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1 UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ CENTRO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA – CCT BACHARELADO EM GEOGRAFIA MARIA NÁDILA VASCONCELOS MENDONÇA ANÁLISE DOS MÚLTIPLOS USOS DA ÁGUA NO BAIXO CURSO DO RIO CURU, PARAIPABA – CE, COMO SUBSÍDIO AO PLANEJAMENTO E GESTÃO DE BACIAS HIDROGRÁFICAS FORTALEZA 2014 2 MARIA NÁDILA VASCONCELOS MENDONÇA ANÁLISE DOS MÚLTIPLOS USOS DA ÁGUA NO BAIXO CURSO DO RIO CURU, PARAIPABA – CE, COMO SUBSÍDIO AO PLANEJAMENTO E GESTÃO DE BACIAS HIDROGRÁFICAS Monografia apresentada ao Curso de Geografia Bacharelado da Universidade Estadual do Ceará como requisito parcial para a obtenção do grau de bacharel em Geografia. Orientador: Profª. Drª. Maria Lúcia Brito da Cruz FORTALEZA 2014 3 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Universidade Estadual do Ceará Sistema de Bibliotecas Mendonça, Maria Nádila Vasconcelos . ANÁLISE DOS MÚLTIPLOS USOS DA ÁGUA NO BAIXO CURSO DO RIO CURU, PARAIPABA – CE, COMO SUBSÍDIO AO PLANEJAMENTO E GESTÃO DE BACIAS HIDROGRÁFICAS [recurso eletrônico] / Maria Nádila Vasconcelos Mendonça. – 2014. 1 CD-ROM: il.; 4 ¾ pol. CD-ROM contendo o arquivo no formato PDF do trabalho acadêmico com 67 folhas, acondicionado em caixa de DVD Slim (19 x 14 cm x 7 mm). Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) – Universidade Estadual do Ceará, Centro de Ciências e Tecnologia, Graduação em Geografia, Fortaleza, 2014. Orientação: Prof. Dr. Maria Lúcia Brito da Cruz. 1. Múltiplos Usos. 2. Bacia Hidrográfica. 3. Recursos Hídricos. 4. Baixo Curso do Rio Curu. 5. Usos da Água. I. Título. 4 MARIA NÁDILA VASCONCELOS MENDONÇA TÍTULO: ANÁLISE DOS MÚLTIPLOS USOS DA ÁGUA NO BAIXO CURSO DO RIO CURU, PARAIPABA – CE, COMO SUBSÍDIO AO PLANEJAMENTO E GESTÃO DE BACIAS HIDROGRÁFICAS Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Geografia do Centro de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual do Ceará como requisito parcial para a obtenção do grau de bacharel em Geografia. Aprovada em: ____/____/____________ BANCA EXAMINADORA: ____________________________________________ Profª. Drª Maria Lúcia Brito da Cruz Universidade Estadual do Ceará – UECE _____________________________________________ Msc. Lizabeth Silva Oliveira Universidade Estadual do Ceará - UECE _____________________________________________ Msc. Sharon Darling de Araújo Dias Universidade Estadual do Ceará - UECE 5 Aos meus pais, que subsidiaram e me apoiaram a seguir em busca de meus objetivos. 6 AGRADECIMENTOS À Deus, ser essencial em minha vida, pela fé que me permite buscar meus objetivos, desejos e anseios. Aos meus pais e meu irmão, pelo amor incondicional e apoio dedicado para que eu pudesse alcançar mais essa conquista em minha vida. À Brenda Késia, Helena Sousa, Radmila Vaz pela amizade e pela disponibilidade em escutar minhas angústias e anseios, À equipe do Núcleo de Apoio Técnico, em especial a Rafaela Oliveira, a Ivanilde Lima, a Juliana Facão e a Aurelice Borges, que me proporcionaram crescimento pessoal e profissional através de suas contribuições, colaborando com a construção de meu pensamento ao longo dessa jornada. À minha orientadora, Lúcia Brito, por suas contribuições e forma singular de orientação. Aos meus colegas de turma, em especial aos amigos que estiveram sempre comigo, independente da proximidade, Juliana Moura, Wilami Gomes, Mariana Nascimento e Jéssica Aparecida, por construírem essa jornada juntos comigo e a torná-la mais prazerosa. E a todos que contribuíram direta e indiretamente ao longo desses anos de estudo para a construção e para a elaboração do presente trabalho e para meu crescimento pessoal e profissional. 7 ―Se a educação sozinha, não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda.‖ Paulo Freire 8 RESUMO A água nas primeiras décadas do século XXI vem sendo alvo de discussões ocasionadas a partir das alterações climáticas, estas vem acarretando preocupação quanto à manutenção da quantidade e qualidade da água, bem como não se pode dissociar de tal discussão o processo histórico de sua utilização. Diante da dinâmica atual, buscou-se através do presente estudo compreender as relações dos múltiplos usos da água no baixo curso do Rio Curu, com enfoque específico no município de Paraipaba, no qual se visou verificar como ocorre a manutenção da qualidade da água, quais seus principais usos, bem como as implicações desses usos e os possíveis conflitos ocasionados a partir destes. Para investigação utilizou- se dados estatísticos dos órgãos IBGE e IPECE, realizando-se análise quantitativa associando a realidade dos municípios que compreendem o baixo curso do Rio Curu, sendo estes Paraipaba e Paracuru, bem como foram realizados trabalhos de campo, especificamente voltadas ao estudo de caso de Paraipaba. Constatou-se a precariedade dos sistemas de infraestrutura do saneamento básico, bem como a necessidade do emprego de manejo adequado nos diversos setores que necessitam da água para realizarem suas atividades. Palavras-chave: múltiplos usos, bacia hidrográfica, rio curu, recursos hídricos 9 ABSTRACT During the first decades of the 21st century, water has been the main subject of discussions concerning weather changes. These changes alongside the history of the use of the water bring along preoccupation regarding the management of the quantity and quality of the water. Through this paper, we seek to comprehend the relation between the various uses of the water in the lower course of Curu river, focusing specifically on the municipality of Paraipaba, where we aimed to follow how the management of the quality of the water is done, what its main uses are, and the implications of such uses, as well as the possible conflicts caused by such. To the study, a quantitative analyses of statistical data from IBGE (the Brazilian Institute of Geography and Statistics) and IPECE (the Institute of Economic Research and Strategy of Ceará), associating it to the reality of the municipality that are located in the lower course of the Curu river, Paraipaba and Paracuru, as well as a field work in Paraipaba. It was found that the sanitation system is precarious, and that there is a lack of an adequate infrastructure in the many areas that need water to the conduction of their activities. Keywords: multiplex uses, watershed, Curu river, water resources 10 LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Volume de retirada e de consumo das demandas consuntivas no Brasil .................................................... .....................................................21 Figura 2 - Processo de elaboração e construção da pesquisa .............................. 37 Figura 3 - Usos do solo na Bacia Hidrográfica do Rio Curu.......................................38 Figura 4 - Entrada de acesso a Estação Elevatória de Captação Superficial - EECS ................................................................................................................46 Figura5 - Teto da EECS danificado ..................................................................... 47 Figura 6 - Proliferação de macrófitas aquáticas ................................................... 48 Figura 7 - Floculador da ETA localizada na sede do município de Paraipaba ..... 49 Figura 8 - Decantador na unidade da ETA localizada na sede de Paraipaba ...... 49 Figura 9 - Filtros na ETA localizada na sede do município de Paraipaba ............ 50 Figura 10 - Lagoa de Estabilização recoberta por vegetação .............................. 51 Figura 11 - Incinerador presente no aterro controlado de Paraipaba ................... 52 Figura 12 - Aterro controlado de Paraipaba ......................................................... 53 Figura 13 - Visualização do aterro controlado e do manancial de captação do município de Paraipaba.........................................................................................55 Figura 14 - Ponto de alagamento na Rua José Carneiro Meireles ....................... 56 LISTA DE MAPAS Mapa 1 – Hidrografia Superficial do Município de Paraipaba....................................29 Mapa 2 - Localização do Município de Paraipaba.....................................................39 Mapa 3 – Carta Imagem da área do município de Paraipaba...................................56 LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Componentes da Gestão Ambiental................................................... 29 11 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Principais características do saneamento básico dos municípios do baixo curso da bacia hidrográfica do Curu ..................................................................... 