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ANÁLISE DOS MÚLTIPLOS USOS DA ÁGUA NO BAIXO CURSO DO RIO CURU, PARAIPABA CE, COMO SUBSÍDIO AO PLANEJAMENTO E GESTÃO DE BACIAS HIDROGRÁFICAS

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ 
CENTRO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA – CCT 
BACHARELADO EM GEOGRAFIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
MARIA NÁDILA VASCONCELOS MENDONÇA 
 
 
 
 
 
 
 
 
ANÁLISE DOS MÚLTIPLOS USOS DA ÁGUA NO BAIXO 
CURSO DO RIO CURU, PARAIPABA – CE, COMO 
SUBSÍDIO AO PLANEJAMENTO E GESTÃO DE BACIAS 
HIDROGRÁFICAS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FORTALEZA 
2014 
2 
 
 
MARIA NÁDILA VASCONCELOS MENDONÇA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ANÁLISE DOS MÚLTIPLOS USOS DA ÁGUA NO BAIXO CURSO DO RIO CURU, 
PARAIPABA – CE, COMO SUBSÍDIO AO PLANEJAMENTO E GESTÃO DE 
BACIAS HIDROGRÁFICAS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Monografia apresentada ao Curso de Geografia 
Bacharelado da Universidade Estadual do Ceará 
como requisito parcial para a obtenção do grau de 
bacharel em Geografia. 
 
Orientador: Profª. Drª. Maria Lúcia Brito da Cruz 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FORTALEZA 
2014
3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação 
 
Universidade Estadual do Ceará 
 
Sistema de Bibliotecas 
 
 
Mendonça, Maria Nádila Vasconcelos . 
ANÁLISE DOS MÚLTIPLOS USOS DA ÁGUA NO BAIXO CURSO 
DO RIO CURU, PARAIPABA – CE, COMO SUBSÍDIO AO 
PLANEJAMENTO E GESTÃO DE BACIAS HIDROGRÁFICAS 
[recurso eletrônico] / Maria Nádila Vasconcelos 
Mendonça. – 2014. 
1 CD-ROM: il.; 4 ¾ pol. 
 
CD-ROM contendo o arquivo no formato PDF do 
trabalho acadêmico com 67 folhas, acondicionado 
em caixa de DVD Slim (19 x 14 cm x 7 mm). 
 
Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) – 
Universidade Estadual do Ceará, Centro de Ciências e 
Tecnologia, Graduação em Geografia, Fortaleza, 2014. 
Orientação: Prof. Dr. Maria Lúcia Brito da Cruz. 
 
1. Múltiplos Usos. 2. Bacia Hidrográfica. 3. 
Recursos Hídricos. 4. Baixo Curso do Rio Curu. 5. 
Usos da Água. I. Título. 
 
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MARIA NÁDILA VASCONCELOS MENDONÇA 
 
 
 
 
 
 
 
TÍTULO: 
ANÁLISE DOS MÚLTIPLOS USOS DA ÁGUA NO BAIXO CURSO DO RIO CURU, 
PARAIPABA – CE, COMO SUBSÍDIO AO PLANEJAMENTO E GESTÃO DE 
BACIAS HIDROGRÁFICAS 
 
 
 
Monografia apresentada ao Curso de Graduação em 
Geografia do Centro de Ciências e Tecnologia da 
Universidade Estadual do Ceará como requisito 
parcial para a obtenção do grau de bacharel em 
Geografia. 
 
 
 
Aprovada em: ____/____/____________ 
 
 
 
 
BANCA EXAMINADORA: 
 
 
 
____________________________________________ 
Profª. Drª Maria Lúcia Brito da Cruz 
Universidade Estadual do Ceará – UECE 
 
 
 
 
 
_____________________________________________ 
Msc. Lizabeth Silva Oliveira 
Universidade Estadual do Ceará - UECE 
 
 
 
 
_____________________________________________ 
Msc. Sharon Darling de Araújo Dias 
Universidade Estadual do Ceará - UECE 
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Aos meus pais, que subsidiaram e me apoiaram a seguir em 
busca de meus objetivos. 
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AGRADECIMENTOS 
À Deus, ser essencial em minha vida, pela fé que me permite buscar meus 
objetivos, desejos e anseios. 
Aos meus pais e meu irmão, pelo amor incondicional e apoio dedicado para 
que eu pudesse alcançar mais essa conquista em minha vida. 
À Brenda Késia, Helena Sousa, Radmila Vaz pela amizade e pela 
disponibilidade em escutar minhas angústias e anseios, 
À equipe do Núcleo de Apoio Técnico, em especial a Rafaela Oliveira, a 
Ivanilde Lima, a Juliana Facão e a Aurelice Borges, que me proporcionaram 
crescimento pessoal e profissional através de suas contribuições, colaborando com 
a construção de meu pensamento ao longo dessa jornada. 
À minha orientadora, Lúcia Brito, por suas contribuições e forma singular de 
orientação. 
Aos meus colegas de turma, em especial aos amigos que estiveram sempre 
comigo, independente da proximidade, Juliana Moura, Wilami Gomes, Mariana 
Nascimento e Jéssica Aparecida, por construírem essa jornada juntos comigo e a 
torná-la mais prazerosa. 
E a todos que contribuíram direta e indiretamente ao longo desses anos de 
estudo para a construção e para a elaboração do presente trabalho e para meu 
crescimento pessoal e profissional. 
 
 
 
 
 
 
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―Se a educação sozinha, não transforma a sociedade, sem ela 
tampouco a sociedade muda.‖ 
 
Paulo Freire 
 
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RESUMO 
 
A água nas primeiras décadas do século XXI vem sendo alvo de 
discussões ocasionadas a partir das alterações climáticas, estas vem acarretando 
preocupação quanto à manutenção da quantidade e qualidade da água, bem como 
não se pode dissociar de tal discussão o processo histórico de sua utilização. Diante 
da dinâmica atual, buscou-se através do presente estudo compreender as relações 
dos múltiplos usos da água no baixo curso do Rio Curu, com enfoque específico no 
município de Paraipaba, no qual se visou verificar como ocorre a manutenção da 
qualidade da água, quais seus principais usos, bem como as implicações desses 
usos e os possíveis conflitos ocasionados a partir destes. Para investigação utilizou-
se dados estatísticos dos órgãos IBGE e IPECE, realizando-se análise quantitativa 
associando a realidade dos municípios que compreendem o baixo curso do Rio 
Curu, sendo estes Paraipaba e Paracuru, bem como foram realizados trabalhos de 
campo, especificamente voltadas ao estudo de caso de Paraipaba. Constatou-se a 
precariedade dos sistemas de infraestrutura do saneamento básico, bem como a 
necessidade do emprego de manejo adequado nos diversos setores que necessitam 
da água para realizarem suas atividades. 
Palavras-chave: múltiplos usos, bacia hidrográfica, rio curu, recursos hídricos 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
 
ABSTRACT 
 
During the first decades of the 21st century, water has been the main 
subject of discussions concerning weather changes. These changes alongside the 
history of the use of the water bring along preoccupation regarding the management 
of the quantity and quality of the water. Through this paper, we seek to comprehend 
the relation between the various uses of the water in the lower course of Curu river, 
focusing specifically on the municipality of Paraipaba, where we aimed to follow how 
the management of the quality of the water is done, what its main uses are, and the 
implications of such uses, as well as the possible conflicts caused by such. To the 
study, a quantitative analyses of statistical data from IBGE (the Brazilian Institute of 
Geography and Statistics) and IPECE (the Institute of Economic Research and 
Strategy of Ceará), associating it to the reality of the municipality that are located in 
the lower course of the Curu river, Paraipaba and Paracuru, as well as a field work in 
Paraipaba. It was found that the sanitation system is precarious, and that there is a 
lack of an adequate infrastructure in the many areas that need water to the 
conduction of their activities. 
Keywords: multiplex uses, watershed, Curu river, water resources 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 
 
 
LISTA DE FIGURAS 
Figura 1 - Volume de retirada e de consumo das demandas consuntivas no Brasil
 .................................................... .....................................................21 
Figura 2 - Processo de elaboração e construção da pesquisa .............................. 37 
Figura 3 - Usos do solo na Bacia Hidrográfica do Rio Curu.......................................38 
Figura 4 - Entrada de acesso a Estação Elevatória de Captação Superficial - EECS
 ................................................................................................................46 
Figura5 - Teto da EECS danificado ..................................................................... 47 
Figura 6 - Proliferação de macrófitas aquáticas ................................................... 48 
Figura 7 - Floculador da ETA localizada na sede do município de Paraipaba ..... 49 
Figura 8 - Decantador na unidade da ETA localizada na sede de Paraipaba ...... 49 
Figura 9 - Filtros na ETA localizada na sede do município de Paraipaba ............ 50 
Figura 10 - Lagoa de Estabilização recoberta por vegetação .............................. 51 
Figura 11 - Incinerador presente no aterro controlado de Paraipaba ................... 52 
Figura 12 - Aterro controlado de Paraipaba ......................................................... 53 
Figura 13 - Visualização do aterro controlado e do manancial de captação do 
município de Paraipaba.........................................................................................55 
Figura 14 - Ponto de alagamento na Rua José Carneiro Meireles ....................... 56 
 
LISTA DE MAPAS 
Mapa 1 – Hidrografia Superficial do Município de Paraipaba....................................29 
Mapa 2 - Localização do Município de Paraipaba.....................................................39 
Mapa 3 – Carta Imagem da área do município de Paraipaba...................................56 
 
LISTA DE QUADROS 
Quadro 1 - Componentes da Gestão Ambiental................................................... 29 
 
11 
 
 
LISTA DE TABELAS 
Tabela 1 - Principais características do saneamento básico dos municípios do baixo 
curso da bacia hidrográfica do Curu ..................................................................... 45 
 
