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OBJETIVO 1: ESTUDAR A FISIOLOGIA DO CICLO DE SONO-VIGÍLIA E SUA RELAÇÃO COM O MECANISMO NEURAL Vigília e sono: Os seres humanos dormem e despertam em um ciclo de 2 h chamado de ciclo circadiano que é estabelecido pelo núcleo supraquiasmático do hipotálamo. Uma pessoa acordada está em um estado de prontidão e é capaz de reagir conscientemente a vários estímulos. Registros eletroencefalográficos mostram o córtex cerebral muito ativo durante a vigília e poucos impulsos durante a maior parte dos estágios de sono. O papel do sistema de ativação reticular na vigília: Como o nosso sistema nervoso faz a transição entre esses dois estágios? Como o estímulo de algumas de suas partes aumenta a atividade do córtex cerebral, uma parte da formação reticular é conhecida como o sistema de ativação reticular (SAR). Quando essa área está ativa, muitos impulsos nervosos são transmitidos para áreas amplas do córtex cerebral, tanto diretamente quanto através do tálamo. O efeito é o aumento generalizado na atividade cortical. O despertar também envolve o aumento da atividade do SAR. Para que o despertar ocorra, o SAR deve ser estimulado. Muitos estímulos sensitivos podem ativar o SAR: estímulos dolorosos detectados pelos nociceptores, tato e pressão sobre a pele, movimento dos membros, luz intensa ou o barulho de um despertador. Uma vez que o SAR tenha sido ativado, o córtex cerebral também é ativado e ocorre o despertar. O resultado é um estado de vigília conhecido como consciência. Embora o SAR receba informações provenientes dos receptores sensitivos somáticos, dos olhos e das orelhas, não há inervação pelos receptores olfatórios; e mesmo odores fortes podem não conseguir causar o despertar. As pessoas que morrem em casas que estão sendo incendiadas normalmente sucumbem à inalação de fumaça sem acordar. Por isso a necessidade de detector de fumaça para emitir um alarme alto. Para pessoas com pode se usar déficits auditivos travesseiro que vibra ou uma luz que acende. Sono: O sono é um estado de consciência alterada ou de inconsciência parcial a partir do qual uma pessoa pode ser despertada. Embora ele seja essencial, as funções exatas do sono ainda não estão claras. A privação de sono prejudica a atenção, o aprendizado e o desempenho. O sono normal consiste em dois componentes: o sono sem movimento ocular rápido (NREM nonrapid eye movement) e o sono com movimento ocular rápido (REM rapid eye movement). O sono NREM consiste em quatro estágios que se mesclam gradualmente: ● Estágio 1: transição entre a vigília e o sono e normalmente dura entre 1 e 7 minutos. O indivíduo está relaxado, com os olhos fechados e apresenta pensamentos confusos. As pessoas que são despertadas durante esse estágio frequentemente dizem que elas não estavam dormindo. ● Estágio 2 (sono leve): primeiro estágio do sono verdadeiro. Nele, o indivíduo é um pouco mais difícil de ser despertado. Presença de fragmentos de sonhos e olhos podem girar lentamente de um lado para o outro. ● Estágio 3: período de sono moderadamente profundo. A temperatura corporal e a pressão arterial diminuem e é difícil despertar o indivíduo. Esse estágio ocorre cerca de 20 min após o início do sono. ● Estágio 4: nível de sono mais profundo. Embora o metabolismo cerebral diminua significativamente e a temperatura corporal diminua um pouco nesse estágio, a maior parte dos reflexos estão intactos e o tônus muscular diminui apenas um pouco. Quando ocorre sonambulismo, geralmente é nesse estágio. Tipicamente, o indivíduo vai do estágio 1 para o estágio 4 do sono NREM em menos de uma hora. Durante um período de sono típico de sete a oito horas ocorrem entre três e cinco episódios de sono REM, durante o qual os olhos se movem rapidamente por trás das pálpebras fechadas. O indivíduo pode ir rapidamente para os estágios 3 e 2 antes de entrar no sono REM. O primeiro episódio de sono REM dura entre 10 e 20 min. Em seguida, ocorre um outro intervalo de sono NREM. O sono REM e o sono NREM se alternam ao longo da noite. Os períodos REM, que ocorrem aproximadamente a cada 90 min, gradualmente se tornam mais longos até que o período final dure cerca de 50 min. Nos adultos, o tempo total de sono REM é de cerca de 90 a 120 min durante um período normal de sono. Conforme o indivíduo envelhece, o tempo total médio gasto dormindo diminui, bem como o percentual de sono REM. Até 50% do sono de um lactente é sono REM, contra 35% para crianças com 2 anos de idade e 25% para adultos. Embora não se compreenda as funções do sono REM, acredita-se que o alto percentual desse tipo de sono em lactentes e crianças seja importante para a maturação cerebral. A atividade neuronal é alta durante o sono REM – o fluxo de sangue cerebral e o uso de oxigênio são maiores durante o sono REM do que durante a atividade física ou mental intensa em estado de vigília. Partes diferentes do encéfalo coordenam os sonos NREM e REM. Os neurônios na parte pré-óptica do hipotálamo, no prosencéfalo basal e no bulbo governam o sono NREM; neurônios na ponte e no mesencéfalo ligam e desligam o sono REM. Várias linhas de evidência sugerem a existência de substâncias químicas indutoras do sono no encéfalo. Uma substância aparentemente indutora de sono é a adenosina, que se acumula durante períodos de alto uso de ATP pelo sistema nervoso. A adenosina se liga a receptores específicos, chamados de receptores A1, e pode inibir determinados neurônios colinérgicos do SAR que participam do despertar. Desse modo, a atividade do SAR durante o sono é baixa por causa do efeito inibitório da adenosina. Adenosina é liberada por alguns neurônios e atua como um neuromodulador nas sinapses em todo o encéfalo. Desde os tempos antigos, antagonistas dos receptores de adenosina, cafeína (no café) e teofilina (no chá) têm sido usados para manter as pessoas acordadas, eles atuam se ligam e bloqueiam os receptores A1, evitando que a adenosina se ligue e induza o sono. Por outro lado, a administração de adenosina ou de