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MONOGRAFIA.JONNEZ.URCA.1.PDF_MERGE_20220209081457

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI- URCA 
CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS APLICADOS- CESA 
CURSO DE DIREITO 
 
 
 
 
 
 
JONNÊZ PEREIRA BEZERRA 
 
 
 
 
 
OS IMPACTOS DO USO DE LAWFARE NO BRASIL E A SUA INFLUÊNCIA NAS 
DINÂMICAS DA GEOPOLÍTICA 
 
 
 
 
 
 CRATO- CE 
2021 
 
JONNÊZ PEREIRA BEZERRA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
OS IMPACTOS DO USO DE LAWFARE NO BRASIL E A SUA INFLUÊNCIA NAS 
DINÂMICAS DA GEOPOLÍTICA 
 
Projeto de Pesquisa apresentado à disciplina 
de Monografia I como requisito parcial para 
aprovação na referida disciplina do Curso de 
Direito da Universidade Regional do Cariri-
URCA, tendo como orientador a Prof. Me. 
Antonio Ambrósio de Oliveira. 
 
 
 
 
 
 
CRATO- CE 
2021 
 
 
CIP - Catalogação na Publicação 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Bezerra, Jonnêz Pereira 
OS IMPACTOS DO USO DE LAWFARE NO BRASIL E A SUA INFLUÊNCIA NAS 
DINÂMICAS DA GEOPOLÍTICA / Jonnêz Pereira 
Bezerra. - 2021. 
38 f. 
Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) apresentado ao Instituto 
de Ciência Jurídicas da Universidade Paulista, Crato, 2021. 
Área de Concentração: Direito Constitucional. Direito Internacional.. 
Orientador: Prof. Me. Antônio Ambrósio de Oliveira. 
1. Lawfare. 2. Ativismo Judicial. 3. Judicialização da Política . 4. Guerra 
Híbrida . 5. Suspeição . I. de Oliveira, Antônio Ambrósio (orientador). 
II.Título. 
 
JONNÊZ PEREIRA BEZERRA 
 
 
 
 
 
 
OS IMPACTOS DO USO DE LAWFARE NO BRASIL E A SUA INFLUÊNCIA NAS 
DINÂMICAS DA GEOPOLÍTICA 
 
Esta monografia foi julgada adequada para a obtenção do grau de Bacharel em 
Direito e aprovada em sua forma final pela banca examinadora do Curso de Direito 
da URCA. 
 
Data de Aprovação ______ de____________________de 2021 Banca examinadora: 
 
 
 
___________________________________________________________ 
Orientador: Prof. Dr. Ambrósio de Oliveira 
 
 
___________________________________________________________ 
Membro 
 
 
___________________________________________________________ 
Membro 
UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI – URCA 
CENTRO DE ESTUDOS DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADOS – CESA 
CURSO DE DIREITO 
 
 TERMO DE RESPONSABILIDADE AUTORAL 
 
Declaro para os devidos fins que eu ________________________________, aluno 
do Curso de Direito do Crato – URCA matricula nº__________, responsabilizo-me 
pela Monografia apresentada como Trabalho de Conclusão do Curso de Bacharel 
em Direito sob o título, OS IMPACTOS DO USO DE LAWFARE NO BRASIL E A 
SUA INFLUÊNCIA NAS DINÂMICAS DA GEOPOLÍTICA, isentando, mediante o 
presente termo, a Universidade de qualquer responsabilização, consequência de 
ações atentatórias à “Propriedade Intelectual”, assumindo as responsabilidades civis 
e criminais decorrentes de tais ações. 
Local: ________, _____ de _________ de _____ 
 
 
______________________________________________ 
AUTOR MATRÍCULA Nº 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
Este trabalho objetiva verificar os danos causados pelo uso de lawfare nos âmbitos 
jurídico, político e econômico no Brasil e sua evolução histórica nos períodos de 
2004 a 2019. Nesse contexto, a investigação tem como objetivo geral propor uma 
avaliação dos impactos políticos e de suas implicações na atualidade. Partindo da 
hipótese de que a alteração nas dinâmicas da geopolítica no mundo se dá de modo 
a violar direitos humanos e sociais; como a não observância de direitos e garantias 
fundamentais em processos judiciais, busca-se aqui; entender os impactos que este 
fenômeno causa não só às instituições que compõem o Estado, mas também aos 
Estados Democráticos de Direito. Para alcançar esse objetivo percorreu-se o 
seguinte roteiro: No capítulo um abordaram-se os conceitos: a história e origem do 
termo lawfare; a contextualização e o momento político vivenciado pela América 
Latina nesse período; o conceito de culturalismo histórico; o problema da corrupção 
como pretexto para o uso de lawfare e a recente repercussão midiática do termo. No 
capítulo dois buscou-se analisar: o conceito de ativismo judicial; a judicialização da 
política e o conceito de guerras híbridas. No capítulo três examinou-se: o fenômeno 
de lawfare fronte as legislações dos direitos nacional e internacional assim como o 
disposto nas jurisprudências do STF e do CNJ; o direito penal como ultima ratio, 
onde buscou-se fazer uma síntese das consequências de denúncias de suspeição 
com relação à casos práticos onde se averiguou uso de lawfare e seus 
desdobramentos futuros. O presente trabalho é uma pesquisa documental e 
bibliográfica de caráter qualitativa, na qual usou-se os métodos dialético e dedutivo. 
Desse modo essa pesquisa obteve um resultado que é tanto descritivo como 
explicativo do fenômeno ao qual se propôs a estudar, vislumbrando assim seus 
sentidos e contextualizando o seu surgimento, mostrando também seus fatores 
determinantes e os motivos por trás destes. 
Palavras chave: Lawfare Brasil. América Latina. Direito e Geopolítica. Direitos 
Humanos e Sociais. 
 
 
ABSTRACT 
 
This essay has the objective of veryfing the damages caused by the use of lawfare in 
the political, juridical and economical scopes in the Brazil and its evolution in the 
period of 2004 to 2009. In that context, the investigation has the general objective of 
proposing an avaliation of the political impact in the atuality. Following the hypothesis 
that the alteration in the geopolitical dinamics in the world violate the social and 
human rights; as the non-observance of fundamental rights in judicial process, in this 
essay we try to understand the impacts that this fenomenon cause not only to the 
institutions that make the state but also to the Democratic States. To reach this 
objective the following procedure has been used: In chapter one the following 
subjects are discussed: the history and origin of the term "lawfare"; the 
contextualization and the political moment that the Latin America was going trough at 
that moment; the concept of historical culturalism; the problem of corruption as a 
pretext for the use of lawfare and the recent repercution of the term in the media. In 
chapter 2 the following subjects are discussed: the concept of judicial activism; the 
judicializatiom of politics and the concept of hybrid wars. Chapter 3 examines: the 
fenomenon of lawfare in oposition to the legislations of the national and international 
right as like the presented in the jurisprudence of the STF and the CNJ; the penal 
right as last ratio, making a sinthesys of the consequences of the acusations of 
suspicion in relation to pratical cases where has been verified the use of lawfare and 
ita future unfoldings. The present essay is a documental and blibiographic search of 
qualitative character, wich has used the dialetic and deductive method. This search 
has obtained a result that is both descritive and explicative of the fenomenon wich is 
studied in the present essay, observing their meanings and contextualizing it's origin, 
showing it's determining factors and the resons behind it. 
Key Words: Lawfare in Latin America. Law ans Geopolitcs. Social Rights. 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 8 
2 CAPÍTULO I - HISTÓRIA E ORIGEM DO TERMO LAWFARE ......................... 10 
2.1 Contextualização e Conceitos .................................................................. 10 
2.1.1 O Contexto Político da América Latina .................................................. 14 
2.1.2 Breve Apanhado das Dinâmicas do Poder na América Latina .............. 16 
2.2 O Problema da Corrupção Como Pretexto Para o Uso de 
Lawfare ................................................................................................................. 18 
2.2.1 Conceito de Culturalismo Histórico ........................................................20 
2.2.2 A Repercussão Midiática do Termo Lawfare ......................................... 21 
3 CAPÍTULO II ...................................................................................................... 24 
3.1 Conceito de Ativismo Judicial .................................................................. 24 
3.1.1 Judicialização da Política ....................................................................... 27 
3.1.2 Do Conceito de Guerra Híbrida ............................................................. 30 
4 CAPÍTULO III ..................................................................................................... 35 
4.1 O que Dispõem as Legislações Nacionais e Internacionais a 
Respeito do Uso de Lawfare ............................................................................... 35 
4.1.1 A Operação Lava Jato e o Uso Sistemático de Lawfare ........................ 37 
4.1.2 A Extraterritorialidade dos Estados Unidos da América ........................ 37 
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 40 
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 42 
8 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
Lawfare é entendida como uma forma ilegítima de atacar adversários políticos 
por meio da instrumentalização do judiciário em conjunto com o uso dos meios de 
comunicação em massa para destruir a imagem de oponentes. Hoje esse 
mecanismo é considerado uma ameaça ao Estado Democrático de direito, pois 
produz efeitos que vão além dos sujeitos e dos cargos envolvidos nesse processo, 
se estendendo também à dinâmica do poder e interferindo no equilíbrio da 
geopolítica mundial. 
Nesses termos surge o questionamento: Qual a real dimensão dos impactos 
sociais e políticos que o ato de lawfare, usada de forma sistematizada, vem 
provocando no Brasil nas últimas décadas? 
O uso sistematizado da lawfare como mecanismo que provoca mudanças na 
geopolítica ainda é um fenômeno pouco conhecido, apesar disso, sua relevância 
vem tomando cada vez mais corpo num mundo globalizado e de constantes 
transformações, desse modo, o desequilíbrio no contexto geopolítico de uma região 
de proporções continentais com vários países como no caso da América Latina, é o 
bastante para afetar todo o restante do globo. 
Desse modo, esse dimensionamento é de fundamental importância para 
detectar e corrigir os avanços da lawfare no mundo, assim como o avanço de suas 
consequências e implicações práticas e do enraizamento mais profundo destas. 
 Realizar essa detecção e corrigir os problemas causados por esse artifício 
sem ferir a independência e autonomia do Poder Judiciário é em si um problema de 
grandes proporções, mas é apenas uma parte de todo o dimensionamento que 
ocupa a análise aqui proposta. 
Ao fazer um apanhado com a evolução histórica do termo e suas implicações 
na atualidade, o seguinte projeto de pesquisa tem como proposta: observar e 
entender o fenômeno das práticas de lawfare por parte dos operadores do sistema 
judiciário no Brasil nos períodos de 2004 a 2019, avaliando seus impactos no 
equilíbrio geopolítico dos Estados Democráticos de Direito, assim como na violação 
de direitos humanos e sociais, na não observância do devido processo legal, no 
9 
 
