Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 3 2 DEFINIÇÃO E RISCOS DOS RECURSOS NATURAIS .................................. 4 3 DIFERENTES ECOSSISTEMAS DENTRO DA BIOSFERA E SUAS CARACTERÍSTICAS ............................................................................................. 8 4 ECOSSISTEMA COSTEIRO ......................................................................... 14 5 ESTRUTURA, FUNCIONAMENTO E MANEJO DE ECOSSISTEMAS COSTEIROS ........................................................................................................ 25 6 NECESSIDADES DE GERENCIAMENTO COSTEIRO INTEGRADO .......... 29 7 ECOSSISTEMA COSTEIRO BRASILEIRO ................................................... 33 8 O GERENCIAMENTO COSTEIRO NO BRASIL ............................................ 36 9 PRESERVAÇÃO DO ECOSSISTEMA COSTEIRO ....................................... 39 10 ÁREA DE PROTEÇÃO MARINHA NO BRASIL ......................................... 43 11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................... 46 1 INTRODUÇÃO O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 2 DEFINIÇÃO E RISCOS DOS RECURSOS NATURAIS Fonte: ciencias.ulisboa.com Segundo Araújo (2015), a preocupação com o meio ambiente tem sido colocada na pauta nacional e internacional das políticas socioeconômicas, tendo como ponto de apoio o discurso do desenvolvimento sustentável. Contudo, diante da reação da natureza que parece voltar-se contra tudo e contra todos ao responder com mudanças climáticas, como o descongelamento das calotas polares, que, embora sendo fenômenos globais não deixam de afetar o local mais recôndito do planeta, descobre-se, ou não se tem como ignorar que a natureza não é ilimitada conforme a crença que vigorou durante esse período de dominação do homem. O tratamento dado aos processos exploratórios dos recursos naturais, permite a ampliação dos efeitos na forma de acidentes e atinge todas as esferas da sociedade em escala local e global, e suas dimensões institucionais, acumulando-se aos problemas políticos, sociais, econômicos, espaciais, territoriais, culturais, ecológicos, ambientais, éticos e morais (BECK, 1997 apud ARAÚJO, 2015). É possível afirmar que o desenvolvimento implica melhoria na qualidade de vida das pessoas; e sustentável define-se como a capacidade de suporte dos ecossistemas naturais, os quais também precisam de qualidade para garantir seu funcionamento, por conseguinte, continuar fornecendo recursos na forma de serviços ambientais. Essas transformações apresentam descontinuidades entre as ordens sociais tradicionais e as modernas, as quais são identificadas por Giddens (1991, p. 15 e 16 apud ARAÚJO, 2015), como “o ritmo da mudança”, “o escopo da mudança” e uma terceira, que trata da “natureza intrínseca das instituições modernas”. É preciso, portanto, efetuar um diagnóstico destas instituições, para fundamentar os processos de mudança que foram observados na sociedade moderna. O teor das críticas à ciência e a tecnologia, que Beck (2011 apud ARAÚJO, 2015) expõe no seu conceito de sociedade de risco, está na escala que tem tomado os riscos ecológicos, cujos acidentes atingem o meio ambiente e as populações envolvidas. Os riscos, tanto locais quanto global, são distributivos e assimétricos, ou seja, distribuídos desigualmente na sociedade. A lógica de distribuição altera as percepções dos problemas e soluções sobre as questões ambientais a partir das mediações socioculturais dos diferentes grupos sociais (BECK, 2011 apud ARAÚJO, 2015). As dificuldades que a sociedade encontra para resolver as consequências das ações humanas no meio ambiente estão ligadas às seguintes questões levantadas pelos autores: (1) a complexidade dos ecossistemas envolvidos; (2) o deslocamento dos efeitos no tempo e no espaço; e (3) o crescimento rápido da interação homem-natureza sendo agora, em nível global (SPAARGAREN & MOL, 1992, p. 22 apud ARAÚJO, 2015). Em outra vertente, Santos (2006 apud ARAÚJO, 2015), entende que as soluções para a crise que afeta a sociedade, encontram-se na democratização dos conhecimentos e é reforçada pela “importância entre os diferentes saberes e práticas dos diversos coletivos. Os recursos naturais são conceitos culturais e históricos e, portanto, objetos das representações e domínios sociais, sobretudo, quando a ambientalização dos conflitos na sociedade moderna também são frutos de conceitos de modernização e progresso, cuja lógica é a distribuição desigual dos riscos que afeta a população alterando as percepções das questões ambientais, suas soluções e a forma de mediação sociocultural entre os diferentes grupos. Ou seja, a percepção ambiental está dialeticamente imbricada nos conflitos socioambientais, esta se coloca enquanto síntese entre apropriação de recursos naturais e conflitos. Ainda conforme Araújo (2015), os conflitos e os riscos ambientais trazem a emergência desse debate sobre o modelo de desenvolvimento que a sociedade pretende seguir. Visto que, os impactos desencadeados apresentam riscos ecológicos caracterizados como irresponsabilidade e irracionalidade dos processos exploratórios aos quais a industrialização submeteu à natureza, decorrente da configuração apresentada pela sociedade moderna com o distanciamento entre tempo e espaço. O pressuposto que a irresponsabilidade e irracionalidade estão vinculados ao pensamento monolítico de compreensão do mundo imposto pela sociedade moderna ocidental, reverte-se na crise ambiental e nos riscos ecológicos, na medida em que contrai o presente e amplia o futuro permite os mais altos processos de degradação ambiental, em função de um tempo linear mecânico e único de pensar o progresso e o mundo. Como o risco é enfrentado, administrado ou suportado de forma diferenciada pelos indivíduos, bem como cada política de gestão do risco o trata de forma a respeitar as demandas da população, as características físicas da área afetada, dos recursos financeiros para gerir determinado risco, entre outros elementos, os efeitos desencadeados pelo risco atingem de forma heterogênea a população e o meio ambiente (VEYRET, 2007 apud SILVEIRA et al, 2009). De acordo com Silveira et al (2009), nota-se que a definição de risco considera que este é entendido a partir de sua percepção pelos indivíduos que através de sua convivência com um determinado ambiente constroem suas ligações afetivas ou de medo com este, logo esta abordagem subjetiva do risco deve ser valorizada nas políticas de gestão do risco e zoneamento, pois a população que está submetida a um perigo em potencial pode contribuir com suas experiências e conhecimento da dinâmica da região para embasar esses programas e tornar suas políticas de mitigação mais eficazes e democráticas, pois levam em consideração asrelações que a comunidade estabelece com seu ambiente. Os riscos naturais são percebidos e suportados por um grupo social que está sujeito a ação de algum processo físico, de origem climática, geológica, geomorfológica ou biológica, porém o impacto que esses processos ocasionam a sociedade e a seu ambiente está relacionado com “las condiciones del grupo humano afectado que proporcionan mayor o menor peligrosidad a los distintos eventos” (GARCIA-TORNEL, 1984:5 apud SILVEIRA et al, 2009), ou seja a magnitude dos impactos está ligada a elementos que compõe a forma pela qual o homem se organiza espacialmente, como a densidade populacional da área afetada, infra-estrutura (bens e serviços), tipo de construção, impactos ambientais que podem agravar os impactos, etc. Segundo a geógrafa francesa Yvette Veyret “Existe uma “territorialização” do risco” (VEYRET, 2007:78 apud SILVEIRA et al, 2009). Como cada vez mais a população mundial vem ocupando os espaços urbanos, principalmente as áreas litorâneas, a cidade vem recebendo cada vez mais holofotes no que tange a identificação dos perigos de naturezas distintas (TUAN, 2005 apud SILVEIRA et al, 2009), em que um risco pode desencadear outros processos que atingem de forma heterogênea a população e seus bens, pois alguns grupos sociais encontram-se mais adaptados financeiramente, tecnologicamente e cientificamente a prevenção e gestão dos riscos naturais, fazendo com que sua capacidade de resiliência seja superior a dos grupos fragilizados e vulneráveis que não dispõem de informações confiáveis e recursos suficientes para prevenir sua população dos efeitos oriundos dos riscos naturais. As ações empreendidas pelo poder público com a colaboração de cientistas e técnicos visando identificar as zonas de risco, elaborar medidas preventivas e minimizar os impactos, costumam não apresentar uma correlação com os riscos identificados pela população, pois sua percepção deve ser encarada através da experiência do grupo social com a dinâmica do espaço geográfico analisado e também através de sua relação topofílica (afetiva) com seu local de moradia, que pode em alguns casos não identificar ameaça alguma devido à confiança que o homem deposita na natureza. O papel da população na gestão e prevenção de riscos é muito maior ao que se é exposto, principalmente pela abordagem objetiva do risco, que o identifica através de modelos matemáticos e séries estatísticas (MARANDOLA E HOGAN, 2004 apud SILVEIRA et al, 2009). O grupo que se sente exposto a algum perigo deve prontamente alertar os órgãos competentes, que devem juntamente com a população adotar uma metodologia que aborde a existência do risco através das interações sociais e na relação que o homem estabelece com o meio ambiente, sendo uma relação afetiva de confiança ou de insegurança (TUAN, 2005; VEYRET, 2007 apud SILVEIRA et al, 2009). 