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Técnica e Equipamento Fotográfico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Me. Mário Gustavo Coelho Revisão Textual: Prof. Me. Luciano Vieira Francisco Da Fotografia Analógica à Digital e Composição/Linguagem Fotográfica Da Fotografia Analógica à Digital e Composição/Linguagem Fotográfica • Desenvolver uma visão histórica dos equipamentos fotográficos; • Conhecer conceitos de composição e linguagem; • Explorar arquivos digitais e a formação de cores no processo digital da fotografia. OBJETIVOS DE APRENDIZADO • Introdução; • Breve História dos Equipamentos Fotográficos; • O Olho Humano e a Câmera Fotográfica; • Fotografia Digital Versus Fotografia Analógica; • Arquivos Digitais; • Cor; • Regras Básicas de Composição Fotográfica. UNIDADE Da Fotografia Analógica à Digital e Composição/Linguagem Fotográfica Introdução A fotografia é, sem dúvidas, uma das artes mais difusas no mundo contemporâneo. A democratização da fotografia por meio das câmeras dos smartphones mudou seus rumos, trazendo o aparato tecnológico que permite o ato fotográfico às mãos da grande maioria da população mundial. Mas todos os avanços tecnológicos que permitiram tal democratização tiveram seu início no período da Revolução Industrial e a descoberta e o aprimoramento dos processos físicos e químicos foram abordados por diferentes pesqui- sadores em diversas partes do mundo quase que simultaneamente. É então possível dizer que a invenção e o aperfeiçoamento dos processos fotográficos que nos trazem até os dias de hoje não é uma invenção de uma única exclusiva pessoa, mas de trabalhos de múltiplos pesquisadores, cientistas, físicos e químicos que trouxeram a evolução da captação de uma imagem que levava tempos acima de horas para milioné- simos de segundo, além do aperfeiçoamento, tornando-os cada vez mais precisos. Entender e apreciar a história do desenvolvimento tecnológico dos aparatos fotográ- ficos é muito importante para a carreira de um fotógrafo no contemporâneo. Então vamos nessa! Breve História dos Equipamentos Fotográficos Antes de tratarmos da técnica e dos equipamentos fotográficos, é importante consi- derar o fato de que o desenvolvimento cognitivo e da comunicação desde a Pré-História trouxe ao homem uma necessidade de se representar por meio de imagens, partindo desta afirmação e percorrendo um longo período da história até a Revolução Industrial, onde Tom Ang (2015, p. 14) afirma que: A invenção da fotografia foi um triunfo do ideal da Revolução Industrial de submeter a natureza à vontade humana. No século XX, o fogo, o vento, o vapor, o gás e a eletricidade haviam sido dominados pela indústria, a cons- trução e o transporte. Não surpreende, portanto, que as três principais descobertas fotográficas tenham ocorrido na França e no Reino Unido, os países então à frente da corrida para repassar tarefas e habilidades aos aparatos tecnológicos. Níepce queria evitar a labuta de gravar à mão, Daguerre estava farto de pintar painéis grandes para seus shows de luz, e Fox Talbot lastimava sua incapacidade de desenhar uma cena lacustre. Aqui cabe lembrar que todo o contexto histórico dos precursores da câmera fotográ- fica – a câmera escura, já conhecidas do filósofo chinês Mozi (470-390 a.C.) e detalhada por Giovanni Battista dela Porta, em seu livro de Ciência Magia naturalis (1558) e simi- lares que promoviam por sombras ou por espelhamento de imagens projeções visuais não serão o foco de atenção dentro deste conteúdo. 8 9 S endo descoberta no período da Revolução Industrial, a invenção da fotografia está muito bem documentada e pode ser creditada a três invenções: a fixação da imagem, o daguerrótipo e método positivo/negativo. Estas ocorreram todas em um pequeno intervalo de menos de 20 anos, entre 1826 e 1844. A Nicéphore Niépce é creditada a primeira fixação de imagem, onde utilizava a luz para enrijecer algumas áreas de uma superfície que depois de lavada as partes não enrije- cidas, fazia uma chapa de impressão. Tal gravação permanente projetada por uma lente é o primeiro processo fotográfico inventado. Figura 1 – Vista da janela em Les Gras (1926) Nicéphore Niépce: é considerada a primeira imagem fotográfi ca e levou cerca de 8 horas para ser gravada Fonte: Wikimedia Commons Consciente de sua invenção e limitações, associou-se em 1829 ao pintor Luis Jacques - -Mandé Daguerre e juntos, pesquisando por novos materiais, chegaram a um teste de cobre revestido de prata sensibilizado com vapor de iodo no início da década de 1830, mas Niépce faleceu em 1833 e Daguerre deu continuidade às pesquisas e inventou outro método positivo direto em 1837, o qual foi batizado de daguerreótipo. Uma das descobertas de Daguerre foi a imagem latente, isso porque o revestimento na chapa de prata que aplicava ficava inalterado antes e depois da exposição plena, pois a imagem só tornava visível, ou seja, revelada, após ser exposta ao mercúrio aquecido. O daguerreótipo, como equipamento fotográfico, foi desenvolvido em parceria com Alphonse Giroux, que era restaurador, marceneiro e parente de Daguerre. Era uma câmera que trazia alta qualidade ao processo de exposição. A câmera consistia em duas caixas de madeira que se separavam ou se juntavam, promovendo a focagem. 