enfraquecimento das instituições, na influência dos modelos político e econômico e 
em seus desdobramentos. 
As metodologias usadas no desenvolvimento deste trabalho quanto aos 
procedimentos perpassam a metodologia de pesquisa histórica: ao fazer uma 
apanhado da origem do termo e de sua evolução sendo também por excelência uma 
pesquisa bibliográfica e documental; passando na sequência para os métodos 
dialético e dedutivo: no ponto em que chega a uma conclusão em função das 
abordagens gerais e de seus conteúdos; também foi usado o método indutivo no 
qual foram analisadas situações particularizadas as quais conduziram a conclusões 
gerais, este último foi escolhido principalmente devido ao fato de não ser todo o 
judiciário que está envolvido no uso de lawfare. 
Quanto à natureza do objeto: se trata de uma pesquisa aplicada, pois tem 
como objetivo responder a um questionamento e na sequência aplicar melhorias e 
soluções para o problema em questão. 
Quanto à abordagem da investigação: se trata de uma investigação qualitativa 
devido à natureza do objeto de estudo e pela forma como ele se relaciona com todo 
o universo jurídico. 
Quanto aos objetivos, se trata de uma pesquisa que é tanto descritiva como 
explicativa, pois além de dar forma ao fenômeno estudado, também vislumbra seu 
sentido e contextualiza seu surgimento, mostrando os fatores determinantes e os 
motivos por trás destes. 
. 
 
 
 
 
 
 
 
10 
 
2 CAPÍTULO I - HISTÓRIA E ORIGEM DO TERMO LAWFARE 
 
2.1 Contextualização e Conceitos 
 
Lawfare é um termo que evoluiu com o tempo, tendo seu registro mais antigo 
na década de 1970; onde tratava de atos ligados ao direito internacional e a guerra, 
mais precisamente na instrumentalização mecanismos legais como forma de se 
fazer guerra. O uso do termo na contemporaneidade, nesse contexto, lawfare produz 
consequências que ultrapassam a simplória definição dada anteriormente a qual era: 
“o uso das leis como arma de guerra” (Jonh Carlson e Neville Yeomans, 1975), 
passando a designar mais ainda, constituindo o uso abusivo do judiciário, assim 
como das leis, para alcançar fins políticos, estratégicos ou militares, isso em 
conjunto com a mídia, para destruir também a imagem do oponente político, criando 
assim um novo campo de batalha: o legal. 
De início, sabe-se que o termo aparece pela primeira vez em 1975 num 
pequeno artigo escrito por Jonh Carlson e Neville Yeomans, onde ficava evidente o 
caráter acusatório individualista no direito ocidental, denominando assim a troca de 
armas por leis. 
O termo foi usado também no contexto da segurança nacional, onde Qiao 
Liang e Wang Xiangsui usam o termo num livro de estratégia militar chinês intitulado 
“Unrestricted Warfare” (1999); onde os autores entendem o uso de lawfare como 
uma extensão da guerra militar com o uso estratégico da política (LIANG, 1999). 
Logo depois que o termo foi usado por Charles J. Dunlap (2001), Coronel das 
Forças Armadas dos Estados Unidos, principal difusor do termo com projeção 
mundial, num artigo onde o autor define lawfare como: 
A estratégia de usar ou mal utilizar a lei como um substituto dos 
meios militares tradicionais para alcançar um objetivo operacional. 
Como tal eu enxergo o direito, neste contexto, como uma arma. 
(DUNLAP, 2001). 
O termo lawfare evoluiu com o tempo, as guerras antes físicas, agora 
pertencem ao âmbito dos tribunais onde as leis são usadas como armas. Sobre a 
evolução do termo, Scharf (2010) destaca a neutralidade do termo lawfare no 
11 
 
passado e como sua conotação evoluiu gradualmente, de forma que até pouco 
tempo esse termo era usado para descrever o modo como o direito internacional e 
os processos judiciais eram usados no sentido de denunciar o Estado no que se 
referia a questões de segurança nacional. Esse modus operandi poderia ser usado 
tanto pelo próprio Estado como por opositores ao governo bem como por outros 
governos e até por organizações não governamentais, advogados, diplomatas e até 
terroristas. 
Na acepção de Tiefenbrun (2010), para caracterizar lawfare se faz necessário 
também o uso da opinião pública no sentido de usar os meios de comunicação em 
massa para o descrédito público do inimigo: 
Lawfare é uma arma projetada para destruir o inimigo usando, 
maltratando e abusando do sistema legal e da mídia, a fim de 
levantar um clamor público contra aquele inimigo.” (TIEFENBRUN, 
2010). 
No decorrer do tempo, no contexto Latino Americano, com o panorama de 
globalização, em determinados aspectos o termo ganhou novas particularidades em 
sua conotação,particularidades estas inerentes às diferenças sociais e culturais e 
históricas da América do Sul. Recentemente o uso de lawfare recebeu grande 
destaque nas mídias brasileiras, principalmente através do seu uso em processos 
penais e operações judiciais contra políticos. 
No decorrer evolução das sociedades Sul Americanas existiu muitas 
situações onde a legislação, o Direito ou o processo penal foram usados com fins 
políticos, sociais e econômicos; a exemplo disso temos o Brasil onde podemos citar 
a histórica criminalização da vadiagem (Art. 59, Lei das Contravenções Penais); a 
Lei da Anistia após o período de Regime militar e a Operação Lava Jato da qual 
resultou uma forte e crescente popularização do tema nos últimos anos. 
A respeito da possível suspeição e das causas de impedimento do juiz; no 
sentido de impedir o uso de lawfare dispõe o ordenamento jurídico brasileiro no 
Código de Processo Penal; Artigo 254 do Decreto Lei nº 3.689 de 03 de Outubro de 
1941, in verbis: 
O juiz dar-se-á por suspeito, e, se não o fizer, poderá ser recusado 
por qualquer das partes: IV – se tiver aconselhado qualquer das 
partes; V – se for credor ou devedor, tutor ou curador, de qualquer 
12 
 
das partes; VI – se for sócio, acionista ou administrador de sociedade 
interessada no processo. (BRASIl, 1941) 
Também o Código de Ética da Magistratura aprovado pelo CNJ em 2018, no 
exercício da competência que lhe atribuíram a Constituição Federal (art. 103-B, § 4º, 
I e II), a lei orgânica da Magistratura Nacional (art. 60 da LC nº 35/79) e seu 
Regimento Interno (art. 19, incisos I e II): 
Artigo 1º. O exercício da magistratura exige conduta compatível com 
os preceitos deste Código e do Estatuto da Magistratura, norteando-
se pelos princípios da independência, da imparcialidade, do 
conhecimento e da capacitação, da cortesia, da transparência, do 
segredo profissional, da prudência, da diligência, da integridade 
profissional e pessoal, da dignidade, da honra e do decoro. (BRASIL, 
CNJ, 2018). 
Sobre a equidistância do juiz em relação às partes dispõe a Convenção 
Europeia de Direitos Humanos nos Artigos 6 e 21, onde abordam os princípios da 
equidade, publicidade, prazo razoável e também da imparcialidade e independência 
do tribunal julgador ao mesmo tempo em que dispõe sobre a impossibilidade dos 
juízes de exercerem atividades incompatíveis com as exigências de independência e 
imparcialidade. Também a Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de 
San José da Costa Rica), que passou a integrar a ordem jurídica brasileira desde a 
promulgação do Decreto nº 678, de 6 de novembro de 1992 dispõe: 
Art. 8, 1: Toda pessoa tem direito a ser ouvida, com as devidas 
garantias e dentro de um prazo razoável, por um juiz ou tribunal 
competente, independente e imparcial, estabelecido anteriormente 
por lei, na apuração de qualquer acusação penal formulada contra 
ela, ou para que se determinem seus direitos ou obrigações de 
natureza civil, trabalhista, fiscal ou de qualquer outra natureza. (SAN 
JOSÉ DA COSTA RICA, 1992) 
Ao analisar processos onde se podem verificar indícios de suspeição e 
sabendo-se dos perigos decorrentes de tal ato que constitui lawfare política, 
entende-se que casos de suspeição devem resultar na nulidade dos atos decisórios, 
desde o primeiro, que é o recebimento da denúncia. Todavia o dano moral e o 
fantasma da exposição midiática persistem. 
De início, vale ressaltar que o fenômeno estudado aqui afeta não todo, mas 
uma pequena parcela do Poder Judiciário, de modo que esta instituição continua 
sendo um dos pilares do estado democrático de direito, recebendo suas atribuições 
13 
 
dos respectivos pactos federativos, e assim continua a resguardar e proteger os 
interesses dos indivíduos que vivem em sociedade, assegurando-lhes a concretude 
de seus direitos pelo princípio da inafastabilidade da jurisdição. 
No Estado moderno, com a consagração dos direitos de segunda, terceira e 
quarta gerações, é o judiciário o responsável legítimo para resolver qualquer 
questão que seja levada à sua apreciação, tornando-se assim, ele próprio, um 
requisito necessário para a materialização de um estado democrático de direito. 
Assim sendo, um Estado que não detiver um judiciário técnico, eficaz, equilibrado e 
independente não pode ser chamado de democrático de direito. 
É importante entender a construção histórica dos Estados Democráticos de 
Direito analisados no presente estudo para em seguida compreender as motivações 
por trás do uso de lawfare e das práticas que vêm a provocar continuamente 
distorções na aplicação das leis por parte do judiciário, tanto nos aspectos negativos 
desse ato, quanto em suas características positivas que em sua complexidade 
podem se apresentar principalmente no sentido de reforçar os princípios do direito 
segundo a definição dada por (MOSQUERA E BACHMANN, 2016). 
 Não se pode usar de generalizações ou simplificações, de um modo ou de 
outro, o uso de lawfare, seja positivamente ou negativamente é algo cujas 
consequências não podem ser controladas, assim sendo, não há um uso seguro ou 
puramente benigno desse ato em sua forma positiva. Como consequência 
decorrente de atos de lawfare instituem-se guerras danosas ao direito na forma de 
um círculo vicioso. 
 Apesar desse instituto ter sido usado, a princípio, no contexto internacional, 
em disputas entre países, por meio das lacunas presentes nas leis, e de acordos e 
tratados internacionais com o objetivo de guerra não cinética, percebe-se que esta 
forma de guerra está presente também nos Estados de forma interna e assim pode 
ser praticado contra as próprias instituições e assim desse modo, também contra o 
povo. 
 