seus agonistas aumenta o sono. Em várias áreas encefálicas que têm sido examinadas, níveis extracelulares de adenosina estão mais altos durante a vigília do que durante o sono, e os níveis aumentam progressivamente durante os períodos de vigília prolongada. Os níveis de adenosina gradualmente diminuem durante o sono. A atividade neural no encéfalo acordado aumenta os níveis de adenosina, aumentando assim a inibição dos neurônios nos sistemas modulatórios associados à vigília. O aumento da supressão dos sistemas que modulam a vigília aumenta a probabilidade de o encéfalo entrar em atividade sincrônica de ondas lentas, características do sono. Após o sono se iniciar, os níveis de adenosina lentamente caem, e a atividade nos sistemas modulatórios gradualmente aumenta, até acordarmos e reiniciarmos um novo ciclo. Outra substância endógena promotora do sono é a melatonina, um hormônio secretado pelo glândula pineal, tem o tamanho de uma ervilha e localizada no epitálamo. A melatonina é produzida a partir do aminoácido triptofano e tem sido chamada de “Drácula dos hormônios”, pois é liberada apenas quando o ambiente se torna escuro – normalmente à noite –, e sua liberação é inibida pela luz. Em humanos, os níveis de melatonina tendem a aumentar ao redor do momento em que nos tornamos sonolentos, no início da noite, apresentando um pico no amanhecer, e caindo para os níveis basais quando acordamos. Evidências sugerem que a melatonina ajude a iniciar e manter o sono, mas seu papel preciso nos ciclos naturais de sono-vigília não está bem esclarecido. Nos últimos anos, a melatonina tornou-se popular como uma droga indutora do sono. Embora tenha sido algo promissora, o efeito geral da melatonina como indutora do sono permanece em debate. Muitas substâncias promotoras do sono, têm sido identificadas em animais privados de sono, e a maioria interagecom o sistema imunitário corporal. Na década de 1970, John Pappenheimer, identificou um dipeptídeo muramil no líquor de cabras privadas de sono que facilitava a manifestação do sono não-REM. Peptídeos muramil são usualmente produzidos somente pelas paredes celulares de bactérias, e não por células encefálicas, e as bactérias também podem causar febre e estimular as células imunitárias do sangue. Não está muito claro como esses peptídeos surgem no líquor, mas podem ter sido sintetizados pelas bactérias nos intestinos. Outro fator indutor do sono, a interleucina-1, é sintetizada no encéfalo, pela glia e nos macrófragos. A IL -1 também é um peptídeo que estimula o sistema imunitário Várias mudanças fisiológicas ocorrem durante o sono. A maior parte dos sonhos ocorre durante o sono REM e as gravações eletroencefalográficas são semelhantes àquelas de quando o indivíduo está acordado. Exceto pelos neurônios motores que governam a respiração e os movimentos oculares, a maior parte dos neurônios motores somáticos está inibida durante o sono REM, diminuindo o tônus muscular e até mesmo paralisando os músculos esqueléticos. Muitas pessoas referem sensação momentânea de paralisia se elas são acordadas durante o sono REM. Durante o sono, a atividade da parte parassimpática aumenta enquanto a atividade simpática diminui. A frequência cardíaca e a pressão sanguínea diminuem durante o sono NREM e diminuem ainda mais durante o sono REM. O aumento da atividade parassimpática durante o sono REM causa algumas vezes a ereção do pênis, mesmo que o conteúdo do sonho não seja sexual. A ocorrência de ereções penianas durante o sono REM em um homem com disfunção erétil (incapacidade de obter uma ereção durante a vigília) indica que o problema possui uma causa psicológica e não física. Mecanismos Neurais do Sono: Até a década de 1940, era consenso geral que o sono era um processo passivo: prive o encéfalo de aferências sensoriais, e ele cairá no sono. No entanto, quando as aferências sensoriais para o encéfalo de um animal são bloqueadas, o animal continua a ter ciclos de vigília e de sono. Sabe-se que o sono é um processo ativo, que requer a participação de uma variedade de regiões encefálicas. Amplas áreas do córtex são na verdade controladas por coleções muito pequenas de neurônios situadas nas profundezas no encéfalo. Essas células atuam como sintonizadores do prosencéfalo, alterando a excitabilidade cortical e controlando a passagem do fluxo de informação sensorial para ele. Os detalhes desses sistemas de controle são complexos e não totalmente compreendidos. Pode-se, porém, resumir alguns princípios básicos. 1. Os neurônios mais essenciais para o controle do sono e da vigília fazem parte dos sistemas de neurotransmissores modulatórios difusos. 2. Os neurônios modulatórios do tronco encefálico que utilizam noradrenalina (NA) e serotonina (5-HT) disparam durante a vigília e acentuam o estado de alerta; alguns neurônios utilizando acetilcolina (ACo) acentuam episódios críticos de REM, e outros neurônios colinérgicos estão ativos durante a vigília. 3. Os sistemas modulatórios difusos controlam os comportamentos rítmicos do tálamo, que, por sua vez, controlam muitos ritmos do EEG do córtex cerebral; ritmos lentos do tálamo, relacionados com o sono, aparentemente bloqueiam o fluxo da informação sensorial até o córtex. 