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MAPA - PENAL GERAL - APLICAÇÃO DA LEI PENAL 2021

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LEI PENAL
Fonte formal imediata do DP.
P. da Estrita Legalidade
Estrutura:
- preceito primário: descrição da conduta criminosa. Ex.: Art. 121 – matar alguém. 
- preceito secundário: sansão penal. Ex.: Pena de 6 a 20 anos de reclusão.
Caráter descritivo: 
- proibição direta: o preceito penal era direto. “dez mandamentos” – “não matarás” (não mate), “não roubarás” (não roube). 
- proibição indireta: o preceito penal do CP descreve a conduta criminosa. Ex.: matar alguém, subtrair para si ou para outrem.
Classificação:
1) lei penal incriminadora
- Lei Penal Completa ou perfeita – não precisa de complemento para ser aplicada, possui todos os elementos da conduta criminosa (definição, elementares, pena). Ex.: roubo, homicídio.
- Lei Penal Incompleta ou imperfeita – precisa de complemento para ser aplicada; tipo penal aberto (se o complemento for ato do juiz) ou norma penal em branco (se o complemento for outra norma penal ou ato administrativo).
· Tipo Penal Aberto – complemento valorativo – depende da interpretação, da valoração do julgador no caso concreto para que determinada conduta seja incriminada.
Ex.: homicídio culposo, o juiz diz se foi negligente/imprudente/imperícia.
Abandono intelectual, o juiz vai analisar se houve justa causa.
Ato obsceno, o juiz vai analisar no caso concreto.
Homicídio culposo
Art. 121, § 3º Se o homicídio é culposo:  
Pena - detenção, de um a três anos.
Abandono intelectual
Art. 246 - Deixar, sem justa causa, de prover à instrução primária de filho em idade escolar:
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.
Ato obsceno
Art. 233 - Praticar ato obsceno em lugar público, ou aberto ou exposto ao público:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
Nem todo crime culposo é um tipo aberto. 
Ex.: Receptação – crime culposo que é uma norma completa.
· Norma Penal em Branco – complemento normativo – o preceito primário é incompleto e exige um complemento dado por outra norma.
Franz von Liszt (jurista alemão): “corpo errante em busca de alma”
a) NPB Própria/em sentido estrito/heterogênea
O complemento não demanda da Lei em sentido estrito, mas de outra fonte normativa diversa (resolução, decreto, portaria).
Ex.: Lei de Drogas (lei) – define tráfico.
Portaria da ANVISA (ato infralegal administrativo) – define droga.
Estatuto do Desarmamento (lei) – só proíbe o porte e a posse da arma de fogo de uso restrito.
Decreto do PR (ato administrativo) – define o que é arma de fogo de uso restrito.
b) NPB Imprópria/em sentido amplo/homogênea 
O complemento demanda da mesma fonte normativa (lei editada pelo CN), Lei em sentido estrito (LO) editada pelo CN.
· Homovitelinas – o complemento demanda da mesma lei (editada pelo CN).
Ex.: CP - Peculato e CP – Funcionário Público (definição).
· Heterovitelinas – o complemento demanda de outra lei (editada as duas pelo CN).
Ex.: CP – conhecimento prévio de impedimento para casamento e CC – impedimento (definição).
c) NPB ao Revés/ao avesso/invertida/inversa/às avessas 
O complemento demanda SEMPRE de LEI em sentido estrito, porque só LEI pode cominar penas, e o que precisa ser complementado é o preceito secundário do tipo penal (pena).
Ex.: Lei de Genocídio – prevê o crime e CP (art.121, §2º) – prevê a pena.
d) NPB ao quadrado
A norma penal exige complementação e esta, por sua vez, também requer complementação.
Ex.: art. 38 da Lei n. 9.605/1998 (crimes ambientais) – “Destruir ou danificar floresta considerada de preservação permanente, mesmo que em formação, ou utilizá-la com infringência das normas de proteção.” 
