Prévia do material em texto
1 CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIFACIG CENTRO UNIVERSITÁRIO AUGUSTOMOTTA Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Local – PPGDL Mestrado em Desenvolvimento Local Turma Fora de Sede CRISTIANE PEREIRA GUIMARÃES AMBIENTE CONSTRUÍDO E ATIVIDADE FÍSICA: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA E ANÁLISE DO CONTEXTO DE UMA CIDADE DO INTERIOR DE MINAS GERAIS Manhuaçu – Minas Gerais 2020 2 CRISTIANE PEREIRA GUIMARÃES AMBIENTE CONSTRUÍDO E ATIVIDADE FÍSICA: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA E ANÁLISE DO CONTEXTO DE UMA CIDADE DO INTERIOR DE MINAS GERAIS Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Desenvolvimento Local, do Centro Universitário Augusto Motta, em parceria com o Centro Universitário Unifacig, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento Local. Área de concentração: Desenvolvimento Sustentável e Trabalho. Orientador: Prof. Dr. GUSTAVO MONNERAT CAHLI Manhuaçu – Minas Gerais 2020 3 FICHA CATALOGRÁFICA Elaborada pelo Sistema de bibliotecas e Informação – SBI – UNISUAM 613.2 Guimarães, Cristiane Pereira. G963a Ambiente construído e atividade física: uma revisão sistemática e análise do contexto de uma cidade do interior de Minas Gerais / Cristiane Pereira Guimarães. - Rio de Janeiro, 2020. 98p. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Local). Centro Universitário Augusto Motta, 2020. 1. Atividade Física. 2. Atividade Física-Prática. 3. Ambiente Percebido-Brasil. I. Título. CDD 22.ed. 4 5 Esta dissertação é dedicada à minha mestra e mãe, Lúcia. 6 AGRADECIMENTOS Há 11 anos, na graduação em Educação Física, o professor Rogério Santos Pereira, despertou em mim o sonho de me tornar mestre. Professor Rogério, obrigada. Mas, realizar este sonho não foi fácil. Ao longo desse período, uma tentativa frustrada me fez querer desistir. Cheguei a dizer “ser mestre não é para mim”. Engano meu. Quando tudo parecia resolvido, uma reviravolta acontece, e cá estava de volta. Foi nesse retorno que Deus mostrou que ainda não era o fim. Graças a Ele pude encontrar na minha família, especialmente na minha mãe, Lúcia e nas minhas irmãs Daiane, Sílvia, Débora e Isabela, o apoio necessário para seguir em frente, e me aventurar nesse sonho novamente. Obrigada, família. Também, graças a Deus, conheci a Anandy e o Thales, que num gesto generoso e de confiança, colocaram no meu caminho a UNISUAM e a UNIFACIG. Obrigada, Anandy e Thales, não existem palavras para expressar o tamanho da minha gratidão com vocês. Como Deus foi generoso durante a construção desta dissertação. Graças a Ele fui abençoada com uma turma de mestrado fantástica (como diria o colega Alexander), com professores espetaculares, com a orientação do professor Gustavo (obrigada, professor, pela calma e assertividade de sempre) e com o apoio da professora Maria Geralda. Obrigada, amigos e professores da turma fora de (sério) sede. Além dessas pessoas incríveis, sou grata a Deus pelos amigos e amigas que me ajudaram neste processo: obrigada Thaysa por ser a minha musa inspiradora; obrigada Juliana por tudo que fez para ajudar ao longo deste período (e não só); obrigada Quésia por ser minha amiga, por toda ajuda oferecida, pelo carinho e gentileza de sempre; obrigada Thainara e Josimere por terem sempre uma palavra amiga e pelo esforço incansável em divulgar os questionários utilizados nessa dissertação; obrigada aos amigos, professores, e alunos do UNIFACIG, vocês me motivam a ser uma pessoa melhor; e, obrigada a cada um que, mesmo sem me conhecerem, contribuíram com a dissertação. Por fim, agradeço a pessoa que ofereceu o apoio e ajuda mais importante nesse período, meu marido Emerson, a sua paciência e tranquilidade tornou o percurso desta etapa bem mais agradável. Obrigada, meu amor. Sei que faltam citar inúmeras pessoas que me ajudaram neste percurso, mas, elas sempre serão lembradas em minhas orações. Uma vez mais, agradeço a Deus por não me ter deixado desistir, e hoje, graças a Ele, vejo meu sonho realizado. “NUNCA PARE DE SONHAR”, diz o quadro que ganhei das minhas irmãs quando cheguei ao Brasil... 7 RESUMO Os objetivos desta dissertação foram: demonstrar estudos que relacionaram as características do ambiente construído (AC) com a prática de atividade física (AF) no Brasil; verificar associação entre as características do ambiente percebido do bairro (APB) e à prática de AF entre adultos residentes em Manhuaçu-MG; propor ações que favoreçam a prática de AF nesta cidade. Uma revisão sistemática foi realizada para contemplar o primeiro objetivo. Foram incluídos artigos disponíveis nas bases de dados do PUBMED, BIREME e SCIELO, publicados a partir de 1990, nas línguas portuguesa e inglesa. Após análises baseadas nos critérios de inclusão, 26 artigos foram selecionados: todos apresentavam delineamento transversal; 17 desenvolvidos na região Sul do Brasil, uma região com elevado Índice de Desenvolvimento Humano (IDH); 21 utilizaram o Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ) para medir a AF; 15 utilizaram a Neighborhood Environment Walkability Survey (NEWS) para avaliar