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Curso de Bacharelado em Direito 
Campus Recife 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Recife – PE 
2016 
 
 
SUMÁRIO 
PLANO DE AULA GERAL 2016.2 .......................................................................................................................... 2 
PLANO DE AULA ANALÍTICO 2016.2 ................................................................................................................... 3 
1. HERMENÊUTICA JURÍDICA E CONCEPÇÕES DE LINGUAGEM ................................................................... 4 
1.1. LINGUA E LINGUAGEM .............................................................................................................................. 4 
1.2. SÍMBOLOS E LINGUAGEM ........................................................................................................................ 4 
1.3. OS SIGNOS E A MENTE (PIERCE, SEMIÓTICA, ED. PERSPECTIVA, 2010, P. 260.) ............................ 4 
2. REALIDADE E LINGUAGEM .............................................................................................................................. 4 
2.1. RELAÇÃO ENTRE “REALIDADE” E LINGUAGEM ................................................................................... 4 
2.1.1. O ABISMO DO CONHECIMENTO ENTRE ESSENCIALISMO E CONVENCIONALISMO ................ 4 
2.1.2. LINGUAGEM E O ABISMO GNOSIOLÓGICO .................................................................................... 5 
3.1.2.1. O ABISMO GNOSIOLÓGICO ............................................................................................................. 5 
3. LINGUAGEM E LINGUAGEM JURÍDICA ........................................................................................................... 5 
3.1. LINGUAGEM ................................................................................................................................................ 5 
3.2. LINGUAGEM JURÍDICA .............................................................................................................................. 6 
3.3. OS PROBLEMAS DA LINGUAGEM ........................................................................................................... 6 
3.3.1. VAGUESA ............................................................................................................................................. 6 
3.3.2. AMBIGUIDADE ..................................................................................................................................... 6 
3.3.3. POROSIDADE ...................................................................................................................................... 6 
4. HERMENÊUTICA JURÍDICA ............................................................................................................................... 6 
4.1. ORIGEM DA HERMENÊUTICA ................................................................................................................... 6 
4.2. HERMENÊUTICA JURÍDICA NO BRASIL .................................................................................................. 7 
5. DIFERENÇAS ENTRE HERMENÊUTICA JURÍDICA E INTERPRETAÇÃO JURÍDICA ................................... 7 
5.1. ORIGEM DO TERMO HERMENÊUTICA ..................................................................................................... 7 
5.2. CONCEITO DE HERMENÊUTICA ............................................................................................................... 7 
5.3. INTERPRETAÇÃO ....................................................................................................................................... 7 
5.3.1. INTERPRETAÇÃO KELSENIANA ........................................................................................................ 7 
6. A HERMENÊUTICA JURÍDICA E O CONTROLE DE SIGNIFICADOS ............................................................. 8 
6.1. POSITIVISTAS X MORALISTAS ................................................................................................................. 8 
7. HERMENÊUTICA E DOGMÁTICA JURÍDICA .................................................................................................... 8 
7.1. PRESSUPOSTOS DA DOGMÁTICA JURÍDICA ........................................................................................ 8 
7.2. TEORIAS (ESCOLAS) DA INTERPRETAÇÃO JURÍDICA ........................................................................ 8 
7.2.1. LEGALISMO EXEGÉTICO ................................................................................................................... 8 
7.2.1.1. AS PREOCUPAÇÕES DA EXEGESE ............................................................................................. 8 
7.2.1.2. CONCEITO ....................................................................................................................................... 9 
7.2.1.3. REPRESENTANTES DA ESCOLA EXEGESE ................................................................................ 9 
7.2.1.4. ESCOLA DA EXEGESE FRANCESA – ANTECEDENTES DA ESCOLA DA EXEGESE ............... 9 
7.2.1.5. A ESCOLA DA EXEGESE ................................................................................................................ 9 
7.2.1.6. O MÉTODO INTERPRETATIVO DA ESCOLA DA EXEGESE ........................................................ 9 
7.2.2. HISTÓRIA HISTÓRICA DE SAVIGNY ............................................................................................... 10 
7.2.2.1. REPRESENTANTES DA ESCOLA HISTÓRICA ........................................................................... 10 
7.2.2.2. CARACTERÍSTICAS DA ESCOLA HISTÓRICA ALEMÃ .............................................................. 10 
7.2.2.3. IMPORTÂNCIA DA ESCOLA HISTÓRICA .................................................................................... 10 
7.2.3. ESCOLAS FORMALÍSTAS ................................................................................................................ 10 
7.2.3.1. HANS KELSEN (1881 – 1973) ....................................................................................................... 11 
7.2.3.2. TEORIA PURA DO DIREITO (REINE RECHTSLEHRE). .............................................................. 11 
7.2.3.3. PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO SISTEMA KELSENIANO ................................................. 11 
7.2.3.4. TEORIA DA MOLDURA DE KELSEN ............................................................................................ 11 
7.2.4. O PRAGMATISMO OU REALISMO ................................................................................................... 12 
7.2.4.1. CONCEITO ..................................................................................................................................... 12 
7.2.4.2. CARACTERÍSTICAS ...................................................................................................................... 12 
7.2.4.3. CORRENTES DO PENSAMENTO REALISTA .............................................................................. 12 
7.2.4.4. PRAGMATISMO JURÍDICO NORTE-AMERICANO ...................................................................... 13 
7.3. DIREITO E MORAL .................................................................................................................................... 13 
8. CLASSIFICAÇÃO DOGMÁTICA DOS MÉTODOS E EFEITOS DA INTERPRETAÇÃO JURÍDICA .............. 13 
8.1. MÉTODOS HERMENÊUTICOS DOGMÁTICOS DA INTERPRETAÇÃO JURÍDICA .............................. 13 
8.2. EFEITOS DA INTERPRETAÇÃO JURÍDICA ............................................................................................ 14 
8.3. INTEGRAÇÃO E APLICAÇÃO DO DIREITO PERANTE ANTINOMIAS E LACUNAS ........................... 15 
8.3.1. APLICAÇÃO .......................................................................................................................................15 
8.3.1.1. PRESSUPOSTOS PARA APLICAÇÃO.......................................................................................... 15 
8.3.2. INTEGRAÇÃO .................................................................................................................................... 15 
8.3.2.1. ESPÉCIES DE INTEGRAÇÃO ....................................................................................................... 15 
8.3.2.2. MEIOS DE CONTROLE DE INTEGRAÇÃO INTERPRETATIVA .................................................. 16 
8.3.3. ANTINOMIAS JURÍDICAS ................................................................................................................. 16 
8.3.3.1. CRITÉRIOS ELEMENTARES DE SOLUÇÃO DAS ANTINOMIAS ................................................ 16 
8.3.3.2. CLASSIFICAÇÃO DAS ANTINOMIAS A PARTIR DOS CRITÉRIOS DE SOLUÇÃO ................... 16 
8.3.3.3. LOCALIZAÇÃO DO PROBLEMA DAS ANTINOMIAS ................................................................... 16 
 
 
8.3.3.4. CONFLITO DE NORMAS SUPRANACIONAIS ............................................................................. 16 
8.3.4. ANALOGIA .......................................................................................................................................... 17 
8.3.4.1. FUNÇÕES DA ANALOGIA NO ÂMBITO JURÍDICO ..................................................................... 17 
8.3.4.2. APLICAÇÃO DA ANALOGIA .......................................................................................................... 17 
8.3.5. EQUIDADE ......................................................................................................................................... 17 
8.3.6. COSTUMES ........................................................................................................................................ 18 
8.3.7. PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO .................................................................................................. 18 
8.3.7.1. APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO NA INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS .... 19 
8.3.7.2. CRITÉRIOS ORIENTADORES NO CASO DE “CHOQUE” DE PRINCÍPIOS ............................... 20 
8.3.8. HERMENÊUTICA E JUSRISDIÇÃO CONSTITUCIONAL ................................................................. 20 
8.3.8.1. INTERPRETAÇÃO JURÍDICA X INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL ................................... 20 
8.3.8.2. CARACTERÍSTICAS DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS .......................................................... 20 
8.3.8.3. FASES DA INTERPRETAÇÃO (VICENTE RÁO) .......................................................................... 21 
8.3.8.4. MÉTODOS DE INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL ............................................................... 21 
8.3.8.5. PRINCÍPIOS DA INTERPRETAÇAO CONSTITUCIONAL ............................................................ 22 
EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO ................................................................................................................................. 23 
9. ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA .......................................................................................................................... 27 
9.1. PROBLEMAS NA ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA .................................................................................... 27 
9.1.1. DIALÉTICA ......................................................................................................................................... 27 
9.1.1.1. DIALÉTICA E O PRIMADO DA RAZÃO ......................................................................................... 27 
9.1.2. RETÓRICA ......................................................................................................................................... 27 
9.1.3. OS SOFISTAS NA GRÉCIA ANTIGA VI A,C, (SOFÍSTICA E PERSUASÃO)................................... 28 
9.1.3.1. O ENSINAMENTO DOS SOFISTAS .............................................................................................. 28 
9.1.3.2. OS FILÓSOFOS CLÁSSICOS E SUAS INFLUÊNCIAS ................................................................ 28 
9.1.3.3. TIPOS DOS DISCURSOS SEGUNDO ARISTÓTELES................................................................. 29 
9.1.3.4. PARTES DO DISCURSO RETÓRICO EM ARISTÓTELES........................................................... 30 
9.1.3.5. MEIOS TÉCNICOS ARISTOTÉLICOS ........................................................................................... 30 
9.1.3.6. CLASSIFICAÇÃO ARISTOTÉLICA DA TÉCNICA RETÓRICA ..................................................... 31 
9.1.3.7. RETÓRICA E DECISÃO JUDICIAL ................................................................................................ 31 
9.2. REGRAS EM RELAÇÃO AO TEXTO DA NORMA ................................................................................... 32 
9.2.1. SINTAXE ............................................................................................................................................. 32 
9.2.2. SEMÂNTICA ....................................................................................................................................... 32 
9.2.3. PRAGMÁTICA .................................................................................................................................... 32 
9.3. FORMAS E FUNÇÕES DO DISCURSO REFERENTE AO TEXTO DA NORMA JURÍDICA .................. 33 
9.3.1. FORMAS E FUNÇÕES DO DISCURSO NORMATIVO ..................................................................... 33 
9.3.1.1. PROPOSIÇÕES LINGUÍSTICAS ................................................................................................... 33 
9.4. ARGUMENTAÇÃO COMO DECISÃO, APLICAÇÃO E PROVA JURÍDICA ............................................ 34 
9.4.1. ARGUMENTAÇÃO E APLICAÇÃO DA PROVA JURÍDICA .............................................................. 34 
9.4.1.1. APLICAÇÃO DA PROVA JURÍDICA .............................................................................................. 34 
9.4.1.2. CIÊNCIA JURÍDICA E VALORES .................................................................................................. 34 
9.4.1.3. LÓGICA E SUBSUNÇÃO NO DIREITO ......................................................................................... 35 
9.4.1.4. LÓGICA E DIREITO ....................................................................................................................... 35 
9.4.1.5. REGRAS DA LÓGICA DIALÉTICA ................................................................................................ 35 
9.4.1.6. PROVAS ÉTICAS, PATÉTICAS E REAIS NO PROCEDIMENTO DOGMÁTICO ......................... 35 
9.5. ARGUMENTOS E SOFISMAS ................................................................................................................... 36 
9.5.1. PRINCIPAIS TIPOS DE ARGUMENTOS JURÍDICOS ...................................................................... 36 
9.5.2. MODALIDADES DE ARGUMENTAÇÕES RETÓRICAS ................................................................... 38 
9.6. TÓPICA ...................................................................................................................................................... 41 
9.6.1. CONCEITO ......................................................................................................................................... 41 
9.6.2. TÓPICA E TÓPICA JURÍDICA ........................................................................................................... 41 
9.6.3. TÓPICA – ANTECEDENTES ............................................................................................................. 41 
9.6.4. TÓPICA – MÉTODO ........................................................................................................................... 41 
9.6.5. TÓPICA E JURISPRUDÊNCIA ..........................................................................................................41 
9.6.6. CLASSIFICAÇÃO DOS TOPOI .......................................................................................................... 42 
9.6.7. CLASSIFICAÇÃO TÓPICA DO DIREITO (FERRAZ JR.) .................................................................. 44 
9.6.8. PRINCIPAIS EXEMPLOS DE TOPOI DO DIREITO ......................................................................... 44 
9.6.9. TOPOI ARISTOTÉLICOS COMO ARGUMENTOS ............................................................................ 44 
REVISÃO ................................................................................................................................................................ 46 
1. O USO DE RECURSOS RETÓRICOS DE PERSUASÃO NA DECISÃO JURÍDICA .................................. 46 
2. OS SOFISTAS NA GRÉCIA ANTIGA (VI A.C) ............................................................................................. 46 
2.1. OS FILÓSOFOS CLÁSSICOS E SUAS INFLUÊNCIAS ........................................................................ 46 
3. RETÓRICA ..................................................................................................................................................... 47 
3.1. CLASSIFICAÇÃO ARISTOTÉLICA DA TÉCNICA RETÓRICA ............................................................. 47 
3.2. ESTRUTURAS RETÓRICAS ARISTOTÉLICAS .................................................................................... 47 
4. ARGUMENTAÇÃO ........................................................................................................................................ 47 
4.1. PRINCIPAIS TIPOS DE ARGUMENTOS JURÍDICOS .......................................................................... 47 
4.2. MODALIDADE DE ARGUMENTAÇÃO RETÓRICA .............................................................................. 47 
 
 
4.3. ESTRATÉGIAS ARGUMENTATIVAS NO DIREITO .............................................................................. 48 
4.4. SILOGISMO E ENTIMEMA .................................................................................................................... 49 
4.5. OUTROS TIPOS DE ENTIMEMAS ........................................................................................................ 49 
4.6. SOFISMAS E PARALOGISMOS ............................................................................................................ 49 
5. TÓPICA JURÍDICA E TOPOI ......................................................................................................................... 49 
EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO ................................................................................................................................. 50 
TEXTOS COMPLEMENTARES ............................................................................................................................. 55 
TEXTO 01 ............................................................................................................................................................... 55 
1. UMA INICIAÇÃO À HERMENÊUTICA, INTERPRETAÇÃO E ARGUMENTAÇÃO NO DIREITO 
– LINGUAGEM HUMANA E LINGUAGEM JURÍDICA ....................................................................................... 55 
TEXTO 02 ............................................................................................................................................................... 58 
2. MÉTODOS E TIPOS DOGMÁTICOS DE INTERPRETAÇÃO ................................................................... 58 
TEXTO 03 ............................................................................................................................................................... 63 
3. INTERPRETAÇÃO - CAP. VI, TEORIA PURA DO DIREITO – HANS KELSEN ....................................... 63 
TEXTO 04 ............................................................................................................................................................... 68 
4. PERDEMOS A NOÇÃO DE RESERVA LEGAL DIANTE DA APLICAÇÃO DA ANALOGIA ‘IN MALEM 
PARTEM’ PELO STJ (RE 1420.960) ................................................................................................................. 68 
EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO DO TEXTO .......................................................................................................... 69 
EXERCÍCIO 1 ......................................................................................................................................................... 70 
EXERCÍCIO 2 ......................................................................................................................................................... 71 
EXERCÍCIO 3 ......................................................................................................................................................... 72 
EXERCÍCIO 4 ......................................................................................................................................................... 73 
EXERCÍCIO 5 ......................................................................................................................................................... 74 
 
 
 
 
FACULDADE JOAQUIM NABUCO – FJN HERMENÊUTICA E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA 
2 
 
PLANO DE AULA GERAL 2016.2 
 
AGOSTO Curso: Bacharelado em Direito 
S T Q Q S S D Turma: 6º NB 
1 2 3 4 5 6 7 Matéria: Hermenêutica e Argumentação Jurídica 
8 9 10 11 12 13 14 Professor: Lourenço Torres 
15 16 17 18 19 20 21 E-mail: proflourencotorres@yahoo.com.br 
22 23 24 25 26 27 28 
29 30 31 QUADRO DE HORÁRIO DE AULAS 
 Horário Seg Ter Qua Qui Sex 
SETEMBRO 1º X 
S T Q Q S S D 2º X 
 1 2 3 4 
5 6 7 8 9 10 11 DATA DAS PROVAS 
12 13 14 15 16 17 18 Prova 1ª 2ª 2ª Ch. Final 
19 20 21 22 23 24 25 DATA 10/10/2016 05/12/2016 19/12/2016 26/12/2016 
26 27 28 29 30 
 1. EMENTA 
OUTUBRO Hermenêutica e interpretação; Hermenêutica e dogmática jurídica; 
Classificação das interpretações; Métodos hermenêuticos; Escolas 
hermenêuticas; Antinomias; Lacunas; Integração; Hermenêutica e 
jurisdição constitucional; O problema da comunicação humana; 
Funções pragmáticas do discurso; Noções de retórica e dialética; 
Problemas centrais da retórica no Direito; Conceito de argumento; 
Critérios da argumentação; Tipos de argumentos jurídicos; 
Argumentação como decisão. 
2. Metodologia de Avaliação da Disciplina 
1ª avaliação: Prova escrita com questões objetivas e subjetivas do 
conteúdo da unidade I – (9,0). 
Exercícios (1, 2 e 3 entregues na data) – (1,0). 
Resumo palestra – (1,0) 
2ª avaliação: Prova escrita com questões objetivas – Prova 
COLEGIADA 
2ª Chamada: Prova escrita com questões objetivas e subjetivas do 
conteúdo das unidades I e II – (9,0). 
Entrega das tarefas 4, 5 e 6 – (1,0). 
Prova FINAL: Prova escrita com questões objetivas e subjetivas do 
conteúdo das unidades I e II – (10,0). 
3. BIBLIOGRAFIA BÁSICA 
Livros-Texto: 
MAXIMILIANO, Carlos. Hermenêutica e aplicação do direito. 20. 
ed. Rio de Janeiro: Forense, 2011. ADEODATO, João Maurício. 
Ética e Retórica – Para uma teoria da dogmática jurídica. São Paulo: 
Saraiva, 2009. 
FERRAZ JUNIOR, Tércio Sampaio. Introdução ao estudo do 
direito: técnica, decisão, dominação. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008 
MONTORO, André Franco. Introdução a Ciência do Direito. São 
Paulo: RT, 2008. 
VALVERDE, Alda da Graça Marques. Lições de argumentação 
jurídica. Rio de Janeiro: Forense, 2008 
S T Q Q S S D 
 1 2 
3 4 5 6 7 8 9 
10 11 12 13 14 15 16 
17 18 19 20 21 22 23 
24 25 26 27 28 29 30 
31 
 
NOVEMBRO 
S T Q Q S S D 
 1 2 3 4 5 6 
7 8 9 10 11 12 13 
14 15 16 17 18 19 20 
21 22 23 24 25 26 27 
28 29 30 
 
DEZEMBRO 
S T Q Q S S D 
 1 2 3 4 
5 6 7 8 9 10 11 
12 13 14 15 16 17 18 
19 20 21 22 2324 25 
26 27 28 29 30 31 
 
ÍNDICE DE CORES 
 Dias não letivos 
 1as e 2as provas 
 Feriados 
 Segunda Chamada 
 Prova Final 
 
HENRIQUES, Antonio. Argumentação e Discurso Jurídico. São Paulo: Atlas, 2008. 
Livros Complementares: 
STRECK, Lênio Luiz. Verdade e Consenso: Construção, Hermenêutica e Teorias Discursivas. São Paulo: Lumen 
Júris, 2009. 
STRECK, Lênio Luiz. Hermenêutica jurídica e(m) crise. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2011. 
FALCÃO, Raimundo Bezerra. Hermenêutica. São Paulo: Malheiros, 2010. 
FRANÇA, R. Limongi. Hermenêutica jurídica. 12. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora revista dos 
Tribunais, 2014. 
FERNANDES, Atahualpa. Argumentação jurídica e hermenêutica. São Paulo: 2008. 
MEDINA, Paulo Roberto. Direito Processual Constitucional. Rio de Janeiro: Forense, 2010. 
ARISTÓTELES. Retórica. Tradução: Marcelo Silvano Madeira. São Paulo: Rideel, 2007. 
CASTRO JR. Torquato. Aristóteles e a retórica do saber jurídico. São Paulo: Noeses, 2011. 
SOARES, Ricardo Maurício Freire. Hermenêutica e Interpretação Jurídica. São Paulo: Saraiva, 2010. 
ADEODATO, João Maurício. A retórica constitucional. São Paulo: Saraiva, 2009. 
ADEODATO, João Maurício. (org.) A retórica de Aristóteles e o direito: bases clássicas para um grupo de 
pesquisa em retórica jurídica. Curitiba, PR: CRV, 2014. 
mailto:proflourencotorres@yahoo.com.br
HERMENÊUTICA E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA LOURENÇO TORRES 
3 
 
PLANO DE AULA ANALÍTICO 2016.2 
1ª Aula 08/08/2016 
Conteúdo proposto: Apresentação da disciplina. Hermenêutica jurídica e concepções de 
linguagem. 
Atividade do discente: Leitura prévia do texto 1. Debate sobre o assunto. 
2ª Aula 15/08/2016 
Conteúdo proposto: Teorias da interpretação jurídica. Escolas hermenêuticas históricas. 
Exercício 1. 
Atividade do discente: Debate sobre o assunto e exercícios. 
3ª Aula 22/08/2016 
Conteúdo proposto: Classificação dogmática dos métodos e efeitos da interpretação. 
Atividade do discente: Debate sobre o assunto. Leitura do texto 2: FERRAZ JR. Tércio 
Sampaio. Introdução ao estudo do direito: técnica, decisão, dominação. 6. ed. São Paulo: Atlas, 
2008, p. 252 – 267. 
4ª Aula 29/08/2016 
Conteúdo proposto: Integração e aplicação do direito perante antinomias e lacunas (I). 
Atividade do discente: Debate sobre o assunto e exercícios e entrega do Exercício 1. 
5ª Aula 05/09/2016 
Conteúdo proposto: Integração e aplicação do direito perante antinomias e lacunas (II). 
Atividade do discente: Debate sobre o assunto. Leitura do texto 3: FRANÇA, R. Limongi. 
Hermenêutica jurídica. 12. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora revista dos Tribunais, 2014, 
p. 41 – 56. 
6ª Aula 12/09/2016 
Conteúdo proposto: Problemas da argumentação no Direito. Hermenêutica e jurisdição 
constitucional (I). Exercício 2. 
Atividade do discente: Debate sobre o assunto. 
7ª Aula 19/09/2016 
Conteúdo proposto: Problemas da argumentação no Direito. Hermenêutica e jurisdição 
constitucional (II). 
Atividade do discente: Debate sobre o assunto e entrega do Exercício 2. Leitura do texto 4: 
MAXIMILIANO, Carlos. Hermenêutica e aplicação do direito. 20. ed. Rio de Janeiro: Forense, 
2011, p. 246 - 256. 
8ª Aula 26/09/2016 
Conteúdo proposto: Formas e funções do discurso referente ao texto da norma jurídica. Exercício 
3. 
Atividade do discente: Debate sobre o assunto. 
9ª Aula 03/10/2016 
Conteúdo proposto: Argumentação como decisão, aplicação e prova jurídica; decisão jurídica e 
conflito. Revisão para a 1ª avaliação. 
Atividade do discente: Debate sobre o assunto. Entrega do Exercício 3. 
10ª Aula 10/10/2016 
Conteúdo proposto: 1ª avaliação 
Atividade do discente: Prova de Interpretação e avaliação do conteúdo da I unidade ao 
responder questões objetivas e subjetivas contextualizadas. 
11ª Aula 17/10/2016 
Conteúdo proposto: Correção e entrega das provas. Argumentação jurídica. 
Atividade do discente: Debate sobre o assunto. 
12ª Aula 24/10/2016 
Conteúdo proposto: Oficinas Profissionalizantes. 
Atividade do discente: Acompanhamento da aula teórica e debate sobre o conteúdo. 
13ª Aula 31/10/2016 
Conteúdo proposto: Tipos e usos de argumentos jurídicos – Argumentos (I). Exercício 4. 
Atividade do discente: Debate sobre o assunto. Leitura do texto 5: ADEODATO, João Maurício. 
Ética e Retórica – Para uma teoria da dogmática jurídica. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 337 – 344. 
14ª Aula 07/11/2016 
Conteúdo proposto: Tipos e usos de argumentos jurídicos – Argumentos (II). 
Atividade do discente: Debate sobre o assunto e entrega do Exercício 4. 
15ª Aula 14/11/2016 
Conteúdo proposto: Teorias da argumentação e separação dos poderes. Exercício 5. 
Atividade do discente: Debate sobre o assunto Leitura do texto 6: ADEODATO. João Maurício. 
A retórica constitucional. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 155 – 165. 
16ª Aula 21/11/2016 
Conteúdo proposto: Casos paradigmáticos de interpretação e aplicação do Direito no Brasil. 
Exercício 6. 
Atividade do discente: Debate sobre o assunto e entrega do Exercício 5. 
17ª Aula 28/11/2016 
Conteúdo proposto: Tópica e tópica jurídica. Revisão para a 2ª avaliação. Entrega do Exercício 
6. 
Atividade do discente: Debate sobre o assunto e elucidação de dúvidas. 
18ª Aula 05/12/2016 
Conteúdo proposto: 2ª avaliação PROVA COLEGIADA 
Atividade do discente: Prova de Interpretação e avaliação do conteúdo da I e II unidades ao 
responder questões objetivas contextualizadas. 
19ª Aula 12/12/2016 
Conteúdo proposto: Correção e entrega de provas. Não haverá aula. C/h substituída por 
Metodologia ativa: 
Atividade do discente: Realizar resumo de palestra. 
20ª Aula 19/12/2016 
Conteúdo proposto: 2ª Chamada 
Atividade do discente: Prova de Interpretação e avaliação do conteúdo da I e II unidades ao 
responder questões objetivas e subjetivas contextualizadas. 
21ª Aula 26/12/2016 
Conteúdo proposto: FINAL 
Atividade do discente: Prova de Interpretação e avaliação do conteúdo da I e II unidades ao 
responder questões objetivas e subjetivas contextualizadas. 
 
 
 
FACULDADE JOAQUIM NABUCO – FJN HERMENÊUTICA E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA 
4 
 
1. HERMENÊUTICA JURÍDICA E CONCEPÇÕES DE LINGUAGEM 
1.1. LINGUA E LINGUAGEM 
A realidade parece ser apreendida pela mente humana direta ou mediaticamente. 
Alguns autores concordam que a mente humana é um mediador entre a realidade e o ser humano, não 
havendo nunca apreensão direta da realidade. Exemplo disso é a nossa visão, que capta tudo de forma 
invertida, no entanto, nossa mente modifica o que foi captado para compensar e criar a imagem mais próxima 
do que é “real”. 
Isso se daria porque a mente humana aprende signos externos para perceber e informar aos indivíduos a 
respeito do mundo exterior. Sem esse aprendizado o indivíduo ficaria isolado. 
1.2. SÍMBOLOS E LINGUAGEM 
Linguagem é todo e qualquer sistema de signos linguísticos (símbolos) que serve de meio de 
comunicação entre indivíduos humanos. 
Há três tipos de signos: 
 Semelhanças [likeness], ou ícones, que servem para transmitir ideias de coisas que representam 
simplesmente por imitação. (signos naturais?) 
 Indicações [indications], ou índices, que mostram algo sobre as coisas, através de uma relação física 
com elas. [...] Placas [...]. (signos artificiais?) 
 Símbolos, ou signos genéricos, que se associam aos seus significados pelo uso. Isso inclui a maior 
parte das palavras, frases, discursos, livros e bibliotecas. (signos artificiais?) 
PIERCE. O que é um signo? 
1.3. OS SIGNOS E A MENTE (PIERCE, Semiótica, Ed. Perspectiva, 2010, p. 260.) 
Os signos podem ser “naturais” e/ou artificiais. 
 Naturais – Ex.: A umidade da terra indica que choveu (?). 
 Artificiais – Ex.: Os signos linguísticos, com base fonética.Os símbolos. 
I. Todo conhecimento do mundo interno deriva-se, por raciocínio hipotético, de nosso conhecimento dos 
fatos externos. 
II. Toda cognição é determinada logicamente por cognições anteriores. 
III. Não temos poder algum de pensar sem signos. 
IV. Não temos concepção alguma do absolutamente incognoscível. 
Os símbolos linguísticos necessitam de signos: 
 Individualizadores (nomes, substantivos). 
 Identificadores 
 Predicadores (descrições). 
A maioria dos símbolos, tomados isoladamente, não significam nada. 
Uma língua, é um repertório de símbolos interrelacionados numa estrutura (as regras de uso). 
Um sistema de símbolos e relações. 
 
2. REALIDADE E LINGUAGEM 
“A importância da linguagem para o desenvolvimento da civilização reside no facto de 
que nela o homem colocou um mundo próprio ao lado do outro, posição que julgava 
bastante sólida para dali erguer o resto do mundo sobre seus eixos e se tornar senhor 
do mundo”. – Friedrich Nietzsche. 
2.1. RELAÇÃO ENTRE “REALIDADE” E LINGUAGEM 
2.1.1. O ABISMO DO CONHECIMENTO ENTRE ESSENCIALISMO E CONVENCIONALISMO 
Há duas concepções principais acerca da relação entre a linguagem e a realidade a que ela se refere: 
 A Teoria Essencialista: corrente que afirma que entre o Direito e a linguagem há uma relação 
ontológica (ser). A linguagem seria um mero instrumento, um meio para a descoberta da verdade. 
A língua seria um instrumento que reflete a realidade; os conceitos linguísticos um espelho da essência 
existente nas coisas e as palavras o modo pelo qual esses conceitos são veiculados. Haveria um 
núcleo invariável nas palavras que possibilitaria a identificação dos elementos da realidade que a elas 
correspondem. 
Ocorre que esse realismo verbal sofre sérias objeções. Uma mesma palavra representa diferentes 
realidades. Ex.: "cabo" não é apenas (1) uma haste de sustentação, mas também (2) uma patente 
militar e (3) um acidente geográfico. 
 A Teoria Convencionalista ou Nominalista: corrente que considera a linguagem como um conjunto 
de signos cuja relação com a realidade é estabelecida de modo arbitrário pelos homens. O termo 
arbitrário, no presente caso, significa que não há nenhuma ligação natural entre o signo e a realidade 
que ele designa. A relação, por isso, é imotivada. 
HERMENÊUTICA E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA LOURENÇO TORRES 
5 
 
Apesar da inexistência de uma relação ontológica entre o signo e o seu significado, o emprego dos 
signos não é livre. Está sempre condicionado por fatores históricos. A língua utilizada é sempre uma 
herança das gerações precedentes e está em constante transformação. 
Devido a essa realidade, o que se deve levar em conta é o uso dos conceitos que variam no tempo e no 
espaço. A questão da busca da essência das coisas deixa de ter sentido e é substituída pela busca dos 
critérios vigentes de utilização das palavras. As definições, por isso, têm caráter nominal e não real, já 
que a realidade depende do modo como definimos um conceito. 
Os juristas, de um modo geral, adotam uma concepção essencialista da linguagem. Consideram, por isso, ser 
possível, no âmbito do Direito, a elaboração de conceitos reais. Mantêm a ideia de que a definição de um termo 
reflete a essência dos objetos jurídicos, adotando, assim, uma visão conservadora da teoria da língua. 
2.1.2. LINGUAGEM E O ABISMO GNOSIOLÓGICO 
 
“As fronteiras da minha linguagem são as fronteiras do meu universo”. – Ludwig 
Wittgenstein. 
 
 
 
3.1.2.1. O ABISMO GNOSIOLÓGICO 
Há na linguagem uma deficiência na transmissão do sentido do pensamento. O pensamento transcende 
a matéria, não se prende a imanência do objeto. 
Essa abstração não é suportada pela linguagem, que é limitada. Esse é o chamado abismo 
gnosiológico, que se divide em duas etapas: a primeira se dá entre o fato e o pensamento e a segunda 
etapa é entre o pensamento e a linguagem. 
 
Por causa desse abismo é que são encontradas dificuldades em se determinar o alcance e o sentido 
das palavras (signos) utilizadas pelo legislador. O oposto ao alcance é a vagueza e o do sentido é a 
ambiguidade. Tudo isso atormenta o jurista no momento em que vai interpretar a norma, já que é difícil 
a determinação do alcance e do sentido. 
“O fato é único e irrepetível, essa afirmação pode ser explicada através do devir de Heráclito (tudo 
muda). O ideal reside em outro plano, superior, que permite uma generalidade. Estaria no mundo 
das ideias e os fenômenos são cópias imperfeitas desses ideais, segundo Platão”. – ADEODATO, 
João Maurício. Ética e retórica: para uma teoria da dogmática jurídica. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 
2009, p. 186 – 191. 
 
3. LINGUAGEM E LINGUAGEM JURÍDICA 
“O verdadeiro e o falso são atributos da linguagem, não das coisas. E onde não há linguagem, não 
há verdade nem falsidade”. – Thomas Hobbes. 
 
“A linguagem é um traje que disfarça o pensamento. E, na verdade, de um modo tal que não se 
pode inferir, da forma exterior do traje, a forma do pensamento trajado; isso porque a forma 
exterior do traje foi constituída segundo fins inteiramente diferentes de tornar reconhecível a forma 
do corpo”. – Wittgenstein, Tractatus, §4.002. 
3.1. LINGUAGEM 
“A linguagem mal disfarça o que é: amálgama de pedaços dos espíritos, que ficam lá fora, 
indiferentes ao passar das gerações, a despeito de banhá-las e arrancar-lhes as vozes, ritmos e 
formas. Utiliza o que teve, o que tem e as significações com que ultrapassa a si mesma”. – 
PONTES DE MIRANDA, Garra, mão e dedo. Campinas: Bookseller, 2002, p. 10. 
FACULDADE JOAQUIM NABUCO – FJN HERMENÊUTICA E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA 
6 
 
“Não nos estimamos mais o bastante quando nos comunicamos. Nossas experiências decisivas 
não são de forma alguma tagarelas. Elas não poderiam comunicar a si próprias caso quisessem. 
Isso acontece porque lhes falta a palavra. Aquilo para que temos palavras também já 
ultrapassamos. Em todo falar há um grão de desprezo. A linguagem, parece, foi inventada só para 
o que é médio, mediano, comunicável. Com a linguagem, já se vulgariza aquele que fala”. – 
NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. Crepúsculo dos ídolos, ou, como se filosofa com o martelo. 
Tradução, apresentação e notas de Renato Zwick. Porto Alegre, RS: L&PM, 2012, p. 97. (26) 
“A última crença é a crença na linguagem. Na dissolução dessa superstição, a retórica é a última 
forma de iluminismo”. – BALLWEG, Ottmar. Entwurf einer analytischen Rhetorik. In: SCHANZE, 
Helmut e KOPPERSCHIDT, Joseph (Hrsg.) Rhetorik und Philosophie. München: Wilhelm Fink, 
1989, p. 42). 
 
3.2. LINGUAGEM JURÍDICA 
A linguagem jurídica serve de comunicação para pessoas específicas (os juristas) em um mundo 
determinado, o jurídico. 
No direito, assim como em outros setores do conhecimento, desenvolve-se uma linguagem particular, 
específica, onde se guardam palavras e expressões que possuem acepções próprias. No mundo do Direito, a 
palavra é indispensável. Todos empregam palavras para trabalhar, mas, para o jurista, elas são precisamente a 
matéria-prima de suas atividades. 
As leis são feitas com palavras, como as casas são feitas com tijolos. O jurista, em última análise, não lida 
somente com fatos, diretamente, mas com palavras que denotam ou pretendem denotar esses fatos. Há, 
portanto, uma parceria essencial entre o Direito e a Linguagem. 
O profissional do Direito, enquanto ciência jurídica, busca a univocidade em sua terminologia, convive com um 
número limitado de palavras polissêmicas. 
Exemplo clássico é o termo Justiça que tanto exprime a vontade de dar a cada um o que é seu, quanto significa 
as regras em lei previstas, e ainda, o aparelhamento político- jurídico destinado à aplicação da norma do caso 
concreto. 
 
3.3. OS PROBLEMAS DA LINGUAGEM 
“Tudo o que é apreendido e representado pelo sujeito cognoscente depende de práticas 
interpretativas. Como o mundo vem à consciência pela palavra,e a linguagem é já a primeira 
interpretação, a hermenêutica torna-se inseparável da própria vida humana”. – SOARES, Ricardo 
Maurício Freire. Hermenêutica e interpretação jurídica. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 4. 
3.3.1. VAGUESA 
Um símbolo é vago quando seu possível campo de referência é indefinido (Ex.: Art. 121, CP). 
3.3.2. AMBIGUIDADE 
Um símbolo é ambíguo quando é possível usá-lo para um campo de referência com diferente intenção, isto é, 
manifestando qualidades diversas. 
3.3.3. POROSIDADE 
Os símbolos admitem pragmaticamente usos diferentes, servindo para propósitos distintos (descrever, 
expressar, direcionar, obrigar, etc.). Dessa forma, permitem distintas interpretações. 
 
