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A regulamentação dos Direitos Humanos na legislação brasileira Unidade 2 A recepção dos tratados internacionais de direitos humanos na legislação brasileira Como vimos na Unidade I, no que tange os direitos humanos há inúmeros tratados internacionais que efetivam e garantem direitos em âmbito mundial, em especial relacionados ao Sistema ONU e em âmbito regional, como na Organização dos Estados Americanos. Desde o surgimento da Organização das Nações Unidas, em 1945, a discussão sobre o Direito Internacional tem ganhado mais relevo. Hoje, inclusive, a jurisprudência internacional e aqueles que formulam e refletem sobre a garantia de direitos defendem que o Direito Internacional se sobrepõe ao Direito Interno. Jurisprudência internacional é o conjunto de decisões dos tribunais internacionais a respeito de determinado tema, o que consolida a compreensão sobre decisões jurídicas sobre a situação em análise. A Constituição Brasileira de 1988 dispõe em seu artigo 5º, parágrafo 2º dispõe que os direitos previstos na Constituição não são excludentes com outros que sejam incorporados por meio da assinatura de Tratados por parte do Brasil. A Emenda Constitucional nº 45 de dezembro de 2004 incluiu o 3º parágrafo ao artigo 5º prevendo que no caso de Tratados e Convenções Internacionais sobre direitos humanos, caso sejam aprovados, em cada Casa do Congresso nacional, por 3/5 dos parlamentares, em dois turnos, serão equivalentes às emendas constitucionais, ou seja, serão incorporados à Constituição. Em julgamento de 2008 o Supremo Tribunal Federal passou a compreender que os tratados que versam sobre os direitos humanos podem ser considerados como normais supralegais, ou seja, estão acima das leis ordinárias, mas abaixo da Constituição (ressaltado o que vimos antes de incorporação à Constituição por meio do procedimento descrito no parágrafo anterior). “O Supremo Tribunal Federal (STF) é a mais alta instância do Poder Judiciário do Brasil e acumula competências típicas de Suprema Corte (tribunal de última instância) e Tribunal Constitucional (que julga questões de constitucionalidade independentemente de litígios concretos). Sua função institucional fundamental é de servir como guardião da Constituição Federal de 1988, apreciando casos que envolvam lesão ou ameaça a esta última”. Para saber mais sobre o STF acesse o site, disponível em: httpps://bit.ly/2p8SjxL. Histórico da efetivação dos direitos humanos na legislação brasileira Como vimos, foi a partir da Constituição Federal de 1988 que o Brasil passou a incorporar na legislação nacional os avanços com relação ao sistema internacional de proteção aos direitos humanos. Nesse contexto, o país passou a ratificar e a incorporar a legislação sobre o tema. Como coloca Flavia Piovesan, O marco inicial do processo de incorporação de tratados internacionais de direitos humanos pelo Direito Brasileiro foi a ratificação, em 1989, da Convenção contra a Tortura e Outros Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes. A partir desta ratificação, inúmeros outros importantes instrumentos internacionais de proteção dos direitos humanos foram também incorporados pelo Direito Brasileiro, sob a égide da Constituição Federal de 1988. Assim, a partir da Carta de 1988 foram ratificados pelo Brasil: a) a Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura, em 20 de julho de 1989; b) a Convenção sobre os Direitos da Criança, em 24 de setembro de 1990; c) o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, em 24 de janeiro de 1992; d) o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, em 24 de janeiro de 1992; e) a Convenção Americana de Direitos Humanos, em 25 de setembro de 1992; f) a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher, em 27 de novembro de 1995. (PIOVESAN, 1996). O processo de incorporação dos tratados internacionais que versam sobre os direitos humanos a partir da Constituição de 1988 seguiram a lógica de recomposição da imagem do país após o período autoritário anterior, diante das acusações de violações aos direitos humanos, além de enquadrar o país nos avanços internacionais sobre o tema. Era também o início do contexto de globalização. Cabe destacarmos a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e o seu Protocolo Facultativo de 2007. A Convenção é um exemplo de incorporação de um tratado internacional de direitos humanos ao ordenamento jurídico brasileiro com status de emenda constitucional. Após a incorporação do tratado, uma série de medidas oficiais tem sido tomadas em prol do reconhecimento