4. O sono também envolve atividade em ramos descendentes dos sistemas modulatórios difusos, como a inibição dos neurônios motores durante os sonhos. Existem três tipos básicos de evidências para a localização dos mecanismos de sono no encéfalo. Dados obtidos a partir de lesões revelam alterações na função após uma parte do encéfalo ser removida; resultados de experimentos com estimulação identificam mudanças que se seguem à ativação de uma região encefálica, e registros de atividade neural determinam a relação entre atividade e os diferentes estados do encéfalo. A Vigília e o Sistema Ativador Reticular Ascendente. Lesões do tronco encefálico de humanos podem causar sono e coma, sugerindo que o tronco encefálico possui neurônios cuja atividade é essencial para nos manter acordados. Giuseppe Moruzzi, descobriu-se que lesões nas estruturas da linha média do tronco encefálico causam um estado similar ao sono não-REM, mas lesões no tegmento lateral, as quais interrompem as aferências sensoriais ascendentes, não têm esse efeito. Por outro lado, a estimulação elétrica do tegmento na linha média do mesencéfalo, dentro da formação reticular, alterou os ritmos de EEG lentos de sono não-REM no córtex, passando para um estado mais alerta, com o EEG similar ao do estado de vigília. Moruzzi chamou essa região pouco definida de sistema ativador reticular ascendente (SARA). Essa área está agora muito mais bem definida anatômica e fisiologicamente, e está claro que a estimulação de Moruzzi estava afetando muitos conjuntos de diferentes sistemas modulatórios ascendentes. Vários conjuntos de neurônios aumentam suas taxas de disparo em antecipação ao momento de acordar e durante as várias formas de alerta. Eles incluem células do locus ceruleus, as quais contêm noradrenalina, células contendo serotonina dos núcleos da rafe, células contendo acetilcolina do tronco encefálico e do prosencéfalo basal, e neurônios do mesencéfalo que liberam histamina. Coletivamente, esses neurônios estabelecem sinapses diretamente em todo o tálamo, córtex cerebral e em outras regiões do encéfalo. Os efeitos gerais são a despolarização de neurônios, um aumento de sua excitabilidade e a supressão das formas rítmicas de disparo. Esses efeitos são observados mais claramente em neurônios de retransmissão do tálamo. O Ato de Adormecer e o Estado Não-REM. Adormecer envolve uma progressão de mudanças ao longo de vários minutos, culminando no estado não-REM. Não está claro o que inicia o sono não-REM, mas há uma diminuição geral nas taxas de disparo da maioria dos neurônios modulatórios do tronco encefálico (aqueles que usam noradrenalina, serotonina e acetilcolina). Embora a maioria das regiões do prosencéfalo basal pareça promover o alerta e a vigília, um subconjunto de seus neurônios colinérgicos aumenta sua frequência de disparos com o início do sono não-REM, ficando silencioso durante a vigília. OBJETIVO 2: DIFERENCIAR RITMOS CIRCADIANOS DE RITMOS ULTRADIANOS Conceitos sobre ritmos biológicos: Seres vivos, desde os unicelulares até os multicelulares, como humanos, são constantemente influenciados por estímulos externos e exibem padrões cíclicos, os ritmos biológicos. Os ritmos biológicos podem ser categorizados em circadianos, ultradianos e infradianos. O ritmo circadiano é definido pela ocorrência num período de 24h, de acordo com o tempo de rotação da Terra em torno do seu próprio eixo, por exemplo, a concentração de cortisol sérico apresenta pico nas primeiras horas da manhã e cai ao longo do dia. O ritmo ultradiano inclui variações ocorridas em curtos períodos de tempo, por exemplo a frequência cardíaca. O ritmo infradiano caracteriza as variações que correm num período superior a 28h, por exemplo num período mensal como as hormônios sexuais femininas, FSH e LH. Ainda existem outras oscilações biológicas correspondentes aos ciclos ambientais, além dos ritmos solares existem os das marés (circamarés), os da lua (circalunares) e os das estações do ano, circanuais ou sazonais. Um dos mecanismos que permite a sincronização do ambiente com o metabolismo corporal é os relógios biológicos, um mecanismo intracelular organizado que prepara os organismos de acordo com eventos/estímulos ambientais no intuito de manter a homeostasia corporal. Apesar disso, vale ressaltar, que nem sempre os relógios biológicos estão em sincronia com os ciclos ambientais. OBJETIVO 3: CONCEITUAR SISTEMA LÍMBICO E A RELAÇÃO DA AMIGDALA COM EMOÇÕES E CIRCUITO E PAPEZ Anatomiada Amígdala: Situa-se no polo do lobo temporal, logo abaixo do córtex, do lado medial. Seu nome vem do grego para “amêndoa”, devido a sua forma. A amígdala é um complexo de núcleos, comumente divididos em três grupos: os núcleos basolaterais, os núcleos corticomediais e o núcleo central. Recebe aferências de diversas origens, incluindo o neocórtex em todos os lobos do cérebro e os giros hipocampal e cingulado. Informação proveniente de todos os sistemas sensoriais alimenta a amígdala, especialmente os núcleos basolaterais. Cada sistema sensorial apresenta um padrão de projeção diferente para os núcleos da amígdala, e interconexões dentro da amígdala permitem a integração de informações provenientes de diferentes modalidades sensoriais. Amígdala e Medo: Pesquisas demonstram que lesões da amígdala amortecem as emoções. A amigdalectomia bilateral em animais pode reduzir profundamente o medo e a agressividade. Há relatos de que ratos submetidos a tal tratamento aproximam-se de um gato sedado e mordiscam suas orelhas e que um lince selvagem se torna tão dócil quanto um gato doméstico. Numerosos estudos em humanos têm examinado os efeitos de lesões que incluem a amígdala sobre a capacidade de reconhecer expressões faciais de emoção. Muito embora seja consenso que tais lesões prejudiquem o reconhecimento da expressão emocional, os pesquisadores discordam sobre que emoções são afetadas. Em diferentes estudos, déficits associados a medo, raiva, tristeza e desgosto têm sido relatados. A variedade de déficits reflete diferenças nas lesões: duas lesões raramente são iguais e tipicamente incluem lesões a outras estruturas além da amígdala. Ainda assim, o sintoma mais comumente relatado de lesão que inclui a amígdala é uma incapacidade de reconhecer o medo em expressões faciais. Poucos casos de lesões seletivas da amígdala foram documentados em humanos. No entanto, Ralph Adolphs estudaram uma mulher de 30 anos que apresentava destruição bilateral da amígdala devido à doença de Urbach-Wiethe, um raro distúrbio caracterizado por espessamento da pele, das membranas mucosas e de certos órgãos internos. Ela apresentava inteligência normal e era perfeitamente capaz de identificar pessoas a partir de fotografias. Entretanto, ela tinha dificuldade em reconhecer certas emoções expressas pelas pessoas nas fotografias. Quando