45 LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ANA - Agência Nacional de Águas ARCE - Agência Reguladora de Serviços Públicos Delegados do Estado do Ceará CBH - Comitês de Bacias Hidrográficas COMIRH - Comitê Estadual dos Recursos Hídricos CAGECE - Companhia de Água e Esgoto do Ceará COGERH - Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos CONERH - Conselho de Recursos Hídricos do Ceará COEMA - Conselho Estadual do Meio Ambiente CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente CF - Constituição Federal DNOCS - Departamento Nacional de Obras Contra as Secas DHN - Divisão Hidrográfica Nacional EMATERCE - Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará EECS - Estação Elevatória de Captação Superficial ETA - Estação de Tratamento de Água ETE - Estação de Tratamento de Esgoto 12 FUNCEME - Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos FUNORH - Fundo Estadual dos Recursos Hídricos IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IPECE - Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará - MMA - Ministério do Meio Ambiente NAT - Núcleo de Apoio Técnico CNRH - O Conselho Nacional de Recursos Hídricos PDEE - Plano Decenal de Expansão de energia PMAP – SP - Plano diretor de drenagem e manejo de águas pluviais de São Paulo PNGH - Plano Nacional de Gerenciamento dos Recursos Hídricos PNRH - Plano Nacional dos Recursos hídricos PERH - Política Estadual dos Recursos Hídricos PNMA - Política Nacional do Meio Ambiente PIB - Produto Interno Bruto RAP - Reservatório Apoiado SRHU - Secretária de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano SRH - Secretária Estadual dos Recursos Hídricos SINGERH - Sistema Nacional de Gerenciamento dos Recursos Hídricos SUS - Sistema Único de Saúde SUDENE - Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste 13 SOHIDRA - Superintendência de Obras Hidráulicas SEMACE - Superintendência Estadual do Meio Ambiente UECE - Universidade Estadual do Ceará 14 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 15 1 – REFERENCIAL TEÓRICO CONCEITUAL ..................................................... 17 1.1. Tipos de usos da água ................................................................................... 17 1.2. Usos consuntivos e não consuntivos ............................................................. 20 1.3. A bacia hidrográfica como unidade de gestão ................................................ 24 1.4 Gestão dos recursos hídricos .......................................................................... 30 2 – PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS E MATERIAIS UTILIZADOS...........35 3 – OS MÚLTIPLOS USOS DA ÁGUA NO BAIXO CURSO DO RIO CURU 3.1. Caracterização da Área de Estudo ...................................... ...........................39 3.2 Usos da água e políticas de saneamento básico do município de Paraipaba..42 3.2.1 Abastecimento Púbico.....................................................................................45 3.2.2 Esgotamento Sanitário....................................................................................51 3.2.3 Resíduos Sólidos e Manejo de Águas Pluviais...............................................52 3.2.4 Agropecuária e Indústria.................................................................................56 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 60 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 63 15 INTRODUÇÃO A água é um bem essencial à manutenção a vida e imprescindível para a realização das atividades humanas. Esta enquanto recurso tem apresentado uma demanda crescente de sua utilização para seus diversos fins, tornando necessário haver um gerenciamento integrado, descentralizado e participativo (SILVA, 2013). A necessidade e o uso indiscriminado da água têm gerado conflitos em torno dos seus múltiplos usos, causando prejuízos quantitativos e qualitativos, fato que afeta a distribuição entre os diversos usuários. Em diversos locais, a quantidade de água disponibilizada para o consumo humano não é suficiente para abastecer a população, seja pela escassez própria da região, pela sobrecarga dos corpos hídricos com poluentes ou pela crescente demanda sem a implantação de infraestrutura necessária para abastecer as populações. O aumento da demanda por água potável para consumo acarreta a necessidade de tratamentos mais complexos para purificá-la, necessitando retirar da água bruta provinda dos recursos hídricos lixo, restos vegetais e outras impurezas, para que possa tornar-se adequada para o consumo humano e para os demais usos. O aumento do consumo e a degradação ambiental é que são realmente determinantes para o problema da diminuição da disponibilidade de água no mundo (SILVA, 2004). Tem-se conseguido avanços em relação às políticas voltadas para minimização de conflitos e preservação dos recursos hídricos, como a participação popular e dos diversos segmentos que utilizam o recurso hídrico como fonte de exploração para desenvolvimento de suas atividades, influenciando na tomada de decisões, no gerenciamento e planejamento do uso, na adoção da bacia hidrográfica como unidade de gestão. No entanto mesmo com as medidas adotadas, os conflitos em torno de sua utilização persistem, podendo-se atribuir a falta de implantação de políticas públicas que viabilizem o acesso efetivo a esse recurso em quantidade e qualidade. 16 Assim, buscou-se com o presente estudo a compreensão de como se dá o conflito entre os mais diversos usuários do recurso hídrico, bem como sua gestão, uso, manejo, de modo que através da análise da sua apropriação possa-se entender suas implicações sociais e ambientais. Com o estudo de caso, visou-se compreender os conflitos gerados a partir dos múltiplos usos da água no baixo curso do Rio Curu, enfocando o município de Paraipaba, objetivando verificar como ocorrer à manutenção da qualidade da água, observando seus principais usos e analisando suas possíveisimplicações. Abordaram-se os principais usos consuntivos e não consuntivos da água, bem como suas implicações. Analisou-se a bacia hidrográfica como unidade de gestão e a necessidade de manejo e gerenciamento dos recursos hídricos, bem como as políticas voltadas a este. No estudo de caso atentou-se para os usos da água no município de Paraipaba analisando as atividades desenvolvidas através de dados de saneamento ambiental, agropecuários e das principais atividades industriais, percebendo-se a partir desse contexto a necessidade de consumo de água e o que ocorre se o tratamento não é adequado. 17 Capítulo 1 - REFERENCIAL TEÓRICO CONCEITUAL 1.1 Tipos de uso da água A quantidade e os constituintes da água de um determinado local do globo depende das características climáticas, da natureza do solo e do nível de poluição ao qual está submetida (SETTI, 2001). A qualidade da água durante o ciclo hidrológico passa por alterações que ocorrem por influência de fatores não pertencente ao seu ciclo, fatores estes como a necessidade de abastecimento urbano, industrial e agrícola. A água passou a ser considerada recurso hídrico devido as suas características de quantidade limitada para o consumo humano, de vulnerabilidade e de essencialidade para a manutenção da vida, bem como devido aos fatores históricos de seu uso que demandaram o desenvolvimento de políticas para garantir a manutenção de sua qualidade e quantidade. O termo água diferencia-se do vocábulo recurso hídrico devido o primeiro ser definido como o elemento natural descomprometido com qualquer uso ou utilização, sendo que o segundo define a água como bem econômico passível de ser utilizada para fins utilitários (POMPEU, 2006). A Agência Nacional de Águas – ANA, ―considera uso do recurso hídrico qualquer atividade humana que, de qualquer modo, altere as condições naturais das águas superficiais ou subterrâneas‖ (BRASIL, 2011). A água apresenta utilidades múltiplas, sendo destacado o uso na indústria, irrigação e residencial que demandam maior quantidade de água, no entanto se dão em volumes individuais diferenciados. No Brasil o uso da água para a produção energética constitui-se em uma grande demanda uma vez que este corresponde ao principal meio para o abastecimento de energia elétrica a população. Pode ser utilizada para a navegação em alguns rios do país, em atividades turísticas, recreação, bem como em atividades de produção de alimentos, (a aquicultura, a psicultura, a carcinicultura). A carcinicultura que passou a ser difundida com maior força no litoral brasileiro em um período aproximado de 10 anos. Os recursos hídricos são utilizados ainda para a assimilação e condução de esgoto o que vem acarretando uma sobrecarga destes acima da sua capacidade, 18 ocasionado pela falta de tratamento adequado dos efluentes líquidos, principalmente industriais. A degradação desse recurso hídrico acarreta diversos malefícios ao meio ambiente e a população, pois a falta de água potável traz problemas à saúde, poluição, conflitos entre os usuários que a utilizam de forma diferenciada, dentre outros problemas que ocorrem direta e indiretamente. Os usos da água são definidos a partir da engenharia empregada para gerar seus múltiplos usos. Seus tipos e formas estão associados se a água é retirada em sua forma bruta, ou seja, se esta não passou por processo de tratamento para atingir determinado nível de potabilidade, a forma que ocorrem os impactos gerados ao corpo hídrico e como esta volta ao ciclo de origem tanto quantitativa como qualitativamente. Os tipos de uso da água dependem da ocorrência da derivação ou não desta. Quando a água é derivada ela é incorporada aos seres que dela se utilizam, aos bens produzidos ou é retirada de seu local de origem para abastecer outro local, alterando assim a quantidade de água disponível. Contrário ao que se propaga na mídia, o volume de água no planeta é constante, tendo sua parcela renovável de água doce em 40.000 km² ao ano, a escassez que se observa ocorre devido às variações climáticas, a concentração populacional, as atividades econômicas, o aumento pela demanda de água, a poluição dos mananciais, a alteração do escoamento superficial e da alimentação dos aquíferos subterrâneos, dentre outros fatores (PEREIRA, 2004). A escassez de recursos hídricos pode ser atribuída principalmente à falta de quantidade de água potável suficiente em determinados locais do