as características do AC relacionadas à prática de AF. A variável ambiental “presença de instalações recreativas” foram as que apresentaram associações significativas com a prática de AF. Conclui-se que essa temática foi mais investigada em capitais, com IDH elevado, sugerindo que novas pesquisas devem ser conduzidas em cidades com contextos diferentes. Em resposta aos achados desta revisão, foi conduzido um estudo com uma amostra de 155 adultos, de ambos os sexos, com idades entre 18 e 60 anos, residentes na cidade de Manhuaçu-MG. Dados acerca da prática de AF foram obtidos através do IPAQ, e as características APB através da NEWS. Os resultados deste estudo demonstraram que a prevalência de 150 min/sem de caminhada no lazer (CL) foi de 16,1%, da caminhada como forma de deslocamento (CD), 23,2%, e da AF com intensidades moderada a vigorosa (AFMV), 48,4%. Não foram encontradas associações significativas entre as variáveis estudadas e a prática de CL. A CD apresentou associação significativa com a renda, escolaridade, ocupação, presença de praça e sombras das árvores nas calçadas. A prática de AFMV foi associada estatisticamente com segurança para caminhar durante a noite, qualidade das calçadas e satisfação quanto ao bairro ser um bom lugar para viver. Assim, a pesquisa demonstrou existir associações significativas entre o APB a prática de AF, em diferentes domínios. Nesse contexto, tendo em vista que cerca de 80% dos participantes da amostra declararam viver próximo a uma escola, o produto dessa dissertação - Proposição da Política Pública Escolas Sempre Ativas, teve como objetivo contribuir para melhores níveis de AF. Palavras-chave: Ambiente percebido; Inatividade física; Cidade; Brasil. 8 ABSTRACT The purposes of this dissertation were: to demonstrate studies that related the characteristics of the built environment (BE) with the practice of physical activity (PA) in Brazil; verify the association between the characteristics of the neighborhood's perceived environment (NPE) and the practice of PA among adults living in Manhuaçu-MG; propose actions that favor the practice of PA in this city. A review was conducted to address the first objective. Articles available in the PUBMED, BIREME and SCIELO databases, published since 1990, in Portuguese and English were included. After analyzes based on the inclusion criteria, 26 articles were selected: all had a cross-sectional design; 17 developed in the southern region of Brazil, a region with a high Human Development Index (HDI); 21 used the International Physical Activity Questionnaire (IPAQ) to measure PA; 15 used the Neighborhood Environment Walkability Survey (NEWS) to assess the characteristics of BE related to the practice of PA. The environmental variable "presence of recreational facilities" were those that showed significant associations with the practice of PA. It is concluded that this theme was more investigated in capitals,with high HDI, suggesting that new research should be conducted in cities with different contexts. In response to the findings of this review, a study was conducted with a sample of 155 adults, of both sexes, aged between 18 and 60 years old, living in the city of Manhuaçu-MG. Data about the practice of PA were obtained through IPAQ, and the APB characteristics through NEWS. The results of this study showed that the prevalence of 150 min/week of leisure walking (WL) was 16.1%, walking as form of commuting (WC), 23.2%, and of moderate to vigorous PA (MVPA), 48.4%. No significant associations were found between the studied variables and the practice of WL. The WC showed a significant association with income, education, occupation, presence of a square and shadows of trees on the sidewalks. The practice of MVPA was statistically associated with safe walking at night, quality of sidewalks and satisfaction with the neighborhood being a good place to live. Thus, the research demonstrated significant associations between the APB and the practice of PA, in different domains. In this context, considering that about 80% of the participants in the sample declared to live close to a school, the product of this dissertation - Public Policy Proposition Schools Always Active, had as objective to contribute for better levels of AF. Keywords: Perceived environment; Physical inactivity; City; Brazil. 9 LISTA DE FIGURAS Figura 1: Modelo Comunitário de Enfoque Ecológico para os determinantes da Atividade Física.........................................................................................................................................15 Figura 2: Fluxograma da seleção e exclusão de estudos sobre AC e AF desenvolvidos no Brasil (2020).............................................................................................................................21 Figura 3: Análise SWOT da política Escolas Sempre Ativas (2020)......................................63 Figura 4: Público alvo da política Escolas Sempre Ativas (2020) .........................................64 Figura 5: Indicadores da política Escolas Sempre Ativas (2020)............................................65 