e da garantia dos direitos das pessoas com deficiência. No que tange os direitos humanos há inúmeros tratados internacionais que efetivam e garantem direitos em âmbito mundial, em especial relacionados ao Sistema ONU e em âmbito regional, como na Organização dos Estados Americanos. A Emenda Constitucional nº 45 de dezembro de 2004 incluiu o 3º parágrafo ao artigo 5º prevendo que no caso de Tratados e Convenções Internacionais sobre direitos humanos, caso sejam aprovados, em cada Casa do Congresso nacional, por 3/5 dos parlamentares, em dois turnos, serão equivalentes às emendas constitucionais, ou seja, serão incorporados à Constituição. O processo de incorporação dos tratados internacionais que versam sobre os direitos humanos a partir da Constituição de 1988 seguiram a lógica de recomposição da imagem do país após o período autoritário anterior, diante das acusações de violações aos direitos humanos, além de enquadrar o país nos avanços internacionais sobre o tema. As perspectivas legais e os desafios da educação em direitos humanos Os marcos legais da educação em direitos humanos Como vimos na unidade I, em termos de marco legal a educação em direitos humanos está diretamente relacionada a dois documentos que já vimos na unidade I: O Programa Mundial para a Educação em Direitos Humanos, da ONU, e o Plano Nacional em Direitos Humanos, do governo brasileiro em parceria com organizações da sociedade civil. Com relação ao Programa Mundial da ONU, sua redação final foi produto da “Década das Nações Unidas para a Educação em matéria de direitos humanos” (1995-2004). O Programa prevê algumas etapas para a sua implementação, divididas em 4 anos por etapa, com foco em diferentes níveis da educação formal e formação de servidores/profissionais: básica e ensino médio, superior e formação de servidores, além dos profissionais de mídia e comunicação (etapa atual). A “Década das Nações Unidas para a Educação em matéria de direitos humanos” basear- se-á nas disposições dos instrumentos internacionais de direitos humanos, particularmente nas disposições que abordam a educação em matéria de direitos humanos, incluindo o artigo 26.º da Declaração Universal dos Direitos do Homem, o artigo 13.º do Pacto Internacional sobre os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, o artigo 29.º da Convenção sobre os Direitos da Criança, o artigo 10.º da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres, o artigo 7.º da Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, os parágrafos 33 e 34 da Declaração de Viena e os parágrafos 78 a 82 do seu Programa de Ação. Em conformidade com estas disposições, e para os efeitos da Década, a educação em matéria de direitos humanos será definida como os esforços de formação, divulgação e informação destinados a construir uma cultura universal de direitos humanos através da transmissão de conhecimentos e competências e da modelação de atitudes, com vista a: I. Reforçar o respeito pelos direitos humanos e liberdades fundamentais; (b) Desenvolver em pleno a personalidade humana e o sentido da sua dignidade; II.Promover a compreensão, a tolerância, a igualdade entre os sexos e a amizade entre todas as nações, povos indígenas e grupos raciais, nacionais, étnicos, religiosos e linguísticos; III.Possibilitar a participação efetiva de todas as pessoas numa sociedade livre; IV.Promover as atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz.” Com relação ao Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos, como já vimos, é importante lembrarmos que o Plano está dividido em cinco eixos principais: Educação não formal, educação dos profissionais do sistema de justiça e os do sistema de segurança, educação e mídia, educação básica e educação superior. O Conselho Nacional de Educação aprovou, em 2012, documento conhecido como as Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos, que versa sobre os parâmetros oficiais para a área. Dentre as questões levantadas no documento, estão algumas reflexões sobre o que podemos compreender como o escopo de uma formação em educação em direitos humanos: A Educação em Direitos Humanos tem por escopo principal uma formação ética, crítica e política. A primeira se refere à formação de atitudes orientadas por valores humanizadores, como a dignidade da pessoa, a liberdade, a igualdade, a justiça, a paz, a reciprocidade entre povos e culturas, servindo de parâmetro ético-político para a reflexão dos modos de ser e agir individual, coletivo e institucional. A formação crítica diz respeito ao exercício de juízos reflexivos sobre as relações entre os contextos