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PRINCÍPIOS DO DIREITO PREVIDENCIÁRIO As normas jurídicas são subdividas em princípios e regras (Daniel Machado da Rocha). Sendo a diferença entre estas duas espécies traduzida na ideia de que os princípios são mandados de otimização, enquanto as regras são imposições definitivas, que se baseiam nos princípios norteadores do sistema. PRINCÍPIOS GERAIS DE DIREITO PREVIDENCIÁRIO A) PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE OU PRINCÍPIO DO SOLIDARISMO - vislumbra a manutenção de um sistema universal de proteção social, onde os ativos contribuem para financiar os benefícios pagos aos inativos. B) PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO DO RETROCESSO SOCIAL – consiste na impossibilidade de redução das implementações de direitos fundamentais já realizados. Impõe-se, com ele, que o rol dos direitos sociais não seja reduzido em seu alcance (pessoas abrangidas, eventos que geram amparo) e quantidade (valores concedidos), de modo a preservar o mínimo existencial. Princípio não expresso taxativamente, que encontra clara previsão na CF, a partir da leitura do § 2º do art. 5º e ainda no art. 7º, caput. C) PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO AO HIPOSSUFICIENTE – a regra de interpretação in dubio pro misero, ou pro operário, pois este é o principal destinatário da norma previdenciário. A jurisprudência vem aplicando o princípio em comento nas situações em que depara com dúvida relevante acerca da necessidade de proteção social ao indivíduo. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA SEGURIDADE SOCIAL A) UNIVERSALIDADE DA COBERTURA E DO ATENDIMENTO- UCA - Significado: A universalidade de cobertura/objetiva (cobrir todos os riscos/necessidades sociais, é um evento (im)previsível(morte, idade avançada, doença) - universalidade do atendimento/subjetiva atender todas as pessoas; B) UNIFORMIDADE E EQUIVALÊNCIA DOS BENEFÍCIOS E SERVIÇOS ÀS POPULAÇÕES URBANAS E RURAIS UEBS – Uniformidade - as mesmas prestações devem ser fornecidas as populações rurais e urbanas – Equivalência, a forma de cálculo das populações devem ser a mesma e cobrir os mesmos eventos cobertos pelo sistema. Os critérios para concessão serão os mesmos, porém tratando-se previdência social, o valor de um benefício pode ser diferenciado. C) SELETIVIDADE E DISTRIBUTIVIDADE NA PRESTAÇÃO DOS BENEFÍCIOS E SERVIÇOS - SDBS - Seletividade, selecionar os riscos mais relevantes - distributividade, distribuir para os mais necessitados (bem estar social, justiça social, correção dos desiguais) *Aplicação da reserva do possível; D) IRREDUTIBILIDADE DO VALOR DOS BENEFÍCIOS - IRRVB – Os benefícios não podem ter seus valores nominais reduzidos. Dentro da mesma ideia, o art. 201, § 2º, estabelece o reajustamento periódico dos benefícios, para preservar-lhes, em caráter permanente o seu valor real; DIREITO PREVIDENCIÁRIO E) EQUIDADE NA FORMA DE PARTICIPAÇÃO NO CUSTEIO - EFPC –busca-se garantir que aos hipossuficientes seja garantida a proteção social, exigindo-se contribuição equivalente a seu poder aquisitivo, enquanto a contribuição empresarial tende a ser maior em razão de sua capacidade contributiva - *Princípio da capacidade contributiva; F) DIVERSIDADE DA BASE DE FINANCIAMENTO - DBF – Recursos advindos de diversas fontes; G) CARÁTER DEMOCRÁTICO E DESCENTRALIZADO DA ADMINISTRAÇÃO, MEDIANTE GESTÃO QUADRIPARTITE, COM PARTICIPAÇÃO DOS TRABALHADORES, DOS EMPREGADORES, DOS APOSENTADOS E DO GOVERNO NOS ÓRGÃOS COLEGIADOS – DDQ – a gestão dos recursos, programas, planos, serviços e ações nas vertentes da Seguridade Social, em todas as esferas de poder deve ser realizada mediante discussão com a sociedade. Para isso, foram criados os seguintes órgãos colegiados de deliberação: CNPS – Conselho Nacional da Previdência Social; CNAS – Conselho Nacional da Assistência Social; CNS – Conselho Nacional da Saúde. PRINCÍPIOS ESPECÍFICOS DO CUSTEIO A) DO ORÇAMENTO DIFERENCIADO – a CF estabelece que a receita da Seguridade Social constará de orçamento próprio, distinto daquele previsto para a União; LOA – Orçamento Fiscal LOA – Orçamento Investimento LOA – Orçamento Seguro Social B) PRINCÍPIO DA PRECEDÊNCIA DA FONTE DE CUSTEIO - Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ou estendido sem a correspondente fonte de custeio total - * Principio da existência da fonte de custeio ou regra da contrapartida. (Art. 195 CF), tendo íntima ligação com o princípio do equilíbrio financeiro e atuarial. C) PRINCÍPIO DA COMPULSORIEDADE DA CONTRIBUIÇÃO - Obrigatoriedade de contribuição. Diante desta compulsoriedade, se exige a participação dos indivíduos pertencentes à sociedade e das pessoas jurídicas, no financiamento do sistema de seguridade. D) PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE TRIBUTÁRIA EM MATÉRIA DE CONTRIBUIÇÕES - Esse princípio determina que as contribuições sociais só podem ser exigidas após decorridos noventa dias da data da publicação da lei que as houver instituído ou modificado. Esse princípio é conhecido como o da anterioridade nonagesimal ou da noventena. Essa anterioridade em caso de modificação da contribuição só será exigida