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Direit� Previdenciári� � d� Seguridad� Socia� A Seguridad� Socia� 1. Revisã� Históric� � Conceitua� O direito à seguridade social pode ser compreendido, na terminologia adotada por Paulo Bonavides, como um direito fundamental de segunda geração, naquele rol de direitos umbilicalmente vinculados ao Estado do Bem-estar Social. Tendo sido antes de atribuição da iniciativa privada, com o decorrer dos anos “o seguro adquiriu aspecto predominantemente social e revestiu-se de caráter obrigatório, quando o Estado, reconhecendo a necessidade comum de todos os homens de garantir uma estabilidade para o futuro, instituiu o seguro social”. O termo risco social é empregado para designar os eventos que ocorrem na vida de todos os homens, com certeza ou probabilidade significativa, provocando um desajuste nas condições normais de vida, em especial na obtenção dos rendimentos decorrentes do trabalho, gerando necessidades a serem atendidas, pois nestes momentos críticos, normalmente não podem ser satisfeitas pelo indivíduo. Na terminologia do seguro, chamam-se tais eventos de “riscos” e por dizerem respeito ao próprio funcionamento da sociedade, denominam-se “riscos sociais”. Os regimes previdenciários são instituídos com a finalidade de garantir aos seus beneficiários a cobertura de determinadas contingências sociais. Os riscos sociais cuja cobertura é suportada pelo regime geral são elencados no art. 1.º da lei nº 8.213/91, com exceção do desemprego involuntário, que é objeto de lei específica: lei n.º 7.998/90. (ROCHA e BALTAZAR JUNIOR, 2009, p. 31/32). Desta feita, como a Constituição de 1988 construiu um Estado do Bem-Estar Social em nosso território, a proteção social brasileira é, prioritariamente, obrigação do Estado. Hoje, no Brasil, entende-se por seguridade social o conjunto de ações do Estado no sentido de atender às necessidades básicas de seu povo nas áreas de Previdência Social, Assistência Social e Saúde. Compete à União legislar privativamente sobre essa matéria (art.22, inciso XXIII, CF/88). No Brasil, a seguridade social foi instituída pela Constituição de 1988, contra os riscos sociais que podem gerar miséria e a intranquilidade social, sendo uma conquista do Estado Social de Direito, que deverá intervir para realizar esses direitos fundamentais de segunda geração. O Poder Público deve, nos termos da lei, organizar a seguridade social, com base nos seguintes objetivos: a) universalidade da cobertura e do atendimento; b) uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais; c) seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços; d) irredutibilidade do valor dos benefícios; e) eqüidade na forma de participação no custeio; f) diversidade da base de financiamento; g) caráter democrático e descentralizado da administração, mediante gestão quadripartite, com participação dos trabalhadores, empregadores, dos aposentados e do Governo nos órgãos colegiados (art.194, § único, CF/88). A doutrina previdenciária costuma separar uma seguridade mínima de uma seguridade máxima. A seguridade mínima busca garantir condições que estão relacionadas com prestações fundamentais (proteção dos direitos fundamentais). Na seguridade máxima o objetivo não é garantir o fundamental apenas, mas uma qualidade de vida, uma vida boa, que vai além do básico. A Saúde vem garantida pela Carta Magna como direito de todos e dever do Estado, que deve ser assegurada mediante ações que visem a reduzir os riscos de doença e seus agravamentos. O acesso aos programas de Saúde Pública necessariamente deve seguir os princípios da igualdade e universalidade do atendimento. Logo, neste campo, o acesso deve ser garantido a todos e de forma igual, sem qualquer tipo de contribuição, de forma que o atendimento público à saúde deve ser gratuito. E, segundo a jurisprudência do STF, o direito à saúde pode ser exigido judicialmente dos entes políticos, que são solidários na sua prestação (RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA). Não se há falar em violação ao princípio da separação de poderes. Há, inclusive, uma proposta de súmula vinculante em tramitação na Suprema Corte, a fim de sufragar a tese da solidariedade entre os entes federados na prestação dos serviços de