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS 
ANA - Agência Nacional de Águas 
ARCE - Agência Reguladora de Serviços Públicos Delegados do Estado do Ceará 
CBH - Comitês de Bacias Hidrográficas 
COMIRH - Comitê Estadual dos Recursos Hídricos 
CAGECE - Companhia de Água e Esgoto do Ceará 
COGERH - Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos 
CONERH - Conselho de Recursos Hídricos do Ceará 
COEMA - Conselho Estadual do Meio Ambiente 
CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente 
CF - Constituição Federal 
DNOCS - Departamento Nacional de Obras Contra as Secas 
DHN - Divisão Hidrográfica Nacional 
EMATERCE - Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará 
EECS - Estação Elevatória de Captação Superficial 
ETA - Estação de Tratamento de Água 
ETE - Estação de Tratamento de Esgoto 
12 
 
 
FUNCEME - Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos 
FUNORH - Fundo Estadual dos Recursos Hídricos 
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 
IPECE - Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará - 
MMA - Ministério do Meio Ambiente 
NAT - Núcleo de Apoio Técnico 
CNRH - O Conselho Nacional de Recursos Hídricos 
PDEE - Plano Decenal de Expansão de energia 
PMAP – SP - Plano diretor de drenagem e manejo de águas pluviais de São Paulo 
PNGH - Plano Nacional de Gerenciamento dos Recursos Hídricos 
PNRH - Plano Nacional dos Recursos hídricos 
PERH - Política Estadual dos Recursos Hídricos 
PNMA - Política Nacional do Meio Ambiente 
PIB - Produto Interno Bruto 
RAP - Reservatório Apoiado 
SRHU - Secretária de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano 
SRH - Secretária Estadual dos Recursos Hídricos 
SINGERH - Sistema Nacional de Gerenciamento dos Recursos Hídricos 
SUS - Sistema Único de Saúde 
SUDENE - Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste 
13 
 
 
SOHIDRA - Superintendência de Obras Hidráulicas 
SEMACE - Superintendência Estadual do Meio Ambiente 
UECE - Universidade Estadual do Ceará 
14 
 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 15 
 
1 – REFERENCIAL TEÓRICO CONCEITUAL ..................................................... 17 
1.1. Tipos de usos da água ................................................................................... 17 
1.2. Usos consuntivos e não consuntivos ............................................................. 20 
1.3. A bacia hidrográfica como unidade de gestão ................................................ 24 
1.4 Gestão dos recursos hídricos .......................................................................... 30 
 
2 – PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS E MATERIAIS UTILIZADOS...........35 
 
3 – OS MÚLTIPLOS USOS DA ÁGUA NO BAIXO CURSO DO RIO CURU 
3.1. Caracterização da Área de Estudo ...................................... ...........................39 
3.2 Usos da água e políticas de saneamento básico do município de Paraipaba..42 
3.2.1 Abastecimento Púbico.....................................................................................45 
3.2.2 Esgotamento Sanitário....................................................................................51 
3.2.3 Resíduos Sólidos e Manejo de Águas Pluviais...............................................52 
3.2.4 Agropecuária e Indústria.................................................................................56 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 60 
 
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 63 
 
 
 
 
 
15 
 
 
INTRODUÇÃO 
A água é um bem essencial à manutenção a vida e imprescindível para a 
realização das atividades humanas. Esta enquanto recurso tem apresentado uma 
demanda crescente de sua utilização para seus diversos fins, tornando necessário 
haver um gerenciamento integrado, descentralizado e participativo (SILVA, 2013). 
A necessidade e o uso indiscriminado da água têm gerado conflitos em 
torno dos seus múltiplos usos, causando prejuízos quantitativos e qualitativos, fato 
que afeta a distribuição entre os diversos usuários. 
Em diversos locais, a quantidade de água disponibilizada para o consumo 
humano não é suficiente para abastecer a população, seja pela escassez própria da 
região, pela sobrecarga dos corpos hídricos com poluentes ou pela crescente 
demanda sem a implantação de infraestrutura necessária para abastecer as 
populações. 
O aumento da demanda por água potável para consumo acarreta a 
necessidade de tratamentos mais complexos para purificá-la, necessitando retirar da 
água bruta provinda dos recursos hídricos lixo, restos vegetais e outras impurezas, 
para que possa tornar-se adequada para o consumo humano e para os demais 
usos. O aumento do consumo e a degradação ambiental é que são realmente 
determinantes para o problema da diminuição da disponibilidade de água no mundo 
(SILVA, 2004). 
Tem-se conseguido avanços em relação às políticas voltadas para 
minimização de conflitos e preservação dos recursos hídricos, como a participação 
popular e dos diversos segmentos que utilizam o recurso hídrico como fonte de 
exploração para desenvolvimento de suas atividades, influenciando na tomada de 
decisões, no gerenciamento e planejamento do uso, na adoção da bacia hidrográfica 
como unidade de gestão. No entanto mesmo com as medidas adotadas, os conflitos 
em torno de sua utilização persistem, podendo-se atribuir a falta de implantação de 
políticas públicas que viabilizem o acesso efetivo a esse recurso em quantidade e 
qualidade. 
16 
 
 
Assim, buscou-se com o presente estudo a compreensão de como se dá 
o conflito entre os mais diversos usuários do recurso hídrico, bem como sua gestão, 
uso, manejo, de modo que através da análise da sua apropriação possa-se entender 
suas implicações sociais e ambientais. 
Com o estudo de caso, visou-se compreender os conflitos gerados a partir 
dos múltiplos usos da água no baixo curso do Rio Curu, enfocando o município de 
Paraipaba, objetivando verificar como ocorrer à manutenção da qualidade da água, 
observando seus principais usos e analisando suas possíveisimplicações. 
Abordaram-se os principais usos consuntivos e não consuntivos da água, 
bem como suas implicações. Analisou-se a bacia hidrográfica como unidade de 
gestão e a necessidade de manejo e gerenciamento dos recursos hídricos, bem 
como as políticas voltadas a este. 
No estudo de caso atentou-se para os usos da água no município de 
Paraipaba analisando as atividades desenvolvidas através de dados de saneamento 
ambiental, agropecuários e das principais atividades industriais, percebendo-se a 
partir desse contexto a necessidade de consumo de água e o que ocorre se o 
tratamento não é adequado. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
17 
 
 
Capítulo 1 - REFERENCIAL TEÓRICO CONCEITUAL 
1.1 Tipos de uso da água 
A quantidade e os constituintes da água de um determinado local do 
globo depende das características climáticas, da natureza do solo e do nível de 
poluição ao qual está submetida (SETTI, 2001). A qualidade da água durante o ciclo 
hidrológico passa por alterações que ocorrem por influência de fatores não 
pertencente ao seu ciclo, fatores estes como a necessidade de abastecimento 
urbano, industrial e agrícola. 
A água passou a ser considerada recurso hídrico devido as suas 
características de quantidade limitada para o consumo humano, de vulnerabilidade e 
de essencialidade para a manutenção da vida, bem como devido aos fatores 
históricos de seu uso que demandaram o desenvolvimento de políticas para garantir 
a manutenção de sua qualidade e quantidade. O termo água diferencia-se do 
vocábulo recurso hídrico devido o primeiro ser definido como o elemento natural 
descomprometido com qualquer uso ou utilização, sendo que o segundo define a 
água como bem econômico passível de ser utilizada para fins utilitários (POMPEU, 
2006). A Agência Nacional de Águas – ANA, ―considera uso do recurso hídrico 
qualquer atividade humana que, de qualquer modo, altere as condições naturais das 
águas superficiais ou subterrâneas‖ (BRASIL, 2011). 
A água apresenta utilidades múltiplas, sendo destacado o uso na 
indústria, irrigação e residencial que demandam maior quantidade de água, no 
entanto se dão em volumes individuais diferenciados. No Brasil o uso da água para 
a produção energética constitui-se em uma grande demanda uma vez que este 
corresponde ao principal meio para o abastecimento de energia elétrica a 
população. Pode ser utilizada para a navegação em alguns rios do país, em 
atividades turísticas, recreação, bem como em atividades de produção de alimentos, 
(a aquicultura, a psicultura, a carcinicultura). A carcinicultura que passou a ser 
difundida com maior força no litoral brasileiro em um período aproximado de 10 
anos. Os recursos hídricos são utilizados ainda para a assimilação e condução de 
esgoto o que vem acarretando uma sobrecarga destes acima da sua capacidade, 
18 
 
 
ocasionado pela falta de tratamento adequado dos efluentes líquidos, principalmente 
industriais. 
A degradação desse recurso hídrico acarreta diversos malefícios ao meio 
ambiente e a população, pois a falta de água potável traz problemas à saúde, 
poluição, conflitos entre os usuários que a utilizam de forma diferenciada, dentre 
outros problemas que ocorrem direta e indiretamente. 
Os usos da água são definidos a partir da engenharia empregada para 
gerar seus múltiplos usos. Seus tipos e formas estão associados se a água é 
retirada em sua forma bruta, ou seja, se esta não passou por processo de 
tratamento para atingir determinado nível de potabilidade, a forma que ocorrem os 
impactos gerados ao corpo hídrico e como esta volta ao ciclo de origem tanto 
quantitativa como qualitativamente. 
Os tipos de uso da água dependem da ocorrência da derivação ou não 
desta. Quando a água é derivada ela é incorporada aos seres que dela se utilizam, 
aos bens produzidos ou é retirada de seu local de origem para abastecer outro local, 
alterando assim a quantidade de água disponível. Contrário ao que se propaga na 
mídia, o volume de água no planeta é constante, tendo sua parcela renovável de 
água doce em 40.000 km² ao ano, a escassez que se observa ocorre devido às 
variações climáticas, a concentração populacional, as atividades econômicas, o 
aumento pela demanda de água, a poluição dos mananciais, a alteração do 
escoamento superficial e da alimentação dos aquíferos subterrâneos, dentre outros 
fatores (PEREIRA, 2004). 
A escassez de recursos hídricos pode ser atribuída principalmente à falta 
de quantidade de água potável suficiente em determinados locais do globo, a 
poluição dos recursos hídricos ocasionada pelo excesso de poluentes acima dos 
padrões toleráveis ao consumo e a falta de políticas que reduzam as desigualdades 
no acesso a água potável. 
O abastecimento urbano demanda o tratamento dos efluentes gerados 
nas atividades residuais, sendo que a destinação final dos resíduos comumente 
corresponde a um corpo hídrico, estes por sua vez possuem capacidade de 
19 
 