sociais, culturais, econômicos e políticos, promovendo práticas institucionais coerentes com os Direitos Humanos. A formação política deve estar pautada numa perspectiva emancipatória e transformadora dos sujeitos de direitos. Sob esta perspectiva promoverse-á o empoderamento de grupos e indivíduos, situados à margem de processos decisórios e de construção de direitos, favorecendo a sua organização e participação na sociedade civil. Vale lembrar que estes aspectos tornam-se possíveis por meio do diálogo e aproximações entre sujeitos biopsicossociais, históricos e culturais diferentes, bem como destes em suas relações com o Estado. Uma formação ética, critica e política (in)forma os sentidos da EDH na sua aspiração de ser parte fundamental da formação de sujeitos e grupos de direitos, requisito básico para a construção de uma sociedade que articule dialeticamente igualdade e diferença (Ministério da Educação, 2012). Educação em Direitos Humanos e o Contexto Brasileiro Como previsto nos planos de educação em direitos humanos tanto em âmbito internacional quanto nacional um dos principais desafios da educação em direitos humanos diz respeito a integração entre os esforços empreendidos em âmbito da educação formal e também da educação não formal. O esforço dos espaços formais de educação, como as escolas, as universidades e institutos de educação, deve ser acompanhado pelo trabalho das organizações da sociedade civil, como movimentos sociais, ONGs e empresas. Em ambos os casos, é importante que a educação em direitos humanos transcenda o currículo formal das instituições, se colocando de forma transversal. Como vimos na unidade I, um dos enfoques para a educação em direitos humanos é a educação para a cidadania, ou seja, para uma formação que possibilite a inserção plena dos seres humanos no convívio social, considerando todas as dimensões – cultural, social, afetiva, dentre outras – dentro de um compromisso ético. Para isso, pressupõe um processo de ensino-aprendizagem participativo, com o aluno no centro, como sujeito ativo e pleno, tomando-se em conta as diferentes vivências e realidades. Para que todo o processo se estabeleça de forma plena, a formação dos professores para trabalhar com o tema da educação em direitos humanos é fundamental. Em primeiro lugar, a formação deve considerar que o tema direitos humanos não constitui uma disciplina e um tópico em si. Ele atravessa o processo de ensino-aprendizagem como tema transversal. Para isso, os professores devem ser capazes de compreender o que são os direitos humanos, seu histórico, sua inserção internacional e nacional. Deve ser considerada a formação para trabalhar o processo de ensino-aprendizagem com metodologias ativas, dentro dos cursos de licenciatura e de pós-graduação. Por fim, sobre a formação, devemos lembrar a importância da formação continuada dos professores. Em termos de marco legal a educação em direitos humanos está diretamente relacionada a dois documentos que já vimos na unidade I: O Programa Mundial para a Educação em Direitos Humanos, da ONU, e o Plano Nacional em Direitos Humanos, do governo brasileiro em parceria com organizações da sociedade civil. Com relação ao Programa Mundial da ONU, sua redação final foi produto da “Década das Nações Unidas para a Educação em matéria de direitos humanos” (1995-2004). Com relação ao Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos, como já vimos, é importante lembrarmos que o Plano está dividido em cinco eixos principais: Educação não formal, educação dos profissionais do sistema de justiça e os do sistema de segurança, educação e mídia, educação básica e educação superior. Como previsto nos planos de educação em direitos humanos tanto em âmbito internacional quanto nacional um dos principais desafios da educação em direitos humanos diz respeito a integração entre os esforços empreendidos em âmbito da educação formal e também da educação não formal. As diretrizes nacionais para a educação em direitos humanos: dimensões e princípio Conhecendo as Diretrizes Em 2012 o Conselho Nacional de Educação (CNE) estabeleceu as “Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos”. Logo em seu início o documento estabelece que as diretrizes seguem o disposto em documentos aprovados internacional e nacionalmente, conforme vimos nos capítulos anteriores: Considerando o que dispõe a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, a Declaração das Nações Unidas sobre a Educação e Formação em Direitos Humanos (Resolução A/66/137/2011), a Constituição Federal de 1988; a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/1996); o