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Izabella Campos de Oliveira O papel de Miguel Reale: Fonte do Direito é de onde provêm o direito, a origem, nascente, motivação, a causa das várias manifestações do direito. Nas palavras de Miguel Reale (2003), Fontes do Direito são “processos ou meios em virtude dos quais as regras jurídicas se positivam com legítima força obrigatória”. A teoria das fontes do Direito desenvolveu-se a partir do instante em que criou-se a consciência de que o direito não era algo que foi dado já pronto, finalizado, mas sim, um trabalho de construção do homem influenciado por diversos fatores. Então, o termo fonte do direito deve indicar somente os processos de produção da norma jurídica, vinculados a uma estrutura do poder, o qual, diante de fatos e valores, opta por dada solução normativa e pela garantia do seu cumprimento. Segundo Reale, a estrutura de poder é um requisito essencial ao conceito de fonte do direito. A luz deste conceito, quatro são as fontes do direito: • O processo legislativo: A fonte mais importante do nosso ordenamento jurídico é a Lei, pois é ela que preenche a todos os requisitos de segurança e certeza do sistema, que são: o Ser escrita; o Editadas por autoridades competentes; o Estabelecida consoante os critérios fixados por normas superiores; o Objetiva regulamentar a sociedade (grau de generalidade). A Lei é estrutura base do ordenamento jurídico e deve estabelecer regras para o futuro, sendo: abstratas (garantindo dessa forma a certeza do ordenamento) e gerais (devendo se dirigir à totalidade dos cidadãos, garantindo assim a igualdade do sistema). o O Ordenamento Federal Nacional caracteriza as leis em quatro categorias quanto à hierarquia: Constitucionais: São as normas mais importantes do ordenamento jurídico nacional, é o seu fundamento. Um dos princípios pertinentes à Constituição Federal é o princípio da supremacia Constitucional, tal princípio faz com que as demais normas do ordenamento sejam materialmente e formalmente compatíveis com a Constituição. Entende-se por validade formal a obediência às regras que disciplina a criação de normas, e por validade material, a não contradição entre o que determina a constituição e as demais normas do sistema. Infraconstitucionais: Nessa categoria incluem-se as leis ordinárias, aprovada por maioria simples do congresso, regulamenta assuntos que não estejam no rol de competências privativas de outras autoridades, as leis complementares, que exigem um quórum mais significativo pela especificidade de sua matéria, que é de maioria absoluta, e as leis delegadas, que são elaboradas pelo Presidente da República, com a autorização do Congresso, mas com restrições às matérias, no entanto encontra-se em desuso desde 1992 e as medidas provisórias, que são de uso do poder executivo, sem a Izabella Campos de Oliveira necessidade de autorização do Congresso. Deve ser utilizado para casos urgentes, mas no Brasil, seu uso é abusivo. Decretos regulamentares: São atos de competência do Poder Executivo para concretizar as leis. Há ainda decretos legislativos, para deliberação do Congresso e os decretos judiciários. Normas Internas: Assim como os decretos regulamentares, não são leis no sentido estrito ou formal, ou seja, fruto de uma decisão majoritária do legislativo, mas têm por finalidade regulamentar situações específicas da administração pública. • A jurisdição (Poder Judiciário): A jurisprudência é outra forma de fonte escrita do direito e nas palavras de Miguel Reale: “a forma de revelação do Direito que se processa através do exercício da jurisdição, em virtude uma sucessão harmônica de decisões dos tribunais”, ou seja, para ele a jurisdição ocorre quando uma conduta é reconhecida como obrigatória pelos tribunais. A jurisprudência é construída pelos operadores do direito em seu dia-dia, quando a eles cabe o dever de aplicar o direito aos casos concretos. São quatro suas características fundamentais, como ressalta Tércio Sampaio Ferraz Jr.: o 1°: “Os tribunais inferiores estão obrigados a respeitar as decisões dos superiores, os quais se obrigam por suas próprias decisões”. o 2º: “Toda decisão relevante qualquer tribunal é um argumento forte para que seja levada em consideração pelos juízes”. o 3°: “O que vincula no precedente é sua ratio decidendi, isto é, o princípio geral de direito que temos que colocar como premissa para fundar a decisão, podendo o juiz que a invoca, interpretá-la conforme sua própria razão”. o 4°: “Um precedente (sua ratio decidendi) nunca perde sua vigência, ainda que os anos o tenham tornado inaplicáveis às circunstâncias modernas: ele (precedente), permanece válido e pode ser invocado desde que se demonstre sua utilidade para o caso”. A jurisprudência refere-se a um conjunto de julgamentos que contenham uma coerência entre si, que compartilhem de uma mesma ideia. Doutrinadores defendem que o papel da jurisprudência é “adequar o sistema a uma nova conjugação de