 
assimilar efluentes líquidos e detritos mediante a realização de processos físicos, 
químicos e biológicos de forma a manter sua qualidade satisfatória, no entanto a 
capacidade de assimilação dos corpos hídricos é limitada, relacionando-se 
diretamente com a quantidade e qualidade do recurso hídrico receptor e ao tipo e 
quantidade de resíduos e efluentes que serão agregados a este. 
No geral, as águas subterrâneas são mais afetadas que as águas 
superficiais, pois embora mais protegidas dos poluentes, possuem uma menor 
capacidade de recuperação, ocorrendo sua regeneração de modo gradativo (SETTI, 
1994). 
A deposição de resíduos e efluentes nos corpos hídricos sem prévio 
tratamento ou sem considerar a sua capacidade de assimilação pode acarretar o 
comprometimento da qualidade da água de tal forma que esta possa ficar inutilizada 
para seus múltiplos usos, além de acarretar graves problemas aos seres que a 
consumirem sem que ocorra tratamento adequado para deixá-la em níveis 
aceitáveis ao consumo, acarretando assim doenças nos seres humanos e impactos 
na vida da fauna e da flora. 
Os impactos acarretados pelos diversos usos da água são tratados por 
BORSOI e TORRES ao relatarem as alterações ocorridas na qualidade e 
disponibilidade da água de acordo com os seus usos: 
―Quanto aos efeitos das atividades humanas sobre as águas, boa parte é 
poluidora: o abastecimento urbano e industrial provoca poluição orgânica e 
bacteriológica, despeja substâncias tóxicas e eleva a temperatura do corpo 
d'água; a irrigação carreia agrotóxicos e fertilizantes; a navegação lança 
óleos e combustíveis; o lançamento de esgotos provoca poluição orgânica, 
física, química e bacteriológica. A geração de energia elétrica, por sua vez, 
não é poluidora, mas provoca alteração no regime e na qualidade das 
águas. A construção de grandes represas, com inundação de áreas com 
vegetação abundante, não apenas compromete bastante a qualidade da 
água, como pode repercutir em todo o meio ambiente em torno.‖ (Borsoi e 
Torres, 1997, p. 02). 
É necessário que haja monitoramento e controle do Estado e da 
população em relação ao uso da água, para que assim se possa garantir o 
atendimento necessário à demanda. 
20 
 
 
Medidas de segurança para assegurar reserva hídrica que possa atender 
a demanda de seus usos, configuram-se no controle dos regimes de cheia e formas 
de convivência com a seca, estas buscam mitigar os efeitos negativos que podem 
ocorrer em decorrência de eventos extremos, que causam prejuízos sociais e 
econômicos. 
Além do controle da quantidade de água, é preciso manter a sua 
qualidade, de forma que haja manejo adequado dos efluentes líquidos e detritos 
incorporados aos corpos hídricos, pois se não observada à capacidade de 
assimilação do recurso hídrico, pode ocorrer assoreamento e poluição das águas 
disponíveis, bem como erosão do solo. 
1.2 Usos Consuntivos e não consuntivos 
Os usos dos recursos hídricos são subdivididosem usos consuntivos e 
não consuntivos. Os consuntivos são aqueles em que há a perda entre a água que é 
derivada e a que retorna ao corpo hídrico e os usos não consuntivos aqueles em 
que não apresentam perda por derivação, no entanto podem alterar o regime do 
curso do corpo hídrico (SETTI, 1994). 
Uso Consuntivo 
As atividades principais que demandam o uso consuntivo da água são o 
abastecimento humano, a dessedentação animal, a utilização na indústria e na 
irrigação. O uso urbano possui um consumo de 9% da água total no Brasil, o 
consumo rural equivale a 1%, a dessedentação animal possui consumo de 11%, a 
utilização na indústria compreende a 7% e a irrigação demanda 72% do gasto total 
da água no Brasil (BRASIL, 2012). Em análise a vazão retirada percebe-se que há 
uma diferença entre o volume retirado e o consumido, o que ocorre devido à perda 
de água por derivação. 
 
 
21 
 
 
FIGURA 01: Volume de retirada e de consumo das demandas consuntivas no Brasil 
 
Fonte: Agência Nacional de Águas – ANA, 2012. 
Os usos urbanos são definidos como aqueles que atendem a demanda de 
água dos diferentes núcleos urbanos com a finalidade de abastecimento doméstico 
industrial, comercial, público e de demais atividades que se agregam por interligar-
se a malha urbana (SETTI, 2001). 
Os dados referentes à análise do abastecimento urbano de água são 
baseados na existência de uma rede de distribuição de água, o que não 
necessariamente significa que há oferta hídrica, bem como a existência de 
condições operacionais para que ocorra o abastecimento (BRASIL, 2011). 
O abastecimento de água as populações restringe-se devido à falta de 
implantação de estrutura operacional, bem como à falta de políticas públicas para 
garantir o acesso à água, no entanto tem-se observado aumento na demanda 
doméstica, o que se pode atribuir ao crescimento da população e da urbanização, 
bem como pela elevação da renda per capita. Assim a variação do consumo 
depende além dos fatores supracitados, de condições operacionais para o 
atendimento da demanda de água e tratamento de esgotos. 
A irrigação é responsável pela parcela maior de derivação de água no 
Brasil, com 54% da água, bem como apresenta o maior consumo deste recurso. No 
setor agropecuário o principal uso da água consiste na irrigação, demandando uma 
grande quantidade de água e acarretando uma perda consuntiva exorbitante, de 
forma que esta varia conforme as características de clima, relevo e disponibilidade 
22 
 
 
hídrica local (GAMA, 2009). Nas regiões Nordeste e Centro-Oeste há perspectivas 
de expansão da irrigação devido às estações secas apresentarem-se acentuadas. 
Existe aporte tecnológico para utilização na irrigação que demandem uma 
menor perda de água, no entanto são utilizadas técnicas que necessitam de maior 
consumo, gerando um mau aproveitamento do recurso água. 
O agronegócio causa prejuízos aos solos devido ao uso de fertilizantes e 
agrotóxicos, sendo que estes podem levar resíduos e efluentes para as águas 
superficiais e subterrâneas acarretando a poluição dos corpos hídricos, bem como o 
processo de irrigação pode causar a salinização do solo. 
Por sua vez, na indústria existe uma maior utilização de água, sendo esta 
utilizada para diversos fins, destacando-se: atividades que necessitam de 
arrefecimento nos processos em que há geração de calor ou simplesmente a sua 
utilização para propósitos sanitários. Embora, a indústria possua uma utilização 
crescente da água e um papel significativo na deposição de efluentes gerados nos 
recursos hídricos causando impacto na qualidade da água, ainda há poucos estudos 
e dados sobre a importância da água para utilização nas indústrias e os impactos 
que são gerados a partir dessas atividades (MOTTA, 2006). 
No Brasil abastecimento humano (urbano e rural), possui uma cobertura 
satisfatória em relação ao abastecimento de água, no entanto o tratamento e a 
coleta de esgotos estatisticamente possuem níveis muitos inferiores ao ideal. De 
acordo com dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento – SNIS 
os respectivos índices de atendimento para o abastecimento de água, coleta e 
tratamentos de esgotos do Brasil é de 94,7%, 50,6% e 34,6% referentes ao ano de 
2008 (BRASIL, 2011). 
Uso não consuntivo 
Os usos que atendem a demanda não consuntiva constituem-se na 
utilização para navegação, psicultura, recreação, mineração, controle de cheias e 
para produção de energia através de hidroelétricas. Destaca-se em relação à 
demanda, a utilização para a produção de energia, a navegação e a recreação. 
23 
 
 
O Brasil situa-se entre os cinco países com maior potencial hidráulico 
instalado, sendo que a energia hidrelétrica responde por cerca de 91% do total de 
produção da matriz energética existente no país, possuindo um potencial hidrelétrico 
de 260 GW (BRASIL, 2005). 
A produção de energia elétrica nas hidroelétricas garante cerca de 95% 
do consumo de energia no Brasil, dessa forma o país torna-se dependente desse 
sistema de produção de energia, dependência esta que ocorreu devido a instalação 
de grande potencial hidráulico em quase todo o século XX e ocasionada devido a 
disponibilidade de água superficial satisfatória e ausência de combustíveis fósseis 
para instalação de outras matrizes energéticas, bem como pela não atenção do 
governo a buscar outras fontes visando o abastecimento de energia elétrica. 
Recentemente os investimentos particulares no setor de produção de 
energia e uma maior disponibilidade de combustíveis fósseis internacionais ou 
nacionais, aliado as reformas ocorridas no setor institucional e setorial vêm 
buscando diversificar a matriz energética brasileira, possuindo como principal 
investimento a produção de energia térmica a base de gás natural (BRASIL, 2002). 
Nas termoelétricas é necessário à utilização de grandes quantidades de 
água para aquecer as turbinas, etapa necessária ao seu funcionamento. O vapor é 
passado por um processo de resfriamento, no qual pode utilizar-se de recursos 
hídricos como as águas do mar, de rios ou de outros cursos naturais afetando a 
qualidade da água, uma vez que acarreta o aquecimento e a diminuição do oxigênio 
nos cursos de água. Há a possibilidade de armazenamento de água em torres para 
utilização no processo de resfriamento, no entanto o vapor liberado pode ocasionar 
mudanças no regime de chuvas. Tais usinas acarretam problemas graves devido à 
queima de combustível fóssil, contribuindo para o efeito estufa e a ocorrência de 
chuvas ácidas. 
A atividade de aquicultura necessita de grandes volumes de água para 
utilização em sua produção, sendo que esta atividade embora tratada como não 
havendo o consumo de água, pode alterar a quantidade e qualidade de água 
disponível. 
24 
 
