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BIOQUÍMICA DO METABOLISMO DOS LIPÍDEOS (VIAS ANABÓLICAS DOS LIPÍDEOS - ÁCIDOS GRAXOS, TRIGLICERÍDEOS E COLESTEROL) ÁCIDOS GRAXOS Os ácidos graxos são sintetizados por um sistema extramitocondrial, que é responsável pela síntese completa do palmitato a partir de acetil-CoA no citosol. Na maioria dos mamíferos, a glicose é o principal substrato para a lipogênese, ao passo que, em ruminantes, é o acetato a principal molécula combustível que eles obtêm da dieta. Os ácidos graxos insaturados nos fosfolipídeos das membranas celulares são importantes na manutenção da fluidez. Uma dieta com elevada proporção entre ácidos graxos poli-insaturados e ácidos graxos saturados (razão de P:S) é considerada benéfica na prevenção de doença coronariana. Os tecidos animais têm capacidade limitada para dessaturar os ácidos graxos e necessitam de certos ácidos graxos poli- insaturados de origem vegetal na dieta. Esses ácidos graxos essenciais são usados para formar os ácidos graxos eicosanoicos (C20), que dão origem aos seguintes eicosanoides: prostaglandinas, tromboxanos, leucotrienos e lipoxinas. As prostaglandinas medeiam a inflamação e a dor, induzem o sono e também regulam a coagulação sanguínea e a reprodução. Os anti- inflamatórios não esteroides (AINEs), como o ácido acetilsalicílico e o ibuprofeno, atuam ao inibir a síntese de prostaglandinas. Os leucotrienos apresentam propriedades quimiotáticas e relacionadas à contração muscular e são importantes nas reações alérgicas e na inflamação. A síntese de ácidos graxos ocorre no citosol e o substrato inicial da via, a acetil-CoA, é formada na mitocôndria, fundamentalmente a partir de piruvato. Como a membrana interna da mitocôndria é impermeável a acetil-CoA, os carbonos do grupo acetila são transportados sob a forma de citrato. O citrato é transportado para o citosol pela tri carboxilato translocase (Figura 16.10), onde é cindido em oxaloacetato e acetil- CoA, à custa de ATP, em uma reação catalis ada pela citrato liase: O oxaloacetato é reduzido a malato pela malato desidrogenase citosólica uma isoenzima da malato desidrogenase mitocondrial. O malato é substrato da enzima málica em uma reação que prodez piruvato e NADPH O piruvato, através da piruvato translocase, retorna à mitocôndria, onde é convertido a oxaloacetato, por ação da piruvato carboxilase. O resultado final desta sequência de reações é o transporte dos carbonos da acetil-CoA (sob a forma de citrato) da mitocôndria para o citosol com gasto de ATP, e produção de NADPH. Acetil-CoA e NADPH, ambos no citosol, podem ser utilizados para formar ácidos graxos. O NADPH constitui o agente redutor dessa síntese. A PRINCIPAL VIA PARA A SÍNTESE DE NOVO DE ÁCIDOS GRAXOS (LIPOGÊNESE) OCORRE NO CITOSOL Esse sistema é encontrado em muitos tecidos, incluindo fígado, rins, encéfalo, pulmões, glândulas mamárias e tecido adiposo. Os cofatores necessários incluem NADPH, ATP, manganês (Mn2+), biotina e bicarbonato (HCO3) – (como fonte de CO2). A acetil-CoA é o substrato imediato, e o palmitato livre é o produto final. A PRODUÇÃO DE MALONIL-COA CONSTITUI A ETAPA INICIAL E DE CONTROLE NA SÍNTESE DE ÁCIDOS GRAXOS O bicarbonato, como fonte de CO2, é necessário na reação inicial de carboxilação de acetil-CoA em malonil-CoA, na presença de ATP e acetil-CoA-carboxilase. Essa enzima possui um papel fundamental na regulação da síntese de ácidos graxos (ver a seguir). A acetil-CoA-carboxilase necessita da vitamina B biotina e é uma proteína multienzimática contendo a biotina, a enzima biotina-carboxilase, a proteína carreadora de carboxil-biotina e uma carboxil- transferase, assim como um sítio regulador alostérico. A reação ocorre em duas etapas: (1) carboxilação da biotina envolvendo ATP e (2) transferência de grupo carboxila para acetil- CoA para formar malonil-CoA. O COMPLEXO DE ÁCIDO GRAXO- SINTASE É UM HOMODÍMERO DE DUAS CADEIAS POLIPEPTÍDICAS CONTENDO SEIS ATIVIDADES ENZIMÁTICAS Após a formação de malonil-CoA, os ácidos graxos são formados pelo complexo enzimático de ácido graxo-sintase. As enzimas individuais necessárias para a síntese de ácidos graxos estão ligadas a esse complexo polipeptídico multienzimático que incorpora a proteína carreadora de grupos acil (ACP) (possui função similar à da CoA na via de β-oxidação). Esse complexo contém o ácido pantotênico na forma de 4´-fosfopanteteína. A cristalografia a de raios X da estrutura tridimensional demonstrou que o complexo é um homodímero com duas subunidades idênticas, contendo, cada uma delas, seis enzimas e uma ACP, dispostas em formato de X. A posição da ACP e dos domínios tioesterase ainda não pôde ser resolvida pela cristalografia de raios X, possivelmente por serem muito flexíveis; mas, acredita-se que esses domínios estejam localizados próximos à enzima 3-cetoacil-redutase. O uso de uma unidade funcional multienzimática tem as vantagens de obter o efeito de compartilhar o processo dentro da célula, sem a criação de barreiras de permeabilidade, e a síntese de todas as enzimas do complexo é coordenada, visto que é codificada por um único gene. Inicialmente, uma molécula iniciadora de acetil- CoA combina-se com um grupo —SH de uma cisteína (Figura 23-3, reação 1a), ao passo que a malonil-CoA se combina com o grupo —SH adjacente presente na 4´-fosfopanteteína da ACP do outro monômero (reação 1b). Essas reações são catalisadas pela malonil-acetil- transacilase, para formar a enzima acetil- (acil)-malonil. O grupo acetil ataca o grupo metileno do resíduo de malonil, em uma reação catalisada pela 3-cetoacil-sintase, e libera CO2, formando a enzima 3-cetoacil (enzima acetoacetil) (reação 2), liberando o grupo —SH da cisteína. A descarboxilação permite que a reação prossiga até o seu término, levando toda a sequência das reações na direção direta. O grupo 3-cetoacetil é reduzido, desidratado e novamente reduzido (reações 3-5) para formar a acil-S-enzima saturada correspondente. Uma nova molécula de malonil-CoA combina- se com o —SH da 4´-fosfopanteteína, deslocando o resíduo acil saturado para o grupo —SH da cisteína livre. A sequência de reações é repetida por mais seis vezes até a montagem de um radical acil saturado de 16 carbonos (palmitoil). Ele é