 
14 
 
2.1.1 O Contexto Político da América Latina 
 
O professor Jesser de Sousa, no seu livro: A Elite do atraso, Da Escravidão à 
Lava Jato (2017), mostra como as sociedades que foram se construindo 
historicamente nas Américas colonizadas nunca deixaram de ter um enraizamento 
profundo no seu passado de escravidão. Isso ocorre de tal modo que essas nações 
nunca poderiam ter sido edificadas somente sobre sua herança europeia; evoluindo 
de um modo a manter estratificações sociais que desde o princípio promoviam, e 
apesar de hoje terem outras características, ainda promovem a legitimação das 
desigualdades, mas agora com outras ferramentas e um modus operandi 
característicos e comuns à própria época. 
O Estado com suas instituições, assim como o Direito, não são imunes a essa 
realidade de desigualdades e não obstante, também são um reflexo dessa 
construção histórica. Entenderemos a seguir o modus operandi da perpetuação 
dessas desigualdades por meio da contextualização da situação Geopolítica da 
América latina na contemporaneidade. (SOUSA, 2017) 
No livro: América Latina na Encruzilhada Lawfare, Golpes e Lutas de Classes 
por Atílio Borón, Paula Klachko e Jaime Osório (2020), os autores explicam como na 
primeira década do século XXI houve uma ascensão das forças políticas de 
esquerda na América Latina, tendo a Venezuela, o Brasil, a Argentina e a Bolívia 
guinadas primeiramente nesse sentido, integrando partidos que se 
autodenominavam de esquerda e que tinham uma tradição nesse sentido 
progressista, na sequência seguiram-nos a Nicarágua, o Paraguai, o Equador, e El 
Salvador. 
Esse fenômeno nunca fora visto antes em tantos países latinos, as lideranças 
que assumiram tais governos gozavam de alta popularidade e nesse período houve 
um grande crescimento econômico principalmente por conta do aumento das 
exportações de seus produtos, como esses Estados iam bem economicamente, 
também realizaram uma divisão de renda junto a suas populações por meio de 
políticas públicas e programas sociais de combate à miséria, tais forças políticas, 
apesar de terem suas peculiaridades e características próprias, sendo algumas mais 
tímidas e outras mais agressivas e com discursosmais progressistas; ainda assim 
15 
 
constituíam uma oposição ao conservadorismo e ao neoliberalismo que até então 
predominava, contrabalançando o jogo do poder no mundo por meio de um notável 
protagonismo na geopolítica regional. (BORÓN, KLACHKO e OSÓRIO, 2020). 
A Partir de 2008 essa realidade foi pouco a pouco mudando, principalmente 
por conta da crise econômica que assolou todo o mundo de forma mais abrangente 
nesse ano. Nos anos seguintes esse quadro gerou mudanças que aos poucos foram 
enfraquecendo as forças progressistas. Nesse sentido e de forma gradual, se 
formaram movimentos de forte convulsão social em toda a América Latina; como 
consequência disso; golpes de Estado brandos ou velados em alguns países e a 
forte a influência nos resultados das eleições em outros. (BORÓN, KLACHKO e 
OSÓRIO, 2020). 
 No livro: América Latina na Encruzilhada Lawfare, Golpes e Lutas de Classes 
por Atílio Borón, Paula Klachko e Jaime Osório (2020), os autores pontuam: 
 Sintomas claros deste caso seriam a impossibilidade de dois dos 
principais líderes dessa nova etapa serem reeleitos como 
presidentes (Evo Morales, na Bolívia, e Rafael Correa, no Equador), 
a derrota do oficialismo kirchnerista na Argentina para uma 
heteróclita coalizão de direita, enquanto no Brasil Dilma Roussef foi 
tirada de seu cargo – De forma “legal, mas ilegitimamente”, segundo 
estes autores -, e o cerco a Nicolás Maduro por uma assembleia 
nacional controlada pela oposição. (BORÓN, KLACHKO e OSÓRIO, 
2020). 
Não podem ser negadas as conquistas materiais, culturais, políticas e o 
avanço das garantias e direitos humanos galgados assim como os avanços nos 
processos de integração regional e da autonomia com considerável protagonismo 
dentro do sistema capitalista alcançados por estes governos, dos quais se podem 
enxergar mais acertos que desacertos (BORÓN, KLACHKO e OSÓRIO, 2020). 
É importante observar a relevância dos movimentos sociais ou populares no 
novo modo como foi tratada a política fronte as relações sociais, situação a qual fez 
entrar em pauta novas agendas políticas, e pôs-se em discussão inclusive as formas 
representativas legitimadas até então e a busca pela satisfação dos direitos mais 
básicos, prezando sempre pela autonomia como projeto político, com a 
desconcentração do poder e a socialização político econômica e até uma nova 
leitura do que seriam os bens naturais. Isso não significa que toda a luta dos 
movimentos sociais nas Américas teve a mesma significação, pois que esta 
16 
 
dependia do contexto social e político de cada país. (BORÓN, KLACHKO e 
OSÓRIO, 2020). 
 
2.1.2 Breve Apanhado das Dinâmicas do Poder na América Latina 
 
Os autores Atílio Borón, Paula Klachko, Jaime Osorio entre outros, no livro: 
América latina Na Mira Lawfare, (2020); pontuam que de início é interessante não 
confundir os titulares do executivo, legislativo e judiciário como únicos detentores do 
poder, isso seria um erro, pois as classes que realmente detém o poder são aquelas 
de maior poderio econômico, político e social, e o exercem de forma indireta estando 
sempre em segundo plano, fomentando a ideia de um Estado socialmente neutro, 
quando na verdade essas compõem e exercem o real domínio do poder. (BORÓN, 
KLACHKO e OSÓRIO, 2020). 
 Desse modo os indivíduos que entram na disputa política são apenas 
funcionários, os quais administrarão apenas o poder político, e apesar de esses 
indivíduos representarem forças políticas, eles não detêm o polo real do poder 
político que representa o Estado. (BORÓN, KLACHKO e OSÓRIO, 2020). 
Sobre tal relação pontuam os autores: 
 Se as mudanças de cargos se realizam entre partidos e figuras 
partidárias que representam interesses das classes dominantes, isso 
provocará reacomodações no interior do bloco no poder. (BORÓN, 
KLACHKO e OSORIO, 2020). 
Como exemplos da forma como ocorrem essas dinâmicas temos os casos da 
Bolívia e do Equador: 
Na Bolívia o referendo revogatório do mandado de Evo Morales, em 2008 e 
com a aprovação de uma nova Constituição por meio de referendo em 2009 
estabeleceu-se um novo poder e pondo fim crise institucional pela qual passara o 
Estado. As maiores conquistas alcançadas com essa guinada do poder foram: uma 
maior força social como o reconhecimento dos direitos dos povos indígenas, a 
formação de uma assembleia Constituinte, a nacionalização de diversas empresas 
assim como do direito a exploração dos hidrocarbonetos. (BORÓN, KLACHKO e 
OSÓRIO, 2020). 
17 
 
A Bolívia é um país que durante sua história foi construindo uma identidade 
sociocultural a partir de povos indígenas naturais daquela região, os quais àquele 
tempo passavam a representar a classe de camponeses. No ano de 2009, com a 
nova Constituição política do Estado, a população passou a ter conhecimento dos 
seus direitos coletivos, iniciando assim um período de forte engajamento sindical e 
de lutas relativas à sua condição de indígena camponês. (BORÓN, KLACHKO e 
OSÓRIO, 2020). 
Por sua vez, a partir do século XXI, o Equador conseguira melhorar seu nível 
de desenvolvimento social, mas ainda fazia parte do grupo de países da América 
Latina com os maiores índices de desigualdade e pobreza. O Seu investimento 
social era baixo, constituindo 5,7% do PIB, bem abaixo dos valores repassados por 
países como Peru, República Dominicana e Paraguai. Isso começou a mudar a 
partir de 2006 onde o investimento social que de US$ 1,9 bilhão, passou para US$ 
9,6 bilhões num período de dez anos. (BORÓN, KLACHKO e OSÓRIO, 2020). 
Tal mudança se deu de forma progressiva e isso só foi possível por conta das 
reformas feitas pelo executivo ao negociar os contratos e ao administrar os recursos 
estabelecendo impostos no setor de concessões petroleiras. Para se ter uma ideia, 
em 2006 a arrecadação tributária foi de US$ 4,7 bilhões, ao passo que em 2016 já 
era de US$ 13,3 bilhões. (BORÓN, KLACHKO e OSÓRIO, 2020). 
O novo modelo político e econômico adotado visava distribuir renda e 
contemplar os grupos menos favorecidos para assim diminuir a pobreza e as 
desigualdades em todo o país, e teve eficácia nesse sentido, pois no período de 
2007 a 2016 cerca de 1,4 milhão de pessoas saíram da linha da pobreza. Outro 
índice importante é a taxa de desemprego que em 2016 passou a ser de apenas 
5,2% em todo o país. Houve avanços também no que diz respeito aos direitos dos 
trabalhadores; com a Lei Orgânica para a Defesa dos Direitos Trabalhistas de 2012. 
(BORÓN, KLACHKO e OSÓRIO, 2020). 
É importante perceber que o avanço no setor social, com a redistribuição de 
riquezas num período de tempo relativamente curto como o de 2000 a 2006, 
resultou numa significativa diminuição da pobreza (27%), porém as desigualdades 
estruturais se mantiveram quase inalteráveis, de modo que o fenômeno da 
concentração da riqueza continua a existir. (BORÓN, KLACHKO e OSÓRIO, 2020). 
18 
 
As desigualdades estruturais tem sua sustentação em princípios arraigados 
na sociedade a muito tempo, por se tratar do resultado de uma construção histórica 
e social. O problema da corrupção dentro da máquina estatal e no povo como uma 
justificativa, por mais que ilegítima, para o uso de lawfare vem por sua vez, 
aumentar ainda mais essa desigualdade. 
 