As áreas de preservação permanente estão relacionadas na Lei n. 12.651/2012 (Código Florestal), que, por sua vez, requer nova complementação por ato do Chefe do Poder Executivo. 
NPB (lei) + NPBHom (lei) + NPBHet (ato administrativo)
e) NPB de fundo constitucional
O complemento da norma penal encontra-se na CF.
Ex.: homicídio qualificado contra autoridades e agentes de segurança (art. 121, Par. 2º, inciso VII, CP). 
Os integrantes dos órgãos de segurança pública estão descritos nos artigos 142 e 144, da CF/88. 
Ex.: art. 246, CP (abando no intelectual) – o conceito de “instrução primária” encontra-se no art. 208, I, da CF/88.
2) lei penal não-incriminadora
- permissivas justificantes: Causas excludentes de ilicitude (exclui a ilicitude, antijuridicidade provocada pelo agente). Legitima defesa, Estado de necessidade, Exercício regular do direito, Estrito cumprimento do dever legal. Causas excludentes de ilicitude específica, ex.: Aborto necessário ou no caso de gravidez resultante de estupro (art.128 CP).
- permissivas exculpantes: retiram a culpabilidade ou a imputabilidade. Ex.: menoridade penal, responde por ato infracional; prescrição.
- interpretativas: explicar o significado de outras normas penais. Ex.: conceito de funcionário público para fins penais (art. 327 CP), só se aplica o crime de peculato a funcionário público e o conceito explica quem é funcionário público.
- de extensão ou integrativa: necessárias para incriminar condutas especificas. Ex.: se a norma fosse só “matar alguém”, a tentativa não seria crime, mas tem a Tentativa (art.14, II), e para ser punida tem que combinar o art. 121 + art. 14, II.
Se a norma fosse só “matar alguém”, o terceiro que auxiliou (partícipe) não responderia por crime, mas tem a Concurso de Pessoas (art.29), e para ser punida tem que combinar o art. 121 + art. 29.
Se a norma fosse só “matar alguém”, o terceiro que tinha o dever de agir e não age não responderia por crime, mas tem Condutas omissivas improprias (art. 13, §2°) e para ser punida tem que combinar o art. 121 + art.13, §2º.
Características:
1) Exclusividade: somente a LEI incrimina condutas e define infrações penais (crimes e contravenções) e comina/ prevê sanções penais (penas e medida de segurança). 
Princípio da reserva legal ou estrita legalidade. 
2) Anterioridade: a lei penal só pode ser aplicada caso se encontre em vigor antes da prática da infração penal. 
3) Imperatividade: deve ser obedecida. Se desobedecida acarreta a aplicação de pena ou medida de segurança. 
4) Generalidade: aplica-se a todos, indistintamente. 
5) Impessoalidade: 
REGRA: descreve abstratamente fatos futuros; e não fatos passados, fatos concretos, tampouco pessoas. 
EXCEÇÃO: leis de anistia e abolitio criminis aplicam-se a fatos concretos e passados.
INTERPRETAÇÃO DA LEI PENAL
(muito cobrado em provas)
- Conceito: interpretar para buscar o real significado do texto legal. 
- Hermenêutica jurídica: ciência que fará o estudo da interpretação da lei penal. 
- Exegese: atividade de interpretar.
FORMAS DE INTERPRETAÇÃO DA LEI PENAL 
- Quanto ao sujeito 
1) Autêntica (legislativa): interpretação feita pelo próprio legislador com a finalidade de esclarecer uma determinada norma.
Ex.: CP, art. 327 (conceito de funcionário público). 
O próprio legislador é quem traz uma norma para explicar esse conceito. 
Pode ser:
- contextual: a norma interpretativa é editada junto com a norma originária. O legislador edita uma lei e junto já traz uma norma explicativa com a interpretação autentica (legislativa) naquela norma que ele editou.
Ex.: CP - Peculato e CP - Funcionário Público (definição).