Figura 6: Estimativa orçamentária da política Escolas Sempre Ativas - ESA (2020).............66 Figura 7: Plano de comunicação da política Escolas Sempre Ativas (2020)...........................67 Figura 8: Avaliações da política Escolas Sempre Ativas (2020).............................................70 10 LISTA DE QUADROS Quadro 1:Modelo de busca....................................................................................................20 Quadro 2:Modelo lógico do Programa Escolas Sempre Ativas (ESA).................................65 11 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Estudos que associaram as características do AC com a prática de AF no Brasil (n=26) .......................................................................................................................................22 Tabela 2 - Domínios da AF e resultados dos estudos que associaram as características do AC com a prática de AC no Brasil (n=26)......................................................................................24 Tabela 3 - Características sociodemográficas dos participantes. Manhuaçu, MG. Brasil (n= 155 adultos)...............................................................................................................................43 Tabela 4 - Análise descritiva das variáveis CL, CD e AFMV, estratificadas por sexo. Manhuaçu, MG. Brasil (n= 155 adultos)..................................................................................43 Tabela 5 - Variáveis associadas com a prática de CD. Manhuaçu, MG. Brasil (n= 155 adultos)......................................................................................................................................44 Tabela 6 - Variáveis associadas com a prática AFMV. Manhuaçu, MG. Brasil (n= 155 adultos)......................................................................................................................................45 Tabela 7 - Tempo percebido de uma caminhada da residência até uma escola do ensino fundamental. Manhuaçu, MG. Brasil (n=155).............................................................................61 12 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................... 13 1.1 Objetivos............................................................................................................................. 15 1.1.1 Objetivo Geral..................................................................................................................15 1.1.2 Objetivos Específicos.......................................................................................................16 1.2 Organização da dissertação.................................................................................................16 2 ARTIGO DE REVISÃO DE LITERATURA....................................................................... 17 3 ARTIGO DE RESULTADOS E DISCUSSÃO.....................................................................38 4 PRODUTO DA DISSERTAÇÃO......................................................................................... 55 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................73 6 REFERÊNCIAS.....................................................................................................................78 7 APÊNDICES E ANEXOS..................................................................................................... 80 7.1 Anexo A - Questionário ABEP...........................................................................................80 7.2 Anexo B - Questionário Internacional de Atividades Físicas - IPAQ (Versão longa)........82 7.3 Anexo C - NEWS (versão brasileira) - Escala de Mobilidade Ativa em Ambiente Comunitário.............................................................................................................................. 86 7.4 Apêndice D - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido............................................. 90 7.5 Apêndice E – Orçamento e equipe envolvida.....................................................................93 7.6 Apêndice F– Parecer Consubstanciado Comitê de Ética.................................................... 94 7.7 Apêndice G - Termo de Cessão de transferência de Produto Técnico................................98 13 1 INTRODUÇÃO A prática regular de atividade física (AF) melhora aspectos que refletem na saúde e qualidade de vida do indivíduo, favorecendo desde a manutenção do peso em níveis saudáveis à saúde mental, além disso, parece ser determinante no tratamento e prevenção de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), e todos os fatores em conjunto parecem colaborar para o desenvolvimento social, cultural e econômico de uma sociedade (WHO, 2018a). Em contrapartida, a inatividade física (IF) contribui para uma condição pouco favorável, sendo considerada um fator de risco relevante ao desenvolvimento de doenças crônicas degenerativas não transmissíveis, além de um efeito negativo sobre a saúde mental e qualidade de vida (WHO, 2018a). Estima-se que a IF seja responsável por mais de 5,3 milhões de mortes prematuras