, e o professor deve aproveitar, após conhecer tais características, as que mais se aproximam de seu método de ensino e do ambiente ao qual está inserido. Quando um professor está utilizando características de uma determinada teoria do desenvolvimento e aprendizagem, não signi� ca que ele esteja desconsiderando as características de outra abordagem ou que não concorde com essas últimas. A escolha de uma teoria deve ser democrática, de forma que seja sempre associada aos objetivos propostos pelo docente. Ainda é interessante o professor sempre lembrar que o objetivo principal de uma instituição escolar é a aprendizagem de seus alunos, bem como o bem-estar de quem a frequenta, logo, conhecer as teorias se torna primordial, sobretudo para direcionar o trabalho docente. Lembramos que não é objetivo desta unidade (ou deste livro) julgar as teorias existentes, mas elencar as principais características e os principais pensadores que dispensaram tempo dos seus estudos a � m de organizar de� nições acerca do processo de aprendizagem humano e sobre seu desenvolvimento. Para dar sequência nesse livro, a unidade 02 (dois) discorrerá sobre outras duas vertentes de pensamento que buscam dar respostas para as características do processo de desenvolvimento e aprendizagem do ser humano, a citar: Humanismo e Behaviorismo. 20WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA D O DE SE NV OL VI M EN TO | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 1. HUMANISMO Na perspectiva Humanista, o foco é uma visão do ser humano como pessoa. O que é mais relevante é a autorrealização, ou seja, o seu crescimento pessoal. De acordo com Moreira (1997), o ser humano deve ser visto como um todo que engloba ação, sentimento e pensamento. A teoria Humanista é caracterizada por um número bastante considerável de diferentes expressões, como por exemplo: não-diretiva, fenomenológicas, existenciais etc. O principal pensador dessa linha de pensamento foi Carl Rogers, o autor defendia que o ser humano deveria ser analisado em um todo, pelo fato de pensar, sentir e realizar coisas. Logo, a aprendizagem não se limita apenas a um aumento de conhecimento. A teoria rogeriana surgiu, em meados do século XX, como uma terceira vertente entre dois campos da psicologia: a Psicanálise (de Freud) e o Behaviorismo (de Skinner). Carl Rogers foi um psicólogo norte-americano. Ele nasceu em Oak Park, Illinois, nos Estados Unidos, no dia 08 de janeiro de 1902. Era o � lho do meio de uma família protestante, em que os valores tradicionais e religiosos eram bastante cultivados, junto com o incentivo ao trabalho duro. Aos doze anos de idade, Rogers e sua família se mudaram para uma fazenda, e, por conta de terreno fértil, ele passou a se interessar pela agricultura e pelas ciências naturais (FRAZÃO, 2016a). Na universidade de Wisconsin, Carl Rogers dedicou-se ao aprofundamento de seus estudos em ciências físicas e biológicas. Após se graduar, em 1924, passou a frequentar o seminário (em Nova Iorque). Ao ser transferido para o Teachers Coolege da Columbia University, Rogers foi introduzido na psicologia e obteve o título de mestrado em 1928 e de doutorado em 1931 (FRAZÃO, 2016a). No ano de 1949, Rogers passou a ocupar a cátedra de Psicologia da Universidade de Ohio. Depois de um tempo, em 1957, Rogers se tornou professor na Universidade em que se graduou, Winconsin, até 1963. Durante esses anos, ele liderou um grupo de pesquisadores que realizou um brilhante estudo intensivo e controlado, utilizando a psicoterapia centrada com pacientes esquizofrênicos, obtendo, em alguns pontos, muito material sobre a relação terapêutica e muitos outros dados de interesse cientí� co, em termos estatísticos, com estes e com seus familiares. Foi o início de uma abordagem mais humana junto aos pacientes hospitalares. Desde 1964, Rogers associou-se ao Centro de Estudos da Pessoa, em La Jolla, Califórina, entrando em contato com outros teóricos humanistas, como Maslow, e � lósofos, como Buber e outros. Carl Rogers faleceu em San Diego, Califórnia, Estados Unidos, no dia 4 de fevereiro de 1987 (FRAZÃO, 2016a). Figura 1 - Carl Rogers. Fonte: NovaEscola (2017). 21WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA D O DE SE NV OL VI M EN TO | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Rogers defendia que o indivíduo, por estar em uma sociedade dinâmica e mutável, deveria se ajustar a essa sociedade, ou seja, o ser humano necessita se adaptar ao meio em que vive, para garantir (ou buscar garantir) a sua sobrevivência. Rogers (1978) baseou os seus escritosna crença na pessoa humana, bem como nas decorrências educacionais. O estudioso do desenvolvimento humano a� rmou que mais do que pensar em currículos e métodos de ensino, o professor deveria re� etir sobre a sua posição perante a vida, ou seja, a análise do indivíduo era o que realmente faz a diferença em sua proposta. Mais adiante, em 1985, foi publicado outro material de Rogers no Brasil em que o estudioso propôs, em sala de aula, que este fosse um ambiente de auto estima e autocon� ança, de maneira a contribuir aos alunos que se desenvolvam como pessoas e com atitudes que favoreçam à aprendizagem. O autor defendia que a terapia era fundamental, haja vista, essa atividade ajudaria uma pessoa a entender como um indivíduo pode vivenciar da melhor maneira possível a si mesmo, além de desenvolver suas experiências. Essa terapia, de acordo com Rogers, poderia contribuir para a Educação, de maneira que o aluno poderia compreender melhor esse processo e seu papel na realização do mesmo (ROGERS, 1985). Rogers (1985, p. 23) enfatiza