2.2 O Problema da Corrupção Como Pretexto Para o Uso de Lawfare 
 
 A corrupção não pode sozinha ser tomada como o motivo de todos os 
problemas de uma nação, e de fato, apesar de sua grande relevância, esse mal não 
pode ser usado como pretexto para ações por parte do judiciário e da mídia no 
sentido de violar direitos, perseguindo também a imagem eu reputação de alvos, 
afinal não cabe a juízes e procuradores agirem como interesses próprios, muito 
menos a formação articulações entre si de modo a combinar defesas e sentenças, 
além é claro do vazamento estratégico e em momentos cruciais de informações 
dentro do processo para as mídias. Procurar travar batalhas comcausas ou 
objetivos definidos politicamente com o pretexto de combate a corrupção não é 
papel do poder judiciário. 
 Algo que retroalimenta essa forma de guerra, no sentido de ser usada como 
justificativa e até motivação para o uso dos abusos aqui abordados, é a propagação 
de ideias que hoje estão engessadas no consciente coletivo da população e que são 
muito eficazes no sentido de induzir o povo a ter aversão ao Estado e as suas 
instituições, são esses conceitos pulverizados continuamente de modo a eleger e a 
sustentar no Estado patrimonialista e populista os únicos motivos para a corrupção, 
apontando este como a única fonte de todos os problemas sociais e econômicos. 
Esta é uma narrativa equivocada por motivos que serão abordados mais adiante. 
 É importante que se evitem os atalhos e as soluções fáceis, pois como todo 
debate que encerra sobre si problemas históricos e sociais, as explicações 
simplistas não podem ser aceitas, principalmente quando se faz uma abordagem 
objetiva e científica de um tema com desdobramentos tão sérios, afinal esse artifício 
de descrédito do Estado, pode legitimar a privatização de órgãos públicos, o que não 
raro é feito sob a alegação de mau funcionamento da coisa pública, e a propagação 
19 
 
desse conceito de que o Estado é o único corrupto se dá no mesmo modus operandi 
do lawfare, sendo uma consequência deste. Isso acontece de forma sistemática nos 
exemplos a seguir como: Na Operação Lava Jato e com a Petrobrás no Brasil além 
da Vale do Rio Doce e com a Odebrecht em vários países da América Latina 
Segundo Souza (2017) a dinâmica do poder é em si a chave para entender 
toda a sociedade, e o que é intitulado como legitimação do poder social real por 
meios escusos faz parte da problemática aqui proposta, problemática esta que não 
foge a um dilema muito relevante o qual é: Como distinguir os casos onde o Estado 
é realmente ineficiente e estatais dão prejuízo aos cofres públicos, dos em que as 
privatizações decorrem de pressões de forças externas e internas constituindo uma 
manipulação por meio de um lawfare negativo? E em situações onde ocorre o 
oposto, nas quais há casos de Lawfare positivo? 
Apesar da aparente virtuosidade deve-se atentar para sinais ou sintomas 
como: o desvio ou a não observância do devido processo legal, e para o uso que é 
feito dos meios de comunicação em massa para legitimar práticas escusas apoiadas 
em fins tidos como louváveis. 
Essa é de fato a chamada corrupção real e conseguir distingui-la dos casos 
onde os agentes do Estado realmente cumpre o seu papel de forma idônea não é o 
suficiente, de tal modo, não é essa a forma mais eficiente de combater essa 
corrupção legitimada, a qual pode passar despercebida diante de uma leitura 
distorcida e superficial de como a sociedade e seus mecanismos de poder 
funcionam. 
Ainda sobre o tema pontua Souza (2017) que a propagação dessa justificativa 
para a venda ou privatização de estatais para estrangeiros pode ser explicada por 
uma concepção ou leitura distorcidas feita pelo culturalismo científico, onde se 
difundem as diferenças entre países de primeiro mundo e os subdesenvolvidos, e 
entre elas está implícita a ideia de que o motivo do crescimento social e econômico 
das nações se encontra em suas virtudes morais assim como nas intelectuais, e não 
por conta de todo um processo de evolução histórica que envolve processos de 
dominação por meio de colonizações e submissão de povos à escravidão, essa 
leitura por outro lado, difunde a crença de que os povos dominados, colonizados e 
escravizados não possuem virtudes suficientes para seu desenvolvimento, sendo 
20 
 
assim eles mesmos os culpados por sua condição. Esse equívoco de percepção 
constrói uma narrativa que pode ser bastante nociva para uma nação, 
principalmente quando seus próprios indivíduos acreditam que suas instituições são 
corruptas e por isso devem ser entregues ao capital estrangeiro por esta ser uma 
alternativa melhor que deixar nas mãos de políticos corruptos, temos assim a receita 
do desastre. 
 
2.2.1 Conceito de Culturalismo Histórico 
 
Sobre o tema observa Souza (2017) que a escassez de reflexão sobre essas 
forças que separam e hierarquizam o mundo num universo jurídico prático, funciona 
de modo a ignorar as regras jurídicas que disciplinam a igualdade formal, sendo 
assim mais eficaz que qualquer código jurídico, no ponto em que faz uma 
segregação entre países e entre classes sociais, o que passa despercebido por sua 
obviedade e nunca é observado ou refletido podendo ir mais além, produzindo 
consequências que se estendem também a gêneros e etnias diferentes. Apesar de 
tais causas serem sutis, suas consequências por outro lado estão bastante 
presentes no crescente desequilíbrio geopolítico mundial, fomentando assim as 
diversas formas desigualdades sociais por todo o mundo. Um conceito que exprime 
muito bem o exposto até aqui é a noção de colonização das ideias por meio do 
culturalismo histórico, como forma de preconceito velado. 
Souza (2017) afirma que em parte os intelectuais do culturalismo histórico 
vieram a contribuir para o cenário atual, o qual só pôde ser construído com a ajuda 
da mídia que propagou tais ideias aumentando também prestígio dessas elites 
intelectuais. Ideias dominantes e consagradas podem ser nocivas quando reforçam 
valores ultrapassados e preconceituosos, legando uma releitura de ideias 
dominantes de elites igualmente hegemônicas e criando suas próprias narrativas 
históricas da realidade, construindo também distorções nem sempre afinadas com a 
realidade empírica. Através da exposição de especialistas de diversas áreas, a 
mídia que em si não possui a finalidade de produzir conhecimento, propaga as 
noções de verdadeiro ou falso, apontando o justo ou injusto, o virtuoso e o vil, 
seguindo as táticas de dominação e legitimando os interesses da própria empresa 
21 
 
ou dos acionistas por trás das grandes corporações e do mercado financeiro, 
escrevendo e transmitindo sempre uma leitura histórica junto ao poder. 
Em 1930, Talcott Parsons foi o preconizador da “teoria da modernização no 
mundo” a qual exaltava a imagem dos norte americanos como superiores em vários 
aspectos, o que veio a disseminar grandes preconceitos com relação a países 
emergentes até então considerados de terceiro mundo ou subdesenvolvidos e 
contribuir para a sua submissão perante os interesses americanos. 
 
2.2.2 A Repercussão Midiática do Termo Lawfare 
 
Fenômenos como lawfare tiveram grande repercussão midiática nos últimos 
anos, principalmente por conta do uso massivo das redes sociais e do uso das 
chamadas “fake news” no processo eleitoral americano e mais recentemente no 
Brasil, o que fez passar despercebidas ações de lawfare político, contudo, como 
decorrência deflagrou-se assim também uma forte popularização do tema. Mais 
especificamente no último vintênio, onde se nota uma crescente polarização na 
abordagem política, social, econômica e porque não dizer histórica da visão ou da 
leitura que se faz dos fenômenos jurídicos, houve um crescimento do debate político 
e da forma como os países são afetados mutuamente por essas ações e suas 
condições. 
É importante entender como ocorre lawfare político, por isso nota-se que 
quando parte do sistema judiciário é usado como ferramenta para a perseguição 
política e econômica, observa-se também um forte desejo de determinados grupos 
sociais, culturais e políticos no sentido de influenciar deliberadamente decisões 
judiciais, induzindo também grande parte da população a apoiar tais decisões, 
estabelecidas e arquitetadas previamente em processos amplamente divulgados ou 
vazados de forma duvidosa para as mídias. 
Ao analisar processos como os que envolvem casos práticos que despontam 
num cenário de crescente polarização política e social na América Latina, pode-se 
averiguar os traços de lawfarepolítica de forma concreta, podendo também dessa 
forma ser aferido o nível de parcialidade dos julgadores na medida em que seus atos 
22 
 
