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HERMENÊUTICA JURÍDICA Hermenêutica x Interpretação do Direito Hermenêutica: técnica científica da teoria interpretativa Interpretação: investigação do SENTIDO e do ALCANCE da norma jurídica Espécies de Interpretação (origem/agente) . Autêntica ou Legislativa – lei secundária x lei primária . Usual ou Judicial . Administrativa . Doutrinária . Casuística . Leiga Interpretatio cessat in claris. Quamvis sit manifestissimum edictum praetoris, attamen non est negligenda interpretatio ejus. . Cum in verbis nulla ambiguitas est, non debet admitti voluntatis quaestio. Métodos de Interpretação Emprega-se aqui o termo método no sentido estrito correspondente ao seu significado etimológico (methá+ odos), caminho ou via para um objetivo, isto é, um conjunto de regras tendentes a um resultado. No caso, regras técnicas construídas pela dogmática jurídica para a interpretação do “sentido” (ratio juris) e do “alcance” (caso ou grupo de casos que abrange) da norma escrita. ■ Por vezes os métodos são também denominados “processos”, “instrumentos” ou “elementos” de interpretação. As denominações atribuídas aos métodos hermenêuticos clássicos (gramatical, teleológico, histórico, sistemático) corresponde a uma concepção do papel prevalente que uma ou outra instância representa na pré-compreensão do Direito adotada pelo intérprete. Lembre-se que mesmo a hermenêutica clássica reconhece que a classificação dos métodos só é possível de um ângulo analítico, não sendo possível afirmar que o emprego prático das variadas técnicas ocorra em etapas identificáveis de per si. Gramatical (literal, filológico ou semântico) Verba legis Algumas regras: a) Atender aos usos locais da linguagem; b) Presunção de que a lei não contém palavras supérfluas; c) Situação do termo no texto; d) Verificar impropriedade de termos, obscuridade, lapsos de redação, imprecisão, erros crassos; e) Evitar “traduções”; f) Cautela com as “armadilhas” da linguagem (Ex.: o e e o ou; pode x deve; as vírgulas; o etc; as mutações semânticas, etc... (Lembrar da Escola da Exegese) ■ Em se tratando de direito escrito é pelo elemento gramatical que o intérprete toma o primeiro contato com a proposição normativa. Malgrado a palavra se revele, às vezes, um instrumento rude de manifestação do pensamento, pois nem sempre consegue traduzir as idéias, constitui a forma definitiva de apresentação do Direito, pelas vantagens que oferece do ponto de vista da segurança jurídica. PAULO NADER ■ Observações: ■ No âmbito do Direito Constitucional, o texto normativo já não é visto como determinante da interpretação, é apenas “a ponta do iceberg”. A norma é mais que o seu texto de norma. A concretização prática da norma é mais do que a interpretação do texto. (Friedrich Müller) ■ A linguagem constitucional, mais que a da legislação ordinária, em face de sua conotação eminentemente política, utiliza frequentemente termos abertamente valorativos e em contextos onde não há isomorfia. Nessas condições, a interpretação literal tem reduzida valia. (Jerzy Wróblewski) Sistemático ou Lógico-sistemático 1º (?) Lógico (Princípio da Coerência do ordenamento jurídico) 2º (?) Sistemático (Princípio da Unidade do ordenamento jurídico) Compreender a norma nos contextos: a) da própria lei ou ato normativo; b) do ordenamento jurídico. Um exemplo: CF 53 x 2º ■ Partindo da idéia de que apenas se reconhece uma diretiva de comportamento como norma jurídica se essa prescrição, proibição ou permissão pertence à ordem de conduta denominada Direito, isto é, tendo em vista que a norma não é jurídica per se, dá-se um enfoque estrutural do Direito: o jurista percorre um caminho que vai da parte ao todo, isto é, da norma ao ordenamento, para a compreensão da estrutura, o que é dizer, do SISTEMA. (Norberto Bobbio) ■ Para Canaris está superada a abordagem “neutra” do sistema jurídico, que deve ser entendido como ordem teleológica, mesclando-se a interpretação sistemática com a finalística. ■ No Direito Constitucional, a interpretação sistemática foi enriquecida materialmente, agregando-se a idéia de valores no sistema e relevando a função que os princípios jurídicos nele desempenham, distanciando-se da formulação sistemática que remonta a Savigny. Histórico Occasio legis Investigação dos antecedentes: . Processo legislativo (exposição de motivos, emendas, discussões) . Circunstâncias de fato - Compreensão do desenvolvimento e evolução dos institutos jurídicos (história interna) e fatos históricos com significação jurídica (história externa) ■ O Direito atual, manifesto em leis, códigos e costumes, é um prolongamento do Direito antigo. A evolução da ciência jurídica nunca se fez mediante saltos, mas através de conquistas graduais, que acompanharam a evolução cultural registrada em cada