saúde. A Assistência Social, por sua vez, tem como princípios informativos a gratuidade da prestação é basicamente a proteção social, que visa à garantia da vida, à redução de danos e à prevenção da incidência de riscos, através da proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice, bem como aos deficientes e a reintegração ao mercado de trabalho daqueles que necessitarem. Note-se que a diferença primordial entre as atividades da saúde e da assistência social, é que esta tem um espectro menor, ou seja, a saúde tem o caráter de universalidade mais amplo do que o previsto para a assistência social. Logo, a assistência social visa a garantir meios de subsistência às pessoas que não tenham condições de suprir o próprio sustento, dando especial atenção às crianças, idosos e deficientes, independentemente de contribuição à seguridade social. A mais autêntica forma de assistência social é a prevista no art. 203, V, da Constituição Federal, onde fica garantido o valor de um salário mínimo mensal à pessoa. Questão interessante é a previsão do amparo social, previsto no inciso V do art.203 da Constituição Federal de 1988, conforme dispõe a lei. A lei nº 8742/93 (LOAS) previu pressupostos rígidos para concessão do amparo à pessoa portadora de deficiência e ao idoso, especialmente no tocante ao requisito econômico (a renda do grupo familiar não deve superar ¼ do salário mínimo per capita – após declarada a constitucionalidade do requisito legal na ADI 1232, o STF, por ocasião do julgamento da Rcl 4374/PE, reviu sua posição, afirmando: “Verificou-se a ocorrência do processo de inconstitucionalização decorrente de notórias mudanças fáticas (políticas, econômicas e sociais) e jurídicas (sucessivas modificações legislativas dos patamares econômicos utilizados como critérios de concessão de outros benefícios assistenciais por parte do Estado brasileiro). 5. Declaração de inconstitucionalidade parcial, sem pronúncia de nulidade, do art. 20, § 3º, da Lei 8.742/1993. 6. Reclamação constitucional julgada improcedente.” (Rel. Min. Gilmar Mendes; DJE: 03/09/13). Sobre a possibilidade de revisão, em sede de Reclamação, do entendimento já firmado em controle concentrado, o Relator utilizou a expressão BALANÇAR DE OLHOS: “A oportunidade de reapreciação das decisões tomadas em sede de controle abstrato de normas tende a surgir com mais naturalidade e de forma mais recorrente no âmbito das reclamações. É no juízo hermenêutico típico da reclamação – no “balançar de olhos” entre objeto e parâmetro da reclamação – que surgirá com maior nitidez a oportunidade para evolução interpretativa no controle de constitucionalidade. Com base na alegação de afronta a determinada decisão do STF, o Tribunal poderá reapreciar e redefinir o conteúdo e o alcance de sua própria decisão.” A Previdência Social, por sua vez, tem por fim assegurar aos seus beneficiários meios indispensáveis de manutenção, por motivo de incapacidade, idade avançada, tempo de serviço, desemprego involuntário, encargos de família e reclusão ou morte daqueles de quem dependiam economicamente. Note-se então que o conceito de Previdência Social traz ínsito o caráter de contributividade, no sentido de que só aqueles que contribuírem terão acesso aos benefícios previdenciários. A diferença primordial entre os ramos da seguridade social, sendo claro que é que a assistência social e a saúde independem de contribuição, e a previdência, pressupõe contribuição. Em termos objetivos, em sua acepção ampla, a previdência social abarca todos os regimes previdenciários existentes no Brasil (básicos e complementares, públicos e privados). 2. Princípi� d� Seguridad� O legislador constituinte e o ordinário entenderam por positivar os princípios da seguridade social. Destaca-se que apesarde denominados objetivos pelo texto constitucional, o parágrafo único do artigo 194 contém verdadeiros princípios, pois descrevem as normas elementares da seguridade, as quais direcionam toda a atividade legislativa e interpretativa deste ramo do Direito. 