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Corporeidade e Imagem Pessoal

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Indaial – 2020
Corporeidade e imagem 
pessoal
Alberto Rosa
Alessandra Bittencourt Flach
Dee Unglaub Silverthorn
Letícia Sangaletti
María Fernanda González
Mario Carretero
Patrícia Cristine Hoff
Roberta Spessato
Simone de Oliveira
1a Edição
2020
Elaboração:
Alberto Rosa
Alessandra Bittencourt Flach
Dee Unglaub Silverthorn
Letícia Sangaletti
María Fernanda González
Mario Carretero
Patrícia Cristine Hoff
Roberta Spessato
Simone de Oliveira
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Conteúdo produzido
Copyright © Sagah Educação S.A.
Impresso por:
III
apresentação
Olá acadêmico, bem vindo a disciplina Corporeidade e Imagem 
Pessoal.
O assunto que abordaremos neste livro, trata de discussões acerca da 
relação do corpo, mente, expressão e a influência na imagem pessoal . Um 
corpo não é apenas uma condição biológica, em que seus órgãos executam 
suas funções para manter esse corpo vivo, mas toda uma relação complexa 
de movimentos internos e externos que vai desde o biológico, DNA, laços 
familiares, ambientes de convívio relações com mundo físico e psíquico. Já 
ouviram a frase, o corpo fala? Pois há muita comunicação não verbal perce-
bidas nos gestos, olhares, tom de voz e posicionamentos frente a vida.
Para você compreender melhor a questão da corporeidade e a per-
cepção de mundo e imagem pessoal é importante compreender o corpo, 
a mente e contexto social, que serão apresentados na unidade 1 trazendo 
debates em torno da a história do corpo, suas as formas de subjetivação, 
as imagens sociais e personalidade. Necessário Também conhecer as lin-
guagens do corpo, a construção e apropriação da linguagem do corpo, o 
movimento e a expressividade rítmica, debatidas na unidade 2. E na última 
unidade você entenderá a importância do corpo e a relação com a imagem 
pessoal, na discussão do conceito e princípios da imagem pessoal, persona-
lidade, beleza e estilo.
Tenha uma excelente leitura! Bons estudos!
IV
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para 
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há 
novidades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova 
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também 
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade 
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto 
em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
NOTA
V
VI
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela 
um novo conhecimento. 
Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro 
que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá 
contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares, 
entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento.
Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.
Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!
LEMBRETE
VII
UNIDADE 1 — CORPO; MENTE E CONTEXTO SOCIAL ..............................................................1
TÓPICO 1 — A HISTÓRIA DO CORPO ..............................................................................................3
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................3
2 AS FORÇAS CULTURAIS FORMAM A BIOLOGIA HUMANA.................................................3
3 AS SUBDISCIPLINAS DA ANTROPOLOGIA ................................................................................5
3.1 ANTROPOLOGIA CULTURAL ......................................................................................................5
3.2 ANTROPOLOGIA ARQUEOLÓGICA ...........................................................................................6
3.3 ANTROPOLOGIA BIOLÓGICA OU FÍSICA ................................................................................9
3.4 ANTROPOLOGIA LINGUÍSTICA ................................................................................................10
4 ANTROPOLOGIA E OUTROS CAMPOS ACADÊMICOS.........................................................11
4.1 FENÓTIPO E FLUIDEZ: RAÇA NO BRASIL ..............................................................................12
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................15
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................16
TÓPICO 2 — O CORPO E AS FORMAS DE SUBJETIVAÇÃO .....................................................17
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................17
2 O CORPO NA CONTEMPORANEIDADE .....................................................................................17
3 CORPO E SUBJETIVIDADE ..............................................................................................................20
4 CULTURA DO CONSUMO E CORPORALIDADES ....................................................................22
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................26
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................27
TÓPICO 3 — AS IMAGENS SOCIAIS DO CORPO ........................................................................29
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................29
2 DA CULTURA CORPORAL DO MOVIMENTO HUMANO
 ÀS CIÊNCIAS DO MOVIMENTO HUMANO ..............................................................................29
3 A CULTURA CORPORAL DO MOVIMENTO HUMANO .........................................................30
4 AS CIÊNCIAS DO MOVIMENTO HUMANO ..............................................................................32
5 AS CIÊNCIAS DO MOVIMENTO HUMANO: UM CAMPO
 DE INVESTIGAÇÃO TRANSDISCIPLINAR ................................................................................33
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................40
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................41
TÓPICO 4 — CORPO E PERSONALIDADE .....................................................................................43
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................43
2 A CRIANÇA É O SEU CORPO ..........................................................................................................442.1 O CORPO COMO MATERIALIZAÇÃO DA HUMANIZAÇÃO .............................................45
3 CONCEPÇÕES SOBRE A IMAGEM DO CORPO .........................................................................45
3.1 A ILUSÃO DO MEMBRO FANTASMA NO AMPUTADO .......................................................48
3.2 A SOMATOGNOSIA .......................................................................................................................50
3.3 CONCEPÇÃO NEUROFISIOLÓGICA DA IMAGEM DO CORPO ........................................53
RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................57
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................58
UNIDADE 2 — O CORPO E SUAS LINGUAGENS ........................................................................59
TÓPICO 1 — LINGUAGEM CORPORAL .........................................................................................61
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................61
sumário
VIII
2 A LINGUAGEM CORPORAL COMO COMUNICAÇÃO NÃO-VERBAL ..............................61
3 CONCEPÇÃO SOCIOANTROPOLÓGICA DO CORPO E TEORIA SOCIAL DA 
MOTRICIDADE ........................................................................................................................................68
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................71
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................72
TÓPICO 2 — CONSTRUÇÃO E APROPRIAÇÃO DA LINGUAGEM DO CORPO ................73
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................73
2 CORPO, NATUREZA E CULTURA ..................................................................................................73
3 O CONHECIMENTO E A LÓGICA RECURSIVA .........................................................................80
4 APONTAMENTOS PARA A EDUCAÇÃO .....................................................................................85
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................88
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................89
TÓPICO 3 — CORPO E MOVIMENTO .............................................................................................91
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................91
2 CORPO, MOVIMENTO E EXPRESSÃO .........................................................................................91
3 CORPO, MOVIMENTO, EXPRESSÃO E CONSTRUÇÃO DE DOMÍNIOS CULTURAIS ..94
4 PRÁTICAS CORPORAIS E EDUCAÇÃO FÍSICA ............................................................................97
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................101
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................102
TÓPICO 4 — EXPRESSIVIDADE RÍTMICA COMO LINGUAGEM CORPORAL ................103
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................103
2 EXPRESSIVIDADE RÍTMICA: FORMA DE EXPRESSÃO CORPORAL ...............................103
3 A EXPRESSIVIDADE CORPORAL NAS DIFERENTES FAIXAS ETÁRIAS .........................107
4 DESENVOLVENDO A EXPRESSIVIDADE CORPORAL DOS ALUNOS.............................111
RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................114
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................115
UNIDADE 3 — CORPO PERCEPCAO E IMAGEM PESSOAL ...................................................117
TÓPICO 1 — CONCEITO E PRINCÍPIOS DA IMAGEM PESSOAL .........................................119
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................119
2 IMAGEM E CONSTITUIÇÃO DO EU NA PSICANÁLISE ......................................................119
3 IMAGEM E REPRESENTAÇÃO SOCIAL PELA ÓTICA DA PSICOLOGIA SOCIAL .......123
4 IMAGEM DO CORPO NA CONSTITUIÇÃO DO SUJEITO....................................................125
5 UMA NOVA ÓTICA: A IMAGEM INCONSCIENTE DO CORPO .........................................128
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................131
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................132
TÓPICO 2 — IMAGEM PESSOAL, PERSONALIDADE, BELEZA E ESTILO .........................133
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................133
2 ESTILO E BELEZA NA IMAGEM PESSOAL ...............................................................................133
3 O CONCEITO DE BELEZA ..............................................................................................................134
4 A BELEZA DE CADA ETNIA ...........................................................................................................135
5 A IMAGEM PESSOAL COMO FERRAMENTA ..........................................................................137
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................138
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................139
REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................141
1
UNIDADE 1
CORPO; MENTE E CONTEXTO SOCIAL
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• Expressar como aconteceu a construção dos conceitos de corpo ao longo 
do tempo.
• Identificar as principais transformações socioculturais que o corpo sofreu 
em determinados períodos históricos.
• Relacionar os diversos corpos dos quais somos constituídos e suas intera-
ções com outros corpos, com as culturas e com o mundo cotidiano.
• Definir formas de subjetivação sob a perspectiva do corpo na pós-moder-
nidade.
• Discutir a relação do corpo com a cultura do consumo.
• Reconhecer historicamente quando o corpo passou a existir como ima-
gem representativa do ser humano.
• Construir uma noção de corpo como imagem social.
• Diferenciar o corpo biológico, que é físico e real, do corpo cultural, que é 
um construto abstrato e ideal.
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você 
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
TÓPICO 1 – A HISTÓRIA DO CORPO
TÓPICO 2 – O CORPO E AS FORMAS DE SUBJETIVAÇÃO
TÓPICO 3 – AS IMAGENS SOCIAIS DO CORPO
TÓPICO 4 – CORPO E PERSONALIDADE
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos 
em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá 
melhor as informações.