- posterior: o legislador editou uma lei e posteriormente ele vai alterar essa lei com as devidas interpretações do que havia sido previsto previamente.
Visa a dirimir a incerteza ou obscuridade da lei anterior.
Possui eficácia retroativa (ex tunc), ainda que seja mais gravosa ao réu. 
Ex.: existe uma norma penal que incrimine determinada conduta, porém a conduta exige uma interpretação porque não está bem esclarecida. Passado um ano, o legislador edita uma nova lei para explicar aquela conduta incriminada anteriormente. Neste meio tempo, entre a edição da norma incriminadora e essa nova norma penal que trouxe essa interpretação autêntica, foi praticada a conduta. Nesse caso, essa nova norma pode ser aplicada ao agente, vez que a norma penal incriminadora já existia. O que vem a existir agora é interpretação autêntica de umanorma penal que já existia, assim, pode ser aplicada a fatos anteriores a sua vigência, ainda que para prejudicar o réu.
2) Doutrinária: interpretação feita pelos doutrinadores. 
Ex.: autores de livros que interpretam a lei penal.
Exposição de motivos do Código Penal – o legislador explica quais as doutrinas utilizadas para a produção da lei penal. 
3) Judicial (jurisprudencial): interpretação feita pelos juízes e tribunais.
Interpretação judicial vinculando o Poder Público. Pode possuir força vinculante (STF: súmulas vinculantes; STJ: recursos repetitivos).
- Quanto aos meios ou métodos 
1) Gramatical (literal, sintática ou filológica): considera literalmente a norma e suas palavras. 
É só o que a lei disse e ponto (letra da lei), e não interessa o que a lei quis dizer ou o que alguém pensa sobre ela (espirito da lei).
2) Lógica (teleológica): destina-se a cumprir a finalidade da lei. 
Interessa o que a lei quis dizer ou o que alguém pensa sobre ela (espirito da lei). Falou uma coisa, mas a intenção do legislador era falar outra coisa, faz-se a interpretação devida em relação a finalidade da lei.
A interpretação teleológica busca alcançar a finalidade da lei, aquilo que ela se destina a regular.
A lei penal admite interpretação analógica, recurso que permite a ampliação do conteúdo da lei penal, através da indicação de fórmula genérica pelo legislador.
- Quanto ao resultado 
1) Declaratória: a letra da lei (declarou) corresponde exatamente àquilo que o legislador quis dizer. 
2) Extensiva: a lei disse menos do que deseja, ou seja, é preciso ampliar/estender a compreensão da lei. 
Interpreta de forma ampla a lei para alcançar o real significado da norma; não há lacuna;
Ex.: extorsão mediante sequestro (Art. 159 do CP) e sequestro ou cárcere privado (Art. 148 do CP). O legislador só falou em extorsão mediante sequestro, mas se estende para a extorsão mediante cárcere privado.
3) Restritiva: a lei informou mais do que deseja, por isso tem que restringir a interpretação da norma. 
Interpretação Progressiva (adaptativa, evolutiva): busca trazer a lei para os dias atuais, de acordo com as mudanças na sociedade, e ajusta a lei à realidade atual. Ex.: conceito de ato obsceno para fins da prática do crime do art. 233, CP é interpretada de acordo com o que é vivido pela sociedade.
Busca o significado legal de acordo com o progresso da ciência.
ANALOGIA 
X 
INTERPRETAÇÃO ANALÓGICA
- Interpretação Analógica: é admitida no DP tanto para beneficiar quanto para prejudicar o réu. E ocorre quando a norma penal traz uma fórmula casuística/específica seguida de uma fórmula genérica (pode adequar outras condutas). 
Na interpretação da lei, há uma lei a ser interpretada, e eventualmente, se utiliza da interpretação analógica para aumentar e criar os efeitos daquela situação que o legislador havia previsto em lei. Está previsto em lei, e utilizamos da lei para fazer a interpretação.