que: É absolutamente essencial que os jovens aprendam, já cedo na vida, a examinar problemas complexos, a identi� car os prós e os contras de cada solução e a escolher a posição que desejam assumir em cada questão. [...] aprender e solucionar problemas complexos, tanto sociais quanto cientí� cos, constitui um objetivo primário da educação, que não pode ser atingido numa situação em que se exige a conformidade a certa opinião dogmática. Não pode ser atingido quando o debate livre e aberto é, de alguma maneira, inibido. Nesse sentido, a instituição escolar deve buscar com que o indivíduo aprenda a aprender, de modo a se adaptar às transformações sociais. Para isso, a escola deve se preocupar menos com a rigidez dos currículos e dos conteúdos estudados e mais com as características de seus alunos e docentes. A abordagem humanista, conforme fora apresentado, valoriza a pessoa autêntica e criativa. Que seja capaz de expressar as suas potencialidades plenamente, levando em consideração a realidade a qual vive. 22WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA D O DE SE NV OL VI M EN TO | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Figura 2 – Expressão da criatividade (característica da abordagem humanista). Fonte: Google Images. Deste modo, Rogers defendia que em contato com sua vivência, o indivíduo valoriza a sinceridade, a responsabilidade social, o autoconhecimento e, sobretudo, as relações afetuosas entre as pessoas. Outra característica essencial na abordagem humanista é a liberdade, sobretudo porque a liberdade, de acordo com a teoria, é a compreensão de que o ser humano pode viver a si próprio, a partir de suas escolhas. Essa liberdade pode ser pensada como a descoberta de signi� cado do seu íntimo (ROGERS, 1985). Moreira (1997) enfatiza que, para Rogers, é essencial a escola buscar a facilitação do desenvolvimento dos alunos, sendo que o professor deve ser visto como facilitador do processo de aprendizagem, além disso, as relações interpessoais precisam ser signi� cativas. A abordagem rogeriana defende que o ser humano apresenta uma potencialidade natural para a atividade de aprender e que o discente necessita perceber o conteúdo trabalhado em sala de aula como algo relevante para os seus objetivos. Os atos (ou as atitudes – capacidades atitudinais) são os propulsores das aprendizagens signi� cativas, ou seja, tais aprendizagens são realizadas por meio das ações dos indivíduos. Nessa perspectiva, a avaliação é mais valiosa quando realizada pelo próprio ser aprendente, ou seja, defende-se a autoavaliação, pois esta última leva à autocon� ança, criatividade, independência. Figura 3 – Autoavaliação. Fonte: o autor. 23WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA D O DE SE NV OL VI M EN TO | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Abaixo, apresentamos um quadro com as principais características da psicologia humanista, enfatizando os seus aspectos práticos. PSICOLOGIA HUMA- NISTA • O professor deve seguir as etapas do desenvolvi- mento da criança, observando as suas especifi ci- dades; • A autorrealização ocupa um lugar fundamental nessa abordagem; • O conhecimento é dividido em áreas, iniciando com a Educação Infantil; • O ser humano tem um potencial que pode ser de- senvolvido naturalmente, cabe ao professor facili- tar esse processo; • O material pedagógico (livros, experimentos, ativi- dades etc.) deve ser signifi cativo para o aluno; • O respeito aos alunos é imprescindível; • O aluno aprende com a ação; • O currículo deve ser fl exível, em que alunos e pro- fessores são responsáveis. Quadro 6 – Aspectos da Psicologia Humanista. Fonte: Adaptado de Francisco Filho (2002). Assim, evidencia-se que, na abordagem de Rogers, a aprendizagem mais útil é aquela que proporciona ao aluno aprender a aprender, pois somente dessa forma os indivíduos conseguirão se adaptar às transformações sociais. Ainda nas palavras do autor, o objetivo da Educação deveria ser o de facilitar a aprendizagem: O único homem instruído é aquele que aprendeu como aprender, o que aprendeu a adaptar-se e a mudar, o que se deu conta de que nenhum conhecimento é garantido, mas apenas o processo de procurar o conhecimento fornece base para a segurança. A qualidade de ser mutável, um suporte no processo, mais do que no conhecimento estático, constitui a única coisa que faz qualquer sentido como objetivo para a educação no mundo moderno (ROGERS, 1985, p. 126). É perceptível que Rogers compreende a facilitação da aprendizagem como meta da Educação, logo, a relação entre professor e aluno vai além de ensino e aprendizagem, mas com o objetivo de aprendizagem signi� cativa. 24WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA D O DE SE NV OL VI M EN TO | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Figura 4 - Relação entre professor e aluno. Fonte: Google Images (2017). Conforme mencionamos algumas vezes, Rogers atribui muita importância para a aprendizagem signi� cativa. No quadro abaixo, apresentamos, de acordo com o autor, as principais características da mesma: APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA • Tem uma qualidade de envolvimento pessoal, isto é, a pessoa toda, seus aspectos sensórios e cogni- tivos, participa da aprendizagem; • É auto iniciada, isto é, o senso de descoberta, de alcance, de apreensão e compreensão vem de den- tro, mesmo quando o estímulo vem do exterior; • É difusa, isto é, provoca diferença nas atitudes e no comportamento, e talvez até na própria personalidade do aprendiz; • É avaliada pelo próprio aprendiz, isto é, ele sabe se ela está atendendo as suas necessidades de conhecimento; • Sua essência é o signifi cado, que faz parte inte- grante da experiência como um todo. Quadro 7 – Características da aprendizagem signi� cativa. Fonte: Rogers (1985, p. 29-30). A abordagem humanista defende que é possível – e necessário – que a escola seja um lugar em que de um lado se tenham alunos interessados e querendo aprender; e de outro, professores que gostam do que fazem e de seus alunos. Embora seja difícil, essa seria a saída para uma escola mais inclusiva e que busca atingir seu principal objetivo: a aprendizagem signifi cativa dos alunos. 25WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA D O DE SE NV OL VI M EN TO | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Diante do exposto, Rogers defendia que quem aprende e produz ciência é o ser humano engajado, que busca e que aprende a aprender. Assim, conhecer é algo necessário e dinâmico, à medida que a sociedade está em constante transformação. A escola deve, então, proporcionar um ambiente signi� cativo de aprendizagem, em várias perspectivas: pessoal, social, política, estrutural etc. Além disso, a teoria rogeriana entende que a facilitação da aprendizagem é um dos principais objetivos da Educação. Assim, Rogers (1985) defendia que existiam algumas qualidades das atitudes de facilitação da aprendizagem: • Empatia: o professor se colocar no lugar do aluno para compreender internamente as reaçõesdesse último e ter consciência de como a aprendizagem acontece; • Autenticidade: o professor ‘ser ele próprio’, sem negar-se a si mesmo; • Apreço: con� ança do professor na capacidade de o indivíduo aprender, con� ando no outro enquanto pessoa. Esses aspectos da teoria de Rogers fazem pensar em algumas características especí� cas que o autor defendia: professores e alunos são responsáveis pelo processo de aprendizagem, o professor deve oferecer os recursos de aprendizagem com o objetivo de facilitar o aprendizado do aluno, o aluno tem a capacidade de desenvolver seu próprio programa de aprendizagem (sozinho ou em conjunto com outros alunos ou professor). Para Rogers (1985), o ambiente de aprendizagem também deve ser facilitador, ofertando objetos que contribuem para a formação dos alunos. Nesse ambiente deve existir aspectos da realidade, bem como despertar o interesse dos alunos. Os alunos, por sua vez, para além de aprenderem com os professores, aprendem, também, uns com os outros, de maneira que um aluno contribui na aprendizagem do outro. Essa teoria é de� nida como não-diretiva, pois o aluno é quem escolhe o que deseja aprender e o professor facilita esse processo. Portanto, são fundamentais o interesse e a motivação do aluno, de modo a melhorar esse procedimento de aprendizagem. Rogers (1985) não nega a existência do aspecto lógico e ordenado da aprendizagem, no entanto o autor defende que esse não seja o único aspecto que pode ser aplicado à Educação. A partir desse cenário, é fundamental entendermos que a teoria Humanista postula que o indivíduo é um ser livre e dinâmico, em busca da autorrealização e autonomia, mesmo apresentando limites. Além disso, é fundamental destacar que Rogers defendeu que o indivíduo tem a capacidade de controlar o seu próprio desenvolvimento, além de possuir o desejo de mudança e preparação para organizar sua própria opinião sobre os diversos assuntos. Portanto, a concepção de Rogers de Educação deve levar em consideração uma mudança de alguns hábitos, em que os professores precisam acreditar em seus alunos, descobrindo os seus interesses e buscando manter a motivação para os estudos. De acordo com Rogers (1985), o poder de decisão está nas mãos de quem será afetado no processo de ensino e aprendizagem. Assim, a sua proposta representa uma mudança considerável na Educação, sobretudo referente ao modelo tradicional de ensino. A teoria Humanista defende que a pessoa que aprende e está em crescimento que constitui a força politicamente poderosa na Educação. Logo, ocorre uma mudança de comportamento nos indivíduos que estavam habituados a serem sempre dirigidos, incluindo professores e os próprios estudantes. 26WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA D O DE SE NV OL VI M EN TO | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Reforçamos que a teoria rogeriana permite que o aluno aprenda a alimentar a sua curiosidade, de modo a sempre buscar um conhecimento novo e aprimorar os conhecimentos já adquiridos. Aprender a aprender interfere no futuro do indivíduo, pois isso faz com que o processo de aprendizagem esteja sempre vivo em quem já fez parte do corpo discente, demonstrando interesse e vontade de buscar sempre mais conhecimento. Após estudarmos as principais características da teoria Humanista do desenvolvimento humano e sua aprendizagem, a seguir traçaremos os principais aspectos acerca do Behaviorismo. 