liberado do complexo enzimático pela atividade da sexta enzima do complexo, a tioesterase (desacilase). O palmitato livre deve ser ativado a acil-CoA antes de prosseguir por qualquer outra via metabólica. Os seus destinos possíveis são estericação em acilgliceróis, alongamento ou dessaturação da cadeia ou estericação em ésteres de colesteril. Na glândula mamária, existe uma tioesterase distinta especíca para os resíduos acil de C8, C10 ou C12, os quais são encontrados subsequentemente nos lipídeos do leite. A equação geral para a síntese do palmitato a partir de acetil-CoA e malonil-CoA é: A acetil-CoA usada como iniciador forma os átomos de carbono 15 e 16 do palmitato. A adição de todas as unidades subsequentes de C2 ocorre por meio da malonil-CoA. A propionil-CoA atua como iniciador para a síntese de ácidos graxos de cadeia longa que apresentam número ímpar de átomos de carbono (encontrados particularmente na gordura e no leite dos ruminantes) A PRINCIPAL FONTE DE NADPH PARA A LIPOGÊNESE É A VIA DAS PENTOSES-FOSFATO O NADPH está envolvido como doador de equivalentes redutores na redução dos derivados, tanto do 3-cetoacil quanto do acil 2,3-insaturado (Figura 23-3, reações 3 e 5). As reações oxidativas da via das pentoses fosfato constituem a principal fonte de hidrogênio necessáriopara a síntese redutora dos ácidos graxos. De modo significativo, os tecidos especializados na lipogênese ativa – isto é, o fígado, o tecido adiposo e a glândula mamária em lactação – possuem uma via ativa das pentoses-fosfato. Além disso, ambas as vias metabólicas são encontradas no citosol da célula; dessa maneira, não existem membranas nem barreiras de permeabilidade contra a transferência do NADPH. Outras fontes de NADPH incluem a reação que converte o malato em piruvato, catalisada pela “enzima málica” (NADP malato-desidrogenase) (Figura 23-4) e pela reação extramitocondrial da isocitrato- desidrogenase (que provavelmente não se qualica como uma fonte substancial, exceto nos ruminantes). A ACETIL-COA É O PRINCIPAL BLOCO DE CONSTRUÇÃO DOS ÁCIDOS GRAXOS A acetil-CoA é formada a partir da glicose por meio da oxidação de piruvato na matriz mitocondrial. Só que, como ela não se difunde prontamente através das membranas mitocondriais, o seu transporte para o citosol – o principal local de síntese dos ácidos graxos – requer um mecanismo especial envolvendo citrato. Após a condensação de acetil-CoA com oxalacetato no ciclo do ácido cítrico dentro da mitocôndria, o citrato produzido pode ser translocado para o compartimento extramitocondrial pelo transportador de tricarboxilatos, onde, na presença de CoA e ATP, ele sofre clivagem a acetil-CoA e oxalacetato catalisada pela ATP-citrato-liase, que aumenta sua atividade no estado bem- alimentado. A acetil-CoA está então disponível para a formação de malonil-CoA e síntese de ácidos graxos (Figura 23-4). O oxalacetato resultante pode formar malato por meio da malato-desidrogenase ligada ao NADH, seguido de geração de NADPH pela enzima málica. O NADPH torna-se disponível para lipogênese, e o piruvato pode ser utilizado para regenerar a acetil-CoA depois de transportada para a mitocôndria. Essa via representa um meio de transferir equivalentes redutores do NADH extramitocondrial para o NADP. De um modo alternativo, o próprio malato pode ser transportado para a mitocôndria, onde tem a capacidade de formar oxalacetato novamente. O transportador de citrato (tricarboxilato) na membrana mitocondrial requer a presença de malato para troca com o citrato. Há pouca ATP-citrato-liase, ou enzima málica, nos ruminantes, provavelmente pelo fato de, nessas espécies, o acetato (derivado da digestão dos carboidratos no rúmen e ativado em acetil-CoA no meio extramitocondrial) constituir a principal fonte de acetil-CoA. O ALONGAMENTO DAS CADEIAS DE ÁCIDOS GRAXOS OCORRE NO RETÍCULO ENDOPLASMÁTICO Essa via (o “sistema microssomal”) alonga as acil-CoA de ácidos graxos saturados e insaturados (a partir de C10) em dois carbonos, utilizando a malonil-CoA, como doadora de acetil, e o NADPH, como agente redutor, em uma reação catalisada pelo sistema enzimático microssomal ácido graxo alongase. O alongamento da estearil-CoA no encéfalo aumenta rapidamente durante a mielinização, a fim de fornecer ácidos graxos C22 e C24 para os esngolipídeos. O ESTADO NUTRICIONAL REGULA A LIPOGÊNESE O excesso de carboidratos é armazenado na forma de gordura em muitos animais para prevenção em períodos de deficiência calórica, como jejum prolongado, hibernação, etc., e também para fornecer a energia necessária entre as refeições, incluindo os seres humanos, que se alimentam em intervalos espaçados. A lipogênese converte a glicose e os intermediários excedentes, como piruvato, lactato e acetil-CoA, em gordura, auxiliando na fase anabólica desse ciclo alimentar. O estado nutricional do organismo constitui o principal fator que regula a taxa de lipogênese. Por isso, a taxa apresenta-se elevada no animal bem--alimentado cuja dieta contém alta proporção de carboidratos. A taxa é reduzida nos estados de restrição de aporte calórico, em dietas ricas em gordura, ou em caso de deficiência de insulina, como ocorre no diabetes melito. As últimas condições estão associadas a concentrações elevadas de ácidos graxos livres no plasma, e foi demonstrada uma relação inversa entre a lipogênese hepática e a concentração sérica de ácidos graxos livres. Ocorre aumento da lipogênese quando há ingestão de sacarose, em vez de glicose, pois a frutose escapa do ponto de controle da fosfofrutocinase na glicólise e segue para a via lipogênica A LIPOGÊNESE É REGULADA POR MECANISMOS DE CURTO E DE LONGO PRAZO A síntese de ácidos graxos de cadeia longa é controlada, em curto prazo, pela modificação alostérica e covalente de enzimas e, em longo prazo, por alterações na expressão dos genes que controlam a taxa de síntese das enzimas. A ACETIL-COA-CARBOXILASE É A ENZIMA MAIS IMPORTANTE NA REGULAÇÃO DA LIPOGÊNESE A acetil-CoA-carboxilase é uma enzima alostérica ativada pelo citrato, em que sua concentração aumenta no estado bem- alimentado e constitui um indicador de suprimento abundante de acetil-CoA. O citrato promove a conversão da enzima de um dímero inativo (duas subunidades do complexo