CHAMADA
2
3
TÓPICO 1
UNIDADE 1
A HISTÓRIA DO CORPO
1 INTRODUÇÃO
Também há razões lógicas para a uni-dade da antropologia norte-ameri-
cana. Cada subcampotrata da variação no tempo e no espaço (i.e., em diferentes 
áreas geo-gráficas). Os antropólogos culturais e os ar-queólogos estudam (entre 
muitos outros temas) as mudanças na vida social e nos costumes. Os arqueólogos 
lançam mão de estudos de sociedades vivas para imaginar como poderia ter sido 
a vida no passado. Os bioantropólogos examinam mudanças evo-lutivas na for-
ma física, por exemplo, altera-ções anatômicas que poderiam ter sido as-sociadas 
à origem do uso de ferramentas ou da linguagem. Os antropólogos linguistas 
podem reconstruir os fundamentos dos idiomas antigos estudando os modernos.
Os subcampos influenciam uns aos outros à medida que antropólogos 
falam entre si, leem livros e revistas e se reúnem em organizações profissionais. 
A antropo-logia geral explora os conceitos básicos da biologia, da sociedade e 
da cultura huma-nas e considera suas inter-relações. Os an-tropólogos comparti-
lham determinados pressupostos essenciais, dos quais talvez o mais fundamental 
seja a ideia de que as conclusões sólidas sobre a “natureza huma-na” não podem 
ser derivadas do estudo de uma única população, nação, sociedade ou tradição 
cultural, sendo essencial uma abordagem comparativa e intercultural.
2 AS FORÇAS CULTURAIS FORMAM A BIOLOGIA HUMANA
A perspectiva comparativa e biocultural da antropologia reconhece que 
as forças cultu-rais moldam constantemente a biologia hu-mana. (O termo “bio-
cultural” se refere a inclusão e combinação das perspectivas biológica e cultural 
e a abordagens para co-mentar ou resolver um determinado pro-blema ou ques-
tão.) A cultura é uma força ambiental fundamental na determinação de como os 
corpos humanos crescem e se desenvolvem. As tradições culturais promo-vem 
certas atividades e habilidades, desen-corajando outras, e estabelecem padrões 
de bem-estar e atratividade físicos. As ativida-des físicas, incluindo esportes, que 
são in-fluenciadas pela cultura, ajudam a moldar o corpo. Por exemplo, as meni-
nas norte-ame-ricanas são estimuladas a praticar competi-ções que envolvem pa-
tinação artística, gi-nástica, atletismo, natação, mergulho e muitos outros espor-
tes e, portanto, ter um bom desempenho nessas atividades; as bra-sileiras, ainda 
que se destaquem nos espor-tes coletivos, como basquete e vôlei, não se saem tão 
bem em esportes individuais, como as norte-americanas e canadenses. Por que as 
UNIDADE 1 | CORPO; MENTE E CONTEXTO SOCIAL
4
pessoas são estimuladas a se no-tabilizar como atletas em alguns países, mas não 
em outros? Por que as pessoas em al-guns países investem tanto tempo e esforço 
em esportes competitivos a ponto de que seus corpos se alterem significativamen-
te como resultado disso?
Em seus primórdios, a antropologia nos Es-tados Unidos estava 
preocupada sobretudo com a história e as culturas dos povos nati-vos nor-
te-americanos. Ely S. Parker, ou Ha--sa-no-an-da, foi um indígena Seneca 
que deu contribuições importantes ao início da antropologia. Parker tam-
bém foi Comissário de Assuntos Indígenas dos Estados Unidos.
Padrões culturais de atratividade e ade-quação influenciam a participação 
e o de-sempenho nos esportes. Os norte-america-nos correm ou nadam não ape-
nas para com-petir, mas para se manter em forma e em boas condições físicas. Os 
padrões de beleza do Brasil tradicionalmente aceitaram mais gordura, em espe-
cial nas nádegas e nos qua-dris das mulheres. Os homens brasileiros têm obtido 
algum sucesso internacional na natação e em corridas, mas o Brasil raramen-te 
envia nadadoras ou corredoras às Olim-píadas. Uma das razões para as brasilei-
ras evitarem a natação competitiva podem ser os efeitos que o esporte tem sobre 
a modela-ção do corpo.
Anos de natação esculpem um físico di-ferenciado: torso superior alarga-
do, pescoço grosso e ombros e costas robustos. As nada-doras de sucesso tendem 
a ser grandes, fortes e volumosas. Os países que mais produzem atletas femininas 
da natação são Estados Uni-dos, Canadá, Austrália, Alemanha, os países escandi-
navos, a Holanda e a ex-União Sovié-tica, onde esse tipo de corpo não é tão esti-
g-matizado como em países latinos. As nada-doras desenvolvem corpos rígidos, 
FIGURA 1 – ELY S. PARKER
FONTE: <https://bit.ly/2TSHJHV>. Acesso em: 25 abr. 2020.
TÓPICO 1 | A HISTÓRIA DO CORPO
5
mas a cul-tura brasileira diz que as mulheres devem ser delicadas, com quadris e 
nádegas grandes, sem ombros largos. Muitas jovens nadadoras do Brasil optam 
por abandonar o esporte para manter o corpo “feminino” ideal.
Quando você estava crescendo, qual era o esporte de que mais gostava: 
futebol, natação, futebol americano, beisebol, tênis, golfe ou algum outro (ou tal-
vez nenhum)? Isso se dá em função de “quem você é” ou por causa das oportuni-
dades que teve para praticar e participar nessa atividade especí-fica quando era 
criança? Quando você era pequeno, talvez os seus pais tenham lhe dito que tomar 
leite e comer legumes iriam aju-dá-lo a ficar “grande e forte”. Eles provavel-men-
te não reconheceram de forma imedia-ta o papel que a cultura cumpre na defini-
-ção de corpos, personalidades e saúde pessoal. Se a nutrição é importante para o 
crescimento, o mesmo se aplica às orienta-ções culturais. Qual é o comportamen-
to adequado a meninos e meninas? Que tipo de trabalho os homens e as mulheres 
devem fazer? Onde as pessoas deveriam viver? Quais são os usos apropriados do 
seu tempo de lazer? Que papel deve cumprir a religião? Como as pessoas devem 
se relacionar com seus parentes, amigos e vizinhos? Embora nossos atributos ge-
néticos proporcionem uma base para o nosso crescimento e desen-volvimento, 
a biologia humana é bastante plástica, isto é, maleável. A cultura é uma força 
ambiental que afeta o nosso desenvol-vimento, tanto quanto a nutrição, o calor, 
o frio e a altitude, e também orienta o nosso crescimento emocional e cognitivo, 
ajudan-do a determinar o tipo de personalidade que temos como adultos.
O Brasil raramente envia nadadoras para as Olimpíadas. Uma exce-
ção é Fabíola Molina, que competiu nas Olimpíadas de 2000 e 2008. Nessa 
foto, em maio de 2009, Fabíola dá um mergulho vencedor na final feminina 
dos 100 metros – nado costas, do Troféu Maria Lenk, no Rio de Janeiro. De 
que forma anos de na-tação competitiva podem afetar o fenótipo?
3 AS SUBDISCIPLINAS DA ANTROPOLOGIA
3.1 ANTROPOLOGIA CULTURAL
A antropologia cultural é o estudo da so-ciedade e da cultura humanas, o 
subcampo que descreve, analisa, interpreta e explica as semelhanças e diferenças 
sociais e culturais. Para estudar e interpretar a diversidade cul-tural, os antropó-
logos culturais realizam dois tipos de atividade: etnografia (com base no trabalho 
de campo) e etnologia (com base na comparação intercultural). A etnografia for-
nece uma descrição de deter-minada comunidade, sociedade ou cultura. Durante 
o trabalho de campo etnográfico, o etnógrafo reúne dados que organiza, des-cre-
ve, analisa e interpreta para construir e apresentar essa descrição, que pode se dar 
na forma de livro, artigo ou filme. Tradicio-nalmente, os etnógrafos têm mora-
UNIDADE 1 | CORPO; MENTE E CONTEXTO SOCIAL
6
do em pequenas comunidades e estudado com-portamentos, crenças, costumes, 
vida so-cial, atividades econômicas, política e reli-gião locais (ver Wolcott, 2008).
A perspectiva antropológica derivada do trabalho de campo etnográfico cos-
tuma ser bastante diferente da que deriva da eco-nomia ou da ciência política. Esses 
campos trabalham com organizações e políticas na-cionais e oficiais e, muitas vezes, 
com elites, mas os grupos que os antropólogos têm es-tudado costumam ser relati-
vamente pobres e desprovidos de poder. Os etnógrafos ob-servam muitas práticas 
discriminatórias voltadas a essas pessoas, que enfrentam es-cassez de alimentos, de-
ficiências alimenta-res e outros aspectos da pobreza. Os cientis-tas políticos tendem 
a estudar os programas que os planejadores nacionais desenvolvem, enquanto os 
antropólogos descobrem como esses programas funcionam em nível local.
As culturasnão são isoladas. Como observado por Franz Boas (1940/1966) 
há muitos anos, o contato entre tribos vizinhas sempre existiu e se estendeu sobre 
áreas enormes. “As populações humanas cons-troem suas culturas em interação 
umas com as outras, e não isoladamente” (Wolf, 1982, p. ix). Moradores de al-
deias partici-pam cada vez mais de eventos regionais, na-cionais e mundiais. A 
exposição a forças ex-ternas se dá pelos meios de comunicação de massa, pela 
migração e pelo transporte mo-derno. A cidade e a nação cada vez mais in-vadem 
as comunidades locais com a chega-da de turistas, agentes de desenvolvimento, 
autoridades governamentais e religiosas e candidatos a cargos políticos. Essas 
ligações são componentes importantes de sistemas regionais, nacionais e interna-
cionais de po-lítica, economia e informações. Esses siste-mas maiores afetam mais 
e mais as pessoas e os lugares tradicionalmente estudados pela antropologia. O 
estudo desses vínculos e sistemas faz parte do tema da antropolo-gia moderna.