2. BEHAVIORISMO Quem nunca se perguntou: por que determinada pessoa age de determinada forma? A teoria de aprendizagem behaviorista, que contribui a responder tal questionamento, tem o seu foco no comportamento do ser humano, em que suas ações são observáveis. Aqui, os estímulos externos contribuem para que o indivíduo reaja de uma maneira especí� ca de comportamento. O termo Behaviorismo foi inaugurado pelo americano John Watson, no ano de 1913. O termo inglês “behavior” signi� ca “comportamento”. Outros possíveis nomes para essa tendência teórica são: comportamentalismo, teoria comportamental, análise experimental do comportamento, análise do comportamento (BOCK, FURTADO, TEIXEIRA, 2002). Mesmo sendo Watson a utilizar primeiramente o termo behaviorismo, o seu sucessor, Skinner, foi um dos mais importantes estudiosos a propagar as ideias dessa teoria. A seguir mostraremos um pouco da biogra� a desse importante cientista da área da psicologia, que se dedicou ao estudo do comportamento. Burrhus Frederic Skinner nasceu em 20 de março de 1904 em Susquenhanna, na Pensilvânia, onde viveu até ir para o colégio. Ele gostava da escola e era o primeiro a chegar todas as manhãs. Sua infância e adolescência foi bastante movimentada: ele gostava de construir objetos como jangadas, carrinhos, trenós, etc. Desde cedo demonstrava interesse pelo comportamento dos animais. No ano de 1928, Skinner se inscreveu na pós-graduação de psicologia em Harvard, mesmo nunca tendo estudado psicologia antes. Adquiriu o título de doutorado três anos depois. Sua principal ideia era de que um re� exo não é senão a correlação entre um estímulo e uma resposta (SCHULTZ; SCHULTZ, 1981). Após realizar vários pós-doutorados, Skinner foi lecionar na Universidade de Minnesota e na Universidade de Indiana. Em 1947, ele voltou a Harvard. O estudioso manteve-se produtivo até a morte, aos oitenta e seis anos de idade, trabalhando até o � m com o mesmo entusiasmo de sempre. Antes de morrer, aos 68 anos, escreveu um artigo intitulado ‘Autoadministração intelectual na velhice” baseado em sua própria vida. Faleceu, doente terminal com leucemia, em 18 de agosto de 1990 (SCHULTZ; SCHULTZ, 1981). 27WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA D O DE SE NV OL VI M EN TO | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Figura 5 - Skinner. Fonte: Google Images (2017). As ideias behavioristas de Skinner contribuíram muito para o desenvolvimento da psicologia, de modo a buscar compreender os estímulos dados aos seres humanos e o que esses estímulos causavam como respostas nos seres humanos. Há um pressuposto � losó� co que coloca destaque nos comportamentos observáveis e mensuráveis, ou seja, é uma linha de pensamento que acredita nos estudos das respostas do sujeito aos estímulos externos (ou estímulos advindos do ambiente). Nessa perspectiva, o indivíduo é estimulado e emite uma resposta que pode ser observada, mensurada e, se há um reforço positivo, essa resposta se torna mais frequente. Da mesma forma, se o reforço for negativo, o indivíduo tende a não emitir mais essa resposta (SKINNER, 1972). Deste modo, os indivíduos se comportam para obter recompensas e evitar as punições. E essa ação vai ‘moldando’ o comportamento humano, de modo que as pessoas treinam as suas ações mediantes os estímulos recebidos. Os fatos ocorridos depois da manifestação do comportamento são denominados de reforços. Estes últimos, por sua vez, têm o papel de aumentar ou diminuir a possibilidade de que o comportamento se manifeste novamente. A seguir uma tabela com esses principais conceitos da teoria behaviorista, apresentados até agora: Skinner considerava que o seu trabalho busca uma análise das relações entre estímulo e resposta. A partir dessa premissa, o comportamento é eliciado pelo estímulo e o controle deste comportamento é exercido por suas consequências (o que é chamado de resposta). 28WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA D O DE SE NV OL VI M EN TO | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA BEHAVIORISMO • Comportamento: é defi nido como resposta ao organismo (humano ou animal) a qualquer estí- mulo externo (presente no meio); • Resposta: é defi nida como toda modifi cação que ocorre no organismo em decorrência de um es- tímulo; • Estímulo: é defi nido como toda modifi cação do meio que pode ser captada pelo organismo. Quadro 8 – Alguns dos principais conceitos da teoria Behaviorista. Fonte: o autor (2017). Diante do exposto, é possível averiguarmos que a teoria behaviorista busca prever a resposta quando se conhece o estímulo; e identi� caro estímulo quando se tem conhecimento da resposta. Por meio dessa relação é possível analisar o comportamento, incluindo o processo de aprendizagem. Saber quais os estímulos existem dentro da área educacional pode contribuir para melhorar o processo de aprendizagem. Da mesma forma, conseguir entender as respostas dadas pelos alunos podem contribuir no momento de (re)organizar as aulas, de modo a atingir o principal objetivo educacional: levar conhecimento aos alunos. INDICAÇÃO DE FILME: Laranja Mecânica Direção: Stanley Kubrick Local e ano: EUA, Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte, 1971 Principais temas a serem debatidos: Behaviorismo (Teoria Comportamental) Sinopse: Alex DeLarge é um jovem que tem gostos muito peculiares, adora música clássica e violência, liderando uma gangue com seus amigos (druguis) ele comete atrocidades, como o estupro de uma mulher na frente de seu marido e espancamento dos dois, porém tudo muda quando seus amigos se revoltam e o deixam temporariamente cego em uma cena de um crime, assim Alex é preso e condenado, parando na cadeia, até o surgimento de um tratamento muito alternativo. Por fi m, o tratamento Ludovico, aplicado em Alex como uma possível cura para seu comportamento, é um dos momentos emblemáticos do fi lme, sendo desde o livro uma clara referência a métodos de manipulação (MÚSICA & CINEMA, 2013). 29WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA D O DE SE NV OL VI M EN TO | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Skinner (1972) ainda apresenta dois tipos de aprendizagem possíveis: aprendizagem por condicionamento clássico (ou respondente) e aprendizagem por condicionamento operante. A aprendizagem por condicionamento respondente (ACR) é o que podemos denominar de ‘não-voluntário’ e inclui as respostas que são produzidas por estímulos antecedentes do ambiente, como, por exemplo, o arrepio da pele ao estrarmos em contato com o ar frio, ou a diminuição da pupila dos olhos em contato com a luz forte. Figura 6 - O arrepio da pele é considerado um condicionamento respondente. Fonte: Google Images (2017). A aprendizagem por condicionamento operante (ACO) se concentra no uso de reforço ou punição para aumentar ou diminuir um determinado comportamento como, por exemplo, um aluno recebe um elogio ao realizar determinada atividade escolar corretamente e, se esse elogio, comprovadamente, for capaz de fazer com que o aluno realize as atividades futuras de forma correta, podemos chamar de reforço. A ACR, então, não é uma resposta aprendida, mas uma manifestação automática do organismo. Outro exemplo: ao ouvirmos um barulho repentino muito alto, é automático que fechemos os olhos (ao nos assustarmos). A ACO ocorre apoiando-se em comportamentos emitidos pelo próprio organismo (pessoa, por exemplo) que são seguidos por algum tipo de consequência. Essa consequência pode ser agradável – provocando uma tendência à repetição do comportamento – ou desagradável – provocando a extinção do comportamento. Outro exemplo: quando um responsável está alimentando uma criança e essa última come toda a comida, conforme tal responsável espera, essa criança pode ganhar um doce que ela goste; isso fará que o comportamento de comer toda a refeição seja repetido várias vezes. Se o fato de a criança ganhar o doce � zer com que o comportamento se repita nas próximas refeições, a isso chamamos de reforço. Outro conceito importante nos estudos de Skinner (1972) é o processo de modelagem. Esse processo consiste em apresentar um comportamento complexo por meio de aproximações sucessivas, ou seja, reforça-se o comportamento próximo daquele que se deseja atingir (chamado de comportamento inicial) e segue-se reforçando os comportamentos que mais se aproximam do comportamento desejado (chamado de comportamento � nal), até que o sujeito atinja esse último. 30WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA D O DE SE NV OL VI M EN TO | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Skinner ainda discutiu os conceitos de reforço positivo e reforço negativo. No senso comum, é bastante corriqueiro o fato de as pessoas associarem o reforço positivo a algo bom e o reforço negativo a algo ruim. Essa associação está equivocada, pois só se pode chamar de reforço se este possibilita que o comportamento seja repetido outras vezes em uma mesma situação ou situações parecidas. Para entendermos melhor o reforço positivo e o reforço negativo, é mais adequado pensarmos na área da matemática, em que o reforço positivo é visto como “adição”, ou seja, é o fato de adicionar um estímulo; enquanto isso o reforço negativo é visto como “subtração”, ou seja, é o fato de subtrair ou remover um estímulo. O Quadro 9 pode contribuir para � xarmos os termos apresentados: REFORÇO DEFINIÇÃO SIMPLIFICADA Positivo É todo evento que aumenta a probabilidade de futura da resposta que o produz; Negativo É todo evento que aumenta a probabilidade de futura da resposta que o remove ou atenua. Quadro 9 – Conceitos de reforço positivo e reforço negativo. Fonte: o autor (2017). Desta forma, não se pode, de imediato, de� nir um evento como reforçador. A função reforçadora de qualquer evento só é de� nida a partir de sua função sobre o comportamento do indivíduo. Ainda vale ressaltar outro conceito elaborado por Skinner: a esquiva. Essa ação é um processo no qual os estímulos aversivos condicionados e incondicionados estão separados por um intervalo de tempo apreciável, permitindo que o indivíduo execute um comportamento que previna a ocorrência ou reduza a magnitude do segundo estímulo (BOCK, FURTADO, TEIXEIRA, 2002). Um exemplo simples de esquiva é quando vemos um rojão sendo estourado. Ao perceber que alguém acendeu um rojão, sabemos que posteriormente fará um enorme barulho. Se você não gosta (ou não está habituado a esse barulho), evidentemente, você tapará os ouvidos, de maneira a diminuir os ruídos desse artefato. O ato de tapar os ouvidos é considerado como esquiva na teoria Behaviorista. O conceito de fuga também foi bastante discutido na teoria Behaviorista: é quando um comportamento reforçado é aquele que termina com um estímulo aversivo já em andamento (BOCK, FURTADO, TEIXEIRA, 2002). Um exemplo de fuga é quando você conheceu uma determinada balada e não lhe agradou o estilo de música. Se você se encontrar em um ambiente que o estilo de música não lhe agrada, evidentemente você sairá daquele local, essa ‘saída’ é entendida como fuga. A aplicação do behaviorismo na Educação é bastante perceptível. Vale enfatizar que a abordagem comportamentalista tem como tema central a aprendizagem, haja vista o mais importante na determinação do comportamento do indivíduo são as suas experiências (ações desenvolvidas anteriormente), durante toda a sua vida. 31WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA D O DE SE NV OL VI M EN TO | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA O professor, por exemplo, pode compreender o que cada estímulo pode gerar de comportamento, assim tem o poder de organizar as suas aulas de acordo com a proposta de buscar acelerar o comportamento dos alunos. Sem a interferência do professor, o comportamento, evidentemente, seria adquirido vagarosamente, ou mesmo não seria adquirido. Ao estabelecer um plano de aula, o professor deve levar em consideração os aspectos do meio e suas in� uências na busca de organizar a