globo, a poluição dos recursos hídricos ocasionada pelo excesso de poluentes acima dos padrões toleráveis ao consumo e a falta de políticas que reduzam as desigualdades no acesso a água potável. O abastecimento urbano demanda o tratamento dos efluentes gerados nas atividades residuais, sendo que a destinação final dos resíduos comumente corresponde a um corpo hídrico, estes por sua vez possuem capacidade de 19 assimilar efluentes líquidos e detritos mediante a realização de processos físicos, químicos e biológicos de forma a manter sua qualidade satisfatória, no entanto a capacidade de assimilação dos corpos hídricos é limitada, relacionando-se diretamente com a quantidade e qualidade do recurso hídrico receptor e ao tipo e quantidade de resíduos e efluentes que serão agregados a este. No geral, as águas subterrâneas são mais afetadas que as águas superficiais, pois embora mais protegidas dos poluentes, possuem uma menor capacidade de recuperação, ocorrendo sua regeneração de modo gradativo (SETTI, 1994). A deposição de resíduos e efluentes nos corpos hídricos sem prévio tratamento ou sem considerar a sua capacidade de assimilação pode acarretar o comprometimento da qualidade da água de tal forma que esta possa ficar inutilizada para seus múltiplos usos, além de acarretar graves problemas aos seres que a consumirem sem que ocorra tratamento adequado para deixá-la em níveis aceitáveis ao consumo, acarretando assim doenças nos seres humanos e impactos na vida da fauna e da flora. Os impactos acarretados pelos diversos usos da água são tratados por BORSOI e TORRES ao relatarem as alterações ocorridas na qualidade e disponibilidade da água de acordo com os seus usos: ―Quanto aos efeitos das atividades humanas sobre as águas, boa parte é poluidora: o abastecimento urbano e industrial provoca poluição orgânica e bacteriológica, despeja substâncias tóxicas e eleva a temperatura do corpo d'água; a irrigação carreia agrotóxicos e fertilizantes; a navegação lança óleos e combustíveis; o lançamento de esgotos provoca poluição orgânica, física, química e bacteriológica. A geração de energia elétrica, por sua vez, não é poluidora, mas provoca alteração no regime e na qualidade das águas. A construção de grandes represas, com inundação de áreas com vegetação abundante, não apenas compromete bastante a qualidade da água, como pode repercutir em todo o meio ambiente em torno.‖ (Borsoi e Torres, 1997, p. 02). É necessário que haja monitoramento e controle do Estado e da população em relação ao uso da água, para que assim se possa garantir o atendimento necessário à demanda. 20 Medidas de segurança para assegurar reserva hídrica que possa atender a demanda de seus usos, configuram-se no controle dos regimes de cheia e formas de convivência com a seca, estas buscam mitigar os efeitos negativos que podem ocorrer em decorrência de eventos extremos, que causam prejuízos sociais e econômicos. Além do controle da quantidade de água, é preciso manter a sua qualidade, de forma que haja manejo adequado dos efluentes líquidos e detritos incorporados aos corpos hídricos, pois se não observada à capacidade de assimilação do recurso hídrico, pode ocorrer assoreamento e poluição das águas disponíveis, bem como erosão do solo. 1.2 Usos Consuntivos e não consuntivos Os usos dos recursos hídricos são subdivididosem usos consuntivos e não consuntivos. Os consuntivos são aqueles em que há a perda entre a água que é derivada e a que retorna ao corpo hídrico e os usos não consuntivos aqueles em que não apresentam perda por derivação, no entanto podem alterar o regime do curso do corpo hídrico (SETTI, 1994). Uso Consuntivo As atividades principais que demandam o uso consuntivo da água são o abastecimento humano, a dessedentação animal, a utilização na indústria e na irrigação. O uso urbano possui um consumo de 9% da água total no Brasil, o consumo rural equivale a 1%, a dessedentação animal possui consumo de 11%, a utilização na indústria compreende a 7% e a irrigação demanda 72% do gasto total da água no Brasil (BRASIL, 2012). Em análise a vazão retirada percebe-se que há uma diferença entre o volume retirado e o consumido, o que ocorre devido à perda de água por derivação. 21 FIGURA 01: Volume de retirada e de consumo das demandas consuntivas no Brasil Fonte: Agência Nacional de Águas – ANA, 2012. Os usos urbanos são definidos como aqueles que atendem a demanda de água dos diferentes núcleos urbanos com a finalidade de abastecimento doméstico industrial, comercial, público e de demais atividades que se agregam por interligar- se a malha urbana (SETTI, 2001). Os dados referentes à análise do abastecimento urbano de água são baseados na existência de uma rede de distribuição de água, o que não necessariamente significa que há oferta hídrica, bem como a existência de condições operacionais para que ocorra o abastecimento (BRASIL, 2011). O abastecimento de água as populações restringe-se devido à falta de implantação de estrutura operacional, bem como à falta de políticas públicas para garantir o acesso à água, no entanto tem-se observado aumento na demanda doméstica, o que se pode atribuir ao crescimento da população e da urbanização, bem como pela elevação da renda per capita. Assim a variação do consumo depende além dos fatores supracitados, de condições operacionais para o atendimento da demanda de água e tratamento de esgotos. A irrigação é responsável pela parcela maior de derivação de água no Brasil, com 54% da água, bem como apresenta o maior consumo deste recurso. No setor agropecuário o principal uso da água consiste na irrigação, demandando uma grande quantidade de água e acarretando uma perda consuntiva exorbitante, de forma que esta varia conforme as características de clima, relevo e disponibilidade 22 hídrica local (GAMA, 2009). Nas regiões Nordeste e Centro-Oeste há perspectivas de expansão da irrigação devido às estações secas apresentarem-se acentuadas. Existe aporte tecnológico para utilização na irrigação que demandem uma menor perda de água, no entanto são utilizadas técnicas que necessitam de maior consumo, gerando um mau aproveitamento do recurso água. O agronegócio causa prejuízos aos solos devido ao uso de fertilizantes e agrotóxicos, sendo que estes podem levar resíduos e efluentes para as águas superficiais e subterrâneas acarretando a poluição dos corpos hídricos, bem como o processo de irrigação pode causar a salinização do solo. Por sua vez, na indústria existe uma maior utilização de água, sendo esta utilizada para diversos fins, destacando-se: atividades que necessitam de arrefecimento nos processos em que há geração de calor ou simplesmente a sua utilização para propósitos sanitários. Embora, a indústria possua uma utilização crescente da água e um papel significativo na deposição de efluentes gerados nos recursos hídricos causando impacto na qualidade da água, ainda há poucos estudos e dados sobre a importância da água para utilização nas indústrias e os impactos que são gerados a partir dessas atividades (MOTTA, 2006). No Brasil abastecimento humano (urbano e rural), possui uma cobertura satisfatória em relação ao abastecimento de água, no entanto o tratamento e a coleta de esgotos estatisticamente possuem níveis muitos inferiores ao ideal. De acordo com dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento – SNIS os respectivos índices de atendimento para o abastecimento de água, coleta e tratamentos de esgotos do Brasil é de 94,7%, 50,6% e 34,6% referentes ao ano de 2008 (BRASIL, 2011). Uso não consuntivo Os usos que atendem a demanda não consuntiva constituem-se na utilização para navegação, psicultura, recreação, mineração, controle de cheias e para produção de energia através de hidroelétricas. Destaca-se em relação à demanda, a utilização para a produção de energia, a navegação e a recreação. 23 O Brasil situa-se entre os cinco países com maior potencial hidráulico instalado, sendo que a energia hidrelétrica responde por cerca de 91% do total de produção da matriz energética existente no país, possuindo um potencial hidrelétrico de 260 GW (BRASIL, 2005). A produção de energia elétrica nas hidroelétricas garante cerca de 95% do consumo de energia no Brasil, dessa forma o país torna-se dependente desse sistema de produção de energia, dependência esta que ocorreu devido a instalação de grande potencial hidráulico em quase todo o século XX e ocasionada devido a disponibilidade de água superficial satisfatória e ausência de combustíveis fósseis para instalação de outras matrizes energéticas, bem como pela não atenção do governo a buscar outras fontes visando o abastecimento de energia elétrica. Recentemente os investimentos particulares no setor de produção de energia e uma maior disponibilidade de combustíveis fósseis internacionais ou nacionais, aliado as reformas ocorridas no setor institucional e setorial vêm buscando diversificar a matriz energética brasileira, possuindo como principal investimento a produção de energia térmica a base de gás natural (BRASIL, 2002). Nas termoelétricas é necessário à utilização de grandes quantidades de água para aquecer as turbinas, etapa necessária ao seu funcionamento. O vapor é passado por um processo de resfriamento, no qual pode utilizar-se de recursos hídricos como as águas do mar, de rios ou de outros cursos naturais afetando a qualidade da água, uma vez que acarreta o aquecimento e a diminuição do oxigênio nos cursos de água. Há a possibilidade de armazenamento de água em torres para utilização no processo de resfriamento, no entanto o vapor liberado pode ocasionar mudanças no regime de chuvas. Tais usinas acarretam problemas graves devido à queima de combustível fóssil, contribuindo para o efeito estufa e a ocorrência de chuvas ácidas. A atividade de aquicultura necessita de grandes volumes de água para utilização em sua produção, sendo que esta atividade embora tratada como não havendo o consumo de água, pode alterar a quantidade e qualidade de água disponível. 