Programa Mundial de Educação em Direitos Humanos (PMEDH 2005/2014), Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3/Decreto nº 7.037/2009); o Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos (PNEDH/2006), as diretrizes nacionais emanadas pelo Conselho Nacional de Educação, bem como outros documentos nacionais e internacionais que visem assegurar o direito a educação a todos/as (...). Vemos, assim, que as diretrizes estão alinhadas diretamente a documentos que analisamos anteriormente em nosso curso, como o Programa Mundial de Educação em Direitos Humanos e o Programa Nacional de Educação em Direitos Humanos. Além disso, considera o que dispõe tratados internacionais que dispõem direitos e garantias a respeito dos direitos humanos, como a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948. Nos artigos do documento, o CNE estabeleceu as diretrizes a serem seguidas pelos sistemas de ensino e suas instituições no que se refere à educação em direitos humanos. O documento, em seu artigo 2º, compreende educação em direitos humanos como o “uso de concepções e práticas educativas fundadas nos Direitos Humanos e em seus processos de promoção, proteção, defesa e aplicação na vida cotidiana e cidadã de sujeitos de direitos e de responsabilidades individuais e coletivas.” No mesmo artigo, o CNE estabeleceu que todos os envolvidos no processo educacional devem adotar os princípios da educação em direitos humanos. Como fundamentos da educação em direitos humanos, o CNE estabelece, no art. 3º do documento, o seguinte: I. Dignidade humana; II. Igualdade de direitos; III.Reconhecimento e valorização das diferenças e das diversidades;IV.Laicidade do Estado; V. Democracia na educação; VI.Transversalidade, vivência e globalidade; e VII.Sustentabilidade socioambiental. Como objetivo central da educação em direitos humanos, o documento apresenta em seu artigo 5º que: A Educação em Direitos Humanos tem como objetivo central a formação para a vida e para a convivência, no exercício cotidiano dos Direitos Humanos como forma de vida e de organização social, política, econômica e cultural nos níveis regionais, nacionais e planetário. § 1º Este objetivo deverá orientar os sistemas de ensino e suas instituições no que se refere ao planejamento e ao desenvolvimento de ações de Educação em Direitos Humanos adequadas às necessidades, às características biopsicossociais e culturais dos diferentes sujeitos e seus contextos. § 2º Os Conselhos de Educação definirão estratégias de acompanhamento das ações de Educação em Direitos Humanos. Por fim, a respeito das dimensões às quais a educação em direitos humanos se articula, o documento estabelece em seu artigo 4º que: A Educação em Direitos Humanos como processo sistemático e multidimensional, orientador da formação integral dos sujeitos de direitos, articulase às seguintes dimensões: I. apreensão de conhecimentos historicamente construídos sobre direitos humanos e a sua relação com os contextos internacional, nacional e local; II. afirmação de valores, atitudes e práticas sociais que expressem a cultura dos direitos humanos em todos os espaços da sociedade; III.formação de uma consciência cidadã capaz de se fazer presente em níveis cognitivo, social, cultural e político; IV.desenvolvimento de processos metodológicos participativos e de construção coletiva, utilizando linguagens e materiais didáticos contextualizados; e o V. fortalecimento de práticas individuais e sociais que gerem ações e instrumentos em favor da promoção, da proteção e da defesa dos direitos humanos, bem como da reparação das diferentes formas de violação de direitos. Conhecendo as Diretrizes Em 2012 o Conselho Nacional de Educação (CNE) estabeleceu as “Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos”. Logo em seu início o documento estabelece que as diretrizes seguem o disposto em documentos aprovados internacional e nacionalmente, conforme vimos nos capítulos anteriores: Considerando o que dispõe a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, a Declaração das Nações Unidas sobre a Educação e Formação em Direitos Humanos (Resolução A/66/137/2011), a Constituição Federal de 1988; a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/1996); o Programa Mundial de Educação em Direitos Humanos (PMEDH 2005/2014), Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3/Decreto nº 7.037/2009); o Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos (PNEDH/2006), as diretrizes nacionais emanadas pelo Conselho Nacional de Educação, bem como outros documentos nacionais e internacionais que visem