9 UNIDADE Da Fotografia Analógica à Digital e Composição/Linguagem Fotográfica Figura 2 – O daguerreótipo Fonte: Wikimedia Commons Apesar de ser um equipamento enorme e pesado, com cerca de 50 kg e de uma dimensão de uma caixa de arquivo de escritório, o daguerreótipo foi um sucesso. Após o início das vendas em 1839, inúmeras encomendas eram recebidas e Daguerre ven- dia um pacote completo: a câmera, uma caixa de iodo para sensibilização, uma caixa de mercúrio para a revelação e outros acessórios. A difusão do primeiro equipamento fotográfico mundialmente, mesmo sobre um alto custo – cerca de 400 francos, o qual para a época equivalia a uma renda média anual – foi inevitável. Era possível encontrar fotógrafos utilizando o equipamento em todas as partes do mundo. Um fato importante da Revolução Industrial para a invenção da fotografia corres- pondeu aos avanços da química quantitativa por Antoine Lavoisier, pois substâncias químicas relativamente puras estavam disponíveis. Isso foi a peça-chave para um outro químico criar outro processo extremamente importante para a fotografia: o método positivo/negativo. William Henry Fox Talbot (1800-1877), químico talentoso, utilizou outro caminho diferente a Daguerre, empregando o nitrato de prata para o processo de sensibilização, gerando imagens negativas já em 1835, onde as áreas claras ficavam escuras e as escuras claras. Percebeu que poderia imprimir o negativo de volta sobre outro papel, criando uma imagem positiva, o que levou ao método positivo/negativo, ao qual denominou calotipia. Este processo dominou a fotografia por mais de 150 anos, mas Talbot, por perceber que Daguerre estava meses em sua dianteira, desencadeou uma rixa ao uso sem licença de seu processo de calotipia patenteado em 1854, mas acabou sendo derrotado na Justiça e dedicou seus últimos 25 anos de vida a pesquisas sobre a impressão fotomecânica, em parte, pela análise do esmaecimento rápido de suas imagens – que considerava falhas. A partir da década de 1850, a fotografia teve grande impulso, tornando-se uma ferramenta difusa em todo o mundo. Principalmente nas mãos de fotógrafos viajantes, sendo utilizada nos mais diversos contextos para a captura de paisagens, arquiteturas e retratos, uma vez que o processo de Talbot havia reduzido o tempo de exposição para algo em torno de 8 segundos. Dentre os processos tecnológicos criados nesse período estava a estereografia, uma câmera que possuía duas lentes e tentava gerar imagens tridimensionais. Porém, o alemão Wilhelm Rollmann inventou o anáglifo em 1852, no 10 11 qual imagens estéreas eram coloridas e sobrepostas em uma só imagem. Com filtros que separavam a imagem correta para cadaolho, um lado vermelho e o outro verde, o que se via era uma imagem escura tridimensional (3D). Tal processo é usado no cinema 3D atual, com imagens separadas por polarização – e não por cor. Dentre os diversos usos estéticos da fotografia, esta Unidade não visa trazer o debate da fotografia como forma de arte ou Ciência – o que foi um debate acirrado entre 1870 e 1914, mas a evolução tecnológica dos equipamentos. Dentre estas evoluções destaca-se a descoberta de Richard Leach Maddox, descobrindo que vestígios de substâncias quími- cas na gelatina criada de uma proteína obtida da fervura de ossos e tecidos conjuntivos de animais melhoravam a performance da reação dos sais de prata à luz. Em 1887, o reverendo Hannibal Goodwin inventou o filme de nitrato de celulose e George Eastman passou a produzir rolos de filmes a partir de 1888. George Eastman percebeu a possibilidade de criar um suporte no rolo de filme, que já havia a possibilidade de ser “enrolado” devido à sua flexibilidade e densidade, criando a primeira câmera portátil em 1888, que foi batizada de Kodak – nome que inventara com a sua mãe. A grande sacada de Eastman não era em si a câmera portátil que oferecia 100 fotos, mas a indústria que criou no processo, pois o proprietário de uma câmera Kodak, após esgotar o seu filme, preenchia um livrinho que vinha junto à câmera e enviava a fábrica de Eastman e, em cinco a dez dias depois, recebia a câmera carregada e as cópias soli- citadas impressas. Conseguiu aperfeiçoar o filme em 1889, dentre vários processos por violação de direitos autorais e, novamente, em 1892, apostando em uma invenção de Samuel Turner, que criou o cartucho de filme – semelhante a um cartucho de espingarda – este novo sistema possibilitava a recarga da câmera à luz do dia. Com todos esses processos, criou a câmera Brownie em 1900, que fazia 12 expo- sições quadradas de 57 mm, totalmente automatizada, bastando o usuário realizar o “clique”. Esse modelo era acessível, pelo preço de 1 dólar e tornou a fotografia alcançável para as massas e marcou o início da indústria fotográfica. Figura 3 – Câmera Brownie n.º 2 (1901-1935) Fonte: Wikimedia Commons 11 UNIDADE Da Fotografia Analógica à Digital e Composição/Linguagem Fotográfica A partir dos equipamentos desenvolvidos desde a sua invenção, passando pelo pro- cesso da industrialização da fotografia pela Kodak de Eastman, os equipamentos passa- ram por contínuas evoluções tecnológicas das quais, seguindo uma linha cronológica, podemos citar: • 1861: Clerk Maxwell produziu a primeira fotografia colorida, mas Louis Ducos du Hauron foi o gênio pioneiro da fotografia em cores com o processo tricomático, ampla mente utilizado por Sergei Prokudin-Gorskii nas fotografias pela Rússia e arredores entre os anos de 1909 e 1915; Figura 4 – Imagem realizada por Prokudin-Gorskii com a aplicação de filtros (ao lado direito) e sobrepostas (à esquerda), formando imagens coloridas Fonte: Wikimedia Commons Processo tricomático: Consiste em realizar três fotos, cada uma com um filtro de cor, sendo eles azul, verde e vermelho, para posteriormente sobrepô-los e projetar através de seus respe ctivos filtros para a geração de uma