3 DIFERENTES ECOSSISTEMAS DENTRO DA BIOSFERA E SUAS CARACTERÍSTICAS Fonte: maestrovirtuale.com A ecologia objetiva compreender a importância de cada espécie na natureza e a necessidade de preservar os vários ambientes naturais que a Terra abriga. Porém, Barsano e Barbosa (2013 apud STEIN, 2018) descrevem que não são apenas a fauna e a flora que merecem cuidados, há outros fatores que devem ser observados visando ao equilíbrio da natureza, dentre eles o espaço físico, a temperatura, a localização, entre outros. A palavra biodiversidade (ou diversidade biológica) refere-se à riqueza e à variedade de seres vivos que são encontrados nos mais diferentes ambientes. As plantas, os animais e os micro-organismos fornecem alimentos, remédios e boa parte da matéria-prima industrial consumida pelo ser humano. As estruturas biológicas organizam-se de um modo hierárquico desde o nível de organização mais baixo até ao nível de organização mais elevado, ou seja, desde a célula até a biosfera. Os níveis mais elevados (acima do nível “população”) são frequentemente referidos como organização ecológica. De acordo com Odum e Barrett (2015 apud STEIN, 2018), uma das melhores formas de delimitar a ecologia moderna é por meio dos níveis de organização. Os níveis de organização biológica iniciam pela célula, a qual é definida como a unidade básica, estrutural e funcional da vida. É a menor unidade, nos níveis de organização biológica, que se classifica como ser vivo. Alguns seres vivos são constituídos por uma única célula (seres unicelulares – exemplo: bactérias, fungos, algas, entre outros) e outros são constituídos por conjuntos de células (seres multicelulares — exemplos: animais, plantas e o homem), conforme ressalta Nicolau (2017 apud STEIN, 2018). Conforme Stein (2018), os tecidos são formados pela união de células especializadas. Estes estão presentes em apenas alguns organismos multicelulares como as plantas e os animais. Quando organizados e juntos, os tecidos, por sua vez, formam os órgãos, os quais são formados por vários tipos de tecidos, por exemplo o coração, que é formado por tecidos muscular, sanguíneo e nervoso (nervos). Já os sistemas, por sua vez, são formados pela união de vários órgãos, os quais trabalham em conjunto para uma determinada função corporal, por exemplo o sistema digestório, que é formado por vários órgãos, como boca, estômago, intestinos, entre outros. Os organismos vivos podem ser associados de acordo com as espécies, que são conjuntos de indivíduos semelhantes, férteis entre si e que produzem descendentes também férteis; populações compreendem um conjunto de indivíduos da mesma espécie vivendo numa determinada região e num determinado tempo. Já a comunidade (ou também conhecida como biocenose ou biota) é o conjunto de todos os indivíduos de espécies diferentes que vivem em uma determinada área ou local. A biosfera é a camada do planeta Terra onde existe vida. Ela varia de 5 km a 18 km de espessura. Essa camada é comparativamente fina em relação ao diâmetro total do planeta, que tem aproximadamente 13.000 km. A biosfera refere-se ao conjunto de todos os ecossistemas da Terra, ou seja, a camada da Terra que contém seres vivos. Parcelas da biosfera de diferentes tamanhos podem ser considerados ecossistemas, desde que haja intercâmbio de matéria e de energia entre os elementos abióticos e bióticos. Dessa forma, pode-se considerar ecossistema uma pequena lagoa ou o oceano inteiro. A biosfera toda pode ser vista como um grande ecossistema. Embora a distribuição dos organismos no planeta não seja homogênea, pois depende de fatores abióticos que variam de região para região, em linhas gerais, os limites da biosfera podem ser definidos com base nos regimes extremos de ocorrência de seres vivos: cerca de 7 mil metros de altitude, onde voam algumas aves migratórias, e por volta de 11 mil metros de profundidade nos oceanos, onde se encontram bactérias e alguns animais (LOPES, 2006 apud STEIN, 2018). É comum encontrar a expressão comunidade biótica, que se refere ao conjunto de organismos de espécies diferentes que convivem numa mesma área, mantendo entre si um relacionamento que pode ser harmônico entre uns e desarmônicos entre outros. Especificamente falando de ecossistemas, este foi proposto pela primeira vez em 1935, pelo ecólogo britânico Sir Arthur G. Tansley (ODUM; BARRETT, 2015 apud STEIN, 2018). O ecossistema é a primeira unidade na hierarquia ecológica que é completa, ou seja, o ecossistema tem todos os componentes (biológicos e físicos) necessários para sua sobrevivência. Consequentemente, é a unidade básica ao redor da qual se pode organizar teoria e prática em ecologia. Os fatores que atuam sobre o ecossistema são denominados fatores abióticos, que são os componentes não vivos, como temperatura, umidade, solo, água, etc., e fatores bióticos, ou componentes biológicos, como animais, plantas e outros. Os componentes bióticos caracterizam-se por comunidadescompostas por populações de diferentes espécies. Uma comunidade está intimamente associada com o meio abiótico que a cerca, existindo inter-relações entre ambos. Tal conjunto recebe o nome de ecossistema. Os ecossistemas são compostos por plantas e animais de várias regiões da Terra, que possuem características próprias, sejam terrestres ou aquáticas. Podemos reconhecer ecossistemas como unidades biológicas, pois são formados por plantas relacionadas aos animais, formando uma comunidade climática chamada bioma. Ainda conforme Stein (2018), os ecossistemas são classificados basicamente em dois tipos: ecossistemas aquáticos e ecossistemas terrestres. Estes são muito semelhantes entre si, porém, a diferença básica é a presença ou não de água, o que faz com que abriguem formas de vidas diferentes, embora algumas espécies possam migrar de um ecossistema a outro. O ecossistema aquático tem duas subdivisões: a) Ecossistema marinho: esse ecossistema abrange os mares e os oceanos e todos os seres vivos que vivem em águas salgadas. É mais estável que o ecossistema terrestre e de água doce, já que a salinidade não sofre muitas alterações, ficando quase sempre em torno de 3,5% e as temperaturas das correntes marinhas variam pouco. A luz solar penetra até 200 metros de profundidade. Essa estabilidade favorece a vida nesse hábitat marinho. b) Ecossistema de água doce: é muito importante para a manutenção de muitos seres vivos, já que muitos animais e plantas dependem do curso dos rios para sobreviver. Nos rios vivem muitos anfíbios, peixes e uma grande variedade de animais invertebrados aquáticos. Em relação aos ecossistemas terrestres, estes são divididos em diferentes biomas. A distribuição dos biomas terrestres e seus tipos de vegetação e fauna estão estreitamente ligados ao clima, uma vez que são as diferentes condições de temperatura e incidência de luz solar nas várias regiões do planeta que facilitam ou impedem a existência de qualquer tipo de vida. Desse modo, praticamente, a cada clima corresponde um bioma, marcado por uma determinada composição faunística (STEIN, 2018). Em um mesmo bioma, pode-se encontrar vários ecossistemas. Na opnião de Stein (2018), alguns dos principais biomas terrestres encontrados são: Montanhas: nas grandes altitudes (acima de 3.000 metros), as montanhas não apresentam vegetação. A cobertura vegetal, que alcança de 2.500 a 3.000 metros, é composta de plantas orófilas (que apresentam uma vegetação rasteira); os campos alpinos, com cerca de 200 espécies, se adaptaram às baixas temperaturas e à seca. Esse bioma aparece nas grandes cadeias montanhosas, como os Andes, as montanhas rochosas, os Alpes, entre outros. Florestas: podem ser divididas em quatros subgrupos: florestas tropicais, florestas temperadas, florestas coníferas e savanas. Todos esses tipos apresentam uma grande população de árvores e níveis médios a altos de chuvas. Todas são habitadas por uma grande diversidade de animais e podem ter um clima úmido ou seco. As florestas tropicais, por exemplo, têm um clima quente e com muita chuva, enquanto as florestas temperadas têm as quatro estações do ano bem definidas e a intensidade de chuvas é moderada. Pradarias: caracterizado por apresentar uma vegetação herbácea (rasteira), recebendo o nome de pradaria na América do Norte e de pampas na América do Sul (Brasil e Argentina), onde o clima é mais úmido. Estepe: esse bioma é seco, frio e com vegetação rasteira. Geralmente, as estepes estão na faixa de transição entre o deserto e a floresta, longe da influência marítima e perto de barreiras montanhosas. São encontradas principalmente nos EUA, na Mongólia, na Sibéria, no Tibete e na China (STEIN, 2018). Desertos: as temperaturas do deserto apresentam grandes amplitudes térmicas, podendo atingir 50 °C durante o dia e cair para -1 °C à noite. São ecossistemas que não têm muitos habitantes e recebem menos de 25 cm de chuva durante todo ano, tornando- se o lar para plantas capazes de sobreviver nesse tipo de ambiente. Cactos são bastante encontrados nos desertos, porque são capazes de armazenar água. Os solos são sempre muito pobres, pedregosos ou arenosos Tundras: formada há cerca de 10 mil anos, a tundra é o bioma mais jovem da Terra. Sua área de ocorrência é a região próxima ao oceano Glacial Ártico: Alasca, norte do Canadá, Groelândia, norte da Rússia e norte da Escandinávia. A tundra tem ecossistemas cuja composição botânica é influenciada pelas condições dos solos e do clima. O solo fica congelado a maior parte do ano e a estação mais quente dura mais ou menos 60 dias, sendo que a temperatura mais alta não ultrapassa 10 °C. Esse é o bioma mais frio do mundo, e é basicamente um deserto gelado, pois apresenta pouca precipitação durante o ano. Savana: são formações típicas de regiões