lhe era pedido que categorizasse a emoção expressa no rosto de pessoas, ela normalmente descrevia alegria, tristeza e desgosto. Era menos provável que descrevesse uma expressão zangada, e a resposta mais anormal era a grande improbabilidade de ela descrever uma expressão de medo. Parece que a lesão da amígdala havia diminuído seletivamente sua capacidade de reconhecer o medo. Dependendo do local da estimulação elétrica da amígdala, a estimulação pode levar a um estado de vigilância ou atenção aumentada. A estimulação da porção lateral da amígdala em gatos pode produzir uma combinação de medo e agressividade violenta. Tem sido relatado que em humanos leva à ansiedade e ao medo. Com isso a amígdala figura sempre em destaque nas teorias atuais sobre transtornos de ansiedade. A atividade neural na amígdala é consistente com um papel no processamento das emoções, especialmente o medo. Em um experimento realizado por Breiter, os participantes eram posicionados em uma máquina de ressonância magnética funcional, e a atividade encefálica era monitorada enquanto lhes eram mostradas fotos de faces neutras, felizes ou amedrontadas. A atividade encefálica em resposta às faces amedrontadas mostrava maior atividade da amígdala do que em resposta às expressões neutras. A ativação da amígdala era específica para o medo, uma vez que não houve diferença na atividade em resposta a expressões felizes ou neutras Amígdala e Agressividade: Somos capazes de distinguir diferentes formas de agressividade em humanos, indo da legítima defesa até o assassinato. Da mesma forma, há diferentes tipos de agressividade nos animais. Um animal pode atuar agressivamente em relação a outro por muitas razões: matar por comida, defender a prole, conseguir um companheiro, assustar um adversário em potencial. Embora não tenha sido provado, há evidências de que diferentes tipos de agressão sejam regulados de forma diferente pelo sistema nervoso. A agressão é um comportamento multifacetado, que não é produto de apenas um sistema encefálico isolado. Um fator que influencia a agressividade é o nível de hormônios sexuais masculinos. Em animais, existe uma correlação entre níveis sazonais de androgênios e comportamento agressivo. Injeções de testosterona podem tornar um animal imaturo mais agressivo, e a castração pode reduzir a agressividade. Em humanos, a relação é menos clara, embora hajam sugestões acerca de uma relação entre os níveis de testosterona e o comportamento agressivo em criminosos violentos. De qualquer modo, fortes evidências indicam um componente neurobiológico para a agressividade. Uma distinção útil pode ser feita entre agressão predatória e agressão afetiva. A agressão predatória envolve o ataque contra um membro de uma espécie diferente, para obter alimento, por exemplo, um leão que caça uma zebra. Ataques desse tipo são tipicamente acompanhados de poucas vocalizações e são direcionados para a cabeça e o pescoço da presa. Não está associada a altos níveis de atividade do SN simpático. A agressividade afetiva parece almejar fins demonstrativos e envolve altos níveis de atividade do SN simpático. Um animal nesse estado tipicamente emitirá vocalizações ao mesmo tempo em que assume postura ameaçadora ou defensiva. Um gato chiando e arqueando seu dorso com a aproximação de um cão, por exemplo. As manifestações comportamentais e fisiológicas de ambos os tipos de agressividade devem ser mediadas pelo sistema motor somático e pelo SNV, mas as vias devem divergir em algum ponto para explicar as dramáticas diferenças nas respostas comportamentais. Diversas linhas de evidências indicam que a amígdala está envolvida no comportamento agressivo. Em um experimento realizado em 1954, lesões da amígdala causaram um efeito marcante nas interações sociais em uma colônia de oito macacos rhesus machos. Os animais possueiam uma hierarquia social. A primeira intervenção feita pelos investigadores foi lesionar bilateralmente a amígdala no encéfalo do macaco mais dominante. Ao retornar à colônia, esse animal caiu para o último degrau da hierarquia, e o macaco que antes era o subordinado imediatamente inferior tornou-se o dominante. O antigo dominante tornara-se mais tranquilo e menos difícil de ser desafiado. Após a realização de uma amigdalectomia no novo macaco dominante, ele também caiu para a posição mais baixa da hierarquia. Esse padrão sugeriu que a amígdala é importante para a agressividade normalmente envolvida na manutenção de uma posição na hierarquia social. A estimulação elétrica da amígdala pode produzir um estado de agitação ou de agressividade afetiva. Lobo Límbico de Broca: O neurologista francês Paul Broca observou que todos os mamíferos possuem, na superfície medial do cérebro, um grupo de áreas corticais que são bastante distintas do córtex circundante. Broca designou essa coleção de áreas corticais como sendo o lobo límbico (limbus 🡪 borda), porque elas formam um anel, ou borda, ao redor do tronco encefálico. De acordo com essa definição, o lobo límbico consiste no córtex ao redor do corpo caloso, principalmente do giro cingulado, e no córtex na superfície medial do lobo temporal, incluindo o hipocampo. Broca não escreveu sobre a importância dessas estruturas para a emoção, e por algum tempo pensou-se que estivessem envolvidas primariamente com o olfato. A palavra límbico e as estruturas no lobo límbico de Broca, entretanto, foram mais tarde fortemente associadas à emoção. Circuito de Papez: Por volta de 1930, evidências sugeriram quealgumas estruturas límbicas estivessem envolvidas na emoção. O neurologista americano James Papez propôs que houvesse, na parede medial do encéfalo, um “sistema da emoção”, que ligaria o córtex com o hipotálamo. Cada estrutura do circuito de Papez está conectada com outra por algum importante tracto axonal. Algumas vezes, lesões em certas áreas corticais promovem mudanças profundas na expressão emocional com poucas mudanças na percepção ou na inteligência. Além disso, tumores próximos ao córtex cingulado estão associados