forças” (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2012, p.66), pois é a jurisprudência que proporciona uma maior flexibilidade ao ordenamento jurídico, inovando a matéria, não se limitando ao que está escrito nas leis, mas sim buscando uma melhor adequação das normas ao contexto contemporâneo Entretanto, pelo fato de a sentença judicial dar margem para a aplicação da lei conforme o entendimento de cada juiz, pode ocorrer situações em que um mesmo fato apresente interpretações diferenciadas, surgindo um problema na compreensão do direito a ser aplicado. Assim, o Código de Processo Civil trouxe técnicas de unificação da jurisprudência, através de duas hipóteses de julgamento prévio ou prejulgado, conforme consta no art. 476 do CPC: o Art. 476 - Compete a qualquer juiz, ao dar o voto na turma, câmara, ou grupo de câmaras, solicitar o pronunciamento prévio do tribunal acerca da interpretação do direito quando: Izabella Campos de Oliveira I - verificar que, a seu respeito, ocorre divergência; II - no julgamento recorrido a interpretação for diversa da que lhe haja dado outra turma, câmara, grupo de câmaras ou câmaras cíveis reunidas. Parágrafo único - A parte poderá, ao arrazoar o recurso ou em petição avulsa, requerer, fundamentadamente, que o julgamento obedeça ao disposto neste artigo. Com isso, primeiro resolve-se as divergências quanto à interpretação, através de julgamentos prévios, reduzindo possíveis divergências de interpretação, para posteriormente julgar a ação propriamente dita. • Os usos e costumes jurídicos: Tem-se por costume, o hábito social constatado em uma sociedade, sendo ele tem de uso constante e notório. Diferencia-se da jurisprudência por ela ser de uso exclusivo dos operadores do direito, enquanto os costumes são desenvolvidos pela sociedade como um todo e sobre algo que ela considera como socialmente obrigatória. Trata-se de uma fonte com menos certeza e segurança jurídica pelo fato de, ao contrário do que ocorre no processo de elaboração das leis, sua origem segue processos difusos, mas há a exigência da observância de dois elementos: o relacional ou subjetivo (onde se tem a certeza da necessidade social da prática - consenso) e o substancial ou objetivo (que é a sua prática permanente no decurso do tempo). De onde o costume retira a sua autoridade? o Da confirmação através do legislativo, é intolerável, pois concede um monopólio da produção normativa, descaracterizando o costume como fonte formal. O costume nasce no seio da sociedade, sendo uma fonte espontânea do direito, que se forma gradualmente, não se cria de modo imediato conforme a vontade do legislativo. o Da aceitação pelos juízes, é por sua vez é aceitável. Para os defensores dessa teoria, o costume adquire sua autoridade quando ele se torna reconhecido e aplicado pelos tribunais. O costume pode ser classificado de três formas:o Praeter legem: desempenha um papel de complementação do ordenamento jurídico, disciplinando matéria desconhecida pela lei, através de eventuais omissões do legislador. Ex: Parar para um pedestre atravessar onde não existe faixa de segurança é um costume em diversas cidades e ainda que não possua lei é por todos condutores observado. o Secundum legem: é aquele que age conforme a lei, que a concretiza sendo aplicado de modo subsidiário. A lei reconhece a eficácia jurídica do costume. o Contra legem: é de grande impasse no meio jurídico, pois se trata de uma prática contrária ao direito já codificado. Izabella Campos de Oliveira Ex: a função natural do cheque é ser um meio de pagamento a vista. Entretanto, muitas pessoas vêm, reiteradamente, emitindo-o não como uma mera ordem de pagamento, mas como garantia de dívida, para desconto futuro. Há doutrinadores que discordam de tal costume, pois consideram que sua aceitação seria uma afronta à constituição, admitindo a possibilidade de revogação de normas que foram estabelecidas por autoridades legislativas, seguindo os devidos critérios de validade formal e material. Mas também há doutrinadores que admitem a possibilidade dos costumes contra legem, afirmando que o real direito é aquele vivido diariamente pelos membros da sociedade, tendo sim força para suprir a lei que já se tornou letra morta. • O poder negocial: Quando dois particulares firmam um contrato, cria-se no ordenamento, direitos e obrigações que não existiam até então, e o Estado se compromete a assegurar o cumprimento desses novos direitos e obrigações. Para o jurista Miguel Reale, “o que caracteriza a fonte negocial é a convergência dos seguintes elementos: o Manifestação da vontade de pessoas legitimadas a fazê-lo; o Forma de querer que não contrarie a exigida em lei; o Objeto lícito; o Quando não paridade, pelo menos uma devida proporção entre os partícipes da relação jurídica”. Para situações em que não sejam respeitados os elementos que caracterizam a fonte negocial, e constata-se abuso do poder negocial, a relação jurídica pode sofrer com anulabilidade