de clima tropical, com uma estação chuvosa e outra seca. Localizam-se entre o bioma da floresta tropical e o dos desertos. Existem vários tipos diferentes de savanas, sendo que as mais conhecidas são as africanas. Esse tipo de bioma apresenta dois “andares” de vegetação tropófila: um mais alto, formado por árvores, e outro mais baixo, composto de gramíneas (STEIN, 2018). O maior ecossistema do planeta é a própria biosfera, tomada em sua totalidade. A principal relação entre as diferentes populações de um ecossistema refere-se às relações de consumo. As espécies dentro de um ecossistema, com exceção dos vegetais são consumidoras de outras. Na grande maioria das bibliografias, encontra-se a expressão nicho ecológico relacionada aos ecossistemas. O nicho ecológico é o modo particular pelo qual as espécies se adaptam ao meio ambiente. Ou, em outras palavras, pode-se dizer que nicho ecológico é o papel que a espécie exerce, como se fosse a sua “profissão”. A adaptação das espécies está relacionada com: Tipos e modo de alimentação. Tipo de reprodução. Tipo de abrigo. Porém, precisamos prestar atenção em alguns critérios, sendo estes: Quando dois organismos ocupam o mesmo nicho ecológico, isto é, fazem a mesma coisa no mesmo lugar, significa dizer que existe uma relação de competição entre eles. Dois organismos nunca competem por muito tempo, um dos competidores acaba por ser extinto ou migra para outras regiões, assim, caso duas espécies convivam, é sinal de que não competem, isto é, apresentam nichos ecológicos diferentes. O fato de dois organismos ocuparem o mesmo hábitat não os obriga a ter o mesmo nicho ecológico (morar no mesmo lugar não obriga a fazer a mesma coisa) (STEIN, 2018). 4 ECOSSISTEMA COSTEIRO Fonte: tripadvisor.com Essa visão de ecossistema é tradicional e limitada, pois delimita o ecossistema à unidade ecológica que ocupa dentro de um espaço determinado, mas os estudos posteriores indicam que a distribuição espacial dos seres que compõem o ecossistema pode ser bastante ampla e ultrapassar os limites espaciais dados pela visão tradicional (O’NEILL, 2001 apud COUTINHO et al., 2011 apud MACIEL, 2019). Ecossistema é um dos mais importantes conceitos das ciências biológicas, pois tem a função heurística de tornar a grande complexidade própria deste nível de organização ecológica tratável”. Isso quer dizer que a palavra “ecossistema” é uma forma de organização didática dos complexos processos e propriedades existentes no meio natural, sem a qual o estudo desse meio estaria comprometido (COUTINHO et al, 2011 apud MACIEL, 2019) Apesar de limitar os ecossistemas a locais específicos, essa definição exprime a ideia de interação entre componentes dentro e fora desses limites, sugerindo, modestamente, a dispersão ampla e a instabilidade que são marcas da visão contemporânea. Nesse sentido, recorda-se do maior ambiente existente na Terra como um macrossistema no qual existem diferentes ecossistemas em relação entre si e cujos limitesfísicos são ainda mais frágeis: os oceanos. Para Maciel (2019), o planeta Terra é ocupado, em sua maior parte, por água em estado líquido, e 71% do globo terrestre é encoberto por oceanos. Por conseguinte, os ecossistemas formados nesses lugares são os mais grandiosos e ricos em biodiversidade, da qual boa parte ainda é desconhecida do homem, o que desperta a curiosidade e o interesse por pesquisá-los. Além desse interesse, a necessidade de estudos aprofundados e constantes sobre a vida marinha fez surgir um ramo específico da Biologia voltado exclusivamente ao estudo desses seres e que envolve desde teorias até pesquisas científicas. Esse ramo denomina-se “Biologia Marinha”. A Biologia Marinha, segundo Castro e Huber (2012 apud MACIEL, 2019), tem como uma das motivações o fato de a vida na Terra ter sua origem no mar, de modo que os organismos que lá vivem possuem grande potencial para explicar e complementar as descobertas sobre a vida no planeta. Além disso, “os oceanos constituem o maior repositório de organismos do planeta uma vez que existe vida em maior ou menor abundância em todos os domínios do meio marinho” (RÉ, 2000, p.7 apud MACIEL, 2019). Tais organismos representam uma grande fonte de alimentação e de medicamentos para os seres humanos, como também o seu habitat é um importante local de recreação em todo o mundo. São os fatores bióticos que constituem o ecossistema marinho. Na Biologia Marinha, apesar de o foco ser os seres vivos que habitam o ambiente marinho, as características ecológicas são consideradas, visto que os fatores bióticos estão em constante correspondência com fatores abióticos (NEVES JR., 2007 apud MACIEL, 2019). Dos quais os que representam o ponto de partida são as características físicas e química da água, determinadas pela salinidade, e a geologia do solo, que é distinta dos continentes e afeta tanto a vida nos oceanos quanto a geologia das terras fora deles (CASTRO; HUBER, 2012 apud MACIEL, 2019). Os fatores abióticos, também chamados de ambientais por constituírem os recursos presentes no ambiente natural que influenciam os seres vivos que ali residem, “são os principais responsáveis pela explicação da distribuição e manutenção das espécies de peixes, refletindo a interação entre as variáveis ambientais e características adaptativas dos indivíduos de uma dada espécie (BAYLEY; LI, 1992 apud COSTA, 2010, p.14 apud MACIEL, 2019). O equilíbrio entre essas substâncias e a sua ausência, bem como a presença de outras estranhas ao ecossistema, colocam em risco a vida dos seres que vivem naquela determina porção aquática, gerando diferentes impactos em seus organismos e no seu estilo de vida. As características físicas e químicas do ambiente marinho são vitais para os organismos que o habitam e, quando alteradas por forças externas, como as mudanças climáticas decorrentes da ação do homem sobre o meio ambiente, modificam profundamente os ecossistemas marinhos. Quando não conseguem controlar a natureza química e física do ambiente, a esses organismos resta aceitar e se adaptar às mudanças, do contrário terão que procurar outro lugar para viver (CASTRO; HUBER, 2012 apud MACIEL, 2019). Sobre a geologia do solo, Castro e Huber (2012 apud MACIEL, 2019) ensinam que o fundo dos oceanos é estruturado em um ciclo contínuo de surgimento e destruição que forma os oceanos e determina a geologia dos continentes, e isso acontece muito lentamente, em centenas de milhões de anos, o que dá ideia da grandiosidade desse ambiente e da sua importância para o passado, o presente e o futuro do planeta e de quem nele vive. [...] no dia a dia e ao longo das eras, os processos geológicos influenciaram profundamente o habitat marinho – o meio ambiente no qual vivem os organismos do mar. Os processos geológicos esculpem as linhas da costa; determinam a profundidade da água; controlam se o fundo será lamoso, arenoso ou rochoso; e determinam a natureza dos habitats marinhos de inúmeras maneiras. De fato, grande parte da história da vida nos oceanos foi determinada por eventos geológicos (Castro e Huber, 2012, p.18 apud MACIEL 2019). É assim que fatores bióticos e abióticos são interligados, pois uns influenciam os outros, e formam os ecossistemas marinhos, que incluem marés, correntes, nutrientes presentes na água e características físicas e químicas. Sabendo-se dessa profunda correlação, cada vez mais existe a preocupação com a manutenção do equilíbrio entre esses elementos, ameaçado pelas mudanças climáticas ocasionadas pelo aquecimento global e pela grande quantidade de material inorgânico estranho ao ambiente marinho, os lixos que são jogados nos oceanos e nas zonas costeiras. Essa preocupação somente existe por força da maneira como o ser humano está tratando o planeta, que é influenciada diretamente pela forma como o vê e pela desproporcionalidade existente entre a preocupação de alguns e a ação prejudicial de muitos (MACIEL, 2019). No dizer do Ministério Público Federal (2009), as tipologias da Zona Costeira são: − Manguezal; − Restinga e Dunas; − Faixa de praia; − Promontórios e Costões; − Recifes, parcéis, bancos de algas e Pradarias de Fanerógamas; − Ilhas costeiras e oceânicas; − Complexos estuarinos. MANGUEZAL Para o Ministério Público Federal (2009), os manguezais são áreas de transição entre os ambientes marinhos e terrestres. Localizam-se em locais tipicamente alagados, influenciados pelas marés de água salgada, configurando-se como importantes berçários de diversas espécies da fauna. Face à sua enorme biodiversidade, os manguezais são responsáveis pela manutenção das comunidades pesqueiras que vivem ao seu redor, sendo essa uma das razões que tornam imprescindível a sua preservação. As condições topográficas para o surgimento do mangue correspondem às áreas identificadas como enseadas, estuários e lagunas e por muitas vezes avançam pelas margens de rios até onde alcança a salinidade. O solo dos mangues é lodoso, negro e profundo, podendo estar continuamente inundado ou apenas na preamar. Nesse solo é formado um húmus alcalino que o torna ativo em processos de fermentação. Adaptados a esse solo crescem as espécies vegetais cujos mecanismos fisiológicos condicionam a vida de outros organismos. As raízes adventícias e respiratórias das árvores ou arbustos dos manguezais, formam um emaranhado que serve como abrigo a uma fauna toda própria (MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, 2009). Em função destas características, o mangue é considerado como um sistema exportador de matéria orgânica e nutrientes, contribuindo sobremaneira na produtividade dos estuários. Daí a expressão popular que denomina o mangue como um “berçário da vida”. Mas os manguezais também