com certas perturbações emocionais, incluindo medo, irritabilidade e depressão. Papez propôs que a atividade evocada em outras áreas neocorticais por projeções do córtex cingulado adicionaria o “colorido emocional”. No circuito de Papez, o hipotálamo governa a expressão comportamental da emoção. O hipotálamo e o neocórtex estão arranjados de tal forma que um pode influenciar o outro, ligando assim a expressão e a experiência da emoção. No circuito, o córtex cingulado afeta o hipotálamo por meio do hipocampo e do fórnix (o grande feixe de axônios que deixa o hipocampo), enquanto que o hipotálamo afeta o córtex cingulado por meio do tálamo anterior, ou seja, a comunicação entre o córtex e o hipotálamo é bidirecional. Estudos anatômicos demonstraram que componentes do circuito de Papez estão interconectados, como Papez havia proposto, porém havia apenas evidências sugestivas de que cada uma dessas estruturas estivesse envolvida na emoção. Uma razão pela qual Papez imaginou que o hipocampo estivesse envolvido com a emoção é o fato de que ele é afetado pelo vírus da raiva. Uma indicação de infecção pelo vírus da raiva é a presença de corpos citoplasmáticos anormais nos neurônios, em especial no hipocampo. Uma vez que a raiva caracteriza-se por uma hiper-responsividade emocional, como medo ou agressividade exagerados, Papez propôs que o hipocampo deveria estar normalmente envolvido na experiência emocional. Embora poucas evidências estivessem relacionadas com o papel do tálamo anterior, relatos clínicos estabeleceram que lesões nessa área promoviam transtornos emocionais aparentes, tais como o riso ou o choro espontâneo. Existe uma correlação entre os elementos que compõem o circuito de Papez e o lobo límbico de Broca. Por suas semelhanças, o grupo de estruturas hipoteticamente responsável pela sensação e pela emoção é chamado de sistema límbico, embora a noção anatômica do lobo límbico de Broca nada tivesse a ver, originalmente, com a emoção. O termo sistema límbico foi popularizado pelo fisiologista norte-americano Paul MacLean, que afirmou que a evolução de um sistema límbico permitiu aos animais experimentar e exprimir emoções e os emancipou do comportamento estereotipado ditado pelo tronco encefálico. Dificuldades com o Conceito de um Sistema Único para as Emoções: Defini-se um grupo de estruturas anatômicas interconectadas que circundam o tronco encefálico como um sistema límbico. Trabalhos experimentais apoiam a hipótese de que algumas das estruturas no lobo límbico de Broca e no circuito de Papez tenham um papel na emoção. Por outro lado, alguns dos componentes do circuito de Papez, como o hipocampo, por exemplo, não são mais considerados importantes para a expressão da emoção. O ponto crítico parece ser conceitual, considerando-se a definição de um sistema emocional. Dada a diversidade de emoções, não há uma razão forte para se pensar que apenas um sistema – e não diversos – esteja envolvido. Em verdade, sólidas evidências indicam que algumas estruturas envolvidas na emoção estão também envolvidas em outras funções; não há relação de um-para-um entre estrutura e função. Embora o termo sistema límbico ainda seja comumente utilizado, questiona-se a utilidade de se tentar definir um único e discreto sistema para a emoção. OBJETIVO 4: IDENTIFICAR AS ÁREAS ENCEFÁLICAS RESPONSÁVEIS PELA ATENÇÃO E MEMÓRIA Imagine-se em uma festa muito movimentada, com música alta e as conversas de centenas de pessoas. Embora você esteja sendo bombardeado por sons a partir de todas as direções, de algum modo você é capaz de concentrar-se na conversação que está tendo, enquanto ignora a maior parte das demais conversas e do barulho. Você está prestando atenção a uma conversação. As suas costas, você ouve alguém mencionar seu nome e decide escutar discretamente. Sem voltar-se, você começa a focar sua atenção nessa outra conversação para descobrir o que estão falando de você. O estado em que se processa simultaneamente distintas fontes de informação é chamado de atenção. Ela está claramente relacionada com o processamento preferencial de informação sensorial. Em meio a todas as informações visuais, sons ou sabores que chegam a seu encéfalo, você é capaz de perceber seletivamente alguma informação e ignorar as demais. CONSEQUÊNCIAS COMPORTAMENTAIS DA ATENÇÃO: Na maioria das situações em que queremos analisar visualmente algo, movemos nossos olhos de forma que o objeto de interesse é projetado na fóvea. Entretanto, é possível deslocarmos a atenção para objetos projetados em outras partes da retina, que não a fóvea. Essas mudanças de atenção para alguns locais na retina aumentam o processamento visual de várias maneiras, como por exemplo: detecção aumentada e tempos mais rápidos de reação. Atenção Permite uma Detecção Aumentada: Foi realizado um experimento que estuda os efeitos do direcionamento da atenção visual para diferentes locais. A observadora fixava sua atenção em um ponto central, e sua tarefa era dizer se um estímulo-alvo havia aparecido em um sítio à esquerda do ponto de fixação, à direita, ou se não aparecera. A tarefa era difícil, porque o alvo apresentado era pequeno e aparecia muito brevemente. O experimento apresentava diversos procedimentos especiais para identificar os efeitos da atenção. Cada teste iniciava com a apresentação de um estímulo que funcionava como uma dica, no ponto de fixação. Essa dica era um sinal de mais (+) ou uma seta apontando para a esquerda ou uma seta apontando para a direita. Após o estímulo-dica ser apagado, seguia-se um período variável de tempo, durante o qual o ponto de fixação era observado. Em metade dos testes, não havia estímulos e, na outra metade, um pequeno círculo era mostrado durante 15 ms, ou à esquerda ou à direita. Um elemento importante do experimento é que a dica era utilizada para direcionar a atenção. Se a dica fosse um sinal (+), era igualmente provável que o pequeno círculo aparecesse à esquerda ou à direita, era, portanto, uma “dica neutra”. Se a dica era uma seta para