 
O turismo, parcela do lazer e da recreação das populações, é dividido em 
três setores quando relacionado aos recursos hídricos, sendo estes: O turismo e 
lazer no litoral brasileiro, com cerca de 8.000km de costa, o turismo ecológico e a 
pesca em alguns biomas, como o Pantanal e a Floresta Amazônica, e o turismo e o 
lazer nos lagos e reservatórios interiores, (MMA, 2003). 
1.3 A Bacia Hidrográfica Como Unidade de Gestão 
GUERRA, 2008 define Bacia Hidrográfica como sendo o conjunto de 
terras drenadas por um rio principal e seus Afluentes, na mesma perspectiva 
YASSUDA, 1993, define ―Bacia Hidrográfica como o palco unitário de interação das 
águas com o meio físico, o meio biótico e o meio social, econômico e cultural‖. 
Para NELSON, et. al., 1976 bacia hidrográfica, ou bacia de contribuição 
de uma seção de um curso d’água é a área geográfica coletora de água da chuva 
que, escoando pela superfície do solo, atinge a seção considerada. 
PORTO, PORTO, 2008, considera Bacia Hidrográfica como ente 
sistêmico, definindo-a como: 
―A bacia hidrográfica pode ser então considerada um ente sistêmico. É ondese realizam os balanços de entrada proveniente da chuva e saída de água 
através do exutório, permitindo que sejam delineadas bacias e sub-bacias, 
cuja interconexão se dá pelos sistemas hídricos.‖ (PORTO, PORTO, 2008,p. 
45). 
Entendendo-se a definição de Bacia Hidrográfica e compreendendo que 
em sua dinâmica ocorrem os processos do ciclo hidrológico e que na sua área de 
influência ocorre a ocupação e uso do território observou-se que esta se constitui na 
melhor unidade de gestão dos recursos hídricos. RODRIGUÉZ, SILVA, LEAL, 2011 
destacam a conceituação de bacia hidrográfica e a dinâmica que a torna unidade 
preferencial para a gestão dos recursos hídricos: 
―A análise da bacia, a partir de uma perspectiva sistêmica, sustentável e 
complexa, é válida porque, no caso dos recursos hídricos, a tarefa consiste 
em compreender e considerar as relações do arranjo espaço-temporal do 
papel da água como um recurso indispensável no funcionamento da 
biosfera, mas surgida e limitada dentro do complexo da geoesfera ou esfera 
geográfica. Isso é devido ao fato desses nexos e relações dependerem das 
interações espaciais entre a distribuição da água, o clima, a geologia e o 
relevo, formando todos, de maneira articulada, uma totalidade ambiental, 
25 
 
 
que constitui o espaço e a paisagem natural.‖ (RODRIGUÉZ, SILVA, LEAL, 
2011, p. 31). 
Para compreender as relações estabelecidas através da política de 
gestão da Bacia Hidrográfica é necessário perceber que a parcela relativamente 
estável de água doce existente para consumo da humanidade, disponibilizada 
através de tecnologias, com custos acessíveis para atender as demandas dos seus 
múltiplos usos é denominada recursos hídricos (JÚNIOR, 2004). 
Os recursos hídricos como parte do meio natural são facilmente afetados 
em qualidade e/ou em quantidade, devido às alterações ocasionadas em sua 
dinâmica, através de modificações em seu regime ou por redução de seus canais de 
drenagem. 
Analisando a bacia em uma perspectiva que englobe a manutenção da 
qualidade do meio ambiente e sua condição de ente sistêmico é necessário 
considerar as intervenções antrópicas associadas aos valores econômicos, culturais 
e ambientais, assim como ao seu ciclo natural, observando sua distribuição no globo 
terrestre, pois tais fatores influenciam na sua forma de manejo, distribuição, bem 
como na forma de renovação e economia da água, estando associados à 
problemática de obtenção e distribuição deste recurso. Assim é necessário 
considerar os vínculos físicos e sociais distribuídos espacialmente na unidade Bacia 
Hidrográfica, buscando mensurar os usos e impactos gerados ao corpo hídrico 
(RODRIGUÉZ, SILVA, LEAL, 2011). 
Determinou-se assim através do Plano Nacional de Gerenciamento dos 
Recursos Hídricos – PNGH a bacia hidrográfica como unidade para a gestão dos 
recursos hídricos, essa unidade é descrita e conceituada por inúmeros autores. 
É necessário salientar que embora o processo de planejamento e gestão 
possua como unidade básica de gestão a Bacia Hidrográfica, é preciso considerar a 
divisão político-administrativa do município, pois neste ocorre uma interação social 
mais próxima, sendo de fundamental importância para a compreensão do espaço e 
das relações da sociedade, é a partir deste que se estabelecem as relações de 
poder, assim faz-se necessário a sua compreensão para que a gestão ocorra de 
26 
 
 
forma satisfatória e o gerenciamento atenda aos múltiplos usos, de forma a 
minimizar os conflitos gerados em torno dos recursos hídricos. 
A dificuldade de se trabalhar com o recorte Bacia Hidrográfica ocorre 
devido à necessidade de haver uma gestão compartilhada entre órgãos e setores, 
pois o recorte Bacia Hidrográfica ultrapassa limites municipais, bem como não 
acompanha os limites administrativos aos quais os diversos setores competentes ao 
seu gerenciamento obedecem. 
O Plano Nacional dos Recursos hídricos - PNRH adota a Divisão 
Hidrográfica Nacional – DHN como base físico-Territorial para seu planejamento e 
gestão das bacias hidrográficas, dividindo assim o território nacional em 12 regiões 
hidrográficas, sendo estas: Amazônica, Tocantins Araguaia, Atlântico Nordeste 
Ocidental, Parnaíba, Atlântico Nordeste Oriental, São Francisco, Atlântico Leste, 
Paraguai, Paraná, Atlântico Sudeste, Uruguai e Atlântico Sul, sendo sua divisão 
atribuída às condições de proximidade e a semelhança ambiental, social e 
econômica. 
A região hidrográfica do Atlântico Nordeste Oriental abrange uma 
extensão de 286.802km², equivalendo a 3,3% do território nacional, nessa região 
hidrográfica se observa significativa degradação da caatinga devido à ação 
antrópica, pois ocorreu devastação dessa vegetação devido à atividade pecuária 
(BRASIL, 2013). É formada por um conjunto de drenagens modestas se dirigindo ao 
Oceano Atlântico, possuindo alimentação deficiente devido ao período chuvoso 
concentrado em alguns meses do ano, a grande evapotranspiração e aos rios se 
configurarem em intermitentes e sazonais. O regime de chuvas anual altera-se à 
medida que o curso do rio aproxima-se do litoral, em regime de cheia nas estações 
inverno ou outono e em regime de vazante nas estações de primavera ou verão 
(GUERRA, 2008). 
A Bacia do Rio Curu está localizada no centro-norte do Estado do Ceará, 
situando-se na região hidrográfica do Atlântico Nordeste Oriental, tendo como bacias 
limites a metropolitana a leste, Acaraú e Litoral a oeste e a sub-bacia do Banabuiú a 
Sul, na qual é integrante do sistema do Jaguaribe. 
27 
 
 
Possui como principal Afluente o rio Canindé, que está localizado a sua 
margem direita, drenando praticamente todo o sudeste da bacia. O rio Curu possui 
uma extensão de 195 km, possuindo como principal sentido o sudoeste noroeste, 
drenando uma área de 8.750,75 Km², o que significa 6% do território cearense. 
O rio Curu é o principal coletor da Bacia, nascendo na região formada 
pelas Serras do Céu, da Imburana e do Lucas. Drena os municípios de Apuiarés, 
Caridade, General Sampaio, Itapajé, Itatira, Paramoti, São Luís do Curu, Tejuçuoca 
e, parcialmente Aratuba (16,60%), Canindé (79,90%), Guaramiranga (17,76%), 
Irauçuba (28,77%), Maranguape (5,97%), Mulungu (34,96%), Palmácia (5,34%), 
Pacoti (4,95%), Paracuru (82,20%), Paraipaba (78,25%), Pentecoste (70,97%), São 
Gonçalo do Amarante (35,54%), Tururu (27,29%) e Umirim (90,36%), (CEARÁ, 
2009). 
No baixo curso do Rio Curu, que compreende a área próxima ao litoral, 
compõem-se de terrenos da Formação Barreiras, dos Depósitos Quaternários dos 
aluviões e dos sedimentos de praias. Nessa parte da bacia o padrão de drenagem é 
do tipo paralelo e apresenta um caráter de junção de seus afluentes quanto mais 
próximo se encontra da planície litorânea (CEARÁ, 2009). 
A bacia Hidrográfica do Rio Curu caracteriza-se por possuir uma 
distribuição irregular tanto espacial quanto temporalmente, com maior pluviometria 
nos municípios próximos ao litoral, sendo esta mais acentuada em seu baixo curso, 
no entanto toda a bacia encontra-se sujeita a regime irregular pluviométrico 
característico do semiárido, apresentando balanço hídrico deficiente quase o ano 
inteiro (CEARÁ, 2009). 
A vegetação predominante na referida bacia constitui-se no Complexo 
Vegetacional da Zona Litorânea ao norte, e na Caatinga Arbustiva Densa no centro 
e sudeste da bacia, além da Mata Seca a sudoeste (Serra do Machado), e da Mata 
Ciliar que margeia o leito do baixo curso do rio Curu, conforme observado no 
Caderno Regional da Bacia do Rio Curu tal leito se encontra bastante degradado. 
28 
 
 
SOUZA, SANTOS, OLIVEIRA, 2012, expõem a descaracterização da 
vegetação, ocorrida devido à utilização contínua e intensa exploração ocorrida na 
bacia do Curu. 
A bacia do Curu apresenta um alto índice de açudagem possuindo 818 
reservatórios (COGERH, 2008 apud CEARÁ 2009), destes, 229 apresentam área 
superior a 5 ha(FUNCEME, 2008 apud CEARÁ 2009). Os açudes Gal. Sampaio e 
Pentecoste são responsáveis por quase 70% do volume de acumulação da bacia. 
Esta bacia apresenta dois sistemas subterrâneos os porosos e aluviais, e 
os fissurais, no qual o primeiro se constitui no sistema mais importante, por 
apresentar porosidade primária e estar em terrenos arenosos, este é encontrado no 
baixo curso do Rio. Os fissurais têm como característica o armazenamento de água 
em suas fraturas, estando em área de solo do embasamento cristalino, ocorrendo o 
preenchimento de tais fraturas apenas nos períodos chuvosos, fazendo com que 
este seja um sistema de baixo potencial de armazenamento de água subterrânea 
(CEARÁ, 2009). 
A unidade Bacia Hidrográfica como instrumento de planejamento possui 
importância ímpar para compreender os usos da água enquanto recurso hídrico e 
suas implicações, bem como analisá-la permite compreender a necessidade de 
desenvolvimento de políticas voltadas à manutenção da quantidade e qualidade da 
água, sendo tais políticas corroboram para a diminuição dos conflitos gerados em 
torno dos recursos hídricos. O presente trabalho aborda o caso de Paraipaba, 
município situado no baixo curso do Rio Curu e pertencente à Bacia Hidrográfica do 
mesmo. O mapa abaixo apresenta a hidrologia superficial da referida área de 
estudo. 
29 
 