possuem outras funções, tal como a de evitar ou mitigar efeitos de inundações, haja vista que o mangue funciona como uma espécie de esponja que absorve as águas da chuva. A vegetação típica do manguezal é a restinga – com espécies e fisionomias próprias, adaptadas a esse particular ecossistema -, denominada “restinga estabilizadora de mangue”. RESTINGA E DUNAS Restinga: Entende-se por restinga um conjunto de ecossistemas que compreende comunidades vegetais florísticas e fisionomicamente distintas, situadas em terrenos predominantemente arenosos, de origens marinha, fluvial, lagunar, eólica ou combinações destas, de idade quaternária, em geral com solos pouco desenvolvidos. As comunidades vegetais denominadas de restinga formam um complexo vegetacional edáfico e pioneiro, que depende mais da natureza do solo que do clima, encontrandose em praias, cordões arenosos, dunas e depressões associadas, planícies e terraços (Resolução CONAMA 261/99 apud MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, 2009). A restinga compreende formações vegetais originalmente herbáceas, subarbustivas, arbustivas ou arbóreas, que podem ocorrer em mosaicos etambém possuir áreas ainda naturalmente desprovidas de vegetação; tais formações podem ter-se mantido primárias ou passado a secundárias, como resultado de processos naturais ou de intervenções humanas (Resolução CONAMA 261/99 apud MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, 2009). O ecossistema (ambiente) de restinga inclui espécies de flora típicas e imprescindíveis para a preservação de uma grande variedade de fauna (alta biodiversidade), normalmente incluindo espécies em risco de extinção e/ou endêmicas, características que são bastante comuns em se tratando do bioma mata atlântica e de seus ecossistemas associados. Também por essa razão é imprescindível que sejam exigidos estudos prévios de impactos ambientais para o licenciamento de empreendimentos nas áreas de influência das restingas e que sejam incluídos, nos termos de referência que nortearão a realização de tais estudos, inventários florestais e levantamento exaustivo da fauna. Dunas: As dunas são unidades geomorfológicas de constituição predominante arenosa, com aparência de cômoro ou colina, produzida pela ação dos ventos, situada no litoral ou no interior do continente, podendo estar recoberta, ou não, por vegetação (Resolução CONAMA 303/2002 apud MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, 2009). Em função da fragilidade dos ambientes de restinga litorânea, as dunas exercem papel fundamental para a prevenção de inundações, para impedir a intrusão salina no lençol freático e nos aquíferos (cordões dunários são depósitos importantes de água potável), para proteger a faixa de praia contra os processos de erosão costeira, para proteger as terras interiores contra os efeitos das tempestades, para promover a reciclagem de nutrientes e de substâncias poluidoras (SANTOS, 2001 apud MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, 2009). A vegetação de ambientes rochosos associados à restinga, tais como costões e afloramentos, quando composta por espécies também encontradas nos demais locais de restinga, também assim será considerada, para efeito de proteção legal. Legalmente as dunas móveis são conceituadas como corpos de areia acumulados naturalmente pelo vento, os quais, devido à inexistência ou escassez de vegetação, migram continuamente. São também denominadas dunas livres, dunas ativas ou dunas transgressivas. As dunas são muito importantes na dinâmica do litoral, pois aportam areia às praias (ajudando a fixar essa faixa de uso comum e a impedir a erosão costeira que pode suprimi-la) e servem de barreira natural contra o avanço do mar. Quando ocorrem tempestades, as ondas podem atingir e retirar areia das dunas levando-a para o mar, assim formando um “banco de areia”, o qual também é importante na contenção da ação das próprias ondas. Passada a ação da tempestade a areia será novamente depositada na praia, vindo a reconstruir as dunas que serviram de barreira natural contra a ação dos ventos e da salinidade oriundos do mar (CLAYTON, 1993 apud SCHERER, 2001 apud MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, 2009). FAIXA DE PRAIA Praias são feições deposicionais no contato entre terra emersa e água, comumente constituídas por sedimentos arenosos, podendo também ser formadas por seixos e por sedimentos lamosos. Nesse último caso, a praia frequentemente se encontra associada a uma planície de maré. Sua declividade da terra ao mar varia segundo a natureza dos materiais dominantes: maior nas praias de seixos rolados e menor em sedimentos arenosos finos. As praias constituem forte atração para o lazer, com significativas implicações econômicas em atividades associadas ao turismo e a esportes náuticos. Formam, ainda, importante elemento paisagístico cuja estética e balneabilidade precisam ser preservadas. Sob o ponto de vista biológico, as comunidades bentônicas que habitam a praia representam significativo elo na cadeia alimentar (PROJETO ORLA, 2004 apud MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, 2009). Já no aspecto morfodinâmico, a praia se estende da porção subaérea, acima definida, para a zona submersa, constituindo, em conjunto, prisma sedimentar que se eleva em direção à costa e onde os sedimentos, mobilizados principalmente pelas ondas, se deslocam num vaivém em constante busca de equilíbrio. Ainda sobre o ambiente de praia importa destacar que parte do estoque sedimentar das dunas é frequentemente reincorporado aos sedimentos submarinos por ocasião de tempestades, desempenhando importante papel de reequilíbrio do perfil praial e submarino. PROMONTÓRIOS E COSTÕES Costão rochoso é o nome dado ao ambiente costeiro formado por rochas situado na transição entre os meios terrestre e aquático. A maioria dos organismos que o habitam estão relacionados ao mar. O ecossistema costão rochoso pode ser muito complexo e, normalmente, quanto maior a complexidade maior a diversidade de organismos em um determinado ambiente. Para melhor entender tal relação, pode-se tomar como modelos dois tipos de costão, um costão exposto e um costão protegido (MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, 2009). Costão Exposto: Costões mais expostos (batidos) são aqueles que recebem maior impacto de ondas, são pouco fragmentados, frequentemente apresentando-se na forma de paredões lisos. Por isso, apresentam uma diversidade de habitats muito menor que os costões menos expostos às ondas. Costão Protegido: O costão protegido localiza-se em regiões de baixo hidrodinamismo, ou seja, locais onde o embate de ondas é suave. É bastante fragmentado, dificultando a formação de zonas muito definidas. Apresenta alto nível de complexidade, resultando em grande riqueza de espécies associadas. Organismos maiores que os de costão exposto conseguem viver ali. Se o baixo hidrodinamismo colabora com a fixação e estabelecimento de organismos, a sua desvantagem está no baixo fluxo de nutrientes, que limitam principalmente o crescimento dos vegetais. Os costões rochosos comportam uma rica e complexa comunidade biológica. O substrato duro favorece a fixação de larvas de diversas espécies de invertebrados, sendo comum a ocupação do espaço por faixas densas de espécies fixas. Nesses locais, a variação das condições ambientais se verifica numa escala espacial incomparavelmente menor que nos sistemas terrestres, justificando os bem definidos limites das populações que produzem o aspecto zonado das comunidades aí instaladas. Ainda conforme o Ministério Público Federal (2009), os ecossistemas de costões rochosos são importantes áreas de alimentação para muitas espécies marinhas, sendo também utilizados como refúgio para tantas outras, como, por exemplo, para as aves marinhas. Dos costões a população costeira também costuma retirar alimento, principalmente moluscos, não sendo raro que tais formações contenham sítios arqueológicos (especialmente inscrições rupestres). Promontório ou Pontão Rochoso Promontório: é rochoso alto e de encostas abruptas que avança mar adentro é uma porção saliente e alta de qualquer área continental, que avança para dentro de um corpo aquoso (SUGUIO, 1992 apud MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, 2009). Importante lembrar que a legislação – especialmente a Lei 7661/88 – mesmo citando os termos “promontórios” e “costões”, expressamente dispõe sobre proteção especial a ambos, tratando-os como uma mesma forma de acidente geográfico de importância especial para a Zona Costeira. RECIFES, PARCÉIS, BANCOS DE ALGAS E PRADARIAS DE FANERÓGAMAS Recifes: Os recifes, sejam de corais ou não, formam importantes habitats para diversas espécies marinhas. Nesses locais a fauna marinha encontra abundância de alimento e proteção contra predadores. Os recifes de corais são ainda mais importantes, por se tratarem de estruturas vivas que levam muito tempo para se formarem. Ocorrem preferencialmente em águas claras, limpas e quentes, com um mínimo de 21°C, sendo considerados um dos ecossistemas mais produtivos do mundo (CLARK, 1998; BRAATZ, 1992; SNEDAKER & GETTER, 1985apud SCHERER, 2001 apud MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, 2009). Suas espécies possuem alto nível de endemismo. Um terço das costas tropicais possuem recifes de corais, sendo que 40% deles estão nas regiões de plataforma continental tropical do Pacífico oeste, Oceano Índico e Atlântico oeste. De acordo com Ministério Público Federal (2009), os recifes de coral são ecossistemas baseados na simbiose de alga/animal. Essa simbiose permite a fotossíntese, produzindo alimento próprio. Há uma grande quantidade de