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1 ENFERMAGEM NA ATENÇÃO BÁSICA EM PEDIATRIA 2 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 5 2. RACIOCÍNIO CLÍNICO E O PROCESSO DE PRESTAÇÃO DE CUIDADO DE ENFERMAGEM ÀS CRIANÇAS E SUAS FAMÍLIAS .................................................. 6 2.1 Processo de Enfermagem .............................................................................. 6 3. USO DE CARACTERÍSTICAS DEFINIDORAS NA SELEÇÃO DO DIAGNÓSTICO DE ENFERMAGEM APROPRIADO .......................................................................... 11 3.1 Documentação e Registro do Cuidado de Enfermagem .............................. 12 3.2 Medidas de Qualidade do Resultado ........................................................... 13 4. CUIDADOS DE ENFERMAGEM À CRIANÇA E ÀFAMÍLIA COM BASE NA COMUNIDADE .......................................................................................................... 15 4.1 Conceitos de Comunidade ........................................................................... 15 4.2 Enfermagem em Saúde da Comunidade ..................................................... 17 5. PROCESSO DE ENFERMAGEM NA COMUNIDADE........................................ 19 5.1 Histórico e Diagnóstico das Necessidades da Comunidade ........................ 19 5.2 Planejamento da Comunidade ..................................................................... 21 5.3 Intervenções de Enfermagem e Família ....................................................... 22 5.4 Importância do Desenvolvimento da Competência Cultural Para a Enfermagem .......................................................................................................... 23 5.5 Diretrizes Para Integrar Cuidado Espiritual na Prática de Enfermagem Pediátrica .............................................................................................................. 24 6. AS TEORIAS DA ENFERMAGEM ...................................................................... 26 6.1 A Gerência do Cuidado e a Sistematização da Assistência de Enfermagem 27 6.2 A Articulação do Cuidado de Enfermagem com as Políticas Públicas ......... 29 6.3 Lei Orgânica da Saúde ................................................................................. 29 6.4 Agenda de Compromissos com a Saúde Integral da Criança e Redução da Mortalidade Infantil ................................................................................................ 30 3 7. A CONSULTA DE ENFERMAGEM EM SAÚDE DA CRIANÇA A CONSULTA DE ENFERMAGEM EM SAÚDE DA CRIANÇA .............................................................. 31 7.1 A Consulta de Enfermagem em Puericultura ............................................... 31 7.2 O Crescimento da Criança ........................................................................... 33 7.3 O Desenvolvimento da Criança .................................................................... 38 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 44 4 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós- Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 5 INTRODUÇÃO O significado social e a existência de um grande número de crianças em qualquer população são marcas de enfermagem pediátrica. Esta se caracteriza pela atenção a um grupo de pessoas que está em constante crescimento e desenvolvimento e pela abordagem de ações preventivas em seu cotidiano de assistência. O aparecimento da Pediatria como especialidade ocorreu na Europa, quando alguns médicos começaram a observar e a estudar as diferenças das doenças ocorridas em adultos e em crianças. Antes disso, o fato não tinha o menor significado tanto para médicos quanto para enfermeiras. O aparecimento do primeiro departamento de Pediatria na Universidade de Harvard se deu em 1888. Há algum tempo, a assistência de enfermagem à criança hospitalizada seguia condutas e procedimentos extremamente rígidos. A ausência de medicamentos antibióticos, os altíssimos índices de infecção, o grande número de crianças doentes e o próprio despreparo de profissionais levavam ao estabelecimento de regras de isolamento e repouso muitas vezes absurdas, como o uso de camisas - de - força. Preocupados com o risco de infecção cruzado e despreparado para atender as necessidades individuais da criança e dos pais, os profissionais de saúde as mantinham isoladas, tanto uma das outras como da mãe e do restante da família. Com os avanços na área de saúde, houve mudanças nos métodos de assistência à criança. O advento da Psicologia, os estudos de Freud e de outros sobre o comportamento humano deram início a uma abordagem mais integral à criança, possibilitando a compreensão das suas necessidades emocionais, em suas diversas fases de crescimento e desenvolvimento. 6 RACIOCÍNIO CLÍNICO E O PROCESSO DE PRESTAÇÃO DE CUIDADO DE ENFERMAGEM ÀS CRIANÇAS E SUAS FAMÍLIAS Raciocínio Clínico: Um processo de pensamento sistemático é essencial em qualquer profissão. Ele ajuda o profissional a atender às necessidades do paciente. O raciocínio clínico é um processo cognitivo que usa o pensamento formal e informal para reunir e analisar os dados do paciente, avaliar o significado da informação, e considerar ações alternativas (Simmons,2010). Baseia-se no método científico de investigação, que também é a base do processo de enfermagem. O raciocínio clínico e o processo de enfermagem são considerados cruciais à enfermagem profissional na medida em que constituem uma abordagem holística à solução de problemas. O raciocínio clínico é um processo complexo do desenvolvimento que se baseia no pensamento racional e deliberado. O raciocínio clínico promove um denominador comum para o conhecimento que exemplifica o pensamento disciplinado e auto-organizado. O conhecimento é adquirido, avaliado e organizado ao se pensar através da situação clínica e desenvolver um resultado relativo aos cuidados ideais do paciente. O raciocínio clínico transforma a maneira pela qual os indivíduos se veem, entendem o mundo e tomam decisões. Em reconhecimento da importância dessa habilidade, Estudos de Casos Exercitando o Pensamento Crítico inclusos neste texto demonstra a importância do raciocínio clínico. Esses exercícios apresentam uma situação da prática de enfermagem que desafia o estudante a usar as habilidades de raciocínio clínico para chegar à melhor conclusão. Uma série de perguntas leva os estudantes a explorarem as evidências, as hipóteses subjacentes ao problema, as prioridades de enfermagem, e apoia as intervenções de enfermagem que lhes permitem chegar a respostas racionaise deliberadas. Estes exercícios são concebidos para melhorar o desempenho de enfermagem no raciocínio clínico. 1.1 Processo de Enfermagem O processo de enfermagem é um método de identificação e solução de problemas que descreve o que de fato a enfermeira faz. O modelo de seis etapas do processo de enfermagem é composto por histórico (coleta de dados), diagnóstico (identificação do problema), planejamento (com desenvolvimento do resultado), 7 implementação, avaliação, documentação e registro. A segunda etapa do processo de enfermagem, o diagnóstico de enfermagem, consiste em nominar o problema da criança ou da família na linguagem padronizada da enfermagem. Nos Padrões da Prática da American Nurses Association (2003), a fase de diagnóstico de enfermagem do processo de enfermagem é separada em duas etapas: diagnóstico de enfermagem e identificação de resultado. Histórico O histórico é um processo contínuo que permeia todas as fases da solução de problemas e é a base da tomada de decisões. O histórico envolve múltiplas competências ou tarefas de enfermagem e consiste na obtenção concreta, classificação e análise de dados de uma variedade de fontes. Para fazer um levantamento mais preciso e abrangente, a enfermeira deve considerar informações a respeito das origens biofísicas, psicológicas, socio culturais e espirituais do paciente Diagnóstico de Enfermagem O segundo estágio do processo de enfermagem é a identificação de problemas e o diagnóstico de enfermagem. Nesse ponto, a enfermeira deve interpretar e tomar decisões com base nos dados obtidos. A enfermeira organiza ou agrupa esses dados em categorias para identificar áreas relevantes e toma uma das seguintes decisões: Não há problemas de saúde disfuncionais evidentes; nenhuma intervenção indicada. Existe risco de problemas de saúde disfuncionais; é preciso intervir para facilitar a promoção da saúde. Problemas de saúde disfuncionais reais são evidentes; intervenções são necessárias para a promoção da saúde. O diagnóstico de enfermagem é o nome do conjunto de pistas obtido durante a fase de levantamento do histórico. De acordo com a NANDA Internacional (antiga North American NursingDiagnosisAssociaton), a definição atualmente aceita do termo diagnóstico de enfermagem é de que se trata de um julgamento clínico a respeito das respostas do indivíduo, da família ou da comunidade aos problemas de saúde reais ou em potencial e dos processos da vida. Os Planos de Cuidados de Enfermagem neste texto fornecem uma compreensão da linguagem padronizada e como ela se relaciona com o plano individualizado. Nem todas as crianças têm problemas de saúde de fato; algumas têm problemas desaúde em potencial, um estado de risco que requer a intervenção da enfermagem paraprevenir o desenvolvimento de um problema real. Os problemas de 8 saúde em potencialpodem ser indicados pelos fatores de risco, ou sinais, que predispõem a criança e afamília a um