fora dos processos, como vazamentos de áudios e conversas em momentos 
estratégicos amplamente divulgados na imprensa afetaram os resultados de 
eleições presidenciais. 
Como exemplo temos as conversas divulgadas por meio do The Intercept 
(Jornal on-line independente lançado em fevereiro de 2014 pela First Look Media), 
que em seguida se propagaram para todo o mundo por meio da imprensa mundial 
após a checagem dos fatos, ações nesse sentido podem ser cruciais para entender 
os modus operandi do uso de lawfare. 
Outra característica, presente por sua vez, e apesar de ser também midiática, 
conta-se em suma como processual; e enumera-se aqui: trata-se do 
constrangimento gerado pelo uso de conduções coercitivas, prisões cautelares e os 
outros meios também usados para induzir coercitivamente as delações premiadas 
no sentido de corroborar com a teoria acusatória; e assim como o uso de uma 
grande quantidade de processos instaurados no sentido de desestabilizar o alvo 
político destes atos pode-se observar toda uma movimentação com um premeditado 
intuito. 
 Diante da perspectiva onde vemos o direito sendo usado como forma de 
destruir reputações, instrumentalizado de modo a cercear a ampla defesa e o 
contraditório, é de grande importância o ato de buscar mais informações a respeito 
desse curioso e contraditório fenômeno, dessa forma, observa-se que ao travar 
deliberadamente uma guerra clara a um alvo, parte dos magistrados ameaçam a 
integridade das instituições, principalmente ao Estado democrático de direito e aos 
sistemas social e político, abrindo por sua vez, também precedentes para um 
interminável embate de interesses políticos próprios e não para a garantia da ordem, 
do bem estar comum e da justiça. 
Essa abordagem procura fazer uma análise do fenômeno jurídico alguns dos 
casos mais recentes e de grande relevância para o direito no Brasil, o que impacta 
também outros países da América Latina e do mundo. 
 Ao visar uma conclusão lógica a respeito dos motivos ou condições para tal 
situação e também dos resultados que não obstante, vão muito além da esfera do 
direito é que o presente trabalho vislumbra as respostas para as principais questões 
que surgem, as quais são: 
23 
 
Qual o verdadeiro impacto social, político e jurídico o ato de lawfare vem 
provocando no poder judiciário no Brasil nas últimas duas décadas? 
A tentativa de reparação, por meio da anulação de tais atos, é em si suficiente 
para sanar minimamente os danos causados pelo uso de lawfare? 
E nesse sentido podem ser levantadas as seguintes hipóteses: 
1. Seria uma tendência natural do próprio direito enquanto fenômeno social, 
levar disputas políticas e econômicas para a esfera da justiça racionalizando e 
instrumentalizando disputas? 
2. Seria desse modo, impossível reparar os danos causados pelo uso de 
lawfare? 
3. Já que este meio visa também a criar danos à imagem do sujeito passivo 
submetido a tais práticas cria assim também um modo de colocar a opinião pública 
contra o sujeito, será possível reparar tais danos a moral subjetiva ou este teria sua 
imagem indissoluvelmente maculada? 
Percorrer-se-á um longo caminho para se ter uma noção mais aprofundada 
do fato em questão e de seus desdobramentos gerais, no intuito de vislumbrar o 
esclarecimento do mesmo é necessário conhecer o longo caminho traçado pelo 
judiciário que em sua história mais recente e no desenvolver suas atividades, 
paulatinamente veio a adquirir características, práticas e competências novas em 
seus atos materiais e processuais. Assim abre-se então aqui espaço para uma 
necessária abordagem do ativismo judicial. 
 
 
 
 
 
 
 
 
24 
 
3 CAPÍTULO II 
 
3.1 Conceito de Ativismo Judicial 
 
Segundo Gomes (2009); O termo designa o ato proativo ou expansivo por 
parte do Poder Judiciário, que ao fazer o uso da hermenêutica para interpretar a 
Constituição, de modo a estender seu alcance, pode assim dar novos sentidos a 
norma jurídica. 
 Existem basicamente duas modalidades de ativismo judicial: 
A primeira se distingue por ser uma interpretação como forma ou espécie de 
revelação por meio do uso dos valores e princípios Constitucionais. Apesar disso, 
por outro lado o ativismo pode também ser entendido em sua segunda modalidade 
como uma inovação, constituindo o caso onde o juiz cria uma norma ou um direito 
ou ainda preenche a lacuna de um dispositivo. 
Segundo Continentino (2012), o termo Ativismo Judicial foi criado por Arthur 
Schlesinger, em 1947, num artigo publicado na revista Fortune com o título: “The 
Supreme Court: 1947”, onde o autor usa o termo pela primeira vez ao separar os 
juízes Norte Americanos em duas classes: de um lado os ativistas e do outro os 
passivistas. Um aspecto peculiar deste fenômeno é que pode ocorrer tanto num 
ambiente de juristas conservadores como num outro onde há a predominância de 
progressistas, sendo assim, não se pode fazer generalizações conceituais do tema, 
pelo contrário busca-se uma abordagem mais pontual e objetiva. 
Ainda sobre o tema Continentino (2012) pontua que atualmente existem cinco 
conceitos de ativismo judicial, os quais abordam os aspectos criados por esse 
instituto de diferentes formas: 
O primeiro se relaciona com os casos onde os limites da constitucionalidade 
podem ser claramente aferidos, no entanto a Corte expressa uma visão diferente em 
seus acórdãos, revelando uma interpretação da lei que vai contra o que dispôs o 
legislador. 
O segundo conceito aborda a questão da separação dos três poderes de 
modo não hierárquico, o que como princípio implicaria na impossibilidade das Cortes 
25 
 
ativistas “criarem leis” sob o disfarce de interpretar o direito. Nesse ponto esse limite 
não é claro, posto que o Direito Constitucional é bastante abrangente e generalista 
de modo que possui como característica inerente a si a possibilidade de diversas 
interpretações. 
 O Terceiro conceito, o qual é amplamente debatido, trata dos casos em que a 
corte foge a própria jurisprudência ou linha de interpretação, em pontos que até 
então eram entendidos como pacificados na área jurídica, o que torna difícil a tarefa 
de aferir se tal interpretação é correta ou se constitui um abuso. 
 O quarto conceito trata do uso da hermenêutica com um propósito finalista e 
por esta razão pode gerar dúvidas, afinal almejar um resultado específico em 
detrimento da lei é uma forma de ativismo que pode levar a confusões no momento 
em que outros juristas, posteriormente, ao elaborarem suas decisões individuais 
usem desses fundamentos, os quais podem mudar em situações análogas onde se 
almejam objetivos distintos, o que pode gerar dúvidas sobre o devido uso da norma 
legal. 
 Não menos importante, o quinto conceito trata dos precedentes judiciais; no 
qual, caso os juízes ou instancias inferiores não adotem tais precedentes em suas 
sentenças ou acórdãos, isso configuraria em si numa forma de ativismo judicial, e 
isso se daria de modo a carecer de uma devida fundamentação por trás dos motivos 
de tal interpretação, sendo assim, distinto daqueles precedentes nesse quesito, o 
direito perde a sua objetividade, e isso pode facilmente implicar num desrespeito ao 
legislador e às linhas de interpretação já consagradas pelas cortes e por diversos 
juízes, fugindo também assim, de certa forma as decisões democráticas. 
Apesar de possuir aspectos que à primeira vista possam parecer construir 
uma crítica negativa quanto à formulação e delimitação de seus termos, o ativismo 
judicial como conceito não pode ser tomado de forma simplista como sinônimo de 
condutas incorretas praticadas por parte das cortes ou tribunais, sendo mais que 
isso: é o resultado histórico e social da sociedade. Pormenorizar os limites desse 
dimensionamentoe os possíveis limbos e distorções geradas por esse instituto são 
de fundamental importância para dominar os conceitos que surgiram num contexto 
histórico e político com marcantes contradições e de aspectos tanto positivos como 
negativos. 
26 
 
No contexto da América Latina, principalmente no Brasil, o ativismo judicial 
tem sido referido de forma negativa, geralmente carregada de uma significação 
simplista e irrefletida, sendo considerada essa forma de ativismo apenas um 
excesso do Poder Judiciário. Não se pode cair no erro de usar de simplificações, 
pois estas fogem ao debate e a reflexão da construção desse conceito visto que o 
embasamento teórico não pode passar apenas pelos juízos de valores mais rasos. 
Como caracterizar algo tão complexo como bom ou mau então? Tal polarização se 
faz contra producente. 
Nos últimos anos a partir principalmente de 2008, o Poder judiciário começou 
a ser frequentemente alvo de críticas quanto a sua atuação e quanto à legitimidade 
no desempenho de suas funções, contudo, mesmo que cause divisões e nem 
sempre sua atuação provoque uma completa adesão por parte de seus pares e 
também pela população leiga, é muito importante que se mantenha o respeito, o 
crédito e a confiança diante de uma instituição tão importante para a democracia, e 
assim também para a continuidade de um Estado democrático de Direito pleno e 
saudável. 
 É importante fugir a ideologização ou discurso parcial para compreendermos 
todas as faces do ativismo e de sua evolução com o tempo. 
Num primeiro momento, entender a motivação e até os possíveis interesses 
por trás dos agentes que operam o direito, como por exemplo: ministros e juízes; o 
modo como foram nomeados; em quais circunstâncias e em quais direcionamentos 
ou embasamentos legais estão norteadas suas decisões; qual o padrão percebido 
com relação ás ideologias políticas, econômicas, sociológicas e até partidárias em 
relação às correntes dominantes e as lideranças políticas e econômicas que 
realmente detém o poder por mais que possam parecer estar em segundo plano. 
 Nisso é possível notar decisões monocráticas e acórdãos mais ou menos 
conservadores, como por exemplo, com relação aos governos mais ou menos 
progressistas e na sucessão ou na transição de um governo para o outro, aferir 
como ocorrem às dinâmicas do poder é uma tarefa crítica, perceber tais mudanças e 
a forma como isso influi nas mudanças de direcionamentos, entendimentos e 
acórdãos pelas Cortes ou nas decisões individuais de seus membros são de 
fundamental importância para compreender e avaliar tal fenômeno. 
27 
 