A etnologia examina, interpreta, ana-lisa e compara os resultados da et-
nografia – os dados coletados em diferentes sociedades – e os usa para comparar, 
contrastar e fazer generalizações sobre a sociedade e a cultura. Olhando além do 
particular e vislumbran-do o mais geral, os etnólogos tentam identi-ficar e ex-
plicar as diferenças e similaridades culturais, testar hipóteses e construir teorias 
para melhorar nossa compreensão de como funcionam os sistemas sociais e cul-
turais. A etnologia obtém seus dados para compara-ção não apenas da etnografia, 
mas também de outros subcampos, em especial da antro-pologia arqueológica, 
que reconstrói os sis-temas sociais do passado. (A Tabela 1.2 re-sume os princi-
pais contrastes entre etno-grafia e etnologia.)
3.2 ANTROPOLOGIA ARQUEOLÓGICA
A antropologia arqueológica (dito de forma mais simples, “arqueolo-
gia”) recons-trói, descreve e interpreta o comportamen-to e os padrões culturais 
humanos por meio de restos materiais. Em locais onde as pes-soas vivem ou vive-
ram, os arqueólogos en-contram artefatos – itens materiais que os seres humanos 
produziram, usaram ou modificaram, como ferramentas, armas, acampamentos, 
construções e lixo.
TÓPICO 1 | A HISTÓRIA DO CORPO
7
Os restos de vegetais e animais e o lixo antigo contam histórias sobre consu-
mo e atividades. Os grãos selvagens e os domesti-cados têm características diferen-
tes que permitem que os arqueólogos distingam entre coleta e cultivo. O exame de 
ossos de animais revela a idade dos animais abatidos e fornece outras informações 
úteis para de-terminar se as espécies eram selvagens ou domesticadas.
Analisando esses dados, os arqueólogos respondem a várias perguntas 
sobre as anti-gas economias. O grupo obtinha sua carne da caça ou domestica-
va e criava animais, matando apenas os de certa idade e determi-nado sexo? Os 
alimentos vegetais vinham de plantas silvestres ou da semeadura, cuidado e co-
lheita dos cultivos? Os moradores produ-ziam, comercializavam ou compravam 
de-terminados itens? As matérias-primas esta-vam disponíveis localmente? Se 
não, de onde vinham? A partir dessas informações, os ar-queólogos reconstroem 
os padrões de pro-dução, comércio e consumo.
Os arqueólogos passaram muito tempo estudando fragmentos de cerâmi-
ca, pois são mais duráveis do que muitos ou-tros artefatos, como os têxteis e a ma-
deira. A quantidade de fragmentos de cerâmica permite estimar tamanho e den-
sidade da população. A descoberta de que os ceramis-tas usavam materiais que 
não estavam dis-poníveis localmente sugere sistemas de co-mércio. Semelhanças 
na fabricação e deco-ração em locais diferentes podem ser prova de conexões cul-
turais. Grupos que tenham vasilhames semelhantes podem ter relações históricas 
e, talvez, compartilhem antepas-sados culturais, tenham negociado entre si ou 
pertençam ao mesmo sistema político.
Muitos arqueólogos examinam a pa-leoecologia. A ecologia é o estudo das 
inter--relações entre seres vivos em um ambiente. Juntos, organismos e ambiente 
constituem um ecossistema, uma configuração de flu-xos de energia e intercâm-
bios que segue de-terminados padrões. A ecologia humana es-tuda os ecossiste-
mas que incluem pessoas, enfocando as formas como o uso humano “da natureza 
influencia a organização social e os valores culturais e por eles é influencia-do” 
(Bennett, 1969, p. 10-11). A paleoecolo-gia observa os ecossistemas do passado.
Além de reconstruir padrões ecológi-cos, os arqueólogos podem inferir 
transfor-mações culturais, por exemplo, ao observar mudanças no tamanho e no 
tipo dos sítios e na distância entre eles. Uma cidade grande se desenvolve em uma 
região onde, alguns séculos antes, só existiam cidadezinhas, al-deias e vilarejos. O 
número de níveis de as-sentamento (cidade grande ou pequena, povoado, aldeia) 
em uma sociedade é uma medida da complexidade social. As cons-truções dão 
pistas sobre as características políticas e religiosas. Templos e pirâmides sugerem 
que uma antiga sociedade tinha uma estrutura de autoridade capaz de mo-bilizar 
o trabalho necessário para construir esses monumentos. A presença ou a ausên-
cia de determinadas estruturas, como as pi-râmides do Egito e do México antigos, 
reve-la diferenças de funções entre os assenta-mentos. Por exemplo, algumas 
cidades eram lugares a que as pessoas iam para as-sistir a cerimônias, outras 
eram locais de se-pultamento e outras, ainda, comunidades agrícolas.
UNIDADE 1 | CORPO; MENTE E CONTEXTO SOCIAL
8
Uma equipe de arqueólogos trabalha em Harappa, onde esteve uma anti-
ga civilização do Vale do Indo, que remonta a aproximadamente 4.800 anos.
Os arqueólogos também reconstroem os padrões de comportamento e es-
tilos de vida do passado fazendo escavações, ou seja, cavando uma sucessão de ní-
veis em um sítio. Em uma determinada área, ao longo do tempo, os assentamentos 
podem mudar de forma e propósito, assim como as conexões entre eles. As escava-
ções podem documentar alterações em atividades eco-nômicas, sociais e políticas.
Embora sejam mais conhecidos pelo estudo da pré-história, isto é, o perí-
odo anterior à invenção da escrita, os arqueó-logos também estudam as culturas 
dos povos históricos e até mesmo dos que ainda vivem (ver Sabloff, 2008). Estu-
dando na-vios afundados na costa da Flórida, arqueó-logos subaquáticos foram 
capazes de verifi-car as condições de vida nos navios que trouxeram ancestrais 
afro-americanos para o Novo Mundo, na condição de pessoas es-cravizadas. Em 
um projeto de pesquisa que iniciou em 1973, em Tucson, Arizona, o ar-queólo-
ETNOGRAFIA ETNOLOGIA
Exige trabalho de campo para coletar dados Utiliza os dados coletados por
uma série de pesquisadores
Muitas vezes descritiva Normalmente sintética
Específica de um grupo ou comunidade Comparativa/intercultural
TABELA 1 - ETNOGRAFIA E ETNOLOGIA – DUAS DIMENSÕES DA ANTROPOLOGIA CULTURAL
FONTE: O autor.
FIGURA 2 – EQUIPE DE ARQUEÓLOGOS TRABALHANDO EM HARAPPA
FONTE: <https://bit.ly/3de3ol6>. Acesso em: 25 abr. 2020.
TÓPICO 1 | A HISTÓRIA DO CORPO
9
go William Rathje aprendeu sobre a vida contemporânea com o estudo do lixo 
moderno. O valor da “lixologia” (garbolo-gy), como Rathje a chama, é que ela for-
nece “evidências do que as pessoas faziam, e não do que elas acham que faziam, 
do que acham que deveriam ter feito ou do que o entrevistador acha que elas 
deveriam ter feito” (Harrison, Rathje e Hughes, 1994, p. 108). O que as pessoas 
informam pode ser muito diferente do seu comportamento real, como revelado 
pela lixologia. Por exemplo, o lixólogos descobriram que os três bairros de Tucson 
que relataram o menor consumo de cerveja tinham, na ver-dade, o maior número 
de latas de cerveja descartadas por domicílio (Podolefsky e Brown, 1992, p. 100)! 
A lixologia de Rathje também mostrou ideias equivocadas sobre a quantidade 
de diferentes tipos de lixo que está em aterros sanitários: embora a maio-ria das 
pessoas considerasse as embalagens de fast-food e as fraldas descartáveis comoos grandes problemas em termos de lixo, na verdade, elas eram relativamente 
insignifi-cantes em comparação com o papel, in-cluindo o papel reciclável, que 
não seria prejudicial ao meio ambiente (Rathje e Murphy, 2001).
3.3 ANTROPOLOGIA BIOLÓGICA OU FÍSICA
O tema da antropologia biológica, ou físi-ca, é a diversidade biológica 
humana no tempo e no espaço. O foco na variação bio-lógica une cinco interesses 
especiais na an-tropologia biológica:
1. Evolução humana segundo a revela o registro fóssil (paleoantropologia).
2. Genética humana.
3. Crescimento e desenvolvimento hu-manos.
4. Plasticidade biológica humana (capaci-dade do corpo para mudar ao enfrentar 
estresse, como calor, frio e altitude).
5. A biologia, a evolução, o comporta-mento e a vida social de macacos, sí-mios e 
outros primatas não humanos.
Esses interesses ligam a antropologia física a outros campos: biologia, 
zoologia, geologia, anatomia, fisiologia, medicina e saúde pública. A osteologia – 
o estudo dos ossos – ajuda os paleoantropólogos, que examinam crânios, dentes 
e ossos, a identi-ficar os ancestrais humanos e acompanhar as mudanças na 
anatomia ao longo do tempo. O paleontólogo é um cientista que estuda os fósseis. 
Um paleoantropólogo é uma espécie de paleontólogo que estuda o registro 
fóssil da evolução humana. Os pa-leoantropólogos muitas vezes trabalham 
em conjunto com os arqueólogos, que estu-dam artefatos, na reconstrução de 
aspectos biológicos e culturais da evolução humana.
É comum serem encontrados fósseis e fer-ramentas juntos. Diferentes 
tipos de ferra-mentas fornecem informações sobre os há-bitos, os costumes e o 
estilo de vida dos hu-manos ancestrais que as usavam.
Mais de um século atrás, Charles Dar-win percebeu que a variedade que 
existe em toda a população permite que alguns indi-víduos (com características 
UNIDADE 1 | CORPO; MENTE E CONTEXTO SOCIAL
10
privilegiadas) se saiam melhor do que outros na sobrevi-vência e na reprodução. 