24 O turismo, parcela do lazer e da recreação das populações, é dividido em três setores quando relacionado aos recursos hídricos, sendo estes: O turismo e lazer no litoral brasileiro, com cerca de 8.000km de costa, o turismo ecológico e a pesca em alguns biomas, como o Pantanal e a Floresta Amazônica, e o turismo e o lazer nos lagos e reservatórios interiores, (MMA, 2003). 1.3 A Bacia Hidrográfica Como Unidade de Gestão GUERRA, 2008 define Bacia Hidrográfica como sendo o conjunto de terras drenadas por um rio principal e seus Afluentes, na mesma perspectiva YASSUDA, 1993, define ―Bacia Hidrográfica como o palco unitário de interação das águas com o meio físico, o meio biótico e o meio social, econômico e cultural‖. Para NELSON, et. al., 1976 bacia hidrográfica, ou bacia de contribuição de uma seção de um curso d’água é a área geográfica coletora de água da chuva que, escoando pela superfície do solo, atinge a seção considerada. PORTO, PORTO, 2008, considera Bacia Hidrográfica como ente sistêmico, definindo-a como: ―A bacia hidrográfica pode ser então considerada um ente sistêmico. É ondese realizam os balanços de entrada proveniente da chuva e saída de água através do exutório, permitindo que sejam delineadas bacias e sub-bacias, cuja interconexão se dá pelos sistemas hídricos.‖ (PORTO, PORTO, 2008,p. 45). Entendendo-se a definição de Bacia Hidrográfica e compreendendo que em sua dinâmica ocorrem os processos do ciclo hidrológico e que na sua área de influência ocorre a ocupação e uso do território observou-se que esta se constitui na melhor unidade de gestão dos recursos hídricos. RODRIGUÉZ, SILVA, LEAL, 2011 destacam a conceituação de bacia hidrográfica e a dinâmica que a torna unidade preferencial para a gestão dos recursos hídricos: ―A análise da bacia, a partir de uma perspectiva sistêmica, sustentável e complexa, é válida porque, no caso dos recursos hídricos, a tarefa consiste em compreender e considerar as relações do arranjo espaço-temporal do papel da água como um recurso indispensável no funcionamento da biosfera, mas surgida e limitada dentro do complexo da geoesfera ou esfera geográfica. Isso é devido ao fato desses nexos e relações dependerem das interações espaciais entre a distribuição da água, o clima, a geologia e o relevo, formando todos, de maneira articulada, uma totalidade ambiental, 25 que constitui o espaço e a paisagem natural.‖ (RODRIGUÉZ, SILVA, LEAL, 2011, p. 31). Para compreender as relações estabelecidas através da política de gestão da Bacia Hidrográfica é necessário perceber que a parcela relativamente estável de água doce existente para consumo da humanidade, disponibilizada através de tecnologias, com custos acessíveis para atender as demandas dos seus múltiplos usos é denominada recursos hídricos (JÚNIOR, 2004). Os recursos hídricos como parte do meio natural são facilmente afetados em qualidade e/ou em quantidade, devido às alterações ocasionadas em sua dinâmica, através de modificações em seu regime ou por redução de seus canais de drenagem. Analisando a bacia em uma perspectiva que englobe a manutenção da qualidade do meio ambiente e sua condição de ente sistêmico é necessário considerar as intervenções antrópicas associadas aos valores econômicos, culturais e ambientais, assim como ao seu ciclo natural, observando sua distribuição no globo terrestre, pois tais fatores influenciam na sua forma de manejo, distribuição, bem como na forma de renovação e economia da água, estando associados à problemática de obtenção e distribuição deste recurso. Assim é necessário considerar os vínculos físicos e sociais distribuídos espacialmente na unidade Bacia Hidrográfica, buscando mensurar os usos e impactos gerados ao corpo hídrico (RODRIGUÉZ, SILVA, LEAL, 2011). Determinou-se assim através do Plano Nacional de Gerenciamento dos Recursos Hídricos – PNGH a bacia hidrográfica como unidade para a gestão dos recursos hídricos, essa unidade é descrita e conceituada por inúmeros autores. É necessário salientar que embora o processo de planejamento e gestão possua como unidade básica de gestão a Bacia Hidrográfica, é preciso considerar a divisão político-administrativa do município, pois neste ocorre uma interação social mais próxima, sendo de fundamental importância para a compreensão do espaço e das relações da sociedade, é a partir deste que se estabelecem as relações de poder, assim faz-se necessário a sua compreensão para que a gestão ocorra de 26 forma satisfatória e o gerenciamento atenda aos múltiplos usos, de forma a minimizar os conflitos gerados em torno dos recursos hídricos. A dificuldade de se trabalhar com o recorte Bacia Hidrográfica ocorre devido à necessidade de haver uma gestão compartilhada entre órgãos e setores, pois o recorte Bacia Hidrográfica ultrapassa limites municipais, bem como não acompanha os limites administrativos aos quais os diversos setores competentes ao seu gerenciamento obedecem. O Plano Nacional dos Recursos hídricos - PNRH adota a Divisão Hidrográfica Nacional – DHN como base físico-Territorial para seu planejamento e gestão das bacias hidrográficas, dividindo assim o território nacional em 12 regiões hidrográficas, sendo estas: Amazônica, Tocantins Araguaia, Atlântico Nordeste Ocidental, Parnaíba, Atlântico Nordeste Oriental, São Francisco, Atlântico Leste, Paraguai, Paraná, Atlântico Sudeste, Uruguai e Atlântico Sul, sendo sua divisão atribuída às condições de proximidade e a semelhança ambiental, social e econômica. A região hidrográfica do Atlântico Nordeste Oriental abrange uma extensão de 286.802km², equivalendo a 3,3% do território nacional, nessa região hidrográfica se observa significativa degradação da caatinga devido à ação antrópica, pois ocorreu devastação dessa vegetação devido à atividade pecuária (BRASIL, 2013). É formada por um conjunto de drenagens modestas se dirigindo ao Oceano Atlântico, possuindo alimentação deficiente devido ao período chuvoso concentrado em alguns meses do ano, a grande evapotranspiração e aos rios se configurarem em intermitentes e sazonais. O regime de chuvas anual altera-se à medida que o curso do rio aproxima-se do litoral, em regime de cheia nas estações inverno ou outono e em regime de vazante nas estações de primavera ou verão (GUERRA, 2008). A Bacia do Rio Curu está localizada no centro-norte do Estado do Ceará, situando-se na região hidrográfica do Atlântico Nordeste Oriental, tendo como bacias limites a metropolitana a leste, Acaraú e Litoral a oeste e a sub-bacia do Banabuiú a Sul, na qual é integrante do sistema do Jaguaribe. 27 Possui como principal Afluente o rio Canindé, que está localizado a sua margem direita, drenando praticamente todo o sudeste da bacia. O rio Curu possui uma extensão de 195 km, possuindo como principal sentido o sudoeste noroeste, drenando uma área de 8.750,75 Km², o que significa 6% do território cearense. O rio Curu é o principal coletor da Bacia, nascendo na região formada pelas Serras do Céu, da Imburana e do Lucas. Drena os municípios de Apuiarés, Caridade, General Sampaio, Itapajé, Itatira, Paramoti, São Luís do Curu, Tejuçuoca e, parcialmente Aratuba (16,60%), Canindé (79,90%), Guaramiranga (17,76%), Irauçuba (28,77%), Maranguape (5,97%), Mulungu (34,96%), Palmácia (5,34%), Pacoti (4,95%), Paracuru (82,20%), Paraipaba (78,25%), Pentecoste (70,97%), São Gonçalo do Amarante (35,54%), Tururu (27,29%) e Umirim (90,36%), (CEARÁ, 2009). No baixo curso do Rio Curu, que compreende a área próxima ao litoral, compõem-se de terrenos da Formação Barreiras, dos Depósitos Quaternários dos aluviões e dos sedimentos de praias. Nessa parte da bacia o padrão de drenagem é do tipo paralelo e apresenta um caráter de junção de seus afluentes quanto mais próximo se encontra da planície litorânea (CEARÁ, 2009). A bacia Hidrográfica do Rio Curu caracteriza-se por possuir uma distribuição irregular tanto espacial quanto temporalmente, com maior pluviometria nos municípios próximos ao litoral, sendo esta mais acentuada em seu baixo curso, no entanto toda a bacia encontra-se sujeita a regime irregular pluviométrico característico do semiárido, apresentando balanço hídrico deficiente quase o ano inteiro (CEARÁ, 2009). A vegetação predominante na referida bacia constitui-se no Complexo Vegetacional da Zona Litorânea ao norte, e na Caatinga Arbustiva Densa no centro e sudeste da bacia, além da Mata Seca a sudoeste (Serra do Machado), e da Mata Ciliar que margeia o leito do baixo curso do rio Curu, conforme observado no Caderno Regional da Bacia do Rio Curu tal leito se encontra bastante degradado. 