2.1. Solidariedad� o� Solidarism� Princípio positivado pelo constituinte de 1988 (art. 3º, I), este princípio visa à chamada evolução coletiva. A liberdade e a igualdade dada a cada um possibilita a evolução individual de todos, mas há que se atender aos anseios de uma evolução coletiva, sem a qual a sociedade não alcança o seu bem-estar de felicidade. Pois bem, ao adotá-la como princípio, torna-se obrigatória a contribuição da maioria em prol da minoria. É este princípio que permite e justifica uma pessoa ser aposentada por invalidez em seu primeiro dia de trabalho, sem ter contribuição recolhida pelo sistema. Também é a solidariedade que justifica a cobrança de contribuições pelo aposentado que volta a trabalhar. Este deverá adimplir seus recolhimentos mensais, como qualquer trabalhador, mesmo sabendo que não poderá obter nova aposentadoria (um dos argumentos contra a desaposentação). A razão é a solidariedade: a contribuição de um não é exclusiva deste, mas sim para a manutenção de toda a rede protetiva. A solidariedade é a justificativa elementar para a compulsoriedade do sistema previdenciário, pois os trabalhadores são coagidos a contribuir em razão da cotização individual ser necessária para a manutenção de toda rede protetiva, e não para a tutela do indivíduo, isoladamente considerado. Há uma verdadeira SOCIALIZAÇÃO DOS RISCOS com toda a sociedade, pois os recursos mantenedores do sistema provêm dos orçamentos públicos e das contribuições sociais, onde aqueles que pagam tributos que auxiliam no custeio da seguridade social, mas hoje ainda não gozam dos benefícios e serviços, poderão no amanhã serem agraciados, trazendo uma enorme estabilidade jurídica no seio da sociedade. Essa norma principiológica fundamenta a criação de um fundo único de previdência social. No âmbito do Regime Próprio de Previdência Social (previdência dos servidores públicos efetivos e militares), há expressa previsão deste princípio (art. 40 da CF). 2.2. Universalidad� d� Cobertur� � d� Atendiment� O constituinte previu a universalidade em seus dois aspectos: o objetivo (cobertura), buscando-se cobrir todos os riscos sociais que possam gerar o estado de necessidade, e subjetivo (atendimento), que diz respeito a todas as pessoas que integram a população, inclusive os estrangeiros. No que se refere a este segundo aspecto, esta é a regra em relação à saúde e à assistência social. Como a previdência social é, a princípio, restrita aos que exercem atividade remunerada, foi criada a figura do segurado facultativo para atender ao mandamento constitucional. Assim sendo, a previdência social terá sua universalidade limitada/mitigada por sua necessária contributividade, haja vista limitar-se aos beneficiários do seguro não atingindo toda a população. 2.3 Uniformidad� � Equivalênci� d� Benefíci� � Serviç� à� Populaçõe� Urbana� � Rurai� Os benefícios e serviços oferecidos às populações urbana e rural devem ser os mesmos (uniformidade) e decorrentes dos mesmos eventos (equivalência). Vale lembrar que, a partir da CF/88, foi instituído o Regime Geral de Previdência Social, deixando de existir os regimes específicos para trabalhadores rurais e urbanos. É decorrência também dos princípios da solidariedade e da igualdade: sendo a área rural extremamente deficitária, os trabalhadores urbanos auxiliam no custeio dos benefícios rurais. Além disso, a igualdade material determina alguma parcela de diferenciação entre estes dois segurados, sendo que a própria Constituição prevê contribuições diferenciadas para o pequeno produtor rural (art. 195, §8º). Cuida-se do corolário do Princípio da Isonomia no sistema da seguridade social, que objetiva o tratamento isonômico entre povos urbanos e rurais na concessão das prestações da seguridade social. Isso não quer dizer que não se possa existir um tratamento diferenciado, desde que haja um fator de discriminem justificável diante de uma situação concreta. Logo, os eventos cobertos pela seguridade social em favor dos povo urbanos e rurais deverão ser os mesmos, salvo algum tratamento diferenciado razoável, sob pena de discriminação negativa injustificável e consequente inconstitucionalidade material da norma. 