padrão de saúde disfuncional e estão limitados a indivíduos em maior riscodo que a população como um todo. A intervenção de enfermagem é direcionada parareduzir os fatores de risco. Para diferenciar problemas de saúde reais de potenciais, apalavra risco está incluída na declaração do diagnóstico de enfermagem (p. ex., Risco deInfecção). Sinais e sintomas referem-se a um conjunto de pistas e características definidorasobtidas do histórico do paciente, e indicam problemas de saúde reais. Quando umacaracterística definidora é essencial para que o diagnóstico seja feito, ela é consideradacrítica. Essas características definidoras críticas ajudam a diferenciar entre as categoriasde diagnósticos. Por exemplo, ao se decidir entre as categorias de diagnósticosrelacionadas ao funcionamento e enfrentamento familiares, as características definidorassão críticas na escolha do diagnóstico de enfermagem mais apropriado. No Brasil, a Resolução Cofen n° 358/2009 dispõe sobre a Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) e implementação do processo de enfermagem em instituições prestadoras de serviços de internação hospitalar, instituições prestadoras de serviços ambulatoriais de saúde, domicílios, escolas, associações comunitárias, fábricas, entre outros, sejam eles públicos e/ou privados, em que ocorre o cuidado de enfermagem. O processo de enfermagem deve ser realizado, de modo deliberado e sistemático, nas unidades de internação, enquanto nos cenários da comunidade, o processo de saúde de enfermagem corresponde ao usualmente denominado naqueles ambientes como consulta de enfermagem. A Resolução destaca que o processo de enfermagem organiza-se em cinco etapas inter-relacionadas, interdependentes e recorrentes. Na primeira etapa da coleta de dados de enfermagem (ou histórico de enfermagem) tem-se por finalidade a obtenção de informações sobre a pessoa, família ou coletividade humana e sobre suas respostas em um dado momento do processo saúde e doença. Para tanto, esse processo deliberado, sistemático e contínuo é realizado como auxílio de métodos e técnicas variadas. A segunda etapa, a do diagnóstico de enfermagem, trata-se de um processo de interpretação e agrupamento dos dados coletados na primeira etapa, que culmina coma tomada de decisão sobre os conceitos diagnósticos de enfermagem que representam,com mais exatidão, as respostas da pessoa, família ou coletividade 9 humana em umdado momento do processo saúde e doença, e que constituem a base para a seleção das ações ou intervenções com as quais se objetiva alcançar os resultados esperados. Na terceira etapa, relativa ao planejamento de enfermagem, ocorre a determinação dos resultados que se espera alcançar e das ações ou intervenções de enfermagem que serão realizadas face às respostas da pessoa, família ou coletividade humana em um dado momento do processo saúde e doença, identificadas na etapa de diagnóstico de enfermagem. A quarta etapa, a da implementação, é quando realizam-se as ações ou intervenções determinadas na etapa de planejamento de enfermagem, podendo envolver todos os membros da equipe de enfermagem, por delegação de competências e sob supervisão da enfermeira. A quinta e última etapa consiste da avaliação de enfermagem, em que, novamente, um processo deliberado, sistemático e contínuo de verificação de mudanças nas respostas da pessoa, família ou coletividade humana em um dado momento do processo saúde doença, é essencial para determinar se as ações ou intervenções de enfermagem alcançaram o resultado esperado. Nessa etapa, verifica- se a necessidade de mudanças ou adaptações nas etapas do processo de enfermagem. Planejamento Depois de identificar os diagnósticos de enfermagem, a enfermeira desenvolve um plano de cuidados e estabelece resultados ou metas. O resultado é a mudança projetada ouesperada no estado de saúde do paciente, na sua condição clínica ou em seucomportamento decorrente das intervenções de enfermagem implementadas. A metafinal dos cuidados de enfermagem é a reversão dos diagnósticos de enfermagem a umestado de saúde desejado. É preciso estabelecer um plano de cuidados antes dedesenvolver e implementar intervenções de enfermagem específicas. Implementação A fase de implementação começa quando a enfermeira realiza a intervenção selecionada em ação e reúne dados de feedback de seus efeitos (ou da resposta do paciente à intervenção). O feedback retorna sob a forma de observação e comunicação e provê um banco de dados que servirá de base para avaliar o resultado da intervenção de enfermagem. É imperativo haver uma avaliação contínua do estado do paciente durante todas as fases do processo de enfermagem, tornando, dessa 10 maneira, o processo dinâmico, em vez de um método de solução de problema estático. Durante a fase de implementação, a segurança física e o conforto psicológico do paciente inerenteaos cuidados traumáticos são as principais preocupações. Avaliação A avaliação é a última etapa no processo de tomada de decisões. A enfermeira reúne, separa e analisa dados para determinar se: o resultado estabelecido foi atingido, as intervenções de enfermagem foram apropriadas, o plano requer modificação, ou é preciso considerar outras alternativas. A fase de avaliação completa o processo de enfermagem (atingiu-se o resultado) ou serve de base para selecionar intervenções alternativas para resolver o problema específico. Com o foco atual nos resultados dos pacientes em relação aos cuidados de saúde, os cuidados do paciente são avaliados não só na alta, mas posteriormente também para garantir que os resultados sejam atendidos e haja o cuidado adequado para resolver problemas de saúde existentes ou em potencial. Um órgão federal que desenvolve diretrizes clínicas contendo medidas de resultados é a Agency for Healthcare ResearchandQuality. 11 USO DE CARACTERÍSTICAS DEFINIDORAS NA SELEÇÃO DO DIAGNÓSTICO DEENFERMAGEM APROPRIADO Uma criança de 18 meses de idade é hospitalizada em sofrimento respiratório e comum suposto diagnóstico de epiglotite. As ações de enfermagem iniciais concentram-seno estado fisiológico da criança. À medida que a condição se estabiliza, a enfermeiraobtém dados do histórico com a família. As imunizações da criança estão atualizadas,ela está limpa e bem nutrida e seu desenvolvimento é apropriado à idade. Ambos ospais estão presentes na hospitalização. A mãe está perturbada com o sofrimento respiratório do filho. Ela afirma que antes a criança estava só com “nariz escorrendo”, e ela pensou que se tratasse apenas de um resfriado. Quando o filho de repente começou a ter dificuldade para respirar, ela ficou insegura e não conseguiu aliviar o desconforto dele. Ela afirma: “Nada o fazia melhorar. Se eu soubesse que isso podia acontecer, teria trazido meu filho ao hospital antes. Sinto-me péssima como mãe.” No hospital, depois de explicações por parte da enfermagem, a mãe entende que a epiglotite é um problema que surge de modo súbito e tipicamente depois de sintomas de resfriado. Ela coopera e pergunta o que pode fazer para o filho ficar mais confortável. Ela implementa todas as sugestões da equipe de saúde. O pai apoia tanto o filho quanto a mulher, embora assuma um papel mais passivo de “ouvinte”. Três diagnósticos de enfermagem relacionados às situações do pai e da mãe podem ser relevantes. A primeira etapa é rever os diagnósticos e as características definidoras e decidir qual é mais apropriado. 1. Comprometimento do Papel dos Pais – Incapacidade do cuidador primário de criar, manter ou estabelecer um ambiente favorável ao crescimento e desenvolvimento do filho. Características definidoras selecionadas: Vínculo inseguro (ou ausente) com o bebê Habilidades de prover cuidados impróprias ou insuficientes 2. Conflito no Papel de Pai/Mãe – Experiência de confusão no papel de pai/mãe em resposta à crise Características definidoras selecionadas: Os pais expressam dúvidas a respeito de mudanças no papel de pai/ mãe Um transtorno manifestado nas rotinas de cuidados ou responsabilidade pelos cuidados 12 Os pais expressam dúvidas ou sentimentos de inaptidão em atender às necessidades físicas e emocionais do filho durante a hospitalização ou em casa Os pais verbalizam ou demonstram sentimento de culpa, raiva, medo, ansiedade ou frustração quanto ao efeito da doença do filho na dinâmica familiar. 3. Transtorno da Dinâmica Familiar – Mudança nas relações ou na dinâmica familiar. Características definidoras selecionadas: Manifestações de conflitos na família Mudanças nos padrões de comunicação entre os membros da família. Entre esses três diagnósticos, o mais relevante é o Conflito no Papel de Pai/Mãe. Os pais demonstram um comportamento de vínculo com o filho e estão atentos àsnecessidades dele. Eles parecem ter as habilidades de criação apropriadas e sãocapazes de comunicar-se efetivamente entre si. Nenhum deles expressa qualquerconflito dentro da família. O aparecimento súbito da doença do filho transtornou opapel usual da mãe e fez com que ela se sentisse inadequada, ansiosa e culpada.Entretanto, a mãe é capaz de adaptar-se a tal crise. Ela demonstra capacidade de lidar com o problema, aprendendo e implementando novas habilidades de prover confortopara o filho. As características definidoras dos outros dois diagnósticos demandamcaracterísticas mal adaptativas que esses pais claramente não demonstram. 