28 SOUZA, SANTOS, OLIVEIRA, 2012, expõem a descaracterização da vegetação, ocorrida devido à utilização contínua e intensa exploração ocorrida na bacia do Curu. A bacia do Curu apresenta um alto índice de açudagem possuindo 818 reservatórios (COGERH, 2008 apud CEARÁ 2009), destes, 229 apresentam área superior a 5 ha(FUNCEME, 2008 apud CEARÁ 2009). Os açudes Gal. Sampaio e Pentecoste são responsáveis por quase 70% do volume de acumulação da bacia. Esta bacia apresenta dois sistemas subterrâneos os porosos e aluviais, e os fissurais, no qual o primeiro se constitui no sistema mais importante, por apresentar porosidade primária e estar em terrenos arenosos, este é encontrado no baixo curso do Rio. Os fissurais têm como característica o armazenamento de água em suas fraturas, estando em área de solo do embasamento cristalino, ocorrendo o preenchimento de tais fraturas apenas nos períodos chuvosos, fazendo com que este seja um sistema de baixo potencial de armazenamento de água subterrânea (CEARÁ, 2009). A unidade Bacia Hidrográfica como instrumento de planejamento possui importância ímpar para compreender os usos da água enquanto recurso hídrico e suas implicações, bem como analisá-la permite compreender a necessidade de desenvolvimento de políticas voltadas à manutenção da quantidade e qualidade da água, sendo tais políticas corroboram para a diminuição dos conflitos gerados em torno dos recursos hídricos. O presente trabalho aborda o caso de Paraipaba, município situado no baixo curso do Rio Curu e pertencente à Bacia Hidrográfica do mesmo. O mapa abaixo apresenta a hidrologia superficial da referida área de estudo. 29 MAPA 01 – Hidrologia Superficial do Município de Paraipaba 30 1.4 Gestão dos Recursos Hídricos Estima-se que o volume de água existente no planeta corresponde a 1386 milhões de km², destes 97,5% é de água salgada proveniente dos oceanos e somente 2,5% de água doce, sendo que em torno de 68,7% encontra-se nas calotas polares e geleiras. A água presente em lagos e rios é a que apresenta maior facilidade de acesso para a disponibilização ao consumo humano, correspondendo a 0,27% da água doce existente na Terra e 0,007% do volume total existente no planeta (LIMA, 2001). Devido à facilidade de utilização do recurso água encontrada na superfície e da vulnerabilidade dos sistemas ambientais, no qual a água está inserida, houve uma degradação de tais sistemas, causando poluição de águas superficiais e subterrâneas, principalmente devido aos prejuízos causados a esse sistema no final do século XX, assim devido ao seu uso indiscriminado no período, fez-se necessário buscar desenvolver políticas para a gestão ambiental. LANNA (1995) define gestão ambiental como sendo: ―o processo de articulação das ações dos diferentes agentes sociais que interagem em um dado espaço, visando garantir, com base em princípios e diretrizes previamente acordados/definidos, a adequação dos meios de exploração dos recursos ambientais/naturais, econômicos e socioculturais às especificidades do meio ambiente‖ (LANNA, 1995, 171 p). Com base na definição de gestão ambiental apontada por LANNA (1995) e na classificação de SILVA (2004) atribui-se que os componentes da gestão ambiental configuram-se conforme Quadro 01. Quadro 01 – Componentes da Gestão Ambiental Fator Forma de Atuação Modelo de Abordagem Política Ambiental Instrumentos legais que oferecem um conjunto consistente de princípios e diretrizes que visam atender os atores sociais através do controle, uso, proteção e conservação do meio ambiente. Comando/Controle, abordando leis normas e regulamentos. 31 Planejamento Ambiental Processo organizado para levantamento de informações, reflexão dos problemas e potencialidade de um território buscando assim estabelecer metas, objetivos, estratégias de ação, projetos e atividades. Uso de instrumentos econômicos, propõe a regulação do uso, controle e conservação dos recursos naturais através de taxas, tarifas e incentivos. Gerenciamento Ambiental Conjunto de organismos e instituições estabelecidos com o objetivo de executar a política ambiental através do modelo de gerenciamento ambiental adotado e tendo por instrumento o planejamento ambiental. Autorregulação, propõe que as questões relativas ao controle, uso e conservação dos recursos naturais sejam regulados no âmbito de funcionamento de mercado. Fonte: Adaptado de SILVA, 2004. No Brasil, as primeiras políticas de gestão dos recursos hídricos de maior relevância, visando à manutenção da quantidade e qualidade dos recursos hídricos, surgiram com a criação da Diretoria de Águas do Ministério da Agricultura, em 1933, e a edição do Código das Águas, em 1934 (ROCHA, 2011), este último criado através do Decreto nº 24.643, continua em vigência nos dias atuais em seu texto que não fere a Constituição Federal – CF de 1988. Nesse contexto surge a ideia de desenvolvimento sustentável, bem como vem a se fazer necessário o uso racional da água e a criação de políticas para a gestão dos recursos hídricos. A gestão dos recursos hídricos para que seja satisfatória faz-se necessário o conhecimento do potencial existente na área, considerando a disponibilidade da água enquanto recurso superficial e subterrâneo, bem como a elaboração de planejamento da expansão, uso e ocupação do território, buscando evitar assim alterações predatórias e suas implicações (RUHOFF, PEREIRA, 2004). 32 Buscando o desenvolvimento sustentável e preservação do meio ambiente em 31 de agosto de 1981 criou-se a lei Nº 6.938, que institui a Política Nacional do Meio Ambiente - PNMA possuindo como objetivos principais a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida. Houve ainda a criação em 08 de janeiro de 1997 a lei Nº 9.433, voltada especificamente aos recursos hídricos, que institui a Política Nacional dos Recursos Hídricos - PNRH na qual se baseia nos fundamentos da água como bem de domínio público, que esta é um recurso natural limitado e dotado de valor econômico, sendo que quando esta encontrar-se escassa, o seu uso será prioritário para o consumo humano e para dessedentação animal e que a unidade para a sua gestão configura- se na bacia hidrográfica e sua gestão deve ser descentralizada e contar com o poder público, os usuários e as comunidades locais. Essa gestão ocorre através do Sistema Nacional de Gerenciamento dos Recursos Hídricos - SINGERH, do qual objetiva que façam parte os seguintes órgãos: O Conselho Nacional de Recursos Hídricos - CNRH, a ANA, os conselhos de recursos hídricos dos Estados e do Distrito Federal, os Comitês de Bacias Hidrográficas - CBH, os órgãos dos poderes públicos Federal, Estadual, do Distrito Federal e Municipal cujas competências se relacionem com a gestão de recursos hídricos e as agências de água. A PNRH estabelece definições de como a gestão deve ocorrer, bem como os órgãos a quem compete gerir os recursos hídricos, no entanto as políticas locais para geri-los e as formas de planejamento ficam sob a responsabilidade dos Comitês de Bacias Hidrográficas. Esse órgão possui a função de discutir questões relacionadas às políticas voltadas aos recursos hídricos, bem como estabelecer formas de proteção e sustentabilidade. A coordenação dos recursos hídricos no âmbito federal divide-se entre os órgãos Secretária de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano – SRHU, órgão subordinado ao Ministério do Meio Ambiente – MMA e ANA. Sendo de competência da SRHU a implementação da política nacional dos recursos hídricos propor normas, definir estratégias, implementar programas e projetos relacionados as seguintes abordagens conforme estabelecido no decreto 6.101 de 26 de Abril de 2007. ―a) a gestão integrada do uso múltiplo sustentável dos recursos hídricos; 33 b) a gestão de águas transfronteiriças; c) a gestão de recursos hídricos em fóruns internacionais; d) a implantação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos; e) o saneamento e revitalização de bacias hidrográficas; f) a política ambiental urbana;g) a gestão ambiental urbana; h) o desenvolvimento e aperfeiçoamento de instrumentos locais e regionais de planejamento e gestão que incorporem a variável ambiental; i) a avaliação e a mitigação de vulnerabilidades e fragilidades ambientais em áreas urbanas; j) o controle e mitigação da poluição em áreas urbanas; e l) a gestão integrada de resíduos sólidos urbanos;‖ A ANA, criada através da lei 9.984 de 17 de Julho de 2000, subordinada ao Ministério do Meio Ambiente – MMA, possui a finalidade de implementação do PNRH dentro de suas competências, as quais estão estabelecidas a fiscalização e a supervisão, bem como a concessão do direito de outorga dos recursos hídricos sob domínio da União. Há na área de influência da Bacia do rio Curu órgãos federais com atuação regional, como por exemplo o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas - DNOCS e a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste – SUDENE os quais possuem relação com o uso múltiplo da água e atuam articulando políticas públicas nacionais e regionais. No âmbito estadual a gestão dos recursos hídricos no Ceará é regida pela Lei Nº 11.996, de 24 de julho de 1992 (Política Estadual dos Recursos Hídricos - PERH) sendo objetivos desta: compatibilizar a ação humana, em qualquer de suas manifestações, com a dinâmica do ciclo hidrológico, assegurar que a água possa ser controlada e utilizada de maneira satisfatória em qualidade e quantidade, e planejar e gerenciar, de forma integrada, descentralizada e participativa, o uso múltiplo, controle, conservação, proteção e preservação dos recursos hídricos. A PERH instituiu a criação do Comitê da Bacia Hidrográfica - CBH do Rio Curu e estabeleceu a Criação dos demais CBH no território estadual. A Secretária Estadual dos Recursos Hídricos - SRH, criada através da lei Nº 11.306 de 01 de Abril de 1987, é um dos principais órgãos que representou a 34 evolução das políticas de recursos hídricos no Estado do Ceará. Fazem parte como órgãos colegiados dos recursos hídricos no Estado do Ceará o Conselho de Recursos Hídricos do Ceará - CONERH, o Comitê Estadual dos Recursos Hídricos - COMIRH, a SRH como órgão gestor, o Fundo Estadual dos Recursos Hídricos - FUNORH e o CBH. A operacionalização da PERH no Ceará está a cargo das instituições vinculadas ao órgão gestor do Estado a SRH, a Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos - COGERH, a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos - FUNCEME e a Superintendência de Obras Hidraúlicas - SOHIDRA. A COGERH, criada através da lei N° 12.217 de 18 de novembro de 1993, é um instrumento de gestão do estado do Ceará que visa gerenciar a oferta dos recursos hídricos superficiais e subterrâneos. O Estado do Ceará possui 11 regiões hidrográficas, todas consideradas como básicas para o gerenciamento, possuem as seguintes denominações: Bacia do Coreaú, Bacia do Poti-Longá, Bacia do Acaraú, Bacia do Litoral, Bacia do Curu, Bacias Metropolitanas, Bacia do Baixo Jaguaribe, Bacia do Médio Jaguaribe, Bacia do Alto Jaguaribe, Bacia do Banabuiú e Bacia do Salgado. A COGERH é a responsável pelo gerenciamento das políticas de gestão dos recursos hídricos no âmbito do Estado e da União por delegação. Dentre as ações de responsabilidade da COGERH, há a busca de promover a participação da sociedade e a instalação de CBH. Na formação e estruturação dos CBH a COGERH atua na gestão participativa através da mobilização, da organização, da capacitação, da estruturação, do apoio logístico, do apoio administrativo, do compartilhamento de ações e de decisões apoiando-se na solução de conflitos. O CBH da Bacia do Rio Curu foi estabelecido através da lei N° 11.996 de 24 de Julho de 1992 (PERH) em seu Art. 48, no entanto este só foi efetivamente instalado em 1997, sendo o primeiro comitê instalado no Ceará, sua constituição é feita por 50 instituições membro (COGERH, 2013). O CBH do rio Curu teve importância significativa no processo de gestão dos recursos hídricos por haver sido o projeto piloto, servindo assim de modelo para a difusão de ações voltadas a segurança hídrica e a sustentabilidade dos recursos hídricos e para a implantação de outros comitês. 35 Capítulo 2 – PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS E MATERIAIS UTILIZADOS Para compreensão dos usos múltiplos da água no baixo curso do rio Curu realizou-se levantamento bibliográfico sobre o referido tema, buscando abordar os principais tópicos e elaborar a discussão em torno dos autores que o abordam. Baseou-se nas definições de Bacia Hidrográfica de Guerra e Yassuda, bem como na análise desta unidade, visando à compreensão dos usos da mesma. Utilizou-se para análise dos usos consultivos e não consultivos, bem como para compreensão das políticas públicas voltadas aos recursos hídricos as obras de TUCCI , SETTI e as publicações dos órgãos como ANA, COGERH. Para análise dos dados referentes aos municípios da Bacia e especificamente ao caso Paraipaba utilizou-se de dados do IBGE, IPECE e trabalhos de campo realizados no município. Assim, buscou-se as obras com o tema sobre Bacias Hidrográficas brasileiras e sua subdivisão, os tipos de uso da água e suas classificações e os principais impactos gerados pelas atividades que se utilizam do recurso hídrico. Realizou-se análise de variáveis importantes para a compreensão do contexto do saneamento básico dos Municípios do baixo curso do Rio Curu, com enfoque ao município de Paraipaba, dados que foram obtidos a partir do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE e do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará - IPECE, que possibilitaram apreender como a configuração espacial está dividida nos setores da economia que refletem a demanda de água existente nos municípios. Posteriormente, visando um estudo de caso de variáveis dos usos da água no município de Paraipaba foi realizada visita na Câmara Municipal do mesmo, com o intuito de obter as leis que dispõem sobre o meio ambiente e que estão relacionadas à distribuição e implantação de infraestrutura voltada ao saneamento básico. Realizou-se trabalho de campo na unidade da sede de tratamento de Água – ETA. Os dados referentes a Estação de Tratamento de Esgoto – ETE foram obtidos através de relatório técnico elaborado pela equipe do Núcleo de Apoio 36 Técnico – NAT da instituição Ministério Público. Em atividade de campo contatou-se a empresa responsável pela execução do servido de limpeza urbana, bem como para obtenção de dados agropecuários e industriais analisou-se dados disponíveis nos órgãos IPECE, IBGE e EMATERCE. Buscando-se assim a partir dos dados dos usos da água no município, bem como do seu tratamento e de como a água retorna ao corpo hídrico compreender a questão da qualidade e quantidade da água disponível para seus diversos usos no contexto do baixo curso do Rio Curu. Através da análise de material bibliográfico compreendeu-se a importância da unidade Bacia Hidrográfica e como esta se configura na melhor delimitação para gestão dos recursos hídricos, bem como os principais prejuízos que podem ocorrer se houver sobrecarga dos cursos d’água, assim como os danos que são acarretados ao meio ambiente. No Ceará a Bacia do Curu funcionou como projeto piloto para implantação de políticas voltadas à gestão dos recursos hídricos no Estado, nas quais serviram de modelo para introduzi-las em outros municípios do Ceará, assim para compreender sua dinâmica verificou-se as políticas desenvolvidas na mesma. No município de Paraipaba, o projeto irrigado Curu-Paraipaba, pioneiro no Estado, foi implantado através de ações do Governo Federal, por intermédio do DNOCS. Este é importante fator de análise para compreender como os usos da água foram desenvolvidos no município, que atualmente possui seu maior percentual de população na zona rural. Realizou-se uma análisegeral das diversas atividades desenvolvidas no município visando constatar se existe água suficiente, distribuição e tratamento adequado desta para atender a demanda. Em análise ao saneamento básico do baixo curso do rio Curu, com dados obtidos a partir de órgãos que os disponibilizam verificou-se em termos quantitativos se este é satisfatório para a manutenção da qualidade e quantidade da água dos corpos hídricos. Verificaram-se as variáveis relativas ao consumo de água e a sua disponibilização, bem como os atores envolvidos no processo de consumo, 37 distribuição e tratamento, com a finalidade de propor medidas mitigadoras para os possíveis conflitos gerados a partir das atividades que utilizam a água como recurso e para os impactos ocasionados ao meio ambiente pela falta de infraestrutura e uso inadequado dos recursos hídricos. Através do esquema a seguir, (Figura 02) observa-se as etapas de elaboração do presente estudo. FIGURA 02 – Processo de elaboração e construção da pesquisa Elaboração: Dados da pesquisa, 2014. Definição do recorte espacial: Baixo Curso do Rio Curu – Estudo de caso Análise de material cartográfico do recorte. Levantamento Bibliográfico Análise das políticas de saneamento e usos da água em Paraipaba Possíveis impactos e conflitos relativos ao uso da água: Estudo de caso Paraipaba Sugestões de medidas mitigadoras para os conflitos e impactos negativos dos múltiplos usos da água 38 Capítulo III - OS MÚLTIPLOS USOS DA ÁGUA NO BAIXO CURSO DO RIO CURU O baixo curso do Rio Curu é compreendido pelos municípios de Paraipaba e Paracuru, situando-se na Bacia Hidrográfica do Rio Curu, na porção Noroeste do Estado do Ceará. O presente trabalho foca-se no estudo de caso do município de Paraipaba, no qual analisou-se as políticas de Saneamento Básico que objetivam a manutenção da quantidade e qualidade da água para seus diversos usos, bem como os principais usos da água enquanto recurso hídrico e quais os potenciais impactos que estes podem ocasionar. No mapa disponível no Plano Diretor da Bacia Hidrográfica do Rio Curu, pode-se visualizar os principais usos do solo no contexto da bacia. Pode-se observar ao Norte da Bacia, o baixo curso da mesma predominando a Agricultura e nas áreas próximas ao Rio Curu o agroextrativismo como usos preponderantes. Figura 03 – Usos do solo na Bacia Hidrográfica do Rio Curu Fonte: COGERH, 2014 39 3.1 Caracterização da Área de Estudo O município de Paraipaba foi protagonista de diversos projetos realizados no Estado do Ceará, os quais objetivaram instrumentalizar a gestão dos recursos hídricos, dentre estes projetos encontra-se a implantação do sistema de perímetro irrigado em 1975 e a criação de CBH em 1997. O município de Paraipaba está localizado no Litoral Oeste, a 3° 26’ 22’’ de Latitude sul e longitude 39° 08’ 54’’ a oeste de Greenwich, limitando-se ao Norte com o Oceano Atlântico e o município de Trairi, a Sul com os municípios de Paracuru e São Gonçalo do Amarante, a leste com o município de Paracuru, no qual o rio caracteriza-se como limite entre os municípios e o Oceano Atlântico e a oeste com o município de Trairi (MAPA 02). 