 
MAPA 01 – Hidrologia Superficial do Município de Paraipaba 
 
30 
 
 
1.4 Gestão dos Recursos Hídricos 
 
Estima-se que o volume de água existente no planeta corresponde a 1386 
milhões de km², destes 97,5% é de água salgada proveniente dos oceanos e 
somente 2,5% de água doce, sendo que em torno de 68,7% encontra-se nas calotas 
polares e geleiras. A água presente em lagos e rios é a que apresenta maior 
facilidade de acesso para a disponibilização ao consumo humano, correspondendo a 
0,27% da água doce existente na Terra e 0,007% do volume total existente no 
planeta (LIMA, 2001). 
Devido à facilidade de utilização do recurso água encontrada na 
superfície e da vulnerabilidade dos sistemas ambientais, no qual a água está 
inserida, houve uma degradação de tais sistemas, causando poluição de águas 
superficiais e subterrâneas, principalmente devido aos prejuízos causados a esse 
sistema no final do século XX, assim devido ao seu uso indiscriminado no período, 
fez-se necessário buscar desenvolver políticas para a gestão ambiental. 
LANNA (1995) define gestão ambiental como sendo: 
―o processo de articulação das ações dos diferentes agentes sociais 
que interagem em um dado espaço, visando garantir, com base em 
princípios e diretrizes previamente acordados/definidos, a adequação 
dos meios de exploração dos recursos ambientais/naturais, 
econômicos e socioculturais às especificidades do meio ambiente‖ 
(LANNA, 1995, 171 p). 
Com base na definição de gestão ambiental apontada por LANNA (1995) 
e na classificação de SILVA (2004) atribui-se que os componentes da gestão 
ambiental configuram-se conforme Quadro 01. 
Quadro 01 – Componentes da Gestão Ambiental 
Fator Forma de Atuação Modelo de Abordagem 
Política Ambiental Instrumentos legais que 
oferecem um conjunto 
consistente de princípios e 
diretrizes que visam 
atender os atores sociais 
através do controle, uso, 
proteção e conservação 
do meio ambiente. 
Comando/Controle, 
abordando leis normas e 
regulamentos. 
31 
 
 
Planejamento Ambiental Processo organizado para 
levantamento de 
informações, reflexão dos 
problemas e 
potencialidade de um 
território buscando assim 
estabelecer metas, 
objetivos, estratégias de 
ação, projetos e 
atividades. 
Uso de instrumentos 
econômicos, propõe a 
regulação do uso, controle 
e conservação dos 
recursos naturais através 
de taxas, tarifas e 
incentivos. 
Gerenciamento Ambiental Conjunto de organismos e 
instituições estabelecidos 
com o objetivo de 
executar a política 
ambiental através do 
modelo de gerenciamento 
ambiental adotado e tendo 
por instrumento o 
planejamento ambiental. 
Autorregulação, propõe 
que as questões relativas 
ao controle, uso e 
conservação dos recursos 
naturais sejam regulados 
no âmbito de 
funcionamento de 
mercado. 
Fonte: Adaptado de SILVA, 2004. 
No Brasil, as primeiras políticas de gestão dos recursos hídricos de maior 
relevância, visando à manutenção da quantidade e qualidade dos recursos hídricos, 
surgiram com a criação da Diretoria de Águas do Ministério da Agricultura, em 1933, 
e a edição do Código das Águas, em 1934 (ROCHA, 2011), este último criado 
através do Decreto nº 24.643, continua em vigência nos dias atuais em seu texto 
que não fere a Constituição Federal – CF de 1988. 
Nesse contexto surge a ideia de desenvolvimento sustentável, bem como 
vem a se fazer necessário o uso racional da água e a criação de políticas para a 
gestão dos recursos hídricos. A gestão dos recursos hídricos para que seja 
satisfatória faz-se necessário o conhecimento do potencial existente na área, 
considerando a disponibilidade da água enquanto recurso superficial e subterrâneo, 
bem como a elaboração de planejamento da expansão, uso e ocupação do território, 
buscando evitar assim alterações predatórias e suas implicações (RUHOFF, 
PEREIRA, 2004). 
32 
 
 
Buscando o desenvolvimento sustentável e preservação do meio 
ambiente em 31 de agosto de 1981 criou-se a lei Nº 6.938, que institui a Política 
Nacional do Meio Ambiente - PNMA possuindo como objetivos principais a 
preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida. 
Houve ainda a criação em 08 de janeiro de 1997 a lei Nº 9.433, voltada 
especificamente aos recursos hídricos, que institui a Política Nacional dos Recursos 
Hídricos - PNRH na qual se baseia nos fundamentos da água como bem de domínio 
público, que esta é um recurso natural limitado e dotado de valor econômico, sendo 
que quando esta encontrar-se escassa, o seu uso será prioritário para o consumo 
humano e para dessedentação animal e que a unidade para a sua gestão configura-
se na bacia hidrográfica e sua gestão deve ser descentralizada e contar com o poder 
público, os usuários e as comunidades locais. 
Essa gestão ocorre através do Sistema Nacional de Gerenciamento dos 
Recursos Hídricos - SINGERH, do qual objetiva que façam parte os seguintes 
órgãos: O Conselho Nacional de Recursos Hídricos - CNRH, a ANA, os conselhos 
de recursos hídricos dos Estados e do Distrito Federal, os Comitês de Bacias 
Hidrográficas - CBH, os órgãos dos poderes públicos Federal, Estadual, do Distrito 
Federal e Municipal cujas competências se relacionem com a gestão de recursos 
hídricos e as agências de água. 
A PNRH estabelece definições de como a gestão deve ocorrer, bem como 
os órgãos a quem compete gerir os recursos hídricos, no entanto as políticas locais 
para geri-los e as formas de planejamento ficam sob a responsabilidade dos 
Comitês de Bacias Hidrográficas. Esse órgão possui a função de discutir questões 
relacionadas às políticas voltadas aos recursos hídricos, bem como estabelecer 
formas de proteção e sustentabilidade. 
A coordenação dos recursos hídricos no âmbito federal divide-se entre os 
órgãos Secretária de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano – SRHU, órgão 
subordinado ao Ministério do Meio Ambiente – MMA e ANA. 
Sendo de competência da SRHU a implementação da política nacional 
dos recursos hídricos propor normas, definir estratégias, implementar programas e 
projetos relacionados as seguintes abordagens conforme estabelecido no decreto 
6.101 de 26 de Abril de 2007. 
―a) a gestão integrada do uso múltiplo sustentável dos recursos 
hídricos; 
33 
 
 
b) a gestão de águas transfronteiriças; 
c) a gestão de recursos hídricos em fóruns internacionais; 
d) a implantação do Sistema Nacional de Gerenciamento de 
Recursos Hídricos; 
e) o saneamento e revitalização de bacias hidrográficas; f) a política 
ambiental urbana;g) a gestão ambiental urbana; 
h) o desenvolvimento e aperfeiçoamento de instrumentos locais e 
regionais de planejamento e gestão que incorporem a variável 
ambiental; 
i) a avaliação e a mitigação de vulnerabilidades e fragilidades 
ambientais em áreas urbanas; 
j) o controle e mitigação da poluição em áreas urbanas; e l) a gestão 
integrada de resíduos sólidos urbanos;‖ 
A ANA, criada através da lei 9.984 de 17 de Julho de 2000, subordinada 
ao Ministério do Meio Ambiente – MMA, possui a finalidade de implementação do 
PNRH dentro de suas competências, as quais estão estabelecidas a fiscalização e a 
supervisão, bem como a concessão do direito de outorga dos recursos hídricos sob 
domínio da União. 
Há na área de influência da Bacia do rio Curu órgãos federais com 
atuação regional, como por exemplo o Departamento Nacional de Obras Contra as 
Secas - DNOCS e a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste – SUDENE 
os quais possuem relação com o uso múltiplo da água e atuam articulando políticas 
públicas nacionais e regionais. 
No âmbito estadual a gestão dos recursos hídricos no Ceará é regida pela 
Lei Nº 11.996, de 24 de julho de 1992 (Política Estadual dos Recursos Hídricos - 
PERH) sendo objetivos desta: compatibilizar a ação humana, em qualquer de suas 
manifestações, com a dinâmica do ciclo hidrológico, assegurar que a água possa ser 
controlada e utilizada de maneira satisfatória em qualidade e quantidade, e planejar 
e gerenciar, de forma integrada, descentralizada e participativa, o uso múltiplo, 
controle, conservação, proteção e preservação dos recursos hídricos. A PERH 
instituiu a criação do Comitê da Bacia Hidrográfica - CBH do Rio Curu e estabeleceu 
a Criação dos demais CBH no território estadual. 
A Secretária Estadual dos Recursos Hídricos - SRH, criada através da lei 
Nº 11.306 de 01 de Abril de 1987, é um dos principais órgãos que representou a 
34 
 