se a lei aumentá-la. Se a contribuição for reduzida, não há necessidade de se esperar noventa dias. Também não se aplica a este princípio a legislação que cria novos benefícios ou serviços em qualquer das áreas de atuação da Seguridade Social. § 6º - As contribuições sociais de que trata este artigo só poderão ser exigidas após decorridos noventa dias da data da publicação da lei que as houver instituído ou modificado, não se lhes aplicando o disposto no art. 150, III, b. PRINCÍPIOS ESPECÍFICOS DE PREVIDÊNCIA SOCIAL A) PRINCÍPIO DA FILIAÇÃO OBRIGATÓRIA – Tal princípio se aplica somente aos indivíduos que exercem atividade vinculada ao RGPS que lhes garanta subsistência, estando, a partir da inserção na parcela da população economicamente ativa. B) PRINCÍPIO DO CARÁTER OBRIGATÓRIO - Possui caráter contributivo obrigatório, ou seja, será custeada por contribuições. O não pagamento da contribuição configura mero inadimplemento da obrigação tributária, mas não a ausência de filiação ou a perda da qualidade de segurado. C) PRINCÍPIO DO EQUILÍBRIO FINANCEIRO E ATUARIAL – o Poder Público deverá, na execução da política previdenciária, atentar sempre para a relação entre custeio e pagamento de benefícios, a fim de manter o sistema em condições superavitárias, e observar as oscilações da média etária da população, bem como sua expectativa de vida, para a adequação dos benefícios a estas variáveis. D) DA GARANTIA DO BENEFÍCIO MÍNIMO – O § 2º do Art. 201 da Constituição estabelece como princípio de Previdência Social a garantia de renda mensal não inferior ao valor do salário mínimo, no que tange aos benefícios substitutivos do salário de contribuição ou do rendimento do trabalho. NOTA I: com o advento da EC 103/2019, não há mais a garantia do salário mínimo para alguns benefícios: pensão por morte e auxílio-reclusão, para a pensão por morte o salário mínimo será respeitado quando se tratar da única fonte de renda formal auferida pelo dependente, já o auxílio-reclusão poderá ter valor inferior ao salário mínimo. NOTA II: Os benefícios que não são substitutivos da renda do segurado, salário-família, auxílio-acidente) podem ser pagos em valor inferior ao salário mínimo. E) DO PRINCÍPIO DA CORREÇÃO MONETÁRIA DOS SALÁRIOS DE CONTRIBUIÇÃO – art. 201, § 3º e art. 40, § 17 da CF, determinam que os salários de contribuição considerados no cálculo dos benefícios sejam corrigidos monetariamente. Assim, ao fixar o cálculo de qualquer benefício previdenciário em que se leve em conta a média de salários de contribuição, deve-se adotar fórmula que corrija nominalmente o valor da base de cálculo de contribuição vertida a fim de evitar distorções no valor do benefício pago. NOTA: A norma constitucional não indica qual o índice que deva ser adotado na correção para preservaçãodo valor real dos benefícios. F) DO PRINCÍPIO DA PRESERVAÇÃO DO VALOR REAL DOS Benefícios – no sentido de assegurar o reajustamento dos benefícios para preservar-lhes, em caráter permanente, o valor real. Trata- se de preceito que suplanta a noção de irredutibilidade salarial e de vencimentos e subsídios, pois nos dois casos não há previsão de manutenção do valor real dos ganhos de trabalhadores e servidores, mas apenas nominal, enquanto no princípio supraelencado a intenção é proteger o valor dos benefícios de eventual deterioração, resguardando-o em seu poder de compra. Nota: O mesmo índice apurado no RGPS aplica-se no RPPS. G) DO PRINCÍPIO DA FACULTATIVIDADE DA PREVIDÊNCIA Complementar – é admitida a participação da iniciativa privada na atividade securitária, em complemento ao regime oficial e caráter de facultatividade. H) DO PRINCÍPIO DA INDISPONIBILIDADE DOS DIREITOS DOS BENEFICIÁRIOS – o direito à previdência social constitui direito fundamental e, uma vez implementados os pressupostos de sua aquisição, não deve ser afetado pelo decurso do tempo. Como consequência, inexiste prazo decadencial para a concessão inicial do benefício previdenciário. Mas é legítima a instituição de prazo decadencial de 10 anos para a revisão de benefício já concedido, com fundamento no princípio da segurança jurídica. NOTA: é nulo de pleno direito a venda ou cessão dos direitos do beneficiário ou a constituição de qualquer ônus sobre o benefício. A exceção se dá nos valores devidos a título de contribuição pelo segurado (exemplo: salário maternidade), devolução de valor de benefício concedido indevidamente pela Previdência, tributação sobre a renda, cumprimento de ordem judicial decorrente da obrigação de prestar alimentos e quando autorizados pelo beneficiário, pagamento de empréstimos, financiamentos, cartões de crédito e operações de arrendamento mercantil concedidos por instituições financeira e sociedade de arrendamento mercantil, quando expressamente autorizado pelo beneficiário, até o limite de 35% do valor do benefício, sendo 5% destinado exclusivamente para amortização ou utilização de cartão de crédito. REFERÊNCIA Anotações de aulas. BRASIL. Constituição Federal. Disponível em:< http://www.planalto.gov.br> SANTOS, Marisa Ferreira dos. Direito Previdenciário Esquematizado. Saraiva. 2021.
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