época. Quase todos os institutos jurídicos atuais têm suas raízes no passado, ligando-se às legislações antigas. PAULO NADER ■ métodos “histórico-evolutivo” (Escola da Exegese – “Revolta dos fatos contra os Códigos” ■ O significa do da regra legal não é, portanto, nenhum fato do passado conectado por vínculos fictícios com a vontade do legislador histórico. A ser assim, o direito resultaria um governo dos mortos sobre os vivos. WRÓBLEWSKI Teleológico ou Sociológico - Não há critério capaz de definir a hierarquia dos métodos mas seguramente este é o preferido pelos juristas que consideram o Direito uma ciência finalística. - JHERING – Os fins no Direito – discussão com o historicismo e especialmente com o pandectismo - A norma jurídica não é um fim em si mesma. ■ LINDB, art. 5º - Na aplicação da lei o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se destina e às exigências do bem comum. ■ As expressões “fins sociais” e “bem comum” são entendidas como sínteses éticas da vida em comunidade. Sua menção pressupõe uma unidade de objetivos do comportamento social do homem. Os “fins sociais” são ditos do direito. Postula-se que a ordem jurídica, como um todo, seja sempre um conjunto de preceitos para a realização da sociabilidade humana. ■ Faz-se mister assim encontrar nas leis, nas constituições, nos decretos, em todas as manifestações normativas o seu telos (fim) que não pode jamais ser anti-social. Já o “bem comum” postula uma exigência que se faz à própria sociabilidade. Isto é, não se trata de um fim do direito mas da própria vida social. TERCIO SAMPAIO FERRAZ JR. ■ A menção a “fins sociais” é responsável pela denominação de “método sociológico”, adotada por alguns doutrinadores. ■ Como realizar a interpretação teleológica de uma lei muito antiga? ■ “Atualização” de fins ■ Objetivos pragmáticos, segundo MACHADO NETO: a) conferir a aplicabilidade da norma às relações sociais que lhe deram origem; b) estender o sentido da norma a relações novas, inéditas ao tempo de sua criação; c) temperar o alcance do preceito normativo, a fim de fazê-lo corresponder às necessidades reais e atuais de caráter social. ■ Observações: ■ Tal como no método sistemático, a interpretação teleológica requer a consideração do direito como um sistema, os fins são contextualizados no ordenamento. ■ A invocação a fins remete à perquirição dos valores, por isso é também chamado método teleológico-axiológico. Efeitos da Interpretação resultado – dimensão – alcance Interpretação Declarativa ou Especificadora (disse o legislador exatamente o que pretendia dizer?) Interpretação Extensiva (disse o legislador menos do que pretendia?) – considera novos casos não literalmente previstos como abrangidos pela norma) Ex.: CF, 31, § 3º É possível distinguir interpretação extensiva da analogia? Em tese, sim: 1º na interpretação extensiva há uma norma, limitando-se o intérprete a incluir um sentido subentendido; 2º na analogia não há norma alguma, outra prevista para outro caso é tomada de empréstimo, por identidade da ratio juris. Nos casosconcretos, nem sempre se pode estabelecer a diferença. Interpretação Restritiva (disse o legislador mais do que queria dizer?) – nesse caso é preciso limitar ou restringir o alcance da norma (situação mais próxima possível da interpretação declarativa, estritamente dentro da expressão literal) - Efeito próprio de normas jurídicas: penais, tributárias, restritivas de direitos e garantias fundamentais, normas excepcionais, enumerações taxativas. Teorias, doutrinas ou correntes interpretativas Subjetivista - investigação da mens legislatoris - vontade do legislador Objetivista – investigação da mens legis - vontade da lei Questões Qual ou quais métodos favorecem uma postura subjetivista? Qual ou quais métodos favorecem uma postura objetivista? Quais são as objeções que podem ser apresentadas a ambas as posições doadoras de sentido as normas? Respostas ■ SUBJETIVISTA - Os métodos GRAMATICAL e HISTÓRICO ■ OBJETIVISTA - Os métodos SISTEMÁTICO e TELEOLÓGICO (este último em menor escala, porque se é tentado a indagar os fins do legislador). SUBJETIVISMO (ou originalismo, ou não intertativismo) a) A vontade do legislador é ficção (argumento da vontade) b) O legislador é apenas uma competência legal (argumento da forma) c) O intérprete tem que confiar nas expressões literais (argumento da confiança) d) Só fatores objetivos justificam novas concepções imprimidas pela jurisprudência em face das mudanças sociais) KARL ENGISCH, apud TERCIO SAMPAIO FERRAZ JR. OBJETIVISMO – ou interpretativismo a) É impossível ignorar o legislador originário b) Quando se perquire a vontade da lei, o subjetivismo do intérprete se sobrepõe a vontade do legislador, este sim, competente c) À mercê da opinião do intérprete, está em perigo a segurança e a certeza do direito.