enzimático) para uma forma polimérica ativa. A inativação é promovida pela fosforilação da enzima e por moléculas de acil-CoA de cadeia longa, fornecendo um exemplo de inibição por retroalimentação negativa por um produto da reação. Então, se houver acúmulo de acil-CoA, por não ser esterificada rápido o suficiente, em consequência de um aumento da lipólise, ou ainda devido a um influxo de ácidos graxos livres no tecido, ela automaticamente reduzirá a síntese de novos ácidos graxos. A acil-CoA também inibe o transportador de tricarboxilatos mitocondrial, impedindo, assim, a ativação da enzima pelo efluxo de citrato das mitocôndrias para o citosol A acetil-CoA-carboxilase também é regulada por hormônios, como o glucacon, a epinefrina e a insulina, por meio de alterações em seu estado de fosforilação A PIRUVATO-DESIDROGENASE TAMBÉM É REGULADA PELA ACIL- COA A acil-CoA provoca inibição da piruvato- desidrogenase ao inibir o transportador de troca de ATP-ADP da membrana mitocondrial interna, levando ao aumento da razão (ATP)/(ADP) mitocondrial e, em consequência, à conversão da piruvato- - desidrogenase ativa em sua forma inativa, regulando, dessa maneira, a disponibilidade de acetil-CoA para a lipogênese. Além disso, a oxidação da acil-CoA, devido a níveis aumentados de ácidos graxos livres, pode aumentar as razões de (acetil-CoA)/(CoA) e (NADH)/(NAD+) na mitocôndria, inibindo a piruvato-desidrogenase. A INSULINA TAMBÉM REGULA A LIPOGÊNESE POR OUTROS MECANISMOS A insulina estimula a lipogênese por vários outros mecanismos, como pelo aumento da atividade da acetil-CoA-carboxilase. Ela aumenta o transporte de glicose para dentro da célula (p. ex., no tecido adiposo), aumentando a disponibilidade tanto de piruvato, para a síntese de ácidos graxos, como de glicerol-3-fosfato, para a síntese de triacilglicerol por meio da estericação do ácido graxo recém-formado. Ela também converte a forma inativa da piruvato- desidrogenase para a forma ativa no tecido adiposo, mas não no fígado. A insulina – em virtude de sua capacidade de reduzir os níveis intracelulares de cAMP – também inibe a lipólise no tecido adiposo, reduzindo, assim, a concentração plasmática de ácidos graxos livres e, portanto, de acil- CoA de cadeia longa, os quais são inibidores da lipogênese O COMPLEXO DE ÁCIDO GRAXO- SINTASE E A ACETIL-COA- CARBOXILASE SÃO ENZIMAS ADAPTATIVAS Essas enzimas se adaptam às necessidades fisiológicas do corpo, por meio da variação da expressão gênica, que leva ao aumento na quantidade total de moléculas de enzimas presente no estado alimentado e diminuidurante a ingestão de uma dieta rica em gordura e em condições de inanição e no diabetes melito. A insulina exerce uma função importante, causando a expressão gênica e a indução de enzimas da biossíntese, e o glucagon (via cAMP) antagoniza esse efeito. A ingestão de gorduras contendo ácidos graxos poli-insaturados regula, de modo coordenado, a inibição da expressão de enzimas essenciais da glicólise e da lipogênese. Esses mecanismos para regulação a longo prazo da lipogênese levam vários dias para se manifestar por completo e aumentam o efeito direto e imediato dos ácidos graxos livres e de hormônios, como a insulina e o glucagon ALGUNS ÁCIDOS GRAXOS POLI- INSATURADOS NÃO PODEM SER SINTETIZADOS POR MAMÍFEROS E SÃO NUTRICIONALMENTE ESSENCIAIS A Figura 23-8 mostra alguns ácidos graxos insaturados de cadeia longa de importância metabólica nos mamíferos. Outros ácidos graxos polienoicos, C20, C22 e C24, podem ser derivados dos ácidos oleico, linoleico e α- linolênico por alongamento da cadeia. Os ácidos palmitoleico e oleico não são essenciais na dieta, visto que os tecidos podem introduzir uma ligação dupla na posição Δ9 de um ácido graxo saturado. Os ácidos linoleico e α-linolênico são os únicos ácidos graxos conhecidos como essenciais para a nutrição completa de muitas espécies de animais, inclusive os seres humanos, e são denominados ácidos graxos nutricionalmente essenciais. Na maioria dos mamíferos, o ácido araquidônico pode ser formado a partir do ácido linoleico. Ligações duplas podem ser introduzidas nas posições Δ 4, Δ5, Δ6 e Δ9 (ver Capítulo 21) na maioria dos animais, porém nunca além da posição Δ9. Em contrapartida, as plantas são capazes de sintetizar os ácidos graxos nutricionalmente essenciais pela introdução de ligações duplas nas posições Δ12 e Δ15 OS ÁCIDOS GRAXOS MONOINSATURADOS SÃO SINTETIZADOS POR UM SISTEMA Δ9 - DESSATURASE Vários tecidos, incluindo o fígado, são considerados responsáveis pela formação de ácidos graxos monoinsaturados não essenciais a partir de ácidos graxos saturados. A primeira ligação dupla introduzida em um ácido graxo saturado está quase sempre na posição Δ9. Um sistema enzimático – a Δ9- dessaturase (Figura 23-9) – presente no retículo endoplasmático catalisa a conversão de palmitoil-CoA ou estearoil-CoA em palmitoleoil-CoA ou oleoil- CoA, respectivamente. É necessária a presença de oxigênio e de NADH ou NADPH para a reação. As enzimas parecem ser similares ao sistema da monoxigenase envolvendo citocromo b5 (ver Capítulo 12). A SÍNTESE DE ÁCIDOS GRAXOS POLIINSATURADOS ENVOLVE SISTEMAS ENZIMÁTICOS DE DESSATURASES E ALONGASES As ligações duplas adicionais introduzidas nos ácidos graxos monoinsaturados existentes estão sempre separadas umas das outras por um grupo metileno (metileno interrompido), exceto nas bactérias. Como os animais possuem uma Δ9-dessaturase, eles são capazes de sintetizar a família ω9 (ácido oleico) de ácidos graxos insaturados completamente por uma combinação de alongamento e dessaturação da cadeia (Figuras 23-9 e 23-10) após a formação de ácidos graxos saturados pelas vias descritas neste capítulo. No entanto, como indicado, os ácidos linoleico (ω6) ou α-linolênico (ω3) são necessários para a síntese de outros membros das famílias ω6 ou ω3 (vias mostradas na Figura 23-10) e devem ser fornecidos na dieta. O ácido linoleico é convertido em ácido araquidônico (20:4 ω6) via ácido γ-linolênico (18:3 ω6). A necessidade nutricional de araquidonato pode, portanto, ser dispensada se houver quantidade adequada de linoleato na dieta. Os gatos são incapazes de efetuar essa conversão, devido à ausência da Δ6- dessaturase, e devem obter o araquidonato na