1.2 Documentação e Registro do Cuidado de Enfermagem Avaliação inicial e reavaliações Diagnósticos de enfermagem, necessidades de cuidados do paciente ou ambos Intervenções identificadas para atender às necessidades de cuidados de enfermagem do paciente Cuidados de enfermagem que foram prestados Resposta do paciente aos, e os resultados dos cuidados administrados Competências do paciente ou, se apropriado, pessoa(s) próxima(s) em manejar as necessidades de cuidados contínuos depois da alta Documentação e Registro Muito embora a documentação e o registro não façam parte das cinco fases do processo de enfermagem, eles são essenciais à avaliação. A enfermeira pode 13 elaborar o histórico, o diagnóstico e identificar problemas, planejar e implementar sem registrá-los; entretanto, a evolução produz melhores evidências se o progresso em direção ao resultado for escrito. O prontuário do paciente deverá incluir evidências daqueles elementos listados no quadro Diretrizes para o Cuidado de Enfermagem. 1.3 Medidas de Qualidade do Resultado Qualidade do cuidado refere-se ao grau em que os serviços de saúde individual ou populacional aumentam a probabilidade dos resultados desejados para a saúde e são coerentes com os conhecimentos profissionais do momento (Instituteof Medicine, 2000). Em virtude de as enfermeiras serem os cuidadores principais nas instituições de saúde, os resultados de alta qualidade de enfermagem são usados como um indicador da capacidade de oferecer excelência no atendimento ao paciente. Indicadores sensíveis da enfermeira são escolhidos usando-se critérios específicos de avaliação. Critérios de avaliação da qualidade do resultado estabelecem um quadro para medir o desempenho da assistência de enfermagem. Além de usar os critérios de avaliação de medidas do NationalQualityForum, as enfermeiras devem avaliar cada indicador de qualidade da enfermagem para garantir que é um componente essencial da qualidade dos cuidados de saúde estabelecido pelo Instituteof Medicine (2000). Esses componentes incluem o seguinte: Segurança Eficácia Centrar-se no paciente Oportuno Eficiente Equitativo Ao longo dos capítulos que se concentram em problemas graves de saúde, temos desenvolvido exemplos de medidas de qualidade dos resultados para doenças específicas que refletem resultados centrados no paciente. Medidas de qualidade dos resultados promovem o trabalho em equipe interdisciplinar, e os quadros ao longo deste livro exemplificam medidas de colaboração efetiva para melhorar o atendimento. Quadros de Resultados de Qualidade Esperados do Paciente ao longo deste livro são 14 desenvolvidos para auxiliar os profissionais de saúde na identificação de medidas adequadas que avaliem a qualidade do atendimento ao paciente. 15 CUIDADOS DE ENFERMAGEM À CRIANÇA E ÀFAMÍLIA COM BASE NA COMUNIDADE Enfermagem na comunidade A saúde da criança e de sua família é fortemente influenciada pela comunidade em que vivem, e a enfermagem pode contribuir significativamente ao trabalhar com a comunidade na promoção de saúde da criança. As enfermeiras quetrabalham compopulações pediátricas na comunidade precisam entender os conceitos e os processoscríticos para abordar as questões pediátricas na perspectiva da comunidade.Comunidades saudáveis não só proporcionam excelentes cuidados médicos, comotambém um lugar seguro e estável para as crianças viverem e crescerem. Comunidades ecidades saudáveis intervêm sobre esses aspectos em regime de colaboração entre oscidadãos, profissionais de saúde, empresários e serviços públicos e privados (Riner, 2008). Este capítulo discute a enfermagem em saúde da comunidade e sua relação com acriança. Primeiramente, identificam-se e definem-se conceitos e princípios que servem debase à enfermagem em saúde da comunidade. Em seguida, descreve-se cada etapa doprocesso de enfermagem em saúde da comunidade, incluindo um quadro que demonstrao uso do processo para abordar um problema de saúde infantil muito real: a obesidade. 1.4 Conceitos de Comunidade Existem diversas maneiras de definir uma comunidade. Uma comunidade é um grupo de indivíduos com características e interesses em comum que interagem entre si (Rector,2010). Uma comunidade é um sistema que inclui crianças e famílias, o ambiente físico, serviços educacionais, recursos de transporte e segurança, organizações governamentais e políticas, serviços de saúde e sociais, recursos de comunicação, recursos econômicos e espaços para brincadeira. A comunidade também é o cliente da equipe de enfermagem que atua na comunidade (Anderson e McFarland, 2010). Iniciativas de saúde na comunidade são direcionadas para a saúde geral de toda a comunidade ou para populações específicas dentro da comunidade que tenham necessidades singulares. Neste contexto, populações podem ser descritas como grupos de pessoas que vivem em uma comunidade e têm 16 características em comum (p. ex., crianças em idade escolar).Populações-alvo ou subpopulações são grupos definidos mais restritamente (p. ex., pré-escolares não imunizados, escolares obesos) na direção dos quais a enfermagem concentra atividades para melhorar as condições de saúde dos indivíduos no grupo. Os valores comuns com frequência orientam comportamentos de populações e subpopulações em relação à promoção de saúde e prevenção de doenças (McEwen e Nies, 2011; Williams, 2010). Cuidados orientados à comunidade envolvem uma colaboração de indivíduos e grupos, incluindo profissionais de saúde, defensores da criança, governo, seguradoras de saúde, empresários, crianças e famílias, dentro de uma comunidade específica. O objetivo do esforço colaborativo é prover serviços que promovam as iniciativas de saúde infantil do Healthy People 2010 (População Saudável 2010). Os cuidados na comunidade “não têm muros”, no sentido de que os serviços de saúde são com frequência redesenhados para atender às necessidades da comunidade, que são as mais variadas. As pessoas envolvidas nos cuidados em saúde na comunidade estabelecem parceria com a comunidade para identificar, planejar, intervir e avaliar atividades que melhorem a saúde da comunidade (Anderson e McFarlane, 2010). No Brasil, as políticas públicas de saúde infantil articulam-se com outras políticas sociais de proteção à infância para implementar estratégias e ações envolvendo diferentes setores da sociedade. A colaboração intersetorial está prevista na Agenda de Compromisso para a Saúde Integral da Criança e Redução da Mortalidade Infantil, sendo o acesso da criança à saúde um direito fundamental que se articula com outros direitos, como a educação, o lazer, a convivência familiar e a profissionalização, previstos pela Lei n° 8.060/90 do Estatuto da Criança e do Adolescente. Por sua vez, recomenda-se acompanhar o resultado da Consulta Pública da Política Nacional dos Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes e Plano Decenal dos Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes 2011–2020, cujo resultado final não havia sido divulgado até a data de publicação deste livro. 17 1.5 Enfermagem em Saúde da Comunidade A enfermagem em saúde da comunidade concentra-se na promoção e na manutenção da saúde de indivíduos, famílias e grupos no contexto de uma comunidade. A enfermagem em saúde da comunidade é uma síntese de enfermagem e saúde pública. É focada na população e envolve a colaboração com outras disciplinas para acessar, planejar e implementar cuidados que enfatizem a responsabilidade pessoal pela saúde e pelo autocuidado dos membros da comunidade (Warner, 2010; Williams, 2010). Embora os conceitos de saúde da comunidade possam ser usados para tratar questões em qualquer ambiente, os tradicionais de saúde da comunidade incluem os seguintes: serviços de saúde domiciliar, escolas, consultórios médicos, clínicas ambulatoriais, serviço de emergência, centros de triagem telefônica, empresas de seguro, secretaria de saúde, agências de auxílio internacional, serviços de educação em saúde, escolas socio educativas juvenis, acampamentos, creches, orfanatos, serviços de cuidados paliativos e centros de reabilitação. A American Nurses Association (1986) estabeleceu nove padrões para a enfermagem em saúde da comunidade a fim de orientar a prática em todos os ambientes. Esses padrões incluem as seguintes categorias: teoria, coleta dedados, diagnóstico, planejamento, intervenção, avaliação, certificação de qualidade e desenvolvimento profissional, colaboração interdisciplinar e pesquisa. O escopo e a revisão dos padrões de enfermagem em saúde pública (American Nurses Association,2007) descrevem os principais componentes e os critérios de medida para cada padrão. Os papéis e as funções da enfermagem em saúde da comunidade continuam a evoluir. No futuro, mais enfermeiras pediátricas estarão trabalhando em ambientes comunitários. O relatório do Health Resourcesand Services Administration (2004) identificou que 14,9% do total da força de trabalho de enfermeiras estava empregado em serviços da comunidade ou saúde pública, e 11,5% em ambulatórios. Apenas 56,2% das enfermeiras estavam empregadas em hospitais. Um exemplo da evolução do papel é a necessidade de enfermeiras capacitadas para trabalhar em saúde pública/saúde da comunidade durante episódios de desastres naturais, ameaças à saúde pública e ataques terroristas As comunidades são afetadas por desastres, sejam eles naturais, como furacões e incêndios florestais, ou desastres causados pelo homem, como ataques 18 terroristas. Durante os desastres, as comunidades podem carecer de recursos para reagir e recuperar-se por si sós. A enfermagem pediátrica em todos os contextos precisa conhecer os estágios de manejo dos desastres, que incluem: Prevenção – Identificação dos riscos de desastre; educação sobre que ações tomar. Preparação e planejamento Para indivíduos e famílias – Treinamento em primeiros socorros, manutenção de um kit de emergência, um ponto de encontro predeterminado e um plano de comunicação. Para comunidades e instituições – Determinação das linhas de autoridade e comunicação; coordenação de pessoal, suprimentos e equipamentos; evacuação; resgate; cuidados com os mortos. Resposta – Inicia depois do desastre; os planos são implementados, o que pode incluir abrigo para as pessoas, evacuação ou busca e resgate. Calma e paciência são características essenciais para todos os envolvidos. Tradicionalmente, os papéis das enfermeiras na comunidade incluíam os de cuidadoras, defensoras dos direitos das pessoas, gerente de casos, buscadora ativa de casos, conselheira, educadora, epidemiologista, líder de processos grupais, planejadora e gestora. Por exemplo, a enfermeira empregada em uma clínica de pediatria ambulatorial desempenha uma série de funções para prestar cuidados a uma criança com diabetes tipo 2. A enfermeira realiza o gerenciamento de caso ao coordenar as disciplinas envolvidas nos cuidados, équem aconselha e apoia a criança e a família durante o desenvolvimento da crise, e é a pessoa que busca os casos, identificando os fatores de risco nos irmãos da criança. o Brasil, a Constituição Brasileira e a Lei do Sistema Único de Saúde (Lei8.080/90) regulamentam o acesso ao serviço de saúde como um direito do cidadão e um dever do Estado. Particularmente, no que diz respeito ao atendimento em saúde da criança e do adolescente, cabe ao Sistema Único de Saúde (SUS) garantir a extensão de cobertura a todos, sem distinção de raça, etnia, credo, situação socioeconômica. A proteção à infância e adolescência é assegurada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. A Lei Federal n° 8.060/90 destaca um conjunto de atribuições do SUS, assegurando as condições necessárias para o atendimento à criança em todos os níveis de cuidados de saúde. 19 PROCESSO DE ENFERMAGEM NA COMUNIDADE Na enfermagem na comunidade, o foco do processo de enfermagem desloca- se da criança e da família para a comunidade ou a população-alvo. Os estágios do processo (histórico, diagnóstico, planejamento, implementação e avaliação) são semelhantes, seja o paciente uma criança ou uma população de crianças; apenas os tipos de intervenções e indicadores de bem-estar e afecções é que diferem (Anderson, 2010). O histórico concentra-se em coletar informações objetivas e subjetivas a respeito da população-alvo para diagnosticar problemas baseados nas necessidades da comunidade. O planejamento envolve o desenvolvimento de metas centradas na comunidade. Durante o estágio de implementação, a enfermeira trabalha com a comunidade para implementar um programa que permita que seus membros atinjam suas metas. Por fim, a enfermeira realiza a avaliação final verificando se as metas foram atendidas. A enfermagem na comunidade é colaborativa, e a enfermeira é um dos membros de uma equipe na comunidade que inclui outros profissionais de saúde, educadores, políticos, líderes religiosos, membros de organizações públicas e voluntárias e consumidores. O papel da enfermagem depende da abrangência do projeto, da população-alvo e da experiência e especialidade dos membros da equipe. Histórico e diagnóstico – A enfermeira coleta informações subjetivas e objetivas sobre uma comunidade e desenvolve um diagnóstico com base nas necessidades e problemas da comunidade. Planejamento – A enfermeira desenvolve metas centradas na comunidade para trataras necessidades e os problemas identificados. Implementação – A enfermeira implementa um programa que permita aos membros da comunidade atingirem suas metas. Avaliação – A enfermeira conduz uma avaliação sistemática para determinar se as metas e os objetivos do programa foram atingidos. 1.6 Histórico e Diagnóstico das Necessidades da Comunidade A fase de avaliação do processo de enfermagem na comunidade é denominada histórico das necessidades da comunidade. O histórico envolve a coleta de informações subjetivas e objetivas a respeito de uma comunidade. Informações 20 subjetivas indicam o que os membros da comunidade dizem ser as necessidades mais importantes e podem ser determinadas de diversas maneiras. Uma delas é distribuir questionários a uma amostra de pessoas que vivem na comunidade. Um outro modo é entrevistar membros da comunidade diretamente, por telefone ou em reuniões com as pessoas (p. ex., líderes comunitários) que representem o grupo ou que tenham um papel especial no grupo. Informações objetivas são dados que a enfermeira coleta, seja pela observação direta ou por fontes escritas. Um passeio pelas vizinhanças é um método de observação direta. A enfermeira dirige pela vizinhança e faz anotações sobre o ambiente, o aspecto das casas, a presença de calçadas e sarjetas, o número de áreas públicas etc. As informações objetivas sobre o estado de saúde da comunidade também podem ser obtidas de fontes como Secretarias de Saúde do Município e do Estado, agências censitárias, organizações não governamentais ligadas à saúde, bibliotecas, sites na Internet de organizações de saúde voluntárias ou órgãos governamentais. Informações sobre órgãos de serviços podem ser encontradas em diretórios de serviços, incluindo o catálogo telefônico local, diretórios de serviços compilados por organizações como a United Way e livros específicos sobre a população em órgãos públicos e voluntários. Uma maneira de organizar o histórico da comunidade é usar um roteiro que enumere os sistemas comunitários que é preciso examinar. Este processo é semelhante a usar um roteiro do exame físico para avaliar os diferentes sistemas corporais em um determinado paciente. Anderson e McFarlane (2010) descreveram oito sistemas comunitários que a enfermeira deverá examinar: sistema de saúde e social, de comunicação, de recreação, do ambiente físico, educacional, de segurança e transporte, de organização política e governo e sistema econômico. Durante a etapa do histórico, a enfermeira estuda como cada componente da comunidade funciona e interage para atender às necessidades das crianças, identifica as vantagens da comunidade e determina se quaisquer barreiras rompem os componentes e impedem o acesso das crianças e suas famílias aos cuidados. Após a conclusão do histórico, a enfermeira da comunidade colabora com os membros da equipe na análise dos resultados dos levantamentos e questionários, determina se as necessidades descritas pelos membros da comunidade podem ser atendidas pelos órgãos comunitários existentes e identifica indivíduos em maior risco. Durante a análise, as características demográficas, taxas de morbidade e taxas de 21 mortalidade na comunidade são comparadas a um padrão. Comparações podem ser feitas com base temporal ou local. Em comparações temporais, a enfermeira contrasta as taxas do ano em curso comas taxas de período anterior. Nas comparações de local, a enfermeira contrasta as taxas da comunidade com as de uma população padrão. As taxas padrão podem vir de outra comunidade ou cidade, outro estado ou de taxas nacionais. Por exemplo, a taxa de tuberculose em um grupo de crianças pré- escolares, na comunidade em 2010, poderia ser comparada com a taxa de tuberculose em crianças pré-escolares no estado, no mesmo ano. Um diagnóstico de saúde da comunidade é o reflexo do estado de saúde, riscos ou necessidades determinadas por um agente causador. O formato de um diagnóstico da comunidade é semelhante ao do diagnóstico de enfermagem de um indivíduo, com um problema (necessidade) e a etiologia relacionada àquele problema (agente causador). Um exemplo de diagnóstico de enfermagem da comunidade é “O sobrepeso entre crianças em idade escolar relacionado à atividade física reduzida, conforme demonstrado pelo relatório da enfermeira de saúde escolar, indica que 60% das crianças da escola possuem um percentil de IMC entre 85 e 95” (Cassells, 2010). 1.7 Planejamento da Comunidade A enfermeira colabora com os membros da comunidade no desenvolvimento de um plano direcionado para as necessidades e os problemas da população-alvo. Para maximizar o uso dos recursos da comunidade, os problemas deverão ser priorizados primeiramente com base na sua gravidade, nas necessidades percebidas pela comunidade e na capacidade de a enfermeira da comunidade provocar mudanças. Após priorizar os problemas, a enfermeira trabalha com os membros da comunidade para desenvolver pelo menos uma meta para cada problema que os membros elegerão. Metas são os resultados que orientam as intervenções e dão uma medida da mudança que as intervenções produziram. As intervenções na comunidade frequentemente tomam a forma de programas de saúde para melhorar o estado de saúde da população-alvo. Os programas de saúde comunitários baseiam-se em três níveis de prevenção: primário, secundário e terciário. Por exemplo, uma meta para prevenir acidentespor quedas de bicicleta é “Daqui a 1 ano, todos os estudantes do primeiro ano estarão usando capacetes”. A enfermeira e os membros da comunidade 22 então planejam um programa que inclua a educação em saúde sobre segurança na bicicleta e prevenção de acidentes para estudantes e pais (prevenção primária). 