*Segundo o autor CONTINENTINO (2012), também é importante analisar as 
decisões por temas: 
Por exemplo: qual a posição do STF em matéria de direitos 
fundamentais? Qual seu entendimento sobre a liberdade de 
expressão? E sobre o direito à vida ou à igualdade? Há diferenças 
quanto aos direitos individuais e os sociais? Entre os direitos 
fundamentais sociais, a exemplo dos direitos à saúde, à greve ou à 
moradia, é uniforme o tratamento conferido pelo STF? Como se 
caracterizam suas decisões sobre a efetivação do mandado de 
injunção? (CONTINENTINO, 2012), 
O direito é entendido por seus teóricos como uno e de acordo com essa 
visão, entende-se que os três poderes podem ser entendidos como engrenagens de 
um mesmo sistema, e juntas essas engrenagens compõem um Estado em sua 
legitimidade e concretude, de tal forma os operadores do direito, sejam eles de 
quaisquer instâncias como os ministros do STF ou os juízes dos tribunais, têm por 
dever inevitavelmente; amparar suas decisões nas jurisprudências e interpretações 
constitucionais assim como nos princípios que norteiam o direito por meio de sua 
carta magna, alcançando também os anseios da sociedade, anseios esses que 
evoluem com o tempo. Sabe-se que nem sempre o Legislativo e Executivo 
conseguem acompanhar as necessidades reais de seu tempo, e é nesse ponto que 
a ação do judiciário, por mais que tímida deve ir de encontro aos anseios sociais 
mais emergentes e contemporâneos. 
Além disso, o conceito de ativismo casuístico presente ao se verificar 
situações práticas semelhantes com leituras da realidade diferentes por parte do 
magistrado no momento das sentenças, onde são proferidas resoluções distintas 
pelo mesmo, são indícios de ativismo judicial, pois podem indicar a falta de 
objetividade ou a não racionalização sistemática e mecanicista dos casos julgados. 
 
 
3.1.1 Judicialização da Política 
 
Para Barroso (2012): 
Judicialização significa que algumas questões de larga repercussão 
política ou social estão sendo decididas por órgãos do Poder 
28 
 
Judiciário, e não pelas instâncias políticas tradicionais: o Congresso 
Nacional e o Poder Executivo – em cujo âmbito se encontram o 
Presidente da República, seus ministérios e a administração pública 
em geral. Como intuitivo, a judicialização envolve uma transferência 
de poder para juízes e tribunais, com alterações significativas na 
linguagem, na argumentação e no modo de participação da 
sociedade. (BARROSO, 2012) 
Barroso (2012) afirma que as causas da Judicialização são diversas e 
seguem com características comuns em todo o mundo e podem também estar 
ligadas com os modelos institucionais dos países. No Brasil, com o processo de 
redemocratização em 1988 e a Constituição Federal, o Judiciário passou a ter o 
poder político extra, constituindo uma espécie de guardião em defesa da 
Constituição mesmo diante dos outros Poderes. Na atualidade, a existência de 
Ministros constituídos pela nova forma de governo também influenciaram fortemente 
na independência das decisões e na proporção do poder alcançado pelo Judiciário, 
poder esse legitimado também pela população que cada vez mais passou a buscar 
seus direitos. A nova Constituição democrática ou cidadã também veio a reforçar o 
Ministério Público e a defensoria Pública, o que fez crescer ainda mais a demanda 
pelo Judiciário. (BARROSO, 2012). 
Ainda segundo Barroso (2012): A força que o Poder Judiciário ganhou, na 
forma de justiça constitucional, em detrimento dos Poderes Legislativo e Executivo, 
mesmo que estes sejam legitimados por meio do voto popular de modo 
democrático; é igualmente percebida também em vários outros países, e isto se 
deu principalmente a partir do final da Segunda Guerra Mundial, o autor cita como 
exemplo: a Suprema Corte do Canadá, a qual analisou a possível 
constitucionalidade dos Estados Unidos em realizar testes bélicos com mísseis no 
seu território. Já nos Estados Unidos a eleição presidencial do ano 2000 teve 
grande influência da decisão da Suprema Corte no caso de Bush Vs. Gore. Na 
Argentina e também Hungria, os planos econômicos de largo alcance foram 
validados pelas Cortes Superiores. Além destes há inúmeros casos que também 
apontam o crescente paralelo entre política e justiça. (BARROSO, 2012). 
Barroso (2012) O autor se refere ao caso brasileiro como “diferenciado” ou 
no mínimo curioso, não só pelo contexto histórico, social e político; aspectos estes 
qualitativos, mas também por suas características quantitativas como “extensão” e 
“volume”. Todos esses fatores contribuíram para que o Supremo Tribunal Federal 
29 
 
brasileiro fosse cada vez mais objeto de repercussão midiática, principalmente da 
imprensa, e algo que fomentou ainda mais essa situação foi a transmissão direta 
de Julgamentos do Plenário da Corte pela TV Justiça, de modo que as decisões e 
os acórdãos também foram de certa forma influenciados por conta da repercussão 
social que causavam na audiência com os expectadores, mas segundo o autor, 
neste caso em específico os aspectos positivos foram maiores que os negativos. 
Barroso justifica apontando que: “A visibilidade pública contribui para a 
transparência; para o controle social e, em última análise, para a democracia.” 
(BARROSO, 2012). 
Uma maior abrangência do Constitucionalismo foiuma tendência em todo o 
mundo, iniciada, segundo pontua o autor Barroso (2012): primeiramente em Portugal 
com sua Carta Magna de 1976; na sequência Espanha em 1978 e Brasil em 1988 
com a nova Constituição apelidada de cidadã. Tecnicamente o Brasil possui uma 
constituição analítica, sendo uma das constituições mais extensas já escritas, 
possuindo 245 artigos e mais de 1,6 mil dispositivos. (BARROSO, 2012). 
Dessa forma Barroso (2012) observa também: 
 “Como intuitivo, constitucionalizar uma matéria significa transformar 
Política em Direito. Na medida em que uma questão – seja um direito 
individual, uma prestação estatal ou um fim público – é disciplinada 
em uma norma constitucional, ela se transforma, potencialmente, em 
uma pretensão jurídica, que pode ser formulada sob a forma de ação 
judicial.” (BARROSO, 2012). 
Barroso (2012) A título de exemplo: os direitos e garantias fundamentais 
como a saúde e o lazer podem ser apreciados pelo Judiciário, pois estes são 
garantidos pela Constituição. 
Barroso (2012) O eclético sistema brasileiro de controle de 
constitucionalidade é também uma das causas do processo de judicialização, esse 
sistema mescla os modelos americanos e europeus. 
Barroso (2012) O sistema americano como aspecto se mostra nos casos 
onde o juiz ou tribunal, por meio do controle incidental difuso pode deixar de aplicar 
determinada lei alegando sua inconstitucionalidade junto a um caso concreto 
específico. 
30 
 
Já como característica fundamental do sistema europeu, temos o controle por 
ação direta, por meio do qual se entende que matérias específicas devam ser 
conduzidas imediatamente à apreciação pelo Supremo Tribunal Federal. 
Barroso (2012) Na América Latina, de forma geral, o contexto começou a 
mudar a partir do ano de 2008, quando o Poder Judiciário começou a receber uma 
demanda de ações muito maior, pois o Legislativo, sozinho não era capaz de criar 
dispositivos para os conflitos no Executivo, os quais eram gerados principalmente 
pelo contexto de forte polarização durante o processo eleitoral de diversos países 
nesse mesmo período, desse modo coube ao Judiciário agir para intermediar tais 
ações por meio do ativismo judicial. 
Barroso (2012) Daí em diante observou-se o quanto o Poder Judiciário 
logrou força de tal modo a gerar um desequilíbrio entre os três poderes. 
Outro conceito fundamental para entender os fatos que levaram pouco a 
pouco a construção histórica do uso cada vez mais frequente de lawfare; é o 
conceito de “guerra híbrida”, e referente a isso, o que importa no presente estudo é 
o fato desse conceito não deixar de ser parte dos resquícios remanescentes de 
interesses imperialistas. 
 
3.1.2 Do Conceito de Guerra Híbrida 
 
O jornalista Andrew Korybko, integrante do conselho do Institute Of Strategic 
Studies and Predictions, em sua análise política criou o conceito de Guerra Híbrida, 
o qual descreve em: Guerras Híbridas. Das Revoluções coloridas aos golpes (São 
Paulo: Expressão Popular, 2018) a estratégia política e militar dos Estados Unidos 
com o objetivo de depor ou substituir os governos que não estivessem afinados com 
as suas políticas. (KORYBKO, 2018) 
Korybko (2018) afirma que a partir do século XXI, diferentemente das táticas 
abordadas no século anterior, as quais eram: invadir ou ocupar o território de outros 
países usando de suas forças militares e ainda por meio do apoio a ditaduras 
militares nas Américas, o novo modelo de guerra, se tornou mais prático por sua 
31 
 
economia de recursos e pela dissimulação da violência que agora não é mais tão 
aparente e sim velada. 
Korybko (2018) define guerra híbrida também como: “a combinação entre 
revoluções coloridas e guerras não convencionais junto do uso de Lawfare”. 
Entende-se por revoluções coloridas: a guerra que se dá por meio da 
disseminação de conteúdo nas redes sociais, com propagandas planejadas 
previamente, objetivando criar manifestações de massa e gerar uma convulsão 
social, o que por sua vez pode vir a desestabilizar governos e até depô-los; ou seja: 
é uma forma de incentivo a “golpes brandos”, com sutilezas de clamor social usando 
de pautas universais manipuladas de forma genérica; como nos casos temos a 
defesa do direito, da democracia ou do combate à corrupção. (KORYBKO, 2018). 
Korybko (2018) aponta ainda sobre as revoluções coloridas e a guerra não 
convencional, afirmando que: “Se ela (a revolução colorida) não for o suficiente para 
derrubar e substituir o governo avança-se para o estágio das guerras não 
convencionais: aquelas combatidas por forças não regulares, sejam guerrilhas, 
milícias ou insurgências; e este é o momento do chamado “golpe rígido”. Vale 
ressaltar aqui que o foco da guerra não convencional é estimular ou fomentar 
movimentos que se opõem a um determinado governo; agindo diretamente ou 
internamente no conflito com o intuito de destituir seu governante e/ou a forma de 
governo vigente. 
Korybko (2018) sustenta que nisso persiste a ideia de um inimigo interno: uma 
ameaça ao país que deve ser combatida a todo custo, usando de várias táticas de 
guerra para manter um conflito permanente com base em operações psicológicas, 
mantendo também o clima de constante tensão psicológica e ameaça junto com 
cortinas de fumaça e fake news, gerando o descrédito aos meios de comunicação e 
às instituições. 
Korybko (2018) completa afirmando que essa é também uma arma 
econômica na disputa pelos mercados internacionais, pois o discurso do combate à 
corrupção não deixa de ser uma estratégia da concorrência para garantir a 
predominância das grandes empresas dos países que apontam como os mais 
desenvolvidos junto com seus poderosos acionistas e especuladores financeiros, na 
disputa pelos mercados emergentes e internacionais. 
32 
 