4. HERMENÊUTICA JURÍDICA 
4.1. ORIGEM DA HERMENÊUTICA 
Fala-se que o termo deriva do nome do deus da mitologia grega Hermes, o mensageiro dos 
deuses, o mediador entre os deuses e os homens, a quem os gregos atribuíam a origem da 
linguagem e da escrita e é considerado o patrono da comunicação e do entendimento humano. 
Também atribuí-se à palavra grega hermeios que indica os sacerdotes (ou às pitonisas – as 
sacerdotisas de Apolo) do oráculo de Delfos, inicialmente consagrado a Pítia (serpente) e 
posteriormente a Apolo, e que, existiu até 393 d.C. 
Segundo a mitologia grega, Apolo matou Pítia e dividiu seu corpo em dois tomando posse do templo de Delfos. 
Relato semelhante há na mitologia babilônica, onde o deus Marduk matou Tiamat (a grande mãe dos deuses) e 
dividiu seu corpo em dois, fato que em ambas as culturas indica a passagem do matriarcado para o sistema 
patriarcal. 
"Tiamat, a Deusa Dragão do Caos e das Trevas, é combatida por Marduk, deus da Justiça e da 
Luz. Isto indica a mudança do matriarcado para o patriarcado que obviamente ocorreu”. – 
LISHTAR. Gateways to babylon. Disponível em: http://www.gatewaystobabylon.com. 
 
http://www.gatewaystobabylon.com/
HERMENÊUTICA E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA LOURENÇO TORRES 
7 
 
4.2. HERMENÊUTICA JURÍDICA NO BRASIL 
A primeira obra a ocupar-se integralmente do tema em nosso país foi o "Compêndio de Hermenêutica 
Jurídica", de Francisco de Paula Batista professor da Faculdade de Direito de Recife, publicado em 
1860 ainda no Brasil Imperial estava vinculado à Escola de Exegese. 
Depois, Carlos Maximiliano, em 1924, publicou sua "Hermenêutica e Aplicação do Direito", ele 
atualizou, sem trazer novidades, a Hermenêutica ao Sistema Histórico Evolutivo, as correntes da Livre 
Indagação e do Direito Livre, além de outras, sem desenvolver uma teoria geral da interpretação. 
Ocupou-se unicamente da Hermenêutica jurídica, resenhando os métodos nela aplicáveis. 
“a Hermenêutica jurídica tem por objeto o estudo e a sistematização dos processos 
aplicáveis para determinar o sentido e o alcance das expressões do Direito”. – 
MAXIMILIANO, Carlos. Hermenêutica e Aplicação. 
 
5. DIFERENÇAS ENTRE HERMENÊUTICA JURÍDICA E INTERPRETAÇÃO JURÍDICA 
5.1. ORIGEM DO TERMO HERMENÊUTICA 
Hermēneuein (gr.) e significa "declarar", "anunciar", "interpretar", "esclarecer" e, por último, "traduzir". Significa 
que alguma coisa é "tornada compreensível" ou "levada à compreensão". 
Ermēneutikē (gr.) que significa "ciência", "técnica" que tem por objeto a interpretação de textos poéticos ou 
religiosos. 
Significa que alguma coisa é "tornada compreensível" ou "levada à compreensão". 
5.2. CONCEITO DE HERMENÊUTICA 
Hermenêutica é um conjunto de métodos de interpretação consagrados. São regras técnicas para obter um 
resultado interpretativo e envolve um processo de tornar compreensível a linguagem e seus signos. 
“Hermenêutica é ciência e constitui uma construção filosófica. Logo, é melhor entendida como 
teoria. Nelson Saldanha afirma que é um conjunto de estruturas em todo o orbe social, bem como 
um conjunto de instâncias críticas, que interpretam os valores vigentes”. – SALDANHA, Nelson. 
Hermenêutica e princípios. In: ACADEMIA PERNAMBUCANA DE LETRAS. Nelson Saldanha. 
Organização Fátima Quintas. Recife: Bargaço, 2015, p. 91. (Coleção Debate; 4). 
É um ramo da Filosofia que estuda a teoria da interpretação, que pode referir-se 
tanto à arte (prática) da interpretação como à teoria e ao treino (puramente 
pedagógico) de interpretação. Além disso, a interpretação constrói norma, pois, da 
interpretação do texto normativo se extrai a norma conjugando o texto normativo e 
a “realidade”. 
É um conjunto de instrumentos para a interpretação dos enunciados jurídicos com 
a finalidade de construir o sentido da norma jurídica. 
Hermenêutica não é o mesmo que interpretação – a hermenêutica descobre e fixa 
os princípios que regem a interpretação. A interpretação é a aplicação da 
Hermenêutica. 
5.3. INTERPRETAÇÃO 
A interpretação é uma relação entre o sujeito (interprete), um objeto e um significado. 
“Interpretar é a atitude ou a atividade que consiste em indicar, ou determinar o significado de 
alguma coisa”. – TROPER, Michel. La theorie du droit, le Droit, l’Etat. Paris: PUF, p. 70. 
É uma ação que consiste em estabelecer, simultânea ou consecutivamente, comunicação verbal ou não verbal 
entre duas entidades. 
Consiste também na descoberta do sentido e significado de algo geralmente proveniente da ação humana. 
Interpretação é ato, um processo real, pelo qual alguém procura o significado de algo. A hermenêutica é a 
teoria desse ato, ou sua fundamentação. 
A interpretação jurídica é um processo de atribuição de sentido aos enunciados de textos ou normas 
jurídicas, visando à resolução de um caso concreto. É o gênero. Nela, todos os elementos (sujeito, objeto e 
significado) sempre são pensados em relação ao Direito. Ou seja, é “o estudo e a sistematização dos processos 
aplicáveis para determinar o sentido e o alcance das expressões do Direito”. (MAXIMILIANO, Carlos. 
Hermenêutica e Aplicação do Direito, 20ª edição. Forense, 05/2011. VitalBook file). 
É característica da interpretação dogmática, o arbítrio que põe fim à sucessão de interpretações que 
decodificam interpretações. Isso é um problema para a teoria dogmática sobre interpretação. 
5.3.1. INTERPRETAÇÃO KELSENIANA 
É possível falar da verdade de uma interpretação em oposição à falsidade? 
 Interpretação autêntica – É a interpretação realizada por órgãos competentes (no sentido jurídico). 
Segundo Kelsen, o enunciado é vinculado. 
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8 
 
Monismo (para a lei, a 
única fonte era o Estado) 
 Interpretação doutrinária – É a interpretação realizada por entes que não têm a qualidade de órgãos. 
A interpretação kelseniana é considerada, mesmo entre os positivistas, como obsoleta e superada. 
6. A HERMENÊUTICA JURÍDICA E O CONTROLE DE SIGNIFICADOS 
6.1. POSITIVISTAS X MORALISTAS 
O que guiaria o intérprete legislativo no momento de sua decisão? 
 Positivistas – a ponderação e o equilíbrio determinariam um melhor encaixe da interpretação à 
situação, não existindo, assim, uma solução correta única, haja vista o grande número de princípios no 
ordenamento. O positivismo vê uma fidelidade ao direito imposto pelas autoridades competentes, 
decorrentes da estrutura e hierarquia. 
 Moralistas – para os moralistas, como Dworkin, existe uma interpretação correta, que deve estar de 
acordo com o que ele chama de valor da integridade. O moralismo entende que deve haver uma 
participação de valores e princípios, de um modo geral na aplicação do direito, que tem uma pretensão 
de correção, segundo Alexy. 
 
7. HERMENÊUTICA E DOGMÁTICA JURÍDICA 
ZETÉTICA x DOGMÁTICA 
Perguntas Perguntas 
Infinitas Finitas 
 
 
 
 
 
 
7.1. PRESSUPOSTOS DA DOGMÁTICA JURÍDICA 
Os pressupostos da dogmática jurídica são as obrigações do Estado de: 
I. Estabelecer textos normativos (executivo, legislativo e judiciário – 
com as súmulas). Estes textos fomentam o controle e 
organização do Estado; 
II. Interpretar os textosnormativos eliminando a ambiguidade e a 
vagueza; 
III. Alegar/apresentar expressamente os textos normativos pré-
fixados (devem ser fixados antecipadamente). Ex.: Princípio da 
Anterioridade da Lei = “XXXIX - não há crime sem lei anterior que 
o defina, nem pena sem prévia cominação legal”. – Art. 5º, CF; 
IV. Decidir os casos jurídicos, de dar resposta aos conflitos (proibição do non liquet); 
V. Fundamentar suas decisões. 
7.2. TEORIAS (ESCOLAS) DA INTERPRETAÇÃO JURÍDICA 
7.2.1. LEGALISMO EXEGÉTICO 
O que é Exegese? 
Exegeomai (gr.) ou, exegesis (gr.) 
ex – retirar, extrair 
hegeisthai – conduzir, guiar 
É a interpretação profunda de um texto. Como 
interpretação, significa revelar o sentido de 
algo ligado ao mundo do humano. 
7.2.1.1. AS PREOCUPAÇÕES DA EXEGESE 
I. Busca da autoria de um texto. 
II. Busca da autenticidade de um texto (estilo, vocabulário, etc.). 
III. A determinação da literalidade de um texto (texto da lei era tudo). 
IV. A determinação da interpretação (dada pelo Estado) 
Com o Positivismo, se estabelece o 
Estado Moderno, como reação à 
Monarquia Absolutista. O Estado 
Moderno cria o Direito e as fontes 
oficiais são mais importantes que a 
vontade popular ou a vontade da 
maioria. É o Direito vigente, que, para 
a dogmática, não pode ser trocado. 
HERMENÊUTICA E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA LOURENÇO TORRES 
9 
 
7.2.1.2. CONCEITO 
“É o comentário ou a dissertação para esclarecimento ou minuciosa interpretação de um texto ou 
de uma palavra. [Aplica-se de modo especial em relação à Bíblia, à gramática e às leis]”. – 
AURÉLIO, exegese. Curitiba: Positivo, 2004, p. 852. 
A exegese teológica 
“A Bíblia é um livro onde cada qual procura o que deseja e sempre encontra o que procura”. 
7.2.1.3. REPRESENTANTES DA ESCOLA EXEGESE 
I. Glosadores (1804 –1840) [glosa – anotação]: 
 Jean Proudhon , 1809 – Cours de droit français. 
 Alexandre Duranton, 1825 – Cours de droit français: suivant le Code civil. 
 
II. Escola dos Comentadores (1840 –1880): 
 Hyacinthe Blondeau, 1841 – L’autorité de la loi: de quelle source doivent découler aujourd’hui 
toutes les décisions juridiques. 
 Charles Demolombe, 1845 – 
III. Período de Declínio (1880 –1899): 
 Charles Aubry e Charles-Frédéric Rau, 1897 – Cours de droit civil français: d'après la méthode 
de Zachariae. 
 François Gény, 1899 – Méthode d‘interprétation et sources en droit privé positif: essai critique. 
7.2.1.4. ESCOLA DA EXEGESE FRANCESA – ANTECEDENTES DA ESCOLA DA EXEGESE 
Após a Revolução Francesa (1879) foi quebrada a organização absolutista do Estado que visava 
estabelecer a hegemonia do poder real através da hegemonia do direito do rei. Essa hegemonia não 
impedia a existência e a validade do direito canônico, de um lado, e do direito costumeiro, de outro. Isso 
representava um acordo entre clero, nobreza e rei estabelecendo a hegemonia deste último e um 
espaço de poder e privilégios daqueles outros. 
Além disso, era necessário produzir um instrumento para frear o poder dos juízes, baseado num 
entendimento rígido da teoria da separação dos poderes. 
Com a subida de Napoleão ao poder, é inaugurada a forma moderna de elaborar normas jurídicas com 
a promulgação do Código Civil Francês, no qual é estabelecida não a hegemonia, mas o monopólio do 
direito estatal legislado (ou, simplesmente, da lei), isto é, a lei passa a ser a única fonte de direito 
admitida. 
7.2.1.5. A ESCOLA DA EXEGESE 
A primeira resposta para essa problemática foi oferecida pelo legalismo exegético: 
 Concepção rigidamente estatal do Direito. 
 A lei era onipotente. Identidade do Direito com a lei escrita e o culto do texto da lei. 
 O jurista deveria reconhecer o direito. 
 O estudo gramatical da lei, buscou a vontade do legislador e a vontade do povo. 
 Determinou que era vedado ao juiz interpretar a lei. A atividade do juiz deveria 
ser neutra (≠ imparcial). 
Assim, o Direito, estatal e codificado, apresentava pretensões de completude e universalidade, isto é, 
era o único direito aplicável dentro do território de um Estado e isento de lacunas. 
Num primeiro momento a Escola da Exegese admitia que o juiz poderia recorrer ao direito natural (na 
forma de "princípios jurídicos superiores ao direito positivo") – jusnaturalismo – ou aos costumes para 
preencher lacunas legais. 
Num segundo momento, estabeleceu o princípio de que o juiz deveria abster-se de julgar nos casos de 
lacuna ou pluralidade de leis aplicáveis ao caso. 
Depois, chegou a admitir o uso da analogia nos casos de lacuna. 
7.2.1.6. O MÉTODO INTERPRETATIVO DA ESCOLA DA EXEGESE 
O método exegético buscava a eliminação do problema das lacunas. 
Primeiro, os códigos e as normas se multiplicaram visando a eliminar as lacunas. 
Segundo, os membros da Escola acreditavam que as lacunas eram meramente aparentes, já que o 
emprego da analogia, que fundava-se na pressuposta vontade do legislador, permitia buscar as normas 
que subjaziam no "fundo" da legislação, colocando-as a descoberto. Nesse período, se entendia que os 
 
Terceiro, a interpretação estava fundada em um entendimento rígido da separação dos poderes que 
tomava como invasão da função do legislador qualquer método de interpretação que não buscasse o 
FACULDADE JOAQUIM NABUCO – FJN HERMENÊUTICA E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA 
10 
 
mpírico) gramaticalmente 
ou sintaticamente, de modo a extrair o seu sentido literal. Se, ainda assim, o sentido restasse obscuro 
ou incompleto, o intérprete deveria utilizar o método lógico, buscando estabelecer o valor lógico dos 
vocábulos. Após, cabe o recurso ao método sistemático que toma a norma como parte de um sistema 
jurídico. Por último, passa o intérprete a utilização do método histórico através da investigação da 
írito do povo. 
Houve a predominância do método gramatical 
7.2.2. HISTÓRIA HISTÓRICA DE SAVIGNY 
7.2.2.1. REPRESENTANTES DA ESCOLA HISTÓRICA 
 Friedrich Carl vonSavigny (1779 –1861). 
Em 1814 publicou o panfleto Vom Beruf unserer Zeit für Gesetzgebung und 
Rechtswissenschaft 
Nele, Savigny defendia que o Direito não era revelado ao legislador pela razão, mas que 
deveria ser extraído e compreendido do espírito do povo (Volksgeist 
Partindo do pensamento histórico da Escola Histórica do Direito os seguidores romanistas de Savigny, 
como Georg Friedrich Puchta e Bernhard Windscheid, desenvolveram um método jurídico baseado 
na lógica conhecido como jurisprudência dos conceitos (Begriffsjurisprudenz). 
7.2.2.2. CARACTERÍSTICAS DA ESCOLA HISTÓRICA ALEMÃ 
 Foi uma reação ao jusnaturalismo iluminista. 
 Savigny reagiu ao pensamento de Thibaut, que defendia a criação de um Código Civil para 
toda a Alemanha. 
 Influência do Romantismo historicista – pressupunha que as normas jurídicas seriam o 
resultado de uma evolução histórica e que a essência delas seria encontrada nos costumes e 
nas crenças dos grupos sociais. (Interpretação conforme os costumes) 
O Direito não existiria como um fenômeno imutável e universal pois, como produto histórico, cada 
Direito expressaria em sua essência uma individualidade própria, quer dizer, o “espírito” de cada povo, 
 
O volksgeist, expresso nos costumes de cada região, forneceria os institutos jurídicos a serem 
observados e intuidos, a fim de serem transformados em lei (Ex.: família, compra/venda, poder familiar, 
 
Ao invés da vontade do legislador, passaram a predominar os Institutos jurídicos (o direito dos 
professores) que fo 
Assim, os juízes eram mais influenciados pelos conceitos do que pelas leis. 
7.2.2.3. IMPORTÂNCIA DA ESCOLA HISTÓRICA 
Fez recuar o movimento jusnaturalista iluminista (embora, só Kant tenha combatido cabalmente esse 
 
 
Demonstrou que as ordens jurídicas são produtos culturais, ou seja, espelham as estruturas sociais dos 
 
Logo, o Direito não é apenas um produto cultural, mastambém um produto de disputas de interesses. 
7.2.3. ESCOLAS FORMALÍSTAS 
TEORIA NORMATIVISTA DE HANS KELSEN 
“A justiça, está sempre e invariavelmente imbricada com os valores (sempre variáveis) adotados 
por aquele que a invoca, não cabendo, portanto, pela imprecisão e fluidez de seu significado, num 
conceito de Direito universalmente válido”. – Kelsen. 
 
Uma teoria do Direito é uma descrição do Direito e precisa estar sem conteúdo (como na lógica). 
A teoria se afasta dos fatos; logo, o direito dogmático não está nos fatos, mas nos textos normativos (textos de 
textos). 
A teoria do Direito é formal, lógica e sistemática. 
O Direito tem conteúdo material, mas a teoria do Direito não tem conteúdo, pois é formal 
HERMENÊUTICA E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA LOURENÇO TORRES 
11 
 
7.2.3.1. HANS KELSEN (1881 – 1973) 
Hans Kelsen foi um jurista e filósofo judeu austríaco, que, perseguido pelo nazismo, migrou para os 
EUA onde exerceu o magistério na Universidade de Berkeley, CA. 
É o principal representante da Escola Normativista do Direito, um ramo da Escola Positivista. 
Dentre suas obras traduzidas para o português temos: 
 A Democracia. 
 Direito Internacional e Estado Soberano. 
 Jurisdição Constitucional. 
 O Estado como Integração. 
 Teoria Geral das Normas. 
 O problema da justiça 
 Teoria Geral do Direito e do Estado. 
 A Ilusão da Justiça. 
 O que é justiça? 
 Autobiografia de Hans Kelsen. Rio de Janeiro: Forense Universitária. 
Mas podemos dizer que a sua principal contribuição para o Direito foi a obra Teoria Pura do Direito. 
7.2.3.2. TEORIA PURA DO DIREITO (REINE RECHTSLEHRE). 
Na TPD, Kelsen procurou lançar as bases de uma ciência do direito, excluindo do conceito de seu 
objeto (o próprio Direito) quaisquer referências estranhas, especialmente aquelas de cunho sociológico 
e axiológico (os valores), que considerou, por princípio, como sendo matéria de estudo de outros ramos 
 
 
“Pura” era a teoria do direito e não o Direito. 
Uma de suas concepções teóricas de maior alcance prático é a ideia de ordenamento jurídico como 
sendo um conjunto hierarquizado de normas jurídicas estruturadas na forma de uma pirâmide abstrata, 
cuja norma mais importante, que subordina as demais 
normas jurídicas de hierarquia inferior, é a denominada 
norma hipotética fundamental, da qual as demais retiram seu 
fundamento de validade 
Inicialmente, Kelsen concebia a NF como uma hipótese 
teórica fundamentadora de sua sistemática. 
Posteriormente, afirmou que a NF é a norma de direito 
internacional que aduz que os pactos devem ser cumpridos. 
Contudo, muitos constitucionalistas afirmam que a NF é a 
Constituição Federal por ser a norma concreta máxima. 
7.2.3.3. PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO SISTEMA KELSENIANO 
 Unitarismo ou monismo – Toda norma está conectada e ligada a uma NF, estando em 
unidade com todo o ordenamento. Assim, uma norma é válida se pertencer ao ordenamento. A 
validade é o seu fundamento. (Sistema fechado) 
 Coerência – 
 Completude – A existência de lacunas era uma ficção para Kelsen. Por exemplo: o princípio da 
reserva legal – “tudo o que não está proibido, está permitido”. Ou seja, “o que não está proibido”, 
determinado no texto da norma, “está permitido”, também determinado pela norma tacitamente, 
embora, não esteja expressamente declarado no texto da norma. 
7.2.3.4. TEORIA DA MOLDURA DE KELSEN 
Após a 2ª Guerra Mundial Kelsen desenvolve A Teoria Pura do Direito, que fornece, também, uma 
 
 a interpretação do direito pelo órgão que o aplica (autêntica); 
 
Conforme sustenta a teoria pura, uma norma de escalão superior regula o ato pelo qual uma norma de 
 
Essa determinação, no entanto, nunca é completa, de modo que resta, sempre, uma margem de livre 
 
Assim, a norma do escalão superior tem sempre o caráter de uma moldura, a ser preenchida por este 
ato de produção ou execução normativa. 
FACULDADE JOAQUIM NABUCO – FJN HERMENÊUTICA E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA 
12 
 
 
7.2.4. O PRAGMATISMO OU REALISMO 
O Pragmatismo ou Realismo constitui uma escola de filosofia estabelecida no final do século XIX, com origem 
no Metaphysical Club, um grupo de especulação filosófica liderado pelo lógico Charles Sanders Peirce, pelo 
psicólogo William James e pelo jurista Oliver Wendell Holmes, Jr. 
7.2.4.1. CONCEITO 
É uma corrente doutrinária surgida nos Estados Unidos na primeira metade do século XX que centraliza 
o estudo do direito na atuação do juiz, considerando o direito aplicado concretamente e não a moral, a 
justiça ou as normas jurídicas. A normal formal não existe e a norma “real” só existe quando há julgado. 
7.2.4.2. CARACTERÍSTICAS 
 Postura não dogmática 
 O Estado não esgota a gênese do Direito (Estado não é a única fonte) 
 Pluralista (outras fontes – aberto) 
 Tem seu fundamento na eficácia normativa (e sua relação com a realidade). 
7.2.4.3. CORRENTES DO PENSAMENTO REALISTA 
SOCIOLOGIA DO DIREIT 
 O Direito é um mecanismo de controle social 
 O Direito deveria vir de um sentimento de agradabilidade, 
detectável empiricamente (Claudio Souto). Ele critica os 
formalistas e alternativistas de serem utópicos. 
ALTERNATIVISTAS – forma alternativa (Conciliação) 
 Uso alternativo do Direito – É uma releitura do direito estatal, 
não a negação do direito estatal. Procura aplicar um Direito 
extra-dogmático ou para-estatal. 
 Direito alternativo (em sentido estrito) – O direito vem dos 
movimentos sociais e não das elites estatais (marxismo). 
Tenta, 
DECISIONISTAS 
 Se ocupa de duas grandes questões: 
o o que o juiz decide em determinado caso? 
o o que o juiz irá decidir em uma situação sobre a qual ele ainda não se pronunciou? 
São preocupados com a decisão judicial: até que ponto as decisões dos juízes são influenciadas pelas 
normas ou pela política (Ex.: para o Critical Legal Studies tudo é política.) 
Oliver Wendell Holmes é um de seus mais importantes precursores. 
Já em Aristóteles (IV a.C) aplicava-se uma concatenação lógica, uma 
estrutura lógica, que foi designada Silogismo Perfeito ou Aristotélico. 
Como em uma adição a ordem dos fatores não altera o produto, temos: 
 A DEDUÇÃO quando esta estrutura iniciar pela Premissa Maior 
(Norma Jurídica) 
 A INDUÇÂO quando esta estrutura iniciar pela premissa menor 
(caso concreto) 
A Conclusão (Decisão jurídica) sempre estará associada à sanção, que advém da norma jurídica. 
A subsunção é a aplicação da estrutura silogística ao caso concreto, buscando solucioná-lo. A ação de 
subsunção é uma das mais apresentadas na decisão judicial. Por isso tem uma tendência ou escola do 
direito chamada de Escola Subsuntiva (que é uma escola dogmática). 
HERMENÊUTICA E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA LOURENÇO TORRES 
13 
 
7.2.4.4. PRAGMATISMO JURÍDICO NORTE-AMERICANO 
Nas palavras de William James e Francis Schaeffer, o pragmatismo defende que o sentido de tudo está 
na utilidade - ou efeito prático - 
O pragmatismo refuta a perspectiva de que o intelecto e os conceitos humanos podem, só por si, 
representar adequadamente a realidade. Dessa forma, opõe-se tanto às correntes formalistas quanto às 
 
O pragmatismo original é contra a ciência pela própria ciência. Para ele um estudo só se justifica caso 
tenha alguma utilidade social. 
 
7.3. DIREITO E MORAL 
O pensador inglês Herbert Hart, tido como um dos principais representantes da escola do Positivismo Jurídico, 
que teve lugar na segunda metade do século XX, manteve a defesa da tese kelseniana da separação entre o 
Direito e a Moral, sendo que, a partir dessa premissa metodológica, propôs um conceito analítico de Direito. 
Teses defendidas por Hart: 
 A tese da Neutralidade, segundo a qual o conceito de Direito tem que ser definido prescindindo-se de seu 
conteúdo. A tese do Subjetivismo, segundo a qual os critérios do Direito "reto" são de natureza subjetiva. 
Outras teses atribuídas a Hart por seus críticos: 
 A tese da Lei, segundo a qual o conceito de Direito deve ser definido mediante o conceito de Lei. 
 A tese da Subsunção, segundo a qual a aplicação do Direito pode ser levada a cabo em todos os casos 
mediante uma subsunção livre de valorações. 
 A tese do Legalismo, segundo a qual as normas do Direito devem ser obedecidas em todas as 
circunstâncias. 
 
8. CLASSIFICAÇÃO DOGMÁTICA DOS MÉTODOS E EFEITOS DA INTERPRETAÇÃO JURÍDICA 
8.1. MÉTODOS HERMENÊUTICOS DOGMÁTICOS DA INTERPRETAÇÃO JURÍDICA 
 Literal – busca o sentido do texto normativo, com base nas regras comuns da língua, de modo a se 
extrair dos sentidos oferecidos pela linguagem ordinária os sentidos imediatos das palavras 
empregadas pelo legislador. 
 Autêntico – é a interpretação que provém do legislador que redigiu a regra a ser aplicada, de modo que 
demonstra no texto legal qual a mens legis que inspirou o dispositivo legal. 
 Doutrinário – é dada pela doutrina, ou seja, pelos cientistas jurídicos, estudiosos do Direito que 
inserem os dispositivos legais em contextos variados, tal como sua relação com outras normas, os 
acontecimentos históricos, os entendimentos jurisprudenciais incidentes e demais complementos 
exaustivos de conhecimento das regras. 
 Gramatical – solucionar os problemas léxicos, ou seja, problemas sintáticos que se referem à conexão 
das palavras nas sentenças. 
 Lógico – é utilizada para solucionar problemas sintáticos com os quais se depara o interprete da norma 
jurídica, procurando descobrir o sentido da lei mediante a aplicação dos princípios científicos da lógica, 
enfrentando, portanto, questões lógicas da interpretação. 
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14 
 
 Sistemático – considera em qual sistema se insere a norma, relacionando-a às outras normas 
pertinentes ao mesmo objeto, bem como aos princípios orientadores da matéria e demais elementos 
que venham a fortalecer a interpretação de modo integrado, e não isolado. 
 Sociológico – é a interpretação na visão do homem moderno, ou seja, aquela decorrente do 
aprimoramento das ciências sociais, de modo que a regra pode ser compreendida nos contextos de sua 
aplicação, quais sejam o das relações sociais, de modo que o jurista terá um elemento necessário a 
mais para considerar quando da apreciação dos casos concretos ante a norma. 
 Evolutivo – interpreta as leis que faz com que o sentido da mesma se altere com as necessidades 
sociais do momento. 
 Histórico – busca o contexto fático da norma, recorrendo aos métodos da historiografia para retomar o 
meio em que a norma foi editada, os significados e aspirações daquele período passado, de modo a se 
poder compreender de maneira mais aperfeiçoada os significados da regra no passado e como isto se 
comunica com os dias de hoje. 
 Teleológico – busca os fins sociais e propósitos (telos – gr.) e bens comuns da lei e da norma em geral, 
dando-lhe certa autonomia em relação ao tempo que ela foi feita. 
 Axiológico – busca as funções e valores da norma em geral, ou seja, visualiza as normas a partir dos 
valores predominantes em uma determinada sociedade 
 Holístico – abarca o texto à luz de um mundo transdisciplinar (filosofia, história, sociologia...) interligado 
e abrangente. Inclusive, dando margem a desconsiderar certo texto em detrimento de uma justiça maior 
no caso concreto e não representada na norma entendida exclusivamente e desligada dos outros 
elementos da realidade que lhe dão sentido. 
 Jurisprudencial – produzida pelo conjunto de sentenças, acórdãos, súmulas e enunciados proferidos 
tendo por base discussão legal ou litígio em que incidam a regra da qual se busca exaurir o processo 
hermenêutico. 
O modelo kelsiano de métodos de interpretação (autêntico e doutrinário) é considerado majoritariamente pelos 
autores como ultrapassado. 
A hermenêutica é um discurso do poder de violência simbólica e como tal, apenas se preocupa em determinar 
como a teoria dogmática (incluindo os textos normativos) deve ser interpretada sem explicar (zetética) como é o 
sentido do Direito. 
Segundo Tercio Sampaio: 
 Interpretação gramatical, lógica e sistemática – Serve para solucionar os problemas léxicos, lógicos 
e sistemáticos eliminado suas inconsistências. Pressupõe que a ordem das palavras e o modo que 
estão conectadas são importantes para obter-se o correto significado da norma. Trata, também, as 
palavras da lei na forma de conceitos e da compatibilidade no todo estrutural (Ex.: revogação tácita). 
 Interpretação histórica, sociológica e evolutiva – A histórica leva em consideração sua gênese no 
tempo (precedentes). A sociológica considera a estrutura momentânea da situação. Ou, ainda, sua 
evolução entre as duas situações fáticas. 
 Interpretação teleológica e axiológica – Como a hermenêutica também entende que as atividades 
humanas têm uma razão prática (pragmática), certos textos e seus conteúdos normativos devem ser 
entendidos a partir de suas finalidades (teleologia) e de sua função (axiologia). 
8.2. EFEITOS DA INTERPRETAÇÃO JURÍDICA 
Com base nos métodos teleológico e axiológico: 
I. Efeito ESPECIFICADOR da interpretação 
O sentido da norma cabe na letra de seu enunciado (economia do pensamento), pois a letra da lei está 
em harmonia com a mente do legislador (mens legis) ou o espírito do da lei, cabendo ao intérprete 
apenas constatar a coincidência. Para elucidar o conteúdo da norma não é necessário sempre ir até o 
fim de suas possibilidades significativas, mas até o ponto em que os problemas pareçam razoavelmente 
decidíveis. Ou seja, basta que o interprete encontre no contexto o significado (clareza) interpretativo. 
Interpretar termos normais segundo seu uso normal, comum, natural, ordinário ou popular; e, os termos 
técnicos segundo seu sentido técnico. Ex.: “Culpa de terceiro” – art. 930, CC; “interpelação” art. 397, 
474 ou 525, CC. 
II. Efeito RESTRITIVO da Interpretação 
Ocorre sempre que se limita o sentido da norma, não obstante a amplitude de sua expressão literal. A 
garantia dos direitos fundamentais deve ser interpretada restritivamente (com ambiguidade conotativa). 
Símbolos como liberdade, vida, saúde e segurança são ambíguos. Mas, devem ser conotativamente 
restritos sempre que a norma lhes imponha regras. Ex.: Art. 220, CF. O exercício da liberdade de 
expressão pode ser delimitado nos termos admitidos na própria Constituição mediante lei (art. 5°, II, CF). 
HERMENÊUTICA E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA LOURENÇO TORRES 
15 
 
Só a própria Constituição pode estabelecer competências restritivas, na forma de exceções. Uma 
exceção deve sofrer interpretação restritiva (contem vaguidade denotativa). Ex.: Art. 37, XVI, CF. 
III. Efeito Extensivo da Interpretação. 
É a interpretação que amplia o sentido da norma para além do contido em sua letra. É o respeito à ratio 
legis, pois o legislador não pode prever todos os casos que a interpretação especificadora possa 
alcançar. 
O trabalho do interprete é tornar as mensagens normativas mais vagas e ambíguas do que são em 
geral em face da imprecisão natural da língua utilizada pelo legislador. 
Ex.: Direitos humanos – art. 5°, CF. Apenas de pessoas físicas (seres humanos) ou se estendem a 
pessoas jurídicas? 
Liberdade de expressão ou da manifestação de pensamento x imagem das pessoas (físicas e jurídicas) 
(art. 5°, IV, CF c/c art. 5°, X, CF). 
Pode a empresa rescindir o contrato de trabalho por justa causa por ato lesivo à honra ou à boa fama 
da empresa? (art. 482, k, CLT). 
O direito de resposta é uma garantia individual apenas ou se estende a empresas? (art. 5°, V, CF). 
8.3. INTEGRAÇÃO E APLICAÇÃO DO DIREITO PERANTE ANTINOMIAS E LACUNAS 
8.3.1. APLICAÇÃOA aplicação do Direito consiste no enquadrar um caso concreto em a norma jurídica adequada. 
Submete às prescrições da lei uma relação da vida real; procura e indica o dispositivo adaptável a um fato 
determinado. Isto é: tem por objeto descobrir o modo e os meios de amparar juridicamente um interesse 
humano. 
“Na aplicação da lei, o juiz atendera aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem 
comum”. – Art. 5°, LINDB. 
8.3.1.1. PRESSUPOSTOS PARA APLICAÇÃO 
A adaptação de um preceito ao caso concreto pressupõe: 
I. Crítica, com o fim de apurar a autenticidade e, em seguida, a constitucionalidade da lei, 
regulamento ou ato jurídico; 
II. Interpretação, com o objetivo de descobrir o sentido e o alcance do texto; 
III. Suprimento das lacunas, com o auxílio da analogia e dos princípios gerais do Direito; 
 É a proibição do non liquet (art. 126, CPC). 
"Sed maius ego altiusque id esse existimavi, quam quod meae aetati et mediocritati 
conveniret, ut cognovisse et condemnasse de moribus, non de probationibusrei gestae 
viderer; ut absolverem tamen, inducere in animum non quivi et propterea iuravi mihi 
non liquere atque ita iudicatu illosolutus sum." – 25, Liber XIV, Noctes Atticae, 
Gellius. 
 O exame das questões possíveis sobre ab-rogação (total), ou simples derrogação 
(parcial) de preceitos, bem como acerca da autoridade das disposições expressas, 
relativamente ao espaço e ao tempo. 
8.3.2. INTEGRAÇÃO 
Integração é um processo de preenchimento de lacunas, existentes na lei, por elementos que a própria 
legislação oferece ou por princípios jurídicos, mediante operação lógica e juízos de valor. 
“Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os 
princípios gerais de direito". – Art. 4º, Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro. 
 
“As autoridades administrativas e a Justiça do Trabalho, na falta de disposições legais ou 
contratuais, decidirão, conforme o caso, pela jurisprudência, por analogia, por equidade e outros 
princípios e normas gerais de direito, principalmente do direito do trabalho, e, ainda, de acordo com 
os usos e costumes, o direito comparado, mas sempre de maneira que nenhum interesse de 
classe ou particular prevaleça sobre o interesse público”. – Art. 8°, CLT. 
“Art. 100. São normas complementares das leis, dos tratados e das convenções internacionais e 
dos decretos: 
I – os atos normativos expedidos pelas autoridades administrativas; 
II – as decisões dos órgãos singulares ou coletivos de jurisdição administrativa, a que a lei atribua 
eficácia normativa; 
III – as práticas reiteradamente observadas pelas autoridades administrativas; 
IV – os convênios que entre si celebrem a União, os Estados, o Distrito Federal e os 
Municípios”. – CTN. 
8.3.2.1. ESPÉCIES DE INTEGRAÇÃO 
 Auto-Integração – processo de integração da que utiliza elementos do próprio ordenamento 
jurídico. 
 Hetero-Integração – é um processo no qual o aplicador do direito se utiliza de normas jurídicas 
pertencentes a outro ordenamento jurídico. 
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16 
 
8.3.2.2. MEIOS DE CONTROLE DE INTEGRAÇÃO INTERPRETATIVA 
Todos os meios integradores são controlados por princípios: 
1. Nenhum meio integrador gera efeito generalizante – cada ato integrado é singular e o 
preenchimento da lacuna é sempre in casu. 
2. A lei que abre exceção a regras gerais, ou restringe direitos, só abrange os casos que 
especifica. 
3. Teoricamente, são proibidos os costumes contra legem. 
8.3.3. ANTINOMIAS JURÍDICAS 
Uma antinomia (ou paradoxo) é a afirmação simultânea de duas proposições (teses, leis etc.) contraditórias. 
A antinomia no campo do Direito recebe o nome de antinomia jurídica. 
Então, a antinomia jurídica deve conter duas ou mais normas que sejam: 
 Incompatíveis entre si; 
 Pertencem a um mesmo ordenamento jurídico; e 
 Estejam no mesmo âmbito de validade. 
Antinomia = excesso de normas = incompatibilidade. 
Cuidado: não confundir com os critérios avaliadores entre princípios jurídicos que permitem certa 
compatibilidade. 
8.3.3.1. CRITÉRIOS ELEMENTARES DE SOLUÇÃO DAS ANTINOMIAS 
Critérios elementares para solução de antinomias jurídicas: 
I. Princípio Hierárquico – Uma lei superior derroga uma lei inferior. 
“lex superior derogat inferior”. 
II. Princípio Cronológico – Uma lei nova derroga uma lei velha (é o mais débil dos critérios). 
“lex posterior derorat priori”. 
III. Princípio da Especialidade – Uma lei especial derroga uma lei geral. 
“lex especialis derogat generali” 
Quando ocorre conflito entre os critérios utilizados na solução das antinomias, temos os 
METACRITÉRIOS: 
 HIERÁRQUICO x CRONOLÓGICO → prioriza o HIERÁRQUICO. 
 ESPECIALIDADE x CRONOLÓGICO → prioriza a ESPECIALIDADE. 
 HIERÁRQUICO x ESPECIALIDADE: 
o Prevalece a norma permissiva sobre a proibitiva. 
o Prevalece o interesse público sobre o particular. 
 Critério da LEX FAVORABILIS. (Direito Penal) 
8.3.3.2. CLASSIFICAÇÃO DAS ANTINOMIAS A PARTIR DOS CRITÉRIOS DE SOLUÇÃO 
 Antinomia de 1º grau → conflito de normas que envolve apenas um dos critérios acima 
 
 Antinomia de 2º grau → choque de normas válidas que envolve dois dos critérios antes 
 
 Antinomia aparente → situação em que há metacritério para solução de conflito. 
 Antinomia real → situação em que não há metacritério para solução de conflito, pelo 
menos inicial, dentro dos que foram anteriormente expostos. 
8.3.3.3. LOCALIZAÇÃO DO PROBLEMA DAS ANTINOMIAS 
MODAIS: 
→ É PROIBIDO 
→ É OBRIGATÓRIO 
→ É PERMITIDO ou É FACULTATIVO 
8.3.3.4. CONFLITO DE NORMAS SUPRANACIONAIS 
Merecem destaque particular os critérios oferecidos pelo Direito Internacional Privado (DIP) para os 
conflitos entre normas jurídicas internas independentes, pertencentes ao ordenamento jurídico 
nacional de dois ou mais Estados: 
 O DIP não disciplina diretamente a relação jurídica, mas determina qual a lei a ser aplicada para 
regular a referida relação social. 
 São “normas de direito sobre direito” (DOLINGER, Jacob. Direito internacional privado: parte 
geral. 4. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 1996, p. 2). 
Essas normas estabelecem as “regras de conexão” para aplicar a norma jurídica cabível. 
 