Ex.: Interpretação Analógica que prejudica o réu
Homicídio qualificado – CP, Art. 121, § 2º: 
I – mediante paga ou promessa de recompensa (fórmula casuística porque o legislador previu expressamente que é um motivo torpe), ou por outro motivo torpe (fórmula genérica pode aplicar outras condutas ao motivo torpe); 
Outro motivo torpe (horrenda, repugnante): Filhos que matam os pais para ficar com sua herança.
O Judiciário pode aplicar a qualificadora do motivo torpe a situações que não estão expressas em lei, mas se encaixam nessa classificação, utilizando a fórmula genérica que o legislador trouxe, e adequando outras condutas ao motivo torpe.
III – com emprego de veneno (fórmula casuística meio insidioso), fogo e explosivo (fórmula casuística meio cruel), asfixia, tortura (fórmula casuística) ou outro meio insidioso ou cruel (fórmula genérica), ou de que possa resultar perigo comum; 
IV – à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação (fórmula casuística) ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido (fórmula genérica). 
- Analogia (integração/aplicação analógica): só terá aplicação no DP in bonam partem, ou seja, se for para beneficiar o réu. 
Não é uma forma de interpretação da lei, mas sim uma forma de integração do Direito. 
A analogia é utilizada como uma forma de integração diante da existência de uma lacuna legal (vácuo legislativo). Ou seja, o legislador nada dispôs a respeito de uma situação, então emprega-se a analogia como uma forma de integração da lei penal, para então adequar uma determinada conduta a uma norma incriminadora.
A analogia não é meio de interpretação extensiva, porque há lacuna.
As leis penais devem ser interpretadas sem ampliações por analogia, salvo para beneficiar o réu.
Ex.: CP, art. 181 (escusa absolutória) – É isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos neste título (crimes contra o patrimônio), em prejuízo: 
I – do cônjuge, na constância da sociedade conjugal. 
Aplica por analogia às relações de união estável.
REGRA: é isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos neste título (crimes contra o patrimônio), em prejuízo:
II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo ou ilegítimo, seja civil ou natural (pai que subtrai bens do filho ou filho que subtrai bens do pai).
EXCEÇÃO: Se o pai tiver mais de sessenta anos ou cometido com violência ou grave ameaça.
CONFLITO APARENTE DE NORMAS
Conflito aparente (não real): uma única conduta (fato) poderiam ser aplicadas dois ou mais tipos penais, mas só se pode ter uma norma aplicada a um fato; pode resolver aplicando princípios.
A doutrina traz os princípios que solucionarão esse conflito.
Para a ocorrência do conflito aparente deve haver, portanto: 
1. Unidade (único) de fato. 
2. Pluralidade de leis ou normas penais de mesma hierarquia e vigentes à época do fato. 
OBS.: se forem de hierarquias distintas, não haverá conflito e aplica-se o chamado critério hierárquico. 
Ex.: CF está acima das leis, se a lei está em desacordo com a CF, será inconstitucional.
OBS.: se não tiverem vigentes à época do fato, não haverá conflito e aplica-se o critério cronológico.
Ex.: quando um tipo penal é revogado por outro tipo penal. 
O conflito aparente de normas penais tem por requisito a unidade fática; a pluralidade de normas aplicáveis ao mesmo fato (aparente) e a vigência contemporânea de todas elas.
Finalidades da solução do conflito aparente: 
1. Evitar o bis in idem. 
Não se podem aplicar duas normas distintas a um mesmo fato.
2. Manter a coerência do Direito Penal. 
Evitar a insegurança jurídica.
Princípios para solução do conflito aparente de normas penais: CASE
1. Consunção ou Absorção (mais cobrado)
(lex consumens derogat legi consumptae)
A norma mais grave e abrangente absorve a norma menos grave abrangente. 
O crime-fim absorve o crime-meio. 