a esquerda, era quatro vezes mais provável que o sinal-alvo aparecesse à esquerda. Se a dica era uma seta para a direita, era quatro vezes mais provável que o sinal aparecesse à direita. Se o alvo aparecesse no lado indicado, a dica era “válida”; a dica era “inválida” se apontasse para longe do local onde o sinal apareceria. A observadora deveria manter seus olhos direcionados bem à frente. Para conseguir um maior número de respostas corretas na difícil tarefa de detecção de sinais, era vantajoso utilizar a dica. Por exemplo, se a dica era uma seta para a esquerda, seria mais vantajoso prestar mais atenção no lado esquerdo do ponto de fixação. A expectativa do observador, com base nas dicas, influenciou sua capacidade de detectar os círculos-alvo. Parece que as setas (dicas) levaram a observadora a deslocar sua atenção para o lado para onde elas apontavam, apesar de os olhos não se moverem. Presume-se que esse deslocamento não-aparente da atenção facilitava a detecção dos sinais que apareciam na tela, em comparação com testes em que a dica era apenas um sinal de mais. Por sua vez, a observadora era menos sensível à detecção dos círculos-alvo quando esses apareciam do lado oposto àquele para o qual a seta apontava. Com bases nesses resultados e em muitos outrosexperimentos similares, conclui-se que a atenção torna mais fácil a detecção das coisas. Essa é provavelmente uma das razões pelas quais somos capazes de ouvir alguém falando no meio de muitas outras conversas, quando dirigimos a essa pessoa a nossa atenção. A Atenção Acelera o Tempo de Reação: Em estudos acerca da percepção, utilizando uma técnica experimental semelhante àquela descrita anteriormente, os pesquisadores demonstraram que a atenção aumenta a velocidade de reação. Em um experimento típico, um observador fixava o olhar em um ponto central de uma tela de computador, e estímulos-alvo apareciam tanto à esquerda quanto à direita desse ponto. Nesse experimento, porém, pedia-se que o observador esperasse até perceber o estímulo em qualquer um dos lados e, então, pressionasse um botão. Media-se o tempo decorrido para o observador reagir à apresentação de um estímulo e pressionar o botão. Precedendo o estímulo-alvo, também havia um estímulo-dica, que era um sinal de mais ou uma seta para a direita ou para a esquerda. As setas indicavam o lado no qual era mais provável aparecer o estímulo, enquanto que o sinal de mais significava que havia a mesma probabilidade de o estímulo aparecer em qualquer dos lados. Os resultados desse experimento demonstraram que os tempos de reação do observador são influenciados pelo lado para o qual a dica direcionava sua atenção. Quando a dica era um sinal de mais, o observador levava de 250 a 300 ms para pressionar o botão. Quando a seta indicava corretamente o sítio em que o alvo ia aparecer (p. ex., seta para direita, alvo à direita), os tempos de reação eram 20 a 30 ms mais rápidos. Ao contrário, quando a seta apontava para um lado, e o alvo aparecia no lado oposto, o observador levava 20 a 30 ms mais para reagir ao sinal e pressionar o botão. O tempo de reação inclui o tempo para a transdução no sistema visual, tempo para o processamento visual, tempo para tomar a decisão, tempo para codificar o movimento do dedo e tempo para pressionar o botão. Mesmo assim, havia um pequeno, porém significativo, efeito do direcionamento da atenção pela seta. Se assumimos que a atenção para objetos visuais não apresenta um efeito direto na transdução visual ou na codificação motora, ficamos com a hipótese de que a atenção pode alterar a velocidade do processamento visual ou o tempo de tomada de decisão para pressionar o botão. Núcleo Pulvinar: Uma estrutura que tem sido estudada pelo seu possível papel no direcionamento da atenção é o núcleo pulvinar do tálamo. Diversas propriedades o tornam uma estrutura bastante interessante. Por exemplo, ele possui conexões recíprocas com a maioria das áreas corticais visuais dos lobos occipital, parietal e temporal, conferindo-lhe o potencial de modular amplamente a atividade cortical. Além disso, humanos com lesão no pulvinar respondem de forma anormalmente lenta a estímulos no lado contralateral, especialmente quando há estímulos competindo no lado ipsilateral. Tal deficiência poderia refletir uma capacidade reduzida em focar a atenção em objetos no campo visual contralateral. Um fenômeno similar foi observado em macacos. Quando muscimol, um agonista do neurotransmissor inibitório GABA, é injetado unilateralmente no pulvinar, a atividade dos neurônios é suprimida. A injeção produz uma dificuldade em deslocar a atenção para estímulos contralaterais, o que é análogo ao efeito produzido por lesões pulvinares em humanos. Existem muitos problemas com a hipótese de que o pulvinar desempenha um papel especial no direcionamento da atenção. Pesquisadores têm demonstrado que a desativação unilateral do colículo superior ou do córtex parietal posterior tem efeitos comportamentais similares à desativação do pulvinar. Além disso, lesões pulvinares bilaterais não apresentam um grande efeito sobre a atenção, como se poderia esperar se essa estrutura fosse uma parte essencial de um sistema de atenção. Atenção e Movimentos Oculares: Quando algo captura nossa atenção, movemos reflexivamente os olhos para o objeto de interesse. Um estímulo evoca uma maior resposta no córtex parietal e em outras áreas corticais se ocorre movimento dos olhos. Assim, uma forte associação parece existir entre movimentos dos olhos e atenção. Experimentos recentes sugerem que os circuitos encefálicos responsáveis por direcionar os olhos para objetos de interesse possam também desempenhar um papel crítico no direcionamento da atenção. Tirin Moore examinou uma área cortical conhecida como campos visuais frontais (CVF). Há conexões diretas entre os CVF e numerosas áreas que sabidamente são influenciadas pela atenção, incluindo as áreas V2, V3, V4, e o córtex parietal. Neurônios nos CVF apresentam campos motores, pequenas áreas no campo visual. Se