2.4. Seletividad� � Distributividad� n� Prestaçã� d� Benefíci� Diante da impossibilidade real de se cobrir todos os riscos sociais, assim como de atender a todos aqueles que habitam nosso território, o constituinte conferiu ao legislador uma espécie de mandato específico com o escopo de que este estude as maiores carências em matéria de Seguridade Social. Assim, o princípio da universalidade deve ser lido em conjunto com os princípios da seletividade e distributividade. A universalidade objetiva fica condicionada à seletividade, que permite ao legislador escolher quais as contingências sociais que serão cobertas pelo sistema de proteção social em face de suas possibilidades financeiras. A universalidade subjetiva, por sua vez, é limitada pela ideia de distributividade. A lei irá dispor a que pessoas os benefícios e serviços serão estendidos. Como exemplo de aplicação desse princípio, podemos citar o salário-família e o auxílio reclusão. Por fim, vale ressaltar que, em relação à saúde, a universalidade alcança todas as camadas da população, que fazem jus à utilização de todos os recursos existentes no estado atual da ciência médica (atendimento integral). Não têm aplicação, aí, os princípios da seletividade e distributividade. Sérgio Pinto Martins afirma que na assistência social o princípio da distributividade ganha a sua dimensão máxima, pois redistribui as riquezas da nação apenas em favor dos miseráveis. 2.5. Irredutibilidad� d� Valor d� Benefíci� Segundo o Supremo Tribunal Federal, o princípio da irredutibilidade impede que seja imposta uma redução efetiva dos valores nominais das prestações da seguridade, garantindo ao beneficiário, se não a manutenção do seu padrão de vida e do seu poder aquisitivo, ao menos a capacidade de honrar os compromissos já assumidos. Destaque-se que a CF/88, no seu art. 201, § 4º, impõe o reajustamento periódico da renda mensal do benefício, de modo a preservar o seu valor real (Irredutibilidade do valor nominal para os benefícios da seguridade X Irredutibilidade do valor real dos benefícios previdenciários); Este princípio decorre da segurança jurídica, uma vez que não será possível a redução do VALOR NOMINAL de benefício da seguridade social, vedando-se o retrocesso securitário. Não é possível que o Poder Público reduza o valor das prestações mesmo durante os períodos de crise econômica. No que concerne especificamente aos benefícios previdenciários, ainda é garantido constitucionalmente no art. 201, §4º, o reajustamento para manter o valor real, conforme índices que refletem a irredutibilidade material. 2.6 Equidad� n� form� d� participaçã� n� custei� O custeio da seguridade social deverá ser o mais amplo possível, mas precisa ser isonômico, devendo contribuir de maneira mais acentuada para o sistema aqueles que dispuserem de mais recursos financeiros, bem como os que mais provocarem a cobertura da seguridade social. É uma norma dirigida ao legislador, importa na responsabilidade compartilhada entre o Estado e a sociedade civil pela manutenção financeira da Seguridade Social. A participação no custeio, dessa forma, deverá levar em conta as condições contributivas do indivíduo (sua capacidade financeira) e o risco envolvido. Sendo assim, a contribuição de cada um deve ser proporcional ao seu poder aquisitivo. Nesse sentido, a classe empregadora tende a contribuir com parcela maior que a dos empregados, e, dentre as empresas, aquelas cuja atividade importa em maior risco social devem verter maiores contribuições. Veja, no entanto, que não se trata do conceito clássicode capacidade contributiva originário do Direito Tributário, o qual até excluiria a contribuição em algumas situações. A capacidade citada tem como limite o caráter necessariamente contributivo do sistema: ainda que dotado de parcos recursos, o trabalhador é compulsoriamente filiado ao regime, sendo obrigado a contribuir. Mas nada impede a redução de sua contribuição, compensando esta perda com o aumento da cotização de outros mais abastados (interação com o princípio da solidariedade). OBS: Situações que podem gerar tratamento diferenciado (art. 195, § 9º, CF): a) atividade econômica desenvolvida; b) utilização intensiva de mão-de-obra; c) porte da empresa; d) condições estruturais do mercado de trabalho; 2.7. Diversidad� d� Bas� d� �nanciament� O financiamento da Seguridade Social (e da previdência) não pode se fazer com base em uma única fonte de tributos, sob pena de onerar por demais uma classe social ou atividade econômica ou permitir que oscilações setoriais venham a comprometer a arrecadação de contribuições. A diversidade faz