dieta. O sistema de dessaturação e de alongamento da cadeia diminui acentuadamente no estado de jejum, em resposta à administração de glucagon e epinefrina e na ausência de insulina, como ocorre no diabetes melito tipo 1. OS SINTOMAS DE DEFICIÊNCIA OCORREM QUANDO OS ÁCIDOS GRAXOS ESSENCIAIS (AGE) ESTÃO AUSENTES DA DIETA Ratos alimentados com uma dieta não lipídica puricada contendo vitaminas A e D exibem redução da velocidade de crescimento e deciência de reprodução, que podem ser curadas pela adição dos ácidos linoleico, α-linolênico e araquidônico à dieta. Esses ácidos graxos são encontrados em altas concentrações nos óleos vegetais (ver Tabela 21-2) e em pequenas quantidades em carcaças de animais. Os ácidos graxos essenciais (AGE) são necessários para a formação de prostaglandinas, tromboxanos, leucotrienos e lipoxinas (ver adiante), e também desempenham várias outras funções que não estão tão bem denidas. Eles são encontrados nos lipídeos estruturais das células, frequentemente na posição 2 dos fosfolipídeos, e participam da integridade estrutural da membrana mitocondrial. O ácido araquidônico está presente em membranas e representa 5 a 15% dos ácidos graxos em fosfolipídeos. O ácido docosa- hexaenoico (DHA; ω3, 22:6), sintetizado em grau limitado a partir do ácido α-linolênico e obtido diretamente dos óleos de peixe, é encontrado em altas concentrações na retina, no córtex cerebral, nos testículos e no esperma. O DHA é particularmente necessário para o desenvolvimento do cérebro e da retina e é fornecido pela placenta e pelo leite. Pacientes com retinite pigmentar apresentam baixos níveis sanguíneos de DHA. Na defciência de ácidos graxos essenciais, os ácidos polienoicos não essenciais da família ω9, particularmente o ácido Δ5,8,11-eicosatrienoico (ω9, 20:3) (Figura 23-10), substituem os ácidos graxos essenciais nos fosfolipídeos, em outros lipídeos complexos e nas membranas. A razão trieno:tetraeno nos lipídeos plasmáticos pode ser utilizada para diagnosticar o grau de deciência de ácidos graxos essenciais TRIACILGLICERÓIS A maior parte dos ácidos graxos sintetizados ou ingeridos por um organismo possui um de dois destinos: a incorporação em triacilgliceróis para o armazenamento de energia metabólica ou a incorporação nos componentes fosfolipídicos da membrana. A divisão entre esses destinos alternativos depende das necessidades momentâneas do organismo. Durante o crescimento rápido, a síntese de novas membranas requer a produção de fosfolipídeos de membrana; quando um organismo dispõe de suprimento abundante de alimento, mas não está crescendo ativamente, ele desvia a maior parte dos ácidos graxos para a síntese das gorduras de reserva. As duas vias iniciam no mesmo ponto: na formação de ésteres acil graxo de glicerol. OS TRIACILGLICERÓIS E OS GLICEROFOSFOLIPÍDEOS SÃO SINTETIZADOS A PARTIR DOS MESMOS PRECURSORES Os animais são capazes de sintetizar e estocar grandes quantidades de triacilgliceróis, para serem utilizados posteriomente como combustível. Os humanos estocam apenas algumas centenas de gramas de glicogênio no fígado e nos músculos, quantidade suficiente apenas para suprir as necessidades energéticas do corpo por 12 horas. Por outro lado, a quantidade total de triacilglicerol armazenado em um homem de 70 quilogramas de constituição média é de cerca de 15 quilogramas, o suficiente para suprir as necessidades energéticas basais por aproximadamente 12 semanas. Os triacilgliceróis dispõem do maior conteúdo energético de todos os nutrientes estocados – mais de 38 quilojoule por grama. Sempre que os carboidratos são ingeridos em excesso à capacidadede armazenamento de glicogênio, esse excesso é convertido em triacilgliceróis e armazenado no tecido adiposo. Os vegetais também sintetizam triacilgliceróis como combustível rico em energia e eles são armazenados, principalmente, nos frutos, nas nozes e nas sementes. Nos tecidos animais, os triacilgliceróis e os glicerofosfolipídeos, como a fosfatidiletanolamina, compartilham dois precursores (acil-CoA graxo e L-glicerol-3- fosfato) e diversas etapas biossintéticas. A grande maioria do glicerol-3-fosfato é derivada do intermediário glicolítico di- hidroxiacetona-fosfato (DHAP) pela ação da glicerol-3-fosfato-desidrogenase citosólica ligada ao NAD; no fígado e nos rins, uma pequena parte do glicerol-3-fosfato também é produzida a partir do glicerol pela ação da glicerol-cinase. Os outros precursores dos triacilgliceróis são acil-CoA graxos, formadas a partir dos ácidos graxos pelas acil-CoA sintetases, as mesmas enzimas responsáveis pela ativação dos ácidos graxos na b-oxidação A primeira etapa na biossíntese dos triacilgliceróis é a acilação dos dois grupos hidroxila livres do L-glicerol-3-fosfato, por duas moléculas de acil-CoA graxo, gerando diacilglicerol-3-fosfato (mais comumente chamado de ácido fosfatídico ou fosfatidato). O ácido fosfatídico está presente apenas em quantidades muito pequenas na célula, mas é um intermediário central na biossíntese dos lipídeos; ele pode ser convertido tanto em um triacilglicerol quanto em um glicerofosfolipídeo. Na via de síntese de triacilgliceróis, o ácido fosfatídico é hidrolisado pela ácido fosfatídico-fosfatase (também chamado lipina), formando 1,2- diacilglicerol. Os diacilgliceróis são, então, convertidos em triacilgliceróis por transesterificação com um terceiro acil-CoA graxo A BIOSSÍNTESE DE TRIACILGLICERÓIS NOS ANIMAIS É REGULADA POR HORMÔNIOS Em humanos, a quantidade de gordura corpórea permanece relativamente constante por longos períodos, embora possam ocorrer pequenas variações em curto espaço de tempo, à medida que a ingestão calórica flutua. Os carboidratos, as gorduras ou as proteínas ingeridas em excesso à necessidade energética são armazenados na forma de triacilgliceróis, que podem ser mobilizados para o fornecimento de energia, capacitando o organismo a suportar períodos de jejum. A biossíntese e a degradação dos triacilgliceróis são reguladas de modo que a via favorecida depende das fontes metabólicas e das necessidades a um dado momento. A velocidade da biossíntese dos triacilgliceróis é profundamente alterada pela ação de diversos hormônios. A insulina, por exemplo, promove a conversão de carboidrato em