formas marinhas associadas aos recifes de corais, formando um ecossistema de biodiversidade e produtividade altas. Esses ecossistemas também são importantes como barreiras contra a ação das ondas sobre a linha de costa, proporcionando maior estabilidade a outros ecossistemas como mangues, marismas e praias de areia. Participam também no balanço químico dos oceanos, trabalhando na fixação de cálcio. Lajes e parcéis: As lajes e parcéis são constituídas de rochas ou corais que se destacam do fundo do mar, formando estruturas de recifes. Quando estes recifes encontram-se a poucos metros abaixo da superfície, é denominada de 'parcel', e quando aflora na superfície é denominada laje. Os parcéis abrigam fauna e flora marinhas adaptadas à vida em substratos consolidados. Assim, as plantas (como algas) e animais (peixes, crustáceos, moluscos, etc) que habitam os parceis são característicos e tiveram a sua evolução derivada da existência desses ambientes (endemismo). Os parceis são, portanto, importantíssimos do ponto de vista ecológico. A alta complexidade estrutural da maioria dos parceis e lajes oferece abrigo para peixes ameaçados como o grande Mero, ou peixes vulneráveis à sobrepesca, como as garoupas e os badejos. Para alguns peixes, os parcéis funcionam como pontos de referência para a reprodução de toda uma população. Conforme Ministério Público Federal (2009), estes pontos de reprodução são atualmente alvo de trabalho do ICMBio em todo o país, podendo e devendo ser o órgão consultado quando da análise de procedimentos (licenciamentos) em zonas de influência desse tipo de elemento da zona costeira. Os parcéis são também importantes para espécies como as lagostas (que utilizam a área como abrigo), estrelas do mar, ouriços, e para peixes chamados 'recifais' (muitos infelizmente presentes nas listas de espécies ameaçadas de extinção). Seu desaparecimento - o que é frequente para a construção e ampliação de equipamentos portuários – representa uma perda irreparável que deve ser no mínimo mitigada e compensada através de medidas científicas concretas, quando não for possível ser evitada. Para tanto, destaca-se a importância de se conhecer e cuidar dos parcéis, bem como de exigir estudos e medidas especiais sobre os mesmos nos licenciamentos ambientais. Como são áreas de alta concentração de vida marinha, os parcéis e lajes normalmente constituem importantes pesqueiros (MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, 2009). Banco de Algas: Os bancos de algas são normalmente extensas áreas do leito marinho de zonas de clima temperado. As partes aéreas desses algas podem espalhar- se pela superfície do mar podendo até mesmo reduzir a luminosidade da coluna da água, como indica a literatura científica. São considerados ecossistemas muito produtivos e excelentes fontes de alimento para as espécies marinhas, que encontram nos bancos de algas o abrigo e o refúgio que não possuem em mar aberto. Além disso, esse ecossistema ajuda na retenção de poluentes e minimiza os impactos das ondas e marés na linha de costa. Em algumas partes do mundo as algas são importantes economicamente como alimento, como, por exemplo, na Ásia e nos Estados Unidos da América (extração da proteína alginate, utilizada na indústria mundial de alimentos). - Pradarias de Fanerógamas As pradarias de fanerógamas (sea grass) são bancos submersos de plantas superiores que produzem flores e sementes e que vivem em ambientes marinhos e estuarinos rasos de áreas tropicais e temperadas (CLARK, 1998 apud SCHERER, 2001 apud MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, 2009). Esse ecossistema é importante como berçário para uma grande variedade de espécies de peixes, moluscos e crustáceos, como refúgio, fonte de alimentação, como amortizadores da força da ondas e na manutenção da linha de costa pela fixação do sedimento com a ajuda de suas raízes. ILHAS COSTEIRAS E OCEÂNICAS Para Ministério Público Federal (2009), as ilhas marítimas dividem-se em dois grupos: costeiras e oceânicas. Ilhas Costeiras: As costeiras estão próximas ao litoral e encontram-se apoiadas na parte do relevo do continente que avança para o mar. Algumas ilhas costeiras muito conhecidas abrigam capitais de estado como São Luís (MA), Vitória (ES) e a ilha de Santa Catarina, onde se situa a capital Florianópolis. Outras ilhas destacam-se pela forte exploração do turismo, como Itaparica na Bahia, Ilha Grande no Rio de Janeiro, e São Sebastião, em São Paulo. Há ainda ilhas costeiras que se destacam pela importância ecológica, como o arquipélago de Abrolhos, distante aproximadamente 70 km da costa brasileira na região sul do Estado da Bahia e composto por um grupo de recifes de corais e de ilhas vulcânicas (criado em 6 de abril de 1983, o Parque Nacional Marinho dos Abrolhos foi o primeiro parque marinho do Brasil) (MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, 2009). Ilhas Oceânicas: As ilhas oceânicas são aquelas distantes do litoral; são ilhas que estão apoiadas no fundo do oceano. As principais ilhas oceânicas brasileiras são os arquipélagos de Fernando de Noronha, o atol das Rocas, os penedos de São Pedro e São Paulo, as ilhas de Trindade e Martim Vaz. O arquipélago de Fernando de Noronha, formado por 19 ilhas de origem vulcânica e uma área de 18,4 km² , foi anexado ao estado de Pernambuco em 1988 e apenas a maior das ilhas, Fernando de Noronha (16,2 km² ), é habitada. Para garantir sua preservação, foi transformado em parque nacional marinho. A entrada de visitantes é limitada e é cobrada uma taxa de preservação ambiental. As ilhas de Trindade e Martim Vaz estão a 1.100 km do litoral do Espírito Santo e sua área é de apenas 10,7 km² . O Ministério Público Federal (2009), conceitua essas ilhas são usadas como base da Marinha e áreas de observações meteorológicas, não ocorrendo ocupação humana. São as ilhas mais distantes da costa. O atol das Rocas é uma afloração vulcânica coberta de corais; sua superfície é de 7,2 km² e está distante 250 km do continente e 150 km de Fernando de Noronha. O acesso é difícil devido aos recifes. Foi a primeira reserva biológica do país, criada em 1979. Os penedos de São Pedro e São Paulo são rochas que afloram a 900 km a nordeste do litoral do Rio Grande do Norte. São áreas pequenas e desprovidas de vegetação, cercadas por perigosos recifes. Apesar de contar com uma biodiversidade menor do que as áreas continentais, as ilhas oceânicas são áreas críticas para a preservação, pois possuem inúmeras espécies que não existem em nenhum outro lugar. COMPLEXOS ESTUARINOS São corpos “semi-fechados de água costeira, os quais têm conexão constante com o mar aberto e água doce derivada da drenagem terrestre” (PRITCHARD apud UNDERWOOD & CHAPMAN, 1995 apud SCHERER, 2001 apud MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, 2009). Definição semelhante encontra-se no Dictionary of Earth Sciences, citado em SORENSEN2 (1993) ou na citação encontrada em SNEDAKER & GETTER (1985 apud SCHERER, 2001 apud MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, 2009): “estuário é um corpo de água semi-fechado o qual tem conexão direta com a água do mar, ocasionando a diluição da água salgada nas áreas marinhas adjacentes”. Ou seja, são áreas onde as águas doces dos rios (salinidade de aproximadamente partes por mil) provenientes da terra se encontram com a água salgada do mar (salinidade de 33 a 38 partes por mil). Nesses ambientes, a água doce e os sedimentosque ela carrega entram no mar nas marés baixas e a água salgada do mar pode se fazer sentir bem ao interior quando entra no estuário nas marés cheias. Quando a água doce se encontra com a salgada, as argilas e limos sedimentam no fundo, proporcionando nutrientes que mantêm grande populações de algas e plâncton, os quais, por sua vez, alimentam moluscos, crustáceos e peixes. Nesses ambientes o material oriundo da drenagem terrestre também tende a acumular-se formando bancos de areia nas laterais, propícios ao surgimento de formações vegetais como os mangues e espécies de banhado salgado. É um ambiente onde as interações de espécies de fauna e flora da água doce, terrestres e marinhas, ocorrem com muita força, daí sua importância para procriação, refúgio e alimentação de espécies marinhas, sendo utilizados para a pesca, recreação e turismo (MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, 2009). 