HERMENÊUTICA E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA LOURENÇO TORRES 
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Exemplos: 
1. Qual a norma que se aplica a questões jurídicas que envolvam personalidade, nome, 
capacidade e direitos de família? “A lei do país em que [for] domiciliada a pessoa determina as 
regras sobre o começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família” 
(art. 7º da LINDB). Assim, o elemento de conexão é o domicílio. 
2. Qual a norma que se aplica na qualificação das obrigações? “Para qualificar e reger as 
obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se constituírem (sic.)” (art. 9º da LINDB). Assim, o 
elemento de conexão também é o domicílio. 
Um critério geral é que: 
“Art. 17. As leis, atos e sentenças de outro país, bem como quaisquer declarações de vontade, não 
terão eficácia no Brasil, quando ofenderem a soberania nacional, a ordem pública e os bons 
costumes” – LINDB. 
8.3.4. ANALOGIA 
 
αναλογία 
 
É um processo cognitivo de transferência de informação ou significado de um sujeito particular (fonte) para 
outro sujeito particular (alvo), e também pode significar uma expressão linguística, correspondendo a este 
processo, igualmente conhecido por compar 
Num sentido mais específico, analogia é uma inferência ou um argumento de um particular para outro particular, 
em oposição à dedução, indução e abdução, nas quais pelo menos uma das premissas ou conclusão é geral. 
 
ANALOGIA JURÍDICA 
A analogia é um método de integraçãojurídica, constituindo-se em um raciocínio por meio de um exemplo, ou 
 
Para o direito, a analogia seria assim uma forma de solucionar o problema por meio de uma identidade com 
outro, buscando atender a uma finalidade maior da lei, e nesse sentido, se assemelharia com a Teleologia. 
 
8.3.4.1. FUNÇÕES DA ANALOGIA NO ÂMBITO JURÍDICO 
I. Solução de casos concretos: nessa situação o aplicador compara o caso em questão com um 
outro, similar, e aplica analogicamente a mesma lei ou norma, encontrando uma solução 
semelhante aos dois casos, já que possuíam as mesmas características. 
II. No caso de países de sistema common law, a analogia tem um papel mais significativo, uma 
vez que como não existem normas de aplicação, a semelhança de casos constitui base 
fundamental para que os juízes solucionem problemas 
8.3.4.2. APLICAÇÃO DA ANALOGIA 
I. Aplicação de normas: para situações semelhantes, pode-se exigir a aplicação da mesma 
norma. 
II. Aplicação no caso de lacunas: para os casos em que a lei é omissa ou obscura. 
III. Quando uma norma é estabelecida com e para determinada facti species (espécie fática) 
aplicável a uma conduta para a qual não há norma, havendo entre os supostos fáticos uma 
semelhança (Ferraz Júnior) 
A analogia legis ocorre quando se formula regra nova, semelhante a outra já existente 
A analogia juris se caracteriza por recorrer à síntese de um complexo de princípios jurídicos. 
8.3.5. EQUIDADE 
Aequitas 
Conceito: 
A equidade consiste na adaptação da regra existente à situação concreta, observando-se os critérios de justiça 
e igualdade. Ou seja, ela adapta a regra a um caso específico, a fim de deixá-la mais justa. 
É o estudo atento, a apreciac a o inteligente dos textos da lei, dos princi pios da ciência juri dica e das 
necessidades da sociedade. 
Finalidade: 
Suprir lacunas evitando os inconvenientes da aplicação estrita dos textos legais. 
Summun jus, summa injuria 
FACULDADE JOAQUIM NABUCO – FJN HERMENÊUTICA E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA 
18 
 
A equidade não pode ser de livre-arbítrio e nem pode ser contrária ao conteúdo expresso da norma. Ela deve 
levar em conta a moral social vigente, o regime político Estatal e os princípios gerais do Direito. 
Além disso, a mesma "não corrige o que é justo na lei, mas completa o que a justiça não alcança“. (Milton P. 
Carvalho Filho). 
8.3.6. COSTUMES 
Costume jurídico: 
Além das características genéricas do costume (longi temporis praescriptio – são observados por modo 
constante e uniforme) possuem a característica do opinio juris vel necessitatis ou seja, estão sob a convicção 
de corresponder a uma necessidade jurídica. 
São costumes de relevância jurídica. 
Na o podem ser “inventados” pelo operador do Direito, mas tem que ser atestados pelo tempo. 
 Praeterlegem – (aceita pela lei e pela legislação) preenche o que não existe na lei. 
 Secundum legem – (aceita pela lei e pela legislação) é segundo a lei, de acordo com a lei. 
 Contra legem – (NÃO aceita pela lei e pela legislação) é contra a lei. 
Praxisforensis – é também aceita como costume jurídico. 
8.3.7. PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO 
Princípios (arché, gr.): regras, máximas, mandamentos, ditames, ou fundamento, base, ponto de partida, origem. 
Também, são “pautas”, padrões, standards, axiomas, postulados e referências fundamentais. 
Princípios são indicadores de direitos garantidos constitucionalmente (garantidos eles mesmos como direitos) 
que, deontologicamente, indicam e orientam como “deve ser” o comportamento humano e, na esfera jurídica e 
da sua interpretação, norteiam a interpretação e a aplicação do Direito. 
Os princípios expressam valores superiores dentro de um ordenamento (social, religioso, jurídico). 
 São princípios da Constituição brasileira o fundamento da “dignidade da pessoa humana” (art. 1°, III, 
CF) e “os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa” (art. 1º, IV, CF). 
Os princípios são normas programáticas que indicam a obrigação de perseguir certos objetivos. 
 São normas programáticas nacionais os objetivos fundamentais da República brasileira – art. 3º, CF. 
 São normas programáticas internacionais os princípios da República brasileira – art. 4º, CF. 
Os princípios são também critérios de interpretação e aplicação do Direito. 
Conceito jurídico: são as enunciações normativas de valor genérico, que condicionam e orientam a 
compreensão do ordenamento jurídico em sua aplicação e integração ou mesmo para a elaboração de novas 
normas (Miguel Reale). 
Cada ramo do Direito possui seus princípios norteadores e na necessidade de sua aplicação, esta 
especificidade é que deverá primeiramente ser aplicada. 
São princípios reconhecidos: 
 A dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, CF) e o respeito dos Direitos Humanos (art. 5º, XLI, LXXVIII, 
§3º, CF). 
 A legalidade (art. 5º, XXXIX, CF), a hierarquia normativa, a irretroatividade (art. 5º, XL, CF), a segurança 
jurídica, a responsabilidade dos poderes públicos e a interdição da arbitrariedade (art. 5º, II, LIII a LVII, 
CF). 
 A igualdade na (art. 5º, I, CF) e perante a lei (art. 5º, caput, CF) e a proibição da discriminação (art. 5º, 
VIII, XLII, CF) 
Também são reconhecidos os seguintes princípios: 
 O direito à vida, à integridade física e moral. 
 A liberdade ideológica, religiosa, de culto e a laicidade do Estado. 
 A liberdade pessoal e o direito de defesa. 
 O direito à privacidade, à honra e à intimidade pessoal e familiar. 
 O direito de imagem, da inviolabilidade do domicílio e o sigilo das comunicações. 
 A liberdade de residência e circulação no território nacional. 
 A liberdade de expressão e informação em suas diversas modalidades. 
 A liberdade de reunião e associação. 
 O direito à educação e a liberdade de ensino. 
 A unidade do ordenamento e a distribuição de competências. 
 O pluralismo político e partidário. 
 A liberdade de associação sindical e empresarial. 
 O direito à tutela judicial efetiva. 
 O direito à propriedade privada e ao trabalho, etc. 
 
HERMENÊUTICA E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA LOURENÇO TORRES 
19 
 
8.3.7.1. APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO NA INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS 
A aplicação dos princípios é gradativa: do menos ao mais geral. 
Quanto menor for a amplitude, o raio de domínio adaptável a espécie, menor será a possibilidade de 
falhar o processo indutivo, mais fácil e segura a aplicação a hipótese controvertida. 
Cognitivamente segue-se: 
a) de um instituto jurídico; 
b) de vários institutos afins; 
c) de uma parte do Direito Privado (Civil ou Comercial); ou de uma parte do Direito Público 
(Constitucional, Administrativo, Internacional, etc.); 
d) de todo o Direito Privado, ou de todo o Direito Público; 
e) do Direito Positivo, inteiro; 
f) do Direito em sua plenitude, sem distinção nenhuma. 
Princípios Gerais do Direito (Exemplos específicos de ramos do Direito): 
1. Princípios do Direito das Sucessões: 
 respeito a vontade do hereditando (1.899); esse princípio é reflexo do art. 112 do CC que 
destaca a importância da vontade nos negócios jurídicos (vide aula 5 de Contratos). O 
juiz e o testamenteiro devem se valer de testemunhas ao interpretar o testamento para 
tentar descobrir qual seria a vontade do extinto. 
 atribuição da herança a parentes ou familiares do falecido: este princípio completa o 
anterior, de modo que se deve obedecer à vontade do extinto, mas respeitando-se o 
quinhão dos familiares, afinal a família é a base da sociedade (1.789, 1.845, § 1º do art. 
1.857). 
 igualdade entre os quinhões da herança ou princípio da divisão necessária: o Direito 
Romano admitia a varonia e a primogenitura, de modo que os filhos homens e mais 
velhos herdavam mais do queos filhos mais jovens e as mulheres; atualmente existe 
igualdade entre os filhos (art. 2.003 do CC e § 6º do art. 227 da CF). Porém, se alguém 
deseja beneficiar um filho mais do que o outro pode fazê-lo via testamento e suportar as 
consequências do ciúme entre irmãos (1.849 e 2.006) 
2. Princípios de Direito de Família: 
 Princípio do "ratio" do matrimônio e da união estável – Segundo esse princípio, o 
fundamento básico do casamento e da vida conjugal é a afeição entre os cônjuges e a 
necessidade de que perdure completa comunhão de vida. 
 Princípio da igualdade jurídica dos cônjuges e dos companheiros – Com esse princípio 
desaparece o poder marital, e a autocracia do chefe de família é substituída por um 
sistema em que as decisões devem ser tomadas de comum acordo entre marido e 
mulher ou conviventes, pois os tempos atuais requerem que a mulher seja colaboradora 
do homem e não sua subordinada e que haja paridade de direitos e deveres entre 
cônjuges e companheiros. 
 Princípio da igualdade jurídica de todos os filhos (CF, art. 227, § 6º e CC, arts. 1.596 
a 1.629) Com base nesse princípio, não se faz distinção entre filho matrimonial, não 
matrimonial ou adotivo quanto ao poder familiar, nome e sucessão; permite-se o 
reconhecimento de filhos extramatrimoniais e proíbe-se que se revele no assento de 
nascimento a ilegitimidade simples ou espuriedade. 
 Princípio do pluralismo familiar – Reconhecimento da família matrimonial e de entidades 
familiares. 
 Princípio da consagração do poder familiar – O poder-dever de dirigir a família é exercido 
conjuntamente por ambos os genitores, desaparecendo o poder marital e paterno. 
 Princípio da liberdade: 
o Livre poder de formar uma comunhão de vida. 
o Livre decisão do casal no planejamento familiar; 
o Livre escolha do regime matrimonial de bens; 
o Livre aquisição e administração do patrimônio familiar; 
o Livre opção pelo modelo de formação educacional, cultural e religiosa da prole. 
 Princípio do respeito à dignidade da pessoa humana – Garantia do pleno 
desenvolvimento dos membros da comunidade familiar. 
3. Princípios de Direito Civil: 
 Princípio da personalidade – A noção contida neste princípio é de que todo ser humano 
tem direito à sua existência reconhecida, o que lhe acarreta atribuição de direitos e 
obrigações. 
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20 
 
 Princípio da autonomia da vontade – Aqui o direito levado em conta é a capacidade da 
pessoa humana de praticar ou abster-se de praticar certos atos de acordo com sua 
vontade. 
 Princípio da liberdade de estipulação negocial – Neste princípio garante-se o livre 
arbítrio do indivíduo em relação à outorga de direitos e aceite de deveres, nos limites 
legais, dando início a um negócio jurídico qualquer. 
 Princípio da propriedade individual – O princípio da propriedade individual defende a ideia 
de que o homem, devido ao seu trabalho ou pelos meios permitidos a ele pela letra da lei 
tem o direito de exteriorizar a sua personalidade em bens móveis e imóveis que passam 
a constituir o seu patrimônio. 
 Princípio da intangibilidade familiar – Tal princípio reconhece a importância da existência 
do núcleo familiar para o desenvolvimento humano 
 Princípio da legitimidade da herança e do direito de testar: Este princípio garante a 
faculdade do indivíduo de dispor de seus bens do modo como assim determinar, 
planejando a maneira como este será transmitido a seus herdeiros. 
 Princípio da igualdade social: O seguinte princípio defende o perfeito equilíbrio entre o 
ganho do particular e a saúde da sociedade como um todo, evitando ao máximo as 
desigualdades e injustiças sociais. 
 Princípio da solidariedade social: Este princípio atenta para a importância da função 
social da propriedade e dos negócios jurídicos, conciliando as necessidades da 
coletividade e dos interesses particulares. 
Certas orientações são descritas como topoi e podem estar normatizados ou não no ordenamento: 
1. Falar e não provar é o mesmo que não falar. 
2. Ninguém pode causar dano, e quem causar terá que indenizar. 
3. Ninguém pode se beneficiar da própria torpeza. 
4. Ninguém deve ser punido por seus pensamentos. 
5. Ninguém é obrigado a citar os dispositivos legais nos quais ampara sua pretensão, pois se 
presume que o juiz os conheça. 
6. Ninguém está obrigado ao impossível. 
7. Não há crime sem lei anterior que o descreva. 
8. Ninguém pode alienar mais direitos do que possui. 
8.3.7.2. CRITÉRIOS ORIENTADORES NO CASO DE “CHOQUE” DE PRINCÍPIOS 
Diferentemente das antinomias jurídicas, quando há “choque” de princípios, constata-se que: 
 Os princípios são aplicáveis em maior ou menor medida. 
 No caso de “colisão” deve haver ponderac ão para determinar o “grau” de aplicac ão de cada um. 
 Em cada caso, dar-se-á primazia a um deles, mas isso não importa na exclusão do outro. 
 Na medida do possível, se valorarão ponderadamente os princípios e se aplicarão ambos: 
algumas vezes um cederá e em outras, esse mesmo prevalecerá. 
 No caso em que se possam aplicar vários princípios, todos serão considerados, sopesados e 
aplicados, levando em conta um sistema de ponderação inclusiva 
8.3.8. HERMENÊUTICA E JUSRISDIÇÃO CONSTITUCIONAL 
8.3.8.1. INTERPRETAÇÃO JURÍDICA X INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL 
A interpretação jurídica é um processo de atribuição de sentido aos enunciados de textos ou normas 
jurídicas, visando à resolução de um caso concreto. É o gênero. 
A interpretação constitucional tem por objeto a compreensão a aplicação das normas constitucionais. 
Portanto, leva em conta o conjunto de peculiaridades que singularizam seus preceitos, destacando-se a 
supremacia de suas normas, a natureza da linguagem que adota, o seu conteúdo específico e seu forte 
caráter político. 
8.3.8.2. CARACTERÍSTICAS DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS 
Veiculam conceitos abertos, vagos e indeterminados que conferem ao intérprete um amplo “espaço de 
conformação” (Ex.: Dignidade da pessoa humana, moralidade, função social da propriedade, justiça 
social, relevância, etc.). 
São normas de organização e estrutura, que traçam as competências orgânicas e os fins do Estado, e 
disciplinam, inclusive, o processo legislativo de elaboração das normas legais. 
São dotadas de forte carga política em razão de sua pretensão de regular o fenômeno político e 
estabelecer as bases políticas do Estado. 
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21 
 
8.3.8.3. FASES DA INTERPRETAÇÃO (VICENTE RÁO) 
1. A análise direta do fato, ou diagnóstico do fato – Tentamos nesta fase entender ou melhor, 
apreender esta realidade, que é em grande medida aquilo que interpretamos que ela seja. A 
realidade (fato) é apreendida pelo sujeito e reconstruída por ele. Processo subjetivo de apreensão 
do real. 
2. A qualificação perante o direito, ou diagnóstico jurídico – Neste ponto, tentamos qualificar o 
fato em si, relacionando-o ao mundo jurídico. 
3. A crítica formal e a crítica substancial da norma aplicável – A crítica formal ou verificação 
formal da existência da lei, consiste em apurar a autenticidade formal da norma relacionada; a 
crítica substancial tende a apurar as condições da validade e vigência dos preceitos normativos. 
4. A interpretação da norma – Impossível seria defini-la por uma fórmula universalmente aceita. Por 
enquanto, podemos aceitar a interpretação como sendo a operação lógica que, obedecendo aos 
princípios de leis científicos ditados pela hermenêutica e visando integrar o conteúdo orgânico do 
direito, apura o sentido e os fins das normas jurídicas, ou apura novos preceitos normativos, para o 
efeito de sua aplicação e as situações de fato incidentes na esfera do direito. 
5. A aplicação ou adaptação ao fato, ou caso concreto – Consiste nasujeição de um fato da vida 
a uma regra jurídica correspondente, de modo a conseguir determinada consequência de direito. 
8.3.8.4. MÉTODOS DE INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL 
A interpretação das normas constitucionais obtém-se a partir de um conjunto de métodos 
reciprocamente complementares: 
I. Método jurídico ou hermenêutico–clássico – A Constituição é uma lei e a interpretação 
constitucional é uma interpretação da lei. Assim, os elementos clássicos da Escola Histórica de 
Savigny são trazidos à interpretação, como: o elemento gramatical (ou filológico, literal ou 
textual); o histórico; o sistemático (ou lógico); o teleológico (ou racional) e o genético. 
Ex.: Art. 40, §1°, II e art. 226, §3°, CF. 
É um método insuficiente e não eficaz de per si e necessita de outros meios. 
II. Método tópico–problemático – Tópica (no campo jurídico) é uma técnica de pensar o problema, 
ou, uma técnica mental que se orienta para solução de um problema (Theodor Viehweg). A base 
dessa tópica são os topoi (ou tópicos, são pontos de vista utilizáveis e aceitáveis em toda parte, 
que podem ser a favor ou contra determinada opinião aceita e podem conduzir à verdade 
(Viehweg)). 
É um processo aberto de interpretação constitucional entre os vários participantes (ou intérpretes) 
que tenta adaptar a norma constitucional ao problema concreto (o problema é superior à norma). 
Tem por base as seguintes premissas: 
 Caráter prático – pois toda interpretação busca solucionar problemas práticos e 
concretos. 
 Caráter aberto, fragmentário ou indeterminados – em razão da estrutura normativo-
material. 
 Preferência pela discussão do problema – porque as normas constitucionais não 
permitem qualquer operação de subsunção a partir delas mesmas. 
Crítica: conduz a um casuísmo sem limites (Canotilho). 
III. Método hermenêutico–concretizador – A técnica concretista tem por base que a leitura de 
todo o texto (em geral) e da Constituição (em especial) deve se iniciar pela pré-compreensão do 
seu sentido através de uma atividade criativa do intérprete. A atividade criativa busca o sentido 
do texto para concretizá-lo para e a partir de uma situação concreta (a norma é superior ao 
problema). 
Pressupostos da interpretação: 
 Subjetivos (pré-compreensão) – o intérprete cria na atividade de obter o sentido do 
texto constitucional. 
 Objetivos (contexto) – o intérprete atua como mediador entre o texto e a situação. 
 Uma relação entre o texto e o contexto (círculo hermenêutico). 
IV. Método científico–espiritual (Smend) – A Constituição deve ser compreendida como uma 
ordem de valores e como elemento do processo de integração. A interpretação da Constituição 
não deve se limitar à análise fria de seu texto, mas ir até o conteúdo axiológico subjacente ao seu 
texto. A Constituição é norma, mas também é realidade (a realidade concreta da vida), que é 
sempre mutável e o intérprete deve captar esta mudança de sentido. 
V. Método normativo–estruturante (Müller) – Existe uma relação necessária entre o texto e a 
realidade; entre os preceitos jurídicos e os fatos que eles intentam regular. 
A tarefa de interpretar é a de concretizar a norma constitucional. 
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22 
 
 O intérprete-aplicador deve considerar tanto os elementos resultantes da interpretação do texto, 
como os decorrentes da investigação da realidade. 
É concretista. A norma a ser concretizada não está inteiramente no texto, pois com este não se 
identifica. 
8.3.8.5. PRINCÍPIOS DA INTERPRETAÇAO CONSTITUCIONAL 
Princípios (metarregras) de interpretação constitucional: 
 Princípio da unidade da Constituição. 
 Princípio do efeito integrador. 
 Princípio da máxima efetividade. 
 Princípio da justeza ou da conformidade funcional. 
 Princípio da concordância prática ou da harmonização. 
 Princípio da força normativa da Constituição. 
 Princípio da proporcionalidade ou razoabilidade. 
 Princípio da presunção de constitucionalidade das leis. 
 Princípio da interpretação conforme a Constituição (modalidade de decisão de controle de 
constitucionalidade de normas). 
 
 
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EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO 
1. A interpretação constitucional tem por objeto a compreensão, a aplicação das normas 
constitucionais. Portanto, leva em conta o conjunto de peculiaridades que singularizam seus 
preceitos, destacando-se a supremacia de suas normas, a natureza da linguagem que adota, o seu 
conteúdo específico e seu forte caráter político. Assim, dentre as características das normas 
constitucionais não podemos dizer que (assinale a alternativa ERRADA): 
a) Elas veiculam conceitos abertos e vagos. 
b) Elas veiculam conceitos indeterminados que conferem ao intérprete um amplo “espaço de 
conformação”. 
c) Elas são normas de organização e estrutura, que traçam as competências orgânicas e os fins do 
Estado, e disciplinam, inclusive, o processo legislativo de elaboração das normas legais. 
d) Elas são dotadas de forte carga política em razão de sua pretensão de regular o fenômeno político e 
estabelecer as bases políticas do Estado. 
e) Elas vedam a interpretação extensiva, sobretudo do âmbito de proteção de normas de direitos 
fundamentais, porque, invariavelmente, se trata de estratagema do intérprete para usurpar a vontade 
do Poder Constituinte. 
2. Na interpretação constitucional a tópica (o método tópico-probelatizador) tem por base pontos de 
vista úteis e aceitáveis que podem ser a favor ou contra determinada opinião aceita. Assim, é 
CORRETO afirmar que: 
a) a tópica tem por base a leitura de todo o texto e a Constituição criando uma relação entre texto e 
contexto. 
b) a tópica é uma técnica de pensar o problema como método mental de solução do problema, por isso, 
casuística. 
c) a tópica busca o sentido do texto para concretizá-lo para e a partir de uma situação concreta. 
d) a tópica deve ser compreendida como uma ordem de valores para que o intérprete capte as mudanças 
de sentido. 
e) a tópica concretiza a norma constitucional com base na relação necessária entre texto e realidade. 
3. Além das regras (critérios) integradoras gerais, a interpretação constitucional possui metarregras 
que servem de princípios orientadores. Quais das alternativas a seguir não é uma dessas 
metarregras? 
a) Princípio da justeza ou da conformidade funcional. 
b) Princípio da concordância prática ou da harmonização. 
c) Princípio da força normativa da Constituição. 
d) Princípio da integração exclusiva. 
e) Princípio da proporcionalidade ou razoabilidade. 
4. Leia as assertivas a seguir sobre os métodos de interpretação e marque a alternativa correta: 
I. O método autêntico é a interpretação que provém do legislador que redigiu a regra a ser aplicada, de 
modo que demonstra no texto legal qual a mens legis que inspirou o dispositivo legal. 
II. O método doutrinário é dado pelos cientistas jurídicos, estudiosos do Direito que inserem os 
dispositivos legais em contextos variados, tal como sua relação com outras normas, os 
acontecimentos históricos, os entendimentos jurisprudenciais incidentes e demais complementos 
exaustivos de conhecimento das regras. 
III. O método jurisprudencial é produzido pelo conjunto de sentenças, acórdãos, súmulas e enunciados 
proferidos tendo por base discussão legal ou litígio em que incidam a regra da qual se busca exaurir o 
processo hermenêutico. 
a) As assertivas I e II estão corretas. 
b) As assertivas II e III estão corretas. 
c) As assertivas I e III estão corretas. 
d) Apenas a assertiva I está correta. 
e) Todas as assertivas estão corretas. 
5. Com relação aos métodos de interpretação das normas constitucionais, assinale a opção correta. 
a) Segundo o método tópico-problemático, as normas constitucionais são fechadas e determinadas, sem 
nenhum viés fragmentário.b) Para cada caso concreto que envolva normas constitucionais, há um método de interpretação 
adequado que se revela o correto. 
c) De acordo com o método hermenêutico clássico, devem-se adotar os critérios tradicionais 
relacionados por Savigny como forma de se preservar o conteúdo da norma interpretada e evitar que 
ele se perca em considerações valorativas. 
d) Uma das características do método hermenêutico-concretizador é ignorar a pré-compreensão do 
intérprete. 
e) Consoante o método científico-espiritual, a interpretação da Constituição restringe-se ao campo 
jurídico-formal, não sendo admitida qualquer perspectiva política ou sociológica de construção e 
preservação da unidade social. 
 
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6. Marque com um “X” a resposta que completa corretamente a afirmação a seguir. A questão dos 
modos técnicos de integração do direito diz respeito aos instrumentos técnicos à disposição do 
interprete para efetuar o preenchimento ou a colmatação da lacuna. Dentre esses vários modos, 
quando uma norma, estabelecida com e para determinada espécie fática, é aplicável à conduta para 
a qual não há norma, havendo entre ambos os supostos fáticos, uma semelhança, é conhecida, em 
geral, como: 
a) analogia. 
b) integração. 
c) equidade. 
d) costume. 
e) interpretação extensiva. 
7. A respeito dos efeitos (métodos) da interpretação. Marque a alternativa correta depois de ler os 
seguintes enunciados: 
I. Ocorre sempre que se limita o sentido da norma, não obstante a amplitude de sua expressão literal. 
II. É a interpretação que amplia o sentido da norma para além do contido em sua letra. 
III. O sentido da norma cabe na letra de seu enunciado (economia do pensamento), pois a letra da lei 
está em harmonia com a mente do legislador ou o espírito do da lei, cabendo ao intérprete apenas 
constatar a coincidência. 
As assertivas acima definem os conceitos dos efeitos da interpretação jurídica respectivamente do(s): 
a) efeito especificador, restritivo e extensivo. 
b) efeito restritivo, especificador e extensivo. 
c) efeito especificador, extensivo e restritivo. 
d) efeito extensivo, especificador e restritivo. 
e) efeito restritivo, extensivo e especificador. 
8. O método de interpretação das normas constitucionais segundo o qual se procura identificar a 
finalidade da norma, levando-se em consideração o seu fundamento racional, é o método 
__________________. 
a) literal. 
b) gramatical. 
c) histórico. 
d) sistemático. 
e) teleológico. 
9. Leia as assertivas a seguir sobre os métodos de interpretação e marque a alternativa correta: 
I. O método autêntico é a interpretação que provém do legislador que redigiu a regra a ser aplicada, de 
modo que demonstra no texto legal qual a mens legis que inspirou o dispositivo legal. 
II. O método doutrinário é dado pelos cientistas jurídicos, estudiosos do Direito que inserem os 
dispositivos legais em contextos variados, tal como sua relação com outras normas, os 
acontecimentos históricos, os entendimentos jurisprudenciais incidentes e demais complementos 
exaustivos de conhecimento das regras. 
III. O método jurisprudencial é produzido pelo conjunto de sentenças, acórdãos, súmulas e enunciados 
proferidos tendo por base discussão legal ou litígio em que incidam a regra da qual se busca exaurir o 
processo hermenêutico. 
a) As assertivas I e II estão corretas. 
b) As assertivas II e III estão corretas. 
c) As assertivas I e III estão corretas. 
d) Apenas a assertiva I está correta. 
e) Todas as assertivas estão corretas. 
10. Acerca das espécies e métodos clássicos de interpretação adotados pela hermenêutica jurídica, 
assinale a opção correta. 
a) A interpretação autêntica pressupõe que o sentido da norma é o fixado pelos operadores do direito, 
por meio da doutrina e jurisprudência. 
b) A interpretação lógica se caracteriza por pressupor que a ordem das palavras e o modo como elas 
estão conectadas são essenciais para se alcançar a significação da norma. 
c) A interpretação sistemática se caracteriza por pressupor que qualquer preceito normativo deverá ser 
interpretado em harmonia com as diretrizes gerais do sistema, preservando-se a coerência do 
ordenamento. 
d) A interpretação histórica se caracteriza pelo fato de que o significado da norma deve atender às 
características sociais do período histórico em que é aplicada. 
e) A interpretação axiológica pressupõe uma unidade objetiva de fins determinados por valores que 
coordenam o ordenamento, assim legitimando a aplicação da norma. 
 
 
 
HERMENÊUTICA E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA LOURENÇO TORRES 
25 
 
11. A hermenêutica aplicada ao direito formula diversos modos de interpretação das leis. A 
interpretação que leva em consideração principalmente os objetivos para os quais um diploma legal 
foi criado é chamada de: 
a) interpretação restritiva, por levar em conta apenas os objetivos da lei, ignorando sua estrutura 
gramatical. 
b) interpretação extensiva, por aumentar o conteúdo de significado das sentenças com seus objetivos 
historicamente determinados. 
c) interpretação autêntica, pois apenas as finalidades da lei podem dar autenticidade à interpretação. 
d) interpretação teleológica, pois o sentido da lei deve ser considerado à luz de seus objetivos. 
e) interpretação doutrinária, por considera as formulações feitas pela jurisprudência legal. 
12. "Na fase madura de seu pensamento, a substituição da lei pela convicção comum do povo 
(Volksgeist) como fonte originária do direito relega a segundo plano a sistemática lógico-dedutiva, 
sobrepondo-lhe a sensação (Empfindung) e a intuição (Anschauung) imediatas. Savigny enfatiza o 
relacionamento primário da intuição do jurídico não à regra genérica e abstrata, mas aos 'institutos 
de direito' (Rechtsinstitute), que expressam 'relações vitais' (Lebensverhältnisse) típicas e 
concretas". Esta caracterização, realizada por Tercio Sampaio Ferraz Júnior, em sua obra A Ciência 
do Direito, corresponde a aspectos essenciais da seguinte escola filosófico-jurídica: 
a) Normativismo. 
b) Positivismo jurídico. 
c) Jusnaturalismo. 
d) Historicismo Jurídico. 
e) Legalismo exegético. 
13. Acerca das espécies e métodos clássicos de interpretação adotados pela hermenêutica jurídica, 
assinale a opção correta quanto à correspondência entre os métodos e suas principais 
características. 
a) A interpretação autêntica pressupõe que o sentido da norma é o fixado pelos operadores do direito, 
por meio da doutrina e jurisprudência. 
b) A interpretação lógica se caracteriza por pressupor que a ordem das palavras e o modo como elas 
estão conectadas são essenciais para se alcançar a significação da norma. 
c) A interpretação sistemática se caracteriza por pressupor que qualquer preceito normativo deverá ser 
interpretado em harmonia com as diretrizes gerais do sistema, preservando-se a coerência do 
ordenamento. 
d) A interpretação histórica se caracteriza pelo fato de que o significado da norma deve atender às 
características sociais do período histórico em que é aplicada. 
e) A interpretação axiológica pressupõe uma unidade objetiva de fins determinados por valores que 
coordenam o ordenamento, assim legitimando a aplicação da norma. 
14. Podem-se encontrar diversos argumentos para justificar a aplicação da analogia no direito, entre os 
quais a busca pela vontade do legislador ou a imperiosa aplicação da igualdade jurídica, 
demandando-se soluções semelhantes para casos semelhantes. Com referência a essa aplicação, é 
correto afirmar que: 
a) a analogia tem como principal função descobrir o sentido e o alcance das normas jurídicas. 
b) a analogia legis se caracteriza por recorrer à síntese de um complexo de princípios jurídicos. 
c) a analogia juris ocorre quando se formula regra nova, semelhante a outra já existente. 
d) a analogia pressupõe que casosanálogos sejam estabelecidos em face de normas análogas, mas não 
díspares. 
e) a analogia afasta a criação de regra nova, mas exige interpretação extensiva de regras já existentes. 
15. Com a subida de Napoleão ao poder, é inaugurada a forma moderna de elaborar normas jurídicas 
com a promulgação do Código Civil Francês, no qual é estabelecida não a hegemonia, mas o 
monopólio do direito estatal legislado (ou, simplesmente, da lei), isto é, a lei passa a ser a única 
fonte de direito admitida. A fim de dar suporte à interpretação daquele período surgiu a Escola da 
Exegese. Dentre as características apresentadas a seguir, qual não se aplica a metodologia de 
interpretação? 
a) Uma concepção rigidamente estatal do Direito. 
b) A lei era onipotente. Para a Escola da Exegese havia uma identidade do Direito com a lei escrita e o 
culto do texto da lei. 
c) O jurista deveria criar o direito. 
d) O estudo gramatical da lei e a busca da vontade do legislador. 
e) Sua interpretação determinava que era vedado ao juiz interpretar a lei. Logo, a atividade do juiz 
deveria ser neutra. 
 