triacilgliceróis. Pessoas com diabetes melito grave, devido à falha na secreção ou na ação da insulina, além de não serem capazes de utilizar glicose de modo apropriado, falham também em sintetizar ácidos graxos a partir de carboidratos ou aminoácidos. Se o diabetes não é tratado, essas pessoas apresentam velocidade aumentada na oxidação de gorduras e na formação de corpos cetônicos e, então, perdem peso. Um fator adicional no balanço entre biossíntese e degradação de triacilgliceróis é que cerca de 75% de todos os ácidos graxos liberados pela lipólise são reesterificados, formando triacilgliceróis, em vez de serem utilizados como combustível. Essa relação persiste mesmo em condições de jejum, quando o metabolismo energético é desviado da utilização de carboidratos para a oxidação de ácidos graxos. Parte dessa reciclagem dos ácidos graxos acontece no tecido adiposo, com a reesterificação ocorrendo antes da liberação na corrente sanguínea; parte ocorre também em um ciclo sistêmico, pelo qual os ácidos graxos livres são transportados ao fígado, reciclados em triacilgliceróis, exportados mais uma vez para o sangue e captados novamente pelo tecido adiposo após sua liberação a partir dos triacilgliceróis pela lipase lipoproteica extracelular. O fluxo por esse ciclo dos triacilgliceróis, entre o tecido adiposo e o fígado, pode ser bastante lento quando outros combustíveis estão disponíveis e a liberação dos ácidos graxos do tecido adiposo é limitada, mas, como foi comentado, a proporção de ácidos graxos liberados que são reesterificados permanece mais ou menos constante em cerca de 75% em todas as condições metabólicas. Então, o nível de ácidos graxos livres no sangue reflete tanto a velocidade de liberação dos ácidos graxos quanto o balanço entre a síntese e a degradação dos triacilgliceróis no tecido adiposo e no fígado. Quando a mobilização dos ácidos graxos é necessária para satisfazer as necessidades energéticas, sua liberação do tecido adiposo é estimulada pelos hormônios glucagon e adrenalina. Simultaneamente, esses sinais hormonais diminuem a velocidade da glicólise e aumentam a velocidade da gliconeogênese no fígado (provendo glicose para o encéfalo). O ácido graxo liberado é captado por diversos tecidos, incluindo os músculos, onde ele é oxidado para a geração de energia. A maior parte do ácido graxo captado pelo fígado não é oxidada, mas é reciclada a triacilglicerol e retorna ao tecido adiposo. A função do aparentemente ciclo fútil do triacilglicerol não é bem compreendida. Mas, à medida que se aprende mais a respeito de como o ciclo do triacilglicerol é mantido pelo metabolismo em dois órgãos distintos e como ele é regulado de forma coordenada. Por exemplo, o excesso da capacidade do ciclo do triacilglicerol (o ácido graxo reconvertido a triacilglicerol e não oxidado como combustível) poderia representar uma reserva de energia na corrente sanguínea durante o jejum, a qual seria mais rapidamente mobilizada em uma emergência do tipo “luta ou fuga” do que a mobilização da energia armazenada na forma de triacilglicerol. A reciclagem constante dos triacilgliceróis no tecido adiposo, mesmo durante o jejum. Qual é a fonte do glicerol-3-fosfato necessário para esse processo? Como descrito anteriormente, a glicólise é inibida nessas condições pela ação do glucagon e da adrenalina, de modo que pouco DHAP está disponível, e o glicerol liberado durante a lipólise não pode ser diretamente convertido em glicerol-3-fosfato no tecido adiposo, já que essas células não possuem a enzima glicerol-cinase Assim, como é produzida uma quantidade suficiente de glicerol-3-fosfato? A resposta está em uma via descoberta há mais de três décadas, mas que recebeu pouca atenção até recentemente, uma via intimamente ligada ao ciclo do triacilglicerol e, em sentido mais amplo, ao balanço entre o metabolismo dos ácidos graxos e dos carboidratos. O TECIDO ADIPOSO GERA GLICEROL- 3-FOSFATO POR MEIO DA GLICERONEOGÊNESE A gliceroneogênese é uma versão mais curta da gliconeogênese, partindo de piruvato a DHAP, seguindo-se a conversão de DHAP em glicerol-3-fosfato pela enzima citosólica glicerol-3-fosfato-desidrogenase ligada ao NAD. Depois, o glicerol-3-fosfato é utilizado na síntese de triacilglicerol. A gliceroneogênese desempenha múltiplas funções. No tecido adiposo, a gliceroneogênese, acoplada à reesterificação dos ácidos graxos livres, controla a velocidade de liberação dos ácidos graxos no sangue. No tecido adiposo marrom, a mesma via pode controlar a velocidade pela qual os ácidos graxos livres são enviados para a mitocôndria para utilização na termogênese. Nos seres humanos em jejum, a gliceroneogênese no fígado, sozinha, responde pela síntese de glicerol-3-fosfato suficiente para a reesterificação de até 65% dos ácidos graxos em triacilglicerol. O fluxo pelo ciclo do triacilglicerol entre o fígado e o tecidoadiposo é controlado em um grau elevado pela atividade da PEP- carboxicinase, que limita a velocidade de ambas, da gliconeogênese e da gliceroneogênese. Os hormônios glicocorticoides, como o cortisol (esteroide biológico derivado do colesterol) e a dexametasona (glicocorticoide sintético), regulam os níveis de PEP-carboxicinase reciprocamente, no fígado e no tecido adiposo. Atuando nos receptores de glicocorticoides, esses hormônios esteroides aumentam a expressão do gene que codifica a PEP-carboxicinase no fígado, aumentando a gliconeogênese e a gliceroneogênese A estimulação da gliceroneogênese leva a um aumento na síntese de moléculas de triacilglicerol no fígado e a sua liberação na corrente sanguínea. Ao mesmo tempo, no tecido adiposo, os glicocorticoides suprimem a expressão do gene que codifica a PEP- carboxicinase, o que resulta em um decréscimo na gliceroneogênese no tecido adiposo. Como resultado, ocorre a diminuição da reciclagem dos ácidos graxos, e mais ácidos graxos livres são liberados no sangue. Assim, a gliceroneogênese é regulada reciprocamente no fígado e no tecido adiposo, afetando o metabolismo dos lipídeos de formas opostas: uma menor velocidade da gliceroneogênese no tecido adiposo leva a uma maior liberação de ácidos graxos (e não reciclagem), enquanto uma alta velocidade no fígado leva a uma maior síntese e exportação dos triacilgliceróis. O