com que se atinja um maior número de pessoas, garantindo uma constância maior de entradas, além de uma maior efetividade do princípio da solidariedade. Assim, a Constituição Federal de 1988 prevê diversas formas do financiamento da Seguridade Social, por meio da empresa, dos trabalhadores e dos entes públicos (princípio da tríplice forma de custeio), além dos concursos de prognósticos; ademais, prevê a possibilidade de se instituir, através de lei complementar, novas fontes de custeio (art. 195, § 4º). A EC nº 42/2003 incluiu no texto constitucional mais uma fonte de custeio para a seguridade social, a saber, a contribuição do importador de bens e serviços do exterior, ou de quem a lei a ele equiparar (art. 195, IV, da CF/88). Com base neste princípio, qualquer proposta de unificação das contribuições sociais em uma única, como se tem defendido, é evidentemente inconstitucional, além de extremamente perigosa para a seguridade social. - ASPECTOS: a) diversidade do financiamento sob o aspecto objetivo: previsão de uma PLURALIDADE DE FATOS GERADORES que ensejem contribuições; b) diversidade do financiamento sob o aspecto subjetivo: previsão de uma PLURALIDADE DE SUJEITOS responsáveis pelo financiamento da seguridade social (empregador; trabalhador; receita de concursos e prognósticos; importador). Em termos de previdência social, é tradicional no Brasil o tríplice custeio desde regimes constitucionais pretéritos (a partir da Constituição Federal de 1934), com a participação do Poder Público, das empresas e dos trabalhadores em geral. Outrossim, É PERMITIDA A CRIAÇÃO DE NOVAS FONTES DE CUSTEIO PARA A SEGURIDADE SOCIAL, MAS HÁ EXIGÊNCIA CONSTITUCIONAL EXPRESSA DE QUE SEJA FEITA POR LEI COMPLEMENTAR, NA FORMA DO ARTIGO 195, §4°, SOB PENA DE INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL DA LEI ORDINÁRIA. 2.8. Caráter Democrátic� � Descentral�ad� d� Administraçã�, mediant� Gestã� Quadripartit�, co� participaçã� d� Trabalhadore�, d� Empregadore�, d� Ap�entad� � d� Govern� n� Órgã� Colegiad� Embora único o sistema, deve ser ele gerido de forma descentralizada (com o propósito de maior efetividade) e com a participação do povo (para que se conceda maior legitimidade às decisões). Em decorrência desse princípio, foram criados diversos órgãos, como o Conselho Nacional de Previdência Social – CNPS, o Conselho Nacional de Assistência Social e o Conselho de Gestão da Previdência Complementar. Na verdade este princípio é decorrência da determinação contida no artigo 10 da Constituição, que assegura a participação dos trabalhadores e empregadores nos colegiados dos órgãos públicos em que seus interesses profissionais ou previdenciários sejam objeto de discussão e deliberação. 2.9. Orçament� Diferenciad� A Seguridade Social deve ter orçamento próprio separado do da União, com o objetivo de evitar que os recursos destinados às suas atividades sejam desviados para cobrir despesas deste Ente (art. 165, § 5º, III, da CF/88). De efeito, o Sistema Nacional de Seguridade Social é um instrumento tão importante de realização da justiça social que o legislador constitucional criou uma peça orçamentária exclusiva para fazer frente às despesas no pagamento de benefícios e na prestação de serviços. Assim, os recursos do orçamento da seguridade social são afetados pelo custeio do referido sistema, não podendo ser utilizados para outras despesas da União, em regra. 2.10. Precedênci� d� Font� d� Custei� Segundo a Constituição de 1988, nenhum benefício ou serviço da Seguridade Social pode ser criado, majorado ou estendido sem a correspondente fonte de custeio total (art. 195, §5º). Esse princípio visa a proteger as finanças da Seguridade Social e, consequentemente, a efetivação dos benefícios e serviços já garantidos por ela. Sérgio Pinto Martins aponta este como princípio da Seguridade Social. Esse princípio está relacionado com o equilíbrio financeiro e atuarial. Foi com base nesse princípio que o STF entendeu que pela impossibilidade de majoração das pensões por morte efetivadas antes do advento da lei n.º 9.032/95 (além do argumento tempus regit actum). Sem embargo, no Informativo n.º 599, o STF, valendo-se da técnica do distinguishing, entendeu ser possível a aplicação imediata dos novos tetos previdenciários trazidos pelas Emendas Constitucionais n.