 
 
 
 
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26 
 
16. Considerando a hermenêutica jurídica, e ainda considerando a interpretação do direito, a superação 
dos métodos de interpretação mediante puro raciocínio lógico-dedutivo e o método de 
interpretação pela lógica do razoável, assinale a opção correta. 
a) Há um princípio geral informador de todo o ordenamento jurídico nacional, necessário à interpretação, 
que pode ser inferido da existência de várias normas e ao qual se chega por meio da indução. 
b) De acordo com o método de interpretação da lógica do razoável, devem ser considerados os fins em 
função dos quais a lei seja editada e haja de ser compreendida pela sua causa final. 
c) No processo lógico, a lógica formal, de tipo puro, a priori, só é adequada na análise dos conceitos 
jurídicos essenciais e, para tudo que pertence à existência humana — a prática do Direito, inclusive —, 
impõe-se o uso da lógica do humano e do razoável (lógica material). 
d) Interpretar a norma jurídica corresponde a integrar, preencher lacunas e aplicar, de forma lógica, o 
direito ao caso concreto. 
e) Atualmente, utiliza-se, na interpretação das leis, a exegese escolástica, partindo–se do conjunto 
principiológico existente nas normas. 
17. Há na linguagem uma deficiência na transmissão do sentido do pensamento. O pensamento 
transcende a matéria, não se prende a imanência do objeto. Essa abstração não é suportada pela 
linguagem, que é limitada. Essa limitação é conhecida como: 
a) déficit cognoscitivo. 
b) limites de inteligência. 
c) abismo gnosiológico. 
d) círculo hermenêutico. 
e) problemas de linguagem. 
18. O termo Justiça tanto exprime a vontade de dar a cada um o que é seu, quanto significa as regras 
em lei previstas, e ainda, o aparelhamento político- jurídico destinado à aplicação da norma do caso 
concreto. Assim, o profissional do Direito, enquanto ciência jurídica, busca a univocidade em sua 
terminologia, mas convive com um número ilimitado de palavras polissêmicas. Esse problema está 
identificado por três termos. Identifique a relação entre os principais problemas da linguagem e 
seus correlatos ao analisar as afirmativas a seguir, para então, assinalar a resposta correta. 
I. Vagueza: Um símbolo é vago quando seu possível campo de referência é indefinido ( ). 
II. Ambiguidade: Um símbolo é ambíguo quando é possível usá-lo para um campo de referência com 
diferente intenção, isto é, manifestando qualidades diversas ( ). 
III. Porosidade: Os símbolos admitem pragmaticamente usos diferentes, servindo para propósitos 
distintos (descrever, expressar, direcionar, obrigar, etc.). Dessa forma, permitem distintas 
interpretações ( ). 
a) F, V, V. 
b) F, F, V. 
c) F, F, F. 
d) V, V, V. 
e) V, V, F. 
19. Fala-se que a palavra ―hermenêutica‖ deriva do nome do deus da mitologia grega Hermes, o 
mensageiro dos deuses, o mediador entre os deuses e os homens, a quem os gregos atribuíam a 
origem da linguagem e da escrita e é considerado o patrono da comunicação e do entendimento 
humano. Assinale a alternativa que não define corretamente o significado da palavra em tela. 
a) Hermenêutica é um conjunto de métodos de interpretação consagrados. 
b) Hermenêutica é um conjunto de regras técnicas para obter um resultado interpretativo e envolve um 
processo de tornar compreensível a linguagem e seus signos. 
c) Hermenêutica é um conjunto de estruturas (ciência) em todo o orbe social, bem como um conjunto de 
instâncias críticas, que interpretam os valores vigentes 
d) Hermenêutica, do grego hermēneuein (gr.) e significa "declarar", "anunciar", "interpretar", "esclarecer" 
e, por último, "traduzir". Indica que alguma coisa é "tornada compreensível" ou "levada à 
compreensão". 
e) Hermenêutica é a atitude ou a atividade que consiste em indicar, ou determinar o significado de 
alguma coisa. 
20. Conhecer a História é primordial para o estabelecimento de uma determinada disciplina como 
ciência autônoma. Dentre as alternativas a seguir indique a que contém o nome de dois autores que 
publicaram obras integrais de hermenêutica jurídica nos séculos passados. 
a) Cláudio Donato; José Xavier. 
b) Paula Batista; Carlos Maximiliano. 
c) Clício Ribas Torres; Limongi França. 
d) Pontes de Miranda; Ricardo M. F. Doares. 
e) Paulo Nader; Damásio de Jesus 
 
 
 
 
HERMENÊUTICA E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA LOURENÇO TORRES 
27 
 
9. ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA 
9.1. PROBLEMAS NA ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA 
Em argumentação tudo é retórica. 
9.1.1. DIALÉTICA 
do grego: 
do latim: dialectĭca ou dialectĭce 
Conceito: 
é um método de diálogo cujo foco é a contraposição e contradição de ideias que levam a outras ideias e 
 
A tradução literal de dialética significa "caminho entre as ideias”. 
"Aos poucos, passou a ser a arte de, no diálogo, demonstrar uma tese por meio de uma argumentação 
capaz de definir e distinguir claramente os conceitos envolvidos na discussão”. 
 
"Aristóteles considerava Zenão de Eleia (aprox. 490-430 a.C.) o fundador da dialética. Outros 
consideraram Sócrates (469- 
Um dos métodos dialéticos mais conhecidos é o desenvolvido pelo filósofo alemão Hegel (1770-1831). 
TESE – ANTÍTESE – SÍNTESE 
9.1.1.1. DIALÉTICA E O PRIMADO DA RAZÃO 
Platão: a dialética é sinônimo de filosofia, o método mais eficaz de aproximação entre as ideias 
 
É a técnica de perguntar, responder e refutar (técnica aprendida com Sócrates (470 a.C.- 
Platão considera que apenas através do diálogo o filósofo deve procurar atingir o verdadeiro 
conhecimento, partindo do mundo sensível e chegando ao mundo das ideias. Pela decomposição e 
investigação racional de um conceito, chega-se a uma síntese, que também deve ser examinada, num 
processo que busca a verdade. 
Aristóteles: dialética é a lógica do provável, do processo racional que não pode ser demonstrado 
"Provável é o que parece aceitável a todos, ou à maioria, ou aos mais conhecidos e ilustres” 
9.1.2. RETÓRICA 
Retórica – (do latim rhetorica, originado no grego ῥητορικὴ τέχνη [rhêtorikê theknê], literalmente a 
arte/técnica de bem falar, do substantivo rhétor, «orador») é a arte de usar uma linguagem para 
comunicar de forma eficaz e persuasiva. 
Retórica, retoricar, retoricismo, retórico, retorismo. 
Retórica: S.f. 1. Eloquência (4); oratória. 
2. E. Ling. Estudo do uso persuasivo da linguagem, em especial para o treinamento de 
oradores. 
3. Tratado que encerra essas regras. 
4. Adornos empolados ou pomposos de um discurso. 
5. Discurso de forma primorosa, porém vazio de conteúdo. 
 
Retórica pode ser definida como “uma arte de comunicação cotidiana”, diferente da poética que é 
“uma arte de evocação imaginária” (BARTHES, Roland. A aventura semiológica. 1987, p. 27). 
Oratória, Estilo e Ornamentona eloquência: 
 
 Tipos de discurso aristotélico (deliberativo ou político, jurídico ou judicial e epidítico ou 
exibicional ou laudatório) 
 Partes do discurso: 
o Inventio – descoberta de argumentos; 
o Dispositivo – arranjo das ideias 
o Executio – descoberta da expressão apropriada para cada ideia, e que inclui o estudo 
das figuras ou tropos; 
o Memória – memorização do discurso; e 
o Pronuntiatio – apresentação oral do discurso para uma audiência. 
(FERREIRA, Sérgio Buarque de Holanda. Novo dicionário Aurélio da língua portuguesa. 
3. ed. Curitiba: Positivo, 2004.) 
Figuras de Linguagem (palavras, frases, textos): 
 
FACULDADE JOAQUIM NABUCO – FJN HERMENÊUTICA E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA 
28 
 
 Metáfora: é a transferência para uma coisa do nome de outra, ou do gênero para a espécie, ou 
da espécie para o gênero, ou da espécie de uma para o gênero de outra, ou por analogia 
(ARISTÓTELES. Poética 
Estudo de Lugares Comuns (topoi 
 Tópica aristotélica (do contrário – I, do mais e do menos – IV, dos diferentes sentidos das 
palavras – VIII, da indução – X, da refutação – 
 Tópica de Theodor Viehweg – “Tópica e Jurisprudência”. 
 ≠ Tropo – é uma mudança mediante a qual transportamos uma palavra ou uma locução de sua 
significação própria para outra para lhe dar mais força (QUINTILIANO. De Instituitione oratoria. 
VIII. Cap. VI.). 
 
 Persuasão aristotélica (ethos, pathos e logos 
 Filosofia da argumentação de Chaïm Perelman (Retóricas 
 
Método analítico que estuda o convencimento dos silogismos 
 
A metódica analítica de mensurabilidade comparativa ou metódica prudencial (Ballweg). 
 
9.1.3. OS SOFISTAS NA GRÉCIA ANTIGA VI A,C, (SOFÍSTICA E PERSUASÃO) 
 
A Grécia era dominada por mitos, como a maldição de Sísifo. 
Os gregos eram especialistas na atividade intelectual (filosofia, poética, música ou 
adivinhação); sábios ou magos; mestres que ensinavam a sabedoria. 
Então vieram os primeiros pensadores filósofos: os sofistas. 
 
9.1.3.1. O ENSINAMENTO DOS SOFISTAS 
O primeiro estudo sistematizado acerca do poder da linguagem em termos de persuasão é atribuído ao 
filósofo Empédocles (444 a.C.), do qual as teorias sobre o conhecimento humano iriam servir de base 
 
O primeiro livro de retórica escrito é comumente atribuído a Corax e seu pupilo Tísias. A sua obra, bem 
como as de diversos retóricos da antiguidade, surgiu das tribunas jurídicas; Tísias, por exemplo, é tido 
como autor de diversas defesas jurídicas defendidas por outras personalidades gregas (uma das 
funções primárias de um sofista). 
A Retórica foi popularizada a partir do século V a.C. por mestres peripatéticos (itinerantes) conhecidos 
como "sofistas". Os mais conhecidos destes foram Protágoras (481 - 420 a.C.), Górgias (483 376 a.C.), 
e Isócrates (436 - 
Os sofistas se compunham de grupos de mestres que viajavam de cidade em cidade realizando 
aparições públicas (discursos, etc.) para atrair estudantes, de quem cobravam taxas para oferecer-lhes 
educação. O foco central de seus ensinamentos concentrava-se no logos ou discurso, com foco em 
estratégias de argumentação. Os mestres sofistas alegavam que podiam “melhorar” seus discípulos, ou, 
 
Diversos sofistas questionaram a propalada sabedoria recebida pelos deuses e a supremacia da cultura 
grega (uma ideia absoluta à época). Argumentavam, por exemplo, que as práticas culturais existiam em 
função de convenções ou “nomos”, e que a moralidade ou imoralidade de um ato não poderia ser 
julgada fora do contexto cultural em que aquele ocorreu. 
9.1.3.2. OS FILÓSOFOS CLÁSSICOS E SUAS INFLUÊNCIAS 
 
HERMENÊUTICA E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA LOURENÇO TORRES 
29 
 
 
 
 
 
(Fonte: ADEODATO, J.M. A Retórica Constitucional. São Paulo: Saraiva, 2009. P. 31) 
9.1.3.3. TIPOS DOS DISCURSOS SEGUNDO ARISTÓTELES 
I. DELIBERATIVO OU POLÍTICO 
 
Sua ação é aconselhar ou desaconselhar em todas as questões referentes à cidade: paz ou guerra, 
defesa, impostos, orçamento, importações, legislaçã 
 
Segundo Aristóteles os valores abordados são: o que útil ou inútil ou nocivo (à polis e ao interesse 
 
Os argumentos deliberativos, dirigindo-se a um público mais móvel e menos erudito; o rétor prefere 
argumentar pelo exemplo (paradigma), que, aliás, permite conjecturar o futuro a partir dos fatos 
passados. 
FACULDADE JOAQUIM NABUCO – FJN HERMENÊUTICA E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA 
30 
 
II. JURÍDICO OU JUDICIAL (é o nascedouro da retórica pré-sofística) 
 
A ação é acusatória (acusação) ou defensiva 
 
 
Quanto aos argumentos o discurso judiciário, que dispõe de leis e se dirige a um auditório especializado, 
utiliza de preferência raciocínios silogísticos, próprios a esclarecer a causa dos atos. 
III. EPIDÍTICO, EXIBICIONAL, PANEGÍRICO OU LAUDATÓRIO 
Dirigido a outros espectadores, como todos os que assistem a discursos de aparato, como peregrinos, 
 
A ação é censurar e, na maioria das vezes, louvar ora um homem ou uma categoria de homens, como 
os mortos na 
Refere-se ao presente, pois o orador propõe-se à admiração dos espectadores, ainda que extraia 
 
 
Argumentativamente o discurso epidítico, recorre sobretudo à amplificação, pois os fatos são 
conhecidos do público, e cumpre ao orador dar-lhes valor, mostrando sua importância e sua nobreza 
(Retórica, 1368a). 
9.1.3.4. PARTES DO DISCURSO RETÓRICO EM ARISTÓTELES 
A elaboração do discurso e sua exposição exigem atenção a cinco dimensões que se complementam 
(os cinco cânones ou momentos da retórica): 
 INVENTIO ou INVENÇÃO 
 DISPOSITIVO (TAXIS) ou DISPOSIÇÃO, é a organização dos conteúdos num todo estruturado. 
É o plano em que ocorrem ou se apresentam as ideias. 
o Exórdio, proêmio (proœmiun) ou introdução 
o Desenvolvimento (narração, confirmação e digressão) 
o Conclusão ou peroração (peroratio), ou Epílogo (epilogos 
 ELOCUTIO (LEXIS) ou ELOCUÇÃO, é a expressão adequada dos pensamentos ou dos 
conteúdos. 
o 
 MEMORIA, é a memorização do discurso. É a “gravação” do discurso seja de forma natural (na 
mente) ou artificial (em textos gráficos ou virtuai 
 PRONUNTIATIO ou AÇÃO (ACTIO ou HYPÓCRISIS), diz respeito à declamação do discurso, 
onde a modulação da voz e gestos devem estar em consonância com o conteúdo (este 5º 
momento nem sempre é considerado). É a eloquência do corpo. 
9.1.3.5. MEIOS TÉCNICOS ARISTOTÉLICOS 
 ETHOS: é a forma como o orador convence o público de que está qualificado para falar sobre o 
assunto, como o seu caráter ou autoridade podem influenciar a audiência. Pode ser feito de 
várias maneiras: por ser uma figura notável no domínio em causa ou por ser relacionado com o 
 
Por exemplo, quando uma revista afirma que um professor do MIT prevê que a era robótica 
chegará em 2050, o uso do nome "MIT" (uma universidade americana de renome mundial para 
a investigação avançada em matemática, ciência e tecnologia) estabelece uma credibilidade 
 
 PATHOS: o uso de apelos emocionais para alterar o julgamento do público. Pode ser feito 
através de metáforas e outras figuras de retórica, da amplificação, ao contar uma história ou 
apresentar o tema 
 LOGOS: o uso da razão e do raciocínio, quer indutivo ou dedutivo, para a construção de um 
lógica (por exemplo, quando um anúncio afirma que o seu produto é 37% mais eficaz do que a 
concorrência, está fazendo um apelo lógico); o raciocínio indutivo utiliza exemplos (históricos, 
míticos ou hipotéticos) para tirar conclusões; o raciocínio dedutivo usa geralmente proposições 
aceites para extrair conclusões específicas. Argumentos logicamente inconsistentes ou 
enganadores chamam-se falácias. 
HERMENÊUTICA E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA LOURENÇO TORRES 
31 
 
9.1.3.6. CLASSIFICAÇÃO ARISTOTÉLICA DA TÉCNICA RETÓRICASILOGISMO x ENTIMEMA 
Silogismo formal → 
 
 
 
Silogismo entimemático → Estrutura silogística à qual falta um dos elementos formais (subentendido). 
Dedução retórica 
 
9.1.3.7. RETÓRICA E DECISÃO JUDICIAL 
DECISÃO JURÍDICA 
 Escolhas ao longo do processo 
 
 
 Sentenças: absolutórias ou condenatórias. 
 
Teses extremas para a decisão jurídica: 
I. Tese Silogística – Pensamento subsuntivo (cada caso tem uma única resposta certa que vem da 
norma). Normativismo de Hans Kelsen. Dedução – Subsunção. (Art. 458, CPC e art. 381, CPP). 
II. Tese Decisionista – Pensamento casuístico (qualquer decisão é cabível a qualquer caso; independe 
de norma. Escola do Realismo. 
 
Aplicação no rito jurídico e em peças processuais: 
I. Tese Entimemática – art. 81, §3º da lei 9099/95 – rito sumaríssimo, procedimento especial. Art. 483, 
§2º e §3º do CPP – Júri. 
 Qualificação 
II. Tese Silogística Dos Fatos 
 Do Direito 
 Do Pedido 
 
 
 
FACULDADE JOAQUIM NABUCO – FJN HERMENÊUTICA E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA 
32 
 
9.2. REGRAS EM RELAÇÃO AO TEXTO DA NORMA 
SEMIÓTICA – teoria dos signos – signos linguísticos das palavras. 
 Sintaxe– relação dos signos entre si, como a relação entre os sujeitos 
o (S –S: agôntica). Ex.: O que e quem é um sujeito de direito? 
o 
 Semântica– relação dos signos com o objeto, como a relação entre os sujeitos e os objetos 
o (S –O: ergôntica). Ex.: As relações jurídicas, os negócios jurídicos. 
o 
 Pragmática– relação dos signos com sua aplicação 
o (S –Z: pitanêutica). Ex.: A dogmatização. 
o Normas em relação a sua função. 
 
9.2.1. SINTAXE 
Analisa as relações entre os signos independentemente do que eles designam. 
Um conjunto de letras postas ao acaso não é uma palavra; «lvroi» não é uma palavra. Para que se 
torne numa palavra do nosso código linguístico, a língua portuguesa, as letras terão de ser estruturadas 
segundo uma certa ordem: «livro». Do mesmo modo, uma série de palavras só se constitui como uma 
frase quando as palavras se apresentam relacionadas de um certo modo desempenhando cada uma 
delas diferentes funções. As seguintes palavras « bom ler ando livro a um» só se constitui como uma 
frase se as palavras se apresentarem na ordem certa «ando a ler um bom livro». Também o discurso 
exige uma sequência de enunciados relacionados entre si de acordo com uma determinada ordem 
(sequencial, causal...). Assim, chama-se sintaxe a esta análise das regras que regem o encadeamento 
dos signos no interior dos diversos atos de fala ou de discurso. 
A sintaxe lógica analisa os elementos formais que dão estrutura ou sequência aos enunciados ou 
proposições (uma proposição é, como veremos mais adiante, a tradução de um juízo numa linguagem; 
um juízo é uma operação lógica de ligação entre conceitos). 
A conexão sintática entre os enunciados é assegurada por uma série de termos de ligação, sem os 
quais não poderíamos relacionar diferentes proposições, mas apenas construir proposições isoladas do 
tipo «o livro é bom» ou «o livro aborda o tema da linguagem», a que os lógicos chamam proposições 
atômicas por ligarem átomos linguísticos. 
Para podermos relacioná-las e construir um discurso é necessário usar determinados signos do tipo 
«e», «ou», «se... então» que conferem ao discurso a sua estrutura. No exemplo citado, «o livro é bom e 
aborda o tema da linguagem». Podemos, então, concluir que a sintaxe lógica é o estudo das relações 
entre os signos e as proposições, abstraindo do seu significado, sendo, por isso, a teoria da construção 
de toda a linguagem lógica, pois trata da determinação das regras que permitem combinar os símbolos 
elementares de modo a construir proposições corretas; analisando os problemas postos pela definição 
das variáveis lógicas e respectivas relações, aborda o discurso apenas do ponto de vista da sua 
estrutura, isto é, da sua forma, para garantir a sua validade formal. 
 
9.2.2. SEMÂNTICA 
É a análise da relação dos signos com os seus referentes, isto é, com os objetos por eles 
 
Tal análise que visa estudar os problemas postos pela interpretação do significado dos signos trata da 
 
Para que se possa saber o que quer dizer o emissor, impõe-se conhecer o contexto da enunciação, isto 
é, quem disse, em que circunstâncias, com que intenção. Ex.: Para compreendermos o que um amigo 
nos diz numa conversa, o que o professor diz numa aula, o que um político diz na televisão ou um 
 
O domínio da língua é necessário, mas não suficiente para se compreender a mensagem emitida pelo 
emissor. Os sujeitos que participam no ato de comunicação afetam o significado do que é enunciado. 
Este significado depende, em grande parte da experiência que a pessoa tem e do modo como as 
 
A compreensão do significado de um enunciado depende das circunstâncias do seu uso, por isso, 
Wittgenstein afirmou que “meaning is use” (o significado da linguagem está no seu uso). 
 
9.2.3. PRAGMÁTICA 
Analisa o discurso segundo o uso que os interlocutores fazem das linguagens tendo em vista a ação 
 
A pragmática trata dos signos na sua relação com os utilizadores, da adaptação das expressões às 
situações e aos contextos em que são enunciados, trata, enfim, das significações. O interesse 
HERMENÊUTICA E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA LOURENÇO TORRES 
33 
 
transfere-se, agora, para a comunicação efetiva, para o que significam os signos para alguém, para o 
 
Do ponto de vista de algumas escolas da Filosofia da Linguagem, ao falar realizamos atos, «atos de 
 
Austin (1911-1960) designou estes “atos de fala” como se segue: 
 ato locutório — o falante diz algo; 
 ato ilocutório — o falante faz algo, uma vez que o falar é já um agir; ao dizer «prometo que», o 
falante realiza o ato de prometer; pelo fato de dizer algo está a fazer esse algo, seja a prometer, 
seja a agradecer, a aconselhar, a recusar, a elogiar, etc.; 
 ato perlocutório — o falante exerce uma ação sobre o seu interlocutor. Ao dar uma ordem, por 
exemplo, o locutor afirma a sua vontade e define o papel que institucionalmente lhe está 
conferido, ao mesmo tempo que define o papel do seu interlocutor — o papel de obedecer e de 
executar o que lhe foi ordenado. (AUSTIN, J. L. Quando dizer é fazer: palavras e ação. Porto 
Alegre: Artes Médicas, 1990). 
 
9.3. FORMAS E FUNÇÕES DO DISCURSO REFERENTE AO TEXTO DA NORMA JURÍDICA 
 
 Sintática – 
 Semântica – que por meio de conotações e denotações entre as normas e os objetos normados. É 
 
 Pragmática – as relações das normas com suas funções (axiológicas). 
 
9.3.1. FORMAS E FUNÇÕES DO DISCURSO NORMATIVO 
Norberto Bobbio foi capaz de aplicar os ensinamentos do Círculo de Viena à teoria kelsiana, sem, 
contudo, desfigurar quaisquer de seus preceitos basilares. 
 
 
 A norma como uma proposição com sentido. 
Assim, utilizando os mesmos argumentos com os quais os filósofos analíticos restringiram a filosofia à 
crítica da linguagem, Bobbio limitou a ciência jurídica à crítica da linguagem do Direito. 
 
9.3.1.1. PROPOSIÇÕES LINGUÍSTICAS 
PROPOSIÇÕES DESCRITIVAS → são os enunciados linguísticos típicos das ciências. Elas 
representam o estado de coisas no mundo e estão submetidas ao critério da verdade, uma vez que são 
juízos de fato que refletem ou não a realidade. 
PROPOSIÇÕES EXPRESSIVAS → são os enunciados linguísticos típicos das artes em geral. São 
juízos de valor que têm como escopo a modificação de estados de humor. 
PROPOSIÇÕES PRESCRITIVAS → são os enunciados que comandam comportamentos que ainda 
virão a acontecer, e não podem ser verdadeiras ou falsas, aceitando, todavia, o critério da validade, 
 
Norberto Bobbio estudou as proposições prescritivas, objetivando classifica-las como forma linguística 
universal das normas jurídicas e diferencia-las das proposições descritivas e das proposições 
 
Logo, as prescrições jurídicas, traduzidas comonormas jurídicas, sempre têm a função de comandar, 
porém podem ser proferidas das quatro formas possíveis (declarativa, exclamativa, interrogativa, 
imperativa). 
Hans Kelsen, na segunda edição de sua "Teoria Pura do Direito", superou tal impasse diferenciando as 
 
Kelsen afirma que "as primeiras podem ser valoradas como verdadeiras ou falsas, pois são proposições 
descritivas das normas jurídicas, que, por sua vez, se limitam a valores de validade ou invalidade, pois 
são proposições prescritivas de comportamentos sociais” (1987, p. 78- 
A linguagem descritiva é própria do cientista do Direito, e a prescritiva própria do legislador ou 
magistrado, existindo uma ligação instrumental, mas não metodológica, entre o estudioso do Direito e 
aquele que, através da linguagem, o cria; portanto, os critérios de verdade da proposição jurídica não 
são correspondentes aos de validade da norma, bem como o ato de conhecimento do jurista não se 
relaciona com o ato de vontade de quem cria ou aplica a lei. 
 
 
 
FACULDADE JOAQUIM NABUCO – FJN HERMENÊUTICA E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA 
34 
 
9.4. ARGUMENTAÇÃO COMO DECISÃO, APLICAÇÃO E PROVA JURÍDICA 
Argumentação é a arte de expor ideias de forma convincente, ou seja, de forma a conquistar a 
adesão do interlocutor – aquele a quem o discurso é dirigido – para a ideia do orador. 
Argumentar é obter com palavras a adesão de outro. 
Ao contrário do que pode parecer ao leigo, o interlocutor não adere a uma ideia porque esta é verdadeira, 
ou certa, nem a rejeita por ser falsa ou errada. Ex.: Dois advogados adversários tentam convencer um juiz. 
Cada um dos advogados diz ao juiz que sua tese é a verdadeira, a certa. O juiz só pode escolher uma 
delas. E a escolhe, não porque é verdadeira e certa, mas porque foi exposta de maneira mais convincente. 
Os estudos de Chaim Perelman, e outros pensadores modernos, mostram que no universo do Direito não 
vigora a lógica formal, que é apropriada às ciências naturais, onde se raciocina com conceitos de certo e 
errado, verdadeiro e falso. 
No mundo jurídico não há argumentação certa nem argumentação errada: há argumentação que funciona, 
que convence, e outra que não funciona, que não convence. 
 
9.4.1. ARGUMENTAÇÃO E APLICAÇÃO DA PROVA JURÍDICA 
Demonstração é a apresentação de um conceito ou ideia suscetível de comprovação prática. 
A lógica formal é toda idealizada no sentido da demonstração. É uma lógica demonstrativa. É usada na 
demonstração das ciências naturais (química, física, matemática). Ex.: Quando dizemos que a 
composição química da água é H2O, podemos demonstrar isso: demonstrar é provar, mas não provar 
no sentido que é aceito em Direito, e sim provar de maneira incontrastável, inflexível, invariável. Água, 
sempre e em qualquer lugar e tempo, é H2O, assim como 2 mais 2 serão sempre 4, em qualquer tempo 
e lugar. 
A lógica formal NÃO é adequada para o fenômeno jurídico.  Na aplicação do direito o raciocínio exato 
é “impossível”. Ex.: Imagine-se o exemplo do artigo 121 do Código Penal. Ali vem prevista a pena 
mínima de seis, e a máxima de vinte anos, para o crime de homicídio. 
Mas não há nem nunca haverá dois homicídios iguais. Sabendo-se que A matou B, qual a pena 
aplicável? Seis anos? Vinte anos? 
Se A matou com dois tiros a pena pode ser uma, e se matou com 22 facadas a pena deve ser outra. 
Se a vítima B deixou 8 filhos menores na miséria a pena deve ser diferente da que caberia quando a 
vítima não deixou filhos. 
Um homicídio impulsivo, no calor de discussão, não merece a mesma pena que um assassinato 
longamente premeditado. 
Pode-se dizer, simbolicamente, que no Direito nunca há 2 mais 2, nunca há duas contas iguais nem 
dois fatos idênticos. Cada caso é um fragmento da vida humana, e esses fragmentos, por mais 
parecidos que sejam, não são nunca exatamente idênticos. Portanto, a lógica formal não é adequada 
ao Direito. 
9.4.1.1. APLICAÇÃO DA PROVA JURÍDICA 
Nas ciências exatas raciocina-se em termos de certo ou errado, no Direito esses conceitos são inviáveis 
ou, pelo menos, impróprios. 
É claro que posso dizer que matar alguém é errado, e dirigir a 80 km/h. na estrada é certo. 
Mas, nenhum homicídio é igual a outro, de forma que há homicídios mais errados, e outros menos 
errados, e mesmo alguns homicídios certos – no sentido de autorizados, como no caso da legítima 
defesa. 
Assim como dirigir a 80 km/h. debaixo de neblina e chuva, à noite, quando há crianças na beira da pista, 
pode não ser certo, mas errado. 
Há, pois, no mundo do Direito, uma infindável escala de matizes entre o certo e o errado, e mesmo o 
certo e o errado admitem nuanças, levando a consequências jurídicas diversas. 
9.4.1.2. CIÊNCIA JURÍDICA E VALORES 
O universo jurídico está impregnado de valores. 
Segundo Miguel Reale, o Direito é uma estrutura tridimensional: 
Norma + Fato + Valor 
A norma, ou o texto da norma, é estática: um papel com letras por cima. 
Os fatos e os valores, contudo, são cambiantes e variáveis. Os valores variam de pessoa para pessoa, 
de lugar para lugar, de época para época. Ex.: o ato obsceno, a mulher honesta. 
Os fatos mudam, e o mundo muda com eles. 
 
HERMENÊUTICA E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA LOURENÇO TORRES 
35 
 
9.4.1.3. LÓGICA E SUBSUNÇÃO NO DIREITO 
O paradigma de Luis Recasens Siches: o cego e o urso na estação. 
Cachorro não pode entrar 
Urso não é cachorro 
Logo, urso pode entrar 
E o cão guia (de cegos)? 
9.4.1.4. LÓGICA E DIREITO 
Chaim Perelman afirmou que a lógica não se esgota na lógica formal: a lógica formal é uma espécie do 
gênero lógica, e pode e deve haver outras espécies de lógica. 
O fenômeno jurídico é entendido e explicado a partir de uma lógica dialética. 
A lógica dialética usa como instrumento a argumentação. 
Tem dois personagens: o orador (aquele que apresenta a ideia ou tese) e o auditório (aquele ou 
aqueles a quem é dirigido o discurso, e a quem se pretende convencer). 
 Os termos orador e auditório são usados pelo seu sentido simbólico, porque o discurso pode ser 
oral ou escrito, e o auditório pode ser uma pessoa só. Geralmente o auditório do advogado é o 
juiz, e o auditório do juiz é composto pelo Tribunal, pelas partes do processo, e pela sociedade 
em geral. 
O objetivo da lógica dialética é sempre convencer o auditório a aceitar a tese (a ideia) defendida pelo 
orador. 
O instrumento da lógica dialética é o argumento, ou os argumentos, que são de vários tipos. 
9.4.1.5. REGRAS DA LÓGICA DIALÉTICA 
I. A lógica dialética imita a forma da lógica formal. 
Quase sempre a retórica forense imite a aparência das demonstrações lógico-formais, ou seja, 
apresenta suas alegações na forma de silogismos. 
II. Linguagem comum e recursos aceitos. 
A argumentação deve ser compreensível para o auditório, e, portanto, fundada numa linguagem comum. 
III. O ponto de partida tem que ser firme. 
A argumentação deve sempre ser fundada em premissas majoritariamente aceitas pelo auditório. 
São exemplos de “fatos” e “verdades” que podem fundar bons argumentos: 
a) o texto literal da lei, 
b) uma interpretação pacífica da norma, 
c) as leis das ciências físico-naturais, 
d) as regras da experiência, 
e) os fatos notórios e 
f) os fatos incontroversos. 
9.4.1.6. PROVAS ÉTICAS, PATÉTICAS E REAIS NO PROCEDIMENTO DOGMÁTICO 
ARGUMENTO DE PROVA – é o argumento que versa sobre os elementos de fato, buscando realçar 
algum aspecto da prova já colhida no processo. Pode referir-se à prova testemunhal, à prova técnica ou 
à prova documental. 
Quando se utiliza argumento retirado da prova testemunhal, é importante lembrar que se deve: 
 nomear a testemunha a cujo depoimento se está referindo; 
 indicar a folha dos autos onde se encontra o depoimento; 
 não alterar nenhuma palavra do depoimento; 
 o trecho copiado deve vir entre aspas e, se possível, destacado; 
 indicar se foi feitoalgum realce no texto (negrito, sublinhado, etc.); 
 não deixar a transcrição solta, na petição. Deve-se explicar as razões pelas quais foi destacado 
o depoimento, as conclusões que dele devem ser tiradas; 
 evitar transcrições de trechos muito longos, para que não torne a leitura aborrecida. 
No que diz respeito à prova técnica, deve-se ter em mente que é, apenas, o ponto de partida do 
raciocínio jurídico. Do resultado do exame técnico devem nascer as conclusões jurídicas, e não o 
contrário. Ao criticar trabalho pericial, deve-se ser objetivo, evitando atingir o profissional, ao invés do 
resultado do seu lavor. Sempre que possível, valer-se do assistente técnico, cuidando de ter acesso à 
manifestação dele, antes do protocolo. 
Segundo Cícero, a argumentação consistia na apresentação das provas, que se dividiam em: 
I. ARTIFICIAIS: que consistia na apresentação das provas inerentes à retórica e sua descrição 
era feita a partir do exame do discurso em si. Elas se distinguiam em 
 PROVAS ÉTICAS: Faziam referência ao caráter, digno de confiança, do orador. 
Relativas ao ethos (mas, não necessariamente ligados à ética). Conceito relativo à 
imagem que o orador mostra de si mesmo. 
É o raciocínio aceito sobretudo por conta do emissor. 
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36 
 
Quem? 
Quanto ao ethos, basta ao orador cuidar da própria imagem durante o discurso, 
apresentar-se ora humilde, ora austero, ora tranquilo, ora autoritário... O que realmente 
conta é a imagem do orador que deriva de toda sua vida moral. 
“Há uma ligação profunda entre a vida e o discurso que, por sua vez, reflete a vida do 
orador. Sem uma vida honrada, o discurso não persuade”. (TRINGALI, Dante. 
Introdução à retórica. São Paulo: Duas Cidades, 1988, p. 76) 
Exemplo: O parecer “caro” de Rui Barbosa feito em pouco tempo. Rasgue a 
assinatura e veja se o parecer vale alguma coisa! 
 
 PROVAS PATÉTICAS: Eram capazes de sensibilizar o ouvinte. Relativas ao pathos. 
Consiste em provocar no público uma paixão (emoção) e torná-lo mais favorável a 
julgar a tese. 
É provocar no público uma paixão (emoção) e torná-lo mais favorável ao seu argumento. 
Mas, não ser dramático e “brega” ao ponto de ser ridículo. 
Patético (originalmente) era o pathos mal feito (daí, triste). 
É a capacidade de, primeiramente, dominar as próprias emoções e a própria 
apresentação, depois, de dominar as emoções alheias. 
Nele está incluído o kairós (quando?) 
Como se argumenta? 
 
 PROVAS REAIS: O efeito se baseia na coerência lógica da apresentação da coisa 
mesma, incluindo os indícios, os argumentos e os exemplos. Relativas ao logos (mas, 
não necessariamente ligadas à lógica). Relacionadas aos raciocínios empregados pelo 
orador. 
É um raciocínio aceito independentemente do emissor e do contexto. 
O que? 
Não necessariamente ligado à racionalidade (Habermas – acordo sincero) ou à verdade, 
mas ao provável e à aparência da verdade (verossimilhança). 
Os argumentos de logos ou racionais (científicos) necessitam de tempo para se 
firmarem. 
Exemplos: Se João é maior do que Paulo e Paulo é maior do que Pedro, João é maior 
do que Pedro. Se João estava em Lisboa e o crime foi praticado em Recife, então João 
não praticou o crime. 
Seria bom se o mundo se reduzisse à verdade, mas não é. Seria bom se “a retórica se 
reduzisse ao logos”. (Alexy – auditório sincero), mas não é (Aristóteles). 
 
II. INARTIFICIAIS: que eram obtidas a partir da retórica, sendo exemplo delas as opiniões 
doutrinárias, os testemunhos, as decisões jurisprudenciais, os documentos. 
9.5. ARGUMENTOS E SOFISMAS 
9.5.1. PRINCIPAIS TIPOS DE ARGUMENTOS JURÍDICOS 
I. ARGUMENTO DE AUTORIDADE (AB AUCTORITATEM) 
Também chamado de apelo à autoridade ou argumento ad verecundiam. Consiste em sustentar uma 
tese com base na adesão ou testemunho de determinada pessoa ou órgão. 
O argumento de autoridade consiste em sustentar a validade de uma tese no fato de ter recebido a 
adesão de determinada pessoa (ou doutrinador ou autor) ou órgão (um tribunal). 
A tese vale porque é apoiada por alguém. Ex.: “a tese que aqui defendemos é consagrada pelo douto 
Damásio de Jesus, e pela Súmula 98 do STF e pela jurisprudência pacífica”. 
Funda-se na qualidade ou na quantidade. 
II. ARGUMENTO DA ANALOGIA (A PARI OU A SIMILE OU A PARI RATIONE). 
Argumento defende que dois casos merecem a mesma solução porque são similares, semelhantes. 
Funda-se no brocardo ubi eadem est ratio, ibi eadem dispositio (princípio da semelhança). Onde existe 
a mesma razão, deve reger a mesma disposição legal. 
É largamente utilizado na retórica forense nos casos em que se sustenta que dois casos devem ser 
assimilados porque a ambos se aplica a mesma ratio legis. 
Ex.: “...diante da Lei não existe furto grande ou pequeno...” ou “...matou um bandido? Mas, uma vida foi 
tirada...” 
O argumento a simile tem esteio forte na regra constitucional da igualdade (duas situações iguais 
devem receber tratamentos iguais), e também na interpretação lógica do Direito. 
É um argumento utilizado na produção de jurisprudências no Poder Judiciário. 
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37 
 
Exemplos clássicos (casos paradigmáticos do direito): 
 Se o casamento entre vítima e agressor extinguia a punibilidade do estupro, a pari ratione a união 
estável entre ambos deveria produzir o mesmo efeito. 
 Se a instauração de novo processo-crime contra o réu prorroga o prazo do sursis, a simile deve 
também prorrogar o prazo da suspensão condicional do processo [a respeito vide RSDP 10/42]. 
 Se o aborto era lícito na gravidez resultante de estupro, a pari é também lícito na resultante de 
atentado violento ao pudor. 
 