resultado líquido é um aumento no fluxo por meio do ciclo dos triacilgliceróis. Quando os glicocorticoides não estão mais presentes, o fluxo pelo ciclo diminui, já que a expressão da PEP-carboxicinase aumenta no tecido adiposo e diminui no fígado. OS PRECURSORES DOS TRIACILGLICERÓIS SÃO GLICEROL 3- FOSFATO E ACIL-COA Os triacilgliceróis são sintetizados a partir de acilCoA derivadas de ácidos graxos e glicerol 3fosfato. No tecido adiposo, o glicerol 3fosfato é formado, principalmente, por redução de dihidroxiacetona fosfato, obtida a partir de carboidratos, aminoácidos e lactato. No fígado e nos rins, a fosforilação do glicerol é catalisada pelo glicerol quinase O glicerol 3fosfato é acilado em duas etapas, formando fosfatidato (diacilglicerol 3- fosfato), que, por hidrólise do grupo fosfato, origina diacilglicerol. Estes dois últimos compostos são intermediários também da síntese de fosfolipídios. O triacilglicerol é obtido por acilação do diacilglicerol O FÍGADO E O TECIDO ADIPOSO SÃO “PARCEIROS” NO METABOLISMO DE TRIACILGLICERÓIS A maioria dos tecidos dos seres humanos é capaz de esterificar ácidos graxos, formando triacilgliceróis, mas o fígado e o tecido adiposo são os principais responsáveis por esse processo. Os triacilgliceróis sintetizados no fígado são, na maior parte, incorporados em lipoproteínas plasmáticas, encarregadas da distribuição de ácidos graxos aos tecidos extra-hepáticos, o adiposo inclusive. O tecido adiposo encarregase da síntese e armazenamento de triacilgliceróis — formados a partir de ácidos graxos da dieta, transportados pelos quilomícrons, ou a partir daqueles sintetizados pelo fígado e pelo próprio tecido adiposo — e, ainda, da sua hidrólise, liberando ácidos graxos para uso interno ou para exportação a outros órgãos. Os processos de armazenamento ou mobilização de triacilgliceróis ocorrem, obviamente, em condições fisiológicas antagônicas e estão sujeitos a mecanismos opostos de regulação. Os fosfolipídios, necessários para a biossíntese de membranas, são sintetizados, praticamente, por todas as células. COLESTEROL O colesterol está presente nos tecidos e no plasma na forma de colesterol livre ou em combinação com um ácido graxo de cadeia longa, na forma de éster de colesteril, sua forma de armazenamento. No plasma, ambas as formas são transportadas em lipoproteínas. O colesterol é um lipídeo anfipático e, desse modo, um componente estrutural essencial das membranas, onde é importante na manutenção da permeabilidade e da fluidez apropriadas, e também da camada externa das lipoproteínas plasmáticas. É sintetizado em muitos tecidos a partir de acetil-CoA e constitui o precursor de todos os outros esteroides no organismo, incluindo os corticosteroides, os hormônios sexuais, os ácidos biliares e a vitamina D. Como produto típico do metabolismo animal, o colesterol é encontrado nos alimentos de origem animal, como a gema do ovo, a carne, o fígado e o cérebro. A lipoproteína de baixa densidade (LDL) do plasma é o veículo que fornece o colesterol e o éster de colesteril em muitos tecidos. O colesterol livre é removido dos tecidos pela lipoproteína de alta densidade (HDL) plasmática e transportado até o fígado, onde é eliminado do organismo em sua forma inalterada ou após conversão em ácidos biliares por um processo conhecido como transporte reverso do colesterol. O colesterol é um importante constituinte dos cálculos biliares. Mas o seu principal papel em processos patológicos consiste em atuar como fator na gênese da aterosclerose de artérias vitais, causando doença vascular cerebral, coronariana e periférica O COLESTEROL É BIOSSINTETIZADO A PARTIR DE ACETIL-COA Pouco mais da metade do colesterol do organismo se origina por síntese (cerca de 700 mg/dia), é o restante provém da dieta normal. Nos seres humanos, o fígado e o intestino são responsáveis, cada um, por cerca de 10% da síntese total. Praticamente todos os tecidos que contêm células nucleadas são capazes de efetuar a síntese de colesterol, que ocorre no retículo endoplasmático e nos compartimentos citosólicos. A ACETIL-COA CONSTITUI A FONTE DE TODOS OS ÁTOMOS DE CARBONO DO COLESTEROL O colesterol é um composto de 27 carbonos, consistindo em quatro anéis e uma cadeia lateral. Ele é sintetizado a partir de acetil-CoA por uma longa via que pode ser dividida em cinco etapas: (1) síntese do mevalonato a partir da acetil- CoA (2) formação de unidades isoprenoides a partir do mevalonato com a perda de CO2 (3) condensação de seis unidades isoprenoides para formar o esqualeno (4) ciclização do esqualeno, dando origem ao esteroide parental, o lanosterol; (5) formação do colesterol a partir do lanosterol Etapa 1 – Biossíntese do mevalonato: o HMG-CoA (3-hidroxi-3-metilglutaril-CoA) é formado pelas reações utilizadas na mitocôndria para sintetizar os corpos cetônicos. Mas, como a síntese do colesterol é extramitocondrial, as duas vias são distintas. Inicialmente, corre condensação de duas moléculas de acetil-CoA para formar acetoacetil-CoA, em uma reação catalisada pela tiolase citosólica. O acetoacetil-CoA condensa-se com outra molécula de acetil-CoA em outra reação catalisada pela HMG- -CoA- sintase, com formação de HMG-CoA, que é reduzida a mevalonato pelo NADPH, em uma reação catalisada pela HMG-CoA-redutase. Esta última etapa é a principal etapa reguladora na via de síntese do colesterol e o local de ação da classe mais efetiva de fármacos redutores do colesterol, as estatinas, que são inibidores da HMG-CoA-redutase Etapa 2 – Formação das unidades isoprenoides: o mevalonato é fosforilado sequencialmente por três cinases utilizando o ATP e, após descarboxilação, ocorre a formação da unidade isoprenoide ativa, o isopentenil-difosfato Etapa 3 – Formação do esqualeno a partir de seis unidades isoprenoides: o isopentenil- difosfato é isomerizado por um deslocamento da dupla ligação para formar dimetilalil-difosfato e, em seguida, condensado com outramolécula de isopentenil-difosfato, com formação do intermediário de 10 carbonos, o geranil-difosfato. Uma condensação adicional com isopentenil-difosfato forma o farnesil- difosfato. Duas moléculas de farnesil-difosfato condensam-se na extremidade difosfato, formando o esqualeno. Inicialmente, o pirofosfato