Streck e Carvalho (2020) tecem considerações a respeito de como o Brasil 
tem passado por um processo semelhante desde 2016, principalmente após a 
operação Lava Jato, e o resultado disto são: interferências no processo político, o 
uso de sentenças sem provas, o desrespeito ao devido processo legal com seus 
ritos e prazos, aos ditames constitucionais e aos tratados internacionais, para assim 
poder interferir nos processos políticos e eleitorais. Isso tudo vem a ameaçar a 
soberania e propicia a entrega das riquezas naturais, submetendo as economias 
locais ao capital estrangeiro, com o consequente aumento nas desigualdades 
sociais das nações mais pobres e a cassação de direitos e garantias conquistadas 
por essas populações. 
Segundo o autor Andrew Koribko (2018), as guerras híbridas surgem à partir 
da relação que os Estados Unidos estabelece com todas as potências mundiais, em 
especial com a Rússia após a segunda guerra mundial, e para compreender como 
isso funciona deve-se entender como todo esse contexto geopolítico se formou. 
Ainda sobre isso pontua o autor: “Sem um entendimento dos princípios teóricos que 
levaram às políticas de hoje, é impossível compreender adequadamente a 
relevância da nova teoria e seu lugar central no planejamento estratégico 
estadunidense”. (KORIBKO, 2018). 
Koribko (2018) Uma obra que influenciou fortemente o pensamento político 
adotado pelos Estados Unidos na atualidade é o livro The Influence of Sea Power 
Upon History (a influência do poder naval na história, 1890), de Alfred Thayer 
Mahan. O ponto central de sua obra é o domínio de áreas marítimas com o objetivo 
estratégico de estender sua influência para além de seu território. Foi assim que as 
maiores potências marítimas da época conduziram sua estratégia geopolítica. 
Koribko (2018) em 1904 surge com outra obra que se contrapõe ao conceito 
de poder e domínio de Alfred Thayner Mahan, seria “The Geographical Pivot of 
History (O pivô geográfico da história, por Halford Mackinder), na qual o autor 
entendia que, o domínio e a influência das potências aconteciam principalmente por 
terra, eassim colocava a Rússia no centro do poder; definindo-a como heartland ou 
coração do mundo unindo o ocidente a Ásia Central, formando o que se entende por 
Eurásia e assim defendia o pensamento de que quem detivesse o domínio daquela 
região comandava o mundo. 
33 
 
Koribko (2018) defende também a ideia de que a relevância do planejamento 
geopolítico mundial levou a criação dessas teses, e elas por si só se complementam, 
seja pela síntese dos opostos, seja pelo protagonismo que elas fizeram acontecer, 
influenciando as dinâmicas e o equilíbrio em todo o globo. Posteriormente, 
incentivadas por estas teses, foram criadas outras teorias, entre elas se destacam 
duas: A primeira: O “rimland” de Nicholas Spykman; é o pensamento no qual o autor 
identifica a região periférica como sendo a mais importante da Eurásia, 
principalmente por conta da mão de obra abundante, o que propiciaria o 
desenvolvimento industria,l e também por conta da relação com o poder que a 
França napoleônica e a Alemanha haviam estabelecido posteriormente depois da 
segunda guerra mundial. Assim, entendia-se que quem dominasse o rimland 
dominaria toda a Eurásia e assim teria o controle de todo o centro de poder. 
Koribko (2018) vem a mostrar a segunda Teoria: O “shatterbelts”, que surgiu 
como uma reflexão da primeira, de modo que quem a cunhou: Saul Cohen, o fez 
como forma de análise do rimland na dinâmica de toda a região; nisso os 
“shatterbelts” seriam compostos por toda uma zona de Estados em constantes 
conflitos, os quais se agravavam ainda mais por conta dos interesses das grandes 
potências que continuam a interferir na política e na economia dessas regiões, 
dentro dessas regiões está o Oriente Médio, a África Subsaariana e o Sudeste 
Asiático. Por terem características tão singulares ou marcantes; como a 
religiosidade, as suas formas de governo, a diversidade de etnias e o 
desenvolvimento de sua construção histórica e social, compondo assim também 
diferentes nações que habitam o mesmo território, essas regiões são territórios de 
constantes conflitos e disputas. (KORIBKO, 2018). 
Zbigniew Brzezinski e Jimmy Carter publicaram “The Grand Chessboard: 
American Primacy and its Geostrategic Imperatives” (O grande tabuleiro de xadrez: a 
primazia estadunidense e seus fundamentos geoestratégicos), 1997 onde mostra o 
modo como os Estados Unidos poderiam continuar a manter sua influência ou poder 
naquela região definida como “Balcãs Eurasiáticos” sendo: 
Os bálcãs eurasiáticos constituem o núcleo interno desse 
quadrilátero (porções do sudeste europeu, ásia central e partes do 
sul da ásia, área do golfo pérsico e oriente médio) [...] além de suas 
entidades políticas serem instáveis, elas tentam e convidam à 
invasão de vizinhos mais poderosos, cada um dos quais está 
34 
 
determinado a resistir ao domínio da região por outro. (CARTER e 
BRZEZINSKI, 1997). 
Não se pode negar a força dessas teorias, e mesmo depois da 
contemporânea globalização, percebe-se o quanto o mundo mudou desde então, e 
apesar de as estratégias que envolvem o poder só terem evoluído desde então, o 
panorama de polarização ainda é muito parecido. 
 Um fator que mudou o equilíbrio do poder geopolítico global foi o crescimento 
exponencial dos Estados Unidos como superpotência mundial, e agora mais 
recentemente a China passa a desempenhar também um importante papel, com um 
grande crescimento econômico nas últimas décadas, despontando nesse cenário 
como novo concorrente ao império Norte Americano. 
Somado a isso, a América Latina passou a desenvolver um forte 
protagonismo político e econômico, principalmente por meio de políticas de combate 
a fome e a miséria, de modo que a guinada política em direção a governos mais 
progressistas veio a causar um choque entre diversos interesses tanto econômicos 
como políticos. A despeito da evolução do uso de lawfare em meio aos diversos 
interesses econômicos e geopolíticos, o próximo capítulo fará uma abordagem de 
como essa matéria é tratada pelas legislações nacionais e internacionais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
35 
 
4 CAPÍTULO III 
 
4.1 O que Dispõem as Legislações Nacionais e Internacionais a Respeito do 
Uso de Lawfare 
 
Sobre a imparcialidade do juiz, pontuam Streck e Carvalho (2020) que a 
dignidade da pessoa humana deve ser garantida por meio da prestação jurisdicional, 
a qual deve primar pelo princípio da imparcialidade do juiz, sendo esta isenta na sua 
prática, por meio de uma devida prestação de sua atividade jurisdicional. (artigo 1º, 
III, da CRFB) quanto em atendimento ao devido processo legal (artigo 5º, LIV, da 
CRFB). 
Outro paramento legal que aborda a imparcialidade do juiz é a Convenção 
Americana de Direitos Humanos, sobre esse ponto afirmam Streck e Carvalho 
(2020); que apesar de ter sido instituída em 1969, o Brasil se tornou signatário 
apenas em 1992 (Decreto número 678/92) sendo assim um mecanismo supralegal 
(STF: HC 87.585 e RE 466.343). 
Aliás, tal é a importância desse preceito, que tanto a Declaração 
Universal dos Direitos Humanos (1948) quanto a Convenção 
Americana de Direitos Humanos (1969) contemplaram a 
imprescindibilidade da imparcialidade dos tribunais. (STRECK e 
CARVALHO, 2020). 
Na ótica de Streck e Carvalho (2020), a Constituição Federal brasileira possui 
em seus dispositivos, normas que tornam a imparcialidade uma garantia 
constitucional, entre elas enumeram-se: o artigo 5º, LIII, CFRB, também no que 
tangem a ilegalidade do tribunal de exceção (artigo 5º, XXXVII, CFRB). Os autores 
ainda sustentam: “A própria garantia do devido processo legal (artigo 5º, LIV, CRFB), 
além disso, traz prerrogativas e vedações aos juízes, que buscam assegurar sua 
independência e imparcialidade (artigo 95, CRFB).” (STRECK e CARVALHO, 2020). 
E ainda sobre a imparcialidade objetiva, o autor esclarece que efetuar uma 
investigação de maneira minuciosa significa fazer uma análise da atividade 
jurisdicional de modo que o juiz venha a demonstrar ou garantir um serviço no qual 
não se demonstre qualquer resquício de suspeição ou um conceito pré-formado por 
36 
 