Exemplos atuais: 
 Se o dono de um estabelecimento comercial é obrigado a pagar tributos para ter o direito de 
vender sua mercadoria, por analogia, um camelô também deveria pagar tributos sobre a 
mercadoria comercializada. 
III. ARGUMENTO A FORTIORI 
Também chamado de argumento a minori ad majus (segundo o brocardo “quem pode o mais, pode o 
menos” – a majori ad minus). 
Esse argumento se baseia numa espécie de analogia, semelhante ao argumento a pari. 
A diferença está em que não se apontam as duas hipóteses como simplesmente análogas, mas se 
afirma que a hipótese proposta é uma forma “maior” da hipótese paradigma. 
Assim, o argumento a fortiori trabalha com uma ponderação de valores, relacionando duas hierarquias: 
a hipótese-proposta, para a qual se quer a aceitação do auditório, é dada como uma forma mais 
“ampla”, “maior”, mais “grave” ou mais “evidente” da hipótese-paradigma, que se sabe previamente 
aceita pelo auditório. 
Não é, portanto, um argumento puramente lógico, mas sim axiológico (que pondera valores) [Ferraz]. 
Do menor se deduz o maior, do menos evidente se deduz o mais evidente (a minori ad majus). 
Exemplos: 
 se a negligência deve ser punida, a fortiori deve ser punido o ato premeditado [Ferraz]. 
 Se a prova testemunhal foi aceita, a fortiori deve também ser aceita a prova documental [Nunes]. 
 Se a oferta de contestação na data da audiência do procedimento sumário afasta a revelia, a 
fortiori a entrega da contestação em cartório, antes dessa data, também a afasta. 
Com frequência se argumenta a fortiori na análise da credibilidade dos testemunhos, com base na 
versão da frase bíblica “quem é (in)fiel no pouco, também o é no muito”. 
Ex.: “estando demonstrado que a testemunha X mentiu sobre a cor do carro acidentado, a fortiori 
também não merece crédito quanto à culpa na causação do acidente”. 
OBS: Para alguns estudiosos o argumento a fortiori seria um gênero, no qual se destacariam duas 
espécies: o argumento a minori ad majus e o argumento a majori ad minus. 
IV. ARGUMENTO A MAJORI AD MINUS 
Tem por premissa que a solução ou regra aplicável ao todo é também aplicávelàs suas partes. 
Busca, assim, demonstrar que a hipótese-proposta é parte, fragmento, excerto, fração ou forma menor 
da hipótese-paradigma, cuja solução se sabe previamente aceita pelo auditório. 
Ou, em outras palavras, o argumento a majori ad minus defende que a regra que impõe ou exige o mais 
também exige ou impõe o menos. 
É, também, um argumento axiológico. Para alguns, é subespécie do gênero a fortiori. 
Na verdade, não há como não reconhecer a similitude entre este argumento e o a minori ad majus: são 
como duas faces da mesma moeda, porque usam a mesma forma de raciocínio, partindo de pontos 
opostos (o menor ou o maior). 
Exemplo: 
 “Se X foi condenado criminalmente pelo fato, então também deve responder civilmente pelas 
consequências do fato”. 
 “Se o executor foi condenado, o mandante (mentor intelectual) também o deve ser”. 
V. ARGUMENTO A CONTRARIO SENSU 
É o argumento que concede a uma proposição interpretação inversa. 
Consiste em concluir que há uma oposição nas consequências com base numa oposição nas hipóteses. 
Ou seja, afirma que, se a presença da hipótese X leva à consequência Y, então a ausência da hipótese 
X impede a consequência Y. É um aparente truísmo, mas de implicações práticas importantes. 
 
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Exemplos: 
 O artigo 5º, II, da Constituição diz: “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma 
coisa, senão em virtude de lei”. Ou seja, se não há lei que proíba ou obrigue é permitido. 
 Se o legislador especificou taxativamente os casos de incidência do tributo, a contrário senso os 
demais casos não estão abrangidos. 
 “Quem não for parente do menor não poderá ser obrigado a aceitar a tutela, se houver no lugar 
parente idôneo, consanguíneo ou afim, em condições de exercê-la”. Ou seja, havendo parente, o 
estranho não é obrigado a ser tutor. (art. 1.737, CC) 
VI. ARGUMENTO AB ABSURDUM 
Refuta uma asserção, mostrando-lhe a falta de cabimento ao contrariar a evidência. Isto é, procura 
demonstrar a falsidade de uma proposição, levando-a ao extremo e chegando a conclusão inaceitável 
ao senso comum. 
Exemplos: 
 Como poderia a mulher ter alvejado o marido, se o laudo médico atesta que ela morreu minutos 
antes do esposo? 
 A outra preliminar, atinente à ilegitimidade passiva, apreciou-a o ilustre Julgador. Decidiu, 
contudo, que o Banco XIS S/A e a XIS Promotora de Negócios Ltda. são do mesmo grupo 
econômico e que há relação de “causa e efeito” entre um e outro. Logo, ambos devem ser 
excluídos da ação que os incluía. 
 A Petrobrás S/A e o Banco do Brasil S/A, que têm o mesmo controle, federal, são pessoas 
jurídicas do mesmo grupo – logo tanto faz ajuizar a demanda contra um, ou contra outro... 
VII. ARGUMENTO EX CONCESSIS 
Limita a validade de uma tese aos fatos que reconhece ou àquilo que está disposto a ceder. Trata-se de 
conceder parte de razão à tese contrária, como ponto de partida para sustentar a própria tese. 
Exemplos: 
 “é fato que o réu furtou, mas o furto foi de pequeno valor e…” 
 “ainda que tivesse furtado, o que se admite ex concessis, a qualificadora do rompimento de 
obstáculo não está comprovada” 
 “matou, sim, mas em legítima defesa” 
 “emitiu, sim, o cheque de fls., para como garantia de uma dívida inflada por juros abusivos de 
agiotagem”. 
VIII. ARGUMENTO A POSTERIORI 
Também chamado per efectum ou ab effectis. 
Essa argumentação propõe comprovar a validade de uma tese pelas consequências da sua aplicação. 
Remonta das consequências conhecidas aos princípios ou causas eventualmente desconhecidas. 
Exemplos: 
As estatísticas demonstram que a criminalidade dita hedionda não diminuiu, e, pelo contrário, aumentou, 
depois da Lei 8072; logo, per efectum se percebe que a imposição de penas cruéis não reduz a 
criminalidade. 
O réu é acusado de ter praticado um estelionato milionário contra o erário público, mas hoje, seis anos 
depois, é um homem pobre, sem nenhum patrimônio, a ser defendido dativamente: logo, ab effectis se 
percebe que não pode ter praticado aquele crime, porque se o tivesse feito hoje seria rico. 
Sabe-se que o pai desenvolveu comportamento possessivo em relação aos filhos e os culpava pelos 
acontecimentos e infortúnios, consequência imediata da esquizofrenia paranóide que o acometia. 
IX. ARGUMENTO A PRIORI 
Também chamado de argumento a causa. É o método oposto ao argumento a posteriori. Parte das 
causas para os efeitos, baseado na razão, na razoabilidade. 
É um raciocínio dedutivo, que parte do geral (a regra ou hipótese abstrata) para o particular (o caso 
concreto, ou os efeitos). 
Exemplo: 
 X é o mais provável suspeito da morte de Y, porque é o único que tinha motivos para querê-lo 
morto. 
9.5.2. MODALIDADES DE ARGUMENTAÇÕES RETÓRICAS 
I. FALÁCIAS (lat. fallere – enganar): um raciocínio errado com aparência de verdadeiro. É um argumento 
logicamente inconsistente, sem fundamento, inválido ou falho na tentativa de provar eficazmente o que 
alega. 
Argumentos que se destinam à persuasão podem parecer convincentes para grande parte do público 
apesar de conterem falácias, mas não deixam de ser falsos por causa disso. Ou seja, são utilizados 
como paradigmas exemplos que são usados de forma casual, isolada e pouco frequente. Assim, o que 
é exceção é utilizado como regra. 
Exemplo 1: "O fogo é quente e sei disso por dois motivos: ele é vermelho; e medi sua temperatura com 
um termômetro". 
Exemplo 2: dizer que “pós-graduação não é necessariamente garantia de qualidade” 
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39 
 
II. SOFISMAS OU SOFISMO 
(gr.) sofisma σόϕισμα, derivado de sofizestai σοϕίξεσϑαι "fazer raciocínios capciosos“). 
São raciocínios mediante os quais intencionalmente se quer defender algo falso e confundir o 
contraditor. 
É um raciocínio, ou falácia, também chamado de refutação aparente, refutação sofística e também de 
silogismo aparente, ou silogismo sofístico, mediante os quais se quer defender algo falso e confundir o 
contraditor. 
Não se devem confundir os sofismas com os paralogismos: os primeiros procedem da má fé, os 
segundos, da ignorância. Isto é, não são intencionalmente produzidos para enganar. 
Para Aristóteles, qualquer falso silogismo era considerado um paralogismo, pois contém 
obrigatoriamente uma premissa ambígua. 
Sofismas e falácias são raciocínios que pretendem demonstrar como verdadeiros argumentos que são 
logicamente inválidos [Bastos]. Um sofisma é, assim, um erro lógico, um defeito de lógica num 
argumento. 
 Argumento ad hominen – A expressão latina significa, literalmente, contra o homem. É o 
argumento que repele a tese-ideia-argumento de outro, com base em qualidades ou condições 
especiais dessa pessoa, sem considerar a validade ou invalidade do seu argumento. Ao invés 
de se enfrentar o argumento do adversário, ataca-se a pessoa do adversário. Ataca-se o 
homem e não a ideia. Ou, por outro lado, há sofisma ad hominem quando se pretende sustentar 
a própria tese com base nos predicados e respeitabilidade do orador, e não na razoabilidade da 
tese mesma. Busca-se, em suma, convencer o auditório não pela força das ideias, mas pela 
simpatia ou antipatia por quem as defende ou representa. 
Exemplos: quem busca desqualificar a tese adversária fazendo ataques pessoais ao caráter do 
opositor. Ou quem sustenta a validade de sua tese escorando-a na própria honorabilidade ou 
respeitabilidade, ou na respeitabilidade de outros seus defensores (espécie de argumento ab 
auctoritatem). 
 Sofisma de conclusão irrelevante (ou ignoratio elenchi) – Busca iludir o interlocutor 
apresentando uma conclusão que não é, de modo algum, decorrente das premissas 
apresentadas. As premissas não sustentam a conclusão, que não decorre logicamente 
daquelas, ou não está com elas relacionada. Há uma utilização de “inteligênciaconfusa” para 
confundir o auditório. As premissas podem até ser verdadeiras, mas não levam à conclusão 
proposta pelo orador. 
Exemplo: O latrocínio é um dos crimes mais horrendos e repugnantes que há. Um latrocida é 
sempre alguém perigoso e degenerado. Aqui, a pobre vítima deixou na orfandade 16 rebentos. 
Demais disso, o réu registra extensa folha de antecedentes. Por isso, o réu deve ser condenado. 
 Sofisma de petição de princípio (petitio principii) – Ocorre quando o orador pressupõe como 
certo exatamente aquilo que deveria demonstrar. Faz-se um raciocínio saindo de um ponto de 
partida quando o que se quer provar é justamente esse ponto de partida. Pensando no 
silogismo como se fosse uma parede, o argumento eivado pela petição de princípio é como um 
tijolo assentado sobre ele mesmo. A enunciação da tese começa com uma afirmação (como a 
do exemplo, “o réu agiu em legítima defesa”), seguida de páginas e páginas de citações de 
doutrina e jurisprudência, e nenhuma referência a provas que amparem a afirmação inicial. Por 
isso, fundamentar não é citar, copiar e transcrever; é falar do caso, dos fatos e das provas. 
Exemplo: [P1] O réu agiu em legítima defesa ao ser agredido pela vítima. 
[P2] A lei diz que o homicídio em legítima defesa não é crime [?]. 
[P3] Quando uma pessoa agride a outra injustamente, a lei não obriga o agredido a 
fugir ou se acovardar. Dá-lhe, ao contrário, o direito a uma reação. 
[P4] Por que o réu, uma vez agredido, deveria deixar a vítima tirar-lhe a vida? A lei 
não o obrigava a isso. 
[C1] Logo, o réu agiu em legítima defesa. 
 Círculo vicioso – O ponto de partida (a premissa) e a conclusão são apoiados um no outro, 
formando um círculo entre duas afirmações não demonstradas. A afirmação X é sustentada 
pela afirmação Y, que, por sua vez, só é sustentada pela afirmação X. 
Exemplo: [P1] Por que o réu subtraiu a moto? 
[C1] Para fugir dos seus perseguidores e salvar-se. 
[P2] Por que estava sendo perseguido? 
[C2] Porque subtraiu a moto”. 
 Falsa causa (lat.) post hoc ergo propter hoc: depois disso, então, por causa disso. Consiste em 
apontar um fenômeno como causa de outro, apenas porque o antecedeu. Atribui causalidade a 
aquilo que é mera sucessão. Ocorre quando não se apura o nexo de causalidade, e se afirma a 
relação causa-efeito apenas com base na sucessão cronológica dos fatos. 
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Exemplo 1: “Evidente que o réu foi autor dos furtos de que fala a denúncia. Note-se que o réu 
começou a trabalhar na casa da vítima em 23-12-99 (fls. 55). O primeiro furto aconteceu em 25-
12-99. Antes nada tinha sido furtado. Todos os furtos aconteceram depois que o réu tornou-se 
empregado da vítima. Portanto, o réu é o ladrão”. 
Exemplo 2: Duas jovens foram encontradas mortas. O namorado de uma delas foi preso por ter 
sido, segundo a polícia, o último a ver sua namorada viva”. 
 Generalização apressada – Também chamado de sofisma de enumeração imperfeita ou de 
indução viciosa. Consiste em se atribuir ao todo o que é próprio da parte, em considerar como 
regra o que é exceção. Acontece quando se estende a conclusão da observação de um caso a 
outros casos que não são semelhantes. 
Ex. 1: “mesmo ao se falar em sucessão, a regra é clara: os últimos serão os primeiros”. 
Ex. 2: “as coincidências, o caso fortuito, é o princípio dos crimes culposos; logo, não passou de 
fatalidade o atropelamento da vítima”. 
Ex.: “Alguém inteiramente incapaz de entender a gravidade de seus atos é inimputável; então, 
alguém embriagado, também o é”. 
III. ENTIMEMAS: são silogismos retóricos imperfeitos formal e logicamente, suas conclusões não 
decorrem necessariamente de suas premissas. “São pragmaticamente úteis quando o objetivo é 
persuadir sem a exigência de uma rígida coerência lógica, ou quando esta não é possível, ou quando é 
estrategicamente desejável (ADEODATO). 
 
“Silogismos retóricos imperfeitos formal e logicamente pragmaticamente úteis quando o objetivo é 
persuadir sem a exigência de uma rígida coerência lógica”. “Estão relacionados à argumentação 
judicial e com a investigação de contradições no discurso argumentativo”. (ADEODATO) 
 Entimema formal – É aquele ao qual falta ou permanece subentendida uma das premissas ou 
mesmo a conclusão. 
Ex. 1: [PM1] Todos os homens são mortais. 
[pm1] Sócrates é homem. 
[C1] Sócrates é mortal (epifonema). 
Ex. 2: [PM1] Todos os homens são mortais. 
[pm1] Sócrates é homem. 
[C1] Sócrates é mortal (epifonema). 
Ex. 3: [PM1] Todos os homens são mortais. 
[pm1] Sócrates é homem. 
[C1] Sócrates é mortal (epifonema). 
 Entimema tópico – São aqueles enumerados como topoi ou lugares comuns. Deduzem 
conclusões prováveis a partir de pontos de vista tidos como geralmente aceitos. Se P, então C. 
Ex. 1: “os gordos são bem humorados” (topoi). 
“Este rapaz é gordo, logo é bem humorado”. 
Ex. 2: “dura lex, sed lex” (topoi jurídico). 
“A lei foi infringida, logo a lei tem que ser aplicada”. 
 Entimema protase (ou paradigmático ≠ paradigma) – Deduz conclusões silogísticas 
formalmente rigorosas a partir de premissas prováveis ou verossímeis, ou a partir de um 
paradigma. 
Ex.: “São isentos de pena os inimputáveis (art. 26, CP), ou seja, os inteiramente incapazes de 
entender o caráter ilícito do ato [paradigma]; logo, o agente acometido de embriaguez completa 
também (art. 28, § 1º, CP) [protase]. 
 
 Gnome (axioma ou máxima) – É uma afirmação de caráter geral, fundamentada em uma 
personalidade ou obra reconhecida na vida pública. 
Ex.: “este princípio remonta desde o Código de Hamurabi”. 
“o Corpus Iuris Civilis (ou o Código de Napoleão) já positivava este comportamento”. 
É equivalente à sentença latina (epifonema) que comumente marca o final de um argumento ou 
raciocínio. 
Ex.: “Dormientibus non succurrit jus” – “o Direito não socorre aos que dormem”. 
IV. ERÍSTICA (gr. erizein – batalhar): é a arte de discutir, mais precisamente, a arte de discutir de modo a 
vencer, e isto per fas et per nefas (por meios lícitos ou ilícitos). De fato, é possível ter razão 
objetivamente no que diz respeito à coisa mesma, e não tê-la aos olhos dos presentes ou inclusive aos 
próprios olhos (SCHOPENHAUER). 
O objetivo da erística é vencer uma discussão e não necessariamente descobrir a verdade de uma 
questão. 
 
HERMENÊUTICA E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA LOURENÇO TORRES 
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9.6. TÓPICA 
A Tópica é o pensamento dialético de controvérsias práticas, um processo especial de tratamento dos 
problemas que consiste na mobilização dos topoi sugeridos pelas próprias controvérsias para a 
ponderação dos prós e dos contras das diversas opiniões que se referem a essas controvérsias. 
Acepção do termo “tópica”: 
 Deriva do grego topikos que significa “lugar”. 
 Assim, tópica é a doutrina dos lugares 
 Ao longo dos anos a tópica tem gerado muitos catálogos de topoi ou loci, os conhecidos “lugares 
comuns”. 
9.6.1. CONCEITO 
A tópica é uma parte da retórica conceituada por Theodor Viehweg como uma “técnica de pensar 
problemas”. Isto é, um estilo de pensamento, uma técnica de interpretação do direito cuja finalidade é 
indicar meios de como se agir diante de problemas, buscando sempre encontrar uma solução justa para 
qualquer caso. 
9.6.2. TÓPICA E TÓPICA JURÍDICA 
A tópica parte do reflexo para a reflexão, do específico para o geral, ou seja, a partir do problema 
encontra-se a solução da qual são retirados os fundamentos de validade 
Os topoi são, nas palavras de Aristóteles, procedimentos padrão que se podem usar para discutir 
qualquer assunto no âmbito de uma controvérsia. São lugares comuns ou argumentos estandardizados 
aceitos por todos ou pela maioria ou pelos mais qualificados. 
Os lugares comuns são: pontos de partida de séries argumentativas, em que a razoabilidade das 
opiniões é fortalecida (FERRAZ JR). 
≠ Tropo→ é uma mudança mediante a qual transportamos uma palavra ou uma locução de sua 
significação própria para outra para lhe dar mais força (QUINTILIANO. De Instituitione 
oratoria. VIII. Cap. VI.). Isto, é como uma espécie de metáfora. 
9.6.3. TÓPICA – ANTECEDENTES 
A tópica referida por Theodor Viehweg foi desenvolvida por Aristóteles e sua forma problemática já fazia 
parte prática jurídica dos romanos, que subordinavam-se às decisões dos casos concretos de onde 
tiravam seus fundamentos de validade. 
Como confirma Fiuza: Os pretores e jurisconsultos romanos, dada a pobreza do texto legal, 
desenvolveram, principalmente na época clássica (126 a.C. a 285 d.C.), uma forma de pensar tópico-
problemática, solucionando os conflitos concretos de forma casuística, com base na opinio communis e 
na argumentação retórica. A justiça se construía com base nas decisões concretas, das quais se 
extraíam princípios que serviam de fundamento de validade a cada nova decisão (FIUZA, César. 
Direito civil: curso completo. 10.ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2007, p.109-110). 
9.6.4. TÓPICA – MÉTODO 
É uma ação que consiste em, a partir desses referentes de sentido, os topoi, que são por todos aceitos, 
estabelece-se uma argumentação com a apresentação das razões que fundamentam uma posição e a 
contestação das opiniões divergentes 
A tópica parte, portanto, de um pensamento problemático como ponto de partida e procura chegar a 
uma conclusão através de argumentos aceitos socialmente por quase todas as pessoas em uma 
tentativa de universalizar a lógica dialética. 
Qual a diferença da tópica e da retórica clássica? 
Enquanto que com a retórica clássica se tentava persuadir os interlocutores através da argumentação, 
a tópica tenta chegar a um consenso. 
Através da argumentação dialética em que participavam os interessados no problema chegava-se a 
esse consenso, que seria a solução possibilitada por essa dialética argumentativa, resolvendo-se dessa 
forma a problemática. 
9.6.5. TÓPICA E JURISPRUDÊNCIA 
Theodor Viehweg é o principal representante da tópica moderna. 
Foi o responsável pela recuperação da tópica nos anos 50 do Séc. XX, tendo declarado ter sido 
influenciado por Aristóteles, Cícero de Roma e Vico. 
Sua principal obra é Tópica e Jurisprudência de 1953 (Topik und Jurisprudenz: Ein Beitrag zur 
rechtswissenschaftlichen Grundlagenforschung). 
A ideia de Jurisprudência trazida em seu título não diz respeito apenas aos precedentes e sentenças 
dos tribunais, mas é algo mais amplo. 
Está no sentido de todo o direito, também chamada ciência jurídica. O termo ciência jurídica é visto por 
Viehweg como impróprio, pois o Direito não é uma ciência, mas seria uma prudência 
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No Brasil, influenciou Tércio Sampaio Ferraz Júnior. 
9.6.6. CLASSIFICAÇÃO DOS TOPOI 
Segundo Viehweg: 
 Tópica de primeiro grau → É o uso dos topoi isoladamente para tentar extrair soluções para 
os problemas. 
 Tópica de segundo grau → É a elaboração de inventários organizados de topoi conforme 
critérios que delimitam as áreas argumentativas: 
o Gramaticais – etimologia, sinonímia, etc. 
o Lógicos – definição, gênero, espécie, etc. 
o Históricos –testemunhos, exemplos, etc. 
Segundo Perelman e Tyteca: 
 Qualidade → sabedoria, prestígio, inteligência. 
 Quantidade → maioria, generalidade, normalidade. 
 Ordem → que afirmam a superioridade do anterior sobre o posterior, do mais alto sobre o mais 
baixo. 
 Existência → que afirmam a superioridade do existente, do atual, do possível. 
 Essência → que afirmam a superioridade do cerne, do núcleo, do básico, do real sobre o 
aparente. 
 Pessoa → que afirmam a superioridade da personalidade, da autonomia, do mérito, da 
dignidade. 
Segundo Aristóteles (esta classificação não cai na prova): 
No capítulo 23 do Livro II da Retórica, Aristóteles enumerou 28 topoi do entimema: 
I. Oposição de uma coisa em questão ou contrários (“a temperança é benéfica, pois a 
libertinagem é perniciosa”); 
II. Flexões causais semelhantes ou modificação da palavra-chave: (justo nem sempre significa 
benéfico); 
III. Ideias correlatas ou relações recíprocas (“se uma pessoa tem o direito de dar ordens, a outra 
tem-no de as cumprir”); 
IV. A fortiori ou do mais e o do menos (“se nem os deuses sabem tudo, muito menos os homens”); 
V. Considerações do tempo (“se antes de eu agir, vos tivesse pedido, como condição prévia, que 
me concedêsseis a estátua, ter-ma-íeis dado. Agora que agi, não ma concedereis?”); 
VI. Aplicar ao outro orador aquilo que ele disse contra nós, com o propósito de desacreditar o 
acusador; 
VII. Definição ou defesa dos termos (partir de definições e determinar a essência de uma coisa); 
VIII. Diferentes sentidos de uma palavra; 
IX. Divisão (“todos os homens cometem erros por um de três motivos: A, B ou C; em meu caso, A e 
B estão fora de questão, e mesmo os acusadores não alegam C”); 
X. Indução; 
XI. Decisão já enunciada, quer no mesmo assunto ou em outro semelhante ou contrário a ele; 
XII. Tomar separadamente as partes de um assunto; 
XIII. Uso de consequências (“convém ser instruído, porque convém ser sábio”); 
XIV. Divergência de opinião, quando se quer estimular ou desencorajar o curso de uma ação que 
pode ser feita de dois modos distintos; 
XV. Uso de paradoxos; 
XVI. Correspondência racional ou consequências por analogia; 
XVII. Antecedente e consequente (“se dois resultados são iguais, seus antecedentes também são 
iguais”); 
XVIII. Inverso de escolhas (“os homens nem sempre fazem a mesma escolha, seja em ocasiões 
anteriores ou posteriores”); 
XIX. Afirmação de que alguns motivos possíveis para um evento ou estado de coisas são o real ou 
efetivo; 
XX. Examinar as razões que aconselham a fazer uma coisa e desaconselham a fazer a mesma e 
que razões levam as pessoas a praticar e a evitar tais atos. 
XXI. Coisas que se pressupõem que aconteçam, mesmo que pareça não ser possível que elas não 
aconteçam; 
XXII. Refutar o processo do nosso oponente pela observação de comparações ou contradições de 
datas, ações ou palavras; 
XXIII. Explicar a causa do que é estranho, pois há uma razão para que assim pareça; 
XXIV. Se a causa estiver presente, o efeito estará presente, e se a causa estiver ausente, o efeito 
também estará ausente 
XXV. Considerar se o acusado pode ou poderia ter tomado um curso melhor do que aquele que lhe 
foi recomendado, ou o está tomando, ou efetivamente o tomou; 
XXVI. Ao fazer algo contrário ao que já se fez, deve-se examinar ambas as coisas ao mesmo tempo; 
XXVII. Acusar ou defender-se a partir dos erros da parte contrária; 
XXVIII. Deduzir os significados dos nomes. 
HERMENÊUTICA E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA LOURENÇO TORRES 
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Do entimema aristotélico (Hayashi): 
No capítulo 23 do Livro II da Retórica, Aristóteles enumerou 28 topoi do entimema que podem ser 
agrupados em: 
 Linguísticos → se desenvolvem sob uma perspectiva linguística, sempre se preocupando com 
a palavra e o seu signo. 
O estudo etimológico da palavra trabalha com a origem e a evolução da 
palavra. Por exemplo: biologia = bios + logos, estudo da vida. Essa forma de 
análise é mais limitada que a forma anterior, por precisar apenas de um 
dicionário. Na hermenêutica é usada pela interpretação literal. 
Os topoi desse grupo não se limitam apenas a encontrar o sentido, buscam 
utilizar o termo mais adequado a cada situação ou de acordo com o público. 
Usar corretamente as palavras é essencial, uma única palavra empregada 
erroneamente pode arruinar todo o discurso. 
 Refutativos → tem como ponto de partida o discurso do adversário, e, sua postura é sempre 
ofensiva. Se preocupam mais em traçar a melhor estratégia argumentativa para 
derrotar o adversário. 
Exploram-se quatro posturas: 
o buscar o que é contrário, 
o utilizar as palavrasproferidas contra nós e voltá-las contra o emissor 
o acusar e 
o defender a partir dos erros do adversário. 
 Procedimentais → consistem em expor e conhecer a causa e a consequência. 
Fazer uso da analogia no discurso consiste em unir um caso semelhante 
ao caso principal, induzindo os ouvintes a acreditarem que o resultado será 
o mesmo. Por exemplo, mostrar que determinados atos de um indivíduo 
são semelhantes aos atos preparatórios de um criminoso, o que nos leva a 
conclusão de que aquele indivíduo irá cometer ou o mesmo crime ou um 
crime semelhante. 
Valer-se da indução, no direito, seria o uso da jurisprudência (decisões 
reiteradas sobre determinada matéria). Caso não se trate de um tema 
pacífico, deve-se, obviamente, citar apenas as decisões que forem 
favoráveis à lide em questão. 
 Aconselhativos → A estrutura desses lugares comuns consiste na comparação do passado 
com o presente para chegar a uma previsão, uma escatologia. 
O objetivo é aconselhar as pessoas para o bem ou de aconselhá-las da 
prática do mal. 
 Analíticos → concentra seus esforços tanto nos participantes do argumento quanto no 
conteúdo do discurso. 
Observando os participantes analisa as partes e os juízos de valor que o público 
venha a ter, visando explorar os sentimentos dos ouvintes para obter uma boa 
imagem ou conseguir total atenção e comparar as ações realizadas pelo 
indivíduo no passado e no presente. 
Ao partir do conteúdo do discurso, podemos observar: 
o o que é contrário ao que é afirmado; 
o se possui reciprocidade com alguma outra colocação ou fato; 
o se existe uma mesma causa para mais de uma consequência e esclarecer 
ou evitar algum mal-entendido durante o discurso. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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9.6.7. CLASSIFICAÇÃO TÓPICA DO DIREITO (FERRAZ JR.) 
I. Tópica material: conjunto de regras referentes à argumentação dos participantes que têm em 
vista seus interesses subjetivos. 
As “partes” (não profissionais) tendem a manifestar-se pessoalmente: “indefesas”, “ingênuas”, 
“honestas”, “injustiçadas”, “pessoas comuns”, boa-fé”, etc. 
Os profissionais (juiz, advogado, etc.) manifestam-se impessoalmente: “serenidade”, 
“imparcialidade”, “interesse da justiça”, “responsabilidade”, “profissionalidade”, etc. 
II. Tópica formal: conjunto de regras capazes de conduzir a argumentação, tendo em vista o 
processo de forma objetiva. 
São topoi de argumentação: “ônus da prova”, ordem dos recursos”, “forma dos arrazoados e 
sentenças” como exigências de pertinência, clareza e consequencialidade. 
9.6.8. PRINCIPAIS EXEMPLOS DE TOPOI DO DIREITO 
 Ninguém é obrigado ao impossível (A l’impossible nul n’est tenu). 
 A pessoa absolvida de um crime não pode ser vir de novo a dele ser acusada (Absolutus de certo 
crime de eodem accusari non potest). 
 O ônus da prova é de quem invoca um direito, não de quem o infirma ou nega (Affirmanti incumbit 
probatio). 
 Amplia-se a lei que favorece o réu e restringe-se a que o prejudica (Benigna amplianda, oddiosa 
restringenda). 
 “O pior acordo é melhor do que a melhor causa”. 
 A ação penal não prejudica a ação civil (Causa criminalis non prejudicat civilis). 
 Dá-me o fato, e te direi o direito (Da mihi facto, dabo tibi ius). 
 As exceções devem ser interpretadas em termos estritíssimos (Exceptio est strictissimœ 
interpretationis). 
 Na dúvida do julgador, deve decidir-se em favor do réu (In dubio pro reo). 
 Os contratos são para serem cumpridos (Pacta sund servanda). 
 Mais vale deixar escapar um delinquente que condenar um inocente (Melius est impune delictum 
quam innocentem dammare). 
 Uma mesma questão jurídica [transitada em julgado] não pode ser apreciada por um tribunal 
mais de uma vez (Non bis in idem). 
 Não pode haver crime sem uma lei prévia que assim o determine. Não pode haver uma pena sem 
uma prévia lei penal que a prescreva (Nullum crimen sine lege. Nulla poena sine lege). 
 O máximo direito, na sua dureza fria e cega, é a máxima injustiça (Summum jus, summa injuria). 
9.6.9. TOPOI ARISTOTÉLICOS COMO ARGUMENTOS 
I. Considerar a oposição da coisa em questão. 
1. “Se o conflito de interesses [1] é a causa de desentendimentos [2], então o que se necessita 
para que haja paz [2] é o consenso [1]”. 
2. “Se fazer o bem [1] é agradável [2], fazer o mal [1] é desagradável [2]”. 
II. Considerar modificar as palavras-chaves para que melhor se aplique seu uso. 
1. O “justo” nem sempre é benéfico; assim como o “merecido” nem sempre é benéfico. 
2. Ex.: não é desejável ser merecedor da pena de morte. 
III. Considerar ideias correlatamente. 
1. Se não é ruim comercializar, não é ruim pagar os impostos relativos ao comércio. 
2. “Se eu tratei você com respeito, você recebeu tratamento respeitoso de mim”. 
IV. Argumento a fortiori – se uma qualidade não existe onde é mais provável, ela não existirá onde é 
menos provável. 
1. “Se os deuses não são oniscientes, certamente os homens também não o são”. 
V. Considerar o tempo (questões temporais) 
 
 
 
 
HERMENÊUTICA E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA LOURENÇO TORRES 
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REVISÃO 
1. O USO DE RECURSOS RETÓRICOS DE PERSUASÃO NA DECISÃO JURÍDICA 
O que é PERSUASÃO? 
“o ato ou efeito de se levar a crer ou aceitar”. 
“fazer com que determinado ouvinte ou interlocutor adquira determinada certeza desejável”. 
“ação de se levar ao consentimento o ânimo de alguém para formar um juízo”. 
(Dicionário Aurélio, 2004, p. 606 e p. 1546) 
2. OS SOFISTAS NA GRÉCIA ANTIGA (VI a.C) 
A Grécia era dominada por mitos, como a maldição de Sísifo. 
Os gregos eram especialistas na atividade intelectual (filosofia, poética, música ou adivinhação); 
sábios ou magos; mestres que ensinavam a sabedoria. 
Então vieram os primeiros pensadores filósofos: os sofistas. 
2.1. OS FILÓSOFOS CLÁSSICOS E SUAS INFLUÊNCIAS 
 
 
 
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3. RETÓRICA 
O que é RETÓRICA? 
I. ORÁTÓRIA E ORNAMENTO – inventio, dispositio, executio, memória, pronuntiatio 
II. FIGURAS DE LINGUAGEM (PALAVRAS, FRASES, TEXTOS) – metáfora, sinédoque, metonímia, 
ironia, etc. 
III. ESTUDO DE LUGARES COMUNS (TOPOI) – do contrário (I), do mais e do menos (IV), dos diferentes 
sentidos das palavras (VIII), da indução (X), da refutação (XII), etc. 
IV. MÉTODO ANALÍTICO QUE ESTUDA O CONVENCIMENTO DOS SILOGISMOS REFUTÁVEIS. 
“A retórica é uma arte, como toda arte, atinge a perfeição quando se faz esquecer”. 
(Olivier Reboul) 
 
“Da retórica nenhum Direito escapa”. – Ottmar Ballweg 
3.1. CLASSIFICAÇÃO ARISTOTÉLICA DA TÉCNICA RETÓRICA 
 
3.2. ESTRUTURAS RETÓRICAS ARISTOTÉLICAS 
 
4. ARGUMENTAÇÃO 
É a arte de expor ideias de forma convincente, ou seja, de forma a conquistar a adesão do interlocutor – aquele 
a quem o discurso é dirigido – para a ideia do orador. Argumentar é obter com palavras a adesão de outro. 
4.1. PRINCIPAIS TIPOS DE ARGUMENTOS JURÍDICOS 
 Ab auctoritate,  Ab absurso,  A contrario sensu,  Ad hominem, 
 Ad rem,  Ad personam,  A fortiori,  Ad maiori, 
 Ad minus,  A priori,  A simile,  A posteriori, 
 A exempla. 
4.2. MODALIDADE DE ARGUMENTAÇÃO RETÓRICA 
ENTIMEMAS: são silogismos retóricos imperfeitos formal e logicamente, suas conclusões não decorrem 
necessariamente de suas premissas. São pragmaticamente úteis quando o objetivo é persuadir 
sem a exigência de uma rígida coerência lógica, ou quando esta não é possível, ou quando é 
estrategicamente desejável (ADEODATO). 
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FALÁCIAS(lat. fallere – enganar): um raciocínio errado com aparência de verdadeiro. É um argumento 
logicamente inconsistente, sem fundamento, inválido ou falho na 
tentativa de provar eficazmente o que alega. 
Argumentos que se destinam à persuasão podem parecer convincentes 
para grande parte do público apesar de conterem falácias, mas não 
deixam de ser falsos por causa disso. 
Exemplo: "O fogo é quente e sei disso por dois motivos: ele é vermelho; e 
medi sua temperatura com um termômetro". 
SOFISMAS (gr. sofisma): são raciocínios mediante os quais intencionalmente se quer defender algo falso e 
confundir o contraditor. 
ERÍSTICA (gr. erizein - batalhar): é a arte de discutir, mais precisamente, a arte de discutir de modo a vencer, e 
isto per fas et per nefas (por meios lícitos ou ilícitos). De fato, é possível ter 
razão objetivamente no que diz respeito à coisa mesma, e não tê-la aos olhos 
dos presentes ou inclusive aos próprios olhos (SCHOPENHAUER). 
O objetivo da erística é vencer uma discussão e não necessariamente de 
descobrir a verdade de uma questão. 
4.3. ESTRATÉGIAS ARGUMENTATIVAS NO DIREITO 
I. A ESTRATÉGIA DO ARGUMENTO FACTUAL 
É apresentar “fatos” como evidências e não como “meros” argumentos de tese. Esses argumentos 
necessitam de crença para confirmação. 
Na verdade, “fatos” são maneiras diversas de ver “materialmente” a “realidade”, em um discurso 
supostamente descritivo. 
Exemplos: 
“A sociedade funcionará mais eficientemente se a riqueza for mais equitativamente dividida”. 
“Aqueles que detém 90% da riqueza compõe 30% da população”. 
II. A ESTRATÉGIA DA NEGATIVA 
O autor diz logo o que não pretende, visando proteger-se contra eventuais críticas de que há lacunas 
naquele ponto, pois sabe que ali estão suas falhas ou que seu discurso vai sugerir algo que ele não quer 
ou diz que não é. 
Exemplo: 
“Defender a aplicação literal da lei, mas iniciar o discurso por se eximir da pecha de positivista 
exegético”. 
III. A ESTRATÉGIA DA VAGUEZA 
Quanto mais preciso o discurso, menos acordo ele atrairá. Por isso, a contrario sensu, quanto menos se 
diga efetivamente, mais acordo. 
São frases que, muitas vezes, não dizem nada, mas o orador atrai simpatia para o que vai defender 
efetivamente. 
São frases que qualificam positivamente o próprio discurso e desqualificam quem eventualmente dele 
discordar, ou, quando o orador atribui a seus adversários expressões semelhantemente vagas, mas que 
trazem conotações negativas. 
Exemplos: 
Qualificar o oponente como “ortodoxo”, “ideológico” ou “fanático”. 
“Quem pode ir contra uma efetiva distribuição da justiça”? 
“Quem é contra uma posição ponderada, responsável e sem fanatismos não merece crédito”. 
IV. A ESTRATÉGIA DE FALAR POR SUJEITO INDEFINIDO OU INDEFINÍVEL 
É a estratégia de articular afirmações que atraem apoio para o orador como representante autorizado 
de outrem. 
Isso, porque qualquer observador atento sabe que nenhum orador detém a autoridade hermenêutica 
de representar maiorias. 
Exemplos: 
“O povo quer...” 
“a Universidade não aceita...” 
“os trabalhadores sabem disso”. 
 