inorgânico é eliminado, resultando no pré-esqualeno-difosfato, que é então reduzido pelo NADPH, com eliminação de mais uma molécula de pirofosfato inorgânico Etapa 4 – Formação do lanosterol: o esqualeno pode dobrar-se em uma estrutura muito semelhante ao núcleo esteroide. Antes do fechamento do anel, o esqualeno é convertido em esqualeno-2,3-epóxido por uma oxidase de função mista presente no retículo endoplasmático, a esqualeno- epoxidase. O grupo metil em C14 é transferido para o C13 e o do C8 para o C14 à medida que ocorre a ciclização, catalisada pela oxidoesqualeno-lanosterol-ciclase. Etapa 5 – Formação do colesterol: a formação do colesterol a partir do lanosterol ocorre nas membranas do retículo endoplasmático e envolve alterações no núcleo e na cadeia lateral do esteroide. Os grupos metilas em C14 e C4 são removidos para formar 14-desmetil-lanosterol e, em seguida, zimosterol. Posteriormente, a dupla ligação em C8— C9 é transferida para C5— C6 em duas etapas, com formação do desmosterol. Por fim, a dupla ligação da cadeia lateral é reduzida, produzindo colesterol. O FARNESIL-DIFOSFATO DÁ ORIGEM AO DOLICOL E À UBIQUINONA Os poli-isoprenoides dolicol e ubiquinona são formados a partir do farnesil-difosfato pelo acréscimo adicional de até 16 (dolicol) ou 3 a 7 (ubiquinona) resíduos isopentenil- difosfato. Algumas proteínas de ligação ao GTP na membrana celular são preniladas com resíduos de farnesil ou geranilgeranil (20 carbonos). Acredita-se que a prenilação proteica facilite a ancoragem das proteínas em membranas lipídicas e também possa estar envolvida nas interações entre proteínas e no transporte de proteínas associadas à membrana. A SÍNTESE DE COLESTEROL É CONTROLADA PELA REGULAÇÃO DA HMG-COA-REDUTASE A regulação da síntese do colesterol é efetuada próximo ao início da via, na etapa da HMG-CoA-redutase. Nos animais em jejum prolongado, a síntese diminuída de colesterol é acompanhada de redução da atividade enzimática. Mas, o colesterol da dieta inibe apenas a síntese hepática. A HMG-CoA-redutase no fígado é inibida pelo mevalonato, o produto imediato da reação, e pelo colesterol, o principal produto da via. O colesterol e seus metabólitos reprimem a transcrição da HMG-CoA-redutase pela ativação de um fator de transcrição, que é a proteína de ligação ao elemento regulador de esteróis (SREBP). As proteínas de ligação ao elemento regulador de esteróis (SREBPs) constituem uma família de proteínas que regulam a transcrição de uma gama de genes envolvidos na captação e no metabolismo celular do colesterol e de outros lipídeos. A ativação da proteína de ligação ao elemento regulador de esteróis (SREBP) é inibida pela Insig (gene induzido por insulina), uma proteína que é induzida por insulina e está presente no retículo endoplasmático. A Insig também promove a degradação da HMG- CoA-redutase. Tanto a síntese de colesterol quanto a atividade da redutase exibem variação diurna. Além desses mecanismos envolvidos na regulação da taxa de síntese/degradação proteica, a atividade enzimática também é modulada mais rapidamente por modicação pós-traducional (Figura 26-4). A insulina ou o hormônio tireoideano aumentam a atividade da HMG-CoA-redutase, ao passo que o glucagon ou os glicocorticoides a diminuem. A atividade enzimática é reversivelmente modicada pelos mecanismos de fosforilação- desfosforilação, e alguns podem ser dependentes de cAMP e, então, são imediatamente responsivos ao glucagon. A proteína-cinase ativada por AMP (AMPK) (antes chamada de HMG-CoA-redutase- cinase) fosforila e inativa a HMG-CoA- redutase. A AMPK é ativada por fosforilação pela AMPK-cinase (AMPKK) e por modicação alostérica pelo AMP. As tentativas de reduzir o colesterol plasmático nos seres humanos ao diminuir a quantidade de colesterol na dieta produzem resultados variáveis. Em geral, uma redução de 100 miligramas do colesterol dietético produz uma redução de aproximadamente 0,13 milimol por litro na concentração sérica. MUITOS FATORES INFLUENCIAM O EQUILÍBRIO DO COLESTEROL NOS TECIDOS Nos tecidos, o equilíbrio do colesterol é regulado assim: O aumento do colesterol celular é causado pela captação de lipoproteínas contendo colesterol pelos receptores, como o receptor de LDL ou o receptor scavenger; pela captação do colesterol livre das lipoproteínas ricas em colesterol pela membrana celular; pela síntese de colesterol; e pela hidrólise dos ésteres de colesterol pela enzima éster de colesteril-hidrolase. A redução é produzida pelo efluxo do colesterol da membrana para as HDLs por meio de ABCA1, ABCG1 ou SR-B1 (ver Figuar 25-5); por esterificação do colesterol pela ACAT (acil-CoA:colesterol- aciltransferase); e pela utilização do colesterol para a síntese de outros esteroides, como hormônios, ou de ácidos biliares no fígado. O RECEPTOR DE LDL É ALTAMENTE REGULADO Os receptores de LDL (apo B-100, E) ocorrem na superfície celular, em cavidades revestidas no lado citosólico da membrana celular por uma proteína denominada clatrina. O receptor de glicoproteína estende- se por toda a membrana, com a região de ligação a B-100 localizada na extremidade aminoterminal exposta. Após a ligação, a LDL é captada de modo inalterado por endocitose. A seguir, a apoproteína e o éster de colesteril são hidrolisados nos lisossomos, e o colesterol é transferido para dentro da célula. Os receptores são reciclados e retornam à superfície celular. Esse influxo de colesterol inibe a transcrição dos genes que codicam a HMG-CoA-sintase, a HMG-CoA-redutase e outras enzimas envolvidas na síntese do colesterol, e até mesmo o próprio receptor de LDL por meio da via da SREBP e, dessa forma, suprime de modo coordenado a síntese e a captação do colesterol. Além disso, a atividade da ACAT (acil- CoA:colesterol-aciltransferase) é estimulada, promovendo a esterificação do colesterol. Pesquisas recentes mostraram que a proteína pró-proteína-convertase- subtilisina/quexina tipo 9 (PCSK9) regula a reciclagem do receptor para a superfície celular, direcionando-o para degradação. Por esses mecanismos, a atividade do receptor de LDL na superfície da célula é regulada pela necessidade de colesterol para as membranas, para a síntese dos hormônios esteroides ou de ácido biliar, e o conteúdo de colesterol