40 MAPA 02 - Localização do Município de Paraipaba 41 O município encontra-se inserido na área de coberturas sedimentares cenozoicas, possuindo clima Tropical Quente Semi-árido Brando, com uma pluviosidade média de 1.238 mm, com temperatura média entre 26º e 28° segundo dados do IPECE (2012). O relevo da área é composto por Planície Litorânea e Glacis Pré-litorâneos Dissecados em Interflúvios Tabulares, seus solos compreendem aos Solos Aluviais, Areias Quartzosas Marinhas, Latossolo Vermelho- Amarelo, Podzólico Vermelho-Amarelo e Solonchak, possuindo como vegetação característica o Complexo Vegetacional da Zona Litorânea. O município possui 78,25% de seu território drenado pela Bacia do Curu, o restante da drenagem provém da bacia do Litoral que possui o rio Aracatiaçu como seu principal coletor. O município conta com dois domínios hidrogeológicos sendo eles os sedimentos da formação barreiras e os depósitos aluvionares. A formação barreiras possui variação de permeabilidade de acordo com o contexto do local, interferindo assim na produção de água subterrânea. Em Paraipaba devido à espessura e a litologia, os sedimentos apresentam boa potencialidade para a produção de água subterrânea. Os depósitos areno-argilosos recentes ocorrem margeando as calhas dos principais rios da região representando boa potencialidade o que ocorre por possuir alta permeabilidade e devido a este fato apresentando boa vazão, embora apresentem espessura rasa (Vieira; Feitosa; Benvenuti, 1998). Em língua Guaraní o nome do município Paraipaba se traduz em ―o lugar onde as águas pluviais se confundem com as águas das marés‖, o que faz implicitamente relação ao estuário do Rio Curu encontrar-se na região. Paraipaba até 1985 não existia enquanto ente federativo, sendo parte integrante do município de Paracuru, bem como anteriormente pertencia ao município de São Gonçalo do Amarante, nesse período denominada Passagem do Tigre e posteriormente apenas Tigre. No ano supracitado passou a condição de município através da Lei Estadual Nº 11009/1985. Atualmente possui divisão administrativa em quatro distritos, estabelecida desde 1995, sendo estes Paraipaba (sede), Boa Vista, Camboas e Lagoinha. Segundo o Censo realizado pelo IBGE (2010), o município de Paraipaba possui uma população total de 30.041 pessoas, dividindo-se em 13.435 alocadas na 42 zona urbana em um percentual de urbanização de aproximadamente 45% e 16.606 pessoas alocadas na zona rural do município, apresentando percentual de aproximadamente 55%. Observa-se que embora a população urbana venha apresentando crescimento, duplicando em um período de 10 anos, no âmbito rural vê-se uma maior expressividade da população do campo em relação à urbana. O município conta com uma infraestrutura de serviços de saúde, em que possui 02 postos de saúde na sede do município de Paraipaba que realizam atendimento nos dias úteis da semana, 01 hospital localizado na sede para atendimentos emergenciais e postos localizados nos distritos situados nas comunidades de maior expressividade, oferecendo atendimento uma vez por semana. Em dados do IPECE Paraipaba conta com 0,95 médicos para cada 1000 habitantes, contando com 16 unidades de saúde ligadas ao Sistema Único de Saúde. A educação do município conta com projetos de capacitação de jovens para a inserção do mercado de trabalho, como pró-jovem e cursos profissionalizantes, conta ainda escola estadual profissionalizante. O município conta com 39 escolas divididas em 32 municipais, 05 particulares e 02 estaduais (IPECE, 2012). As escolas estaduais as quais dispõem de ensino médio pela modalidade de ensino público e estão localizadas na sede do município exigindo assim o deslocamento dos estudantes que residem nos distritos e localidades do município. Das escolas particulares apenas uma oferece o ensino médio, localizando-se também na sede municipal. Paracuru, município componente do baixo curso do rio Curu, era anteriormente pertencente ao município de Trairi passando por outras divisões até chegar a atual, foi criado através do Decreto de Lei Nº 73 de 1890, seu nome de origem Tupi significa Lagarto do Mar. 3.2 Usos da água e políticas de saneamento básico do município de Paraipaba Os recursos hídricos são constituídos por diversos componentes, assim sua análise deve ocorrer de forma a avaliar seus parâmetros químicos, físicos e 43 biológicos, parâmetros esses responsáveis por indicar a qualidade da água, sendo que o resultado obtidoaponta a relação entre os processos existentes ao longo da bacia hidrográfica. A qualidade da água indica o estado de conservação e intensidade de impacto ambiental ao qual o recurso hídrico está submetido, bem como o uso ao qual a água pode ser destinada, visto que cada uso demanda determinado índice de qualidade. Os usos da água dividem-se em classes e estão determinadas na Resolução CONAMA Nº 357, de 17 de março de 2005. Para avaliar as condições de qualidade de determinado recurso hídrico a água é analisada observando determinados critérios nos determiam o uso ao qual esta poderá ser destinada, bem como estabelece os índices de qualidade que envolve sua utilização. No baixo curso do Rio Curu, o saneamento básico, fator importante para a manutenção da qualidade das águas apresenta condições deficitárias, que ocorrem principalmente pela falta de políticas públicas que acompanhem o crescimento populacional e propicie integral atendimento do serviço à população. A pressão urbana sem a implantação de infraestrutura adequada acarreta impactos ambientais principalmente no solo e nos corpos hídricos devido ao lançamento de resíduos e efluentes sem tratamento. Através de dados do Censo 2010 observa-se que a população urbana no município de Paraipaba duplicou sua população residente na zona urbana em um período de 10 anos, na qual em 2000 compreendia a um total na zona urbana de 5.677 habitantes e em 2010 a população passou a um contingente de pessoas de 13.435. Os setores da economia do município refletem de forma geral a demanda de água utilizada no município, assim em sua divisão observa-se quais os setores da economia local que demandam um percentual maior de utilização do recurso hídrico no âmbito municipal. O município de Paraipaba embora tenha um maior contingente populacional concentrado na zona rural do município, a agropecuária representa aproximadamente 19% do Produto Interno Bruto – PIB, demonstrando 44 que embora a agropecuária tenha papel significativo, não é principal setor econômico existente no município. O setor de maior expressividade em Paraipaba é o setor de serviços, representando aproximadamente 58% do PIB do município, em seguida com aproximadamente 23% encontra-se o setor industrial. Observa-se assim que em termos quantitativos a maior concentração de atividades que demanda o consumo de água nos municípios está no comércio, nos usos públicos, residenciais. No entanto cabe salientar que em termos territoriais, principalmente o município de Paraipaba, possui sua área ocupada por atividades agropecuárias, atividades estas que demandam grande utilização de água. Os municípios de Paraipaba e Paracuru apresentam respectivamente um percentual de domicílios com saneamento básico adequado no âmbito rural de 22,8 e de 13,3% e na área urbana essa taxa passa a ser respectivamente de 46,4% e 17,6%. Veem-se através da Tabela 02 alguns dados significativos relativos ao baixo curso da Bacia do Curu em que se pode analisar que há uma carência de implantação de infraestrutura de saneamento básico nos municípios. No entanto faz necessário analisar conjuntamente os dados fornecidos pelo IPECE para o ano de 2011, no qual apresenta para o município de Paraipaba uma taxa de cobertura urbana da rede de abastecimento de água de 99,11% e para o município de Paracuru de 97,60, bem como respectivamente para o sistema de esgotamento sanitário um percentual de 73,87% e 34,57%. Observa-se que os municípios possuem determinada cobertura para os serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário, porém o atendimento as populações não acompanham as taxas de cobertura, o que pode ser atribuído à falta de infraestrutura para maior disponibilização dos serviços. Ressalta-se ainda que os dados consideram para o abastecimento de água e para o esgotamento sanitário apenas os domicílios ligados a rede geral. 45 Tabela 01 - Principais características do saneamento básico dos municípios do baixo curso da bacia hidrográfica do Curu. Curso do rio Curu Municípios Área (km²) População total Domicílios na sede (n.º) Domicílios atendidos pela coleta de lixo Domicílios ligados à rede geral de abastecimento de água Domicílios ligados à rede geral de esgoto ou pluvial Domicílios sem banheiro ou sanitário n.º % n.º % n.º % n.º % BAIXO Paraipaba 300,922 30.041 13.435 4.417 32,8 4.463 33,2 1.741 12,9 534 3,9 Paracuru 300,296 31.636 20.589 6.650 32,2 3.637 17,6 1.121 5,4 397 1,9 Fonte: Censo demográfico IBGE (2010) Fonte: Adaptado de Gorayeb, 2006. 3.2.1 Abastecimento público Para o abastecimento público as variáveis analisados para verificar a qualidade da água constituem-se em 9 fatores, sendo estes: oxigênio dissolvido, coliformes fecais, pH, demanda bioquímica de oxigênio, nitrogênio total, fosfato total, alteração da temperatura, turbidez e sólidos totais, fatores para que a água apresente os padrões de qualidade necessários as atividades e ao consumo. O município de Paraipaba tem como órgão gestor do sistema de abastecimento de água a Companhia de Água e Esgoto do Ceará – CAGECE. O manancial de captação para abastecimento de água na sede municipal constitui-se na Lagoa Uberaba, conhecida pela população do município como Lagoa da Canabrava. Na entrada de acesso ao local de captação de água superficial do manancial há cerca protetora informando se tratar de área de captação para abastecimento público. 46 FIGURA 04 – Entrada de acesso a Estação Elevatória de Captação Superficial – EECS Fonte: Dados da pesquisa, 2014. Na margem da lagoa está instalado um conjunto ―motor-bomba‖ (figura 04) sobre base fixa, este apresenta sua cobertura danificada e não há motor reserva que possa garantir o abastecimento em caso de ocorrência de problemas, bem como o teto protetor da estação está danificado. 