Afasta-se o bis in idem, uma vez que o fato menos amplo seria punido separadamente do fato mais amplo, do qual é integrante. 
Um único fato (e não a pluralidade de fatos) e a pluralidade de normas são pressupostos do conflito, que aparentemente com eles se identificam.
1ª HIPÓTESE: Crime Complexo (fusão de dois ou mais tipos penais) 
Ex.: Roubo = Furto (porque há uma subtração) + Constrangimento ilegal ou ameaça ou violência ou lesão corporal. 
Não se aplica furto + outro crime porque o Código Penal previu um tipo penal que vai abranger esses dois tipos penais; os crimes de furto e de constrangimento ilegal são absorvidos pelo crime de roubo. 
O crime complexo pode ser mais grave que a soma dos dois tipos penais que o formam. 
Extorsão mediante sequestro = Sequestro ou cárcere privado + Extorsão. 
Obs.: parte da doutrina discorda que o crime complexo seja uma hipótese de princípio da consunção, uma vez que não há conflito se a própria lei criou um tipo penal específico, resultante da fusão de dois ou mais tipos penais.
Considere que Alberto, querendo apoderar-se dos bens de Cícero, tenha apontado uma arma de fogo em direção a ele, constrangendo-o a entregar-lhe a carteira e o aparelho celular. Nessa situação hipotética,da mera comparação entre os tipos descritos como crime de constrangimento ilegal e crime de roubo, aplica-se o princípio da consunção a fim de se tipificar a conduta de Alberto.
Portando ilegalmente, exclusivamente para aquela ação, uma arma de fogo de calibre permitido, Norberto constrange um transeunte e, mediante grave ameaça, subtrai para si os seus pertences. Nesse contexto, afirma-se que:
· há apenas crime de roubo, solucionando-se o caso pelo princípio da consunção, pois o delito patrimonial, ao estabelecer a grave ameaça como meio executório, insere o porte de arma em sua estrutura típica, acrescido de elementos especializantes.
· será o porte de arma absorvido pelo crime de roubo em virtude do dolo, e não é característica da progressão criminosa, que determina o reconhecimento do conflito aparente de normas.
· aplica-se ao caso o princípio da consunção, pois nas condutas há diferentes graus de lesão à mesma objetividade jurídica, em uma relação de continente e conteúdo.
· o autor responde somente pelo crime de roubo (CP, Art. 157, § 2º – A, I), não pelo de porte de arma de fogo, pois a pena do crime patrimonial já engloba a reprovabilidade do delito previsto na lei especial, consequência da unidade fática entre ambos, aplicando-se o princípio da consunção. 
· tutelando bens jurídicos distintos, as normas penais referentes aos crimes de porte de arma de fogo e roubo não figurarão em concurso material de delitos, e não se aplicando ao caso o sistema do cúmulo material das penas.
2ª HIPÓTESE: Crime Progressivo (crimes de ação de passagem) 
O dolo do agente é voltado para um resultado que, necessariamente, passa por outro tipo penal. O ato final (dolo) consome os atos anteriores. 
Ex.: "A" utiliza uma arma de corte para ceifar a vida de B. Assim, o golpeia repetidas vezes na região do tórax, até que consegue alcançar seu objetivo. Durante a prática desse crime foi praticado também o crime de lesão corporal (art. 129 do CP). Porém o agente só vai responder pelo resultado que ele causou, bem como pelo dolo dele, pela sua intenção. O homicídio é o que se conhece por crime progressivo. Para que seja praticado o homicídio (crime-fim), o agente necessariamente vai ter que passar por uma lesão corporal (crime meio). 
O crime-fim absorve o crime meio.
No crime progressivo, o sujeito, para alcançar o crime querido, passa necessariamente por outro menos grave que aquele desejado.