A genética, que se desenvolveu mais tarde, ajuda a esclarecer as causas e a 
transmissão dessa variedade. No entanto, não são apenas os genes que causam a 
variedade. Durante a vida de qualquer indivíduo, o ambiente funciona junto com 
a hereditariedade para determi-nar as características biológicas. Por exem-plo, 
pessoas com tendência genética a ser altas serão menores se forem mal alimenta-
das na infância. Assim, a antropologia bio-lógica também investiga a influência 
do ambiente sobre o corpo à medida que o in-divíduo cresce e amadurece. Entre 
os fato-res ambientais que influenciam o corpo em sua evolução estão altitude, 
nutrição, tem-peratura e doenças, bem como os fatores culturais, como os padrões 
de atratividade.
A antropologia biológica (junto com a zoologia) também inclui a 
primatologia. Os primatas incluem os nossos parentes mais próximos: símios e 
macacos. Os primatólo-gos estudam a biologia, a evolução, o com-portamento 
e a vida social daqueles prima-tas, muitas vezes em seus próprios ambien-tes 
naturais. A primatologia auxilia a paleoantropologia, porque o comporta-mento 
dos primatas pode ajudar a explicar o início do comportamento humano e da 
natureza humana.
3.4 ANTROPOLOGIA LINGUÍSTICA
Não sabemos (e é provável que nunca che-garemos a saber) quando 
nossos ancestrais adquiriram a capacidade de falar, embora os bioantropólogos 
tenham examinado a anatomia do rosto e do crânio para especu-lar sobre a 
origem da linguagem, e os pri-matólogos descrito os sistemas de comuni-cação 
de macacos e símios. Sabemos que existem línguas complexas e gramatical-mente 
bem desenvolvidas há milhares de anos. A antropologia linguística oferece mais 
um exemplo do interesse da antropo-logia na comparação, na mudança e na 
Aplicando a antropologia à cultura popular
INDIANA JONES
Pensemos em qualquer um dos quatro filmes de Indiana Jones, dirigidos por Steven Spielberg. 
Os arqueó-logos costumam se queixar de que esses filmes distorcem a percepção pública 
de seu campo de trabalho, retratando-os como saqueadores gananciosos, aventureiros, 
amorais e não científicos. De que forma India-na Jones influenciou sua opinião sobre 
a arqueologia, se é que houve alguma influência? Falando em ter-mos mais gerais, as 
imagens dos arqueólogos na mídia fazem você ter uma opinião melhor ou pior do campo 
da arqueologia?
INTERESSA
NTE
TÓPICO 1 | A HISTÓRIA DO CORPO
11
va-riação. A antropologia linguística estuda a língua em seu contexto social e 
cultural, no espaço e no tempo. Alguns antropólogos linguistas fazem inferências 
sobre as carac-terísticas universais da linguagem, ligadas, talvez, a uniformidades 
no cérebro huma-no; outros reconstroem línguas antigas comparando suas 
descendentes contempo-râneas e assim fazem descobertas sobre a história; outros, 
ainda, estudam as diferen-ças linguísticas para descobrir percepções variadas e 
padrões de pensamento em cul-turas diferentes.
A linguística histórica considera a va-riação no tempo, como as 
mudanças em sons, gramática e vocabulário entre o inglês médio (falado desde 
aproximadamente 1050-1550 d.C.) e o inglês moderno. A so-ciolinguística 
investiga as relações entre va-riações sociais e linguísticas. Nenhuma lín-gua é 
um sistema homogêneo em que todos falam da mesma maneira. De que formas 
os diferentes falantes usam um determinado idioma? Como as características 
linguísticas se relacionam com os fatores sociais, in-cluindo as diferenças de 
classe e gênero (Tannen, 1990)? Uma das razões para a va-riação é a geografia, 
como acontece com os dialetos e sotaques regionais. A variação lin-guística 
também se expressa no bilinguismo dos grupos étnicos. Os antropólogos lin-
guistas e culturais colaboram no estudo de ligações entre a língua e muitos outros 
as-pectos da cultura, por exemplo, a forma como as pessoas avaliam parentesco e 
como percebem e classificam as cores.
4 ANTROPOLOGIA E OUTROS CAMPOS ACADÊMICOS
Como já mencionado, uma das principais diferenças entre a antropologia 
e os outros campos acadêmicos é o holismo, a mistura singular que a antropo-
logia faz de perspec-tivas biológicas, sociais, culturais, linguís-ticas, históricas e 
contemporâneas. Para-doxalmente, embora diferencie a antropo-logia, essa am-
plitude é o que também a fazem esse tipo de tarefa, incluindo o traba-lho com 
couro e outros produtos animais, e têm mais probabilidades do que a maioria 
japonesa de realizar trabalhos manuais (in-cluindo o trabalho agrícola) e de per-
tencer classe mais baixa do país. Como outras minorias japonesas, eles também 
têm mais probabilidades de exercer criminalidade, prostituição, carreiras em en-
tretenimento e esportes (De Vos et al., 1983).
Assim como os negros nos Estados Unidos, os burakumins são estratifica-
dos por classe. Como certos empregos são reser-vados a eles, as pessoas que são 
bem-sucedi-das nessas profissões (p. ex., proprietários de fábricas de calçados) 
podem ser ricas. Os burakumins também encontram emprego como burocratas 
do governo, e os que fo-rem financeiramente bem-sucedidos po-dem escapar por 
um tempo de seu status es-tigmatizado viajando, inclusive ao exterior.
A discriminação contra os buraku-mins é muito semelhante à que os ne-
gros experimentaram nos Estados Unidos: vi-vem com frequência em vilas e bair-
ros com condições precárias de habitação e sanea-mento e têm acesso limitado a 
educação, empregos, confortos e serviços de saúde. Em resposta à mobilização 
UNIDADE 1 | CORPO; MENTE E CONTEXTO SOCIAL
12
política buraku-min, o Japão tem desmantelado a estrutura jurídica da discrimi-
nação contra eles e tra-balhado para melhorar as condições dos burakus. (A pági-
na http://blhrri.org/in-dex_e.htm é patrocinada pelo Instituto de Pesquisa em Li-
bertação e Direitos Huma-nos dos Burakus e inclui as informações mais recentes 
sobre o movimento buraku de libertação.) Mas o Japão ainda precisa lançar pro-
gramas de ação afirmativa ao es-tilo norte-americano para educação e em-prego, 
e a discriminação contra japoneses que não pertencem à maioriaainda é a regra 
nas empresas. Alguns empregadores dizem que a contratação de burakumins da-
ria a sua empresa uma imagem impura e, portanto, criaria uma desvantagem na 
con-corrência (De Vos et al., 1983).
4.1 FENÓTIPO E FLUIDEZ: RAÇA NO BRASIL
Há maneiras mais flexíveis e menos exclu-dentes de construir socialmente 
a raça do que as utilizadas nos Estados Unidos e no Japão. Junto com o resto da 
América Latina, o Brasil tem menos categorias excludentes, o que permite aos 
indivíduos mudar sua classificação racial. O país compartilha uma história de 
escravidão com os Estados Uni-dos, mas não há a regra da hipodescen-dência.
Os brasileiros usam muito mais deno-minações raciais – mais de 500 já 
foram re-latadas (Harris, 1970) – do que norte-ame-ricanos ou japoneses. No Nor-
deste do Bra-sil, encontrei 40 termos raciais diferentes em uso em Arembepe, na 
época, uma aldeia de apenas 750 pessoas (ver Kottak, 2006). Por meio de seu sis-
tema tradicional de clas-sificação, os brasileiros reconhecem e ten-tam descrever 
a variação física que existe em sua população. O sistema utilizado nos Estados 
Unidos, ao reconhecer apenas três ou quatro raças, não deixa que os norte--a-
mericanos enxerguem uma faixa equiva-lente de contrastes físicos evidentes. O 
siste-ma que os brasileiros usam para construir raça social tem outras caracterís-
ticas espe-ciais. Nos Estados Unidos, a raça de uma pessoa é um status atribuído, 
que é definido automaticamente pela hipodescendência e, em geral, não muda. 
No Brasil, a identidade racial é mais flexível, sendo mais um status adquirido. 
A classificação racial brasileira presta atenção ao fenótipo, que se refere a traços 
evidentes de um organismo, sua “bio-logia manifesta” – fisiologia e anatomia, 
in-cluindo cor da pele, forma do cabelo, carac-terísticas faciais e cor dos olhos. O 
fenótipo e a denominação racial de um brasileiro po-dem mudar devido a fatores 
ambientais, como bronzeamento ou efeitos da umidade sobre o cabelo.
Assim como as características físicas mudam (a luz solar altera a cor da 
pele, a umidade afeta a forma do cabelo), o mesmo acontece com os termos ra-
ciais. Além disso, as diferenças raciais podem ser tão insignificantes na estrutu-
ração de vida da comuni dade que as pessoas podem esquecer os ter-mos que 
aplicaram a outras. Às vezes, até se esquecem dos que usaram para si próprias. 
Em Arembepe, costumava pedir à mesma pessoa, em dias diferentes, que me dis-
sesse as raças das outras na aldeia (e a minha). Nos Estados Unidos, eu sempre 
sou “bran-co” ou “euro-americano”, mas, em Arembe-pe, recebi muitos termos, 
além de branco. Eu poderia ser claro, louro, sarará, mulato claro ou mulato.
TÓPICO 1 | A HISTÓRIA DO CORPO
13
FIGURA 3 - FOTOS, TIRADAS NO BRASIL PELO AUTOR DO LIVRO EM 2003 E 2004, DÃO 
APENAS UMA IDEIA DO ESPECTRO DA DIVERSIDADE FENOTÍPICA ENCONTRADA ENTRE OS 
BRASILEIROS CONTEMPORÂNEOS.