5 ESTRUTURA, FUNCIONAMENTO E MANEJO DE ECOSSISTEMAS COSTEIROS Como caracteriza Lobler (2019), os processos formadores de encostas são responsáveis por moldar o relevo e, consequentemente, a paisagem de uma região. Esses processos agem em conjunto, cada um cumprindo o seu papel, são lentos e necessitam de milhares de anos para serem percebidos. Contudo, o homem ainda é um dos maiores responsáveis por modificações no relevo e na paisagem, uma vez que ele está inserido nesse meio e o usa de acordo com a sua conveniência. As regiões costeiras podem ser entendidas como amplas extensões da superfície terrestre onde terra e rios se encontram com o mar. As paisagens das linhas de encostas (faixas de terra próximas ao mar) apresentam formações únicas, que variam de penhascos rochosos a áreas extensas de areia (faixa de praia) (GROTZINGER; JORDAN, 2013 apud LOBLER, 2019). A zona costeira está regulamentada e definida pela Lei nº. 7.661/88, que instituiu o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro (PNGC), o qual diz que a mesma corresponde à área de abrangência dos efeitos naturais resultantes das interações terra/ar/mar, considerando a paisagem físico-ambiental, em função das feições topográficas situadas ao longo do litoral, como ilhas, estuários e baías (BRASIL, 1988 apud LOBLER, 2019). A zona costeira comporta-se em sua integridade nos processos e interações característicos das unidades ecossistêmicas litorâneas e inclui as atividades socioeconômicas que aí se estabelece. As faixas de praias, ou linha praial, correspondem à área litorânea onde as correntes, correntezas e maré causam influência sobre o ambiente terrestre. Lobler (2019), alega que elas podem ser classificadas em: zona de berma — ambiente localizado na pós-praia que consiste no resultado da deposição efetuada pelas ondas no limite da zona de espraiamento, constituindo elevações planas com mergulho abrupto. Essa dinâmica permite o aparecimento de escarpas praiais, o que acarreta em uma maior inclinação da praia; zona de estirâncio ou zona intertidal — corresponde à parte da faixa de praia que fica exposta em maré baixa e submersa em maré alta; zona de antepraia — é aquela permanentemente coberta pelas águas, ficando exposta apenas em marés de amplitude elevada; zona de pós-praia — estende-se a partir da linha de maré alta até o contato com o campo de dunas. Essas zonas são, esporadicamente, inundadas pelas marés de maiores amplitudes (MORAIS, 1996 apud LOBLER, 2019). Os ambientes costeiros são muito dinâmicos. Neles, convergem processos terrestres, oceânicos e atmosféricos que alteram constantemente suas características. Dessa forma, mudanças significativas nas paisagens costeiras podem ocorrer em períodos de dias, meses ou anos (ANGULO, 2004 apud LOBLER, 2019). As dinâmicas de encostas em áreas costeiras diferenciam-se das demais (fluvial, pluvial, eólica, etc.), e seu resultado pode ser observado em intervalos de tempo menores. Quanto à modificação do relevo, as maiores forças geológicas que operam na linha de costa (linha que intercepta a costa, onde a água encontra a terra) são as correntes oceânicas, criadas pelas ondas e marés. Essas correntes possuem força para erodir até rochas com maior resistência, ou seja, que apresentam maior coesão entre as suas partículas. Além da função de erosão, as correntes também possuem grande capacidade de transporte de sedimentos, os quais também são produzidos devido à sua ocorrência, depositando-os em praias e águas próximas (GROTZINGER; JORDAN, 2013 apud LOBLER, 2019). A geomorfologia dos ambientes costeiros possui relevos com características próprias de litoral em relação ao tipo e à forma de deposição de sedimentos. A seguir, estão listadas as divisões dos ambientes costeiros (SILVA et al., 2013 apud LOBLER, 2019). Restingas: são faixas estreitas de areia, posicionadas paralelamente à linha de costa, que apresentam conjuntos de comunidades vegetais distribuídas em mosaico e formações definidas conforme as diferenças geomorfológicas e climáticas existentes. Marismas: são ambientes costeiros planos, de baixa energia, salobros e de águas rasas que se desenvolvem na região de entremarés, em estuários e lagunas, nos lugares mais frios do continente. Essas áreas permanecem parcialmente inundadas durante as pré-marés (maré alta), e caracterizam-se por cobertura vegetal herbácea de influência fluviomarinha. Falésias: são feições formadas por processos erosivos relacionados a oscilações do nível relativo do mar e a intempéries climáticas ao longo do tempo (LOBLER, 2019). Praias: constituem depósitos de areais acumulados pelos agentes de transporte fluvial ou marinho, apresentando uma largura variável em função da maré e da topografia local. Os sedimentos transportados pelas correntes marinhas tendem a se depositar em áreas onde a subsidência rebaixa a crosta ao longo de uma linha de costas (considera- se subsidência o movimento de uma superfície para baixo, relativo a um nível de referência, que pode ser o nível do mar, ocasionado pela atividade tectônica). Esses locais são caracterizados por praias longas e por amplas planícies costeiras ricas em sedimentos. Um exemplo de área com essas características é a praia do Cassino, localizada no município de Rio Grande, litoral do Estado do Rio Grande do Sul, que possui a maior extensão de praia com areia do mundo, com cerca de 220 km. Dunas costeiras: constituem ambientes formados a partir da interação entre sedimentos de origem marinha e processos físicos, como o vento, que transporta esses sedimentos em direção ao continente, e a vegetação, que age como barreira física. Estão associados a praias e restingas, muitas vezes em forma de extensas áreas como, por exemplo, os Lençóis Maranhenses, no Estado do Maranhão (SILVA et al., 2013 apud LOBLER, 2019). Lagunas: são corpos de água alongados, em geral, estreitos, com eixo principal paralelo à costa e ligados ao mar por barras que permane cem periodicamente fechadas. Como exemplo, podemos citar a Lagoa dos Patos e a Lagoa Mirim, ambas no Estado do Rio Grande do Sul (SILVA et al., 2013 apud LOBLER, 2019). Costões rochosos: são ecossistemas costeiros formados por rochas localizadas entre os meios terrestre e aquático marinho. Os costões rochosos são considerados uma extensão do ambiente marinho, uma vez que sua biota está relacionada ao mar e a adaptações evolutivas para viver nesse ambiente. O costão rochoso pode ser formado por paredões verticais bastante uniformes, que se estendem muitos metros acima e abaixo da superfície da água, apresentando alto nível de complexidade, resultando em uma grande riqueza de espécies associadas. Como exemplos, podemos citar o litoral de Torres, no Estado do Rio Grande do Sul, e a Baía de São Marcos, no Estado do Maranhão (SILVA et al., 2013 apud LOBLER, 2019). Recifes de corais: a maioria de seus representantes possui estruturas calcárias, formando construções biológicas, geralmente,submersas pelo mar (SILVA et al., 2013 apud LOBLER, 2019). O homem é o grande agente modificador do espaço em que vive e, com técnicas cada vez mais avançadas, foi ocupando esse espaço com agricultura e habitação, lugares onde antes a natureza se mantinha intacta. A ação antrópica atribui características artificiais aos sistemas geomorfológicos a partir de interferências na morfodinâmica, fazendo-se necessário analisar e estudar as repercussões que a atividade humana desencadeia sobre os processos geomorfológicos (CHRISTOFOLETTI, 1967 apud LOBLER, 2019). Cabe ressaltar que os eventos naturais de modificação de encostas acontecem há milhões de anos, enquanto o homem vem modificando a superfície terrestre em um período relativamente curto, mas de forma bastante acelerada. Contudo, atualmente, as atividades humanas causam maior impacto no meio, com as construções de hidroelétricas, de arranha-céus, com a utilização de gases nocivos à atmosfera causadores do efeito estufa, com desmatamentos em ampla escala para implementação da agropecuária e com a queima de combustíveis fosseis — apenas alguns exemplos de como o homem acelera as dinâmicas no sistema global (GROTZINGER; JORDAN, 2013 apud LOBLER, 2019). 6 NECESSIDADES DE GERENCIAMENTO COSTEIRO INTEGRADO O sistema terrestre e seus diferentes ecossistemas sofrem mudanças constantes que ocorrem em diferentes escalas espaciais e temporais, em resposta a complexos processos de origem física, química e biológica (STEFFEN et al., 2005 apud PERES, 2016). Principalmente nas últimas décadas, pode-se dizer que os impactos gerados sobre a natureza não têm precedentes (MEA, 2005; MORAN, 2008, 2011 apud PERES, 2016) e, como resultado das alterações ambientais induzidas pelas civilizações, os recursos, as funções e os bens e serviços ecossistêmicos estão sendo debilitados, o que afeta direta ou indiretamente o bem-estar humano (MEA, 2005 apud PERES, 2016). A evolução das ciências, das tecnologias e dos meios e sistemas de produção possibilitou o desenvolvimento da humanidade, contudo, também contribuiu para o surgimento de desigualdades sociais e passivos ambientais (BELCHIOR, 2008 apud PERES, 2016). O elevado crescimento populacional, atrelado aos altos padrões de produção e hábitos de consumo das sociedades urbano-industriais modernas, especialmente nas nações desenvolvidas, são os principais fatores associados aos impactos e transformações que ocorreram no planeta nas últimas décadas (CICIN-SAIN, 1993; MORAN, 2008, 2011 apud PERES, 2016). Como consequências para os oceanos e zonas costeiras (ZCs), atualmente podemos considerar que não existem áreas marinhas intocadas, sendo as ZCs as regiões sobre maior pressão (HALPERN et al., 2008 apud PERES, 2016). As ZCs são regiões extremamente dinâmicas, tanto na perspectiva de processos biofísicos (naturais) quanto socioeconômicos (antrópicos), localizadas na transição entre ambientes terrestres e marinhos (POST; LUNDIN, 1996; CROSSLAND; BAIRD, 2005 2008 apud PERES, 2016). Do ponto de vista biológico, são espaços capazes de suportar uma elevada produtividade primária e uma ampla variedade de ambientes como, por exemplo, praias, manguezais, restingas, marismas, costões rochosos e recifes de corais (CLARK, 1992; WESTMACOTT, 2001; MARTINS et al., 2012 2008 apud PERES, 2016), que servem como habitat, e local de alimentação e proteção para inúmeras espécies de organismos (BIJLSMA et al., 1995; BURKE et al., 2001 2008 apud PERES, 2016). A falta de planejamento do território no processo de ocupação e urbanização tem causado uma série de problemas ambientais e conflitos nas disputas de espaço e recursos. Na atualidade, as ZCs são vistas como amplos espaços de interação setorial, institucional, demográfica e urbana na qual as relações entre o ser humano e o meio são afetadas pela dinâmica ambiental (MORAES, 2007; POLETTE; LINS DE BARROS, 2012 apud PERES, 2016). O crescente desenvolvimento de atividades como agricultura, aquicultura, pesca industrial, turismo, mineração, indústrias petrolíferas, transporte marítimo e portos, tem influência direta