3ª Hipótese: Progressão Criminosa 
Ex.: "A" pretende gerar lesões corporais em B e, para tanto, desfere socos em sua face. Após alcançar seu intento, altera seu dolo e continua desferindo socos com a finalidade de tirar sua vida. "A" responderá apenas pelo crime de homicídio, não responde pelas lesões corporais. Ambos foram praticados no mesmo contexto fático, e houve uma progressão criminosa. 
O crime-fim, o crime mais grave, absorve o crime-meio, o crime menos grave. 
O dolo do agente é voltado para um crime menor. Todavia, após consumá-lo, substitui seu dolo para alcançar um resultado mais grave. 
O crime menos grave vai passar a ser um crime-meio (que é a lesão corporal) e será absorvido pelo crime-fim, o agente vai responder somente pelo seu intento final, o crime de homicídio.
A questão da progressão criminosa e do crime progressivo é resolvida pelo princípio da absorção ou consunção.
Na progressão criminosa, o agente inicialmente pretender praticar um crime menos grave, e, depois, resolve progredir para o mais grave.
A consunção, pela qual uma conduta absorve outra, é possível no crime progressivo, no crime complexo e na progressão criminosa. No crime progressivo e no crime complexo há unidade de desígnios do sujeito ativo, desde o primeiro ato, mas não na progressão criminosa.
4ª Hipótese: Fatos Impuníveis 
O crime-meio é absorvido pelo crime-fim. 
Ex.: furto em interior de residência (art. 155, CP) absorve o crime de violação de domicílio (art. 150, CP). 
Se o agente entra na residência da vítima, ele pratica o crime de violação de domicílio. Mas ele entrou na residência da vítima não com a intenção de violar o domicílio, mas como um meio para a prática de um crime-fim: o furto em interior de residência. 
Ele vai responder somente pelo resultado final, pelo dolo que ele tinha, o crime-fim, que é o furto. 
Ex.: lesões corporais leves suportadas por uma mulher, vítima de estupro, são absorvidas por este delito. 
O crime de estupro pressupõe que a vítima vai sofrer lesões corporais leves, sejam lesões íntimas, sejam outros tipos de lesões que o agente impôs mediante violência para que houvesse a conjunção carnal ou outros atos libidinosos. 
Se a vítima de um estupro sofre lesões corporais leves (crime meio), o agente vai responder somente pelo estupro (crime-fim). 
Se gerar lesões corporais graves ou gravíssimas, o agente vai responder pelo estupro qualificado, a pena vai ser maior e será levado em consideração essa lesão corporal grave sofrida pela vítima.
Súmula 17 do STJ: Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é por este absorvido. 
Esse falso á a falsidade documental, são os crimes contra a fé pública. 
Se alguém pratica uma falsificação de documento público (CP, Art. 297 – crimes contra a fé pública, pena 2 a 6 anos) com a finalidade de praticar o estelionato (CP, Art. 171, pena 1 a 5 anos), o estelionato vai absorver essa falsidade documental. O agente vai responder somente pelo estelionato. 
Essa súmula tem uma falha, é uma impropriedade jurídica, dispõe que o estelionato, que é um crime mais branda, está absorvendo um crime mais grave, que é o falso. 
Ex.: falsifica a identidade com a única finalidade de praticar o estelionato. Responde somente pelo estelionato.
5ª Hipótese: Pós-fatos impuníveis 
Nova ofensa praticada contra o bem jurídico, mas que fazia parte do dolo inicial do agente. Pode ser considerado um exaurimento do crime praticado e, por isso, não será punido. 
Ex.: João subtrai (furto) um aparelho celular com a finalidade de vendê-lo e obter lucro. Assim, após o furto, anuncia e consegue vender o referido aparelho para um terceiro de boa-fé (estelionato) é mero exaurimento, fazia parte do intento inicial do agente.
Não faz parte do iter criminis mas faz parte do mesmo contexto, então não se imputa um crime específico, um crime à parte a esse agente.
Ex.: João subtrai um aparelho celular com a finalidade de uso próprio responderá por furto. Porém com o passar dos meses resolve vendê-lo, responderá por outro crime, o de estelionato. 