imagem colorida. Seu maior problema é a com- plexa possibilidade de reprodução de cópias das imagens. Saiba mais sobre o trabalho de Sergei Prokudin-Gorskii e as cores captadas em suas imagens. Disponível em: https://bit.ly/3gBELUl • 1895: Os irmãos Lumière patentearam o processo ALL Chroma, que era bastante complexo, e em 1903 tentaram outra abordagem, patenteando o “autocromo”, que consistia em várias camadas interpostas de uma tela composta de elementos colo- ridos entre a camada fotossensível e o vidro, que funcionava como suporte. Estes elementos eram microscópicos grãos de amido tingidos de vermelho, azul e verde. Apesar de baixa sensibilidade, havia imensa riqueza cromática; 12 13 Figura 5 – Grãos de amido coloridos do autocromo, muito aumentados Fonte: Wikimedia Commons • 1904 a 1914: Valentin Linhof desenvolveu a câmera Auto Graflex, que possibi- litava o fotógrafo controlar o tempo de exposição; Figura 6 – Câmera Auto Grafl ex Fonte: Wikimedia Commons 13 UNIDADE Da Fotografia Analógica à Digital e Composição/Linguagem Fotográfica • 1925: Foi apresentada, na Feira de Primavera de Leipzig, Alemanha, a Leica 1, fruto de um desenvolvimento de anos por Oskcar Barnack. Equipamento portátil e com alta qualidade, após anos de desconfiança pelos fotógrafos profissionais devido ao pequeno tamanho, teve a sua superação e deslanchou no mercado. Elogios não cessavam e em 1932 mais de 90 mil unidades já tinham sido vendidas depois de evoluções significativas. São câmeras muito apreciadas e cobiçadas por coleciona- dores e seus preços, por muitas vezes, são exorbitantes. Além disso, a Leica iniciou linhas de câmeras com objetivas intercambiáveis a partir de 1932, tornando-se adotada pela maioria das marcas após o sucesso obtido por ela; Figura 7 – Leica 1 (1927) Fonte: Wikimedia Commons Os telêmetros ópticos funcionavam segundo um princípio descrito pela primeira vez em 1533 pelo físico holandês Frisius. Originalmente, foram projetos para avaliar o alcance de canhões navais [...] eram cruciais para as primeiras câmeras de 35 mm, cujas imagens tinham nitidez variável. A forma básica das duas janelas – uma para a imagem de base e a outra para a imagem mais ampla – está presente em muitos modelos da época e ainda é usado na Leica até nos dias de hoje. (ANG, 2015, p. 149) Confira os modelos digitais da Leica. Disponível em: https://bit.ly/3gs9ZNz • 1929: A fotografia com flash se tornou comercial com o lançamento da lâmpada Sashalite, à base de alumínio e desenvolvida para a General Eletrics. Não provoca- va explosão, fumaça ou qualquer outro inconveniente, ocasionado até então pelas tentativas antecessoras do flash; 14 15 Figura 8 – Flash Wetzlar com lâmpada (meados de 1950) Fonte: Wikimedia Commons • 1935: apesar de a tentativa dos irmãos Lumière melhorarem o processo fotográfi- co colorido – o Lumicolor, criando duas versões, uma para o filme cinematográfico e criarem o primeiro filme fotográfico de rolo, o primeiro filme moderno para co- mercialização foi o Kodachrome da Kodak, em 1935; Figura 9 – O Kodachrome II se tornou um fi lme muito popular entre os fotógrafos profi ssionais devido à sua riqueza de cores Fonte: Wikimedia Commons 15 UNIDADE Da Fotografia Analógica à Digital e Composição/Linguagem Fotográfica Figura 10 – Foto utilizando o Kodachrome de Chalmers Butterfield em West End, em Londres (1949) Fonte: Wikimedia Commons • 1959: A Nikon desenvolveu a primeira câmera – Nikon F – com prisma, criando o sistema SLR, uma vez que os sistemas de telêmetro já eram criticados pela grande maioria dos fotógrafos. Esse sistema possuía um visor que mostrava 100% da visão do que realmente estava enquadrado, dado que o prisma permitia que o fotógrafo visse o que a câmera enxergava, diferentemente do telêmetro que, muitas vezes, apresentava grandes erros de paralaxe. Além disso, a câmera possuía vasta gama de acessórios e objetivas desde o seu lançamento. Em 1973, mais de 850 mil câmeras já tinham sido produzidas; SLR – Do inglês, Single Lens Reflex: Foi o sistema desenvolvido pela Nikon, o qual passou a ser adotado por todas as marcas, em que um penta prisma e um jogo de espelhos permi- tiam que o fotógrafo enxergasse a imagem direta que era obtida pela objetiva. Figura 11 – Corte de uma câmera SLR Fonte: Wikimedia Commons 16 17 • 1970: A Nikon lançou a Zoom-Nikkor 80-200 mm f/4.5, mudando completamente o panorama sobre as objetivas zoom que, até então, apresentavam baixa qualidade se equiparadas às objetivas fixas. Além de compacta e leve, era fácil de usar, apresen- tando números coloridos de abertura com escalas de profundidade de campo; • 1972: Foi lançada a Polaroid SX-70, câmera de grande complexidade mecânica, que era dobrável e permitia que a foto fosseexpelida e revelada diretamente após o clique. Apesar de outras câmeras instantâneas já existirem anteriormente, a Polaroid SX-70 foi uma das câmeras mais extraordinárias deste gênero de todos os tempos; Figura 12 – Polaroid SX-70 Fonte: Wikimedia Commons • 1975: Steve Sasson, funcionário da Kodak, criou a primeira câmera digital, que pe- sava 3,6 kg e captava 1.000 pixels em preto e branco. Com baixa qualidade e tendo a informação que uma imagem de qualidade necessitaria de 3 megapixels, Sasson percebeu a necessidade de criar um arquivo comprimido da imagem e inventou o primeiro hardware de compressão, o JPEG; • 1990: A revolução das câmeras digitais se ampliou e surgiram diversas câmeras de formatos e tamanhos diferentes, em sua maioria, utilizando o corpo de uma câmera analógica, onde adaptava-se um sensor para registrar uma imagem digital. Mas todas eram praticamente protótipos, de modo que somente em 2000 surgiu a Canon 30D, marcando uma nova geração de tecnologia que realmente veio para romper e trazer a permanência da fotografia digital no século XXI; • 2009: Com o lançamento do iPhone 3GS, a fotografia de telefones celulares come- çou a tomar espaço mundialmente e até os dias de hoje se tornou uma das maiores ferramentas da democratização da fotografia, desde a Kodak Brownie. Câmeras já existiam em telefones celulares desde 2000, mas atualmente todo e qualquer aparelho móvel de telefonia possui câmeras de alta qualidade e a tendência é que a evolução faça que cada vez mais telefones celulares possuam recursos avançados e de qualidade para a fotografia já utilizada por muitos profissionais. 