º 20/98 e n.º 41/2003 aos benefícios pagos com base em teto anterior, de menor expressão econômica. De fato, o que essa norma busca é uma gestão responsável da seguridade social, pois a criação de prestações no âmbito da previdência, da assistência ou da saúde pressupõe a prévia existência de recursos públicos, sob pena de ser colocado em perigo todo o sistema com medidas irresponsáveis. Por conseguinte, antes de criar um novo benefício da seguridade social ou majorar/estender os já existentes, deverá o ato de criação indicar expressamente a fonte de custeio respectiva, através da indicação da dotação orçamentária, a fim de se manter o equilíbrio entre as despesas e as receitas públicas. Este princípio não poderá ser excepcionado nem em hipóteses anormais, pois a Constituição é taxativa . 3. Princípi� d� Previdênci� Socia� 3.1. �liaçã� Obrigatóri�: São segurados da Previdência Social todos aqueles que exercem atividades vinculadas ao Regime Geral, nos termos da lei, e não estão vinculados a regime próprio. A exceção ao princípio fica por conta dos chamados segurados facultativos, aos quais a lei abre a possibilidade de aderirem ao regime geral, mediante o recolhimento de contribuições e desde que não estejam filiados a outro regime próprio; 3.2. Caráter Contributiv� O direito aos benefícios depende do recolhimento de contribuições. Contudo, se a responsabilidade pelo recolhimento das contribuições era de terceiros, o segurado fará jus às prestações da Previdência Social; 3.3. Equilíbri� �nanceir� � Atuaria� A execução da política previdenciária deve respeitar a relação entre o custeio e o pagamento de benefícios. A introdução do fator previdenciário pela Lei nº 9.876/99 veio a concretizar esse princípio; 3.4. Garanti� d� Benefíci� Mínim� Nenhum benefício que substitua o salário de contribuição ou o rendimento do trabalho do segurado terá valor mensal inferior ao salário mínimo (CF/88 – art. 201, §2º). Segundo o princípio do valor mínimo, garante-se ao indivíduo (trabalhador, aposentado, pensionista, assistido...) uma renda capaz de "atender às suas necessidades vitais básicas e às de sua família como moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e Previdência Social" (CF/88 – art. 7º, IV); (A. Araújo – o auxílio acidente, por ter caráter indenizatório pode ser inferior ao salário mínimo) 3.5. Correçã� Monetári� d� Salári� d� Contribuiçã� Todos os salários de contribuição considerados para o cálculo de benefício serão atualizados, na forma da lei (CF/88 – art. 201, §3º). 3.6. Preservaçã� d� Valor Rea� d� Benefíci� É assegurado o reajustamento dos benefícios para preservar-lhes, em caráter permanente,o valor real, conforme critérios definidos em lei (CF/88 – art. 201, §4º). 3.7. Previdênci� Complementar Facultativ� “Admite-se a participação da iniciativa privada na atividade securitária, em complemento ao regime oficial, e em caráter de facultatividade para os segurados”, devendo esta ser regulada por meio de lei complementar (LC nº 109/2001). Antes da EC nº 20/98, o seguro complementar deveria ser mantida pela própria Previdência Social; 3.8. Indisponibilidad� d� Direit� d� Beneficiári� São indisponíveis os direitos previdenciários dos beneficiários do regime, não cabendo a renúncia, preservando-se, sempre, o direito adquirido daquele que, tendo implementado as condições previstas em lei para a obtenção do benefício, ainda não o tenha gozado. Os benefícios não se sujeitam a arresto, sequestro ou penhora, e só podem sofrer descontos determinados por lei ou por ordem judicial. 3.9. Comutatividad� Para efeito de aposentadoria, é assegurada a contagem recíproca do tempo de contribuição na administração pública e na atividade privada, rural e urbana, hipótese em que os diversos regimes de Previdência Social se compensarão financeiramente, segundo critérios estabelecidos em lei (CF/88 – art. 201, §9º). 