1.8 Intervenções de Enfermagem e Família Ao trabalhar com crianças, a enfermeira deve incluir membros familiares em seu plano de cuidados. A pesquisa confirma o desejo e expectativa dos pais de participar dos cuidados de seu filho (Power e Franck, 2008). Por exemplo, na teoria do sistema familiar, o foco é sobre a interação de membros da família dentro do ambiente maior. Neste caso, usar dinâmica de grupo para envolver todos os membros no processo de intervenção e ser um comunicador qualificado é essencial. A teoria sistêmica também apresenta excelentes oportunidades para orientação antecipada. Como cada membro da família reage a cada estresse experimentado por esse sistema, a enfermeira pode intervir para ajudar a família e se preparar para lidar com as mudanças. Na teoria de estresse familiar, a enfermeira utiliza estratégias de intervenção de crise para ajudar os membros da família a lidar com o evento desafiador. Na teoria do desenvolvimento, a enfermeira fornece orientação antecipada para preparar os membros para a transição para a fase familiar seguinte. Enfermeiras que pensam que o envolvimento da família desempenha um papel fundamental no cuidado de uma criança têm mais propensão a incluir as famílias nos cuidados diários da criança (Fisher, Lindhorst, Matthews et al., 2008). Modificação do comportamento Coordenação e gerenciamento de caso Estratégias de colaboração Contratação Aconselhamento, incluindo suporte, reavaliação cognitiva e reestruturação Capacitação das famílias por meio da participação ativa Modificação ambiental Defesa da família Intervenção em crises familiares Rede social, incluindo a utilização de grupos de autoajuda e apoio social Fornecer informações e experiência técnica Ser modelo de papéis 23 Suplementação de papéis Estratégias de ensino, incluindo gerenciamento/controle do estresse, modificações no estilo de vida e orientação antecipada. 1.9 Importância do Desenvolvimento da Competência Cultural Para a Enfermagem Os profissionais de enfermagem têm a responsabilidade profissional, ética, moral e legal de prestar cuidados, buscando entender as mais variadas e inúmeras influências culturais sobre a vida de uma criança e da família e que sejam consistentes com seus valores e desejos. O desafio para as enfermeiras é ganhar conhecimento sobre valores culturais de cuidados, crenças e práticas para usar este conhecimento sobre o cuidado que elas fornecem (Leininger, 2001). Para entender e lidar eficazmente com as famílias em uma comunidade multicultural, as enfermeiras devem estar cientes de suas próprias atitudes e valores. Enfermeiras, também, são um produto de sua própria formação cultural e educação. Elas são parte da “cultura de enfermagem”. As enfermeiras funcionam dentro de um quadro de uma cultura profissional com seus próprios valores e tradições e, como tais, se tornam socializadas naquela cultura através de programas educacionais e mais tarde pelo ambiente de trabalho e associações profissionais. Frequentemente, as enfermeiras e outros profissionais de saúde não estão cientes de seus próprios valores culturais e como esses valores influenciam seus pensamentos e ações. Enfermeiras podem desenvolver a autorreflexão e a reflexão crítica desde a graduação em enfermagem. A autorreflexão integra-se e ajusta-se ao “quadro de referência, que sofre influência de assimilações culturais e serve para estabelecer a visão de mundo de uma pessoa”. A enfermeira pode fazer este ajuste refletindo sobre suas suposições prévias, considerando perspectivas alternativas, e, em seguida, mudando a própria perspectiva de como se sente necessária. Reflexão crítica é outra abordagem de autorreflexão que incentiva a enfermeira a entender como suas percepções de saúde, doença e de enfermagem têm sido formadas ao longo do tempo. Padrões culturais, valores e história; a estrutura da família e função; e experiências passadas com cuidados de saúde influenciam os sentimentos e atitudes de uma família sobre a saúde, seus filhos, e o sistema de prestação de cuidados de saúde. Basear-se apenas em valores e experiências próprias para 24 orientar-se pode causar frustração e decepção. Precisa-se saber o que é necessário para lidar com um problema de saúde; muitas vezes é mais difícil implementar um curso de ação bem-sucedido, a não ser que as enfermeiras trabalhem dentro do quadro cultural e socioeconômico da família Competência cultural inclui os seguintes cinco componentes: 1. Consciência cultural – um processo cognitivo através do qual a enfermeira valoriza e é sensível aos valores culturais do paciente e da família 2. Conhecimento cultural – uma fundamentação que a enfermeira cria com a educação formal e informal, que inclui visões de mundo de diferentes culturas, valores, crenças e percepções sobre saúde e doença 3. Habilidade cultural – a habilidade de incluir dados culturais na avaliação de enfermagem por meio de coleta de dados culturais na entrevista de saúde e em observações 4. Encontro cultural – o processo pelo qual a enfermeira busca oportunidades para participar de interações interculturais, direta ou indiretamente 5. Motivação cultural – a genuína e sincera motivação para trabalhar de forma eficaz com clientes minoritários; isso só pode ser conseguido se o indivíduo tiver vontade de se engajar em um processo de adquirir competência cultural. É essencial esforçar-se para adaptar as práticas de saúde às necessidades de saúde da família, em vez de tentar mudar crenças antigas. Humildade cultural é um processo ativo, dinâmico e permanente. Os componentes da competência cultural descritos demonstram não apenas a natureza evolutiva de buscar a compreensão da cultura de uma criança e família, mas também como a enfermeira muda como parte do resultado 1.10 Diretrizes Para Integrar Cuidado Espiritual na Prática de Enfermagem Pediátrica Respeitar a criança e sua família com relação às crenças e práticas religiosas. Considerar o desenvolvimento da criança ao falar sobre as preocupações espirituais. Contatar o serviço religioso da instituição para pacientes e familiares que têm sintomas de angústia espiritual ou pedem rituais religiosos específicos. 25 Informar-se sobre as visões religiosas dos grupos culturais encontrados nos pacientes dos quais cuida. Incentivar a visitação dos membros familiares, membros da comunidade espiritual do paciente e líderes espirituais. Permitir que as crianças e familiares lhe ensinem sobre a especificidade de suas crenças religiosas. Desenvolver a consciência de sua própria perspectiva espiritual. Ouvir para compreender em vez de concordar ou discordar. Respeitar esses rituais é especialmente importante durante um exame físico ou preparação para cirurgia. Um importante papel da enfermeira é estar consciente das necessidades espirituais das famílias e transmitir uma atitude de preocupação com este importante elemento do cuidado da criança. Religião, que oferece às famílias compreensão e apoio espiritual, é um recurso valioso para os cuidados de saúde. Em alguns casos, os direitos da família e a responsabilidade do estado podem estar em conflito. Por exemplo, as Testemunhas de Jeová recusam transfusões de sangue para si e para os seus filhos. Os pais, por lei, têm a obrigação primordial de cuidar e tomar decisões sobre seus filhos menores de idade. No entanto, o princípio legal de proteção dos interesses da criança, previsto por legislação específica, dizque é responsabilidade do Estado assegurar todo o direito à saúde e o bem-estar dos seus cidadãos. Recusa dos pais ao tratamento médico para seu filho que é considerado essencial pode ser interpretada como negligência. Além de defender a criança e a família, o papel da enfermeira pode incluir assumir o papel de consultor da equipe e família sobre métodos novos, alternativos de transfusão, e, se necessário, ajuizar petição na vara da infância e da juventude para guarda e responsabilidade temporária da criança. 26 AS TEORIAS DA ENFERMAGEM Para que se tenha uma assistência de enfermagem adequada e individualizada é necessária à aplicação da SAE, baseada em uma teoria específica que seja de conhecimento de todos os profissionais da instituição que realizam o cuidado. Além disso, deve estar ajustada conforme as possibilidades de cada instituição: número de funcionários, horas semanais de serviço, dentre outros. A enfermagem sempre se baseou em princípios, crenças, valores e normas tradicionalmente aceitos, porém a evolução da ciência mostrou a necessidade de se pesquisar para construir o saber. Assim, na década de 50 os enfermeiros perceberam a necessidade de desenvolver 31conhecimentos específicos e concluíram que isso só seria possível através da elaboração de teorias próprias. As teorias de enfermagem podem ser classificadas por dois modos distintos: 1. quanto ao foco primário permitindo então definir 04 grupos distintos de teorias: Centradas no cliente, Centradas no relacionamento entre o cliente e o ambiente; Centradas na interação enfermeiro-cliente; Centradas na terapêutica da enfermagem. 2. no segundo modo, a classificação é feita pelo papel que o enfermeiro desempenha na prática profissional e a escola de pensamento que os teóricos estão ligados. Neste modo distinguem-se 03 grupos de teorias de enfermagem: Orientadas para as necessidades dos clientes; Orientadas pelo processo de interação enfermeiro-paciente; Orientadas no resultado das ações de enfermagem São diversas as teorias de enfermagem encontradas atualmente e que contribuem de sobremaneira à construção do saber da enfermagem, haja vista que a enfermagem é uma ciência e uma arte dedicada ao cuidado da pessoa humana quer seja individual ou coletivamente. Neste trabalho utiliza-se a Teoria das Necessidades Humanas de Wanda Horta por ser a teoria empregada pela equipe de enfermeiros na instituição cenário deste estudo, bem como, foi a teoria de Wanda Horta que mais fortemente modificou a prática da área no Brasil. 