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Atendimento à Violência Sexual Introdução A violência sexual é um problema legal e de notificação compulsória que implica diretamente sobre os âmbitos físico e mental da vítima, sendo necessário acolhimento integral e a multidisciplinaridade na atenção à vítima. Tal questão eleva os riscos de infecções sexualmente transmissíveis e gestação, questões que merecem a atenção com relação às profilaxias imediatas e cabíveis. Epidemiologia Em 2021, já foram registrados mais de 19.000 casos de estupro no Sistema de Notificação de Agravos de Notificação Compulsória. A dimensão do problema destaca a responsabilidade do profissional de saúde atendente em notificar esses agravos através da ficha de notificação Os grupos mais acometidos são mulheres, pardas ou pretas e com faixa etária de 0 a 19 anos. Ficha de notificação: o preenchimento dessa ficha é obrigatório se suspeita de violência interpessoal, neste caso, de violência sexual. Não é necessário que o atendente confirme a violência para que seja notificado, sendo tais dados de grande valor epidemiológico e para o direcionamento de políticas públicas. Boletim de ocorrência: apesar de ser possível orientar à vítima para o preenchimento do boletim de ocorrência, não há nenhuma exigência formal deste para que a vítima seja atendida em serviços de saúde. Também se orienta a vítima que a equipe de saúde não realiza tal documentação, mas sim o exame e descrição das lesões. Grupos especiais: quando a vítima é menor de idade, deve-se comunicar ao conselho tutelar ou vara da infância. Já em idosos, deve-se comunicar o conselho do idoso, ministério público ou alguma autoridade policial. Atendimento à Vítima A primeira etapa é centrada no acolhimento da vítima, sendo pautado principalmente na humanização do cuidado e com postura neutra e respeitosa. Em seguida, deve-se realizar a história clínica da paciente e o exame físico e ginecológico, coletando vestígios que podem ser úteis na investigação criminalística. Deve-se realizar a notificação compulsória em até 24 horas. Profilaxias Realizadas Na vítima de violência sexual, são realizadas algumas profilaxias para prevenção de IST’s e para contracepção de emergência, sendo que quanto mais precoce for a procura da mulher, maior será a eficácia dessas. Contracepção de emergência: deve ser oferecida à paciente na forma do levonorgestrel 1,5 mg por via oral, sendo idealmente tomada em até 72 horas do episódio, embora possa ser tomada em até 5 dias da relação. Profilaxia para o HIV: deve ser realizada por 28 dias, idealmente se iniciando antes de 72 horas da exposição. Feita com combinação do Tenofovir (TDF), Lamivudina (3TC) e Dolutegravir (DTG). Caso a paciente não deseje realizar a contracepção de emergência, sugere-se a troca do DTG pelo Raltegravir (RAL), já que esse pode estar associado a malformações do tubo neural. Gabriel Torres→ Uncisal→ Med52→ Atendimento à Violência Sexual Profilaxia para Hepatite B: se a vítima não é vacinada para hepatite B ou possui esquema vacinal incompleto, devendo-se completar o esquema vacinal e aplicar a imunoglobulina hiperimune em caso de paciente com HbSAg ou que seja do grupo de risco para Hepatite B. Quando se aplicam a vacina e soro, deve-se tomar o cuidado de realizar em grupos musculares distintos. Medidas Profiláticas na Violência Sexual Solicitar Sorologias HIV, Hepatites B, C e VDRL. Pesquisa de Gonococo e Clamídias Profilaxia HIV Tenofovir + Lamivudina + Dolutegravir/Raltegravir Profilaxia Hepatite B Completar esquema vacinal, Soro se agressor HbSAg + ou ? Contracepção de Emergência Levonorgestrel 1,5 mg dose única (iniciar em até 5 dias) Profilaxia IST’s não virais: deve-se realizar a cobertura da sífilis (Treponema pallidum), do gonococo (Neisseria gonorrhoeae), clamídia (Chlamydia trachomatis) e tricomoníase (Trichomonas vaginalis). As profilaxias respectivas são a penicilina G benzatina (2,4 milhões UI via intramuscular, dose única), ceftriaxona (500 mg intramuscular em dose única), azitromicina (1 g via oral em dose única) e metronidazol (2 g, dose única, pode ser postergado pelos efeitos gastrointestinais indesejados). Profilaxia para tétano: recomenda-se realização de vacina na paciente com vacinação incerta ou menos de 3 doses nos últimos 10 anos ou se ferimento profundo e esquema completo com mais de 5 anos da dose de reforço. O soro ou imunoglobulina hiperimune está indicado nos casos de ferimento profundo com esquema vacinal incerto ou incompleto em conjunto com a vacina, com o cuidado semelhante ao da hepatite B. Outras medidas: é essencial solicitar um painel com sorologias para HIV, Hepatites, B e C, além do VDRL e pesquisa de gonococo e clamídias. Convém realizar exames como hemograma, função hepática e renal, para certificar as condições de realizar as profilaxias. Rede de Atenção Integral O seguimento das vítimas de violência sexual deve ser com o retorno após 30 dias, realizando o painel de sorologias novamente (idealmente repetir durante 120 dias), bem como acompanhamento clínico-laboratorial. Não se deve esquecer de encaminhar a paciente a cuidados de uma equipe multiprofissional, haja vista que os cuidados incluem conscientizá-la sobre seus direitos após o ocorrido e assistência psicossocial adequada. Abortamento Legal A legislação atual proíbe a realização da interrupção da gestação, exceto nos casos de violência sexual, risco de vida materno e fetos com anencefalia. Não é preciso mandato judicial ou Boletim de Ocorrência. Termos documentais são necessários: o termo de relato circunstanciado (assinado pela gestante e dois profissionais da saúde, com descrição do fato), termo de aprovação do procedimento (assinado por 3 profissionais de saúde, em conformidade com o parecer técnico), e os termos de responsabilidade e consentimento da paciente. Objeção da consciência: o médico possui o direito de objeção da consciência (opôr-se ou não realizar o ato que vá de encontro aos ditames da sua consciência), exceto se ausência de outro médico, urgências ou emergências ou quando a recusa traz danos à paciente. Caso se oponha nessas situações, o atendente poderá responder civil e criminalmente pelos danos provocados. Gabriel Torres→ Uncisal→ Med52→ Atendimento à Violência Sexual
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