3.10. Igualdad� O §1º do art. 201 da CF/88, com a redação dada pela EC nº 20/98, veda a adoção de requisitos e critérios diferenciados para concessão de aposentadorias aos beneficiários do Regime Geral de Previdência Social, ressalvados os casos de atividades exercidas em regime especial e portadores de deficiência (neste último caso, regulamentado pela LC 142/13); 3.11. Princípi� d� Tempu� Regi� Actu� Enquanto não esteja explicitamente previsto na legislação da previdência social como seu princípio informador, entende-se que ele integra o rol, sendo muitas vezes usado para definir o regime jurídico dos benefícios previdenciários, pois deverá ser aplicada a lei vigente na data do nascimento do direito à prestação previdenciária. É que o ato administrativo de concessão de um benefício pela Previdência Social classifica-se como ato jurídico perfeito, conquanto surta efeitos por dias, meses, anos ou décadas, pois a obrigação de pagamento das parcelas do benefício é mensal, configurando-se uma relação jurídica continuada ou de trato sucessivo. O ato jurídico de concessão de um benefício se aperfeiçoa sob a vigência de uma lei, mas comumente continua gerando efeitos jurídicos sob a vigência de um ou mais regimes jurídicos instituídos por leis novas, o que não raro gera um conflito aparente intertemporal, especialmente quando o novel regime é mais benefício aos segurados e seus dependentes. Assim, a rigor, a lei nova não se aplicará ao benefício concedido anteriormente, mesmo sendo melhor para o segurado, salvo previsão expressa em sentido contrário para favorecer os beneficiários. 3.12. Automaticidad� da� Prestaçõe� Há, ainda, o Princípio da Automaticidade das Prestações, que estatui serem devidas as prestações previdenciárias mesmo na hipótese de não pagamento das contribuições previdenciárias, quando a responsabilidade tributária pelo recolhimento for das empresas tomadoras dos serviços, o que ocorre no Brasil com os segurados empregados, trabalhadores avulsos e contribuintes individuais prestadores de serviços à pessoa jurídica. Assim, se uma empresa não recolher as contribuições previdenciárias do seu empregado, o INSS deverá deferir o benefício, não podendo alegar a mora da empresa, devendo a Secretaria de Receita Federal do Brasil proceder à cobrança das contribuições em atraso, caso ainda não decaídas. Vale frisar que o Princípio da Automaticidade das Prestações não se aplica às hipóteses em que o próprio segurado é responsável direto pelo pagamento das contribuições previdenciárias, conforme será visto. 4. Eficáci� � Interpretaçã� da� Norma� D� Seguridad� 4.1. Interpretaçã� da� Norma� Quanto aos métodos, a interpretação pode ser classificada da seguinte forma: a) gramatical ou literal (verba legis): consiste em verificar qual o sentido do texto a partir da análise da linguagem empregada; b) histórica: há necessidade de se analisar a evolução do instituto sobre o qual versa a norma; c) autêntica: é a realizada pelo próprio órgão que editou a norma, e que irá declarar seu sentido, alcance, conteúdo, por meio de outra norma jurídica. Também é chamada de interpretação legal ou legislativa; d) sistemática: a interpretação será dada ao dispositivo legal de acordo com a análise do sistema no qual está inserido, sem se ater a interpretação isolada de uma norma, mas sim ao conjunto; e) teleológica ou finalística: a interpretação será dada ao dispositivo legal de acordo com o fim colimado pelo legislador. Quanto ao resultado, a interpretação pode ser restritiva ou extensiva. a) Restritiva: quando a lei possui palavras que ampliam a vontade da lei, e acabe à interpretação reduzir esse alcance. b) Extensiva: quando a lei carece de amplitude, ou seja, diz menos do que deveria dizer, devendo o intérprete verificar qual os reais limites da norma. OBS: Princípio in dubio pro misero: em caso de dúvida, a decisão deve ser a mais favorável ao beneficiário. Deve ser aplicado com cautela, pois não é lícito ao aplicador do Direito ignorar preceito expresso em lei, aplicando outro mais favorável, com base no pro misero. O intérprete deve estar atento aos fundamentos e objetivos do estado Democrático de Direito (arts. 1º e 3º da CF), notadamente a dignidade da pessoa humana e a redução das desigualdades sociais. 