 
evolução das políticas de recursos hídricos no Estado do Ceará. Fazem parte como 
órgãos colegiados dos recursos hídricos no Estado do Ceará o Conselho de 
Recursos Hídricos do Ceará - CONERH, o Comitê Estadual dos Recursos Hídricos - 
COMIRH, a SRH como órgão gestor, o Fundo Estadual dos Recursos Hídricos - 
FUNORH e o CBH. 
A operacionalização da PERH no Ceará está a cargo das instituições 
vinculadas ao órgão gestor do Estado a SRH, a Companhia de Gestão dos 
Recursos Hídricos - COGERH, a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos 
Hídricos - FUNCEME e a Superintendência de Obras Hidraúlicas - SOHIDRA. A 
COGERH, criada através da lei N° 12.217 de 18 de novembro de 1993, é um 
instrumento de gestão do estado do Ceará que visa gerenciar a oferta dos recursos 
hídricos superficiais e subterrâneos. 
O Estado do Ceará possui 11 regiões hidrográficas, todas consideradas 
como básicas para o gerenciamento, possuem as seguintes denominações: Bacia 
do Coreaú, Bacia do Poti-Longá, Bacia do Acaraú, Bacia do Litoral, Bacia do Curu, 
Bacias Metropolitanas, Bacia do Baixo Jaguaribe, Bacia do Médio Jaguaribe, Bacia 
do Alto Jaguaribe, Bacia do Banabuiú e Bacia do Salgado. A COGERH é a 
responsável pelo gerenciamento das políticas de gestão dos recursos hídricos no 
âmbito do Estado e da União por delegação. Dentre as ações de responsabilidade 
da COGERH, há a busca de promover a participação da sociedade e a instalação de 
CBH. 
Na formação e estruturação dos CBH a COGERH atua na gestão 
participativa através da mobilização, da organização, da capacitação, da 
estruturação, do apoio logístico, do apoio administrativo, do compartilhamento de 
ações e de decisões apoiando-se na solução de conflitos. 
O CBH da Bacia do Rio Curu foi estabelecido através da lei N° 11.996 de 
24 de Julho de 1992 (PERH) em seu Art. 48, no entanto este só foi efetivamente 
instalado em 1997, sendo o primeiro comitê instalado no Ceará, sua constituição é 
feita por 50 instituições membro (COGERH, 2013). 
O CBH do rio Curu teve importância significativa no processo de gestão 
dos recursos hídricos por haver sido o projeto piloto, servindo assim de modelo para 
a difusão de ações voltadas a segurança hídrica e a sustentabilidade dos recursos 
hídricos e para a implantação de outros comitês. 
35 
 
 
Capítulo 2 – PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS E MATERIAIS UTILIZADOS 
Para compreensão dos usos múltiplos da água no baixo curso do rio Curu 
realizou-se levantamento bibliográfico sobre o referido tema, buscando abordar os 
principais tópicos e elaborar a discussão em torno dos autores que o abordam. 
Baseou-se nas definições de Bacia Hidrográfica de Guerra e Yassuda, bem como na 
análise desta unidade, visando à compreensão dos usos da mesma. 
Utilizou-se para análise dos usos consultivos e não consultivos, bem 
como para compreensão das políticas públicas voltadas aos recursos hídricos as 
obras de TUCCI , SETTI e as publicações dos órgãos como ANA, COGERH. Para 
análise dos dados referentes aos municípios da Bacia e especificamente ao caso 
Paraipaba utilizou-se de dados do IBGE, IPECE e trabalhos de campo realizados no 
município. 
Assim, buscou-se as obras com o tema sobre Bacias Hidrográficas 
brasileiras e sua subdivisão, os tipos de uso da água e suas classificações e os 
principais impactos gerados pelas atividades que se utilizam do recurso hídrico. 
Realizou-se análise de variáveis importantes para a compreensão do 
contexto do saneamento básico dos Municípios do baixo curso do Rio Curu, com 
enfoque ao município de Paraipaba, dados que foram obtidos a partir do Instituto 
Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE e do Instituto de Pesquisa e Estratégia 
Econômica do Ceará - IPECE, que possibilitaram apreender como a configuração 
espacial está dividida nos setores da economia que refletem a demanda de água 
existente nos municípios. 
Posteriormente, visando um estudo de caso de variáveis dos usos da 
água no município de Paraipaba foi realizada visita na Câmara Municipal do mesmo, 
com o intuito de obter as leis que dispõem sobre o meio ambiente e que estão 
relacionadas à distribuição e implantação de infraestrutura voltada ao saneamento 
básico. 
Realizou-se trabalho de campo na unidade da sede de tratamento de 
Água – ETA. Os dados referentes a Estação de Tratamento de Esgoto – ETE foram 
obtidos através de relatório técnico elaborado pela equipe do Núcleo de Apoio 
36 
 
 
Técnico – NAT da instituição Ministério Público. Em atividade de campo contatou-se 
a empresa responsável pela execução do servido de limpeza urbana, bem como 
para obtenção de dados agropecuários e industriais analisou-se dados disponíveis 
nos órgãos IPECE, IBGE e EMATERCE. 
Buscando-se assim a partir dos dados dos usos da água no município, 
bem como do seu tratamento e de como a água retorna ao corpo hídrico 
compreender a questão da qualidade e quantidade da água disponível para seus 
diversos usos no contexto do baixo curso do Rio Curu. 
Através da análise de material bibliográfico compreendeu-se a 
importância da unidade Bacia Hidrográfica e como esta se configura na melhor 
delimitação para gestão dos recursos hídricos, bem como os principais prejuízos que 
podem ocorrer se houver sobrecarga dos cursos d’água, assim como os danos que 
são acarretados ao meio ambiente. 
No Ceará a Bacia do Curu funcionou como projeto piloto para implantação 
de políticas voltadas à gestão dos recursos hídricos no Estado, nas quais serviram 
de modelo para introduzi-las em outros municípios do Ceará, assim para 
compreender sua dinâmica verificou-se as políticas desenvolvidas na mesma. 
No município de Paraipaba, o projeto irrigado Curu-Paraipaba, pioneiro no 
Estado, foi implantado através de ações do Governo Federal, por intermédio do 
DNOCS. Este é importante fator de análise para compreender como os usos da 
água foram desenvolvidos no município, que atualmente possui seu maior 
percentual de população na zona rural. 
Realizou-se uma análisegeral das diversas atividades desenvolvidas no 
município visando constatar se existe água suficiente, distribuição e tratamento 
adequado desta para atender a demanda. Em análise ao saneamento básico do 
baixo curso do rio Curu, com dados obtidos a partir de órgãos que os disponibilizam 
verificou-se em termos quantitativos se este é satisfatório para a manutenção da 
qualidade e quantidade da água dos corpos hídricos. 
Verificaram-se as variáveis relativas ao consumo de água e a sua 
disponibilização, bem como os atores envolvidos no processo de consumo, 
37 
 
 
distribuição e tratamento, com a finalidade de propor medidas mitigadoras para os 
possíveis conflitos gerados a partir das atividades que utilizam a água como recurso 
e para os impactos ocasionados ao meio ambiente pela falta de infraestrutura e uso 
inadequado dos recursos hídricos. Através do esquema a seguir, (Figura 02) 
observa-se as etapas de elaboração do presente estudo. 
FIGURA 02 – Processo de elaboração e construção da pesquisa 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Elaboração: Dados da pesquisa, 2014. 
Definição do recorte 
espacial: Baixo Curso 
do Rio Curu – Estudo 
de caso 
Análise de material 
cartográfico do 
recorte. 
Levantamento 
Bibliográfico 
Análise das políticas de 
saneamento e usos da água 
em Paraipaba 
 
Possíveis impactos 
e conflitos 
relativos ao uso da 
água: Estudo de 
caso Paraipaba 
Sugestões de medidas 
mitigadoras para os conflitos 
e impactos negativos dos 
múltiplos usos da água 
38 
 
 
Capítulo III - OS MÚLTIPLOS USOS DA ÁGUA NO BAIXO CURSO DO RIO CURU 
O baixo curso do Rio Curu é compreendido pelos municípios de 
Paraipaba e Paracuru, situando-se na Bacia Hidrográfica do Rio Curu, na porção 
Noroeste do Estado do Ceará. O presente trabalho foca-se no estudo de caso do 
município de Paraipaba, no qual analisou-se as políticas de Saneamento Básico que 
objetivam a manutenção da quantidade e qualidade da água para seus diversos 
usos, bem como os principais usos da água enquanto recurso hídrico e quais os 
potenciais impactos que estes podem ocasionar. 
No mapa disponível no Plano Diretor da Bacia Hidrográfica do Rio Curu, 
pode-se visualizar os principais usos do solo no contexto da bacia. Pode-se observar 
ao Norte da Bacia, o baixo curso da mesma predominando a Agricultura e nas áreas 
próximas ao Rio Curu o agroextrativismo como usos preponderantes. 
Figura 03 – Usos do solo na Bacia Hidrográfica do Rio Curu 
 
Fonte: COGERH, 2014 
 
 
39 
 
 
3.1 Caracterização da Área de Estudo 
O município de Paraipaba foi protagonista de diversos projetos realizados 
no Estado do Ceará, os quais objetivaram instrumentalizar a gestão dos recursos 
hídricos, dentre estes projetos encontra-se a implantação do sistema de perímetro 
irrigado em 1975 e a criação de CBH em 1997. 
O município de Paraipaba está localizado no Litoral Oeste, a 3° 26’ 22’’ de 
Latitude sul e longitude 39° 08’ 54’’ a oeste de Greenwich, limitando-se ao Norte com 
o Oceano Atlântico e o município de Trairi, a Sul com os municípios de Paracuru e 
São Gonçalo do Amarante, a leste com o município de Paracuru, no qual o rio 
caracteriza-se como limite entre os municípios e o Oceano Atlântico e a oeste com o 
município de Trairi (MAPA 02). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
40 
 