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4.4. SILOGISMO E ENTIMEMA 
SILOGISMO FORMAL: Dedução formal a partir de duas premissas para se chegar a uma conclusão. 
Dedução lógica e Subsunção 
Premissa maior + premissa menor = conclusão 
SILOGISMO ENTIMEMÁTICO: Estrutura silogística à qual falta um dos elementos formais (subentendido). 
Dedução retórica. 
4.5. OUTROS TIPOS DE ENTIMEMAS 
ENTIMEMA TÓPICO – São aqueles enumerados como topoi ou lugares comuns. Deduzem conclusões prováveis 
a partir de pontos de vista tidos como geralmente aceitos. 
ENTIMEMA PROTASE – Deduz conclusões silogísticas formalmente rigorosas a partir de premissas prováveis ou 
verossímeis, ou a partir de um paradigma. 
ENTIMEMA FORMAL – É aquele ao qual falta ou permanece subentendida uma das premissas ou mesmo a 
conclusão. 
GNOME – É uma afirmação de caráter geral, fundamentada em uma personalidade ou obra reconhecida na 
vida pública. 
4.6. SOFISMAS E PARALOGISMOS 
SOFISMA: É um raciocínio, também chamado de refutação aparente, refutação sofística e também de silogismo 
aparente, ou silogismo sofístico, mediante os quais se quer defender algo falso e confundir o 
contraditor. 
PARALOGISMO: raciocínios advindos da ignorância. Isto é, não são intencionalmente produzidos para enganar. 
Para Aristóteles, qualquer falso silogismo era considerado um paralogismo, pois contém 
obrigatoriamente uma premissa ambígua. 
EXEMPLOS DE SOFISMAS: 
 Argumento ad hominen – ao invés de se enfrentar o argumento do adversário, ataca-se a pessoa do 
adversário. Ataca-se o homem e não a ideia. 
 Argumento de conclusão irrelevante (ou ignoratio elenchi) – Busca iludir o interlocutor apresentando 
uma conclusão que não é, de modo algum, decorrente das premissas apresentadas. 
 Argumento de petição de princípio (petitio principii) – Ocorre quando o orador pressupõe como certo 
exatamente aquilo que deveria demonstrar. 
 Círculo vicioso – O ponto de partida (a premissa) e a conclusão são apoiados um no outro, formando um 
círculo entre duas afirmações não demonstradas. 
 Falsa causa. (lat.) post hoc ergo propter hoc – depois disso, então, por causa disso. Consiste em apontar 
um fenômeno como causa de outro, apenas porque o antecedeu. 
 Generalização apressada – Também chamado de sofisma de enumeração imperfeita ou de indução 
viciosa. Consiste em se atribuir ao todo o que é próprio da parte, em considerar como regra o que é 
exceção. 
5. TÓPICA JURÍDICA E TOPOI 
TÓPICA é o pensamento dialético de controvérsias práticas, um processo especial de tratamento dos 
problemas que consiste na mobilização dos topoi sugeridos pelas próprias controvérsias para a ponderação dos 
prós e dos contras das diversas opiniões que se referem a essas controvérsias. 
CONCEITO DE TÓPICA: 
A tópica é uma parte da retórica conceituada por Theodor Viehweg como uma “técnica de pensar problemas”. 
Isto é, um estilo de pensamento, uma técnica de interpretação do direito cuja finalidade é indicar meios de 
como se agir diante de problemas, buscando sempre encontrar uma solução justa para qualquer caso. 
Os topoi são, nas palavras de Aristóteles, procedimentos padrão que se podem usar a discutir qualquer assunto 
no âmbito de uma controvérsia. São lugares comuns ou argumentos estandardizados aceitos por todos ou pela 
maioria ou pelos mais qualificados. 
EXEMPLOS DE TOPOI: 
 A ação penal não prejudica a ação civil (Causa criminalis non prejudicat civilis). 
 Dá-me o fato, e te direi o direito (Da mihi facto, dabo tibi ius). 
 As exceções devem ser interpretadas em termos estritíssimos (Exceptio est strictissimœ interpretationis). 
 Na dúvida do julgador, deve decidir-se em favor do réu (In dubio pro reo). 
 
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EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO 
1. Quanto aos tipos de argumentos primordialmente utilizados na elaboração argumentativa dos 
juristas, assinale a alternativa que incorretamente os descreve: 
a) O argumento de autoridade consiste em sustentar a validade de uma tese no fato de ter recebido a 
adesão de determinada pessoa. 
b) O argumento por analogia é largamente utilizado na retórica forense nos casos em que se sustenta 
que dois casos devem ser assimilados porque a ambos se aplica a mesma ratio legis. 
c) O argumento a fortiori, também é chamado de argumento a minori ad majus segundo o brocardo 
“quem pode o mais, pode o menos”. 
d) O argumento a contrario sensu é o argumento que concede a uma proposição interpretação inversa. 
e) O argumento ab absurdo limita a validade de uma tese aos fatos que reconhece ou àquilo que está 
disposto a ceder. Trata-se de conceder parte de razão à tese contrária, como ponto de partida para 
sustentar a própria tese. 
2. Hermenêuticaé a ciência filosófica que possui regras e princípios próprios norteadores da 
interpretação de textos. A interpretação transforma textos normativos em normas jurídicas, 
viabilizando sua aplicação para as situações que se apresentarem em concreto. Assinale a 
alternativa que incorretamente descreve os conceitos a respeito das argumentações mais 
frequentes no discurso jurídico: 
a) O argumento de autoridade consiste em sustentar a validade de uma tese no fato de ter recebido a 
adesão de determinada pessoa. 
b) O argumento por analogia é largamente utilizado na retórica forense nos casos em que se sustenta 
que dois casos devem ser assimilados porque a ambos se aplica a mesma ratio legis. 
c) O argumento a fortiori propõe comprovar a validade de uma tese pelas consequências da sua 
aplicação. Remonta das consequências conhecidas aos princípios ou causas eventualmente 
desconhecidas. 
d) O argumento a contrario sensu é o argumento que concede a uma proposição interpretação inversa. 
e) O argumento ab absurdo refuta uma asserção, mostrando-lhe a falta de cabimento ao contrariar a 
evidência. 
3. Quanto as modalidades de argumentação retórica, assinale a alternativa incorreta. 
a) Silogismo é uma dedução (ou indução) formal a partir de duas premissas para se chegar a uma 
conclusão. 
b) Entimema são silogismos retóricos imperfeitos formal e logicamente, suas conclusões não decorrem 
necessariamente de suas premissas. 
c) Falácia é um raciocínio errado com aparência de verdadeiro. 
d) Erística é a arte de discutir, mais precisamente, a arte de discutir de modo a vencer, e isto per fas et 
per nefas (por meios lícitos ou ilícitos). 
e) Sofistas são raciocínios mediante os quais intencionalmente se quer defender algo falso e confundir o 
contraditor. 
4. Leia o texto abaixo e responda as assertivas atribuindo-lhe verdadeiro ou falso para então, marcar a 
alternativa correta: O texto a seguir é sobre a tentativa de superação da tese da legítima defesa da honra, 
usada como excludente de ilicitude nos crimes passionais assevera: [...] Contudo vale lembrar a decisão do 
STJ, de 1991, que rejeitou a legítima defesa da honra e determinou novo julgamento pelo tribunal do júri de 
Apucarana (PR) do réu que matou a mulher e seu amante. Argumento decisivo foi o de que não existe 
honra conjugal, pois a honra é pessoal e própria. Mesmo nesse caso paradigmático, não houve consenso. 
Voto divergente sustentou a ideia de que a norma jurídica há de ser interpretada culturalmente e que o 
aspecto cultural há de ser considerado de acordo com o lugar do fato. Sustentou, ainda que não se poderia 
dizer, nesse caso, que o tribunal do júri “tenha errado”, mas, que julgou mal, apenas manifestando uma 
cultura brasileira. Em novo julgamento, o réu de Apucarana foi absolvido. Conhecedor do desprestígio atual 
da tese da legitima defesa da honra o ilustre advogado do acusado recorreu à figura da violenta emoção, 
mais aceita em nossos tribunais para os crimes de paixão, com o fim de tipificar o homicídio como 
privilegiado: Com base no texto é possível afirmar que a postura do advogado volta-se para o uso da tópica 
jurídica de Theodor Viehweg; assim, analise as assertivas em verdadeiro e falso: 
I. A tópica faz uso dos lugares-comuns, ou seja, daquelas ideias e pensamentos que são aceitos, de 
forma consensual, pelos integrantes da situação comunicacional como primeiros argumentos que 
tornam possível o início do diálogo. O pensamento por meio da tópica, não oferece a possibilidade 
desses lugares-comuns serem superados pelo exercício comunicacional. ( ) 
II. Topoi são, portanto, pontos de vistas utilizáveis e aceitáveis em toda a parte, que se empregam a favor 
ou contra o que é conforme a opinião aceita e que podem conduzir a verdade. ( ) 
III. A nova retórica abala os tradicionais conceitos insculpidos ao logo dos anos por uma forte tendência 
positivista que se instalou nos meios jurídicos. A anarquia da nova retórica provoca o jurista a não 
pensar os fatos dentro dos ditames da lei, mas a pensar os fatos como ocorrências suscetíveis de 
valoração, ao lado de normas justapostas à provas, ambas, suscetíveis de valoração. ( ) 
 
a) F, V, V. b) F, F, V. c) F, F, F. d) V, V, V. e) V, V, F. 
 
HERMENÊUTICA E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA LOURENÇO TORRES 
51 
 
5. Marque com um “X” a resposta que completa corretamente a afirmação a seguir. A questão dos 
modos técnicos de integração do direito diz respeito aos instrumentos técnicos à disposição do 
interprete para efetuar o preenchimento ou a colmatação da lacuna. Dentre esses vários modos, 
quando uma norma, estabelecida com e para determinada espécie fática, é aplicável à conduta para 
a qual não há norma, havendo entre ambos os supostos fáticos, uma semelhança, é conhecida, em 
geral, como: 
a) analogia. b) integração. c) equidade. 
d) costume. e) interpretação extensiva. 
6. Argumentação é a arte de expor ideias de forma convincente, ou seja, de forma a conquistar a 
adesão do interlocutor para a ideia do orador. Argumentar é obter com palavras a adesão de outro. 
Identifique o tipo de argumento a partir do exemplo dado e marque a alternativa correta. Exemplo: 
“a tese que aqui defendemos é consagrada pelo douto Damásio de Jesus, e pela Súmula 98 do STF 
e pela jurisprudência pacífica”. 
a) argumento de autoridade. b) argumento a fortiori. c) argumento por analogia. 
d) argumento ex concessis. e) argumento ab absurdo. 
 
7. Argumentação é a arte de expor ideias de forma convincente, ou seja, de forma a conquistar a 
adesão do interlocutor para a ideia do orador. Argumentar é obter com palavras a adesão de outro. 
Identifique o tipo de argumento a partir do exemplo dado e marque a alternativa correta. Exemplo: A 
Petrobrás S/A e o Banco do Brasil S/A, que têm o mesmo controle, federal, são pessoas jurídicas do 
mesmo grupo – logo tanto faz ajuizar a demanda contra um, ou contra outro... 
a) argumento de autoridade b) argumento a fortiori. c) argumento por analogia. 
d) argumento ex concessis. e) argumento ab absurdo. 
 
8. Argumentação é a arte de expor ideias de forma convincente, ou seja, de forma a conquistar a 
adesão do interlocutor para a ideia do orador. Argumentar é obter com palavras a adesão de outro. 
Identifique o tipo de argumento a partir do exemplo dado e marque a alternativa correta. Exemplo: 
“emitiu, sim, o cheque de fls. para como garantia de uma dívida inflada por juros abusivos de 
agiotagem”. 
a) argumento de autoridade. b) argumento a fortiori. c) argumento por analogia. 
d) argumento ex concessis. e) argumento ab absurdo. 
 
9. Argumentação é a arte de expor ideias de forma convincente, ou seja, de forma a conquistar a 
adesão do interlocutor para a ideia do orador. Argumentar é obter com palavras a adesão de outro. 
Identifique o tipo de argumento a partir do exemplo dado e marque a alternativa correta. Exemplo: 
estando demonstrado que a testemunha X mentiu sobre a cor do carro acidentado, também não 
merece crédito quanto à culpa da causa do acidente. 
a) argumento de autoridade. b) argumento a fortiori. c) argumento por analogia. 
d) argumento ex concessis. e) argumento ab absurdo. 
 
10. “Mistér é não olvidar que a compreensão do direito como „fato histórico-cultural‟ implica o 
conhecimento de que estamos perante uma realidade essencialmente dialética, isto é, que não é 
concebível senão como ‘processus’, cujos elementos ou momentos constitutivos são fato, valor e 
norma (...)” (Miguel Reale, in Teoria Tridimensional do Direito). Assinale a opção que corretamente 
explica a natureza da dialética de complementaridade que, segundo Miguel Reale, caracteriza a 
Teoria Tridimensional do Direito. 
a) A relação entre os polos opostos que são o fato, a norma e o valor, produz uma síntese conclusiva 
entre tais polos. 
b) A implicação dos opostos na medida em que se desoculta e se revela a aparência da contradição, 
sem que, com esse desocultamento,os termos cessem de ser contrários. 
c) A síntese conclusiva que se estabelece entre diferentes termos, conforme o modelo hegeliano de tese, 
antítese e síntese. 
d) A estrutura estática que resulta da lógica de subsunção entre os três termos que constituem a 
experiência jurídica: fato, norma e valor. 
11. “A solução do conflito aparente de normas dá-se, na hipótese, mediante a incidência do critério da 
especialidade, segundo o qual prevalece a norma específica sobre a geral”. É conhecida a distinção 
no âmbito da Teoria do Direito entre antinomias aparentes (ou antinomias solúveis) e antinomias 
reais (ou antinomias insolúveis). Para o jusfilósofo Norberto Bobbio, uma antinomia real se 
caracteriza quando estamos diante. 
a) de duas normas colidentes que pertencem a ordenamentos jurídicos diferentes. 
b) de normas que colidem entre si, porém essa colisão é solúvel mediante a aplicação do critério 
cronológico, do critério hierárquico ou do critério de especialidade. 
c) de normas colidentes e o intérprete é abandonado a si mesmo pela falta de um critério ou pela 
impossibilidade de solução do conflito entre os critérios existentes. 
d) de duas ou mais normas que colidem entre si e que possuem diferentes âmbitos de validade temporal, 
espacial, pessoal ou material. 
e) de dois nomes realmente difíceis de interpretar, e por isso se aplica o critério da hierarquia. 
FACULDADE JOAQUIM NABUCO – FJN HERMENÊUTICA E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA 
52 
 
12. Segundo o jusfilósofo alemão Karl Larenz, os textos jurídicos são problematizáveis porque estão 
redigidos em linguagem corrente ou em linguagem especializada, mas que, de todo modo, contém 
expressões que apresentam uma margem de variabilidade de significação. Nesse sentido, assinale 
a opção que exprime o pensamento desse autor acerca da ideia de interpretação da lei. 
a) Deve-se aceitar que os textos jurídicos apenas carecem de interpretação quando surgem 
particularmente como obscuros, pouco claros ou contraditórios. 
b) Interpretar um texto significa alcançar o único sentido possível de uma norma conforme a intenção que 
a ela foi dada pelo legislador. 
c) Os textos jurídicos, em princípio, são suscetíveis e carecem de interpretação porque toda linguagem é 
passível de adequação a cada situação. 
d) A interpretação dada por uma autoridade judicial a uma lei é uma conclusão logicamente vinculante 
que, por isso mesmo, deve ser repetida sempre que a mesma lei for aplicada. 
e) Em determinados casos, é possível ao juiz eximir-se de qualquer interpretação alegando o non liquet. 
13. Segundo Aristóteles, existem três tipos de discursos: o deliberativo, o judicial e o epidítico ou 
laudatório. Dentre as alternativas a seguir, qual descreve adequadamente o discurso jurídico: 
a) É dirigido a outros espectadores, como todos os que assistem a discursos de aparato, como 
peregrinos, orações fúnebres, competições na Ágora, etc. A ação é censurar e, na maioria das vezes, 
louvar ora um homem ou uma categoria de homens, como os mortos na guerra, ora uma cidade, ora 
seres lendários, como Helena... 
b) É aquele dirigido aos Tribunais. Refere-se ao presente, pois o orador propõe-se à admiração dos 
espectadores, ainda que extraia argumentos do passado e do futuro. Os valores que os inspiram são 
o nobre e o vil. 
c) É aquele dirigido à Assembleia. Faz referência ao tempo futuro. Segundo Aristóteles os valores 
abordados são o que útil ou inútil ou nocivo (à polis e ao interesse público). Os argumentos 
deliberativos, dirigindo-se a um público mais móvel e menos erudito, prefere argumentar pelo exemplo 
(paradigma), que, aliás, permite conjecturar o futuro a partir dos fatos passados. 
d) É aquele dirigido à Assembleia do povo, dos cidadãos (ou ao Senado). Sua ação é aconselhar ou 
desaconselhar em todas as questões referentes à cidade: paz ou guerra, defesa, impostos, orçamento, 
importações, legislação. Quanto aos argumentos dispõe de leis e se dirige a um auditório 
especializado, utiliza de preferência raciocínios silogísticos, próprios a esclarecer a causa dos atos. 
e) É aquele dirigido aos Tribunais. A ação é acusatória (acusação) ou defensiva (defesa). Faz referência 
ao passado. Trata de valores como o justo e o injusto. Quanto aos argumentos o discurso judiciário, 
que dispõe de leis e se dirige a um auditório especializado, utiliza de preferência raciocínios 
silogísticos, próprios a esclarecer a causa dos atos. 
14. Diz o art. 226, § 3°, CF: "Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o 
homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento". O 
art. 1.723 do Código Civil, por sua vez, estabelece: "É reconhecida como entidade familiar a união 
estável entre o homem e a mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura e 
estabelecida com o objetivo de constituição de família". Considere as proposições abaixo, acerca 
do julgamento sobre a matéria pelo STF (ADI 4277, Rel. Min. Ayres Britto). 
I. Estabeleceu o STF interpretação conforme a Constituição do art. 1.723 do Código Civil, vetando o 
preconceito e a discriminação e excluindo da exegese desse dispositivo qualquer significado que 
impeça o reconhecimento da união contínua, pública e duradoura entre pessoas do mesmo sexo 
como família, idêntica à união estável heteroafetiva. 
II. Adotou o STF a teoria da "norma geral negativa" de Kelsen, segundo a qual o que não estiver 
juridicamente proibido, ou obrigado, está juridicamente permitido. 
III. Segundo o STF, o direito à liberdade de orientação sexual é direta emanação do princípio da 
dignidade da pessoa humana, inclusive no sentido de se tratar de direito à autoestima e à busca da 
felicidade. 
IV. Deu ênfase, o STF, ao § 2° do art. 5° da Constituição, reconhecendo direitos fundamentais não 
expressamente enunciados no texto, emergentes do regime e dos princípios adotados pela Carta. 
Considerando as proposições acima, assinale a alternativa correta: 
a) Apenas a proposição I é correta. 
b) Apenas a proposição Il não é correta. 
c) Apenas a proposição IV não é correta. 
d) Apenas a proposição IV é correta. 
e) Todas as proposições são corretas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
HERMENÊUTICA E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA LOURENÇO TORRES 
53 
 
15. Conforme a doutrina majoritária cabe aos doutrinadores e à jurisprudência fixar os critérios de 
interpretação. Apesar dessa ser a corrente majoritária, encontramos um grupo de doutrinadores 
que se posicionam que as regras de interpretação devem estar previstas nos códigos e em normas 
específicas, de tal sorte que as regras de interpretação irão ter a mesma força normativa que as 
demais normas jurídicas. Com respeito aos meios de integração do Direito assinale a alternativa 
CORRETA dentre as alternativas a seguir. 
a) Antinomia jurídica ocorre quando há lacuna legislativa. 
b) No Direito brasileiro, a equidade possui apenas função interpretativa. 
c) A analogia, assim como o costume e os princípios gerais de direito, tem função integrativa no sistema 
jurídico brasileiro. 
d) O critério ou princípio hierárquico – lex superior derogat legi inferiori – visa a solucionar o problema da 
necessidade de integração de lacunas axiológicas. 
e) A equidade é um método de interpretação das normas segundo o qual se procura identificar a 
finalidade da norma. 
16. Quanto às modalidades de argumentação retórica, assinale a alternativa incorreta. 
a) Silogismo é a arte de expor ideias de forma convincente, ou seja, de forma a conquistar a adesão do 
interlocutor – aquele a quem o discurso é dirigido – para a ideia do orador. 
b) Entimema são silogismos retóricos imperfeitos formal e logicamente, suas conclusões não decorrem 
necessariamente de suas premissas. 
c) Falácia é um raciocínio errado com aparência de verdadeiro. 
d) Erística é a arte de discutir, mais precisamente, a arte de discutirde modo a vencer, e isto per fas et 
per nefas (por meios lícitos ou ilícitos). 
e) Sofismas são raciocínios mediante os quais intencionalmente se quer defender algo falso e confundir 
o contraditor. 
17. O termo Justiça tanto exprime a vontade de dar a cada um o que é seu, quanto significa as regras em lei 
previstas, e ainda, o aparelhamento político- jurídico destinado à aplicação da norma do caso concreto. 
Assim, o profissional do Direito, enquanto ciência jurídica, busca a univocidade em sua terminologia, mas 
convive com um número ilimitado de palavras polissêmicas. Esse problema está identificado por três 
termos. Identifique a relação entre os principais problemas da linguagem e seus correlatos ao analisar as 
afirmativas a seguir, para então, assinalar a resposta correta. 
I. Vagueza: Um símbolo é vago quando seu possível campo de referência é indefinido ( ). 
II. Ambiguidade: Um símbolo é ambíguo quando é possível usá-lo para um campo de referência com 
diferente intenção, isto é, manifestando qualidades diversas ( ). 
III. Porosidade: Os símbolos admitem pragmaticamente usos diferentes, servindo para propósitos 
distintos (descrever, expressar, direcionar, obrigar, etc.). Dessa forma, permitem distintas 
interpretações ( ). 
a) F, V, V. b) F, F, V. c) F, F, F. d) V, V, V. e) V, V, F. 
18. A interpretação constitucional tem por objeto a compreensão, a aplicação das normas 
constitucionais. Portanto, leva em conta o conjunto de peculiaridades que singularizam seus 
preceitos, destacando-se a supremacia de suas normas, a natureza da linguagem que adota, o seu 
conteúdo específico e seu forte caráter político. Assim, dentre as características das normas 
constitucionais não podemos dizer que (assinale a alternativa errada): 
a) Elas veiculam conceitos abertos e vagos. 
b) Elas veiculam conceitos indeterminados que conferem ao intérprete um amplo “espaço de 
conformação”. 
c) Elas são normas de organização e estrutura, que traçam as competências orgânicas e os fins do 
Estado, e disciplinam, inclusive, o processo legislativo de elaboração das normas legais. 
d) Elas são dotadas de forte carga política em razão de sua pretensão de regular o fenômeno político e 
estabelecer as bases políticas do Estado. 
e) Elas vedam a interpretação extensiva, sobretudo do âmbito de proteção de normas de direitos 
fundamentais, porque, invariavelmente, se trata de estratagema do intérprete para usurpar a vontade 
do Poder Constituinte. 
19. O termo Justiça tanto exprime a vontade de dar a cada um o que é seu, quanto significa as regras 
em lei previstas, e ainda, o aparelhamento político- jurídico destinado à aplicação da norma do caso 
concreto. Assim, o profissional do Direito, enquanto ciência jurídica, busca a univocidade em sua 
terminologia, mas convive com um número ilimitado de palavras polissêmicas. Esse problema está 
identificado por três termos. Identifique a relação entre os principais problemas da linguagem e 
seus correlatos ao analisar as afirmativas a seguir, para então, assinalar a resposta correta. 
I. Vagueza: Um símbolo é vago quando seu possível campo de referência é indefinido ( ). 
II. Ambiguidade: Um símbolo é ambíguo quando é possível usá-lo para um campo de referência com 
diferente intenção, isto é, manifestando qualidades diversas ( ). 
III. Porosidade: Os símbolos admitem pragmaticamente usos diferentes, servindo para propósitos 
distintos (descrever, expressar, direcionar, obrigar, etc.). Dessa forma, permitem distintas 
interpretações ( ). 
a) F, V, V. b) F, F, V. c) F, F, F. d) V, V, V. e) V, V, F. 
FACULDADE JOAQUIM NABUCO – FJN HERMENÊUTICA E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA 
54 
 
20. Fala-se que a palavra “hermenêutica” deriva do nome do deus da mitologia grega Hermes, o 
mensageiro dos deuses, o mediador entre os deuses e os homens, a quem os gregos atribuíam a 
origem da linguagem e da escrita e é considerado o patrono da comunicação e do entendimento 
humano. Assinale a alternativa que não define corretamente o significado da palavra em tela. 
a) Hermenêutica é um conjunto de métodos de interpretação consagrados. 
b) Hermenêutica é um conjunto de regras técnicas para obter um resultado interpretativo e envolve um 
processo de tornar compreensível a linguagem e seus signos. 
c) Hermenêutica é um conjunto de estruturas (ciência) em todo o orbe social, bem como um conjunto de 
instâncias críticas, que interpretam os valores vigentes. 
d) Hermenêutica, do grego hermēneuein (gr.) e significa "declarar", "anunciar", "interpretar", "esclarecer" 
e, por último, "traduzir". Indica que alguma coisa é "tornada compreensível" ou "levada à 
compreensão". 
e) Hermenêutica é a atitude ou a atividade que consiste em indicar, ou determinar o significado de 
alguma coisa. 
 
 
 
 
 
 
 
GABARITO 
01 – E 02 – C 03 – E 04 – A 05 – A 
06 – A 07 – E 08 – D 09 – B 10 – B 
11 – C 12 – C 13 – E 14 – E 15 – C 
16 – A 17 – D 18 – E 19 – E 20 – E 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
HERMENÊUTICA E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA LOURENÇO TORRES 
55 
 
TEXTOS COMPLEMENTARES 
TEXTO 01 
1. UMA INICIAÇÃO À HERMENÊUTICA, INTERPRETAÇÃO E ARGUMENTAÇÃO NO DIREITO – 
LINGUAGEM HUMANA E LINGUAGEM JURÍDICA 
“A linguagem é um traje que disfarça o pensamento. E, na verdade, de um modo tal que não se 
pode inferir, da forma exterior do traje, a forma do pensamento trajado; isso porque a forma exterior 
do traje foi constituída segundo fins inteiramente diferentes de tornar reconhecível a forma do 
corpo”. (WITTGENSTEIN, Tractatus, § 4.002) 
Ao descrever o ser humano em sua obra O Homem, sua Natureza e seu Lugar no Mundo, o antropólogo e 
linguista Arnold Gehlen (1904 - 1976) considerou que a qualidade essencial do ser humano residia na ausência 
de adaptação a um determinado meio-ambiente. Face à elevada especialização e à segurança instintiva do 
animal, o homem surgiu biologicamente como um “ser deficiente” devido à sua falta de especialização, à sua 
imaturidade e à sua pobreza de instintos. Segundo Gehlen, para sobreviver, o homem tem de compensar esta 
falta de especialização com uma ação propriamente sua, a qual lhe permita construir um mundo cultural, onde 
surjam as mais elevadas realizações espirituais e culturais (GEHLEN, 1993, p. 30). Tal ação é a linguagem. 
Essa ação não é estranha considerando que o ser humano é frequentemente definido como homo loquens, pois 
a propriedade da linguagem distingue-o nitidamente dos demais seres. “Na palavra se encontra o humano (ela 
identifica o homo loquens), o humano com suas autorreferências e suas ambiguidades”, também disse o mestre 
Saldanha (SALDANHA, 2015, p. 121). 
Desde tempos remotos uma constatação obvia tem se mantido recorrentemente no meio jurídico: Direito é 
linguagem. Tal linguagem inclui elementos como gestos, sinais, sons, símbolos ou palavras, usados para 
representar conceitos de comunicação, idéias, significados e pensamentos, e, todos esses também servem 
ao(s) propósito(s) do Direito, pois são esses conceitos e ideias que se concretizam em normas capazes de 
expressar o que se deseja regulamentar no comportamento humano. De fato, o direito dogmático realmente 
acredita nisso e não é difícil encontrar afirmações do tipo: “a realidade do Direito é, em si, linguagem, uma vez 
que se expressa por proposições prescritivas no ato intelectual em que a fonte normativa afirma ou nega algo 
ao pensar a conduta humana em sua interferência intersubjetiva” (BRITO, 1993, p. 16), afirmações que são 
reproduzidas em diversos manuais. 
Esta linguagem jurídica é muito mais profunda que aquela particularidade linguística que a ciência do Direito 
personifica (persona) por meio de um grupo de termos específicos para seus operadores e que vulgarmente é 
chamada de “juridiquês”, ou, até mesmo, se é que háalguma diferença, um glossário reunido nos vocabulários 
jurídicos e seus desdobramentos processuais. Porém, a linguagem jurídica como essa tentativa de “materializar” 
o ideal, o anseio humano por justiça, a solução dos conflitos e insatisfações, leva a crer também que em muitos 
momentos distancia-se do seu ideal, do seu objeto. O que indica, paradoxalmente, que a linguagem jurídica 
distorce a ideia de direito e de justiça. 
É no meio desse dilema que se destaca a importância da ciência hermenêutica e do trabalho interpretativo. É a 
solução que o próprio problema propõe a si mesmo. Se a linguagem é um afastamento do ideal, a linguagem 
(por meio da ação interpretativa), e só ela, deve proporcionar a aproximação. Logo, se é um problema, é 
também uma solução. Mas, o que parece ser um ato simples é, na verdade, um processo complexo. Complexo 
porque a mente humana é complexa, porque as circunstâncias são complexas e as sociedades estão cada vez 
mais complexas. Assim, é necessário perceber, mesmo que resumidamente, um pouco a respeito de 
concepções e teorias da linguagem. 
1.1. Hermenêutica Jurídica e concepções de linguagem 
A realidade parece ser apreendida pela mente humana direta ou mediaticamente. Alguns autores concordam 
que a mente humana é um mediador entre a realidade e o ser humano, não havendo nunca apreensão direta da 
realidade. Isso se daria porque a mente humana aprende signos externos para perceber e informar aos 
indivíduos a respeito do mundo exterior. Sem esse aprendizado o indivíduo ficaria isolado. 
Os signos podem ser “naturais” e/ou artificiais. Um exemplo de signo natural é: A umidade da terra indica que 
choveu (?). Um exemplo de signo artificial é: Os signos linguísticos, com base fonética. Os símbolos. 
Todo conhecimento do mundo interno deriva-se, por raciocínio hipotético, de nosso conhecimento dos fatos 
externos. Toda cognição é determinada logicamente por cognições anteriores. Não temos poder algum de 
pensar sem signos. Não temos concepção alguma do absolutamente incognoscível (PIERCE, 2010, p. 260). 
Os símbolos linguísticos necessitam de signos, estes podem ser dos tipos: individualizadores (nomes, 
substantivos); identificadores (pronomes: este, esta, aquilo, aquele, etc.) e predicadores (descrições). 
A maioria dos símbolos, tomados isoladamente, não significam nada. Uma língua, é um repertório de símbolos 
inter-relacionados numa estrutura (as regras de uso). Um sistema de símbolos e relações. Linguagem: é todo e 
qualquer sistema de signos linguísticos (símbolos) que serve de meio de comunicação entre indivíduos 
humanos. 
FACULDADE JOAQUIM NABUCO – FJN HERMENÊUTICA E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA 
56 
 
Ao informar uma segunda tricotomia dos signos Charles Pierce afirmou que há três tipos de signos: em primeiro 
lugar, há semelhanças [likeness], ou ícones, que servem para transmitir ideias de coisas que representam 
simplesmente por imitação (signos naturais?). Em segundo lugar, há indicações [indications], ou índices, que 
mostram algo sobre as coisas, através de uma relação física com elas. [...] Placas [...] (signos artificiais?) Em 
terceiro lugar há símbolos, ou signos genéricos, que se associam aos seus significados pelo uso. Isso inclui a 
maior parte das palavras, frases, discursos, livros e bibliotecas. (signos artificiais) (PIERCE, 2010, p. 52 - 53). 
1.2. Relação entre “realidade” e linguagem 
Há duas concepções principais acerca da relação entre a linguagem e a realidade a que ela se refere: a Teoria 
Essencialista: corrente que afirma que entre o Direito e a linguagem há uma relação ontológica (ser). A 
linguagem seria um mero instrumento, um meio para a descoberta da verdade. A língua seria um instrumento 
que reflete a realidade; os conceitos linguísticos um espelho da essência existente nas coisas e as palavras o 
modo pelo qual esses conceitos são veiculados. Haveria um núcleo invariável nas palavras que possibilitaria a 
identificação dos elementos da realidade que a elas correspondem. Ocorre que esse realismo verbal sofre 
sérias objeções. Uma mesma palavra representa diferentes realidades. Ex.: "cabo" não é apenas (1) uma haste 
de sustentação, mas também (2) uma patente militar e (3) um acidente geográfico. 
A outra teoria é a Convencionalista: A Teoria Convencionalista ou Nominalista: corrente que considera a 
linguagem como um conjunto de signos cuja relação com a realidade é estabelecida de modo arbitrário pelos 
homens. O termo arbitrário, no presente caso, significa que não há nenhuma ligação natural entre o signo e a 
realidade que ele designa. A relação, por isso, é imotivada. 
Apesar da inexistência de uma relação ontológica entre o signo e o seu significado, o emprego dos signos não é 
livre. Está sempre condicionado por fatores históricos. A língua utilizada é sempre uma herança das gerações 
precedentes e está em constante transformação. Devido a essa realidade, o que se deve levar em conta é o 
uso dos conceitos que variam no tempo e no espaço. A questão da busca da essência das coisas deixa de ter 
sentido e é substituída pela busca dos critérios vigentes de utilização das palavras. As definições, por isso, têm 
caráter nominal e não real, já que a realidade depende do modo como definimos um conceito. 
Os juristas, de um modo geral, adotam uma concepção essencialista da linguagem. Consideram, por isso, ser 
possível, no âmbito do Direito, a elaboração de conceitos reais. Mantêm a ideia de que a definição de um termo 
reflete a essência dos objetos jurídicos, adotando, assim, uma visão conservadora da teoria da língua. 
1.3. Linguagem e o abismo gnosiológico 
Há na linguagem uma deficiência na transmissão do sentido do pensamento. O pensamento transcende a 
matéria, não se prende a imanência do objeto. Essa abstração não é suportada pela linguagem, que é limitada. 
Esse é o chamado abismo gnosiológico, que se divide em duas etapas. A primeira se dá entre o fato e o 
pensamento e a segunda etapa é entre o pensamento e a linguagem. 
Por causa desse abismo é que são encontradas dificuldades em se determinar o alcance e o sentido das 
palavras (signos) utilizadas pelo legislador. O oposto ao alcance é a vagueza e o do sentido é a ambiguidade. 
Tudo isso atormenta o jurista no momento em que vai interpretar a norma, já que é difícil a determinação do 
alcance e do sentido. O fato é único e irrepetível, essa afirmação pode ser explicada através do devir de 
Heráclito (tudo muda). O ideal reside em outro plano, superior, que permite uma generalidade. Estaria no mundo 
das ideias e os fenômenos são cópias imperfeitas desses ideais, segundo Platão. (ADEODATO, 2009a, p. 186 – 
191). 
 