aprendizagem. Para a abordagem behaviorista, o desenvolvimento e a aprendizagem são processos coincidentes, pois o primeiro é resultado do segundo, ou seja, estão interligados. O fato de conhecer o comportamento dos alunos contribui para o professor estruturar as suas aulas, sendo que a partir desse conhecimento o ensino se torna mais e� ciente, fazendo com que a aprendizagem de determinados conteúdos e habilidades sejam mais e� cientes também. Essa organização deve acontecer por pequenos passos e a valorização do planejamento é o primeiro deles. Cabe salientar que, por meio da teoria Behaviorista, Skinner construiu o que chamou de‘Máquinas de Skinner’, que funciona com a instrução programada. Esse aparelho consiste em uma caixa (que se parece com um gravador), possuindo uma abertura na parte superior por onde é possível visualizar um problema ou uma questão impressa. Após responder a esse problema ou questão, o aluno gira um botão. Se a resposta estiver correta, o botão gira, caso contrário, não. Desta forma, a ‘Máquina de Skinner’ faz com que haja progressão na atividade apenas se as respostas emitidas estiverem corretas. Caso as respostas oferecidas pelo aluno não esteja de acordo, o aparelho não progride com a atividade, fazendo com que a criança busque novamente solucionar o problema ou a questão posta. Vale destacar, então, que os fatores externos ou ambientais são de bastante importância para a abordagem behaviorista, pois podem contribuir na de� nição do comportamento esperado do indivíduo. Logo, é preciso conhecer tais fatores (externos e internos) a � m de poder analisar de melhor maneira o comportamento humano. Algumas das principais características da teoria Behaviorista proposta por Skinner, de acordo com Francisco Filho (2001), são: • As instituições educacionais se utilizam do reforço para a resolução de exercícios; • Para � xar um comportamento em um ser aprendente, é preciso apresentar um estímulo correto e, para refutar, basta desestimular; • Há ênfase na estimulação dos sentidos; • O reforço é uma constante e os comportamentos são condicionados alo longo da vida dos indivíduos; • As famílias podem ser consideradas como os reforçadores primários, seguidas de outras instituições (incluindo as escolares); • Os educadores buscam trabalhar para a aquisição do comportamento e a sua manutenção; Ao compreender a teoria behaviorista, responsáveis e educadores podem modifi car o ambiente e os estímulos a fi m de buscar a realização de um comportamento desejável em determinadas atividades. 32WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA D O DE SE NV OL VI M EN TO | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA • Certos estímulos produzem determinadas respostas em um indivíduo, basta aplicá-los de forma correta. Essas características são fundamentais para compreender a teoria proposta por Skinner, pois são os principais tópicos de discussão acerca da teoria Behaviorista. Apresentadas as principais características da teoria Behaviorista, a seguir vamos evidenciar alguns aspectos estudados por Freud, que tem uma vasta publicação acerca da personalidade humana. INDICAÇÃO DE LEITURA: Ciência e Comportamento Humano AUTOR: B. F. Skinner ANO DE PUBLICAÇÃO: 1970 O QUE PODE SER ENCONTRADO NO LIVRO: Na seção I, o livro apresenta a discussão sobre a possibilidade de a ciência contribuir na resolução de problemas que a sociedade enfrenta. Na seção II, o livro discute os principais conceitos sobre o comportamento humano. Na seção III, a obra discute aspectos do indivíduo como um todo, em sua totalidade. Na seção IV, a obra apresenta o comportamento das pessoas em grupo. Na seção V, o livro apresenta as agências controladoras do comportamento. Na seção VI, a obra discute, de maneira geral, sobre o controle (SKINNER, 1970). 3333WWW.UNINGA.BR UNIDADE 03 SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................................... 34 1. FREUD: ANALISANDO A PERSONALIDADE ....................................................................................................... 35 1.1 A SEXUALIDADE INFANTIL ................................................................................................................................ 39 1.2 ID, EGO E SUPEREGO ........................................................................................................................................ 44 O DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE PROF. DR. MÁRCIO DE OLIVEIRA ENSINO A DISTÂNCIA DISCIPLINA: PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 34WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA D O DE SE NV OL VI M EN TO | U NI DA DE 3 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA INTRODUÇÃO Até aqui, estudamos algumas correntes teóricas relacionadas ao processo de desenvolvimento e aprendizagem do ser humano. As teorias anteriores defendem que tal desenvolvimento e aprendizagem decorrem de fatores orgânicos, sociais, comportamentais, entre outros. Agora, na Unidade 03, vamos discutir acerca dos estudos de Freud. O autor entende que a aprendizagem está enlaçada a um determinante psíquico, que leva o indivíduo a tornar- se desejante do saber. De antemão, ressaltamos que a Psicanálise tem como � nalidade fazer com que os indivíduos se autoconheçam, possibilitando que lidem com suas inseguranças, seus sofrimentos e se dirijam para uma produção mais autônoma. Nesta unidade, vamos estabelecer um diálogo acerca de alguns conceitos estudados por Freud e que contribuem para o entendimento da personalidade e do comportamento das pessoas. São alguns desses conceitos: consciente, pré-consciente, inconsciente, id, ego e superego. Além disso, após estudarmos tais estruturas na mente humana, vamos debater acerca dos aspectos da sexualidade humana, compreendendo as fases elaboradas pelo autor: faze oral, fase anal, fase fálica, fase genital e fase de latência. A partir do exposto, apresentaremos algumas das principais ideias de Freud – o ‘pai da psicanálise’, enfatizando seus aspectos e suas contribuições, sobretudo para o desenvolvimento da personalidade humana. Vale destacar que Freud entende que é fundamental questionar por aquilo que faz com que uma pessoa queira aprender algo, pois o processo de aprender depende da razão ou das causas que motivam esse indivíduo na busca do conhecimento. 35WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA D O DE SE NV OL VI M EN TO | U NI DA DE 3 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 1. FREUD: ANALISANDO A PERSONALIDADE Antes de estudarmos as principais ideias do ‘pai da psicanálise’, vamos, neste momento, apresentar, resumidamente, a biogra� a desse importante estudioso para a área da psicologia. Pelo fato de Freud, em 1877, mudar seu nome de Sigismund Schlomo Freud para apenas Sigmund Freud, vamos acatar essa mudança e utilizarmos apenas a segunda ‘versão’ do nome. Freud nasceu em Freiberg, na Morávia, no dia 6 de maio de 1856. Filho de Jacob Freud, pequeno comerciante, e de Amalie Nathanson, de origem judaica, foi o primogênito de sete irmãos. Aos quatro anos de idade, sua família muda-se para Viena, onde os judeus tinham melhor aceitação social e melhores perspectivas econômicas (FRAZÃO, 2016b). Desde pequeno, mostrou-se brilhante aluno. Aos 17 anos, ingressou na Universidade de Viena, no curso de Medicina. Durante os anos de faculdade, deixou-se fascinar pelas pesquisas realizadas no laboratório � siológico dirigido pelo Dr. E. W. von Brucke. De 1876 a 1882, trabalhou com esse especialista e depois no Instituto de Anatomia sob a orientação de H. Maynert. Concluiu o curso em 1881 e resolveu tornar-se um clínico especializado em neurologia. Durante vários anos trabalhou em uma clínica neurológica para crianças, onde se destacou por ter descoberto um tipo de paralisia cerebral que mais tarde passou a ser conhecida pelo seu nome. Em 1884, entrou em contato com o médico Josef Breuer que havia curado sintomas graves de histeria por meio do sono hipnótico, onde o paciente conseguia se recordar das circunstâncias que deram origem à sua moléstia. Chamado de “método catártico”, constituiu o ponto de partida da psicanálise (FRAZÃO, 2016b). Figura 1 - Sigmund Freud. Fonte: Google Images (2017). Em 1885, Freud foi nomeado professor assistente de neurologia na Universidade de Viena. Nesse mesmo ano, foi para Paris a � m de fazer um curso com o neurologista francês J. M. Charcot, mas decepcionou-se por não receber o apoio esperado. De volta a Viena, continuou suas experiências com Breuer. Publicou “Estudos sobre a Histeria” (1895). Durante dez anos, Freud trabalhou sozinho no desenvolvimentoda psicanálise. Em 1906, a ele juntou-se Adler, Jung, Jones e Stekel, e, em 1908, se reuniram no primeiro Congresso Internacional de Psicanálise. Dois anos mais tarde, o grupo fundou a Associação Internacional Psicanalítica, com sucursais em vários países. Em 1923, doente, passou pela primeira cirurgia para retirar um tumor no palato. 36WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA D O DE SE NV OL VI M EN TO | U NI DA DE 3 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Passou a ter di� culdades para falar, sentia dores e desconforto. Seus últimos anos de vida coincidiram com a expansão do nazismo na Europa. Em 1938, quando os nazistas tomaram Viena, Freud, de origem judia, teve seus bens con� scados e sua biblioteca queimada. Foi obrigado a se refugiar em Londres, após um pagamento de resgate, onde passou os últimos dias de sua vida. Freud morreu em Londres, Inglaterra, no dia 23 de setembro de 1939 (FRAZÃO, 2016b). O ‘pai da psicanálise’ foi in� uenciado pelas ideias de Schopenhauer, que contribuiu para que Freud estudasse e desenvolvesse conceitos acerca do inconsciente (HALL; CAMPBELL; LINDZEY, 2000). As ideias de Freud têm uma aproximação e levam muito em conta as questões relacionadas com a sexualidade (o sexo mais especí� co). O psicanalista defende que um dos importantes momentos de aprendizagem de uma criança é quando ela inicia a descoberta da diferença sexual anatômica, percebendo as diferenças sexuais (de corpo) entre as pessoas (machos e fêmeas). É comum as crianças questionarem de onde vieram, como nascem os bebês e outras indagações parecidas. Além disso, meninos e meninas percebem as diferenças biológicas entre seus corpos e chegam a pensar que está faltando algo (pênis) no corpo das fêmeas. Esse fato gera uma angústia (chamada de angústia da castração por Freud). Nesse sentido, o estudioso defende que a criança precisa descobrir o seu lugar no mundo, e este último é potencialmente sexual. Freud criou o que chamamos de psicanálise, que, enquanto teoria, caracteriza-se por um conjunto de conhecimentos sistematizados acerca do funcionamento da vida psíquica. INDICAÇÃO DE FILME: Freud, além da alma Direção: John Huston Local e ano: EUA, 1963 Principais temas a serem debatidos: Psicanálise, a vida do psicanalista Freud. Sinopse: O fi lme narra o período de vida do “pai da psicanálise”, desde que ele se graduou no curso de Medicina na Universidade de Viena até a formulação da teoria da sexualidade infantil. No prólogo, o narrador menciona que, junto com Copérnico e Darwin, Freud revolucionou a maneira do ser humano ver a si mesmo. O fi lme mostra Freud, por volta do ano de 1895, em seu processo de descobertas das patologias psíquicas e seu interesse pelos casos de histeria. Durante todo o tempo que estudou seus pacientes, procurando penetrar nos seus inconscientes, viveu, concomitantemente, um enorme confl ito interior tentando desvendar suas próprias neuroses. 37WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA D O DE SE NV OL VI M EN TO | U NI DA DE 3 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Com o passar do tempo, a criança desloca esse interesse sexual para os não-sexuais, passando a prestar mais atenção em outros aspectos que não são, necessariamente, relacionados ao sexo. Esse deslocamento é realizado, de acordo com Freud, por meio de uma característica da constituição psíquica. No entanto, vale lembrar que curiosidades acerca do sexo podem fazer parte da vida de qualquer pessoa em qualquer fase da vida. Assim, Freud defende que a mola propulsora do desenvolvimento intelectual é, sem dúvida, sexual. O inconsciente signi� ca o conjunto dos conteúdos ‘guardados’, ou seja, não presentes no campo atual da consciência. Esse sistema é constituído por conteúdos reprimidos por meio de censuras internas. Esses conteúdos podem ter sido conscientes em algum momento da vida do indivíduo e, por qualquer motivo, saíram de lá (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2002). O material dessa área não é esquecido ou perdido, mas não é permitido ser lembrado. Desta forma, o inconsciente se refere a todo o conteúdo mental que não se encontra disponível ao indivíduo em determinado momento em que ele queira, por exemplo. Ele representa não só a maior fatia de nossa mente, mas também, de acordo com Freud, a mais importante. Quase todas as memórias que acreditamos estarem esquecidas para sempre, todos os nomes que não lembramos, os sentimentos e medos que buscamos, de alguma forma, ignorar, todos esses elementos se encontram em nosso inconsciente. Desde a mais tenra infância, os primeiros amigos, as primeiras compreensões: tudo está guardado. Enquanto isso, o pré-consciente refere-se à área em que estão os conteúdos acessíveis pelo consciente. É algo que não está no consciente, porém, algum tempo depois poderá estar (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2002). O pré-consciente é muitas vezes chamado de “subconsciente”, no entanto é importante enfatizar que Freud não utilizava esse termo. O pré-consciente se refere àqueles conteúdos que podem facilmente chegar ao consciente, mas que lá não permanecem. Assim, no pré- consciente estão os conteúdos que são, principalmente, informações sobre as quais não pensamos constantemente, mas que são necessárias para que o consciente realize suas funções. Alguns exemplos são: o nosso sobrenome, o nome dos amigos, números de telefones, alguns acontecimentos marcantes recentes, entre outros. É fundamental ressaltar que, apesar de se chamar Pré-consciente, esse nível mental pertence ao inconsciente. Podemos pensar no pré-consciente como uma peneira que � ca entre o inconsciente e o consciente, � ltrando as informações que passarão de um nível ao outro. O consciente é a área que recebe, ao mesmo tempo, conteúdo do mundo interior e do mundo exterior do sujeito. Aqui, destaca-se a presença da percepção, atenção e raciocínio (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2002). Esse é denominado como a menor parte da mente humana. Desta forma, o consciente é tudo aquilo que estamos conscientes no momento, no agora. Essa menor parte da mente humana é onde está tudo aquilo que podemos perceber e acessar de forma intencional. Outro aspecto importante é que o consciente funciona de acordo com as regras sociais, culturais, respeitando o tempo e o espaço em que o indivíduo está inserido. Isso signi� ca que é por meio dele que se dá a nossa relação com o mundo externo. Outra contribuição fundamental de Freud para a área da psicologia foi a teoria da estrutura do aparelho psíquico. Nessa teoria, ele descreveu três instâncias psíquicas: inconsciente, pré-consciente e consciente. 38WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA D O DE SE NV OL VI M EN TO | U NI DA DE 3 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA O consciente é, portanto, a capacidade de um indivíduo de perceber e controlar o seu conteúdo mental. Apenas aquela parte de nosso conteúdo mental presente no nível consciente é que pode ser percebida e controlada por nós. Abaixo um quadro resumindo as três partes da mente humana que foram destacadas anteriormente: NOME DEFINIÇÃO CONSCIENTE Diz respeito à capacidade de percep- ção. PRÉ-CONSCIENTE Relaciona-se aos conteúdos que po- dem facilmente chegar à consciência. INCONSCIENTE Refere-se ao material não disponível à consciência. Quadro 10 – Consciente, pré-consciente e inconsciente. Fonte: Elaborado pelo autor (2017). É importante ressaltar que, antigamente, acreditava-se que os seres humanos pudessem controlar seus impulsos por meio da vontade, negando o inconsciente, pois o indivíduo é um ser racional. Freud rompeu com esse modelo simplista de pensamento ao estabelecer que a mente humana é mais complexa do que se imaginava. Freud buscou desvendar os mistérios do inconsciente, ele acreditava que a ligação entre todos os acontecimentos mentais ocorria por meio dessa área cognitiva. Figura 2 – Representação da mente humana em forma de iceberg. Fonte: Ciência dos Hábitos (2016). 39WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA D O DE SE NV OL VI M EN TO | U NI DA DE 3 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Compartilhar