27 1.11 A Gerência do Cuidado e a Sistematização da Assistência de Enfermagem O enfermeiro é o profissional que coordena e gerencia todo o processo de assistência a ser desenvolvido em relação ao paciente e tudo o que o envolve no contexto da instituição hospitalar. O enfermeiro tem basicamente quatro atividades essenciais que norteiam a sua profissão: assistencial, gerencial, educativa e de pesquisa. No cotidiano de trabalho, estas atividades não podem ser desenvolvidas separadamente, pois a interseção entre elas é um fator importante para prestar assistência de enfermagem de forma segura e livre de riscos à população. Todos os enfermeiros devem desenvolver algum nível das 04 atividades, ou seja, todos são agentes de mudança enquanto lideram uma equipe, pois, a liderança de equipe é parte importante do papel de gerência do cuidado de enfermagem, que pode resultar em minimização de custos e problemas no serviço e consequentemente maior qualidade do serviço prestado.Na internação pediátrica contribui à alta responsável, minimizando os impactos negativos da hospitalização infantil. No século XIX, Florence Nightingale postulou um sistema de organização do serviço de enfermagem, institucionalizando a hierarquização do fazer em enfermagem, o que naquela época tornou-se o modelo de organização da enfermagem. Passou então, a existir ladiesNurses e as Nurses, sendo ladiesNursesas responsáveispela organização e definição do trabalho de enfermagem e as Nurses as responsáveis diretas pela prestação do cuidado de enfermagem. A própria formação era diferenciada, enquanto ladiesNursesestudavam um ano de aulas sobre administração e chefia, além de dois anos de prática, as Nurses apenas cursavam um ano de instrução, além de mais três de prática supervisionada. Observa-se com isso que Nightingale, introduziu na Enfermagem os primeiros conceitos de administração. Pode-se entender então, que naquela época já havia a organização do trabalho de enfermagem e um posicionamento a respeito do profissional responsável por definir o cuidado a ser prestado. Desta forma surge na enfermagem a figura do gerente de enfermagem que tem a função de organizar a prática de enfermagem e consequentemente proporcionar a qualificação e segurança no cuidado. A SAE é uma ferramenta importante da gerência do cuidado uma vez que ao realizá-la, o gerente de enfermagem e sua equipe podem organizar o trabalho “quanto 28 ao método, pessoal e instrumentos”, definir as atividades pertinentes ao perfil de sua clientela, priorizando as atividades de maior relevância e impacto social, principalmente quando se gerencia unidades públicas de saúde. A utilização da SAE é a principal estratégia para melhorar a qualidade da assistência oferecida e propicia conhecimento individualizado e integral aos pacientes. A SAE pode contribuir para que a enfermagem adquira autonomia profissional, visto que utiliza bases científicas e teóricas que só serão alcançadas com a aplicação sistemática do PE. A sistematização da assistência possibilita criar uma linguagem universalizada para os cuidados de enfermagem, identificar sua eficácia e estabelecer um padrão de qualidade, entretanto, a implementação da SAE ainda é um desafio, pois é um processo incipiente nos serviços de saúde, dadas as dificuldades, como a sobrecarga de trabalho associada aos desvios e a indefinição da função do enfermeiro, a exiguidade de tempo para a assistência dado o número insuficiente de profissionais e a falta de conhecimento da equipe de enfermagem sobre a SAE. A legislação brasileira e o orçamento público, no caso das instituições públicas, são exemplos de fatores que dificultam a rápida solução de problemas como o déficit de profissionais, materiais e estrutura. A Constituição Federal do Brasil de 1988determinaque o provimento de cargos públicos deva ser realizado mediante concurso público. A realização do concurso público para provimento de profissionais no âmbito do SUS é um processo de reposição de capital humano que requer dos gestores planejamento para evitar déficit de profissionais. De forma semelhante, o abastecimento de materiais hospitalares e melhorias de estrutura das instituições deverão ser realizados mediante processo de licitação preconizado pela lei 8.666/1993. No Brasil, a Sistematização da Assistência de Enfermagem é uma atividade do gerente de enfermagem bem definido na legislação, tanto na Lei 7498/86 que regulamenta o exercício da enfermagem, quanto na Resolução 358/09 que dispõe sobre a Sistematização da Assistência de Enfermagem e a implementação do Processo de Enfermagem em ambientes, públicos ou privados, em que ocorre o cuidado profissional de Enfermagem. É preciso entender que há diferença entre SAE e PE. Muitos autores utilizam- se destas metodologias como sinônimos, entretanto, são metodologias diferentes de gerenciar o cuidado de enfermagem. Enquanto a SAE é um conjunto de ferramentas 29 que instrumentalizam o enfermeiro, o PE é uma metodologia que orienta o cuidado profissional de enfermagem e documentação. Cabe, portanto ressaltar que a SAE e o PE são inter-relacionados, apesar de suas especificidades conceituais e operacionais, e quando incorporados no processo de trabalho permitem organizar e avaliara pratica de enfermagem de forma a melhorá- la e Cabe, portanto ressaltar que a SAE e o PE são inter-relacionados, apesar de suas especificidades conceituais e operacionais, e quando incorporados no processo de trabalho permitem organizar e avaliar a pratica de enfermagem de forma a melhorá-la e garantir a continuidade das informações sobre o cuidado. O PE é uma ferramenta importante da SAE, garantindo ao usuário a individualidade da atenção à saúde. A operacionalização da SAE exige a utilização de um referencial teórico adequado, interação da equipe multiprofissional, adequação à realidade e, acima de tudo, ter como premissa a atenção com qualidade e segurança ao indivíduo hospitalizado 1.12 A Articulação do Cuidado de Enfermagem com as Políticas Públicas A SAE e o PE estão intimamente ligados a diversas Políticas Públicas vigentes no Brasil fato que torna importante apresentarmos esta correlação. Alguns fatores são vitais quando a instituição planeja a implantação da SAE e do PE, principalmente, quando se trata de instituição pública. 1.13 Lei Orgânica da Saúde A Lei Orgânica da Saúde regula as ações e serviços de saúde, executados isolada ou conjuntamente, em caráter permanente ou eventual, por pessoas naturais ou jurídicas de direito público ou privado, objetivando prover condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde dos cidadãos. Dentre seus princípios, inclui-se o da integralidade, que pode ser concebida como um modo de organizar as práticas de cuidado em saúde de forma a atender as necessidades individuais ou coletivas, com o objetivo de alcançar a saúde integral do usuário do SUS. A integralidade é um dos princípios fundamentais do SUS, pois proporciona à população o acesso livre e irrestrito dos serviços necessários à manutenção da Saúde. 30 Quando o enfermeiro realiza o PE em uma unidade pediátrica, deve considerar quais as ações individuais e coletivas devem realizar, a fim de que ao paciente sejam oferecidos todos os cuidados requeridos ao atendimento de suas individualidades inclusive com o acionamento de outros membros da equipe multidisciplinar. Deve primar para que a saúde, a educação e a assistência social estejam integradas de forma a proporcionar à criança hospitalizada, a continuidade do atendimento às suas necessidades de humanas básicas na integra ou o mais próximo a isto. 1.14 Agenda de Compromissos com a Saúde Integral da Criança e Redução da Mortalidade Infantil Apresentada pelo Ministério da Saúde em 2004, a Agenda de Compromissos com a Saúde Integral da Criança e Redução da Mortalidade Infantil tem como objetivo orientar os profissionais que lidam com a criança para um cuidado integral e multiprofissional, que compreenda todas as suas necessidades e direitos enquanto indivíduo. Dentre os princípios norteadores do cuidado na saúde da criança, incluem-se: a assistência resolutiva, que diz que o cuidado não deve ser dispensado de forma pontual e fragmentado, devendo-se garantir continuidade da assistência prestada, a atuação em equipe, que reforça a necessidade de articulação dos saberes e intervenções dos profissionais, e a avaliação permanente e sistematizada da assistência prestada, que enfatiza a necessidade de revisão constante dos problemas enfrentados, para a busca de soluções que promovam resultados satisfatórios na assistência à população. A referida agenda apresenta de forma clara que os profissionais de saúde que atendem à população infantil no Brasil, devem desenvolver um trabalho articulado e multidisciplinar no atendimento das necessidades de saúde da criança e a identificação da necessidade do gerente de enfermagem em institucionalizar a SAE e o processo de enfermagem. 