17 UNIDADE Da Fotografia Analógica à Digital e Composição/Linguagem Fotográfica Apesar de toda a evolução tecnológica da fotografia, torna-se importante ressaltar que o fator mais significativo para uma fotografia ser boa não é o equipamento, mas a intenção por trás do ato fotográfico. É fato que equipamentos podem ser significativa- mente importantes para a execução de algumas estéticas, porém, sem o devido domínio técnico a diferenciação que estes podem trazer seriam irrelevantes, principalmente em uma fotografia sem intenção justificada em sua elaboração. O Olho Humano e a Câmera Fotográfica Existe uma semelhança incrível ao analisarmos a visão humana e a câmera fotográfica. Conferiremos estes pontos em comum antes de entrarmos profundamente nos equipa- mentos fotográficos, de modo que a cada conteúdo fiquem claras tais semelhanças. Figura 13 – Comparação entre o olho humano e a câmera fotográfica Fonte: Adaptada de Wikimedia Commons | Fotolia A córnea fica na frente do olho e possui uma curvatura assim como as lentes de uma objetiva. Ambas – córnea e filtro – estão posicionadas à frente de suas estruturas e graças à sua formação esférica é possível que tenhamos visão dos ângulos laterais, sejam à esquerda, direita, acima e abaixo, ainda que não estejam e foco. Sem tal curva- tura, ambos veriam somente o que está diretamente à frente deles. Nas objetivas, o mesmo acontece, mas com a engenharia ótica permitindo a nitidez em todo o plano focal da composição. Já o cristalino do olho humano é representado por todo o conjunto de lentes exis- tentes dentro de uma objetiva. Em nós o cristalino é quem nos ajuda a formar a nitidez 18 19 nos assuntos que enxergamos, assim como em uma câmera o posicionamento relativo entre as lentes nos permite focar em algo mais distante ou mais próximo. A pupila é sem dúvidas um dos elementos mais semelhantes e que executa perfeita- mente a mesma função que o diafragma em uma objetiva. Quando nos encontramos em uma situação com pouca luz, normalmente à noite, a nossa pupila tende a dilatar (ficar mais aberta) mais para que um maior volume de luz possa atingir a retina e, por consequência, enxergamos. Já em uma situação com muita luz, a nossa pupila tende a se contrair já que o volume de luz é maior. Para alguns exames oftalmológicos é utilizado um colírio que dilata a nossa pupila e, por consequência, ao sair em um dia ensolarado após o exame, é necessário utilizar óculos escuros e estar acompanhado para que não soframos pelo excesso de luminosidade provocado pela impossibilidade dela se retrair e regular a luz da forma correta. Nas câmeras fotográficas, o mesmo acontece: em situa- ções de muita luz, o fotógrafo necessita regular o diafragma de forma que o volume da luz seja menor, e em situações com pouca luz, abri-lo para efetuar os devidos ajustes e captar a luz existente na cena. Já a retina do olho é equivalente ao sensor de uma câmera fotográfica. Ela é a respon- sável pela coleta da luz do assunto observado para formar a imagem, assim como o sensor digital (ou o filme, antigamente). Um fator relevante e que será abordado é que tanto o olho quanto a câmera fotográfica são projetados para registrar a luz que é refle- tida sobre as superfícies/assuntos. Ambos, quando expostos a uma luz incidente, sofrem para interpretar a informação. Uma analogia interessante é quando se está dirigindo à noite: como o olho está com a pupila dilatada para coletar um volume de luz maior e enviar a retina, quando um farol de um carro no sentido contrário golpeia o nosso olho diretamente, sofremos para interpretar a informação e sentimos um incômodo enorme. O mesmo acontece com a câmera. Quando estamos com o diafragma aberto para foto- grafar uma cena escura e uma luz incidente (como um farol de um carro ou qualquer fonte de luz) entra diretamente pela objetiva, provoca a superexposição da informação da luz e gera a perda de informação naquele ponto, além de aberrações cromáticas como o flaire. Figura 14 – Flaire Fonte: Getty Images Flaire é uma aberração cromática que surge na fotografia devido à incidência de alguma fonte de luz diretamente pela objetiva, provocando pontos lumi- nosos pelo percurso da luz pelas lentes da objetiva e que acabam registradas pelo sensor. 