“Um fato definido por uma norma incriminadora é meio necessário (crime-meio) ou normal fase de preparação ou execução de outro crime (crime fim), bem como quando constitui conduta anterior ou posterior do agente, cometida com a mesma finalidade prática atinente àquele crime”. No conflito aparente de normas, esta afirmação explica o princípio da consunção.
2. Alternatividade. 
São os tipos mistos alternativos, de ação múltipla ou de conteúdo variado, possuem várias condutas (verbos).
Receptação
CP, Art. 180. Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte. 
Adquire um celular sabendo que é fruto de roubo, oculta e influi para que terceiro adquira o celular, mesmo contexto fático praticou diversos verbos, responde por um crime.
Depois de um mês, adquiriu outro celular sabendo que é fruto de roubo, ocultou e influi para que terceiro adquira o celular, já não é o mesmo contexto fático, praticou diversos verbos, responderá por outro crime.
Responderá por Concurso material de crimes.
Tráfico
Lei 11.343. Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar.
Importou da Colômbia 100kg de cocaína, alterou a química paraficar mais potente e depois exportou para Europa, mesmo contexto fático praticou diversos verbos, responde por um crime. 
Depois de um mês, importou da Colômbia mais 100kg de cocaína, alterou a química para ficar mais potente e depois exportou para Europa, já não é o mesmo contexto fático, praticou diversos verbos, responderá por outro crime.
Responderá por Concurso material de crimes.
 3. Subsidiariedade. 
(lex primaria derogat legi subsidiarie) 
Só se aplica a norma subsidiária (norma sempre mais branda) se não conseguir aplicar a norma principal (norma mais grave). 
Busca-se aplicar ao agente a norma principal (mais grave). 
Se a norma mais grave se aplica ao fato praticado pelo agente, excelente. Se não for aplicável, conta-se com uma norma subsidiária, que vai ser uma norma mais ampla e que será uma norma mais branda, que não é tão grave quanto a norma principal. 
A norma subsidiária descreve um grau menor de lesividade ao bem jurídico e, necessariamente, um tipo penal apenado mais brandamente.
1) Norma primária, mais grave, deve prevalecer sobre a norma subsidiária, mais branda. 
2) A norma subsidiária está inserida na norma principal.
3) A norma subsidiária age como “soldado de reserva”, devendo ser aplicada quando não estiverem presentes todas as elementares da norma principal. 
O princípio da subsidiariedade atua como “soldado de reserva”, aplicando a norma subsidiária menos grave quando impossível a aplicação da norma principal mais grave.
4) Ao contrário do princípio da especialidade, a aplicação do princípio da subsidiariedade se dará mediante análise do caso concreto.
Pelo princípio da subsidiariedade, é indispensável o caso concreto para se saber qual a norma aplicável. A análise é feita de forma concreta, confrontando-se as normas.
Há duas formas de subsidiariedade: 
- Subsidiariedade expressa 
A lei declara explicitamente a subsidiariedade da norma. 
Perigo para a vida ou saúde de outrem (NORMA SUBSIDIÁRIA)
CP, Art. 132. Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente: 
Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato não constitui crime mais grave. 
Crime de explosão (NORMA PRINCIPAL)
CP, Art. 251. Expor a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem, mediante explosão, arremesso ou simples colocação de engenho de dinamite ou de substância de efeitos análogos:
Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa.
Falsa identidade (NORMA SUBSIDIÁRIA)
Art. 307. Atribuir-se ou atribuir a terceiro falsa identidade para obter vantagem, em proveito próprio ou alheio, ou para causar dano a outrem: 
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa, se o fato não constitui elemento de crime mais grave.
Uso de documento falso (NORMA PRINCIPAL)
Art. 304 - Fazer uso de qualquer dos papéis falsificados ou alterados, a que se referem os arts. 297 a 302:
Pena - a cominada à falsificação ou à alteração.