 
MAPA 02 - Localização do Município de Paraipaba 
 
41 
 
 
O município encontra-se inserido na área de coberturas sedimentares 
cenozoicas, possuindo clima Tropical Quente Semi-árido Brando, com uma 
pluviosidade média de 1.238 mm, com temperatura média entre 26º e 28° segundo 
dados do IPECE (2012). O relevo da área é composto por Planície Litorânea e 
Glacis Pré-litorâneos Dissecados em Interflúvios Tabulares, seus solos 
compreendem aos Solos Aluviais, Areias Quartzosas Marinhas, Latossolo Vermelho-
Amarelo, Podzólico Vermelho-Amarelo e Solonchak, possuindo como vegetação 
característica o Complexo Vegetacional da Zona Litorânea. O município possui 
78,25% de seu território drenado pela Bacia do Curu, o restante da drenagem 
provém da bacia do Litoral que possui o rio Aracatiaçu como seu principal coletor. 
O município conta com dois domínios hidrogeológicos sendo eles os 
sedimentos da formação barreiras e os depósitos aluvionares. A formação barreiras 
possui variação de permeabilidade de acordo com o contexto do local, interferindo 
assim na produção de água subterrânea. Em Paraipaba devido à espessura e a 
litologia, os sedimentos apresentam boa potencialidade para a produção de água 
subterrânea. Os depósitos areno-argilosos recentes ocorrem margeando as calhas 
dos principais rios da região representando boa potencialidade o que ocorre por 
possuir alta permeabilidade e devido a este fato apresentando boa vazão, embora 
apresentem espessura rasa (Vieira; Feitosa; Benvenuti, 1998). 
Em língua Guaraní o nome do município Paraipaba se traduz em ―o lugar 
onde as águas pluviais se confundem com as águas das marés‖, o que faz 
implicitamente relação ao estuário do Rio Curu encontrar-se na região. 
Paraipaba até 1985 não existia enquanto ente federativo, sendo parte 
integrante do município de Paracuru, bem como anteriormente pertencia ao 
município de São Gonçalo do Amarante, nesse período denominada Passagem do 
Tigre e posteriormente apenas Tigre. No ano supracitado passou a condição de 
município através da Lei Estadual Nº 11009/1985. Atualmente possui divisão 
administrativa em quatro distritos, estabelecida desde 1995, sendo estes Paraipaba 
(sede), Boa Vista, Camboas e Lagoinha. 
Segundo o Censo realizado pelo IBGE (2010), o município de Paraipaba 
possui uma população total de 30.041 pessoas, dividindo-se em 13.435 alocadas na 
42 
 
 
zona urbana em um percentual de urbanização de aproximadamente 45% e 16.606 
pessoas alocadas na zona rural do município, apresentando percentual de 
aproximadamente 55%. Observa-se que embora a população urbana venha 
apresentando crescimento, duplicando em um período de 10 anos, no âmbito rural 
vê-se uma maior expressividade da população do campo em relação à urbana. 
 O município conta com uma infraestrutura de serviços de saúde, em que 
possui 02 postos de saúde na sede do município de Paraipaba que realizam 
atendimento nos dias úteis da semana, 01 hospital localizado na sede para 
atendimentos emergenciais e postos localizados nos distritos situados nas 
comunidades de maior expressividade, oferecendo atendimento uma vez por 
semana. Em dados do IPECE Paraipaba conta com 0,95 médicos para cada 1000 
habitantes, contando com 16 unidades de saúde ligadas ao Sistema Único de 
Saúde. 
A educação do município conta com projetos de capacitação de jovens 
para a inserção do mercado de trabalho, como pró-jovem e cursos 
profissionalizantes, conta ainda escola estadual profissionalizante. O município 
conta com 39 escolas divididas em 32 municipais, 05 particulares e 02 estaduais 
(IPECE, 2012). As escolas estaduais as quais dispõem de ensino médio pela 
modalidade de ensino público e estão localizadas na sede do município exigindo 
assim o deslocamento dos estudantes que residem nos distritos e localidades do 
município. Das escolas particulares apenas uma oferece o ensino médio, 
localizando-se também na sede municipal. 
Paracuru, município componente do baixo curso do rio Curu, era 
anteriormente pertencente ao município de Trairi passando por outras divisões até 
chegar a atual, foi criado através do Decreto de Lei Nº 73 de 1890, seu nome de 
origem Tupi significa Lagarto do Mar. 
3.2 Usos da água e políticas de saneamento básico do município de 
Paraipaba 
Os recursos hídricos são constituídos por diversos componentes, assim 
sua análise deve ocorrer de forma a avaliar seus parâmetros químicos, físicos e 
43 
 
 
biológicos, parâmetros esses responsáveis por indicar a qualidade da água, sendo 
que o resultado obtidoaponta a relação entre os processos existentes ao longo da 
bacia hidrográfica. 
A qualidade da água indica o estado de conservação e intensidade de 
impacto ambiental ao qual o recurso hídrico está submetido, bem como o uso ao 
qual a água pode ser destinada, visto que cada uso demanda determinado índice de 
qualidade. Os usos da água dividem-se em classes e estão determinadas na 
Resolução CONAMA Nº 357, de 17 de março de 2005. 
Para avaliar as condições de qualidade de determinado recurso hídrico a 
água é analisada observando determinados critérios nos determiam o uso ao qual 
esta poderá ser destinada, bem como estabelece os índices de qualidade que 
envolve sua utilização. 
No baixo curso do Rio Curu, o saneamento básico, fator importante para a 
manutenção da qualidade das águas apresenta condições deficitárias, que ocorrem 
principalmente pela falta de políticas públicas que acompanhem o crescimento 
populacional e propicie integral atendimento do serviço à população. A pressão 
urbana sem a implantação de infraestrutura adequada acarreta impactos ambientais 
principalmente no solo e nos corpos hídricos devido ao lançamento de resíduos e 
efluentes sem tratamento. 
Através de dados do Censo 2010 observa-se que a população urbana no 
município de Paraipaba duplicou sua população residente na zona urbana em um 
período de 10 anos, na qual em 2000 compreendia a um total na zona urbana de 
5.677 habitantes e em 2010 a população passou a um contingente de pessoas de 
13.435. 
Os setores da economia do município refletem de forma geral a demanda 
de água utilizada no município, assim em sua divisão observa-se quais os setores 
da economia local que demandam um percentual maior de utilização do recurso 
hídrico no âmbito municipal. O município de Paraipaba embora tenha um maior 
contingente populacional concentrado na zona rural do município, a agropecuária 
representa aproximadamente 19% do Produto Interno Bruto – PIB, demonstrando 
44 
 
 
que embora a agropecuária tenha papel significativo, não é principal setor 
econômico existente no município. O setor de maior expressividade em Paraipaba é 
o setor de serviços, representando aproximadamente 58% do PIB do município, em 
seguida com aproximadamente 23% encontra-se o setor industrial. 
Observa-se assim que em termos quantitativos a maior concentração de 
atividades que demanda o consumo de água nos municípios está no comércio, nos 
usos públicos, residenciais. No entanto cabe salientar que em termos territoriais, 
principalmente o município de Paraipaba, possui sua área ocupada por atividades 
agropecuárias, atividades estas que demandam grande utilização de água. 
Os municípios de Paraipaba e Paracuru apresentam respectivamente um 
percentual de domicílios com saneamento básico adequado no âmbito rural de 22,8 
e de 13,3% e na área urbana essa taxa passa a ser respectivamente de 46,4% e 
17,6%. 
 Veem-se através da Tabela 02 alguns dados significativos relativos ao 
baixo curso da Bacia do Curu em que se pode analisar que há uma carência de 
implantação de infraestrutura de saneamento básico nos municípios. No entanto faz 
necessário analisar conjuntamente os dados fornecidos pelo IPECE para o ano de 
2011, no qual apresenta para o município de Paraipaba uma taxa de cobertura 
urbana da rede de abastecimento de água de 99,11% e para o município de 
Paracuru de 97,60, bem como respectivamente para o sistema de esgotamento 
sanitário um percentual de 73,87% e 34,57%. 
Observa-se que os municípios possuem determinada cobertura para os 
serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário, porém o atendimento 
as populações não acompanham as taxas de cobertura, o que pode ser atribuído à 
falta de infraestrutura para maior disponibilização dos serviços. Ressalta-se ainda 
que os dados consideram para o abastecimento de água e para o esgotamento 
sanitário apenas os domicílios ligados a rede geral. 
 
 
45 
 
 
Tabela 01 - Principais características do saneamento básico dos municípios do 
baixo curso da bacia hidrográfica do Curu. 
Curso do 
rio Curu 
Municípios Área 
(km²) 
População 
total 
Domicílios 
na sede 
(n.º) 
Domicílios 
atendidos pela 
coleta de lixo 
Domicílios 
ligados à rede 
geral de 
abastecimento 
de água 
Domicílios 
ligados à rede 
geral de esgoto 
ou pluvial 
Domicílios 
sem banheiro 
ou sanitário 
n.º % n.º % n.º % n.º % 
BAIXO 
Paraipaba 300,922 30.041 13.435 4.417 32,8 4.463 33,2 1.741 12,9 534 3,9 
Paracuru 300,296 31.636 20.589 6.650 32,2 3.637 17,6 1.121 5,4 397 1,9 
 
Fonte: Censo demográfico IBGE (2010) 
Fonte: Adaptado de Gorayeb, 2006. 
 
3.2.1 Abastecimento público 
Para o abastecimento público as variáveis analisados para verificar a 
qualidade da água constituem-se em 9 fatores, sendo estes: oxigênio dissolvido, 
coliformes fecais, pH, demanda bioquímica de oxigênio, nitrogênio total, fosfato total, 
alteração da temperatura, turbidez e sólidos totais, fatores para que a água 
apresente os padrões de qualidade necessários as atividades e ao consumo. 
O município de Paraipaba tem como órgão gestor do sistema de 
abastecimento de água a Companhia de Água e Esgoto do Ceará – CAGECE. O 
manancial de captação para abastecimento de água na sede municipal constitui-se 
na Lagoa Uberaba, conhecida pela população do município como Lagoa da 
Canabrava. Na entrada de acesso ao local de captação de água superficial do 
manancial há cerca protetora informando se tratar de área de captação para 
abastecimento público. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
46 
 
 
FIGURA 04 – Entrada de acesso a Estação Elevatória de Captação Superficial – 
EECS 
 
Fonte: Dados da pesquisa, 2014. 
 
 Na margem da lagoa está instalado um conjunto ―motor-bomba‖ (figura 
04) sobre base fixa, este apresenta sua cobertura danificada e não há motor reserva 
que possa garantir o abastecimento em caso de ocorrência de problemas, bem 
como o teto protetor da estação está danificado. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
47 
 
 
FIGURA 05 – Teto da EECS danificado. 
 