19 UNIDADE Da Fotografia Analógica à Digital e Composição/Linguagem Fotográfica Fotografia Digital Versus Fotografia Analógica Apesar de tecnologias diferentes, os princípios entre a fotografia digital e fotografia analógica são os mesmos. Significa que uma vez que você saiba os princípios técnicos para realizar uma fotografia, estará apto(a) a fotografar com qualquer tipo de equipa- mento, independentemente do suporte em que gravará a imagem. O fator relevante que existe entre as diferenças de tecnologias analógicas e digitais é somente, como citado, o suporte que registrará a imagem. Em câmeras digitais existe um sensor que é o responsável por transformar os pulsos das ondas de luz em um código digital e convertê-lo em uma imagem formada por bits. Além disso, uma câmera digital possibilita que você possa aumentar ou diminuir a sensibilidade desse suporte – o sensor – de forma simples, como veremos adiante. Já a câmera analógica utiliza um filme fotográfico que, em sua constituição, possui sensibilidade pré-definida, o qual não pode ser alterado entre uma foto e outra, como em uma câmera digital. Para modificar essa sensibilidade é necessário trocar o filme inteiro. Atualmente, o mundo depende da fotografia digital, mas o fato é que existe uma vertente muito forte segundo a qual muitos fotógrafos, em busca de uma estética diferen- ciada, optam em voltar a fotografar com equipamentos analógicos com o intuito de maior apreciação da arte fotográfica. O importante é saber que uma vez dominadas as técnicas para se fotografar, estas valerão para qualquer tipo de equipamento que você deseje usar, seja analógico ou digital. Arquivos Digitais Com a evolução da câmera analógica para a digital, o suporte que registra a imagem passou a ser um sensor. Antes era necessário um processo de revelação para formar uma imagem final, que por muitas vezes poderia demorar horas e necessitava de ambi- entes e materiais químicos específicos para o surgimento da imagem e, posteriormente, de sua formação sobre um papel fotográfico, dotado tambémde especificidades químicas e ambiente controlado. Com o surgimento da câmera digital, o processo passou de horas de processamento para menos de 1 segundo para que o fotógrafo observe o resultado da sua imagem, possi- bilitando enorme experimentação pelos amantes e profissionais por fotografia, sem contar a possibilidade de apagar as imagens indesejadas que, antes, acabavam consumindo, no mínimo, uma exposição de imagem em um rolo com número limitado de imagens. Ademais, a analogia entre as tecnologias é a seguinte: [...] esse sensor converte a luz em sinais elétricos cuja carga varia de acordo com a intensidade da luz. O sensor é formado por pixels, formando uma matriz de linhas e colunas. Numa comparação mais sim- ples, cada pixel pode ser comparado a um grão de sais de prata do 20 21 filme tradi cional. Uma vez registrada a cena pelo sensor, os dados são enviados para a memória da câmera e, em seguida, para o cartão de memória. (RAMALHO, 2004a, p. 3) Mas surgiu, então, outra necessidade para que o fotógrafo digital se preocupasse: a compressão e o formato de arquivo gerado ao realizar uma imagem digital. Apesar de existirem muitos tipos de arquivos digital ligados à imagem, aqui no atentaremos apenas aos que são possíveis de serem criados por câmera fotográfica. Formato RAW Considerado o arquivo mais importante para a fotografia digital, o RAW – do inglês, cru – é o arquivo mais complexo e com o maior número de informações que uma câmera profissional pode criar. Ele não sofre nenhum tipo de compressão, ou seja, as imagens são recebidas exatamente como são capturadas pelo sensor e arma- zenadas no cartão de memória. Podemos equiparar o arquivo RAW ao filme fotográfico, pois seria ele a matriz para se criar qualquer outra imagem, com qualquer outro tipo de compactação. A maior vanta- gem é que, por não sofrer compressão, possui elevadíssimo número de informações que podem ser manipuladas posteriormente à captação, durante a edição. Mas toda essa qualidade tem um preço a ser cobrado. Não é possível utilizá-lo direta- mente como resultado na maioria dos ambientes virtuais, além de exigir programas especí- ficos para que seja possível visualizá-lo e exportá-lo em outros formatos, como os softwares Lightroom, Photoshop ou Capture. Além disso, pela sua alta qualidade, o tamanho do arquivo é muito grande e demanda muito espaço para ser armazenado. O hardware do computador também deve ser robusto para conseguir realizar o processamento e pós- -processamento, elevando os investimentos ao fotógrafo. Mas o fato é: o fotógrafo que pretende seguir uma carreira profissional deve sempre utilizar este formato de arquivo, pois não possuir um RAW de um trabalho seria equiva- lente a não possuir o negativo de uma fotografia feita em sua câmera. Outra condição importante é que nunca se deve entregar o arquivo RAW ao cliente, pois conforme a Lei de direitos autorais, é direito do fotógrafo possuir o arquivo original de uma imagem criada por ele, sendo entregue ao cliente qualquer outro formato derivado. Caso seja solicitada alta qualidade de arquivo, existem opções com baixa ou nenhuma compressão, similar ao RAW, tais como TIFF, DNG – Digital Negative – ou PSD – arquivo Photoshop. Formato TIFF O arquivo Tiff é um formato para uso profissional que permite armazenar todas as informações de um RAW, com compressão, mas sem nenhuma perda. Além disso, ele pode ser criado também pelos softwares de edição como o Photoshop, armazenando as camadas de edição nele realizadas. Mas necessita também de programas específicos para realizar a sua leitura e edição, não sendo utilizado comumente como forma de entrega final de um trabalho para pessoas físicas. Normalmente é entregue para clientes como agências de publicidade ou que possuam programas específicos para lê-los e convertê-los em formatos de uso comum, tal como para a internet. 