uma corrente elétrica suficiente for passada em um CVF, os olhos rapidamente farão um movimento para o campo motor dos neurônios estimulados. A estimulação do CVF mimetiza os efeitos fisiológicos e comportamentais da atenção. Outros cientistas obtiveram resultados semelhantes com estimulação elétrica do colículo superior, outra estrutura envolvida na geração de movimentos sacádicos dos olhos. Esses achados levam à atrativa hipótese de que o direcionamento da atenção esteja integrado com um sistema utilizado para mover os olhos. TIPOS DE MEMÓRIA: Aprendizado é a aquisição de novas informações ou novos conhecimentos. Memória é a retenção da informação aprendida. Aprendemos e lembramos muitas coisas diferentes que podem não ser processadas e armazenadas pela mesma maquinaria neural. Não existe uma estrutura encefálica ou um mecanismo celular que, sozinhos, sejam encarregados de todo o aprendizado. Além disso, a forma como determinado tipo de informação é armazenado pode mudar com o tempo. Memórias Declarativas e Não-Declarativas: Estudando memória e aprendizado, distinguiu-se o que parece ser diferentes tipos de memória. Uma distinção é a que se faz entre memórias declarativas e não-declarativas. No decurso de nossas vidas, aprendemos muitos fatos – a capital da Tailândia é Bangcoc. Também armazenamos memórias de eventos em nossas vidas – “tive uma aula aborrecida ontem”. A memória para fatos e eventos é chamada de memória declarativa. É aquilo que normalmente queremos dizer com a palavra “memória” em sua utilização diária, mas, na verdade conseguimos lembrar de muitas outras coisas. Essas memórias não-declarativas dividem-se em diversas categorias. O tipo que mais nos interessa aqui é a memória de procedimentos, ou seja, memória para habilidades, hábitos e comportamentos. Aprendemos a tocar piano, a chutar bola ou a amarrar nossos sapatos e, de alguma forma, essa informação é armazenada em nosso encéfalo. O medo aprendido é um tipo de memória não-declarativa que envolve a amígdala. De modo geral, as memórias declarativas estão disponíveis para evocação consciente, e as memórias não-declarativas não estão. As tarefas que aprendemos e os reflexos e associações emocionais que estabelecemos operam suavemente, porém sem reconhecimento consciente. Como diz o dito popular, você nunca esquece de como andar de bicicleta. Você pode não recordar explicitamente o primeiro dia em que andou sozinho (a parte declarativa da memória), mas seu encéfalo lembra o que fazer quando você estiver sobre um (memória “de procedimento”). A memória não-declarativa é também frequentemente chamada de memória implícita, pois resulta diretamente da experiência, e memória declarativa é frequentemente chamada de memória explícita, pois resulta de um esforço mais consciente. Uma outra diferença é que as memórias declarativas são frequentemente fáceis de formar e também são facilmente esquecidas. Em contraste, a formação de memórias não- declarativas tende a requerer repetição e prática durante um período mais longo, mas essas memórias têm menor probabilidade de serem esquecidas.Enquanto não há um limite claro para o número de memórias declarativas que o encéfalo pode armazenar, pode haver grande variação em relação à facilidade e à velocidade com que novas informações são adquiridas. Estudos em humanos com memórias anormalmente boas sugerem que o limite para o armazenamento de informação declarativa é notavelmente alto. Memórias de Longo Prazo, de Curto Prazo e de Trabalho: A partir de nossa experiência diária, algumas memórias podem durar mais do que outras. Memórias de longo prazo são aquelas que você pode recordar dias, meses ou anos após terem sido originalmente armazenadas. Por exemplo, conseguir se lembrar de um aniversário que aconteceu quando era pequeno. Entretanto, nem todas as memórias são armazenadas para longo prazo. O que você comeu no jantar na noite passada? Você provavelmente não terá problemas para lembrar. E o jantar de uma semana atrás, porém? Existem boas chances de que essa memória tenha se esvaecido por completo. Porém, a terminologia para descrever memória mudou ao longo dos anos, e o mesmo termo pode ter significados diferentes para diferentes cientistas. Nos anos 1940, as memórias que eram mais facilmente esquecidas eram chamadas memórias de curto prazo – memórias que duram segundos a horas e que são vulneráveis a perturbações. Um exemplo é sua memória daquilo que comeu no jantar de ontem à noite, que provavelmente se esvaecerá após uma semana. Muitos fisiologistas sugeriram que essa memória a curto prazo seja causada por atividade neural contínua, resultando de sinais neurais que se propagam em círculos em traço de memória temporária de circuito de neurônios reverberantes. Ainda não foi possível provar essa teoria. Outra explicação possível para a memória a curto prazo é a facilitação ou inibição pré-sináptica, o que ocorre em sinapses que ficam em fibras nervosas terminais, imediatamente antes que formem sinapses com o neurônio subsequente. As substâncias neurotransmissoras, liberadas em tais terminais frequentemente causam facilitação ou inibição, que duram segundos ou até vários minutos. Circuitos desse tipo poderiam levar à memória a curto prazo. Nos anos 1960, os pesquisadores reconheciam haver muitos tipos de memória que eram mantidos por períodos curtos de tempo. A memória de trabalho é uma forma temporária de armazenamento da informação, de capacidade limitada, e que exige repetição/ensaio para ser conservada, mesmo que por pouco tempo. Diz-se frequentemente que a memória de trabalho é aquela informação que retemos “na mente”. Quando alguém lhe diz seu número de telefone, você pode retê-lo por um tempo limitado, repetindo o número para si mesmo. Manter uma memória viva pela repetição é característico da memória de trabalho. Se o número for muito longo você pode ter problemas para lembrá-lo. Esse número pode ser, eventualmente, consolidado em uma memória de longo prazo. A memória de trabalho é, em geral, estudada