- Subsidiariedade tácita 
O fato típico mais grave é aplicado em detrimento do fato típico menos grave, o qual integra a descrição típica do primeiro. 
Não está expressamente previsto em lei que aquela norma é subsidiária. 
Constrangimento ilegal (NORMA SUBSIDIÁRIA)
Art. 146. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda: 
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. 
Extorsão (NORMA PRINCIPAL)
Art. 158. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer alguma coisa: 
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa. 
Estupro (NORMA PRINCIPAL)
Art. 213.  Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso:           
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos.           
4. Especialidade (mais cobrado)
(lex specialis derogat legi generali) 
Lei especial revoga a lei geral.
Pedro subtraiu bem móvel pertencente à Administração Pública, valendo-se da facilidade propiciada pela condição de funcionário público. Pedro responderá pelo crime de peculato (crime especial) e não pelo delito de furto (norma geral) em decorrência do princípio da especialidade.
A norma especial prevalece sobre a norma geral e, não necessariamente, descreve um tipo penal apenado mais severamente.
1. Afasta-se a aplicação da lei penal geral para que se aplique a lei penal especial, a qual possui elementos especializantes. 
2. Tudo o que está na norma geral, está também na norma especial. As normas especiais possuem alguns elementos a mais, que as deixam mais específicas Mas o tipo geral não possui todos os elementos do tipo especial. 
Ex.: art. 121. Matar (núcleo) alguém (elementar do crime). 
3. Não se leva em consideração a gravidade da lei penal.
 A norma especial pode ser punida de maneira mais branda ou mais grave que a norma geral.
 A gravidade da norma não será relevante para aplicação do princípio da especialidade.
A preocupação não é punir o agente de maneira mais grave, mas sim de aplicar a ele a norma que é específica à conduta que ele praticou. 
4. A análise de qual norma é especial é feita em caráter abstrato. 
Não é preciso analisar um caso concreto para entender que “neste caso concreto aquela norma é especial”. É possível comparar abstratamente os dois tipos penais: Código Penal e legislação penal especial. 
Pelo princípio da especialidade, prescinde-se do caso concreto para se saber qual a norma aplicável. A análise é feita de forma abstrata, confrontando-se as normas.
1º exemplo: 
Homicídio simples (NORMA GERAL)
CP, Art. 121. Matar alguém: 
Pena – reclusão, de seis a vinte anos. 
Infanticídio (NORMA ESPECIAL) – tem mais elementares e a pena é mais branda
CP, Art. 123. Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após: 
Pena – detenção, de dois a seis anos. 
2º exemplo: 
Contrabando (NORMA GERAL)
CP, Art. 334-A. Importar ou exportar mercadoria proibida: 
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos. 
Tráfico de Drogas (NORMA ESPECIAL) – tem mais elementares e a pena é mais grave
Art. 33, Lei n. 11.343/2006 Importar, exportar, (...) drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: 
Pena – reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa.
OBS.: Transnacionalidade do Tráfico de Drogas
Art. 40, I, Lei n. 11.343/2006 - aplica-se aumento de pena de 1/6 a 2/3 a procedência da substância ou do produto apreendido e as circunstâncias do fato evidenciarem ser de outro país. 
3º exemplo: 
Difamação (NORMA GERAL)
Art. 139. Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação: 
Pena – detenção, de três meses a um ano, e multa. 
Calúnia (NORMA ESPECIAL – porque calúnia é um fato ofensivo)
Art. 138. Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime: 
Pena – detenção, de seis meses a dois anos, e multa.
4º exemplo: Normas privilegiadas 
Furto Simples (NORMA GERAL)
Art. 155. Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: 
Furto Privilegiado (NORMA ESPECIAL)
§ 2º Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa. 
Homicídio Simples
Art. 121. Matar alguém (NORMA GERAL) 
Homicídio Privilegiado (NORMA ESPECIAL)
§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.

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