21 UNIDADE Da Fotografia Analógica à Digital e Composição/Linguagem Fotográfica Formato Jpeg Um dos primeiros arquivos digitais de imagem para câmeras fotográficas, o Jpeg é o formato mais difuso no mundo, devido à sua alta taxa de compressão, que possibilita imagens menores e mais leves, descartando informações que só seriam explícitas ao olhar humano em uma taxa de ampliação muito grande. Assim, o formato Jpeg é o arquivo mais utilizado, pois é aceito na internet, em impressão e outros diversos fins. Porém, para tal compressão acontecer, muita informação é perdida, principalmente ligada a cores, onde a compactação diminui a gama cromática original. Cabe lembrar que é possível ter vários tipos de compressão e que, quanto maior a compressão, maior será a perda de informações e detalhes na imagem. O que acontece no fluxo do trabalho de um fotógrafo profissional é que todas as imagens são originalmente captadas em RAW, onde não haverá compressão alguma. Com base na demanda da imagem – se for para impressão, mídia social etc. – o fotó- grafo realizará a edição e posteriormente exportará no formato Jpeg, de acordo com o tamanho e fins de uso da imagem. Desta forma, o profissional sempre manterá em seu acervo o “arquivo master” (RAW) e gerará diversos formatos e tamanhos de imagem, de acordo as necessidades do cliente – Tiff, Jpeg, DNG, PSD etc. Jpeg é a sigla do inglês Join Photography Expert Group. Cor Existem vários vieses de análise quando o assunto é cor. O mais importante na foto- grafia é o estudo da cor luz, que se diferencia completamente da cor pigmento e da psicologia das cores. O nosso sistema visual interpreta as diferentes composições de onda de luz como cores. Para reproduzir a cor luz existem dois métodos: aditivo e subtrativo. O método aditivo foi comprovado por James Clerk Maxwell pela teoria tricromática em 1850, ao demonstrar que com luzes de lanternas com os filtros azul (B = Blue), verde (G = Green) e vermelho (R = Red) onde, aumentando ou diminuindo a luminosidade de cada lanterna, torna-se possível recriar todas as cores do espectro. A combinação de duas cores primárias resulta em uma cor secundária e a mistura da máxima luminosi- dade das três cores primárias resulta em branco. Esse sistema é chamado também de RGB e permeia quase todos os aparelhos eletrônicos, tais como televisores, monitores, telefones celulares e câmeras fotográficas. 22 23 Figura 15 – Sistema aditivo RGB Fonte: Getty Images Já o método subtrativo tem as suas origens no trabalho de Louis Ducos du Hauron, cientista francês do final do século XIX e aperfeiçoado pelo doutor Hermann Vogel, em 1880, na Alemanha. Baseia-se na absorção da luz usando as cores complementares – se- cundárias da cor luz, sendo elas o ciano (C), magenta (M) e amarelo (Y = Yellow). Atual- mente, todos os sistemas ligados à tecnologia de impressão a jato de tinta baseiam-se no sistema subtrativo, e muitas impressoras profissionais utilizam mais que quatro cartuchos (ciano, magenta, amarelo e preto, formando o sistema CMYK, onde K significa black), tendo variações extras como light magenta e light ciano, proporcionando riqueza cromá- tica nas impressões fotográficas ainda maior. A união de duas cores secundárias forma uma cor primária e a união de todas as cores secundárias forma o preto. Figura 16 – Exemplo de impressora fotográfi ca profi ssional com 6 cartuchos Fonte: Getty Images 23 UNIDADE Da Fotografia Analógica à Digital e Composição/Linguagem Fotográfica O projetor é um sistema visual – e não de impressão –, que utiliza 3 lâmpadas CMY proje- tando sobre uma superfície branca e produzindo outras cores por meio de exposição à luz, misturando as suas intensidades de acordo a informação projetada. E qual é a importância de se entender os sistemas de cor e luz para o fotógrafo contemporâneo? Imensa! Na carreira de um fotógrafo existe extrema necessidade de edição de imagens, onde o conhecimento adquirido ajudará a corrigir as cores, tanto na edição quanto na impressão e até mesmo para o ato fotográfico – conforme veremosem seguida. Temperatura de Cor Se o nosso sistema visual interpreta a cor da luz de acordo o cumprimento de onda, há de se convir que diferentes fontes de luz emitem distintos cumprimentos, variando, assim, a cor da luz. Na fotografia analógica existiam filmes e filtros de cor para se utilizar e corrigir a cor da luz de acordo com a necessidade. Para exemplificar vejamos esta situação: uma igre- ja, por volta da década de 1980, possuía iluminação noturna, em sua maioria provinda de lâmpadas incandescentes que geram uma cor de luz amarelada/alaranjada. Agora imagine um fotógrafo utilizando um filme tradicional, projetado para a cor da luz do Sol. Significaria que em suas fotos, o vestido branco da noiva ficaria com tons muito ama- relos, destoando da realidade. Assim, o fotógrafo possuía duas opções: utilizar um filme tungstênio, que já possuía a correção de cor para que o branco fosse realmente branco, ou utilizar a filtros de correções para que o alaranjado fosse corrigido. Estes filtros eram, dentro da teoria da cor luz, a cor oposta (complementar) da cor que necessitava correção. Olhe a seguinte Figura para deduzir qual cor do filtro era necessária para se corrigir o excesso de alaranjado em uma foto: Figura 17 – Roda das cores (teoria da cor luz) Fonte: Wikimedia Commons 24 25 Se a sua resposta foi azul, você acertou. O fotógrafo da época analógica tinha a ne- cessidade de possuir um acervo de diversos filtros de correção para que, nas eventuais necessidades, corrigisse a situação a ser fotografada de acordo a fonte de iluminação. Figura 18 – Diversos fi ltros de correção utilizados na fotografi a analógica Fonte: Getty Images Na fotografia digital, uma grande evolução