 
FATO PENSAMENTO LINGUAGEM 
 (1ª etapa do abismo) (2ª etapa do abismo) 
 
“A linguagem mal disfarça o que é: amálgama de pedaços dos espíritos, que ficam lá 
fora, indiferentes ao passar das gerações, a despeito de banhá-las e arrancar-lhes as 
vozes, ritmos e formas. Utiliza o que teve, o que tem e as significações com que 
ultrapassa a si mesma”. (PONTES DE MIRANDA, 2002, p. 10) 
 
“Não nos estimamos mais o bastante quando nos comunicamos. Nossas experiências 
decisivas não são de forma alguma tagarelas. Elas não poderiam comunicar a si 
próprias caso quisessem. Isso acontece porque lhes falta a palavra. Aquilo para que 
temos palavras também já ultrapassamos. Em todo falar há um grão de desprezo. A 
linguagem, parece, foi inventada só para o que é médio, mediano, comunicável. Com a 
linguagem, já se vulgariza aquele que fala”. (NIETZSCHE, 2012, p. 97. (26) 
 
“A última crença é a crença na linguagem. Na dissolução dessa superstição, a retórica é 
a última forma de iluminismo”. (BALLWEG, 1989, p. 42). 
HERMENÊUTICA E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICALOURENÇO TORRES 
57 
 
1.4. A Linguagem Jurídica 
A linguagem jurídica serve de comunicação para pessoas específicas (os juristas) em um mundo determinado, o 
“mundo” jurídico. 
No Direito, assim como em outros setores do conhecimento, desenvolve-se uma linguagem particular, peculiar, 
onde se guardam palavras e expressões que possuem acepções próprias. No mundo do Direito, a palavra é 
indispensável. Todos empregam palavras para trabalhar, mas, para o jurista, elas são precisamente a matéria-
prima de suas atividades principais. 
As leis são feitas com palavras, como as casas são feitas com tijolos. O jurista, em última análise, não lida 
somente com fatos, diretamente, mas com palavras que denotam ou pretendem denotar esses fatos. Na 
verdade, os fatos são inacessíveis para o “mundo” do Direito, no máximo, eles só passam de relatos 
apresentados pelas partes dentro do contexto de um determinado processo. Há, portanto, uma parceria 
essencial entre o Direito e a Linguagem. O profissional do Direito, enquanto ciência jurídica, busca a 
univocidade em sua terminologia, convive com um número limitado de palavras polissêmicas. Exemplo clássico 
é o termo Justiça que tanto exprime a vontade de dar a cada um o que é seu, quanto significa as regras em lei 
previstas, e ainda, o aparelhamento político- jurídico destinado à aplicação da norma do caso concreto. Portanto, 
tudo o que é apreendido e representado pelo sujeito cognoscente depende de práticas interpretativas. Como o 
mundo vem à consciência pela palavra, e a linguagem é já a primeira interpretação, a hermenêutica torna-se 
inseparável da própria vida humana. (SOARES, 2010, p. 4). 
Mas, a linguagem, e em especial a linguagem jurídica, guarda alguns problemas bem conhecidos; são eles: a 
vagueza - um símbolo é vago quando seu possível campo de referência é indefinido (Ex:. Art. 121, CP). A 
Ambiguidade - um símbolo é ambíguo quando é possível usá-lo para um campo de referência com diferente 
intenção, isto é, manifestando qualidades diversas. Por último, a porosidade - os símbolos admitem 
pragmaticamente usos diferentes, servindo para propósitos distintos (descrever, expressar, direcionar, obrigar, 
etc.). Dessa forma, permitem distintas interpretações. 
REFERÊNCIAS 
ADEODATO, João Maurício. Ética e retórica: para uma teoria da dogmática jurídica. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 
2009a. 
BALLWEG, Ottmar. Entwurf einer analytischen Rhetorik. In: SCHANZE, Helmut e KOPPERSCHIDT, Joseph 
(Hrsg.) Rhetorik und Philosophie. München: Wilhelm Fink, 1989. 
BRITO, Edvaldo P. de. Limites da revisão constitucional. Porto Alegre: Sergio fabris, 1993. 
GEHLEN, Arnold. Der Mensch. Seine Natur Und Seine Stellung in Der Welt. Frankfurt: VK, 1993. 
NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. Crepúsculo dos ídolos, ou, como se filosofa com o martelo. Tradução, 
apresentação e notas de Renato Zwick. Porto Alegre, RS: L&PM, 2012. 
PIERCE, Charles S. Semiótica, 4. ed. São Paulo: Perspectiva, 2010. 
PONTES DE MIRANDA, Garra, mão e dedo. Campinas: Bookseller, 2002. 
SALDANHA, Nelson. Do sagrado ao profano: a palavra na história. In: ACADEMIA PERNAMBUCANA DE 
LETRAS. Nelson Saldanha. organização Fátima Quintas. Recife: Bargaço, 2015. 
SOARES, Ricardo Maurício Freire. Hermenêutica e interpretação jurídica. São Paulo: Saraiva, 2010. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FACULDADE JOAQUIM NABUCO – FJN HERMENÊUTICA E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA 
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TEXTO 02 
2. MÉTODOS E TIPOS DOGMÁTICOS DE INTERPRETAÇÃO 
A doutrina hermenêutica, por ser um discurso do poder de violência simbólica, não se constrói como uma teoria 
descritiva (zetética) que explica como é o sentido do direito, mas como uma teoria dogmática 
que expressa como deve ser (dever ser ideal) ele interpretado. Os conceitos, as premissas, os princípios 
postulam concepções cripto-normativas (cripto = oculto) e formulam-se como orientações sobre os objetivos 
e os propósitos da interpretação. Dessas orientações deduzem-se, então, regras hermenêuticas. 
Conforme mostramos, com base nas três díades de organização dos símbolos (alto/baixo, dentro/fora, 
claro/escuro) e as respectivas relações de poder (autoridade, liderança, reputação), constituem-se três critérios 
básicos, em razão dos quais é possível propor, didaticamente, um quadro esquemático dos métodos 
de interpretação. Esses três critérios são a correção ou coerência, o consenso e a justiça. A 
coerência ou a busca do sentido correto exige um sistema hierárquico de normas e conteúdos normativos. 
O consenso ou a busca do sentido funcional exige respaldo social. A justiça ou a busca do sentido 
justo exige que se atinjam os objetivos axiológicos do direito. Em função deles, podemos falar em métodos 
lógico-sistemático, sociológico e histórico e teleológico-axiológico. 
Como, além disso, o poder de violência simbólica se exerce por paráfrases que acrescem a força normativa das 
relações de autoridade, liderança e reputação conforme decodificações consoante um código forte ou um 
código fraco, é possível, didaticamente, distinguir tipos básicos de interpretação: a especificadora, a 
restritiva e a extensiva. 
No conjunto, métodos e tipos constituem a língua hermenêutica em sua estrutura. Vejamos por partes cada um 
deles. 
2.1. Métodos hermenêuticos 
Os chamados métodos de interpretação são, na verdade, regras técnicas que visam à obtenção de um 
resultado. Com elas procuram-se orientações para os problemas de decidibilidade dos conflitos. Esses 
problemas são de ordem sintática, semântica e pragmática. Embora não possamos circunscreve-los 
rigorosamente no Direito, vamos toma-los esquematicamente para a exposição. 
I. Interpretação Gramatical, Lógica e Sistemática 
Os problemas sintáticos referem-se a questões de conexão das palavras nas sentenças: questões léxicas; 
à conexão de uma expressão com outras expressões dentro de um contexto: questões lógicas; 
e à conexão das sentenças num todo orgânico: questões sistemáticas. 
A orientação para enfrentar os problemas sintáticos constitui o objeto dos métodos sistemáticos. 
Quando se enfrenta uma questão léxica, a doutrina costuma falar em interpretação gramatical. Parte-se do 
pressuposto de que a ordem das palavras e o modo como elas estão conectadas são importantes 
para obter-se o correto significado da norma. Assim, dúvidas podem surgir, quando 
a norma conecta substantivos e adjetivos ou usa pronomes relativos. Ao valer-se da língua natural, o 
legislador está sujeito a equivocidades que, por não existirem nessas línguas regras de rigor (como 
na ciência), produzem perplexidades. Se a norma prescreve: "a investigação de um delito que ocorreu num 
país estrangeiro não deve levar-se em consideração pelo juiz brasileiro", o pronome que não deixa claro 
se se reporta a investigação ou a delito. Outro exemplo: "o exame da mercadoria, quando indispensável 
para a confecção do produto, deverá ocorrer à vista do fornecedor"; como o adjetivo indispensável não 
flexiona, pode-se ficar na dúvida sobre se a condição da indispensabilidade refere-se a exame ou a 
mercadoria. 
É óbvio que as exigências gramaticais da língua, por si, não resolvem essas dúvidas. A análise das 
conexões léxicas, por uma interpretação dita gramatical, não se reduz, pois, a meras regras 
da concordância, mas exige regras de decidibilidade. Por exemplo, se a norma em tela é cláusula de um 
contrato, aparecem regras como a que recomenda que se veja antes a intenção dos contraentes 
e não a letra da prescrição, que se observe a própria conduta dos contraentes, ou seja, o modo como 
estavam executando o pactuado, que, na dúvida, interprete-se em favor de quem se obriga e não de quem 
obriga o outro etc. No fundo, pois, a chamada interpretação gramatical tem na análise léxica apenas um 
instrumento para mostrar e demonstrar o problema, não para resolvê-lo. A letra da norma, assim, é apenas 
o ponto de partida da atividade hermenêutica. Comointerpretar juridicamente é produzir uma paráfrase, 
a interpretação gramatical obriga o jurista a tomar consciência da letra da lei e estar atento às 
equivocidades proporcionadas pelo uso das línguas naturais e suas imperfeitas regras de conexão léxica. 
Quando enfrentamos problemas lógicos, a doutrina costuma falar em interpretação lógica. O 
que se disse para a interpretação gramatical pode ser repetido nesse caso. Trata-se de um instrumento 
técnico, inicialmente a serviço da identificação de inconsistências. Parte-se do pressuposto 
de que a conexão de uma expressão normativa com as demais do contexto é importante para a obtenção 
do significado correto. Não obstante as exigências de compatibilidade lógica, ocorrem, no entanto, 
inconsistências quando, às vezes, num mesmo diploma legal, usa-se o mesmo termo em normas distintas 
com consequências diferentes. Fere-se o princípio lógico da identidade. Assim, por exemplo, 
a Constituição Federal de 1988, em seu art. 155, § 32, determina que, à exceção dos impostos tratados no 
inciso II do caput do artigo e no art. 153, I e II, nenhum outro tributo poderia incidir sobre operações 
HERMENÊUTICA E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA LOURENÇO TORRES 
59 
 
de energia elétrica, serviços de telecomunicações, derivados de petróleo, combustíveis e minerais do país. 
Em outros artigos (por exemplo, 146, III, a, 150, I), o termo tributo é usado num sentido amplo, de gênero, 
que abarca várias espécies, inclusive as contribuições sociais. O Supremo Tribunal Federal, contudo, 
entendeu que as contribuições sociais não estavam subsumidas à expressão nenhum outro tributo 
do mencionado art. 155, § 32. 
Ora, o princípio lógico da identidade (A = A) permite ao jurista mostrar a questão, mas não resolvê-la. As 
regras da interpretação lógica, recomendações para criar as condições de decidibilidade, são assim 
fórmulas quase lógicas como "o legislador nunca é redundante", "se duas expressões estão usadas 
em sentidos diversos, é porque uma deve disciplinar a generalidade, outra abre uma exceção", ou "deve-se 
ater aos diferentes contextos em que a expressão ocorre e classificá-los conforme a sua especificidade" 
etc. Se tentássemos um quadro esquemático, poderíamos dizer que as incompatibilidades lógicas são 
evitadas conforme três procedimentos retóricos: a atitude formal, a atitude prática e a atitude diplomática. 
A primeira procura as condições de decidibilidade pelo estabelecimento de recomendações gerais 
prévias à ocorrência de conflitos, como o são o princípio da prevalência do especial sobre o geral, o 
princípio de que a lei não tem expressões supérfluas, o princípio de que, se o legislador não distingue, 
não cabe ao intérprete distinguir etc. A atitude prática corresponde a recomendações que emergem das 
situações conflitivas, por sua consideração material, como o procedimento das classificações 
e reclassificações, definições e redefinições que ora separam os termos na forma de oposições simétricas 
(ou é um conteúdo de direito público ou é de direito privado) ou de conjugação (caso em que os 
conteúdos são aproximados na forma de gêneros e espécies ou espécies de um gênero superior) etc. 
A atitude diplomática, por fim, exige certa inventividade do intérprete, como 
é a proposta de ficções: se a verificação de uma condição foi impedida, contra a boa-fé, por aquele 
a quem prejudica, deve se tê-la por verificada; se, nos mesmos termos, foi provocada por 
aquele a quem aproveita, deve-se tê-la por não verificada. 
Por fim, quando se enfrentam as questões de compatibilidade num todo estrutural, falemos em 
interpretação sistemática (stricto sensu). A pressuposição hermenêutica é a da unidade do sistema jurídico 
do ordenamento. Há aqui um paralelo entre a teoria das fontes e a teoria da interpretação. 
Correspondentemente à organização hierárquica das fontes, emergem recomendações 
sobre a subordinação e a conexão das normas do ordenamento num todo que culmina (e principia) 
pela primeira norma-origem do sistema, a Constituição. Para a identificação dessa relação, são nucleares 
as noções discutidas de validade, vigência, eficácia e vigor ou força (ver item 4.3.2). A primeira e mais 
importante recomendação, nesse caso, é de que, em tese, qualquer preceito isolado deve ser interpretado 
em harmonia com os princípios gerais do sistema, para que se preserve a coerência do todo. Portanto, 
nunca devemos isolar o preceito nem em seu contexto (a lei em tela, o código: penal, civil etc.) e muito 
menos em sua concatenação imediata (nunca leia só um artigo, leia também os parágrafos e os demais 
artigos). De modo geral, por exemplo, a questão de saber se uma lei pode, sem limitações, criar restrições 
à atividade comercial e industrial de empresas estrangeiras, leva o intérprete a buscar, no todo 
(sistemático) do ordenamento, uma noção padrão de empresa nacional e seu fundamento nas normas 
constitucionais. Assim, diante de uma lei que de fato estabelecesse tais restrições, é preciso 
saber se a Constituição, ao estabelecer a igualdade de todos perante a lei e discriminar, ela própria, alguns 
casos em que o princípio se vê excepcionado (por exemplo, a propriedade e administração de empresas 
de TV, rádio e jornalísticas é vedada a estrangeiros), cria algum princípio geral sobre as exceções 
autorizadas. Portanto, se se puder dizer que, quando a constituição 
excepciona a regra geral da igualdade, elege como qualidades da empresa a nacionalidade 
de proprietários e dirigentes, a nacionalidade do capital, a nacionalidade dos trabalhadores, 
a nacionalidade da orientação intelectual e tecnológica, a interpretação sistemática dirá que nenhuma lei 
(por pressuposto, subordinada à constituição) poderá criar uma nova qualidade (por exemplo, 
a nacionalidade da matéria-prima utilizada na produção) para restringir a atividade de empresas 
estrangeiras. 
II. Interpretação Histórica, Sociológica e Evolutiva 
Os problemas que tentamos didaticamente circunscrever como de ordem sintática mostram, aqui e ali, 
questões de ordem semântica. Num sentido restrito, os problemas semânticos referem-se ao significado 
das palavras individuais ou de sentenças prescritivas. Aqui aparecem as questões de ambiguidade 
e vagueza já mencionadas. A hermenêutica pressupõe que tais significados são função da conexão fática 
ou existencial em consideração ao conjunto vital cultural, político e econômico que condiciona o uso 
da expressão. 
A teoria dogmática da interpretação costuma distinguir entre conceitos indeterminados, conceitos 
valorativos e conceitos discricionários. A distinção conhece diferentes atributos diferenciadores. Entre eles, 
um dos mais importantes é a possibilidade de, por via interpretativa, conferir-se ao conceito um contorno 
genérico. 
Diz-se, assim, que o conceito indeterminado sempre admite uma de terminação, isto é, conceitos 
indeterminados são, presumidamente, determináveis, o que acontece por um processo de refinamento 
progressivo de seu sentido. No campo jurídico, conceitos indeterminados admitem uma generalização pela 
constituição de standards. A indeterminação está na extensão imprecisa de seu campo 
de referência objetiva, ou seja, quais os objetos abarcados (denotados) pelo conceito. O conceito 
FACULDADE JOAQUIM NABUCO – FJN HERMENÊUTICA E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA 
60 
 
é indeterminado se não é possível, de antemão, precisar tais objetos. A determinação é o processo pelo 
qual esse campo é delimitado. São conceitos indeterminados, nesse sentido, repouso noturno, 
perigo iminente etc. 
Já os conceitos valorativos são os que manifestam uma imprecisão de sentido não quanto aos objetos 
abarcados (denotação), mas quanto à intenção (conotação), isto é, uma imprecisão quanto aos atributos 
que os definem. Assim, por exemplo, o conceito de honestidade (mulher honesta)e de dignidade 
(ofensa ao decoro parlamentar) envolvem esse tipo de imprecisão. Conceitos valorativos admitem e 
exigem, no campo jurídico, a busca de certa objetividade dos valores neles presentes, o 
que ocorre pela referência ao contexto social em que são utilizados. 
Por fim, conceitos discricionários são os que manifestam uma imprecisão que nunca se fecha 
genericamente, mas que se renova em cada uso concreto. Por isso não admitem estandardização nem 
conotação objetiva, mas que deixam a intérprete de caso para caso, uma opção que renovadamente se 
coloca toda vez que confrontados uma realidade. Em geral são expressos por predicados ditos 
correlacionais, visto que admitem uma escala que vai de um extremo ao outro, como é o caso do conceito 
de grande, que só se define em face de pequeno e vice-versa. São conceitos discricionários, nesses 
termos, o conceito de preponderante em face de secundário, o de grave em face de leve. Como grave só 
se precisa em face de leve (risco grave, leve), o intérprete, no exame do que seja grave e leve, encontra 
sempre uma gradação sujeita a sua opção. No campo jurídico, o modo pela qual se controla o conceito 
discricionário não é a relação gênero/espécie (utilizável para os conceitos indeterminados) mas a relação 
meio/fim: razoabilidade ou proporcionalidade da opção, em cada caso. 
Para enfrentar problemas gerado por tais conceitos, a hermenêutica jurídica vale-se dos chamados 
métodos sociológicos históricos, bem como dos métodos teleológicos e axiológicos, tratados no item III 
deste texto. 
Podemos distinguir entre a interpretação sociológica e a histórica conforme se vele em consideração a 
estrutura momentânea da situação ou sua gênese no tempo. Na prática, porém, é difícil sustentar a 
distinção. A busca do sentido efetivo na circunstância atual ou no momento de criação da norma mostra 
que ambos se interpenetram. Daí, às vezes, a ideia de uma interpretação histórico-evolutiva é preciso ver 
as condições especificas do tempo em que a norma incide, mas não podemos desconhecer as condições 
em que ocorreu a sua gênese. 
Para o levantamento das condições históricas, recomenda-se ao intérprete o recurso aos precedentes 
normativos, isto é, de normas que vigoraram no passado e que antecederam a nova disciplina pra, por 
comparação, entende os motivos condicionantes de sua gênese. Assim, se as normas anteriores permitiam 
uso de moedas estrangeiras como índice para aferir a inflação e corrigir o valor monetário das obrigações e, 
no ensejo da nova lei, elas foram expressamente excluídas, isso pode ser uma orientação importante para 
entender-se, ao surgir, a nova lei eliminou absolutamente a moeda estrangeira como padrão ou se haveria 
casos em que ela teria ainda de subsistir. Essa investigação leva o intérprete também a buscar – quando 
existe –, nós chamamos trabalhos preparatórios (discussões parlamentares, emendas pretéritas etc.), 
elementos auxiliares do sentido histórico da norma. Tudo isso há de lhe oferecer a chamada occasio legis, 
isto é, o conjunto de circunstâncias que marcaram efetivamente a gênese da norma. Muitas vezes pode-se, 
por exemplo, chegar a uma conclusão de que determinada lei atendeu a uma situação de emergência, 
cujas condições típicas se alteraram e que, portanto, tem de ser restringidas para o entendimento das 
normas. 
O interessante exemplo de interpretação histórica, voltada para a occasio legis, pode ser visto em 
discussão referente à questão de saber se há imunidade contra a incidência de contribuições sobre a 
aposentadoria dos trabalhadores em geral, conforme o artigo 195-II da Constituição Federal, poderia ser 
estendida aos servidores públicos inativos e seus pensionistas, questão omissa na emenda constitucional 
que disciplinava sua concessão (Emenda Constitucional nº 20/98). 
O problema hermenêutico estava na interpretação de um silêncio, isto é, na inferência possível a partir de 
uma omissão: se o constituinte derivado nada dizia sobre o tema, se nem proibia nem autorizava a 
incidência de contribuições sobre proventos e pensões dos serviços públicos inativos, sua intenção fora a 
de deixar para o legislador ordinário a disciplina da questão, ou teria ele pretendido submeter caso 
particular do serviço público ao regime geral de todos os trabalhadores, pela qual era vedada a incidência 
de qualquer contribuição? 
Para entender a omissão normativa, o recurso aos debates e aos projetos encaminhados e rejeitados foi 
considerado importante para encontrar a mens legislatoris, em termos de interpretação histórica. 
Com efeito, foi observado que, se é verdade que não só no projeto original da emenda constitucional 
instituiu a referida contribuição havia previsão expressa da possibilidade e incidência de contribuição par os 
proventos de inativos e de seus pensionistas, mas, no curso do processo de discussão, essa hipótese foi 
rejeitada, apresentada de novo e de novo rejeitada, o que permitiria inferir que a intenção do constituinte 
derivado, afinal, fora a de proibir a incidência, também era verdade, no mesmo processo, houve proposta 
de expressa exclusão dos inativos e pensionistas (imunidade expressa); essa proposta também foi 
rejeitada, reapresentada e rejeitada de novo. Desse processo de apresentação e rejeição, ora da proibição 
expressa, ora da autorização expressa resultou, por fim, uma omissão que, do ponto de vista da história do 
HERMENÊUTICA E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA LOURENÇO TORRES 
61 
 
processo constituinte derivado, mas autorizaria a dizer que a emenda finalmente aprovada, em termos de 
mens legislatoris, deixaria a questão definida, sujeita à livre disciplina do legislador ordinário. 
Assim, a proposta de emenda constitucional, encaminhada pelo presidente da república, continha 
dispositivo expresso (regra geral) sobre o custeio do regime próprio, que seria feito mediante contribuições 
dos servidores ativos e inativos, dos pensionistas e do respectivo ente estatal (art. 40, § 1º), com previsão 
igual para militares (art. 42, § 9º). No substitutivo do relator da comissão especial (Dep. Euler Ribeiro), já se 
falava apenas de servidores (e de militares). Este substitutivo acabou rejeitado no Plenário da Câmara dos 
Deputados. Mas, entre ele e a emenda aglutinativa do Deputado Michel Temer, que foi aprovada, houve 
um intenso contraditório de emendas que, de um lado, insistiam em manter a incidência das contribuições 
também sobre os proventos da aposentadoria de inativos e pensionistas e, de outro, emendas que 
procuravam explicitar, com toda clareza, que as contribuições não deveriam incidir sobre aqueles 
proventos. Veja-se, a propósito desta segunda orientação, entre outras, a emenda substitutiva global do 
deputado José Machado (Emenda nº 36-CE/98), que propunha para o discutido § 1º do art. 40 a seguinte 
redação: “Par. 1º as aposentadorias e pensões serão custeadas com recursos provenientes das 
contribuições dos servidores ativos e do respectivo ente estatal, na forma da lei, não incidindo 
contribuições sobre aposentadoria e pensão” (grifei). Igual redação já era proposta em emenda 
modificativa pelo deputado Paulo Rocha (Emenda nº 12-CE/98) e pelo deputado Alexandre Cardoso 
(Emenda nº 45-CE/98). 
Por esta via (interpretação histórica), percebia-se que o dado histórico, isoladamente, não seria conclusivo, 
embora fossa um importante subsídio para situar o intérprete no uso de outras técnicas interpretativas que, 
em conjunto, poderiam levar, afinal, a uma resposta sobre o problema gerado pela omissão normativa. 
Já o levantamento das condições atuais deve levar o intérprete a verificar as funções do comportamento e 
das instituições sociais no contexto existencial em que ocorre. Por exemplo, é preciso verificar, quando 
alguém adquire para consumo, um refrigerante, e o seu vasilhame, pelo qual se paga o “depósito”, foi 
também adquirido ou se houve apenas uma espécie de empréstimo. A questãoé saber qual a função 
econômica daquele “depósito” no contexto do mercado de bebidas. A hermenêutica entende, assim, que as 
atividades humanas têm uma razão prática de existir, donde seu sentido em termos de relação numa 
situação dada. O conceito de função permite-lhe, então, uma análise classificatória dos fenômenos, uma 
orientação eurística, visando à descoberta de novas relações, num relacionamento causal entre eles, o que 
leva a um desvendamento das estruturas sociais e de suas mudanças em termos de processo. O direito 
atua sobre eles como regulação e permite seu controle. 
Por exemplo, se o comando constitucional determina que homens e mulheres não são iguais em direitos e 
obrigações nos termos da Constituição (CF, art. 5º, I), a interpretação deve buscar no contexto real aqueles 
traços que tornam significativa a igualdade, mesmo que a realidade apresente outros traços até mais 
significativos para apreensão do modo como a sociedade vivencia aquela relação. Assim, se, socialmente, 
a igualdade entre homens e mulheres ainda pressupõe a desigualdade dos sexos e, em nome da 
igualdade, ainda se trata desigualmente os desiguais, a interpretação dará menos relevância significativa 
às diferenças de sexo, conferindo importância significativa maior à capacidade de homens e mulheres em 
desempenhar as mesmas funções (sócias, políticas, econômicas, profissionais, familiares, etc.). Com isso, 
ao legitimarem-se certos traços comportamentais, o sentido da igualdade no contexto real se altera, não 
porque as diferenças sexuais sejam ignoradas, mas porque são neutralizadas pela relevância conferida às 
semelhanças. 
Com base nesses levantamentos das condições históricas e sociológicas, a interpretação assume duas 
formas (Ross, 1970:113): (a) pode ser feita de nosso que o significado da palavra ou da sentença 
prescritiva seja mais claramente definido por meio de uma descrição formulada em outros termos – 
controle da ambiguidade por interpretação conotativa; (b) ou de tal modo que, diante de um conjunto de 
fatos experimentados e delimitados por sua função, seja possível decidir comum sim ou não, ou um talvez, 
se o conjunto de fatos constitui ou não ima referência que corresponde à palavra ou à sentença – controle 
de vaguidade por interpretação denotativa. Assim, por exemplo, se a palavra é um símbolo ambíguo, como 
“mulher honesta”, admitindo conceitos diferentes, a interpretação histórica e sociológica cuidará de 
descrever, em conformidade com as condições históricas e atuais, as qualidades do comportamento de 
uma mulher que, no contexto existencial, configurem a honestidade de comportamento. Define-se o 
símbolo por sua intensão. Se a palavra é um símbolo vago, como é o “depósito”, que tanto pode apontar 
para o dinheiro que se entrega ao comerciante na quitação do refrigerante, quanto para a garantia pela 
guarda e conservação do vasilhame, é preciso circunscrever os fenômenos por sua “função” e dizer qual 
deles corresponde ao que a norma qualifica ou não como negócio jurídico de depósito. Define-se o símbolo 
por sua extensão. 
III. Interpretação Teleológica e Axiológica 
Temos, por fim, o que podemos didaticamente circunscrever como problemas pragmáticos strictu sensu. 
Na verdade, sendo um conjunto de paráfrases a serviço do poder de violência simbólica, todo ato 
interpretativo em primariamente uma qualidade pragmática, isto é, de ser entendido numa relação de 
comunicação entre emissores e receptores das mensagens normativas. Não obstante, as relações entre os 
comunicadores colocam, num sentido estrito, problemas peculiares que a hermenêutica enfrenta por meio 
dos métodos teleológico e axiológico. 
FACULDADE JOAQUIM NABUCO – FJN HERMENÊUTICA E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA 
62 
 
As questões pragmáticas (strictu sensu) de interpretação reportam-se mormente à carga emocional dos 
símbolos. Quem protesta por “seus direitos” pode estar-se referindo ao conceito técnico de direito subjetivo, 
mas é irrecusável que a expressão contenha relações associativas importantes que tornam complexa a 
mera relação (sintagmática) entre “seus” e “direitos”. Assim, quando a lei pune a “concorrência desleal” ou 
o “abuso de autoridade”, para além da ambiguidade de tais termos, percebe-se a presença de valorações 
que precisam ser controladas pelo intérprete. É preciso neutralizar os conteúdos, o que não quer dizer 
eliminar a carga valorativa, mas controlá-la. É preciso generalizar de tal modo esses valores que eles 
passem a expressar “universais do sistema”. 
O pressuposto e, ao mesmo tempo, a regra básica dos métodos teleológicos é de que sempre é possível 
atribuir um propósito às normas. De fato, isso nem sempre é claro e muitas vezes nos levaria a 
perplexidades. Existem normas costumeiras para as quais é difícil encontrar propósitos e finalidades. O 
longo uso com o sentimento da obrigatoriedade instaura uma rede de disciplinas sem que possamos 
encontrar nelas alguma intenção. Apesar disso, para obter a neutralização da carga emocional, é preciso 
encontrar essas finalidades ou, ao menos, postulá-las. 
No direito brasileiro, a própria Lei de Introdução ao Código Civil, em seu art. 5º, contém uma exigência 
teleológica: “Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem 
comum”. As expressões fins sociais e bem comum são entendidas como sínteses éticas da vida em 
comunidade. Sua menção pressupõe uma unidade de objetivos do comportamento social do homem. Os 
“fins sociais” são ditos do direito. Postula-se que a ordem jurídica, em sua totalidade, seja sempre um 
conjunto de preceitos para a realização da sociabilidade humana. Faz-se mister assim encontrar nas leis, 
nas constituições, nos decretos em todas as manifestações normativas seu telos (fim), que não pode 
jamais ser antissocial. Já o “bem comum” postula uma exigência que se faz à própria sociabilidade. Isto é, 
não se trata de um fim do direito, mas da própria vida social (cf. Ferraz Jr., 1978, v.10). 
Ambas expressões manifestam um esforço de síntese que traduz um esforço de composição. A doutrina 
costuma distinguir, assim, os princípios como fins imanentes da ordem jurídica e social e reguladores 
teleológicos da atividade interpretativa, das chamadas regras gerais. Ambos se caracterizam por sua 
generalidade interpretativa, mas a generalidade dos princípios é vista como de maior grau: os princípios 
valem para séries indefinidas de casos, enquanto as regras valem para séries definidas. Como regras 
valem, por exemplo, a liberdade contratual no Direito das Obrigações, a oralidade e a imediatidade no 
Direito Processual. Princípios são, por sua vez, a exigência da boa-fé no trato das relações, o respeito às 
soluções equitativas, à pessoa e sua dignidade, à igualdade de todos perante a lei etc. 
Veja, a título de exemplo, uma típica interpretação teleológica e axiológica, isto é, em que se postulam fins 
e se valorizam situações. 
As questões que envolvem os direitos da criança e do adolescente merecem, na Constituição brasileira, 
um tratamento destacado. No capítulo VII do Título VIII (Da Ordem Social), a criança é designada como 
sujeito de direitos, os quais devem ser garantidos com absoluta prioridade pela família, pela sociedade e 
pelo Estado. As três instituições têm, em face dela, um dever, isto é, um ônus, o de assegurar-lhe os 
direitos que enumera, além de coloca-la a salvo, entre outros constrangimentos, de toda negligência. 
Obviamente, o dever da família (a família como sujeito da obrigação de assegurar de modo absolutamente 
prioritário os direitos da criança) é o dever da comunidade em sua totalidade, e seus diferentes sentidos. E 
dentro dela, o sentido e o exercício do pátrio poder sofre as correspondentes mutações. Pela Constituição, 
o pátrio poder, não sendo mais um princípio estrutural da família (potestas atribuído ao pater), é, em 
primeiro lugar, dever e não direito. 
Dessa orientação não discrepa oSuperior Tribunal de Justiça que vem reiterando o princípio segundo o 
qual o pátrio poder, no dizer da Corte, é “hoje melhor conceituado como pátrio dever” (REsp 4128-ES, 
decisão unânime da 4ª T., de 30-10-90). O pátrio poder, nesse sentido, é proclamado coo “um conjunto de 
obrigações, a cargo dos pais, no tocante à pessoa e aos bens dos filhos menores”, esclarecendo-se, em 
consequência, na linha procedente, que “a legislação que dispõe sobre a proteção à criança e ao 
adolescente proclama enfaticamente a especial atenção que se deve dar aos seus direitos e interesses e à 
hermenêutica valorativa e teleológica de sua exegese” (REsp 158920-SP, decisão unânime da 4ª T., de 
23-03-99). 
Em suma, a interpretação teleológica e axiológica ativa a participação do intérprete na configuração do 
sentido. Seu movimento interpretativo, inversamente ao da interpretação sistemática que também postula 
uma cabal e coerente unidade do sistema, parte das consequências avaliadas das normas e retorna para o 
interior do sistema. É como se o intérprete tentasse fazer com que o legislador fosse capaz de mover suas 
próprias previsões, pois as decisões dos conflitos parecem basear-se nas previsões de suas próprias 
consequências. Assim, entende-se que, não importa a norma, ela há de ter, para o hermeneuta, sempre 
um objetivo que serve para controlar até as consequências da previsão legal (a lei sempre visa aos fins 
sociais do direito e às exigências do bem comum, ainda que, de fato, possa parecer que eles não estejam 
sendo atendidos). 
 
HERMENÊUTICA E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA LOURENÇO TORRES 
63 
 
TEXTO 03 
3. INTERPRETAÇÃO - CAP. VI, TEORIA PURA DO DIREITO – HANS KELSEN 
3.1. DO MOTIVO E OBJETIVO DA INTERPRETAÇÃO 
Do exame do escalonamento jurídico surgem consequências muito significativas para o problema da 
interpretação. Este é um processo espiritual, que acompanha o processo de produção jurídica em seu 
desenvolvimento, de um grau superior – determinado pelo superior – para um grau inferior. 
No caso normal, a interpretação da lei deve responder à indagação de como se consegue extrair da norma 
geral da lei, em sua aplicação à uma situação de fato concreta, a norma individual correspondente de uma 
sentença judicial ou de um ato administrativo. 
Mas existe também uma interpretação da Constituição enquanto ela for válida – a Constituição, no processo 
de produção legislativa, na emissão de procedimentos legislativos, pela elaboração de regulamentos de 
urgência e outros atos constitucionais de imediato –, isto é, executar a Constituição num grau inferior. Há ainda 
uma interpretação de normas individuais, sentenças judiciais, ordens administrativas, negócios jurídicos, e 
assim por diante, em suma, de todas as normas enquanto devam ser executadas, isto é, enquanto o processo e 
execução jurídicas passa de um grau para outro. 
 
3.2. INDETERMINAÇÃO RELATIVA DO GRAU INFERIOR EM RELAÇÃO AO GRAU SUPERIOR 
A relação entre um grau mais alto e mais baixo do ordenamento jurídico, como entre Constituição e lei ou 
entre lei e sentença judicial, é uma relação de determinação ou de liame: a norma de grau superior regula – 
como já foi exposto – o ato pelo qual é produzida a norma de grau inferior (ou o ato de execução, quando se 
trata mais dele); ela não determina apenas, com isso, o processo em que se produz a norma inferior, mas 
também, eventualmente, o conteúdo da norma a ser produzida. 
Essa determinação, porém, nunca é completa. A norma de grau superior não pode ligar o ato, pelo qual é 
executada, em todas as direções. Deve haver sempre um espaço, ora maior, ora menor, de livre estimativa, de 
modo que a norma de grau mais alto, em relação ao ato de produção da norma ou da execução, tenha uma 
moldura que preencha esse ato. Até chegar a uma ordem detalhada, é preciso deixar ao executor uma 
sensação de determinação. 
Se o órgão A dispõe que o órgão B detenha o sujeito C, o órgão B deve resolver, pelo próprio critério, 
quando, onde e como executará a ordem de detenção, resoluções que dependem de circunstâncias externas, 
que o órgão ordenador não previu e, na maioria das vezes, nem pôde prever. 
 
3.3. INDETERMINAÇÃO INTENCIONAL DOS GRAUS INFERIORES 
Disso resulta que todo ato jurídico, seja ato de produção do direito, seja ato de pura execução, no qual se 
executa uma norma, essa norma é determinada apenas em uma parte, mas indeterminada em outra. A 
indeterminação tanto pode ser relativa à situação de fato condicionadora como também à consequência 
condicionada, ou seja, tanto ao “como” como também ao “o que” do ato a ser realizado. 
A indeterminação pode ser diretamente intencional, isto é, provir da vontade do órgão que estabelece uma 
norma mais alta. Assim se efetua o estabelecimento de uma norma apenas geral – correspondente a sua 
essência – sob o pressuposto de que a norma individual que se edita no seu processo de determinação 
constitui o sentido da sucessão gradual das normas jurídicas. O mesmo ocorre no caso da delegação. 
Uma lei sanitária determina que, no caso de eclosão de uma epidemia, os habitantes da cidade, sob penas 
da lei, tomem certas precauções para impedir a propagação da doença. A autoridade administrativa terá o 
poder de determinar de diferentes maneiras de que forma serão essas precauções conforme as diferentes 
doenças. 
A lei penal prevê, para o caso de determinado delito, uma pena pecuniária ou privativa de liberdade, ou 
permite ao juiz decidir, no caso concreto, por um ou outra, e determinar sua extensão; pelo que, para essa 
mesma determinação, na própria lei, pode ser estabelecido um limite superior e outro inferior. 
 