47 FIGURA 05 – Teto da EECS danificado. Fonte: Dados da pesquisa, 2014 Observa-se a existência de macrófitas aquáticas (figura 05), a esquerda da Estação Elevatória de Captação Superficial, essa vegetação denota o estado trófico de recursos hídricos lóticos e lênticos, em pequena quantidade esta pode ser benéfica, no entanto quando há colonização excessiva pode causar a eutrofização da água, resultando assim em prejuízos em sua qualidade, além deste fator pode inviabilizar o recurso hídrico para fins recreativos e funcionar como um vetor de proliferação de doenças epidêmicas. 48 FIGURA 06 – Proliferação de macrófitas aquáticas Fonte: Dados da pesquisa, 2014. No município de Paraipaba há duas Estações de Tratamento de Água - ETA, sendo uma localizada na sede no município e a outra localizada no distrito de lagoinha. Na ETA localizada na sede do município foi realizada trabalho de campo a fim de coletar dados do seu funcionamento. A EECS anteriormente apresentada é responsável pela captação da água bruta que posteriormente é enviada para o tratamento na ETA. O tratamento ocorre através de etapas de tratamento, divididas em floculação, de forma que os flocos maiores ficam depositados ao fundo do floculador e as águas floculadas são enviadas ao decantador, no qual ocorre à sedimentação do material, a água já decantada é enviada aos filtros. Na água ocorre a adição de ploricloreto de alumínio líquido (PAC 23) e hipoclorito de cálcio. A água ao chegar aos filtros é enviada diretamente aos Reservatórios Apoiados – RAP 01 e 02, após tais etapas é enviada diretamente para a rede de distribuição. A ETA conta ainda com uma unidade de fluoretação, porém a mesma não se encontra em funcionamento. 49 FIGURA 07 – Floculador da ETA localizada na sede do município de ParaipabaFonte: Dados da pesquisa, 2014 FIGURA 08 – Decantador na unidade da ETA localizada na sede de Paraipaba Fonte: Dados da pesquisa 50 FIGURA 09 – Filtros na ETA localizada na sede do município de Paraipaba Fonte: Dados da pesquisa, 2014. Na unidade são realizadas a cada 02 horas a medição dos padrões de Ph, cor e turbidez da água visando à distribuição de água de qualidade. Foi informado que não são realizadas medições de outros índices na unidade, a realização destas ocorre mensalmente, na gerência regional, localizada no município de Itapipoca. Ressalta-se que conforme dados do relatório de fiscalização emitido em 2011 pela Agência Reguladora de Serviços Públicos Delegados do Estado do Ceará – ARCE os parâmetros de Cor, turbidez da água apresentaram desconformidades, bem como o ferro presente na água. As amostras coletadas pela equipe da ARCE e analisadas em laboratório demonstram desconformidade dos parâmetros de cor, turbidez, ferro e cloreto. Não há placa indicativa de licenciamento ambiental afixada na ETA, bem como não há na EECS. Conforme relatório da ARCE emitido em 2011, não há licença de operação para o Sistema de Tratamento de Água de Paraipaba registrado na Superintendência Estadual do Meio Ambiente - SEMACE. O município conta com duas estações de abastecimento de água e duas estações de tratamento de esgoto, localizadas no distrito Sede e no Distrito de Lagoinha. Em caso de períodos de estiagem a CAGECE vende água a prefeitura para o abastecimento de locais em que ocorre a falta d’água, de forma que este 51 ocorre através de carro pipa. O município conta ainda com perímetro irrigado Curu- Paraipaba de responsabilidade do DNOCS, em que este é responsável pelo abastecimento das localidades aos quais se encontra instalado. O município embora situado no litoral do Estado, possui áreas que são abastecidas através de carro-pipa, o mesmo foi contemplado com carros-pipas do programa Água Todos, de responsabilidade do governo federal. 3.2.2 Esgotamento Sanitário O município de Paraipaba tem como órgão gestor do esgotamento sanitário a CAGECE, no qual possui gerência regional no município de Itapipoca. Segundo dados obtidos através de relatório técnico elaborado pela equipe do Núcleo de Apoio Técnico – NAT referente ao ano de 2010, o sistema de esgotamento de Paraipaba é composto por 01 Estação de Tratamento de Esgoto – ETE na qual existem 03 lagoas de estabilização em série, sendo que após o tratamento do efluente este é lançado na Lagoa do Jaburu, conhecida como Lagoa de Beber. Abordam a existência de Licença de Operação da ETE, porém estabelecem como condicionante para que esta possa vigorar a instalação de casa de apoio, que serve para vigilância no local, análises de variáveis e higienização de materiais, no entanto a mesma não foi instalada. O local apresentava vegetação em excesso nos taludes e vias de acesso, o que fazer com que seus galhos possam cair no interior da lagoa de estabilização, ocasionando a proliferação de insetos e maus odores, bem como pode acarretar problemas operacionais. É necessário salientar que as análises físico-químicas e bacteriológicas são de extrema importância para evitar a contaminação das águas do corpo hídrico, no entanto não foi possível constatar se há realização de análises do efluente da ETE que terá como destino final o recurso hídrico Lagoa do Jaburu. 52 FIGURA 10 – Lagoa de Estabilização recoberta por vegetação FONTE: Relatório Técnico de Vistoria Nº 318/2010 3.2.3 Resíduos Sólidos e Manejo de Águas Pluviais Os resíduos sólidos do município são destinados à localidade Cacimbão dos Tereza, denominado oficialmente de Cacimbão. ao vazadouro localizado no Cacimbão dos Tereza, porém é denominada oficialmente apenas de Cacimbão. A empresa responsável pela gestão e manejo dos resíduos sólidos urbanos corresponde à empresa Farias Magalhães de nome fantasia Dfl Limpeza Urbana, segundo dados obtidos através de trabalho de campo à empresa, funcionários informaram que todo o município é contemplado com o serviço de coleta de resíduos sólidos, e que o serviço de varrição, de capina e poda é realizado em parceria entre a Prefeitura Municipal de Paraipaba e a empresa, sendo a coleta de lixo realizada diariamente através de caçambas e caminhões, e para os resíduos da construções civil são utilizados retroescavadeiras. Em relação aos resíduos sólidos hospitalares a empresa informada não é a responsável pelo recolhimento, sendo responsável apenas pelo recolhimento de material não contaminado. No entanto é necessário salientar que segundo dados da pesquisa nacional de saneamento básico, realizada pelo IBGE em 2008, informa 53 que os resíduos sólidos de serviços de saúde sépticos são dispostos em conjunto com os demais resíduos no solo do município em vazadouro. Não há tratamento do chorume, bem como não há coleta seletiva, nem destino diferenciado dos biossólidos, sendo todos os destinos sólidos dispostos no vazadouro. Há no chamado aterro controlado a presença de catadores, no dia da realização do trabalho de campo no vazadouro do município observou-se que a maioria dos catadores que se encontravam no local consistia em jovens aparentemente menores. Em abordagem a um catador, o mesmo afirmou trabalhar a doze anos com a coleta de resíduos para reciclagem, falou que já teve problemas de saúde acarretados devido ao trabalho diário com coleta, bem como afirmou que por vezes encontra material séptico. O vazadouro apresenta aparentemente um incinerador, no entanto não foi possível confirmar se este se é utilizado para queima de material de resíduos sólidos de serviços de saúde. FIGURA 11 – Vala destinada a queima de resíduos de saúde no aterro controlado de Paraipaba Fonte: Dados da pesquisa, 2014. 54 FIGURA 12 – Vazadouro situado no município de Paraipaba Fonte: Dados da pesquisa, 2014. O aterro controlado foi construído está situado aproximadamente a 03km de distância do manancial de captação para abastecimento de água da população do município. Nas proximidades do mesmo há empresas instaladas, sendo estas a Companhia de Alimentos do Nordeste – CIALNE, que realiza a atividade de criação de frangos para corte e a CBC Produção de Bulbos, em que se encontram respectivamente a aproximadamente 02km e 03km do vazadouro considerando a entrada dos estabelecimentos, no entanto levando em consideração a área produzida da empresa CBC Produção de Bulbos, a distância verificada através do Google Earth é de apenas 1,5km, há ainda plantio de culturas em uma distância aproximada de 500m do lixão. Os resíduos depositados a céu aberto acarretam maus odores, proliferação de micro e macrovetores que podem causar doenças por agentes patogênicos, principalmente aos catadores presentes no lixão. O vazadouro presente no município de Paraipaba classifica-se como aterro controlado, este se caracteriza por receber um recobrimento diário, viabilizando a recirculação de parte do chorume, no entanto o tratamento adequado do biogás produzido só é ocorre em aterros sanitários. O chorume tratado de forma inadequada pode ocasionar a poluição do lençol freático, bem como dos corpos de água superficial em sua área de influência. 55 Figura 13 – Visualização do vazadouro a céu aberto Fonte: Google Earth, Set/2011. Segundo Resolução do Conselho Estadual do Meio Ambiente - COEMA Nº 01, de 27 de janeiro de 2011, existe projeto para instalação de aterro sanitário em consórcio com os municípios de Paracuru, Paraipaba e Trairi, a ser instalado no município de Paracuru. O manejo de águas pluviais é de responsabilidade da Prefeitura do município de Paraipaba, em alguns pontos houve a instalação de drenagem para diminuir os pontos de alagamento,
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