Fonte: Dados da pesquisa, 2014 
 
Observa-se a existência de macrófitas aquáticas (figura 05), a esquerda 
da Estação Elevatória de Captação Superficial, essa vegetação denota o estado 
trófico de recursos hídricos lóticos e lênticos, em pequena quantidade esta pode ser 
benéfica, no entanto quando há colonização excessiva pode causar a eutrofização 
da água, resultando assim em prejuízos em sua qualidade, além deste fator pode 
inviabilizar o recurso hídrico para fins recreativos e funcionar como um vetor de 
proliferação de doenças epidêmicas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
48 
 
 
FIGURA 06 – Proliferação de macrófitas aquáticas 
 
Fonte: Dados da pesquisa, 2014. 
 
No município de Paraipaba há duas Estações de Tratamento de Água - 
ETA, sendo uma localizada na sede no município e a outra localizada no distrito de 
lagoinha. Na ETA localizada na sede do município foi realizada trabalho de campo a 
fim de coletar dados do seu funcionamento. A EECS anteriormente apresentada é 
responsável pela captação da água bruta que posteriormente é enviada para o 
tratamento na ETA. 
O tratamento ocorre através de etapas de tratamento, divididas em 
floculação, de forma que os flocos maiores ficam depositados ao fundo do floculador 
e as águas floculadas são enviadas ao decantador, no qual ocorre à sedimentação 
do material, a água já decantada é enviada aos filtros. Na água ocorre a adição de 
ploricloreto de alumínio líquido (PAC 23) e hipoclorito de cálcio. A água ao chegar 
aos filtros é enviada diretamente aos Reservatórios Apoiados – RAP 01 e 02, após 
tais etapas é enviada diretamente para a rede de distribuição. A ETA conta ainda 
com uma unidade de fluoretação, porém a mesma não se encontra em 
funcionamento. 
 
 
49 
 
 
FIGURA 07 – Floculador da ETA localizada na sede do município de ParaipabaFonte: Dados da pesquisa, 2014 
 
FIGURA 08 – Decantador na unidade da ETA localizada na sede de Paraipaba 
 
Fonte: Dados da pesquisa 
 
 
 
 
50 
 
 
FIGURA 09 – Filtros na ETA localizada na sede do município de Paraipaba 
 
Fonte: Dados da pesquisa, 2014. 
 
Na unidade são realizadas a cada 02 horas a medição dos padrões de 
Ph, cor e turbidez da água visando à distribuição de água de qualidade. Foi 
informado que não são realizadas medições de outros índices na unidade, a 
realização destas ocorre mensalmente, na gerência regional, localizada no município 
de Itapipoca. Ressalta-se que conforme dados do relatório de fiscalização emitido 
em 2011 pela Agência Reguladora de Serviços Públicos Delegados do Estado do 
Ceará – ARCE os parâmetros de Cor, turbidez da água apresentaram 
desconformidades, bem como o ferro presente na água. As amostras coletadas pela 
equipe da ARCE e analisadas em laboratório demonstram desconformidade dos 
parâmetros de cor, turbidez, ferro e cloreto. 
Não há placa indicativa de licenciamento ambiental afixada na ETA, bem 
como não há na EECS. Conforme relatório da ARCE emitido em 2011, não há 
licença de operação para o Sistema de Tratamento de Água de Paraipaba registrado 
na Superintendência Estadual do Meio Ambiente - SEMACE. 
O município conta com duas estações de abastecimento de água e duas 
estações de tratamento de esgoto, localizadas no distrito Sede e no Distrito de 
Lagoinha. Em caso de períodos de estiagem a CAGECE vende água a prefeitura 
para o abastecimento de locais em que ocorre a falta d’água, de forma que este 
51 
 
 
ocorre através de carro pipa. O município conta ainda com perímetro irrigado Curu-
Paraipaba de responsabilidade do DNOCS, em que este é responsável pelo 
abastecimento das localidades aos quais se encontra instalado. O município embora 
situado no litoral do Estado, possui áreas que são abastecidas através de carro-pipa, 
o mesmo foi contemplado com carros-pipas do programa Água Todos, de 
responsabilidade do governo federal. 
 
3.2.2 Esgotamento Sanitário 
O município de Paraipaba tem como órgão gestor do esgotamento 
sanitário a CAGECE, no qual possui gerência regional no município de Itapipoca. 
Segundo dados obtidos através de relatório técnico elaborado pela equipe do Núcleo 
de Apoio Técnico – NAT referente ao ano de 2010, o sistema de esgotamento de 
Paraipaba é composto por 01 Estação de Tratamento de Esgoto – ETE na qual 
existem 03 lagoas de estabilização em série, sendo que após o tratamento do 
efluente este é lançado na Lagoa do Jaburu, conhecida como Lagoa de Beber. 
Abordam a existência de Licença de Operação da ETE, porém estabelecem como 
condicionante para que esta possa vigorar a instalação de casa de apoio, que serve 
para vigilância no local, análises de variáveis e higienização de materiais, no entanto 
a mesma não foi instalada. 
O local apresentava vegetação em excesso nos taludes e vias de acesso, 
o que fazer com que seus galhos possam cair no interior da lagoa de estabilização, 
ocasionando a proliferação de insetos e maus odores, bem como pode acarretar 
problemas operacionais. É necessário salientar que as análises físico-químicas e 
bacteriológicas são de extrema importância para evitar a contaminação das águas 
do corpo hídrico, no entanto não foi possível constatar se há realização de análises 
do efluente da ETE que terá como destino final o recurso hídrico Lagoa do Jaburu. 
 
 
 
 
 
 
 
 
52 
 
 
FIGURA 10 – Lagoa de Estabilização recoberta por vegetação 
 
FONTE: Relatório Técnico de Vistoria Nº 318/2010 
 
3.2.3 Resíduos Sólidos e Manejo de Águas Pluviais 
Os resíduos sólidos do município são destinados à localidade Cacimbão 
dos Tereza, denominado oficialmente de Cacimbão. ao vazadouro localizado no 
Cacimbão dos Tereza, porém é denominada oficialmente apenas de Cacimbão. A 
empresa responsável pela gestão e manejo dos resíduos sólidos urbanos 
corresponde à empresa Farias Magalhães de nome fantasia Dfl Limpeza Urbana, 
segundo dados obtidos através de trabalho de campo à empresa, funcionários 
informaram que todo o município é contemplado com o serviço de coleta de resíduos 
sólidos, e que o serviço de varrição, de capina e poda é realizado em parceria entre 
a Prefeitura Municipal de Paraipaba e a empresa, sendo a coleta de lixo realizada 
diariamente através de caçambas e caminhões, e para os resíduos da construções 
civil são utilizados retroescavadeiras. 
Em relação aos resíduos sólidos hospitalares a empresa informada não é 
a responsável pelo recolhimento, sendo responsável apenas pelo recolhimento de 
material não contaminado. No entanto é necessário salientar que segundo dados da 
pesquisa nacional de saneamento básico, realizada pelo IBGE em 2008, informa 
53 
 
 
que os resíduos sólidos de serviços de saúde sépticos são dispostos em conjunto 
com os demais resíduos no solo do município em vazadouro. 
 Não há tratamento do chorume, bem como não há coleta seletiva, nem 
destino diferenciado dos biossólidos, sendo todos os destinos sólidos dispostos no 
vazadouro. Há no chamado aterro controlado a presença de catadores, no dia da 
realização do trabalho de campo no vazadouro do município observou-se que a 
maioria dos catadores que se encontravam no local consistia em jovens 
aparentemente menores. 
Em abordagem a um catador, o mesmo afirmou trabalhar a doze anos 
com a coleta de resíduos para reciclagem, falou que já teve problemas de saúde 
acarretados devido ao trabalho diário com coleta, bem como afirmou que por vezes 
encontra material séptico. O vazadouro apresenta aparentemente um incinerador, no 
entanto não foi possível confirmar se este se é utilizado para queima de material de 
resíduos sólidos de serviços de saúde. 
 
FIGURA 11 – Vala destinada a queima de resíduos de saúde no aterro controlado 
de Paraipaba 
 
Fonte: Dados da pesquisa, 2014. 
 
 
 
 
 
 
 
54 
 
 
 
FIGURA 12 – Vazadouro situado no município de Paraipaba 
 
Fonte: Dados da pesquisa, 2014. 
 
O aterro controlado foi construído está situado aproximadamente a 03km 
de distância do manancial de captação para abastecimento de água da população 
do município. Nas proximidades do mesmo há empresas instaladas, sendo estas a 
Companhia de Alimentos do Nordeste – CIALNE, que realiza a atividade de criação 
de frangos para corte e a CBC Produção de Bulbos, em que se encontram 
respectivamente a aproximadamente 02km e 03km do vazadouro considerando a 
entrada dos estabelecimentos, no entanto levando em consideração a área 
produzida da empresa CBC Produção de Bulbos, a distância verificada através do 
Google Earth é de apenas 1,5km, há ainda plantio de culturas em uma distância 
aproximada de 500m do lixão. 
Os resíduos depositados a céu aberto acarretam maus odores, 
proliferação de micro e macrovetores que podem causar doenças por agentes 
patogênicos, principalmente aos catadores presentes no lixão. O vazadouro 
presente no município de Paraipaba classifica-se como aterro controlado, este se 
caracteriza por receber um recobrimento diário, viabilizando a recirculação de parte 
do chorume, no entanto o tratamento adequado do biogás produzido só é ocorre em 
aterros sanitários. O chorume tratado de forma inadequada pode ocasionar a 
poluição do lençol freático, bem como dos corpos de água superficial em sua área 
de influência. 
55 
 
 
 
Figura 13 – Visualização do vazadouro a céu aberto 
 
Fonte: Google Earth, Set/2011. 
 
Segundo Resolução do Conselho Estadual do Meio Ambiente - COEMA 
Nº 01, de 27 de janeiro de 2011, existe projeto para instalação de aterro sanitário em 
consórcio com os municípios de Paracuru, Paraipaba e Trairi, a ser instalado no 
município de Paracuru. 
 
O manejo de águas pluviais é de responsabilidade da Prefeitura do 
município de Paraipaba, em alguns pontos houve a instalação de drenagem para 
diminuir os pontos de alagamento,

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