parte do mesmo, por mais que seja difícil de aferir por conta da subjetividade 
inerente a cada indivíduo. Quanto aos fatos julgados, os juízos não podem ter 
motivos escusos a fundamentar suas decisões de forma explícita ou implícita como 
motivações prévias ou preconceitos. O código de Ética da magistratura disciplina de 
modo adequado este ponto. Vale ressaltar que a imparcialidade por parte do juiz, 
garantia constitucional, não é sinônimo de neutralidade, pois existem preceitos 
valorados que devem ser observados durante a condução dos processos, entre eles, 
a necessidade de perquirir uma sentença justa de acordo com a lógica e de forma 
ativa, pois a ausência de uma atividade proativa só vem a dificultar a concretude real 
da justiça assim como a sua eficácia social. (STRECK e CARVALHO, 2020). 
Sobre o tema, os autores abordam a influência de Cortes e tribunais europeus 
no momento de definir a imparcialidade do juiz, onde foram usadas como 
embasamento, jurisprudências italianas e espanholas, desse modo Streck e 
Carvalho (2020) pontuam sobre o ano de 2009, onde o então Ministro Cezar Peluso 
mostrou consonância com as Cortes internacionais, mais especificamente com os 
Tribunais Europeus. A “condição de originalidade da cognição” é fundamental, no 
sentido da ação do juiz não se afetar por fatos anteriores, seja no processo em curso 
ou em processos futuros (STF: HC nº 94.641/BA, DJ 06/03/2009). (STRECK e 
CARVALHO, 2020). 
O uso indevido do combate à corrupção como justificativa para o uso de 
lawfare, como visto antes, não deve ser motivo para o enfraquecimento das 
instituições assim como dos aparatos legais usados para garantir a probidade nos 
órgãos públicos e também nas autarquias que compõem o Estado, além do próprio 
governo em si como parte integrante de um dostrês poderes, nos quais esta deve 
ser velada ou salvaguardada. 
O ordenamento jurídico brasileiro dispõe de mecanismos devidos para a 
função de prevenção e combate ao uso indevido dos cargos públicos e políticos 
como a Lei de Improbidade Administrativa (Lei nº 8.429/92), a Lei da Ficha Limpa 
(Lei Complementar nº 135/2010) e a Lei Anticorrupção (Lei nº 12.846/2013). 
(STRECK e CARVALHO, 2020). 
 
37 
 
4.1.1 A Operação Lava Jato e o Uso Sistemático de Lawfare 
 
No que tange a Operação Lava Jato notou-se uma cobertura massiva da 
imprensa como também das páginas, sites e mídias digitais, movimento esse que se 
deu de forma articulada por meio de publicações, do apoio publicitário assim como 
do uso da autopromoção dos principais agentes da referida operação, a qual teve a 
sua disposição um grande aparato de ferramentas de dispersão de informações 
como: o rádio, a imprensa com coberturas exclusivas, entrevistas, eventos, etc. 
(STRECK e CARVALHO, 2020). 
As Operações, iniciadas em março de 2014, a princípio como forma de 
combate a corrupção e lavagem de dinheiro por meio da Justiça Federal na cidade 
de Curitiba, veio a emitir na sequência portarias que instituiriam forças-tarefas no Rio 
de Janeiro e em São Paulo. 
A Referida operação contou com um fundo de recursos bilionários o que 
envolveu uma fundação criada pelo MPF e controlada pelo Procurador Deltan 
Dallagnol. Isso que gerou uma Arguição de Descumprimento de Preceito 
Fundamental, motivando uma decisão propalada pelo o Ministro Alexandre de 
Moraes, o qual percebendo a culminância dos procuradores e do Juiz Sérgio Moro 
no sentido de inflar tal fundo, tomou por devida a providência de fazer o controle 
externo de tal poder. No total deveriam ser depositados 2,6 bilhões a serem 
depositados na 13ª Vara Federal de Curitiba, sendo que tal recurso seria o fruto de 
um acordo protocolado por tais procuradores junto da Petrobrás, o que se deu por 
meio de um acordo com seus acionistas nos Estados Unidos (CONJUR, 2019). 
 
4.1.2 A Extraterritorialidade dos Estados Unidos da América 
 
A extraterritorialidade dos Estados Unidos, imposta ou no mínimo exercida por meio 
de atos que continuam a produzir efeitos ainda hoje em diversas regiões do mundo, 
também se reflete Operação Lava Jato, de modo que é possível observar 
semelhanças entre o modo práxis dessa extraterritorialidade também na referida 
operação. No entanto o ponto mais agravante é o modo como o precedente aberto 
38 
 
pelo governo norte americano veio a legitimar ou no mínimo justificar tais práticas 
também exercidas ou impostas em casos icônicos de Lawfare não só no Brasil, mas 
também em boa parte da América Latina. Esse paradigma já vinha sendo 
desenvolvido desde os anos 70, por meio do uso de um intrincado de aparatos 
legislativos, mesmo que possa ter sua legitimidade, ética ou até mesmo moral 
questionável, pois já se percebia a tendência de eliminar concorrentes econômicos 
ou políticos em tais atos. Por esse motivo não é estranho que a extraterritorialidade, 
enquanto fenômeno que integra as guerras híbridas com o uso das leis para este 
fim, é algo que vem sendo estudado nas academias militares por todo o mundo. 
(STRECK e CARVALHO, 2020). 
A Operação Lava Jato, neste sentido, guarda absoluta correlação 
com as práticas elaboradas e respaldadas pela extraterritorialidade 
norte-americana, que têm feito estragos mundo afora. Desde os anos 
70, uma complexa teia de legislação vem sendo aprimorada com o 
fim de eliminar concorrentes, absorver empresas e expandir 
mercados por meio do combate à corrupção. (STRECK e 
CARVALHO, 2020). 
Streck e Carvalho abordam também outras questões como o exemplo do 
papel que a Operação Lava Jato teve na defesa interesses extraterritoriais por meio 
da colaboração dos procuradores brasileiros com a execução de uma norma 
americana: o Foreign Corrupt Practices Act (FCPA); lei americana criada com o 
objetivo de punir empresas estrangeiras, o que viola inclusive tratados 
internacionais. Tal norma é entendida como um modo dos Estados Unidos 
exercerem o seu poder político e econômico para o resto do mundo. De início 
quando fora sancionada (1977), tal lei objetivava coibir a corrupção entre empresas 
norte americanas e funcionários públicos no exterior, porém como o passar dos anos 
seu alcance foi sendo cada vez mais estendido, e hoje tal lei é usada como 
ferramenta no jogo da geopolítica do poder. (STRECK e CARVALHO, 2020). 
Zanin e Martins mostram como se deu a colaboração dos procuradores da 
referida operação junto: ao FBI; a Comissão de Valores Mobiliários dos Estados 
Unidos e a Agência Americana de Inteligência na articulação do andamento do 
FCPA nas empresas brasileiras e contra seus respectivos executivos. Como 
resultado ocorreram prisões de executivos nos Estados Unidos assim como a 
sanção de consideráveis valores em multas a título do Tesouro Americano, com isso 
muitas empresas brasileiras sofreram fortes danos ao ponto que algumas falirem, 
39 
 
como exemplo toma-se a Embraer que por pouco não fora incorporada pela Boeing 
após tais atos. 
Isso só foi possível dado o extremo zelo que agentes públicos 
brasileiros tiveram para garantir os interesses alheios, agravando a já 
impositiva extraterritorialidade por uma atuação duvidosa por meio de 
intercâmbio informal e atencioso aos interesses alienígenas. 
(STRECK e CARVALHO, 2020). 
O Departamento de Justiça dos Estados Unidos (DOJ) ao usar o FCPA para se 
embasar, veio a aplicar a sanção de multas bilionárias na Lava Jato. A Petrobrás, 
por exemplo, pagou US$ 1,78 bilhão no ano de 2018, a Odebrecht por sua vez 
acordou em pagar US$ 2,6 bilhões ao Brasil, à Suíça e Estados Unidos, contudo 
somente os Estados Unidos no caso em questão, ao usar o FCPA, recebeu sozinho 
a exorbitante valor de US$ 93 milhões. 
 E desse modo, também a força tarefa da Lava Jato, a partir de 2018 
trabalhou também com a colaboração do FBI, recebendo pronto auxílio em algumas 
fases das investigações, tudo isso sem o conhecimento do governo brasileiro de 
modo que as autoridades nacionais tinham menos acesso a informações a respeito 
do processo do quê o próprio FBI. Como exemplo da gravidade de tal ato, em 2015 
ocorreu uma visita do FBI ao Ministério Público Federal brasileiro sem o 
conhecimento do Ministério da Justiça, o qual possui de forma legítima a 
competência de articular as cooperações internacionais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
40 
 
 
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Para o autor Luiz Flávio Gomes (2009), o direito penal como última ratio 
constitui um dos princípios norteadores do direito, sendo assim o instituto pelo qual 
se pode compreender que existe uma limitação ao legislador quanto a matéria penal, 
de modo que a lei penal deve ser aplicada somente quando ela é capaz de evitar a 
ocorrência de atos ilícitos, ou de puni-los à altura da lesão ou do perigo a que foi 
exposto determinado bem jurídico, o qual deve ser dotado de relevância para a 
manutenção da convivência social pacífica. Nisso a segurança jurídica, um bem 
garantido por meio da Constituição Federal brasileira, como um valor fundamental, 
assim como também a igualdade e a liberdade, carecem de mecanismos que evitem 
arbitrariedades e o autoritarismo. 
Buscou-se no presente trabalho; fazer um diagnóstico e possível prognóstico 
dos resultados a médio e longo prazo destes atos. 
Conclui-se assim que, por mais que não existam meios de refrear ou coibir 
plenamente o uso inadequado de dispositivos legais e processuais no uso de 
lawfare político e econômico, mesmo assim seus danos podem ser mensurados, e 
seus resultados nocivos mitigados. 
De início, a identificação do vício de suspeição por parte do magistrado, que 
deveria o reconhecer de ofício, se dá em decorrência do reconhecimento da 
parcialidade, e dessa forma resulta na nulidade dos processos com esse vício, isso 
ocorreria de forma

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