FONTE: O autor.
O termo racial usado para descrever a mim ou a qualquer outro variava 
de pessoa a pessoa, semana a semana, mesmo de um dia para outro. Meu melhor 
interlocutor de pesquisa, um homem de pele muito escura, mudava o termo que 
usava para si mesmo o tempo todo, de escuro a preto e a moreno escuro.
UNIDADE 1 | CORPO; MENTE E CONTEXTO SOCIAL
14
Durante séculos, os Estados Unidos e o Brasil tiveram populações mis-
tas, com ancestrais nativo-americanos, europeus, africanos e asiáticos. Embora 
as raças te-nham se misturado em ambos os países, as culturas brasileira e nor-
te-americana cons-truíram os resultados de forma diferente. As razões históricas 
para esse contraste se en-contram sobretudo nas diferentes caracte-rísticas dos 
colonos dos dois países. Os pri-meiros colonos dos Estados Unidos, na maioria 
ingleses, vieram na condição de mulheres, homens e famílias; os coloniza-do-
res portugueses no Brasil eram em sua maioria comerciantes e aventureiros do 
sexo masculino. Muitos deles se casavam com mulheres indígenas e reconheciam 
seus filhos de raça mista como seus herdei-ros. Tal como os seus equivalentes 
norte--americanos, os donos de lavouras escravis-tas brasileiras tinham relações 
sexuais com suas escravas, mas os latifundiários brasilei-ros libertavam com mais 
frequência os fi-lhos que resultavam da relação, por razões demográficas e econô-
micas. (Às vezes eram seus filhos únicos.) Filhos livres de senhores portugueses 
e escravas africanas se torna-vam chefes e capatazes das lavouras e ocupavam 
muitas posições intermediárias na emergente economia brasileira. Eles não eram 
classificados como escravos, e sim au-torizados a participar de uma nova catego-
-ria intermediária. Não se desenvolveu qual-quer regra de hipodescendência no 
Brasil para garantir que brancos e negros perma-necessem separados (ver Degler, 
1970; Har-ris, 1964).
No sistema-mundo de hoje, o sistema brasileiro de classificação racial está 
mu-dando no contexto das políticas de identi-dade e dos movimentos internacio-
nais de direitos. Assim como cada vez mais brasilei-ros reivindicam identidades 
indígenas (na-tivos brasileiros), um número crescente afirma sua negritude e sua 
participação au-toconsciente na diáspora africana. Particu-larmente em Estados 
do Nordeste, como a Bahia, onde a influência demográfica e cul-tural africana 
é forte, as universidades pú-blicas têm instituído programas de ação afirmativa 
destinados a povos indígenas e, sobretudo, aos negros. As identidades ra-ciais se 
firmam no contexto da mobilização internacional (p. ex., pan-africana e pan-in-
-dígena) e no acesso a recursos estratégicos com base na raça.
15
Neste tópico, você aprendeu que:
• Como aconteceu a construção dos conceitos de corpo ao longo do tempo
• As principais transformações socioculturais que o corpo sofreu em 
determinados períodos históricos
• Os diversos corpos dos quais somos constituídos e suas interações com outros 
corpos, com as culturas e com o mundo cotidiano.
RESUMO DO TÓPICO 1
16
1. “O termo Anthropos deriva do grego e significa “estudo do homem” ou 
“ciência do homem”. Fica confuso ao se perceber mais um significado de es-
tudo do homem, esta tradução se encontra em outros termos como: genética, 
sociologia, zoologia, psicologia e muitos outros, mas o que realmente dife-
rencia o estudo em foco é exatamente o objeto material, que envolve diversos 
casos”. (BATISTA, 2010, p.103). Diante do exposto e das leituras realizadas 
no Tópico I deste caderno de estudos, escreva o que você compreendeu sobre 
antropologia cultural. 
Fonte: BATISTA, Jefferson Alves. Reflexões sobre o conceito antropológico de cultura. Revista 
Saber Eletrônico, v.1, jun.2010. 
2. A antropologia “tem sua característica primordial o objeto formal, nela 
o que interessa é o ser humano em sua continuidade e pluralidade da for-
ma, a existência humana, a culturalidade e biogenética, tanto passada como 
também presente, extraindo não o específico, mas o todo”. (BATISTA, 2010, 
p.103). Diante do exposto e das antropologias apresentadas neste tópico, es-
creva como no Brasil se constrói a ideia racial. 
Fonte: BATISTA, Jefferson Alves. Reflexões sobre o conceito antropológico de cultura. Revista 
Saber Eletrônico, v.1, jun.2010. 
AUTOATIVIDADE
17
TÓPICO 2
O CORPO E AS FORMAS DE SUBJETIVAÇÃO
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
O corpo corresponde a um elemento significativo no debate contem-porâ-
neo no contexto da sociedade de consumo. As transformações na moralidade sobre 
a apresentação pública do corpo têm sido acompanha-das pelo avanço tecnológico 
e do discurso sobre a saúde e o bem-estar. Consequentemente, a articulação desses 
processos com a formação de um mercado da beleza colocou o cuidado estético 
como uma modalidade de consumo que impulsiona a produção de uma corporali-
dade canônica. Seria, então, uma sociedade em que a aparência constitui quem se é, 
uma subjetividade exteriorizada em meio a uma cultura somática.
Neste capítulo, você vai conhecer as formas de subjetivação no con-tem-
porâneo a partir da discussão sobre as transformaçõesdo lugar do corpo desde o 
século XVIII e, desse modo, vai ver a centralidade desse elemento na constituição 
do sujeito e do “eu” nas sociedades, enten-dendo como relacioná-lo e contextua-
lizá-lo na sociedade do consumo.
2 O CORPO NA CONTEMPORANEIDADE
Para compreender a questão do corpo, convém compreender o percurso 
de seu estatuto no Ocidente e sua elevação ao status de elemento fundador da 
subjetividade e da identidade social na esfera pública. O lugar do corpo tem-
se modificado, deixando de ser entendido como subordinado à natureza para 
tornar-se um componente importante do progresso.
Conforme Fontes (2007), o corpo vem sendo desvelado desde o Renasci-
mento, iniciando pela pele até chegar ao seu interior, como os músculos, tendões 
e o crânio. Esse processo possibilitou o desenvolvimento de pesquisas sobre a 
reprodução mecânica da respiração, da digestão e dos movimentos corporais até 
chegarmos, no século XXI, à ciência genética. Observa-se, assim, que o processo 
de modificação dos valores sobre o corpo tem-se realizado como consequência 
das transformações vividas a partir do século XVIII, como o uso de cueiros justos 
para recém-nascidos e espartilhos para as mulheres.
A centralidade do corpo aparece em um momento da história moderna 
quando ainda se dominava o pensamento cosmológico religioso. O processo 
de colocar o ser humano, ao invés de Deus, no centro, enquanto aquele que 
possibilitaria o acesso à verdade, a partir do processo racional, introduz uma 
UNIDADE 1 | CORPO; MENTE E CONTEXTO SOCIAL
18
nova racionalidade no Ocidente que possibilitará o desenvolvimento das ciências 
humanas e da saúde. Desse modo, tem-se uma transformação do lugar do corpo 
que possibilita a constituição de um saber sobre o seu interior e funcionamento.
Para que essa transformação acontecesse, como informa Le Breton (2009), 
foi necessário desfazer-se dos valores medievais para que, então, emergisse a possi-
bilidade do estudo da anatomia com a separação entre a alma/mente e o corpo. A 
filosofia mecanicista e o cartesianismo foram importantes para estabelecer uma 
ideia de corpo como máquina. Com isso, tem-se uma nova sensibilidade que torna 
possível a cisão entre a subjetividade e o corpo, próprio do projeto moderno.
O advento do capitalismo e o processo de secularização que constituíram 
a modernidade colocaram o ser humano no centro, desvinculando-o do mundo 
natural-divino. Dessa forma, as mudanças no espaço urbano, acompanhadas de 
planejamento e gestão da cidade, levaram ao engendramento de uma pe-dagogia 
dos indivíduos em relação ao cuidado de si e enquanto consumidores a partir da 
normatização dos espaços relativos ao prazer sexual, à higiene, à saúde, à vida 
pública, etc.
Conforme Sibilia (2002), as transformações do lugar do corpo, desde o 
Renascimento até a contemporaneidade, têm apontado para a sua reconfigura-
ção em um momento em que as tecnologias se tornam cada vez mais centrais, 
modificando a “natureza” do corpo para uma condição “pós-humana”. Esse 
processo, segundo a autora, manifesta-se a partir do upgrade do corpo por meio 
de processos tecnológicos de melhoramento, modificação e acoplamento.
A compreensão da corporeidade canônica na cultura contemporânea, diz 
Fontes (2007), somente se torna possível a partir da compreensão do percurso do 
corpo no Ocidente. Da clandestinidade, passa a ser um elemento fundamental 
para a subjetividade. Do pecado, demonizado, é transformado em elemento 
central a ser cuidado e melhorado.
Por isso, ao longo do século XX, afirma a autora, o corpo passa por três 
estatutos: do corpo representado para o corpo representante e, por fim, o corpo 
apresentador de si mesmo. Em cada um desses estados, o corpo é colocado de 
formas diversas. Do corpo passivo e reprimido, descrito a partir do olhar do 
outro, tem-se o corpo ativo, que possui autonomia quanto às suas práticas, e o 
contestador, que se trata do corpo revolucionário no campo sexual e político.