3.4. INDETERMINAÇÃO NÃO INTENCIONAL DOS GRAUS INFERIORES 
A indeterminação do ato jurídico pode ser também a consequência não intencional da natureza daquela 
norma, que, pelo ato em questão, deve ser executada. Aqui se acha, na primeira linha, a pluralidade de 
significados de uma palavra ou da frase na qual a norma se expressa: o sentido linguístico da norma não é 
unívoco; quem tiver de executá-la, encontra-se diante de vários sentidos. A mesma situação se apresenta 
quando o executor da norma crê poder aceitar que, entre o significado verbal da norma e a vontade da 
autoridade criadora da norma, existe uma discrepância pela qual se pode verificar essa vontade. Em todo caso, 
deve ser possível pesquisar, de outras fontes que não a expressão verbal da norma, enquanto essa não 
corresponder a vontade dos legisladores tradicionais. 
A denominada vontade do legislador ou a intensão das partes contratantes que não corresponde às 
palavras contidas nessa lei ou no negócio jurídico é uma das possibilidades geralmente reconhecidas pela 
doutrina tradicional do direito. A discrepância entre vontade e expressão pode também ser total ou parcial; esta 
última ocorre quando a vontade do legislador ou a intenção das partes corresponde, ao menos, a uma das 
várias acepções que acompanha a expressão verbal da norma. 
FACULDADE JOAQUIM NABUCO – FJN HERMENÊUTICA E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA 
64 
 
A indeterminação do ato jurídico que está na base de uma norma pode ser, finalmente, a consequência do 
fato de que duas normas que pretendam vale simultaneamente – porque estão contidas na mesma lei – se 
contradizem total ou parcialmente. (A indagação de como a unidade do ordenamento jurídico se mantém diante 
do conflito entre uma norma de grau superior e uma norma de grau inferior, que é o problema da norma 
contrária, já foi tratada anteriormente em assunto relacionado com este). 
 
3.5. A NORMA COMO MOLDURA DENTRO DA QUAL HÁ VÁRIAS POSSIBILIDADES DE EXECUÇÃO 
Em todos estes casos de indeterminação intencional ou não intencional dos graus inferiores oferecem-se 
várias possibilidades de execução. O ato jurídico de execução pode se configurado de tal modo que possa 
corresponder a um ou outro dos significados verbais danorma jurídica, ou que, de algum modo, esteja de 
acordo com a vontade do legislador (Normsetzers) ou com a expressão por ele escolhida, ou que uma ou outra 
das duas normas contraditórias entre si concordem, ou que se resolva como se as duas normas contraditórias 
entre si houvessem revogado mutuamente. 
A norma a ser executada, em todos os casos, forma apenas uma moldura dentro da qual são apresentadas 
várias possibilidades de execução, de modo que todo ato é conforme a norma, desde que esteja dentro dessa 
moldura, preenchendo-a de algum sentido possível. 
Entende-se por “interpretação” a verificação do sentido da norma a ser executada, o resultado desta 
atividade só pode ser a verificação da moldura, que representa a norma a ser interpretada e, portanto, o 
reconhecimento de várias possibilidades que estão dentro desta moldura. 
Nesse caso, a interpretação de uma lei não é necessária a uma decisão como a única certa, mas leva, 
possivelmente, a várias decisões – enquanto só se ajustam a norma a ser aplicada – do mesmo valor, mesmo 
que uma única dentre elas se torne direito positivo uma sentença judicial. 
O fato de que uma sentença judicial seja baseada numa lei nada mais significa, na verdade, senão que se 
encontra no interior da moldura e que a lei não significa que é uma das normas individuais possíveis dentro da 
moldura da norma geral. 
A doutrina jurídica tradicional crê poder esperar da interpretação não apenas a verificação da moldura para 
o ato jurídico estabelecido, mas também a espera da realização de uma tarefa mais ampla e está até disposta a 
ver nela sua tarefa principal. 
A interpretação deve desenvolver um método que possibilite preencher acertadamente a moldura verificada. 
A teoria da interpretação comum fará crer que a lei, aplicada ao caso concreto, só pode fornecer uma decisão 
correta e que a “correção” juspositivista dessa decisão acha-se baseada na própria lei. Apresenta, assim, o 
processo dessa interpretação de maneira tal que parece tratar-se de um ato intelectual que a esclarece e 
compreende, como se o intérprete só pusesse em ação sua compreensão e não sua vontade, e como se 
através de uma compreensão pura se pudesse ter, entre as possibilidades existentes, uma correspondente ao 
direito positivo, no sentido de que se pudesse encontrar uma escolha certa de acordo com o direito positivo. 
 
3.6. OS DENOMINADOS MÉTODOS DE INTERPRETAÇÃO 
Sob a ótica do direito positivo não existe critério pelo qual uma das possibilidades da aplicação da norma 
possa ser preferida a outra. Simplesmente não existe – caracterizável como juspositivo – um método, 
relativamente ao qual, dentre os vários significados linguísticos de uma norma, só se possa salientar um como 
“correto”; naturalmente se se tratar de muitas interpretações possíveis, isto é, em concordância com todas as 
outras normas da lei ou do ordenamento jurídico. 
Apesar de todos os esforços da doutrina jurídica tradicional, até hoje não se conseguiu resolver o conflito 
entre vontade e expressão de maneira objetivamente válida a favor de uma ou de outra. Todos os métodos de 
interpretação desenvolvidos até agora só conduzem a um possível, jamais a um único resultado justo. 
Ater-se à negligência do texto e à vontade presumível do legislador ou observar estritamente o texto e 
assim não se importar com a – quase problemática – vontade do legislador é, do ponto de vista do direito 
positivo, inteiramente equivalente. 
Se acontecer o caso de duas normas simultaneamente validas se contradizerem, então as três 
possibilidades lógicas de execução juspositivista antes mencionadas estarão em uma mesma linha. É um 
esforço inútil querer fundamentar “juridicamente” uma excluindo a outra. 
Que o meio de interpretar o argumentum a contrario e a analogia sejam totalmente sem valor, demonstra-o, 
suficientemente, o fato de que ambos conduzem a resultados contrapostos, e não existe nenhum critério 
quando se trata de aplicar um ou outro. Também o princípio dos denominados interesses equilibrados não 
passa de uma formulação e não uma solução do problema aqui exposto. Não fornece a medida objetiva em 
relação a qual interesses contrários possam ser comparados entre si e, por conseguinte, poderem ser 
resolvidos os conflitos de interesse. 
Essa medida objetiva não leva a comparação de interesses opostos e, assim, a poder resolver conflitos de 
interesses. Essa medida não pode ser extraída da norma a ser interpretada ou da lei que a contém, ou ser 
procurada em todo o ordenamento jurídico, como ensina a denominada teoria do equilíbrio de interesses. Pois a 
necessidade de uma “interpretação” acontece exatamente porque a norma a ser aplicada ou o sistema de 
normas deixa abertas inúmeras possibilidades, o que quer dizer que não contém nenhuma resolução sobre qual 
HERMENÊUTICA E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA LOURENÇO TORRES 
65 
 
dos interesses em jogo é o mais alto; essa decisão, essa determinação de hierarquia dos interessados é muito 
mais num ato de produção normativa – permite, por exemplo, uma sentença judicial justa. 
 
3.7. A INTERPRETAÇÃO COMO ATO DE CONHECIMENTO OU DE VONTADE 
A representação em que se baseia a teoria tradicional da interpretação, de que, de alguma forma de 
conhecimento do direito já existente possa ser conseguida a determinação do ato jurídico a ser realizado, e que 
a norma superior aplicável não a tenha efetuado, é uma representação da possibilidade de uma interpretação 
abandonada de auto-ilusão. 
A indagação sobre qual das várias possibilidades na moldura de uma norma é a “justa” é – conforme a 
exposição – não uma indagação dirigida ao conhecimento do direito positivo, não um problema jurídico-teórico, 
mas sim político-jurídico. A tarefa: obter da lei a sentença judicial justa ou o ato administrativo justo, é 
essencialmente o mesmo que criar, na moldura da Constituição, as leis justas. Assim como da Constituição não 
se pode obter leis justas, através da interpretação, da lei, também, não se pode obter sentenças judiciais justas 
através da interpretação. 
Certamente existe uma diferença entre esses dois casos, mas é apenas quantitativa e não qualitativa e 
consiste em que a ligação dos legisladores com o aspecto material é muito menor que a do juiz, já que aquele é 
relativamente bem mais livre que este na criação do direito. 
Mas este também é um criador do direito e é também relativamente livre dessa função. 
É exatamente por isso que a elaboração da norma individual no processo de execução da lei, enquanto 
moldura da norma geral for preenchida, é uma função da vontade. Os comentários “científicos” em que deve 
apoiar-se a atividade de execução da lei têm caráter absolutamente jurídico-político, são propostos para igualar 
a feitura das leis e são experiências para influenciar a função da criação jurídica dos tribunais e autoridades 
administrativas. 
Uma vez que, pela aplicação da lei na necessária verificação da moldura, dentro da qual o ato estabelecido 
deve estar contido, não há uma atividade cognitiva, um conhecimento do direito positivo, mas sim de outras 
normas que podem desembocar aqui, no processo da produção jurídica; normas de moral, de justiça de juízos 
sociais de valor, que costumas ser designadas com os chavões “bem do povo”, “interesse do Estado”, 
“progresso”, e assim por diante. Sobre a validade e a possibilidade de verificação delas, do ponto de vista do 
direito positivo, nada se pode fazer. Vistas sob esta ótica, tais determinações só podem ser caracterizadas 
negativamente: são determinações que não se originam do próprio direito positivo. Em relação a este, a 
instituição do ato jurídico é livre, isto é, na apreciação livre da instância autorizada para a realização do ato; 
seria o caso, então, que o próprio direito positivo, de algum modo, delegasse a norma metajurídica, como a 
moral, a justiça e assim por diante, e que, por causa disso, essas normas fossem transformadasem normas do 
direito positivo. 
 
3.8. A ILUSÃO DA SEGURANÇA JURÍDICA 
Do ponto de vista segundo o qual a interpretação seria o conhecimento do direito positivo e, como tal, um 
processo para extrair novas normas das já vigentes é o fundamento da denominada jurisprudência conceitual, 
também descartada pela Teoria ura do Direito. Esta destrói a opinião de que se possam criar novas normas por 
via do conhecimento, opinião essa que, em última análise, surge da necessidade de representar o direito como 
um ordenamento forte, que determina a conduta humana e, em particular, a atividade dos órgãos aplicadores 
do direito, principalmente, dos tribunais; de modo que a função destes, assim como a interpretação, deve ser 
assim encarada como o processo especial de normas já existentes, que deverão ser descobertas por um 
determinado procedimento. É a ilusão da segurança jurídica que a teoria tradicional do direito – consciente ou 
inconscientemente – se esforça por manter. 
 
3.9. O PROBLEMA DAS LACUNAS 
Papel especial é reservado à interpretação para o preenchimento de lacunas jurídicas. Embora não se 
distinguissem verdadeiras lacunas no sentido de que um litígio jurídico seja suscetível de decisão, de acordo 
com normas vigentes, já que a lei – como se diz – não pode ser aplicada neste caso e, por não haver um 
preceito, não existe. 
Todo litígio jurídico consiste em que uma parte apresente uma reivindicação contra a outra; e a decisão a 
favor ou contra depende de que a lei, ou seja, uma norma válida, aplicável ao caso concreto, estabeleça ou não 
uma obrigação jurídica imposta. Que não exista uma terceira possibilidade é uma decisão sempre possível, e 
sempre com fundamento, isto é, aplicando-se a lei. Também na decisão que é contra a pretensão aplica-se o 
ordenamento jurídico vigente. Pois ao obrigar a pessoa, através do ordenamento jurídico, a ter determinada 
conduta, garante a liberdade, além dessas obrigações jurídicas. 
Diante daquele que pretende de outro uma conduta não estabelecida pelo ordenamento jurídico vigente, 
este último terá um “direito” concedido pelo ordenamento jurídico, pela omissão dessa conduta, “direito” no 
sentido de liberdade juridicamente garantida. 
O ordenamento jurídico não contém apenas a proposição de que se está obrigado a determinada conduta 
(enquanto a negação dessa conduta for estabelecida como condição da específica consequência antijurídica), 
mas também a proposição: (a pessoa) está livre de fazer ou não fazer aquilo a que não está obrigada. Esta 
FACULDADE JOAQUIM NABUCO – FJN HERMENÊUTICA E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA 
66 
 
norma negativa é a que se aplica numa decisão, na qual se nega uma pretensão, dirigida a uma conduta não 
convertida em dever. 
Se mesmo assim ainda se fala, em certos casos, de uma “lacuna”, isso não significa, como o sentido faz 
parecer, que uma decisão torna uma norma logicamente possível, mas apenas que – logicamente possível – 
uma decisão favorável ou desfavorável seja aceita como inconveniente ou tão injusta pela instância competente 
para a decisão que se incline a admitir que o legislador nem tenha pensado, nesse caso, e se nele tivesse 
pensado tomaria decisão diversa, como o deveria ter feito com base na lei. Esta aceitação pode ou não ser 
exata = sua exatidão não será, na maior parte das vezes, comprovada; em vista da obrigação 
constitucionalmente estabelecida de aplicar a norma que o legislador efetivamente promulgou e não a que 
presumivelmente teria promulgado, essa suposição é sem interesse. 
Também – na visão do aplicador do direito – aplicar a lei má sem levar em conta que aquilo que para uns é 
mau parece bom para outros. A denominada “lacuna” não é, senão, a diferença entre o direito positivo e um 
ordenamento considerado melhor, mais justo e mais correto. 
Só porque se compara o ordenamento positivo com um deste tipo e assim se percebe sua deficiência, 
pode-se afirmar (que há) algo semelhante a uma lacuna. Que não se possa preencher tal lacuna pela 
interpretação percebe-se por si mesma tão longe se reconheça a essência da lacuna. 
A interpretação não tem aqui a função de aplicar a norma a ser interpretada, mas, ao contrário, de eliminá-
la para substituí-la por uma melhor, mais correta, mais justa, em poucas palavras, uma norma desejada por 
quem aplica o direito. Sob a aparência de complementar o ordenamento jurídico, a norma original será 
revogada e substituída por uma nova. Uma ficção da qual se faz uso especialmente quando a modificação legal 
das normas gerais, por quaisquer motivos, for difícil ou impossível; pode existir por se tratar de direito 
consuetudinário, que não pode ser modificado de maneira alguma, por um processo racional ou porque as leis 
vigentes podem ser vistas como de origem santa ou divina, ou porque o aparelho legislativo não possa ser de 
modo algum movimentado ou por outros motivos. 
 
3.10. AS DENOMINADAS LACUNAS TÉCNICAS 
Ao lado das lacunas propriamente ditas distinguem-se, também, às vezes, lacunas técnicas às quais se 
nega, do ponto de vista positivista, a existência de autênticas lacunas, e cujo preenchimento é considerado 
possível por meio da interpretação. Elas ocorrem quando o legislador deixa de normatizar o que deveria ter 
normatizado, quando deve ser, e geral, tecnicamente possível aplicar a lei. Só que aquilo que se designa como 
lacuna técnica ou é uma lacuna no sentido original da palavra, isto é, uma diferença entre o direito positivo e o 
direito desejado, ou aquela indeterminação que resulta por esse caráter de moldura da norma. 
A primeira acontece quando, por exemplo, a lei regula a obrigatoriedade da venda, mas – como se costuma 
dizer – nada determina sobre quem arca com o risco quando a coisa vendida perecer, sem culpa das partes, 
antes da transferência. Porém, não acontece que o legislador “nada” determina sobre isso, mas que o vendedor 
se liberte da obrigação de entregar a mercadoria ou uma indenização; uma determinação que, muitas vezes, 
considera desejável quem aqui afirmar haver uma “lacuna”, mas uma determinação que não precisa ser 
subentendida para tornar a lei aplicável. A lei sobre a obrigação do vendedor de entregar a mercadoria não abre 
nenhuma exceção, nem no caso mencionado de o vendedor assumir o risco. 
A segunda espécie de lacuna acontece quando, por exemplo, a lei determina que um órgão deve ser criado 
por eleição, mas não regula o tipo de processo eleitoral. Isso significa que todo tipo de eleição, seja a 
proporcional ou da maioria, pública ou secreta, é legal. Para a realização da eleição, o órgão autorizado para 
ela pode determinar, arbitrariamente, o processo eleitoral. A determinação do processo eleitoral é autorizada 
para uma norma de grau inferior. 
Outro exemplo: uma lei determina que um colegiado, para ser atuante, deve ser convocado por seu 
presidente, mas, ao mesmo tempo, que eleja seu próprio presidente, mas nada determina sobre a reunião do 
colegiado para o caso de não haver nenhum presidente. 
Não se pode atribuir a esta norma o sentido que, caso não exista nenhum presidente, qualquer modo de 
reunião será legal, mas apenas o sentido de que, também nesse caso, o colegiado deve ser convocado por seu 
presidente, senão não poderá, de modo algum, funcionar legalmente. Mas aqui também não existe uma 
“lacuna”. Pois a lei exige que o colegiado, mesmo que não possua presidente, deve ser por ele convocada. Se 
nada houvesse prescrito para esse caso, qualquer reunião seria legal. A lei prescreve aqui algo sem sentido, 
isto é, como as leis são obra humana, isto não está excluído. Uma norma pode ter também um conteúdo sem 
sentido. Nesse caso, nenhuma interpretação poderá dar sentido a uma norma. E este sentido não pode ser 
suprimido pelo da interpretação, desde que já não estivesse contido nela. 
 
3.11. TEORIA DAS LACUNAS DO LEGISLADOR 
Embora as lacunas jurídicas não tenham existência, teoricamente, o legislador pode, determinado por uma 
falsa teoria,pressupor a existência de “lacunas’. Só que estas “lacunas” talvez sejam diferentes daquilo que o 
legislador entende como tais. Este pode encontrar – e as encontra, no caso, não raras vezes – quando não 
pode extrair nenhuma decisão da lei, como no art. 6º do Código Civil Austríaco e no art. 1º do Código Civil 
Suíço. 
HERMENÊUTICA E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA LOURENÇO TORRES 
67 
 
Se a lei permite ao juiz, como diz o art. 1º, acima mencionado, no caso de uma “lacuna”, tomar uma decisão 
como o faria se fosse legislador, isso significa uma autorização, ao juiz, se considerar a aplicação da lei 
intolerável, de julgar por seu próprio arbítrio em lugar da lei. O bom legislador não tem condições de fazer 
correções à lei, mesmo em circunstâncias necessárias. Pois deve contar, de antemão, com circunstâncias de 
fato, que não previu e nem poderia ter previsto; as normas gerais não podem tratar senão de casos comuns. 
Exatamente por isso ele não pode transcrever os casos em que tem de se colocar no lugar do aplicador do 
direito; se pudesse fazê-lo, não precisaria fazer-se substituto dele. Nada mais lhe resta senão deixar a decisão 
para o aplicador do direito, sob o risco inevitável de que este também decida, como legislador, os casos em que 
o legislador original quisesse aplicar a lei; com isso, naturalmente, o fundamento da legalidade e, portanto, a 
validade das normas gerais, aplicadas por tribunais e autoridades administrativas, é colocada em questão, 
assim como o peso da produção do direito, desde o legislador geral até o aplicador individual do direito. 
Para diminuir esse perigo, a autorização para eliminar a lei é formulada de modo que o aplicador do direito 
não se valha do extraordinário poder que lhe é realmente transferido. O executor do direito deve pensar que só 
não deve aplicar a lei nos casos em eu não possa ser aplicada, por não se conter em si mesmo nenhuma 
possibilidade de aplicação. Ele deve saber que só é livre quando ele próprio puder fazer as vezes do legislador, 
não porém sob outro aspecto: quando tiver de se colocar no lugar do legislador. Que ele, na verdade, esteja 
livre, também, neste aspecto, é-lhe ocultado pela ficção da “lacuna”. 
Do geral ao particular, falta a premissa lógica que todo ato de aplicação do direito representa. A 
denominada “lacuna” da lei é uma típica fórmula ideológica. 
A aplicação da lei, que neste caso é apenas – pela estimativa do executor do direito – uma inconveniência 
jurídico-política, é apresentada como uma impossibilidade lógico-jurídica. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FACULDADE JOAQUIM NABUCO – FJN HERMENÊUTICA E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA 
68 
 
TEXTO 04 
4. PERDEMOS A NOÇÃO DE RESERVA LEGAL DIANTE DA APLICAÇÃO DA ANALOGIA ‘IN MALEM 
PARTEM’ PELO STJ (RE 1420.960) 
Por Rômulo de Andrade Moreira e Alexandre Morais da Rosa – 24/08/2015 
Ensinamos que não cabe analogia in malam partem no processo penal. Mas a 6ª. Turma do Superior Tribunal 
de Justiça, ao julgar o Recurso Especial nº. 1.420.960, decidiu que as lacunas da lei podem ser preenchidas 
pela interpretação extensiva ou aplicação analógica de outras normas especiais. 
Para tanto, aplicou-se o disposto no art. 3º do Código de Processo Penal, rejeitando o recurso de 
um empresário que queria a devolução de um avião monomotor apreendido por ordem judicial durante as 
investigações feitas pela Polícia Federal em 2008. A aeronave está sendo utilizada pelo Instituto Estadual de 
Florestas de Minas Gerais. 
A defesa sustentou nas razões recursais que a utilização do avião apreendido por órgão do poder público é 
ilegal, uma vez que não se admite a aplicação analógica da permissão concedida pela Lei de Drogas (Lei nº. 
11.343/2006). 
O relator, Ministro Sebastião Reis Júnior, afastou a ilegalidade do uso da aeronave por um órgão público, 
aplicando o art. 61 da Lei de Drogas, que prevê o uso de bens apreendidos quando houver interesse público, 
apontando que o próprio Código de Processo Penal autoriza essa analogia, e citando um precedente do próprio 
Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do Inquérito nº. 603. 
Ainda segundo o Ministro, para o uso da analogia não importa a natureza da situação concreta nem a natureza 
da lei de onde se extrai a norma, ressaltando a preocupação em se evitar que o bem se deteriore no decorrer 
do processo judicial. 
Para ele, “observada, de um lado, a inexistência de norma condizente no Código de Processo Penal para a 
utilização de bens apreendidos por órgãos públicos e verificada, de outro lado, a existência de norma nesse 
sentido no ordenamento jurídico, é possível o preenchimento da lacuna por meio da analogia, sobretudo se 
presente o interesse público em evitar a deterioração do bem”. (Com informações da Assessoria de Imprensa 
do STJ). 
O equívoco do julgado é evidente e lamentável! 
É cediço que a lei processual penal admite, na sua interpretação, a aplicação analógica, conforme se extrai dos 
termos do art. 3º. do Código de Processo Penal. Por outro lado, também é certo que a referida Lei de Drogas, 
no seu art. 61, estabelece que: 
“Não havendo prejuízo para a produção da prova dos fatos e comprovado o interesse público ou social, 
ressalvado o disposto no art. 62 desta Lei, mediante autorização do juízo competente, ouvido o Ministério 
Público e cientificada a Senad, os bens apreendidos poderão ser utilizados pelos órgãos ou pelas entidades 
que atuam na prevenção do uso indevido, na atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas 
e na repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas, exclusivamente no interesse dessas 
atividades. 
“Parágrafo único. Recaindo a autorização sobre veículos, embarcações ou aeronaves, o juiz ordenará à 
autoridade de trânsito ou ao equivalente órgão de registro e controle a expedição de certificado provisório de 
registro e licenciamento, em favor da instituição à qual tenha deferido o uso, ficando esta livre do pagamento de 
multas, encargos e tributos anteriores, até o trânsito em julgado da decisão que decretar o seu perdimento em 
favor da União”. 
O art. 62, por sua vez, permite que “os veículos, embarcações, aeronaves e quaisquer outros meios de 
transporte, os maquinários, utensílios, instrumentos e objetos de qualquer natureza, utilizados para a prática 
dos crimes definidos nesta Lei, após a sua regular apreensão, ficarão sob custódia da autoridade de polícia 
judiciária, excetuadas as armas, que serão recolhidas na forma de legislação específica“. 
O seu § 1o. dispõe que, “comprovado o interesse público na utilização de qualquer dos bens mencionados neste 
artigo, a autoridade de polícia judiciária poderá deles fazer uso, sob sua responsabilidade e com o objetivo de 
sua conservação, mediante autorização judicial, ouvido o Ministério Público“. 
Após o oferecimento da denúncia, “o Ministério Público, mediante petição autônoma, requererá ao juízo 
competente que, em caráter cautelar, proceda à alienação dos bens apreendidos, excetuados aqueles que a 
União, por intermédio da Senad, indicar para serem colocados sob uso e custódia da autoridade de polícia 
judiciária, de órgãos de inteligência ou militares, envolvidos nas ações de prevenção ao uso indevido de drogas 
e operações de repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas, exclusivamente no interesse 
dessas atividades. 
Quando a autorização judicial recair “sobre veículos, embarcações ou aeronaves, o juiz ordenará à autoridade 
de trânsito ou ao equivalente órgão de registro e controle a expedição de certificado provisório de registro e 
licenciamento, em favor da autoridade de polícia judiciária ou órgão aos quais tenha deferido o uso, ficando 
estes livres do pagamento de multas, encargos e tributos anteriores, até o trânsito em julgado da decisão que 
decretar o seu perdimento em favorda União”. 
Pois bem. 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11343.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11343.htm
https://ww2.stj.jus.br/websecstj/cgi/revista/REJ.cgi/MON?seq=4404463&tipo=0&nreg=200801670193&SeqCgrmaSessao=&CodOrgaoJgdr=&dt=20081114&formato=PDF&salvar=false
HERMENÊUTICA E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA LOURENÇO TORRES 
69 
 
É sabido que o recurso à analogia é sempre legítimo quando “estendemos a um caso não previsto aquilo que o 
legislador previu para outro semelhante, em igualdade de razões. Se o sistema do Direito é um tudo que 
obedece a certas finalidades fundamentais, é de se pressupor que, havendo identidade de razão jurídica, haja 
identidade de disposição nos casos análogos”, na lição de Miguel Reale.[1] 
É de Tércio Sampaio Ferraz Jr. este outro ensinamento: “Via de regra, fala-se em analogia quando uma norma, 
estabelecida com e para uma determinada facti species, é aplicável a uma conduta para a qual não há norma, 
havendo entre ambos os supostos fáticos uma semelhança.”[2] 
Ocorre que aquelas providências cautelares, que poderão se tornar definitivas após a sentença 
condenatória, apenas podem ser aplicadas em relação aos crimes tipificados na Lei de Drogas, e tão 
somente, vedando-se, por óbvio, o uso da analogia in malam partem. 
Feriu-se, ademais, o Princípio da Reserva Legal, principalmente quando estamos diante de um 
dispositivo legal que restringe direitos. 
Eis, portanto, o erro grosseiro constante da decisão do Superior Tribunal de Justiça, pois se aplica a 
analogia sempre que há uma omissão do legislador em relação a determinada norma jurídica, mas 
jamais in malam partem, isto é, em flagrante prejuízo para a parte acusada. 
Trata-se de método interpretativo de aplicação inaceitável em Processo Penal, quando in partem 
peiorem (“contra o réu”, em relação ao qual, aliás, presume-se a inocência). 
Em Direito Processual Penal só se aplica a analogia para beneficiar o réu, nunca o contrário! Daqui a 
pouco, diante a porteira da analogia processual aberta, bem assim da criatividade dos magistrados 
brasileiros, teremos a delação premiada nos juizados especiais criminais e os meios de investigação da 
Lei das Organizações Criminosas no crimes patrimoniais. Perdemos a noção de reserva legal e de 
especialidade da lei penal. De vez? 
 
Notas e Referências: 
[1] Lições Preliminares de Direito, São Paulo: Saraiva, 19ª. ed., 1991, p. 292. 
[2] Introdução ao Estudo do Direito, São Paulo: Atlas, 2ª. ed., 1994, p. 300. 
5. 
Rômulo de Andrade Moreira é Procurador de Justiça do Ministério Público do Estado da 
Bahia. Professor de Direito Processual Penal da UNIFACS, na graduação e na pós-
graduação (Especialização em Direito Processual Penal e Penal e Direito Público). Pós-
graduado, lato sensu, pela Universidade de Salamanca/Espanha (Direito Processual Penal). 
Especialista em Processo pela UNIFACS. 
 
 
Alexandre Morais da Rosa é Professor de Direito e Processo Penal da UFSC e do Curso de 
Direito da UNIVALI-SC (mestrado e doutorado). Doutor em Direito (UFPR). Membro do 
Núcleo de Direito e Psicanálise da UFPR. Juiz de Direito (TJSC). 
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EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO DO TEXTO 
TRABALHO EM GRUPO (6 INTEGRANTES) 
 
1. Com o objetivo de exercitar o senso crítico dos estudantes com relação à pratica da 
Hermenêutica e Interpretação jurídica em decisões atuais, esta atividade compreende a 
leitura do texto anexo e a apresentação de um breve parecer fundamentado 
teoricamente a respeito dos meios integradores da interpretação jurídica. O parecer 
deve conter o(s) meio(s) interpretativo(s), suas definições e a opinião do grupo quanto 
à sua aplicação pelo órgão oficial. 
 
 
 
 
 
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EXERCÍCIO 1 
 
Interpretar é um ato de conhecimento que pode (deve) ser utilizado em todos os aspectos do viver 
humano. Tal tipo de cognição não se relaciona apenas com o saber científico, muito menos com o 
saber jurídico. Portanto, leia e interprete os textos a seguir e responda as questões (1 e 2) 
correspondentes. 
1. Só serei feliz 
Se tiver grana, roupas legais e puder gastar com o que bem entender. A gente não vai aqui repetir 
o velho ditado dizendo que “dinheiro não traz felicidade”, como se isso fosse um consolo para 
quem está sem grana. Mas, também não dá pra bancar a cínica e rebater afirmando que “trazer”, 
não traz, mas compra. 
Brincadeiras à parte, a verdade é que a felicidade é um estado que não se compra, mas pode ser 
encontrada nas coisas mais simples da vida. Você pode experimentar, por exemplo: 
*Tomar um picolé. 
*Levar seus filhos para passear e ver quanta coisa bonita existe na natureza para ser apreciada. 
*Dividir uma pizza com os amigos. 
*Andar de mãos dadas com o(a) namorado(a). 
*Surpreender seu pai que chegou cansado do trabalho com um beijo carinhoso. 
*Sair para passear com o seu cachorrinho. 
Enfim, dá pra resumir em poucas palavras: encontrar a felicidade é bem mais fácil do que você 
imagina, não é mesmo? (Revista Atrevida, n. 161. Jan. 2008, p. 32). 
Este texto pretende mostrar que: 
a) a felicidade pode ser encontrada em coisas simples. 
b) a gente só consegue ser feliz com muito dinheiro. 
c) o dinheiro não traz felicidade, mas pode comprá-la. 
d) só é feliz quem tem grana para gastar com roupas legais. 
2. As Amazônias 
Este tapete de florestas com rios azuis que os astronautas viram é a Amazônia. Ela cobre mais da 
metade do território brasileiro. Quem viaja pela região não cansa de admirar as belezas da maior 
floresta tropical do mundo. No início era assim: água e céu. É mata que não tem mais fim. Mata 
contínua, com árvores muito altas, cortada pelo Amazonas, o maior rio do planeta. São mais de 
mil rios desaguando no Amazonas. É água que não acaba mais. (SALDANHA, P. As Amazônias, 
Rio de Janeiro: Ediouro, 1995). 
No texto, o uso da expressão “água que não acaba mais” revela: 
a) ambição pela riqueza da região. 
b) admiração pelo tamanhodo rio. 
c) medo da violência das águas. 
d) surpresa pela localização do rio. 
A frase que contém uma opinião é: 
a) “cobre mais da metade do território brasileiro”. 
b) “não cansa de admirar as belezas da maior floresta”. 
c) “maior floresta tropical do mundo”. 
d) “mata contínua [...] cortada pelo Amazonas”. 
3. Descreva as dificuldades cognitivas da linguagem e conceitue a linguagem jurídica. 
4. Qual a diferença entre Hermenêutica e Interpretação? 
5. Descreva a teoria a respeito do “abismo gnosiológico” de ADEODATO. 
 
 
 
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EXERCÍCIO 2 
 
1. Faça um resumo manuscrito, de pelo menos 2 (duas) páginas, do texto: 
Interpretação de Hans Kelsen (cap. VI da Teoria Pura do Direito). Destaque: o motivo e 
objeto da interpretação e a interpretação como ato de conhecimento ou de vontade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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EXERCÍCIO 3 
 
A interpretação constitucional brasileira teve (e tem ainda) um diálogo com a obra do Prof. 
Friedrich Müller, ex-professor da Faculdade de Direito da Universidade de Heildelberg na 
Alemanha. Sua obra foi denominada de metódica estruturante do direito pelo Prof. Adeodato 
em vista dos títulos de duas de suas primeiras obras denominadas de Teoria jurídica 
estruturante (Teoria Estruturante do Direito) e a Metódica jurídica. Nessas obras Müller 
apresenta seu normativismo concretista envolvido com a interpretação jurídica e, 
especialmente com a constitucional. A ideia desse tipo de teoria é a de confirmar a tese de 
que: o texto normativo genérico previamente dado não constitui a norma jurídica, mas 
apenas fornece o ponto de partida para sua construção diante do caso concreto. Embora, 
sem tanta repercussão na Alemanha, a obra do Prof. Müller é essencial para compreender 
como se processa a aplicação estatal do direito na atualidade, sobretudo relevando o papel 
da constituição no ambiente do Estado democrático de direito. 
Logo, este exercício consiste na leitura do capítulo denominado “A concretização 
normativa – um estudo crítico” no texto de ADEODATO, João Maurício. A concretização 
normativa – um estudo crítico. Ética e Retórica. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2009, pois nele 
há um diálogo teórico entre Adeodato e Müller, capítulo oferecido ao Prof. José de Moura 
Rocha; e, a partir dele pede-se para: 
I. Fazer um resumo do item 1: “O problema da hermenêutica constitucional”, destacando 
o instituto do mandado de injunção, as ocorrências das normas programáticas, as 
concepções de decisão subsuntivas e casuísticas, e, a alternativa sugerida pelo Prof. 
Müller. 
II. A partir dos casos enumerados no item 2 – “Casos paradigmáticos na hermenêutica 
constitucional brasileira”, responda as questões a seguir: 
1) Qual a argumentação que definiu o termo: “definitiva”, no texto do inciso X do 
art. 52 da Constituição Federal/88? Explique. 
2) A locação de uma coisa pode ser um serviço? Portanto, é cabível a incidência 
de ISS sobre a locação de guindastes? Por que? 
3) Cite, pelo menos, três métodos de interpretação referidos por Adeodato em sua 
análise neste texto. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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EXERCÍCIO 4 
1. Defina dialética e explique a diferença entre a diferença platônica e a dialética 
aristotélica. 
 
 
 
 
 
 
 
2. O que é a retórica? Exponha as modalidades mais frequentes das retóricas 
estudadas pelas ciências humanas para a construção e desenvolvimento da 
linguagem. 
 
 
 
 
 
 
 
3. Quem eram os Sofistas? 
 
 
 
 
 
 
 
4. Enumere as características dos tipos de discursos aristotélicos (político, jurídico e 
epidítico). 
 
 
 
 
 
 
 
 
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EXERCÍCIO 5 
1. Analise o caso a seguir: 
“Há um aspecto simbólico (aliás, muitos) na condenação de uma agente de trânsito pela 
ousadia de parar um juiz numa blitz no Rio de Janeiro. O magistrado, como se sabe, 
infringia a lei ao dirigir uma Land Rover sem placa e sem documentação. A funcionária 
que o autuou foi condenada por lembrar o óbvio ao doutor: juiz não é Deus. Em outras 
palavras, a lei vale para todos”. “A primeira lição do episódio é que, por essas bandas, o 
óbvio nunca é assim tão óbvio. Tanto não é óbvio que ofende, gera processo, pune. Ao 
menos Josef K., personagem de Franz Kafka em O Processo, desconhecia os motivos de 
sua perseguição. No caso da profissional, as razões vinham em cores gritantes: no Brasil 
há cidadãos de primeira e de segunda categoria, e só estes últimos estão, ou deveriam 
estar, sujeitos à lei. A sentença, se não conferia ao magistrado uma entidade divina, ao 
menos o garantia na primeira classe. [...]”. “A mesma lógica (“não sou qualquer um”) 
levou, recentemente, uma professora universitária a fazer galhofa, em público, sobre um 
passageiro mal vestido no aeroporto. E levou uma jovem jornalista a se queixar, também 
em público, da segurança da balada por obrigá-la a pegar fila mesmo após ser avisada de 
que era jornalista, e não uma simples mortal. A carteirada, portanto, é quase um 
patrimônio. É mais grave, obviamente, quando oferecida por um servidor público, mas a 
origem da serventia é uma base tentacular de um país onde privilégios são vistos como 
direitos, e direitos são vistos como favores, como definiu brilhantemente o jornalista Luiz 
Fernando Viana em uma coluna recente na Folha de S. Paulo”. “As sucatas dessa 
transição podem ser encontradas na separação entre o elevador de serviço e o elevador 
“social”. Ou no uso de ascensoristas para levar o patrão direto ao andar desejado sem ser 
incomodado. Ou nos slogans de propagandas para atrair os clientes prime. No Brasil o 
status é calculado pelo tamanho da fila: uns simplesmente adquirem, por dinheiro ou 
mérito próprio, o direito de dispensá-la. Ainda que esta fila seja a própria lei”. 
(PICHONELLI, Matheus. O juiz a carteirada e o camarote. Blog do Matheus Pichonelli. 
Disponível em: https://br.noticias.yahoo.com/ blogs/matheus-pichonelli. Acesso em 12 nov. 
2014.) 
Identifique e conceitue os argumentos (silogismos, entimemas, argumentos, 
falácias, topoi, etc), caso existam, apresentados no texto. 
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