livre da célula é mantido em limites relativamente estreitos O COLESTEROL É TRANSPORTADO ENTRE OS TECIDOS EM LIPOPROTEÍNAS PLASMÁTICAS O colesterol da dieta entra em equilíbrio com o colesterol plasmático dentro de alguns dias e com o colesterol tecidual em algumas semanas. O colesterol é transportado no plasma em lipoproteínas, a maior parte na forma de éster de colesteril e, em seres humanos, a maior proporção é encontrada nas LDLs. O éster de colesteril presente na dieta é hidrolisado em colesterol, que é, então, absorvido pelo intestino, junto com o colesterol não esterificado e outros lipídeos da dieta. Do colesterol absorvido, 80 a 90% são esterificados com ácidos graxos de cadeia longa na mucosa intestinal. Com o colesterol sintetizado no intestino, ele é incorporado, a seguir, nos quilomícrons. Noventa e cinco por cento do colesterol dos quilomícrons é liberado para o fígado em quilomícrons remanescentes, e a maior parte do colesterolsecretado pelo fígado nas VLDLs é retido durante a formação das lipoproteínas de densidade intermediária (IDLs) e finalmente LDL, que é captada pelo receptor de LDL no fígado e nos tecidos extra--hepáticos A LECITINA:COLESTEROL- ACILTRANSFERASE PLASMÁTICA É RESPONSÁVEL PELA FORMAÇÃO DE QUASE TODO O ÉSTER DE COLESTERIL PLASMÁTICO NOS SERES HUMANOS A atividade da lecitina:colesterol- aciltransferase (LCAT) está associada à HDL, que contém apo A-I. À medida que o colesterol da HDL se torna esterificado, ele gera um gradiente de concentração que atrai o colesterol presente nos tecidos e em outras lipoproteínas, permitindo, assim, que a HDL funcione no transporte reverso do colesterol. A PROTEÍNA DE TRANSFERÊNCIA DE ÉSTER DE COLESTERIL FACILITA A TRANSFERÊNCIA DO ÉSTER DE COLESTERIL DAS HDLS PARA OUTRAS LIPOPROTEÍNAS A proteína de transferência de éster de colesteril, que está associada à HDL, é encontrada no plasma em seres humanos e muitas outras espécies. Essa proteína facilita a transferência do éster de colesteril da HDL para a VLDL, a IDL e a LDL em troca de triacilglicerol, aliviando assim a inibição pelo produto da atividade da LCAT na HDL. Por isso, nos seres humanos, grande parte do éster de colesteril formado pela LCAT alcança o fígado por meio dos remanescentes de VLDL (IDL) ou LDL. A HDL2 enriquecida com triacilglicerol libera o seu colesterol no fígado no ciclo da HDL O COLESTEROL É EXCRETADO DO ORGANISMO NA BILE COMO COLESTEROL OU ÁCIDOS BILIARES (SAIS) O colesterol é excretado pelo organismo através da bile, na forma não esterificada ou após conversão em ácidos biliares no fígado. O coprostanol é o principal esterol encontrado nas fezes e é formado a partir do colesterol pelas bactérias presentes na parte distal do intestino. OS ÁCIDOS BILIARES SÃO FORMADOS A PARTIR DO COLESTEROL Os ácidos biliares primários são sintetizados no fígado a partir do colesterol. São eles: ácido cólico (encontrado em maior quantidade na maioria dos mamíferos) e ácido quenodesoxicólico. A 7α-hidroxilação do colesterol é a primeira e a principal etapa reguladora na biossíntese de ácidos biliares e é catalisada pelo colesterol 7α-hidroxilase (enzima microssomal do citocromo P450 designada CYP7A). Essa enzima, que é uma monoxigenase típica, requer oxigênio, NADPH e citocromo P450. As etapas subsequentes de hidroxilação também são catalisadas por monoxigenases. A via de biossíntese dos ácidos biliares é dividida inicialmente em uma via que leva à formação de colil-CoA, caracterizada por um grupo α-OH adicional na posição 12, e em outra via que leva à produção de quenodesoxicolil-CoA. Uma segunda via mitocondrial envolvendo a 27-hidroxilação do colesterol pelo citocromo P450 esterol-27- hidroxilase (CYP27A1), como primeira etapa, é responsável por uma significativa proporção dos principais ácidos biliares sintetizados. Os ácidos biliares primários entram na bile sob a forma de conjugados de glicina ou taurina. A conjugação ocorre nos peroxissomos hepáticos. Nos seres humanos, a razão entre os conjugados de glicina e taurina é normalmente de 3:1. Na bile alcalina (pH de 7,6 a 8,4), presume-se que os ácidos biliares e seus conjugados estejam na forma de sais – daí o termo “sais biliares”. Os ácidos biliares primários são ainda metabolizados no intestino pela atividade das bactérias intestinais. Então, ocorrem desconjugação e 7α-desidroxilação, produzindo os ácidos biliares secundários, o ácido desoxicólico e o ácido litocólico. A MAIOR PARTE DOS ÁCIDOS BILIARES RETORNA AO FÍGADO PELA CIRCULAÇÃO ÊNTERO-HEPÁTICA Mesmo que os produtos da digestão das gorduras, incluindo o colesterol, sejam absorvidos nos primeiros 100 centímetros do intestino delgado, os ácidos biliares primários e secundários são absorvidos quase exclusivamente no íleo, e 98 a 99% retornam ao fígado pela circulação portal. Esse processo é conhecido como circulação êntero-hepática. Mas, por conta de sua insolubilidade, o ácido litocólico não é reabsorvido em quantidades signicativas. Apenas uma fração pequena dos sais biliares escapa da absorção e, então, é eliminada nas fezes. Mas, isso representa um importante via de eliminação do colesterol. Diariamente, a mistura de ácidos biliares (cerca de 3-5 gramas) circula 6 a 10 vezes pelo intestino, e uma quantidade de ácidos biliares equivalente àquela perdida nas fezes é sintetizada a partir do colesterol, com consequente manutenção do reservatório de ácidos biliares de tamanho constante. Esse processo é obtido por um sistema de controle por retroalimentação. A SÍNTESE DE ÁCIDOS BILIARES É REGULADA NA ETAPA DA CYP7A1 A principal etapa limitadora da taxa de biossíntese de ácidos biliares é a reação da CYP7A1 (Figura 26-7). A atividade dessa enzima é regulada por retroalimentação pelo receptor nuclear de ligação a ácidos biliares, o receptor farnesoide X (FXR). Quando o tamanho do reservatório de ácidos biliares na circulação êntero-hepática aumenta, o FXR é ativado, e a transcrição do gene da CYP7A1 é suprimida. O ácido quenodesoxicólico é particularmente importante na ativação do FXR. A atividade de CYP7A1 também é aumentada pelo colesterol da dieta e de origem endógena e regulada pelos hormônios insulina, glucagon, glicocorticoides e tireoideanos
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