Então, emerge o corpo produzido na contemporaneidade e marcado pela 
forma, um corpo que pode ser feito e desfeito a todo instante. Como destaca 
Fontes (2007), esse corpo apresentador de si mesmo surge nos anos 1980 a partir 
das atividades físicas em academias, do cuidado com a alimentação e da ingestão 
de suplementos, do encanto pelo volume dos músculos, bem como do triunfo das 
cirurgias estéticas. Essas práticas implicam a adoção de um projeto de construção 
de si e do corpo a partir da adesão a uma série de técnicas, comportamentos e 
hábitos que têm como o objetivo a modificação, o aperfeiçoamento e a correção 
do corpo a partir de padrões vigentes na atualidade.
TÓPICO 2 | O CORPO E AS FORMAS DE SUBJETIVAÇÃO
19
Sibilia (2002) entende que as transformações do lugar do corpo na con-
temporaneidade atendem uma continuidade do projeto biopolítico de higiene 
e controle das populações que foi iniciado no século XVII, como desenvolveu 
Michel Foucault em suas obras, realizada a partir de medição, estatísticas e 
uma pedagogia para eliminação da degeneração e potencialização da vida 
útil na sociedade industrial. Avalia a autora que, na contemporaneidade, esse 
processo acontece a partir do descolamento do contexto da produção industrial 
e das relações capital-trabalho para o consumo com a emergência da figura do 
consumidor preocupado com o manejo dos riscos e com como o corpo está sujeito 
a esses riscos, como doenças, gordura, aparência, etc.
Tais práticas, analisa Ortega (2008), fazem emergir a bioascese, uma so-
ciabilidade em que se adequa à moralidade da saúde, do fitness e que constitui 
uma bioidentidade a partir do valor do corpo saudável e adequado a um padrão 
estético. De acordo com o autor, as mudanças nos laços sociais levam à emer-
gência da lógica da cultura somática biossociabilidade porque, diante da erosão 
dos modelos tradicionais, há um deslocamento para o corpo e, portanto, para 
a individualidade. Nesse contexto, as marcas no corpo constituiriam formas de 
reestabelecer as relações entre indivíduo e cultura.
Esse corpo, dirá Fontes (2007), é a negação dos efeitos do tempo e da depre-
ciação causada pelos agentes cronológicos na anatomia do corpo. Para escapar 
desse processo, seja da obesidade ou da velhice, recorre-se a métodos cada vez 
mais sofisticados e eficientes de modelação do corpo. De acordo com Sibilia 
(2002), o desenvolvimento de uma gama enorme de tecnologias, na atualidade, 
permite a produção de novos discursos, novos modos de subjetivação e novas 
formas de pensar, sentir e viver o corpo. Segundo a autora, o progresso alcançado 
pela biotecnologia proporciona essa possibilidade de mudanças no processo vital 
por meio do controle sobre todas as limitações biológicas:
[...] a tecnociência contemporânea almeja ultrapassar todas as 
limitações bio-lógicas ligadas à materialidade do corpo humano, rudes 
obstáculos orgânicos que restringem as potencialidades e as ambições 
dos homens. Vários deles correspondem ao eixo temporal da existência. 
A fim de romper essa barrei-ra imposta pela temporalidade humana, 
portanto, o armamento científico--tecnológico é colocado a serviço da 
reconfiguração do que é vivo e em luta contra o envelhecimento e a 
morte (SIBILIA, 2002, p. 49).
Na contemporaneidade, a busca pelo corpo jovem e uma tentativa de 
corrigir a marca da passagem do tempo inscrita promove a ascensão de tecnologias 
para a modificação dessas marcas, valorizando o corpo belo e vigoroso. Coberto 
por signos distintivos, o corpo, apesar de aparentemente mais livre por seu maior 
desnudamento e exposição pública, é, na verdade, muito mais constrangido por 
regras sociais interiorizadas.
Pode-se dizer que ter o corpo em forma promove nos indivíduos uma 
confor-midade com estilos de vida e a gratificação de pertencimento a um deter-
minado grupo. Disso decorre uma necessidade de manter um cuidado acentuado 
UNIDADE 1 | CORPO; MENTE E CONTEXTO SOCIAL
20
com o corpo, na medida em que esse constitui elemento central da identidade naesfera pública. O percurso do corpo na contemporaneidade perpassa o desen-
volvimento de biotecnologias aliadas ao advento da sociedade de consumo, que 
promove o corpo como um importante capital nas relações sociais.
Norbet Elias, em a Solidão dos Moribundos e Envelhecer e Morrer, apresenta 
uma análise socio-lógica sobre o corpo, a morte e velhice enquanto questões da socie-
dade moderna. A partir da leitura desses dois breves textos, é possível compreender que o 
conhecimento das causas das doenças, do envelhecimento e da morte pela ciência, em 
certa medida, permitiu que toda a exterioridade da afetação do corpo pela doença fosse, 
em maior grau, controlado, mas também demonstra o incômodo causado pela velhice, 
que representa, como última etapa do curso vida, a proximidade com a morte. Por isso, o 
autor, já velho quando escreve esses textos, aponta o terror da sociedade moderna em sa-
ber sobre a fragilidade e a finitude, o que tornou a proximidade com a morte um problema 
para os seres humanos (ELIAS, 2001).
NOTA
3 CORPO E SUBJETIVIDADE
O corpo pode ser entendido como o primeiro instrumento da cultura. 
Cada sociedade, em diferentes épocas, desenvolveu práticas e técnicas para o uso 
dos corpos. Enquanto produto e processo das práticas e valores da sociedade na 
qual está inserido, carrega o estilo de vida e valores socialmente compar-tilhados 
dos indivíduos que o portam (MAUSS, 1974).
Em cada momento histórico, um modelo corporal será valorizado, o que 
significa que a “natureza” do corpo é produzida conforme o contexto social, cul-
tural e econômico em que esteja inserido. Os corpos, antes de um dado anterior à 
cultura, participam ativamente de sua produção, já que, desde o nascimento até 
a morte, sofre interferências, constituindo os sujeitos que os portam conforme a 
cultura a que pertencem.
Como destaca Le Breton (2009), não é possível pensar o corpo sem consi-
-derar o sujeito porque não são entidades separadas, embora a cultura ocidental 
moderna tenha reforçado essa separação. Sua presença acompanha os proces-sos 
sociais e culturais e o modo como os sujeitos habitam o mundo, informa sobre tais 
processos, constitui uma realidade mutável de uma determinada sociedade e ex-
pressa as moralidades e as normas sociais de cada época. Nesse sentido, corpo é 
uma superfície por meio da qual as diferentes formas culturais podem se expres-
sar, materializando uma sociedade a partir da constituição das subjetividades.
TÓPICO 2 | O CORPO E AS FORMAS DE SUBJETIVAÇÃO
21
Mauss (1974) afirma que o corpo é o primeiro objeto técnico dos seres hu-
manos. O antropólogo reflete sobre a maneira como as sociedades constituem os 
usos dos corpos, a expressão dos sentimentos e as reações fisiológicas como parte 
de um sistema simbólico que permita que se compartilhe e compreenda porque 
faz parte do sistema social da qual os indivíduos participam.
O social é entendido como um sistema, uma totalidade que não é apenas a 
recomposição de diferentes aspectos, mas também é parte da experiência indivi-
dual, ligando social e individual, fisiológico e psicológico. O plano psíquico é en-
tendido como uma tradução da estrutura social, tendo em vista que a sociedade 
se expressa simbolicamente a partir de seus costumes, ins-tituições, e as condutas 
individuais seriam os meios pelos quais o sistema simbólico se constitui.
Lévi-Strauss (2003) destaca que, para Mauss (1974), o inconsciente seria o 
mediador entre o eu e o outro porque os fenômenos fundamentais do espírito hu-
mano se situam no nível do inconsciente. A partir da noção de fato social, consi-
dera a história individual, as formas de expressão (fisiológicas e represen-tações) 
e as modalidades sociais em um sistema de interpretação que explique ao mesmo 
tempo a dimensão sociológica, histórica e os aspectos fisiológicos e psicológicos. 
O fato social total é apreendido em uma sociedade localizada no tempo e espaço 
e nos indivíduos pertencentes a essas sociedades porque é nesses que as culturas 
e todos os seus aspectos se integram.
Considerando essa perspectiva é que o autor entenderá que, ao longo da 
socialização em uma dada cultura, os seres humanos aprendem uma arte de uti-
lizar o corpo. Esse processo se realiza por meio de inculcação dos padrões cultu-
rais, um processo subjetivante que constituirá um habitus. A ideia de hábitos sig-
nifica que as formas de pensar, sentir e agir são aprendidas por meio das técnicas 
corporais. Para Mauss (1974, p. 401), as técnicas corporais são as “[...] maneiras 
pelas quais os homens, de sociedade em sociedade, de uma forma tradicional, 
sabem servir-se de seu corpo”.
Mesmo quando se vive a experiência corporal como individual, dirá Le 
Breton (2009), a expressão corporal é socialmente modulável porque é por meio 
da relação social que o corpo ganha contornos que o tornam reconhecível enquan-
to pertencente a uma determinada comunidade. O corpo constitui um mediador 
que possibilita imprimir as crenças e emoções que formam a vida social, seja por 
meio de perfurações, regimes, pinturas, deformações, circunci-sões, atrofiamento 
de membros, tatuagens, práticas estéticas, etc., que marcam a forma como os indi-
víduos devem ser intelectual e fisicamente e exprime a sua posição em diferentes 
grupos ou segmentos em uma determinada sociedade.
Foucault (2006) entende que o corpo e sua materialidade se tornam im-
-portante na sociedade capitalista e o meio pelo qual o poder se manifesta. Por 
isso, afirma que não existe nada mais material, mais corporal que o exercício do 
poder ao questionar se “[...] antes de colocar a questão da ideologia, não seria 
UNIDADE 1 | CORPO; MENTE E CONTEXTO SOCIAL
22
mais materialista estudar a questão do corpo, dos efeitos do poder sobre ele” 
(FOUCAULT, 2006, p. 148).