31 A CONSULTA DE ENFERMAGEM EM SAÚDE DA CRIANÇA A CONSULTA DE ENFERMAGEM EM SAÚDE DA CRIANÇA Nesta unidade, além de você identificar os pontos principais de uma consulta de enfermagem à criança na atenção primária, você verá aspectos do crescimento e do desenvolvimento da criança. Na atenção primária, é de extrema importância a consulta de enfermagem para o acompanhamento da saúde da criança, com vigilância do crescimento e desenvolvimento, prevenção de agravos, promoção e manutenção da saúde, de modo sistematizado, de caráter generalista, centrada no ciclo vital e no contexto da família, buscando contribuir para que a criança alcance todo o seu potencial (CAMPOS et al., 2011; RIBEIRO; OHARA; SAPAROLLI, 2009) A prática assistencial da consulta de enfermagem foi legalizada pela Lei n. 7498/86, que regulamentou o exercício da Enfermagem. Estabeleceu essa atividade como privativa do enfermeiro(a), assim como a Resolução n. 159 do Conselho Federal de Enfermagem descreve a obrigatoriedade da realização da consulta de enfermagem em todos os níveis de atenção à saúde (COFEN, 1993). A consulta de enfermagem em puericultura para a avaliação da saúde da criança tem como objetivos (RIBEIRO; OHARA; SAPAROLLI, 2009): Prestar assistência sistematizada de enfermagem à criança e a sua família. Promover a interação com a criança e a família na perspectiva do estabelecimento de vínculo e respeito à autonomia do usuário. Conhecer a situação biopsicossocial, espiritual, econômica e sanitária da família da criança, relacionando com sua qualidade de vida e; intervir, quando necessário. Ampliar a cobertura de atendimento à criança e a sua família, contribuindo para a melhoria da qualidade da assistência. Monitorar o processo de crescimento e desenvolvimento da criança. Orientar e apoiar a gestante e a puérpera quanto ao aleitamento materno e aos cuidados com a criança. 1.15 A Consulta de Enfermagem em Puericultura Na atenção primária em saúde da criança, a assistência em puericultura volta- se para o acompanhamento periódico e sistematizado da criança para a vigilância da 32 saúde em seu processo de crescimento e desenvolvimento infantil, vacinação, aleitamento materno e alimentação complementar saudável, prevenção de acidentes, atenção aos agravos prevalentes na infância e cuidados gerais com a criança no contexto da família. Aqui, apresentamos de modo sucinto pontos importantes a serem garantidos nas consultas de enfermagem em puericultura: 1. Levantamento de dados da criança, sua família e comunidade: Anotar os dados de identificação: nome, data de nascimento, sexo, idade, registro de nascimento, nome da mãe, nome do pai, escolaridade, ocupação, profissão, procedência, endereço. Acompanhar o histórico perinatal: gestação, paridade, aborto, gravidez planejada/desejada ou não, realização de pré-natal, intercorrências, tipo de parto, local do parto, idade gestacional, uso de método contraceptivo e planejamento familiar, acompanhamento de saúde da mulher, primeiros cuidados com o bebê. Verificar histórico familiar e ambiente: presença/ausência de apoio familiar ou entorno, doenças na família, irmãos, presença/ausência do pai, condições de moradia, condições ambientais, situação socioeconômica, dificuldades e facilidades. Os dados podem ser coletados em mais de um encontro com a família, por meio de visitas domiciliares e nos atendimentos em consultas de enfermagem. A busca por informações deve ser flexível e o mais importante é estabelecer vínculo e boa interação com a família de modo compartilhado. Também podem ser utilizados os instrumentos genograma e ecomapa. 2. Avaliação e Intervenção na saúde da criança: Acompanhar o histórico atual: estado geral da criança, percepções da mãe/família/cuidador sobre o crescimento e desenvolvimento da criança, situação alimentar, higiene, eliminações, sono e repouso, cuidados cotidianos e medidas caseiras com a criança, relacionamento familiar, vacinação, uso de medicações, entre outros. Realizar exame físico, antropometria, observação do desenvolvimento, avaliação eintervenção, se necessário. 33 Orientações específicas para a continuidade dos cuidados com a saúde da criança e autonomia materna no domicílio, reforço sobre as necessidades e segurança da criança e sobre quando retornar ao serviço de saúde. A avaliação e as intervenções em saúde da criança precisam ser continuamente atualizadas para que a consulta de enfermagem seja realizada de modo eficaz. Garantindo assim, um bom acolhimento da criança e da sua família; a realização de exame físico detalhado e a avaliação clínica pertinente, atentando para as enfermidades prevalentes na infância e os sinais precoces para detectar complicações; realizar educação em saúde, com promoção do desenvolvimento infantil, boas interações com a família e proteção aos direitos da criança. Também são muito importantes as anotações na caderneta de saúde da criança e o estímulo aos pais e cuidadores para utilizar as informações da caderneta e levá-la sempre em todos os serviços de saúde que a criança utilizar. 1.16 O Crescimento da Criança Para relembrar o que é crescimento e desenvolvimento, vamos apresentar a seguir uma pequena revisão. Crescimento é o aumento no número e no tamanho das células à medida que elas se dividem e sintetizam novas proteínas. Resulta em tamanho e peso aumentados da totalidade ou de qualquer uma das partes do corpo (MARCONDES, 2003). Desenvolvimento é a alteração e a expansão gradual, o avanço a partir de estágios mais inferiores para os mais avançados de complexidade; capacidades emergentes e em expansão do indivíduo por meio do crescimento, da maturação e do aprendizado (MARCONDES, 2003). Trata-se de um processo dinâmico e contínuo, que ocorre desde a concepção até o final da vida. É um dos melhores indicadores da saúde da criança. O crescimento e o desenvolvimento estão diretamente relacionados a medidas de proteção, como o planejamento familiar, a assistência adequada no pré-natal, parto e puerpério e; a medidas de promoção, proteção e recuperação da saúde nos primeiros anos de vida (BRASIL, 2002a). Alguns fatores interferem diretamente no processo de crescimento e desenvolvimento, como os fatores intrínsecos (genética, metabólicos e malformações) 34 e os fatores extrínsecos (alimentação, infecções, higiene, habitação e os cuidados gerais com a criança). A curva de crescimento é uma ferramenta utilizada para acompanhar o crescimento e o desenvolvimento da criança. A interpretação dela mostra os sinais de alerta relacionados às alterações no crescimento da criança. A avaliação básica do crescimento envolve a mensuração do peso e da estatura ou altura e a comparação dos resultados obtidos com as curvas de crescimento. Seu objetivo é determinar se a criança está crescendo “normalmente”. A mensuração, a plotagem e a interpretação correta dos dados obtidos são fundamentais para identificar problemas. Caso qualquer desvio seja diagnosticado, é necessária uma abordagem mais aprofundada para que se estabeleça sua causa. Os novos gráficos mostram que o crescimento pode ser atingido com a alimentação e os cuidados de saúde recomendados. Tais gráficos podem ser utilizados em qualquer parte do mundo (BRASIL, 2010). As curvas de peso e altura são uma importante ferramenta de educação para a saúde para mostrar à família que se o peso acompanha o desenho, a criança está indo bem; se está paralelo ao eixo X, ela está em risco e; se está descendente, a criança está em processo de desnutrição. Assim, tanto a família quanto os profissionais têm uma visão longitudinal do crescimento e do desenvolvimento da criança. 35 Gráfico 1: Crescimento da Menina - Do nascimento aos 5 anos (percentis) v Fonte: WHO (2006) 36 Gráfico 2: Crescimento do Menino - Do nascimento aos 5 anos (percentis) Fonte: WHO (2006) Para a interpretação das curvas de crescimento no gráfico, temos que salientar: Estatura/altura para a idade: a aferição da estatura/altura para a idade reflete o crescimento em comprimento ou a altura da criança de acordo com a idade em uma dada visita. Esse indicador pode ajudar a identificar as crianças que estão baixas devido à desnutrição prolongada ou a repetidos episódios de doença. Crianças que são altas para a sua idade também podem ser identificadas, mas uma altura elevada raramente é um problema, a menos que seja excessiva, podendo refletir desordens endócrinas incomuns. Peso para a idade: reflete o peso corporal em relação à idade da criança em um determinado dia. O referido indicador é usado para avaliar se uma criança está com baixo ou muito baixo peso, mas não pode ser utilizado de forma isolada para classificar uma criança como estando com sobrepeso ou obesidade. É relativamente fácil medir o peso, logo, esse indicador é geralmente usado, mas não deve ser invocado em situações em que a idade da criança não pode ser determinada com 37 exatidão. É importante notar também que uma criança pode ter baixo peso, quer por um baixo comprimento/estatura (nanismo), quer por magreza, ou por ambos. O peso comoíndice de crescimento é um indicador nutricional que deve ser relacionado com outras variáveis: idade, sexo e altura. Peso para estatura/comprimento: reflete a proporção do peso corporal para um dado crescimento em comprimento ou altura. Esse indicador é especialmente útil em situações nas quais a idade da criança é desconhecida. Os gráficos de peso para estatura/comprimento ajudam a identificar crianças com baixo peso para a altura, que podem estar desnutridas ou severamente desnutridas. A desnutrição é normalmente causada por uma doença aguda recente ou restrição alimentar que provoque uma severa perda de peso, embora desnutrição ou doenças crônicas também possam causar essa condição. Tais gráficos também ajudam a identificar crianças com elevado peso para estatura/comprimento que possam estar em risco de adquirirem sobrepeso ou de se tornarem obesas. Índice de