4.2. Eficáci� A eficácia, no sentido jurídico, diz respeito à capacidade da norma de produzir efeitos. Essa capacidade possui uma larga faixa de incidência, podendo ser total ou parcial e, ainda, cabendo falar-se em normas que são apropriadas a produzir efeitos mais ou menos intensos e relevantes. A eficácia da norma jurídica pode ser dividida em relação ao tempo e ao espaço. a) Eficácia no Tempo: a eficácia no tempo refere-se à entrada da lei em vigor. Normalmente, as disposições securitárias entram em vigor na data da publicação da lei, com eficácia imediata, mas certos dispositivos, tanto do Plano de Custeio como do de Benefícios, necessitam ser complementados pelo regulamento, e só a partir da existência deste terão plena eficácia. Quanto às regras de custeio, o § 6º do artigo 195 da Constituição estabelece que as contribuições sociais destinadas ao custeio da Seguridade Social somente poderão ser exigidas após o transcurso de 90 dias da data da publicação da lei que as houver instituído ou majorado, não lhes sendo aplicável o disposto do art. 150, III, b, da CF (princípio da anterioridade). As demais regras entrarão em vigor na data da publicação da lei. b) Eficácia no Espaço: A eficácia no espaço diz respeito ao território em que vai ser aplicada a norma. A lei de Seguridade Social se aplica no Brasil, tanto para os nacionais como para os estrangeiros nele residentes, de acordo com as regras determinadas pelo Plano de Custeio e Benefícios e outras especificações atinentes à matéria. Excepcionalmente, a legislação admite como segurado obrigatório “o brasileiro ou estrangeiro domiciliado e contratado no Brasil para trabalhar como empregado em sucursal ou agência de empresa nacional no exterior, ou em empresa domiciliada no exterior, cuja maioria do capital votante pertença a empresa brasileira de capital nacional” (art. 11, I, “c” e “f”, da Lei nº 8.213/91), bem como “o brasileiro civil que trabalha para a União, no exterior, em organismos oficiais brasileiros ou internacionais dos quais o Brasil seja membro efetivo, ainda que ali domiciliado e contratado, salvo se segurado na forma da legislação vigente do país do domicílio.” (art. 11, I, “e”, da Lei nº 8.213/91) Importa destacar que o art. 85-A da Lei nº 8.212/91 estabelece que os tratados, convenções e outros acordos internacionais de que Estado estrangeiro ou organismo internacional e o Brasil sejam partes, e que versem sobre matéria previdenciária, serão interpretados como lei especial. 5. Definiçã� � Natur��Jurídic� A seguridade social no Brasil consiste no conjunto integrado de ações que visam a assegurar os direitos fundamentais à saúde, à assistência social e à previdência social, de iniciativa do Poder Público e de toda a sociedade (art. 194 da CF). A Seguridade Social tem natureza pública, ou seja, é uma imposição legal, independente de contrato e da vontade das partes envolvidas. Ostenta, simultaneamente, a natureza jurídica de direito fundamental da 2a e da 3a dimensões, vez que tem natureza prestacional positiva (direito social) e possui caráter universal (natureza coletiva). Existe muita semelhança entre Previdência Social e contrato de seguro, uma vez que a pessoa contribui e tem cobertura de certos eventos, sendo que alguns estudiosos chegam a concluir que aquela é uma espécie deste. Mas, na verdade, existem apenas semelhanças, sendo em sua essência espécies diversas, principalmente porque o seguro traz a idéia de contrato, ligado ao direito privado, enquanto que a previdência social é eminentemente pública, face à repercussão social de suas ações. A seguridade social é integrada por três ramos: saúde, assistência social e previdência social. 6. Fonte� As fontes do Direito Previdenciário são a Constituição Federal, a lei (especialmente as Leis nº. 8.212 e 8.213 de 1991) e outros atos normativos regulamentares (especialmente o Decreto. 3.048/99). Para Wladimir Novaes Martinez, os tratados podem ser considerados fontes do DP. Lazzari e Castro lembram que o costume não pode ser considerado fonte do DP, em razão do princípio da legalidade. Devem, porém, ser entendidas como fontes do DP, no âmbito interno da Previdência Social, as decisões sumuladas do Conselho de Recursos da Previdência Social (CRPS), já que vinculam a Administração. Também as normas coletivas são fontes do DP, pois criam complementações de benefícios previdenciários. Os regulamentos de empresa estabelecem complementação de benefícios previdenciários, mediante contribuição da empresa e do empregado. Neles, são previstos alguns requisitos para o direito à complementação do benefício.
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