Ao considerar a dimensão positiva do poder, isto é, em seu caráter pro-
dutivo, o autor destaca que seu exercício opera como uma rede de dispositivos 
ou mecanismos a partir de uma capilaridade de que ninguém escapa — penetra 
na vida cotidiana, em formas díspares e heterogêneas, intervindo materialmente 
nos indivíduos por meio de um controle minucioso de seus corpos, com gestos, 
atitudes, comportamentos, hábitos, discursos.
Como destaca Veiga-Neto (2007), o efeito desse micropoder é uma ação 
sobre ações, produzindo almas, ideias, saber, moral, ou seja, o foco na corpo-rei-
dade como ponto importante para a atuação de correlações de forças sociais. Não 
há polos antagônicos — um sujeito que o pratica e um objeto que o sofre —, mas 
sujeitos que participam em um mesmo jogo, tendo em vista que o poder se exerce 
e só existe em ação, trata-se de uma relação.
A disciplina do corpo, por meio de métodos de exame, produção de da-
dos, espaços de vigilância, prática confessional, produção de saberes sobre o cor-
po e de documentos que atestem uma determinada verdade, exames médicos e 
esquadrinhamento e, mais recentemente, as transformações estéticas, desen-vol-
ve o controle e a produção de sujeitos na sociedade ocidental.
Ao focar nas técnicas de disciplinamento do corpo, Veiga-Neto (2007) reve-
la a constituição da sociedade capitalista moderna e as minuciosas estratégias de 
poder e saber que tomaram o corpo como um importante alvo para potencializar 
a acumulação de capital. Na compreensão de Foucault (2006), o corpo é o campo 
por meio do qual as forças sociais atravessam e o constituem enquanto realidade.
As tecnologias de poder, ao investirem no corpo, produzem um conjunto 
de efeitos nos comportamentos, nos sujeitos, nos corpos e nas relações sociais. As 
mudanças na atualidade em relação ao corpo, com o avanço da medicina e das 
tecnologias, transformam as formas de produção dos corpos, que se tornam palco 
no qual se apresentam múltiplas possibilidades porque podem ser manipulados 
e modificados digital e cirurgicamente. Nesse sentido, a indústria da beleza emer-
ge como uma nova forma de controle dos corpos e de subjetivação. Por isso, os 
corpos podem ser entendidos como uma espéciede bricolagem, em que o foco 
é o corpo que se pode aprimorar por meio do consumo de tecnologias e valores.
4 CULTURA DO CONSUMO E CORPORALIDADES
As mudanças sociais e econômicas realizadas no século XIX, com a Revo-
lução Industrial, consolidam uma cultura do consumo a partir da formação 
dos mercados e constituem uma nova forma de sociabilidade. A cultura do 
consumo, esclarece Trinca (2008), desenvolve-se na Europa a partir da bur-guesia 
e expande-se na medida em que o capitalismo avança. Para tanto, há um processo 
TÓPICO 2 | O CORPO E AS FORMAS DE SUBJETIVAÇÃO
23
de produção do desejo em que a aparência e a aquisição de bens vão constituindo 
sinais de prestígio, expressão da individualidade e bem-estar.
Cultura do consumo, nesse sentido, diz respeito ao consumo não apenas 
de objetos, mas de imagens e valores que se associam a comportamentos, modos 
de pensar e sentir de diferentes grupos. A difusão da indústria da mídia, assim 
como os avanços biotecnológicos e a ascensão da indústria da beleza, produz 
novas formas de relação com os corpos e a relação entre saúde, bem-estar e 
melhoramento estético (TRINCA, 2008).
Como aponta Trinca (2008, p. 110), o corpo transforma-se no mais 
precioso componente na sociedade do consumo “[...] traduzida pelo império das 
logomarcas, pela produção do supérfluo e do descartável, pela era da imagem e 
do simulacro, pela estetização do cotidiano e pela valorização da aparência avança 
enquanto terreno estratégico para a exploração do corpo como objeto rentável”.
Nesse sentido, Costa (2004) ressalta que a sociedade contemporânea se 
tornou predominantemente somática, isto é, uma cultura em que a regulação do 
comportamento se dá a partir do consumo e do culto ao corpo. O corpo também 
se torna obsoleto à medida que novas formas de adequação vão surgindo com 
descobertas científicas, aprimoramento das técnicas cirúrgicas, avanços no setor 
de beleza e cosmética.
Trinca (2008) afirma que essa sociedade se constitui em uma era de 
plas-ticidade em que o consumidor pode assumir múltiplas formas a partir das 
transformações do corpo. Enquanto sociedade que se sustenta pela adoção de 
imagens de corpos que se adequem ao padrão canônico, o investimento no corpo 
não significa apenas o consumo de serviços e produtos, mas de modos de vida. 
Para Fontes (2007), é a presença de um padrão físico-corporal que passa a ser 
considerado na corporeidade canônica na contemporaneidade, um tipo de corpo 
que é publicizado a partir da comunicação de massa como desejável, sinônimo de 
beleza, saúde e bem-estar.
Esse corpo, conforme a autora, seria o efeito de um investimento em 
práticas e comportamentos que objetiva a reconfiguração, a partir de um 
conjunto de discursos, práticas e procedimentos, do corpo, de modo a torná-lo 
culturalmente adequado, capaz de atender às exigências de uma sociedade do 
espetáculo.
Goldenberg e Ramos (2002) entendem que as transformações nos códigos 
de decência e obscenidade produzem uma nova moralidade sob a liberação física 
e sexual a partir da conformidade a determinado padrão estético, aquele da boa 
forma. Por trás dessa aparente liberação dos corpos, encontra-se um “processo 
civilizador”, ou seja, é possível expor seu corpo com a condição de que haja um 
maior autocontrole de sua aparência física. Isso passa a ser posto em evidência 
pelos meios de comunicação, que nos bombardeiam diariamente com imagens de 
rostos e corpos perfeitos.
UNIDADE 1 | CORPO; MENTE E CONTEXTO SOCIAL
24
As regras subjacentes para tal exposição do corpo são fundamentalmente 
estéticas. Como diz Fontes (2007), esse corpo, antes de ser belo, não pode ser gordo, 
deve manter-se saudável, submetido a um regime de exercícios, suplementos e 
alimentação. O corpo que não se perfila a esse projeto tende a ser classificado 
como um corpo dissonante porque não adotaria as técnicas para reformulação 
e adequação estética, o que provocaria reações diversas de estranhamento, 
tornando-se consumível apenas se apresentado sob a forma de espetáculo ou 
denúncia. Ancora-se, então:
[...] em elementos relacionados à juventude e ao vigor, referente a um 
corpo levado aos limites da potencialização de força e beleza mediante 
a adoção de um conjunto de técnicas e estratégias que vão desde os 
exercícios físicos às cirurgias plásticas estéticas, passando por dietas, 
consumo de produtos cosméticos e determinados estilos de vestuários 
(FONTES, 2007, p. 73).
Por isso, para atingir os padrões ideais de exposição, devem investir na 
força de vontade e na autodisciplina, estimulando o autocontrole da aparência 
física. Desse modo, Goldenberg e Ramos (2002) destacam que, sob essa moral 
da boa forma, um corpo trabalhado, cuidado, sem marcas indesejáveis (rugas, 
estrias, celulites, manchas) e sem excessos (gorduras, flacidez) é o único que, 
mesmo sem roupas, está decentemente vestido. A gordura se torna uma inimiga 
da boa forma, considerada quase uma doença.
Em uma cultura que julga a partir da forma física, não basta não ser gordo, 
é preciso ser firme e musculoso, livrando-se de qualquer sinal de relaxamento 
ou moleza. O aparecimento de tais sinais é tomado como indisciplina, desleixo, 
preguiça, falta de virtude e investimento em si mesmo. Como se percebe, a 
forma do corpo agora é produto de um trabalho individual sobre si mesmo, em 
que os indivíduos são responsáveis por sua aparência física. Nesse processo, a 
mídia e, especialmente, a publicidade têm um papel fundamental, que se faz ser 
legitimado pelos discursos científicos de especialistas.
O corpo se tornou o objeto central tanto da publicidade quanto do 
consumo em uma sociedade que se calca na máxima “consumo, logo sou”. Para 
Trinca (2008, p. 121-122):
[...] há toda uma ideologia do bem-estar e da autoestima, de ideias de 
felicidade, símbolos, significantes e significados que orientam práticas 
e discursos com relação ao corpo. É possível relacionar a busca pelo 
“corpo perfeito” ao discurso do homem-máquina ou do pós-orgânico, 
que almeja o “aperfeiçoamento” da condição humana por meio da 
criação das novas tecnologias.
Segundo destaca Sibília (2005), a ênfase no padrão estético canônico como 
beleza acompanha as práticas virtuais contemporâneas de edição de imagens 
para retocar e corrigir algumas marcas que são consideradas defeitos. Desse 
modo, dirá a autora, “[...] as imagens expostas no mercado de produtos, serviços 
e aparências aderem a um ideal de pureza digital, longe de toda imperfeição 
TÓPICO 2 | O CORPO E AS FORMAS DE SUBJETIVAÇÃO
25
toscamente analógica e de toda viscosidade orgânica demais” (SIBILIA, 2005, 
p. 7). Essas imagens trabalhadas digitalmente impregnam a subjetividade, 
convertendo-se em objetos de desejo a serem alcançados e aplicados na matéria. 
Os corpos digitais exigidos por meios da publicidade ou nas mídias digitais são 
desenhados para serem exibidos, observados e consumidos.