ou indireta sobre os ecossistemas costeiros e marinhos (CLARK, 1992; RADCHENKO; ALEYEV, 2000; WESTMACOTT, 2001; MORAES, 2007; TRENOUTH et al., 2012 apud PERES, 2016) e podem ocasionar impactos como: desmatamento da vegetação costeira (p.ex.: manguezais, restingas e marismas); intensificação de processos de erosão ou assoreamento da costa; poluição das águas e sedimentos; acidificação; depleção dos estoques pesqueiros; e perdas de habitats e de biodiversidade (CROSSLAND; BAIRD, 2005; CICIN-SAIN; BELFIORE, 2005, MARTINS et al., 2012 apud PERES, 2016). Tais impactos induzem mudanças sobre a vida marinha, habitats e paisagens (ATKINS et al., 2011 apud PERES, 2016). A evidente necessidade de assegurar o uso racional e a conservação dos espaços e recursos naturais costeiros e marinhos, levou a criação das primeiras iniciativas governamentais para a gestão das ZCs (CLARK, 1997; CICIN-SAIN; KNECHT, 1998 apud PERES, 2016). Os princípios da integração e da sustentabilidade, e os princípios da prevenção e precaução, se tornaram norteadores das inciativas de gestão dos oceanos e ZCs ao redor do mundo e, assim, emergiu o conceito de Gerenciamento Costeiro Integrado – GCI (CLARK, 1992; CICIN- SAIN et al., 1995; CLARK, 1997; CICIN-SAIN; KNECHT, 1998; OLSEN, 2003; XAVIER, 2010; MARTINEZ, 2012 apud PERES, 2016). CICIN-SAIN e KNECHT (1998 apud PERES, 2016), definem o gerenciamento costeiro integrado (GCI) como um processo contínuo e dinâmico através do qual são tomadas metas, decisões e ações para proteção, uso racional e desenvolvimento sustentável dos espaços e recursos naturais costeiros e marinhos. Para ASMUS et al. (2006), os principais objetivos do GCI são: I - Preservar e proteger a produtividade e a biodiversidade dos ecossistemas; II - Reforçar a gestão integrada; III - Promover o desenvolvimento racional e sustentável dos recursos. Contudo, as ZCs são regiões altamente povoadas, abrigam grandes aglomerações urbanas, comportam uma ampla variedade de atividades humanas e, consequentemente, sofrem com diferentes pressões pelo uso de seus espaços e recursos (MORAES, 2007; XAVIER, 2010; POLETTE; LINS DE BARROS, 2012 apud PERES, 2016). Assim, o grande desafio do GCI consiste em buscar um equilíbrio entre atividades potencias e demandas por espaços e recursos para, numa visão de curto, médio e longo prazo, promover a sustentabilidade da ZC (GESAMP, 1996; CLARK, 1997; CICIN-SAIN; KNECHT, 1998 apud PERES, 2016). Deste modo, abordagens capazes de considerar os diferentes interesses de ordem política, social, econômica, cultural e conservacionista, nos processos de compatibilização do uso e da ocupação das ZCs, de modo a promover uma maior interação entre a sociedade e o poder público e possibilitar uma participação mais efetiva do público alvo na tomada de decisão, são premissas fundamentais do GCI (GESAMP, 1996; EDWARDS et al., 1997; ELLSWORTH et al., 1997; POLETTE; SILVA, 2003; OLSEN, 2003; ABUCHAHLA, 2009; ATKINS et al., 2011; SOUSA et al., 2013 apud PERES, 2016). Segundo Xavier (2010 apud PERES, 2016), a Agenda 21 destacou quatro diferentes enfoques sobre os quais políticas no âmbito do GCI devem ser fundamentadas, são eles: 1 - Enfoque integrativo: integração intersetorial – entre os diferentes setores que influenciam e afetam as ZCs (sejam eles terrestres, costeiros e/ou marinhos); integração espacial – entre os diferentes ecossistemas costeiros (aquáticos e/ou terrestres) e entre as diferentes regiões político-administrativas; integração intergovernamental – entre os diferentes níveis de governo (local/municipal, estadual e federal); integração ciência- gestão – entre diferentes disciplinas científicas e entre os próprios cientistas e os gestores e tomadores dedecisão; e integração internacional – entre diferentes nações. 2 – Enfoque adaptativo: envolve o auto – aprendizado e o aprender fazendo, no qual as lições e o conhecimento adquirido ao longo dos processos de gestão são incorporados aos próprios processos visando sua adequação, melhoria e aperfeiçoamento (PERES, 2016). 3 - Enfoque ecossistêmico: adota o ecossistema como unidade de gestão sem separar as dimensões humanas (culturais, sociais e econômicas) e naturais (biofísicas). 4 - Enfoque participativo: visa garantir a democratização e a participação social nos processos de planejamento e gestão, aproximando o público alvo da tomada de decisão, sob a perspectiva do controle social. Além de serem orientadas por tais enfoques, políticas de GCI devem ser constantemente avaliadas e, dentro das demandas e necessidades existentes, modificadas para se adequar a realidade e as questões que pretendem abordar (XAVIER, 2010 apud PERES, 2016). Neste sentido, a proposição de planos e programas de GCI pode ser pautada num modelo cíclico baseado em cinco etapas que, no entanto, requerem feedbacks contínuos e podem sofrer alterações e adequações a qualquer momento do processo, visando seu aperfeiçoamento (GESAMP, 1996; OLSEN et al., 1999 apud PERES, 2016). Tais etapas são: 1 - Identificação e análise das principais questões a serem consideradas (p.ex.: condições biofísicas/ambientais e estrutura político-institucional); 2 - Preparação do programa ou plano de GCI a ser executado; 3 - Adoção formal do programa e financiamento do mesmo; 4 - Implementação do programa; 5 - E avaliação do programa, do processo e de seus resultados. Atualmente há um consenso com relação aos princípios, objetivos e desafios do GCI, e esse modelo tem sido amplamente aplicado ao redor do mundo, sendo adaptado às realidades e peculiaridades políticos-institucionais e socioambientais existentes em cada país (CICIN-SAIN; KNECHT, 2006 apud PERES, 2016). Desse modo, conforme destaca XAVIER (2010, p.7 apud PERES, 2016), no GCI "a forma como o processo é desencadeado e conduzido é diferenciada em cada caso". 7 ECOSSISTEMA COSTEIRO BRASILEIRO Fonte: ambientelegal.com De acordo com Purus (2017), no Brasil temos os biomas Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa Pantanal e Marinho Costeiro. Cada um desses ambientes abriga diferentes tipos de vegetação e de fauna. É comum a utilização do termo “bioma” como um sinônimo de “ecossistema”, mas, diferente de ecossistema, bioma tem uma referência maior ao meio físico (a fisionomia da área, principalmente da vegetação) do que às interações que nele ocorrem. O perfil do ambiente e sua dimensão também importam na classificação: um ecossistema só será classificado como bioma se suas dimensões forem de grande escala. Para Purus (2017), existe o bioma da Mata Atlântica e, no interior dele, ecossistemas como a floresta ombrófila mista ou densa, os campos de altitude, a mata de araucária, a restinga e os manguezais. Já o ecossistema pode ser definido como um conjunto formado pelas interações entre componentes bióticos, como micróbios, plantas e animais e, os componentes abióticos, elementos químicos e físicos como o ar, a água, o solo e minerais. Esses componentes se relacionam por meio da transferência de energia dos organismos vivos entre si e entre estes e os demais elementos de seu ambiente. A rede de interações entre organismos, e entre os organismos e seu ambiente pode ser de qualquer tamanho, assim, não há limites máximos definidos para um ecossistema, mas há algumas convenções para distinguir a compreensão e possibilidades na pesquisa científica (PURUS, 2017). Segundo Leite (2012), a Zona Costeira e Marinha no Brasil se estende da foz do rio Oiapoque (04º52’45’’N) à foz do rio Chuí (33º45’10”S) e dos limites dos municípios da faixa costeira, a oeste, até as 200 milhas náuticas, incluindo as áreas em torno do Atol das Rocas, dos arquipélagos de Fernando de Noronha e de São Pedro e São Paulo e das ilhas de Trindade e Martin Vaz, situadas além do citado limite marítimo. Essa configuração espacial é definida por um conjunto de leis e decretos publicados pelo Governo Federal nas últimas duas décadas, alguns dos quais decorrentes de acordos internacionais assinados pelo Brasil, entre os quais se destaca a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM). A Zona Costeira constitui, a rigor, uma região de transição ecológica, desempenhando importante papel no desenvolvimento e reprodução de várias espécies e nas trocas genéticas que ocorrem entre os ecossistemas terrestres e marinhos. Ao mesmo tempo, a zona costeira é responsável por ampla gama de funções ecológicas, tais como a prevenção de inundações, da intrusão salina e da erosão costeira; a proteção contra tempestades; a reciclagem de nutrientes e de substâncias poluidoras, e a provisão direta ou indireta de habitats e de recursos para uma variedade de espécies explotadas (LEITE, 2012). Entre os ecossistemas brasileiros costeiros, existem alguns de alta relevância: Manguezais: no país, eles distribuem-se pela região litorânea, desde o Amapá até Santa Catarina, constituindo uma das maiores extensões de manguezais do mundo. Eles ocorrem em estuários, que são regiões onde os rios se encontram com o mar. Assim, sofrem a influência das marés e suas águas apresentam salinidade mais baixa que a do mar. Ainda conforme Purus (2017), na maré alta, a água invade os manguezais; na maré baixa, recua para o mar, expondo o solo lamacento. As plantas dos manguezais apresentam raízes com adaptações ao solo lodoso e com baixo teor de gás oxigênio. Possuem, ainda, ramos que partem do caule em direção ao solo, onde penetram, auxiliando, assim, a fixação da planta. A principal função desse ecossistema é abrigar um grande número de animais marinhos para a reprodução, principalmente espécies de peixes, camarões e caranguejos. Os manguezais também são a fonte de sustento para muitas famílias que vivem da coleta de caranguejos entre