assegurar o direito a educação a todos/as (...). Vemos, assim, que as diretrizes estão alinhadas diretamente a documentos que analisamos anteriormente em nosso curso, como o Programa Mundial de Educação em Direitos Humanos e o Programa Nacional de Educação em Direitos Humanos. Além disso, considera o que dispõe tratados internacionais que dispõem direitos e garantias a respeito dos direitos humanos, como a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948. Nos artigos do documento, o CNE estabeleceu as diretrizes a serem seguidas pelos sistemas de ensino e suas instituições no que se refere à educação em direitos humanos. O documento, em seu artigo 2º, compreende educação em direitos humanos como o “uso de concepções e práticas educativas fundadas nos Direitos Humanos e em seus processos de promoção, proteção, defesa e aplicação na vida cotidiana e cidadã de sujeitos de direitos e de responsabilidades individuais e coletivas.” No mesmo artigo, o CNE estabeleceu que todos os envolvidos no processo educacional devem adotar os princípios da educação em direitos humanos. Como fundamentos da educação em direitos humanos, o CNE estabelece, no art. 3º do documento, o seguinte: I. Dignidade humana; II. Igualdade de direitos; III.Reconhecimento e valorização das diferenças e das diversidades; IV.Laicidade do Estado; V. Democracia na educação; VI.Transversalidade, vivência e globalidade; e VII.Sustentabilidade socioambiental. Como objetivo central da educação em direitos humanos, o documento apresenta em seu artigo 5º que: A Educação em Direitos Humanos tem como objetivo central a formação para a vida e para a convivência, no exercício cotidiano dos Direitos Humanos como forma de vida e de organização social, política, econômica e cultural nos níveis regionais, nacionais e planetário. § 1º Este objetivo deverá orientar os sistemas de ensino e suas instituições no que se refere ao planejamento e ao desenvolvimento de ações de Educação em Direitos Humanos adequadas às necessidades, às características biopsicossociais e culturais dos diferentes sujeitos e seus contextos. § 2º Os Conselhos de Educação definirão estratégias de acompanhamento das ações de Educação em Direitos Humanos. Por fim, a respeito das dimensões às quais a educação em direitos humanos se articula, o documento estabelece em seu artigo 4º que: A Educação em Direitos Humanos como processo sistemático e multidimensional, orientador da formação integral dos sujeitos de direitos, articulase às seguintes dimensões: I. apreensão de conhecimentos historicamente construídos sobre direitos humanos e a sua relação com os contextos internacional, nacional e local; II. afirmação de valores, atitudes e práticas sociais que expressem a cultura dos direitos humanos em todos os espaços da sociedade; III.formação de uma consciência cidadã capaz de se fazer presente em níveis cognitivo, social, cultural e político; IV.desenvolvimento de processos metodológicos participativos e de construção coletiva, utilizando linguagens e materiais didáticos contextualizados; e o V. fortalecimento de práticas individuais e sociais que gerem ações e instrumentos em favor da promoção, da proteção e da defesa dos direitos humanos, bem como da reparação das diferentes formas de violação de direitos. Análise das diretrizes No processo de redação das diretrizes nacionais para o ensino em direitos humanos foram realizadas reuniões do Conselho do CNE, de comissões, mas também encontros com especialistas no tema a fim de envolver a sociedade civil organizada na elaboração. As diretrizes levaram em conta uma compreensão da educação em direitos humanos a partir de determinados fundamentos, princípios e objetivos. Com relação aos fundamentos, o documento parte do pressuposto de que a universalização da educação básica e a democratização do acesso ao ensino superior na última década trouxeram desafios específicos. A maior inclusão traz diretamente o desafio de lidar com a diversidade dos alunos. Assim, faz-se necessária a elaboração de estratégias para lidar com a realidade de uma nova organização escolar, que demanda metodologias de ensino-aprendizagem diferenciadas, além de uma instituição em si voltada para a superação de desigualdades. Para isso, são considerados uma série de valores e práticas que embasam a atuação na área. A necessidade de uma educação crítica, ética e com compreensão política está diretamente relacionada a isso. Ética na compreensão sobre uma inserção dos indivíduos em uma sociedade mais humanizada, com princípios de dignidade, igualdade e justiça, por exemplo. Crítica por estimular