A ampliação da indústria da beleza se articula com esse processo de nor-
matização dos corpos digitais que é acompanhado pelo avanço da produção de 
conhecimentos para o melhoramento do corpo. Assim, afirma Trinca (2008), o 
mercado das aparências é formado por diversos profissionais especializados 
em diferentes tratamentos, bem como por produtos que prometem, a partir da 
inovação tecnológica, que se alcance o corpo ideal com esforço mínimo.
Os meios de comunicação, tal qual o sonho da ciência, oferecem modelos 
e estratégias para a fabricação de uma corporeidade ideal. O corpo se torna uma 
mercadoria que precisa ser apresentada pela publicidade a partir da utilização das 
produções de diferentes campos do conhecimento sobre o corpo. Nesse sentido, 
articulam-se os saberes das ciências biomédicas e a produção de bens, em que as 
mercadorias oferecem os valores associados a uma corporeidade canônica que, 
consequentemente, torna-se o arquétipo da felicidade (TRINCA, 2008).
Como salienta Trinca (2008, p. 132):
O fato de que as mercadorias ofereçam o conteúdo que pareça ser 
uma solu-çãopara os “problemas corporais” e existenciais (isto é, 
falta de autoestima se resolve com cirúrgica estética!) torna o mercado 
extremamente efetivo inclusive como instrumento de despolitização e 
submissão, revelando que o consumismo e a preocupação com o corpo 
fazem parte de novos valores e ideais do capitalismo avançado.
Santos et al. (2019) destacam que, na sociedade do consumo, o mercado 
corporal tem propiciado o desenvolvimento do narcisismo porque, por meio da 
espetacularização do corpo é que se passa a fazer comparações e se encarna status 
e estilos de vida. Por isso, por meio do marketing, tem-se construído o vínculo 
entre estilos de vida com produtos específicos, tal qual o corpo enquanto elemen-
to que manifestaria a individualidade de cada um. Assim, “não basta somente 
consumir o produto, ele tem de ser incorporado, tornar-se índice subjetivante. 
Não só o produto representa status, como também promete tornar o corpo mais 
‘competitivo’ no mercado simbólico” (SANTOS et al., 2019, documento on-line).
O corpo agrega valores a partir dos produtos e serviços voltados ao seu 
melho-ramento e modificação. Constitui-se, na contemporaneidade, em mais 
uma mer-cadoria sob a qual torna possível a acumulação do capital, consideran-
do o caráter subjetivante, isto é, enquanto produtor e produto dos processos de 
subjetivação. O consumo tem um papel central no processo de subjetivação na so-
ciedade atual, de modo que o sujeito se insere, com seu corpo, em uma sociedade 
do consumo e do espetáculo enquanto consumidor, produzindo-se a partir dos 
desejos e das mediações que as práticas de consumo cumprem nesse contexto.
26
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
• As formas de subjetivação sob a perspectiva do corpo na pós-modernidade.
• O Relacionar do corpo com a constituição do "eu".
• A relação do corpo com a cultura do consumo.
27
1. “O corpo se apresenta como um campo de exploração e indagação para to-
das as chamadas ciências humanas, bem como para diversas áreas das ciências 
naturais. É também objeto de um grande número de atividades culturais não 
vinculadas à ciência”. (ÁVILA, 2012, p.52). Diante disso, escreva como o corpo 
é subjetivo na esfera humana.
Fonte: ÁVILA, Lazslo Antonio. O corpo, a subjetividade e a psicossomática. Tempo psicanalí-
tico, Rio de Janeiro, v.44, n.1, 2012.
Questão 2 – “O corpo tem uma dimensão social traduzida em sua materialida-
de econômica e nas instâncias sociais em que o corpo é regulado e instituído”. 
(ÁVILA, 2012, p.52). Diante disso, escreva como o consumo interfere na con-
cepção de corpo dos seres humanos.
Fonte: ÁVILA, Lazslo Antonio. O corpo, a subjetividade e a psicossomática. Tempo psicanalí-
tico, Rio de Janeiro, v.44, n.1, 2012.
AUTOATIVIDADE
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29
TÓPICO 3
AS IMAGENS SOCIAIS DO CORPO
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
Ninguém sabe qual é o poder do corpo nem o que é possível deduzir 
apenas da consideração da sua natureza. Nem o corpo pode determinar o espírito 
a pensar, nem o espírito pode determinar o corpo em movimento, em repouso ou 
nalgum outro estado que seja. (Espinosa, 1973, p. 185)
Um dos paradoxos do conhecimento respeita, com efeito, o conhecimento 
do corpo pelo corpo. Não conhecemos as coisas senão pelo corpo, mas não 
sabemos como nosso corpo conhece nem quem conhece através do nosso corpo. 
(Atlan, 2000, p. 93)
2 DA CULTURA CORPORAL DO MOVIMENTO HUMANO ÀS 
CIÊNCIAS DO MOVIMENTO HUMANO
Os discursos sobre os corpos que se exercitam são muitos. Em nossa 
sociedade, as interpretações sobre as representações dos corpos constituem objeto 
relevante de investigação nas diversas formas de expressão do conhecimento. 
Do senso comum à filosofia, passando pelo olhar científico, religioso, artístico e 
político, “o corpo atravessa os discursos e metamorfoseia-se, mas não se dissolve” 
(Silva, 1999, p. 22).
O presente capítulo é mais um discurso sobre os corpos que se exercitam. 
O objetivo é propor espaços onde se possam reunir elementos para a configuração 
de uma cartografia sobre os corpos que jogam, dançam, praticam esportes, fazem 
ginástica, teatro, etc. Refirome a espaços próprios de investigação, de expressão, 
de interpretação e de aprendizagem sobre a corporalidade. Enfim, trata-se de um 
campo de estudo sobre as manifestações corporais que, inequivocamente, assume 
papel preponderante em nossa existência. São saberes e conhecimentos diversos 
sobre uma variedade imensa de técnicas e tecnologias corporais com múltiplas 
formas e significados existenciais.
Este capítulo propõe a demarcação de dois territórios passíveis de reunir 
os múltiplos discursos sobre a corporalidade: (1) a cultura corporal do movimento 
hu-mano; e (2) as ciências do movimento humano:
30
UNIDADE 1 | CORPO; MENTE E CONTEXTO SOCIAL
1. A cultura corporal do movimento humano como um espaço amplo de cognição 
que abrange saberes complexos. Articulação de saberes e conhecimentos 
diversos, sejam estes provenientes do senso comum, da ciência, da filosofia, da 
religião, das artes, etc. Saberes e conhecimen-tos plurais sobre a corporalidade. 
Um conhecimento lato.
2. As ciências do movimento humano como um olhar restrito, um recorte 
no espaço amplo da cultura corporal do movimento humano. Um campo 
de investigação limitado às regras do conhecimento científico. Saberes e 
conhecimentos normatizados por uma abordagem hipotético-dedutiva. Um 
conhecimento estrito.
3 A CULTURA CORPORAL DO MOVIMENTO HUMANO
Ao longo da história, homens e mu-lheres têm produzido conhecimentos 
e técnicas visando a atender seus interesses e necessidades. Como produto de sua 
criação, na expressão evidente de sua humanidade, fabricaram-se ferramentas 
para o trabalho e armas para a defesa e para a caça; cultivou-se a agricultura e 
desenvolveu-se a pecuária. Homens e mulheres dominaram o fogo, formaram 
crenças e mitos para explicar os fenômenos da natureza, fundaram religiões 
que religaram e deram sentido à existência no mundo desconhecido. Por meio 
das artes, fizeram de sentimentos expressões visíveis nas rochas, nos utensílios, 
nas telas e na própria pele tatuada e prolongada por adornos que lhe atribuem 
significado e identidade (Gaya; Torres, 2004). A linguagem instaurou-se como 
forma de expressão e comunicação. Dos corpos, do movimento, da expressão, da 
comunicação e da linguagem, forma-ram-se distintos domínios culturais.
Como afirmam Bento, Garcia e Gra-ça (1999, p. 109):
Esses domínios culturais configuram construções de sentidos 
humanos da vida, com modificações da sua forma de expressão 
em concordância com a respectiva situação histórico-social e na 
dependência da força criativa de pessoas e grupos. Mais ainda, os 
domínios culturais distinguem-se uns dos outros precisamente pelo 
teor dos sentidos constituintes da sua estrutura interna, assim como 
por instituições sociais específicas e pelo surgimento de estruturas de 
normas e valores.
Contudo, foi por meio do movimento, da expressão e da consciência 
corporal, da inteligência cinestésica, enfim, do reconhecimento de uma alma 
reencarnada, que homens e mulheres desenvolveram um conjunto de práticas 
com diversas formas e sentidos: a dança, o jogo, a luta, a ginásica, o esporte, o 
teatro, o circo, as terapias corporais, etc. Essas práticas corporais são polissêmicas 
e polimorfas (Bento, 2004; Bento; Garcia; Graça, 1999). Trata-se de uma série de 
linguagens e expressões corporais ricas de humanidade. Homens e mulheres, para 
além de expressões de sentimentos, motivações, desejos e crenças, desenvolveram 
e desenvolvem uma imensa tecnologia gestual, uma panóplia de ações: andar, 
TÓPICO 3 | AS IMAGENS SOCIAIS DO CORPO
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correr, saltar, nadar, lançar, aparar, rolar, girar, pedalar, deslizar, chutar, rebater, 
dançar, representar. A todos e a cada um desses gestos, atribuem-se múltiplos 
sentidos e formas, o que vai muito além das exigências meramente funcionais.
FIGURA 4 - ELEMENTOS DA CULTURA
FONTE: O autor.
42 Adroaldo Gaya e Cols.
nhecimentos diversos,

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