aconteceu, aposentando os filtros analógicos de correção. Devido aos sistemas digitais, os filtros se apresentam em todas as câmeras, sendo efetuada por meio de programação digital de correção da cor, de acordo com a situação fotografada. O Guia curso básico de fotografia (2016) define que [ ...] temperatura é uma forma de medição usada para determinar a cor da luz de um ambiente baseado na escala Kelvin, onde, quanto mais azulada for a luz, maior a sua temperatura; e quanto mais amarelada ou averme- lhada for a luz, menor a temperatura. Figura 19 – Escala Kelvin de temperatura em diferentes situações de iluminação Fonte: Guia curso básico de fotografia, 2016 As câmeras digitais possuem filtros eletrônicos que promovem a devida correção de modo a equilibrar a sensação da cor luz, tal como no seguinte exemplo: 25 UNIDADE Da Fotografia Analógica à Digital e Composição/Linguagem Fotográfica Figura 20 – Opções de regulagem de temperatura na própria câmera Fonte: Guia curso básico de fotografia, 2016 Um valor base muito importante para o fotógrafo é a temperatura de cor do Sol, que equivale a aproximadamente 5.200 a 5.500 k, ao meio-dia de um céu limpo. Com essa base vale a análise que temperaturas acima desta tenderão a tons de branco azulados (sombra, dia nublado), sendo necessária a aplicação de filtros eletrônicos que tendem ao amarelo para restabelecer o equilíbrio do branco. Já temperaturas abaixo a do Sol tenderão a tons de branco mais amarelados (como, por exemplo, a luz de tungstênio/ incandescente), sendo necessária a aplicação de filtros azuis para a correção. É importante ressaltar que a função de equilíbrio de branco (destacado na maioria das câmeras pela sigla WB – White Balance) é um fator que pode ser alterado posteriormen- te na edição de imagens. Porém, nos arquivos que sofreram compressão, como o Jpeg, essa correção é precária. Já no arquivo RAW esta informação é completa e pode ser alterada sem perda, sendo perfeitamente equivalente a se alterar antes. Mais uma vez, observa-se a importância do arquivo RAW para a fotografia profissional. Regras Básicas de Composição Fotográfica Ainda que esta Disciplina seja dedicada aos equipamentos fotográficos e às técnicas, as aplicações são fundamentais para resultados estéticos importantes e que dialogam com a linguagem e composição fotográfica. Durante as unidades abordaremos as aplicações estéticas que algumas técnicas permitirão e veremos que outras regras de composição são inerentes às próprias técnicas, por isto introduzidas aqui. Regra dos Terços Recurso muito utilizado em toda a história da arte, a regra dos terços é um auxílio para a distribuição dos elementos em cena. A regra preza que para dar maior ênfase ao assunto, este deve ser posicionado sobre as linhas e/ou, principalmente, sobre os 26 27 cruzamentos entre as linhas. A maioria das câmeras de telefones celulares e câmeras automáticas permite que estas linhas fiquem visíveis no display. Já alguns modelos de câmeras DSLR permitem ativação de uma grade, porém, não são exatamente equiva- lentes à regra dos terços. Figura 21 – À esquerda a retratada foi colocada sob a intersecção das linhas; à direita a retratada foi colocada sobre a linha vertical Fonte: Acervo do conteudista Figura 22 – A linha de horizonte foi colocada sobre uma das linhas horizontais da regra dos terços e o guarda-sol sobre o cruzamento Fonte: Acervo do conteudista 27 UNIDADE Da Fotografia Analógica à Digital e Composição/Linguagem Fotográfica Figura 23 – Regra dos terços aplicada Fonte: Wikimedia Commons Ponto de Vista – ou Posicionamento do Fotógrafo Uma simples mudança de comportamento do fotógrafo pode ser fundamental para explorar composições diferentes. Atualmente, por mais estranho que pareça, este fator é pouco explorado por muitos fotógrafos iniciantes que optam em fotografar em pé com a câmera na altura do olho. Procurar ângulos diferentes é algo que pode mudar completamente a estética da imagem levando a câmera a pontos de vista diferentes da visão humana. O fato é que em qualquer área da fotografia, procurar por pontos de vista inusitados é algo que pode supreender e gerar efeito impactante na produção de imagens. Alguns cuidados são importantes quando lidamos com o retrato, pois o posicionamento pode determinar a nossa opinião sobre aquilo que fotografamos. Portanto, o ponto de vista é uma maneira de exprimir um juízo, conceito, uma ideia sobre um assunto. Na Altura dos Olhos/Assunto Comumente nos traz a sensação de realidade, afinal, é construída a partir do ponto de vista natural do ser humano. O comportamento do fotógrafo de se posicionar com a câmera na altura do assunto é normalmente utilizada quando se tem o intuito de trans- mitir uma imagem natural. Figura 24 – Retrato realizado na altura da criança, trazendo uma sensação natural/real Fonte: Getty Images 28 29 Figura 25 Fonte: Getty Images Em retratos de bebês é importante se posicionar na altura da criança a fim de se evitar um julgamento de fragilidade; é igualmente fundamental o fotógrafo se posicionar na altura do assunto a ser registrado. Figura 26 – Na fotografi a de produtos é necessário posicionar a câmera na mesma altura do assunto para evitar distorção das características por este apresentadas Fonte: Getty Images De Baixo para Cima – Contra Ploungée/Contra Mergulho A fotografia feita de baixo para cima pode apresentar características importantes de imponência, gerando um efeito visual de grandiosidade. É um ângulo que vale se posicionar para uma exploração da grande maioria dos assuntos. Em pessoas, trará um efeito de gigantismo, provocando grandes distorções, mas deve ser explorada com cuidado. 