a reflexão sobre a realidade em seu entorno, pensando a partir dos direitos humanos. Compreensão política por habilitar a participação plena dos indivíduos politicamente na sociedade. No que se refere aos princípios, a Educação em Direitos Humanos, com finalidade de promover a educação paraa mudança e a transformação social, fundamenta-se nos seguintes princípios: Dignidade humana: Relacionada a uma concepção de existência humana fundada em direitos; Igualdade de direitos: O respeito à dignidade humana, devendo existir em qualquer tempo e lugar, diz respeito à necessária condição de igualdade na orientação das relações entre os seres humanos; Reconhecimento e valorização das diferenças e das diversidades: Esse princípio se refere ao enfrentamento dos preconceitos e das discriminações, garantindo que diferenças não sejam transformadas em desigualdades; Laicidade do Estado: Esse princípio se constitui em pré-condição para a liberdade de crença garantida pela Declaração Universal dos Direitos humanos, de 1948, e pela Constituição Federal Brasileira de 1988; Democracia na educação: Direitos Humanos e democracia alicerçam-se sobre a mesma base - liberdade, igualdade e solidariedade - expressando-se no reconhecimento e na promoção dos direitos civis, políticos, sociais, econômicos, culturais e ambientais; Transversalidade, vivência e globalidade: Os Direitos Humanos se caracterizam pelo seu caráter transversal e, por isso, devem ser trabalhados a partir do diálogo interdisciplinar; Sustentabilidade socioambiental: A EDH deve estimular o respeito ao espaço público como bem coletivo e de utilização democrática de todos/as. (BRASIL, 2012) Em 2012 o Conselho Nacional de Educação (CNE) estabeleceu as “Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos”. Logo em seu início o documento estabelece que as diretrizes seguem o disposto em documentos aprovados internacional e nacionalmente, conforme vimos nos capítulos anteriores. Vemos, assim, que as diretrizes estão alinhadas diretamente a documentos que analisamos anteriormente em nosso curso, como o Programa Mundial de Educação em Direitos Humanos e o Programa Nacional de Educação em Direitos Humanos. Nos artigos do documento, o CNE estabeleceu as diretrizes a serem seguidas pelos sistemas de ensino e suas instituições no que se refere à educação em direitos humanos. As diretrizes levaram em conta uma compreensão da educação em direitos humanos a partir de determinados fundamentos, princípios e objetivos. Os Direitos Humanos nas matrizes curriculares e projetos pedagógicos do ensino básico ao superior Os Direitos Humanos no ambiente educacional Quando tratamos do processo de ensino-aprendizagem é importante levarmos em consideração que estamos tratando de um processo que se estabelece em lugares e tempos diversificados, em contextos de diversidade de vivências, seja na própria escola, seja na família ou na sociedade em geral. Essa diversidade de experiências e vivências é propícia para a educação em direitos humanos, por oportunizar contextos com experiências sobre o mundo diversificadas. Para isso, é necessário que o contexto de ensino-aprendizagem se dê para além do meio físico da instituição de ensino e envolva as demais interações de alunos e professores com o mundo e a sociedade. Um ambiente educacional capaz de promover os direitos humanos deve levar em consideração o respeito às diferenças, garantindo um processo de ensino-aprendizagem inclusivo, com práticas democráticas, sem preconceitos, discriminações e qualquer tipo de violência. Conforme vimos na unidade anterior, a educação para os direitos humanos se pauta em princípios que garantam práticas que respeitam a dignidade humana. Esse respeito se dá na interação entre o que é pessoal e o que é coletivo de forma a respeitar subjetividades e vivências entre os humanos, o meio ambiente e as questões sociais no entorno das instituições de ensino. Portanto, as instituições de ensino devem favorecer diferentes visões de mundo no ambiente escolar e, para além dele, garantir o contato das diferenças com o ambiente educacional, levando em consideração o extra-muros da instituição. Assim, espera-se que alunos com capacidade de reflexão crítica compreendam como pleitear e garantir direitos dentro da concepção dos direitos humanos. As diretrizes para a educação em direitos humanos estabelecem em seus artigos 6º e 7º que: Art. 6º A Educação em Direitos Humanos, de modo transversal, deverá ser considerada na construção dos Projetos Políticos Pedagógicos (PPP); dos Regimentos Escolares, dos Planos de Desenvolvimento Institucionais (PDI); dos Programas Pedagógicos de Curso (PPC) das Instituições de Ensino Superior; dos materiais didáticos e pedagógicos; do modelo de ensino, pesquisa e extensão; de gestão; bem como dos diferentes processos de avaliação. Art. 7º A inserção dos conhecimentos concernentes a Educação em Direitos Humanos na organização dos currículos da Educação Básica e da Educação Superior poderá ocorrer das seguintes formas: I.