ou ineficácia, pois o princípio da legitimidade do poder é aplicado a todo ordenamento. A fontes do direito podem ser materiais ou formais, segue elas abaixo: Fontes materiais: são todas as autoridade, pessoas, grupos e situações que influenciam na criação do direito em determinada sociedade. Ou seja, fonte material é aquilo que acontece no âmbito social, nas relações comunitárias, familiares, religiosas, políticas, que servem de fundamento para a formação do Direito. Assim, fonte material é de onde vem o direito (GARCIA 2015). Fontes formais: Por outro lado o meio pelo qual as normas jurídicas se exteriorizam, tornam-se conhecidas. São, portanto, os canais por onde se manifestam as fontes materiais (GARCIA 2015) e dividem-se em: • Diretas, imediatas ou primárias: revela imediatamente o direito positivo e basta por si mesma, sendo esta a Lei – normas jurídicas escritas provenientes do Estado. Até mesmo porque, adotamos no Brasil o sistema do Civil Law, que é uma estrutura jurídica em que a aplicação do direito se dá a partir da interpretação da Lei. • Indiretas, mediatas ou secundárias: são aquelas que suprem a falta de LEI, a Lei de Introdução ao Direito Brasileiro, no art.4º, previu três delas: o Analogia: significa aplicar uma solução já usada em um caso semelhante. Alguns consideram que ela não seria uma fonte do direito, mas apenas Izabella Campos de Oliveira uma forma de integração da norma nos casos de lacuna da lei. Todavia, Pablo Stolze (2012), entre outros, assegura que a analogia pode ser considerada fonte do direito. Ela subdivide-se em legal (utiliza outra lei para casos semelhantes) e jurídica (utiliza outras fontes do direito que não a lei). Para sua aplicação exige-se três requisitos: 1° que o fato em questão não seja regulado de forma específica e expressa pela lei. 2° que a lei regule hipótese similar. 3° que a semelhança essencial entre a situação não prevista e aquela prevista na lei tenham a mesma razão jurídica (GARCIA 2015). o Costumes: já explicitado anteriormente. o Jurisprudência: Já explicitado anteriormente. o Negócio jurídico: Já explicitado anteriormente. o Doutrina: há divergências quanto a ser considerado uma fonte do direito: Para Maria Helena Diniz (2008) a doutrina exerce função de relevância na elaboração, reforma e aplicação do Direito, influenciando a legislação e a jurisprudência, bem como o ensino ministrado nos cursos jurídicos. Para Miguel Reale (2003) a doutrina é apenas uma forma de interpretação do direito e não uma fonte do mesmo. o Equidade: Neste ponto, considera-se que a equidade poderá ser tanto fonte do direito como fonte de integração da norma, será fonte do direito quando a própria lei prevê a possibilidade de sua aplicação pelo juiz no momento do julgamento (art. 140, parágrafo único do CPC, art. 8ºda CLT), por outro lado será integração da norma quando houver uma lacuna da lei e se fizer necessária a integração pelo uso da equidade: Art. 140, CPC: O juiz não se exime de decidir sob a alegação de lacuna ou obscuridade do ordenamento jurídico. Parágrafo único: O juiz só decidirá por equidade nos casos previstos em lei. Art. 8º, CLT: As autoridades administrativas e a Justiça do Trabalho, na falta de disposições legais ou contratuais, decidirão, conforme o caso, pela jurisprudência, por analogia, por equidade e outros princípios e normas gerais de direito, principalmente do direito do trabalho, e, ainda, de acordo com os usos e costumes, o direito comparado, mas sempre de maneira que nenhum interesse de classe ou particular prevaleça sobre o interesse público. §1º O direito comum será fonte subsidiária do direito do trabalho. §2º Súmulas e outros enunciados de jurisprudência editados pelo Tribunal Superior do Trabalho e pelos Tribunais Regionais do Trabalho não poderão restringir direitos legalmente previstos nem criar obrigações que não estejam previstas em lei. o Brocardos jurídicos: São ditados jurídicos consagrados, que se consubstanciam em ideias ou máximas que sintetizam orientações ou ensinamentos a respeito de certas matérias. Izabella Campos de Oliveira Obs: Quando nos referimos às fontes do direito, encontramos um assunto com muitas divergências doutrinárias. No entanto, tal divergência é quanto a considerar o que realmente deve ser considerada como uma fonte do direito e o que não pode, sendo unânimes ao destacar o papel relevante que elas têm no ordenamento jurídico, sendo elas escritas ou não, materiais ou formais, são necessárias a qualquer sistema jurídico. https://jus.com.br/artigos/48588/fontes-do-direito https://adeilsonfilosofo.jusbrasil.com.br/artigos/237422727/fontes-do-direito https://jus.com.br/artigos/78184/fontes-do-direito-conceito-e-classificacoes https://jus.com.br/artigos/48588/fontes-do-direito https://adeilsonfilosofo.jusbrasil.com.br/artigos/237422727/fontes-do-direito https://jus.com.br/artigos/78184/fontes-do-direito-conceito-e-classificacoes
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