29 UNIDADE Da Fotografia Analógica à Digital e Composição/Linguagem Fotográfica Figura 27 – Imagens de bombeiros como esta tendem a expremir um conceito de grandiosidade, uma vez que o fotógrafo se posiciona de baixo para cima ao realizá-la Fonte: Getty Images Figura 28 Fonte: Acervo do conteudista Retrato de executivo feita de baixo exprime uma sensação de autoridade e ao mesmo tempo gera grande distorção geométrica, parecendo que as pernas pareçam maiores e desproporcionais em relação à cabeça. 30 31 De Cima para Baixo – Ploungée/MergulhoF otografar de cima para baixo pode trazer sensações de submissão e fragilidade. Apesar disso, é um ângulo bastante aproveitável para se explorar em diversas condições, pois permite uma composição controlada de assunto. Em retratos trará uma despropor- ção entre a cabeça (parecendo muito maior) que o corpo. Na Gastronomia é um ângulo bastante utilizável, uma vez que muitos alimentos apresentam composições interessantes vistas desse ponto. Figura 29 – Retrato realizado de cima para baixo Fonte: Acervo do conteudista Figura 30 Fonte: Getty Images Fotografar pessoas de cima traz a sensação de uma cabeça muito maior, desproporcional ao corpo, mas pode ser realizada intencionalmente para gerar esse efeito e trazer maior atenção ao rosto do retratado. 31 UNIDADE Da Fotografia Analógica à Digital e Composição/Linguagem Fotográfica Figura 31 Fonte: Getty Images Na Gastronomia, a foto feita em mergulho é muito utilizada, pois promove um recorte objetivo no assunto, sem apresentar excesso de informação. Além disso, possibilita apresentar todo o conteúdo existente dentro de um prato, tal como neste exemplo. Faça um estudo de um objeto e o fotografe de vários ângulos. Observe as transformações das proporções e a ideia imposta sobre ele devido ao seu comportamento ao fotografá-lo. Constância Perceptiva A constância perceptiva corresponde a um conjunto de regras que dão sentido ao mundo que nos rodeia. Apesar de vivermos e enxergarmos em uma tridimensionalidade, na fotografia a imagem passa a ser bidimensional e, com isto, não temos a profundidade tridimensional, mas esta permanece na imagem graças a outros elementos que trazem de volta o volume (luzes e sombras) e a perspectiva. Dessa forma, diversos elementos em composição em uma fotografia podem nos apre- sentar linhas guias que servem para orientar o olhar do leitor ao assunto central. Essas linhas também nos geram a constância perceptiva, de modo que ao vermos duas pessoas em diferentes planos da imagem em tamanho distintos, não entendemos que uma é menor que a outra, mas somente que uma está mais distante que a outra. Façamos uma análise da seguinte Figura: 32 33 Figura 32 Fonte: Adaptada de Getty Images O corredor mais próximo nos parece muito maior que os corredores que vêm atrás, mas não por isto, dizemos que as pessoas atrás são menores que a da frente. Aqui estamos lidando com a constância perceptiva, comumente ligada à perspectiva que nos dá esta sensação. Além disso, nesta fotografia o assunto também sem encontra na regra dos terços, reforçando ainda mais a nossa atenção ao primeiro corredor. A perspectiva nos fornece muitas linhas guias que fazem com que o olhar percorra a imagem. Quando o fotógrafo a utiliza com sucesso, faz com que o seu assunto tenha mais atenção. Diversas linhas podem ser exploradas em uma composição, inclusive o olhar das pessoas gera a linha de força de composição. Figura 33 – Linhas diagonais Fonte: Acervo do conteudista Figuras 34 – Linhas curvas Fonte: Acervo do conteudista 33 UNIDADE Da Fotografia Analógica à Digital e Composição/Linguagem Fotográfica Padrão e Repetição A presença de padrões na imagem também traz uma sensação prazerosa ao olhar humano. Se o padrão é interrompido, tal interrupção gera grande tensão na imagem, levando olhar do leitor diretamente a ela. Figura 35 – Padrão de linhas diagonais formado em uma imagem Fonte: Acervo do conteudista Steve McCurry é um renomado fotógrafo, com diversos trabalhos pelo mundo e pela famosa ima- gem, capa da revista National Geographic, da garota afegã. No vídeo é possível analisar a aplicação destas regras de composição em suas imagens. Disponível em: https://youtu.be/7ZVyNjKSr0M É importante ressaltar que todas as regras aqui vistas e que veremos podem operar em conjunto, ressaltando ainda mais a exploração de imagens geniais e que exprimem a capacidade de comunicação única que a fotografia pode oferecer. 34 35 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Vídeos Como limpar sua câmera DSLR https://youtu.be/az5hHeoFMiQ Leitura Tipos de câmeras https://bit.ly/3eq3hVp Confira os melhores cartões de memória para sua câmera https://glo.bo/3vbVLV3 Diferença entre câmeras DSLR e Mirrorless https://bit.ly/2QlRoYE 35 UNIDADE Da Fotografia Analógica à Digital e Composição/Linguagem Fotográfica Referências ALVARENGA, A. L. Introdução à fotografia digital: a criatividade superando o equipa- mento. Botucatu, SP: [s.n.], 2008. ANG, T. Fotografia – o guia visual definitivo. São Paulo: Publifolha, 2015. GUIA curso de fotografia: fotografia básica. v. 1. São Paulo: On-Line, 2016. LANGFORD, M.; BILISSI, E. Fotografia avançada de Langford: guia completo para fotógrafos. São Paulo: Bookman, 2013. RAMALHO, J. A. Escola de fotografia – o guia básico, da técnica a estética. [S.l.]: Elsevier, 2013. TRIGO, T. Equipamento fotográfico – teoria e prática. São Paulo: Senac, 2015. 36 37 37
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