massa corporal para a idade: o Índice de Massa Corporal (IMC) para a idade é um indicador especialmente útil para a triagem de sobrepeso e obesidade. Os gráficos de IMC para a idade e de peso para estatura/comprimento mostram resultados muito similares. Lembre-se de que o Peso é o indicador que melhor retrata o que ocorre durante a fase fetal. Pesos, ao nascer, menores que 2.500g podem ser decorrentes de prematuridade ou déficit de crescimento intrauterino. Recém-nascidos com menos de 2.500g são classificados genericamente como de baixo peso ao nascer. Os bebês de baixo peso ao nascer podem ser bebês prematuros, assim classificados porque não completaram seu tempo normal de gestação e, portanto, de seu crescimento intrauterino, sendo chamados de bebês com peso adequado para a idade gestacional (AIG). No entanto, podem ser também bebês a termo (=>37 semanas), que não tiveram bom crescimento no útero, ou seja, apresentam retardo de crescimento, sendo chamados de pequenos para a idade gestacional (PIG). Pode ocorrer que bebês prematuros sejam também pequenos para a idade gestacional. Outros bebês podem ser grandes para a sua idade gestacional (GIG), como ocorre com bebês filhos de mães diabéticas. O crescimento pós-natal é particularmente elevado até os 2 (dois) primeiros anos de vida, com declínio gradativo e pronunciado até os 5 (cinco) anos de idade. A partir do quinto ano, a velocidade de 38 crescimento é praticamente constante, de 5 a 6 cm/ano, até o início do estirão da adolescência. Também é importante ressaltar informações sobre o metabolismo, a temperatura, o sono, o repouso e o temperamento, fatores que contribuem para o entendimento e a avaliação da criança. 1.17 O Desenvolvimento da Criança Os estágios de desenvolvimento se definem pelos limites etários epelas habilidades e competência do desenvolvimento. O desenvolvimento é codependente de diversos fatores. No âmbito da promoção da saúde, é importante uma compreensão e análise do desenvolvimento da criança com foco em suas necessidades essenciais. As necessidades essenciais das crianças (BRAZELTON; GREENSPAN, 2002; VERÍSSIMO et al., 2009) são: Necessidade de relacionamentos sustentadores contínuos: estárelacionada à presença do cuidador(a) da criança e ao modo de interação constante com ela, por meio de cuidados físicos, diálogo, olhares, toque, que constituem-se em bases fundamentais para suprir tais necessidades. Para que seja sustentador, deverá estar permeado de amor e atenção, contribuindo para o desenvolvimento da segurança emocional da criança. Necessidade de proteção física, segurança e regulamentação: visa garantir condições favoráveis para a manutenção da integridade física e fisiológica da criança, envolvendo cuidados que possibilitem a promoção e a manutenção de aspectos físicos e fisiológicos, alimentação, higiene, sono, abrigo, movimentação, acompanhamento do crescimento e do desenvolvimento. Bem como apoio à criação de hábitos saudáveis e proteção contra infecções e acidentes, contribuindo para a detecção precoce de agravos e seu adequado tratamento, juntamente com a regulamentação com base em legislação e outras medidas que protejam a criança frente a danos físicos, sociais e ambientais. Necessidade de experiências que respeitem as diferenças individuais: diz respeito ao oferecimento de um cuidado peculiar a cada criança, excluindo toda forma de expectativa padronizada, aceitando as diferenças de comportamento, habilidades 39 físicas e sensoriais e as particularidades de cada criança como uma etapa importante de seu processo de desenvolvimento. Necessidade de experiências adequadas ao desenvolvimento: envolve ações voltadas ao estímulo e acréscimo de novas interações a um processo evolutivo das demandas individuais de cada criança, permitindo que esta adquira confiança em si e se sinta aceita, ouvida, cuidada e amada. Necessidade do estabelecimento de limites, organização e expectativas: refere-se à colocação de limites adequados; ao incentivo e ao reconhecimento de suas realizações, colaborando para que a criança possa desenvolver empatia e a capacidade de olhar o outro como um ser singular, possibilitando, assim, estabelecer objetivos por meio de cuidados afetivos, com segurança e vínculo. Necessidade de comunidades estáveis e amparadoras e de continuidade cultural: está ligada ao conceito de que comunidade e cultura são alicerces para o desenvolvimento da criança e da sua família, considerando os aspectos assistenciais, educacionais e de saúde em sua rede social, buscando condições saudáveis e confiantes, com troca entre a família. Os profissionais e a comunidade contribuem para a criança ir adquirindo o sentimento de pertença a sua família e a sua comunidade. É importante ressaltar que além do gráfico de crescimento, a OMS selecionou seis marcos de desenvolvimento motor que crianças saudáveis devem atingir em uma faixa etária de 4 a 18 meses, são eles: sentar sem apoio, ficar em pé com apoio, engatinhar, andar com apoio, ficar em pé sem apoio e andar sem apoio. O enfermeiro deve saber reconhecer estes marcos para realizar uma correta avaliação do desenvolvimento da criança. Outro ponto significativo que o profissional de enfermagem necessita saber é a avaliação dos reflexos, que demonstram a vitalidade do sistema nervoso da criança. A seguir, são apresentados alguns reflexos em figuras (WONG, 2011): Reflexo de sucção e procura: a estimulação se faz com um toque no rosto (região perioral) com o dedo. O comportamento compreende virar a cabeça em direção à fonte do estímulo com movimentos de sucção. A cessação ocorre por volta dos 6 (seis) aos 8 (oito) meses. 40 Figura 1: Reflexo de sucção e procura Fonte: Lean Fontain Franco Home Page (2009) Reflexo de Moro: a estimulação se faz com outro estímulo, uma súbita mudança de equilíbrio e barulho estridente. O comportamento compreende estender os braços, pernas e dedos, curvar-se, jogar a cabeça para trás (é parecido como um abraço; também pode ser interpretado como a criança ter “levado um susto”). A cessação se dá por volta dos 6 (seis) meses. Figura 2: Reflexo de Moro Fonte: Cultura Mix (2001a) Reflexo de preensão palmar: a estimulação se faz com cócegas na palma da mão. Agarra fortemente o dedo. A cessação se dá por volta dos 4 (quatro) meses. O dedo do examinador ou objeto (um lápis, por exemplo) colocado na palma da mão do 41 RN, faz flexão dos dedos e segura o objeto, podendo até ser levantado pelo examinador, sendo que a cabeça deve ficar na linha média. Figura 3: Reflexo de preensão palmar Fonte: Net Bebes (2012) Reflexo de Babinski: a estimulação se faz por meio de cócegas na planta do pé. Os artelhos se abrem em leque, o pé vira para dentro. A cessação se dá aproximadamente dos 6 aos 9 meses Figura 4: Reflexo de Babinski Fonte: Zero Hora (2009) Reflexo de marcha: a estimulação se faz segurando a criança sob o braço, com os pés descalços, tocando uma superfície plana. Apresenta um caminhar coordenado. A cessação se dá por volta dos 3 (três) meses.Reflexo de marcha: a 42 estimulação se faz segurando a criança sob o braço, com os pés descalços, tocando uma superfície plana. Apresenta um caminhar coordenado. A cessação se dá por volta dos 3 (três) meses. Figura 5: Reflexo de marcha Fonte: Cultura Mix (2011b) Reflexo de preensão plantar: a estimulação se faz tocando a planta do pé, abaixo dos artelhos. Agarra fortemente com os artelhos. A cessação se dá por volta dos 4 (quatro) meses. Figura 6: Reflexo de preensão plantar Fonte: Revista Crescer (2006) É relevante considerar que à medida que a criança cresce, os parâmetros vão se aproximando dos referenciais dos adultos, tais como os valores dos sinais vitais e as habilidades adquiridas. Toda a equipe de saúde deve estar preparada para o acompanhamento e a vigilância do crescimento e do desenvolvimento em busca da atenção integral à saúde da criança, identificando crianças de risco, fazendo busca ativa de crianças com 43 dificuldades para o seguimento, detectando e abordando adequadamente as alterações no processo de crescimento e desenvolvimento. A caderneta de saúde da criança é um documento importante para acompanhar a saúde da criança, disponibilizando para a família e os profissionais de saúde informações sobre o crescimento e o desenvolvimento da criança. O seguimentoda criança deve ser feito visando estreitar e manter o vínculo da criança e da família com os serviços de saúde, propiciando oportunidades de abordagem para a promoçãoda saúde, de hábitos de vida saudáveis, vacinação completa, prevenção de agravos e cuidado em tempo oportuno, lembrando que a abordagem deve ter como eixo a visão global da criança (BRASIL, 2011a). 44 REFERÊNCIAS American Nurses Association. Standards of community health nursing practice. Kansas City, Mo: Author; 1986. American Nurses Association. Public health nursing scope and standards. Washington, DC: Author; 2007. Anderson, E. T. A model to guide practice. In: Anderson E.T., McFarlane J., eds. Community as partner: theory and practicein nursing. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins, 2010. Brasil. Gabinete da Casa Civil. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei 8.069/90. Disponível em:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8069.htm Acesso em 22 de maio de 2029 Brasil. Ministério da Justiça. Construindo a Política Nacional dos Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes eo Plano Decenal dos Direitos Humanos de Crianças
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