- pela transversalidade, por meio de temas relacionados aos Direitos Humanos e tratados interdisciplinarmente; II.- como um conteúdo específico de uma das disciplinas já existentes no currículo escolar; III.- de maneira mista, ou seja, combinando transversalidade e disciplinaridade. Parágrafo único. Outras formas de inserção da Educação em Direitos Humanos poderão ainda ser admitidas na organização curricular das instituições educativas desde que observadas as especificidades dos níveis e modalidades da Educação Nacional. Veremos nos próximos capítulos como pode se dar a educação em direitos humanos na educação básica e no ensino superior. A educação em direitos humanos na educação básica O Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos prevê em seus princípios para a educação básica as seguintes propostas: A Educação em Direitos Humanos além de ser um dos eixos fundamentais da educação básica, deve orientar a formação inicial e continuada dos/as profissionais da educação, a elaboração do projeto político pedagógico, os materiais didático pedagógicos, o modelo de gestão e a avaliação das aprendizagens; A prática escolar deve ser orientada para a Educação em Direitos Humanos, assegurando o seu caráter transversal e a relação dialógica entre os diversos atores sociais; Os/as estudantes devem ser estimulados/as para que sejam protagonistas da construção de sua educação, com o incentivo, por exemplo, do fortalecimento de sua organização estudantil em grêmios escolares e em outros espaços de participação coletiva; Participação da comunidade educativa na construção e efetivação das ações da Educação em Direitos Humanos. Além disso, o Plano chama a atenção para a centralidade de se ter um Projeto Político Pedagógico conectado aos princípios, objetivos e fundamentos da Educação em Direitos Humanos, perpassando as ações do currículo de forma transversal, trazendo os temas gerais dos direitos humanos para a realidade dos alunos e, assim, incorporar vivências e conhecimentos, ampliando a participação e a busca de direitos e deveres em sociedade. Para isso, o Plano clama pelo respeito às diferentes fases de desenvolvimento do ser humano, ressaltando o respeito à individualidade de cada um. Na educação básica o trabalho a respeito da educação em direitos humanos tem o espaço propício para ser desenvolvido, uma vez que diz respeito à formação humana desde a infância. No processo de socialização das crianças, as interações de ensino- aprendizagem já podem desde o início levar em conta os princípios, fundamentos e objetivos da educação em direitos humanos. Isso também se aplica a outras modalidades de ensino, como na educação de jovens e adultos, a educação indígena, quilombola, no campo e outras dimensões, considerando também pessoas que não tiveram oportunidade de acesso à educação na idade adequada. É especialmente importante o exercício da educação para os direitos humanos enquanto formação para a cidadania nesta etapa, possibilitando desde o princípio do processo formal de educação a concepção de direitos e deveres. O Plano Nacional de Educação em Direitos Humanoscompreende a escola como: “Um espaço social privilegiado onde se definem a ação institucional pedagógica e a pratica e vivencia dos direitos humanos. [...] local de estruturação de concepções de mundo e de consciência social, de circulação e de consolidação de valores, de promoção da diversidade cultural, da formação para a cidadania, de constituição de sujeitos sociais e de desenvolvimento de práticas pedagógicas.” (BRASIL, 2006, p. 23). Nesse sentido, uma escola de fato capaz de democratizar as relações sociais deve ter o objetivo de formação de indivíduos capazes de serem atores sociais plenos. Para isso, é parte integrante da educação em direitos humanos nessa etapa a compreensão de conteúdos que levem a reflexão sobre a evolução histórica, a construção, as contradições, as conquistas e os reveses com relação aos direitos em sociedade, favorecendo uma visão ética de mundo, integrada ao meio ambiente de forma sustentável. A educação para os direitos humanos no ensino superior Nas Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos, que começamos a