as raízes do mangue. Essa coleta deve respeitar os períodos de reprodução dos caranguejos, para não prejudicar a sobrevivência da espécie. Ecossistemas de restinga: constituído por vegetações que vivem sob a influência direta do mar, exposta aos respingos da água salgada e à elevada salinidade do solo. O sistema se inicia da areia da praia, com plantas rasteiras que se fixam no solo arenoso e suportam os respingos do mar, a vegetação rasteira ajuda a proteger e conservar o solo. As restingas sofrem grande devastação no litoral brasileiro por causa da exploração imobiliária, gerando desequilíbrios em outros ecossistemas que interagem com a restinga, como os manguezais. As dunas de areia fazem parte desse ecossistema e podem se desestabilizar com a retirada da vegetação e o nível de umidade na região se altera. Apesar de existirem leis brasileiras visando proteger as áreas de restinga, esse ecossistema é um dos mais ameaçados (Purus, 2017). Os ecossistemas manguezal e marisma geralmente estão associados às margens de baías, enseadas, barras, desembocaduras de rios, lagunas e reentrâncias costeiras, onde haja encontro de águas de rios com a do mar, ou diretamente expostos à linha da costa. São sistemas funcionalmente complexos, altamente resilientes e resistentes e, portanto, estáveis. A cobertura vegetal, ao contrário do que acontece nas praias arenosas e nas dunas, se instala em substratos de vasa de formação recente, de pequena declividade, sob a ação diária das marés de água salgada ou, pelo menos, salobra. Nas latitudes tropicais marismas e manguezais podem coexistir, tanto em ambientes naturais quanto nos modificados pelo homem. A maioria das marismas é dominada por poucas ou por uma única espécie, servindo esta característica para denominar cada uma das comunidades. As espécies vegetais das marismassuportam temperaturas do ar e da água bem inferiores às suportadas pelas plantas típicas do manguezal, principalmente quando se trata de geadas, ou de temperaturas abaixo de 0o C e, da elevada freqüência de recorrência desses eventos (COSTA; DAVY, 1992 apud NOVELLI, 2018). As espécies vegetais das marismas dominam a zona costeira do entre marés das regiões temperadas, enquanto que nos trópicos e subtrópicos elas tendem a se comportar como pioneiras, colonizando terrenos recém depositados e pouco consolidados, ou onde as taxas de evapotranspiração são elevadas demais para as plantas de mangue. 8 O GERENCIAMENTO COSTEIRO NO BRASIL Do ponto de vista de Leite (2012), o patrimônio natural contido na zona costeira do Brasil pode ser qualificado como de grande valor ambiental, apresentando recursos altamente valiosos, tanto do ponto de vista ecológico quanto socioeconômico. Contudo, este patrimônio encontra-se sob crescente risco de degradação, proporcionalmente à pressão da ocupação antrópica desordenada. Dada a diversidade das condições físicas, econômicas, culturais e institucionais presentes ao longo da costa, é necessária uma abordagem territorial federativa, integrada e participativa para assegurar a sustentabilidade da zona costeira, que ofereça saídas mediadoras para conflitos envolvendo dinâmicas econômicas e contextos socioambientais. A origem do Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro (PNGC), instituído pela Lei nº 7661/1988, está atrelada a outras políticas nacionais como a Política Nacional para os Recursos do Mar (aprovada por Decreto Presidencial em 1980) e a Política Nacional do Meio Ambiente (instituída pela Lei nº 6.938/1981), além de ser respaldado pela Constituição Federal de 1988, que conferiu a zona costeira (ZC) brasileira o status de “Patrimônio Nacional” (MORAES, 2007 apud PERES, 2016). Pautado nessas políticas, o PNGC tem como principal objetivo, orientar o uso racional dos recursos costeiros e marinhos, contribuindo para a melhora da qualidade de vida e preservação do patrimônio natural histórico, étnico e cultural brasileiro (MORAES, 2007; XAVIER, 2010; MARTINEZ, 2012 apud PERES, 2016). Ao ter como finalidade primordial a promoção do ordenamento do uso dos recursos naturais e da ocupação desses espaços, assim como a identificação de potencialidades, vulnerabilidades e tendências existentes, o PNGC expressa um importante compromisso com a sustentabilidade da ZC brasileira (POLETTE; SILVA, 2003 2012 apud PERES, 2016). Após sua implementação e um processo de atualização que ocorreu durante a década de 1990, o PNGC foi revisado dando origem ao PNGC II, cuja regulamentação foi efetuada pelo Decreto 5.300/2004 (MORAES, 2007; XAVIER, 2010 apud PERES, 2016). Segundo afirma MORAES (2007, p.113 apud PERES, 2016), em relação a primeira versão: A nova versão do PNGC reafirma o modelo institucional adotado anteriormente, que se estrutura seguindo os princípios da descentralização executiva e da ação cooperada entre os níveis de governo, porém acentuando a presença das esferas federal e municipal e da sociedade civil na condução do programa. Outra atualização importante do PNGC II foi a do conceito de "zona costeira", que passou a ter um caráter menos acadêmico (técnico), e mais político-administrativo (MORAES, 2007 apud PERES, 2016). Na definição do PNGC II, a ZC brasileira foi limitada por uma "faixa terrestre", e por outra "faixa marítima”: a primeira, correspondente aos municípios que sofrem influência direta dos fenômenos costeiros e marinhos, e, a segunda, correspondente a totalidade do mar territorial (espaço que se estende por 12 milhas náuticas a partir da linha de costa desses municípios). Esse enfoque geopolítico, utilizando os municípios e o mar territorial como critérios de definição dos limites da ZC, teve como objetivo facilitar a prática do planejamento e a aplicação dos instrumentos de gestão (MORAES, 2007 apud PERES, 2016). Com a promulgação dos PNGC I e II, foram instituídas as normas gerais do gerenciamento costeiro no Brasil, e estabelecidas as definições e bases para a formulação de políticas e programas governamentais (MORAES, 2007; XAVIER, 2010; MARTINEZ, 2012 apud PERES, 2016). Além disso, também foram instituídos diversos instrumentos de gestão, dentre os quais: o Plano Estadual de Gerenciamento Costeiro – PEGC; o Plano Municipal de Gerenciamento Costeiro – PMGC; o Sistema de Informações do Gerenciamento Costeiro – SIGERCO; o Sistema de Monitoramento Ambiental da Zona Costeira – SMA- ZC; o Relatório de Qualidade Ambiental da Zona Costeira – RQA-ZC; o Zoneamento Ecológico – Econômico Costeiro – ZEEC; e o Plano de Gestão da Zona Costeira – PGZN. No processo de evolução do PNCG, os objetivos e princípios orientadores da gestão da ZC brasileira demonstram uma evidente intenção de encorajar a democratização, a descentralização, a participação pública e a integração (WEVER et al, 2012 apud PERES, 2016). Contudo, mesmo com os avanços realizados, o e estado tem permanecido como o grande indutor da ocupação do território e mediador das relações entre sociedade e espaço, e entre sociedade e natureza (MORAES, 2007 apud PERES, 2016). Somando – se a isso, conforme ressaltou Costa (2005, p 55 apud PERES, 2016): Na atualidade, as políticas públicas territoriais na escala nacional tendem a fragmentação, isto é, correspondem (e reiteram), de um lado, à crescente especialização dos aparelhos do Estado e à setorização dos planos, programas e projetos e, de outro, elas sucumbem no mais das vezes diante da variedade das demandas frequentemente conflitantes, geradas pelos novos e poderosos fluxos internacionais e nacionais (de capitais, bens, serviços e informações). Esse cenário tem resultado em conflitos e na falta de colaboração entre agências governamentais, bem como entre usuários que não compartilham das mesmas percepções e interesses. Deste modo, a gestão dos espaços e recursos costeiros e marinhos, assim como a participação de benefícios, tem permanecido desigual (SERAVAL; ALVES, 2001; WEVER et al, 2012 apud PERES, 2016). 9 PRESERVAÇÃO DO ECOSSISTEMA COSTEIRO Para Maciel (2019), a natureza é um perfeito equilíbrio. Tudo nela existe por um motivo específico e se interliga de modo consistente, de forma que um único sistema global é formado e mantido pela ação de diferentes seres, bióticos e abióticos. Cada elemento da natureza tem um importante papel na manutenção do equilíbrio do ecossistema global, sendo esse o equilíbrio ecológico, a estabilidade entre os componentes do ecossistema. O equilíbrio ecológico é condição para que a qualidade e as características fundamentais do ecossistema sejam mantidas, dando-se por meio da dinamicidade das relações entre os inúmeros seres que constituem o meio (RAMOS; AZEVEDO, 2010 apud MACIEL, 2019). Isso também é válido para os ecossistemas marinhos, cujo equilíbrio garante a harmonia entre seres vivos e não vivos. A preservação marinha ganhou bastante foco devido a grande necessidade de resguardar espaços nas áreas jurisdicionais, a fim de zelarem o ambiente para a fauna e flora marinha. A Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar de 1982 tem um papel fundamental para essa questão. No Brasil ela foi ratificada em 2005, após 23 anos de sua criação em Montego Bay, na Jamaica. Vale ressaltar que o processo de elaboração da CNUDM foi bastante demorado, já que teve seu início em 1973, porém somente depois de 11 sessões, inúmeros debates e discussões, foi finalmente concluída em 1982 (ZANELA, 2015 apud OLIVEIRA, 2018). A Convenção obteve recorde de assinaturas, consagrando-se como o texto de maior adesão em todo o direito internacional, porém alguns estados industrializados não a assinaram. Como é o caso da Alemanha, Estados Unidos e Reino Unido, deixando claro que não assinariam, devido a não concordância das significativas
Compartilhar