medindo-se a extensão de uma lista de números escolhidos ao acaso que uma pessoa é capaz de recordar após ouví-la sendo lida: em média, podemos lembrar de sete mais ou menos dois números dessa lista. Acredita que a memória a longo prazo resulte de alterações estruturais reais, em vez de somente químicas nas sinapses, e que realcem ou suprimam a condução dos sinais. Vamos lembrar experimentos em animais primitivos (SN muito fáceis de estudar) que ajudaram imensamente a compreensão de possíveis mecanismos da memória a longo prazo. Imagens de microscopia eletrônica, feitas em animais invertebrados, mostraram múltiplas mudanças da estrutura física em muitas sinapses durante o desenvolvimento dos traços de memória a longo prazo. As mudanças estruturais não ocorrerão se forem administrados fármacos. que bloqueiem a produção de proteína no neurônio pré-sináptico, nem se desenvolverá o traço de memória permanente. Portanto, parece que o desenvolvimento da verdadeira memória a longo prazo depende da reestruturação física das próprias sinapses de forma que mude sua sensibilidade para transmitir os sinais neurais. As mudanças estruturais mais importantes que ocorrem são as seguintes: 1. Aumento dos locais onde vesículas liberam a substância neurotransmissora.; 2. Aumento do número de vesículas transmissoras; 3. Aumento do número de terminais pré- sinápticos; 4. Mudanças nas estruturas das espinhas dendríticas que permitem a transmissão de sinais mais fortes. Assim, de várias formas diferentes a capacidade estrutural das sinapses de transmitir sinais parece aumentar, enquanto se estabelecem traços da verdadeira memória a longo prazo. Memórias de curto prazo podem ser apagadas por traumatismos cranianos ou por eletrochoque convulsivo. No entanto, esses mesmos tratamentos não afetam as memórias de longo prazo (memórias da infância). Essas observações levaram à ideia de que as memórias seriam armazenadas na forma de memórias de curto prazo e, seletivamente, convertidas em uma forma permanente por meio de um processo chamado de consolidação da memória. A consolidação da memória, entretanto, não requer necessariamente a memória de curto prazo como intermediária; os dois tipos de memória podem existir em paralelo. CONSOLIDAÇÃO DA MEMÓRIA: A memória a curto prazo se ativada repetidamente promoverá mudanças químicas, físicas e anatômicas nas sinapses que são responsáveis pela memória a longo prazo. Esse processo requer 5 a 10 minutos, para consolidação mínima e 1 hora ou mais, para consolidação forte. Por exemplo, se forte impressão sensorial é feita no cérebro, mas é seguida dentro de mais ou menos 1 minuto por convulsão induzida eletricamente, a experiência sensorial não será lembrada. Da mesma forma, a concussão cerebral, a aplicação repentina de anestesia geral profunda ou qualquer outro efeito que bloqueie temporariamente a função cerebral dinâmica pode impedir a consolidação da memória. A Repetição Aumenta a Transferência da Memória a Curto Prazo para a Memória a Longo Prazo. Estudos mostraram que a repetição da mesma informação várias vezes na mente acelera e potencializa o grau de transferência da memória a curto prazo para a memória a longo prazo, e assim acelera e aumenta a consolidação. O cérebro tem tendência natural de repetir as informações novas, especialmente as que atraiam a atenção. Portanto, ao longo de certo período, as características importantes das experiências sensoriais ficam, progressivamente, cada vez mais fixadas nos bancos da memória. Esse fenômeno explica porque a pessoa pode lembrar pequenas quantidades de informação, estudadas profundamente, muito melhor do que grande quantidade de informação estudada superficialmente. Também explica porque a pessoa bem acordada pode consolidar memórias muito melhor do que a pessoa em estado de fadiga mental. O Hipocampo Promove o Armazenamento das Memórias. O hipocampo é a porção mais medial do córtex do lobo temporal. Em alguns pacientes, os dois hipocampos foram retirados para o tratamento de epilepsia. Esse procedimento não afetou seriamente a memória do indivíduo para a informação armazenada antes da retirada dos hipocampos. Entretanto, depois da retirada, essas pessoas praticamente não têm mais capacidade de armazenar formas verbais e simbólicas de memórias (memória declarativas) na memória a longo prazo. Por isso, essas pessoas ficam incapazes de estabelecer novas memórias a longo prazo dos tipos de informação que são a base da inteligência. Esse distúrbio se chama amnésia anterógrada. Mas por que os hipocampos são tão importantes para ajudar no processo de armazenamento de novas memórias? A resposta mais provável é que os hipocampos figuram, entre as vias de saída mais importantes, das áreas de “recompensa” e “punição” do sistema límbico. Estímulos sensoriais ou pensamentos que causem dor ou aversão excitam os centros límbicos de punição, e os estímulos que causem prazer,felicidade ou sensação de recompensa, excitam os centros límbicos de recompensa. Todos eles juntos fornecem o humor básico e as motivações da pessoa. Entre essas motivações, está a força motriz do cérebro para lembrar as experiências e pensamentos que são agradáveis ou desagradáveis. Especialmente, os hipocampos e, em menor grau, os núcleos médio- dorsais do tálamo, outra estrutura límbica, mostraram-se especialmente importantes para tomar a decisão de quais dos nossos pensamentos são importantes o suficiente na base de recompensa ou punição para serem dignos da memória. Os Hipocampos não São Importantes para o Aprendizado Reflexivo. Pessoas com lesões hipocâmpicas geralmente não têm dificuldades de aprender habilidades motoras que não envolvam verbalização ou formas simbólicas de inteligência. Por exemplo, essas pessoas podem ainda aprender as habilidades de agilidade manual e física necessárias em esportes. Isso se chama aprendizado de habilidades ou aprendizado reflexivo; depende da repetição física e não da repetição simbólica na mente.
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