analisar no início desta unidade, alguns artigos são voltados para a pesquisa e a formação de professores, além do ensino superior em si. São eles: Art. 8º A Educação em Direitos Humanos deverá orientar a formação inicial e continuada de todos/as os/as profissionais da educação, sendo componente curricular obrigatório nos cursos destinados a esses profissionais. Art. 9º A Educação em Direitos Humanos deverá estar presente na formação inicial e continuada de todos/as os/as profissionais das diferentes áreas do conhecimento. Art. 10. Os sistemas de ensino e as instituições de pesquisa deverão fomentar e divulgar estudos e experiências bem sucedidas realizados na área dos Direitos Humanos e da Educação em Direitos Humanos. Art. 11. Os sistemas de ensino deverão criar políticas de produção de materiais didáticos e paradidáticos, tendo como princípios orientadores os Direitos Humanos, e por extensão, a Educação em Direitos Humanos. Art. 12. As Instituições de Ensino Superior estimularão ações de extensão voltadas para a promoção de direitos humanos, em diálogo com os segmentos sociais em situação de exclusão social e violação de direitos, assim como os movimentos sociais e a gestão pública. Todos os documentos nacionais e internacionais que já analisamos nesse curso enfatizam a responsabilidade das instituições de ensino superior (IES) com relação à educação em direitos humanos. Além da obrigação direta da formação, inclusive de professores, as IES gera pesquisa e conhecimento que impactam diretamente na garantia de direitos e na reflexão sobre os direitos humanos em si. As IES possuem responsabilidade fundamental na busca pela construção de uma sociedade mais justa, princípio fundamental dos direitos humanos. Para isso, a educação em direitos humanos deve ser considerada de forma transversal nas IES, englobando as diferentes vertentes da universidade, como a pesquisa, a gestão, a extensão e o ensino. Diretamente no ensino os DH podem ser incluídos como disciplinas do currículo regular ou, ainda, como atividades extras. Na pesquisa pode pautar o avanço do conhecimento que gere desenvolvimento sustentável e ainda ser objeto em si de reflexão e análise. Para além disso, é necessário incentivo a essa reflexão específica sobre os direitos humanos por meio de financiamento e estruturação de grupos e núcleos de estudos, assim como a organização de núcleos de memória sobre a instituição e o avanço do conhecimento na área. Na extensão, a aproximação das IES com a sociedade em geral deve ser pautada pelos princípios dos DH, especialmente lidando com setores mais vulneráveis da sociedade. Cabe, ainda, às IES apoiar as demais instituições da sociedade na promoção dos direitos humanos. Um ambiente educacional capaz de promover os direitos humanos deve levar em consideração o respeito às diferenças, garantindo um processo de ensino-aprendizagem inclusivo, com práticas democráticas, sem preconceitos, discriminações e qualquer tipo de violência. O Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos chama a atenção para a centralidade de se ter um Projeto Político Pedagógico conectado aos princípios, objetivos e fundamentos da Educação em Direitos Humanos, perpassando as ações do currículo de forma transversal, trazendo os temas gerais dos direitos humanos para a realidade dos alunos e, assim, incorporar vivências e conhecimentos, ampliando a participação e a busca de direitos e deveres em sociedade. Todos os documentos nacionais e internacionais que já analisamos nesse curso enfatizam a responsabilidade das instituições de ensino superior (IES) com relação à educação em direitos humanos. Além da obrigação direta da formação, inclusive de professores, as IES gera pesquisa e conhecimento que impactam diretamente na garantia de direitos e na refleexão sobre os direitos humanos em si. A regulamentação dos Direitos Humanos na legislação brasileira Unidade 2 A recepção dos tratados internacionais de direitos humanos na legislação brasileira Histórico da efetivação dos direitos humanos na legislação brasileira As perspectivas legais e os desafios da educação em direitos humanos Os marcos legais da educação em direitos humanos Educação em Direitos Humanos e o Contexto Brasileiro As diretrizes nacionais para a educação em direitos humanos: dimensões e princípio Conhecendo as Diretrizes Análise das diretrizes Os Direitos Humanos nas matrizes curriculares e projetos pedagógicos do ensino básico ao superior Os Direitos Humanos no ambiente educacional A educação em direitos humanos na educação básica
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