no mundo, além disso, representa uma carga global de doenças - uma métrica que visa complementar as estatísticas tradicionais de saúde (mortalidade e morbidade/custos hospitalares) que não traduzem o impacto de desfechos não fatais de doenças ou lesões ocorridas ao longo da vida, a combinar dados que se referem à saúde perdida devido a doenças, ou à morte prematura (ROCHA, 2017), de 6% (variando de 3,2% no sudeste da Ásia a 7,8% na região mediterrânea oriental) das doenças coronarianas; 7% (3,9 a 9, 6%) de diabetes tipo 2; 10% (5,6 a 14,1%) do câncerde mama; e 10% (5,7 a 13,8%) do câncer de cólon (LEE et al., 2012), doenças que representam a maior proporção de mortalidade em todo mundo (WHO, 2018b). Um estudo desenvolvido por Guthold et al. (2018) verificou a prevalência da IF globalmente, demonstrou que mais de 1,4 bilhões de adultos, em 2016, foram considerados inativos fisicamente, com maiores riscos de desenvolver ou exacerbar as doenças relacionadas a esse grave fator de risco. O mesmo grupo de autores investigou a predominância da IF entre adolescentes (GUTHOLD et al., 2020), constatou uma situação preocupante: mundialmente, onde mais de 80% (variando de 77,8 a 87,7%) dos adolescentes entre 11 a 17 anos, não atendem às recomendações de AF diária preconizadas pela Wolrd Health Organization (WHOa, 2010), ou seja, são inativos fisicamente, uma situação que compromete a saúde atual e futura. Ainda sobre esse cenário, os autores alertam para os altos índices de IF encontrados nos países da América Latina, especialmente no Brasil, país onde cerca de 47.0% (variando de 38.9 a 55.3%) dos adultos (GUTHOLD et al., 2018) e 83.6% (variando de 81.1 a 85.8%) dos adolescentes (GUTHOLD et al., 2020) encontram-se nessa situação. 14 O reconhecimento das fortes relações entre a IF e as principais DCNT despertou o interesse de instituições importantes ao longo das últimas décadas, levando-as a destacar a IF pauta em várias assembleias, relatórios, em elaborações de políticas públicas, e a estabelecer metas de redução da IF. Um exemplo importante de ações nesse sentido foram as metas estabelecidas, em setembro de 2015, pelos representantes dos 193 Estados-membros da Organização das Nações Unidas (ONU, 2015). Num documento denominado “Transformando nosso mundo: a Agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável”, composto por 17 objetivos (os ODS) e 169 metas, que estimularão e nortearão ações nos próximos anos que incidam sobre áreas importantes para a humanidade e para o planeta, através de estratégias que integrem e equilibrem as três dimensões do desenvolvimento sustentável: a econômica, a social e a ambiental, o combate à IF, a promoção da AF fica evidente. A Agenda 2030 estabelece como meta a redução em um terço da mortalidade prematura por DCNT até 2030, por meio de ações que previnam, tratem e promovam a saúde mental e o bem-estar. Para colaborar com o alcance dessa meta, em 2018 foi lançado o Plano de Ação Global para Atividade Física 2018-2030 (WHO, 2018a). Esse documento sugere a implementação de 20 ações de políticas aplicáveis a todos os países, e estabelece como meta a redução relativa de 15% na prevalência da IF entre adultos e adolescentes. Entretanto, estabelecer estratégias para influenciar os comportamentos em saúde, e, em questão, a prática regular de AF, é um desafio que inclui um grande investimento econômico e ações em diversos níveis políticos, sociais, ambientais e individuais (SALLIS et al., 2006), o que nem sempre é visto em modelos e teorias amplamente utilizados, que prioritariamente enfatizam estratégias com enfoque nas características individuais e habilidades sociais, e não consideram explicitamente as influências comunitárias, ambientais, organizacionais e políticas sobre tal comportamento (SALLIS et al., 2009). Para preencher lacunas concernentes ao desafio de promover mudanças de comportamentos, Sallis et al. (2006) apresentam uma abordagem denominada modelo ecológico. Nesse modelo, as intervenções e estratégias contemplam as influências sobre o comportamento em vários níveis: intrapessoal (biológico e psicológico), interpessoal/cultural, organizacional, ambiente físico (construído, natural) e políticas (leis, regras, regulamentos e códigos), conforme demonstra a figura 1. 15 Figura 1: Modelo Comunitário de Enfoque Ecológico para os determinantes da Atividade Física Fonte: Traduzido de Bauman et al. (2012). Dentre esses aspectos, as influências do ambiente construído (AC) sobre a prática de AF têm recebido uma especial atenção por parte dos pesquisadores (FLORINDO et al., 2011). Sobre o que consiste o AC, Sallis et al., (2009) referem-se ao AC como aquele composto por espaços e objetos criados ou modificados por pelo homem, como prédios, casas, escolas, parques, praças, ruas, calçadas, áreas verdes, sistema de transporte, e iluminação. Assim, sob a perspectiva destas classificação, percebe-se que AC oferece inúmeras possibilidades de ações de melhorias, e, parece viável que o planejamento e intervenções de políticas públicas que incidam sobre o AC, podem promover maiores oportunidades de acesso as essas práticas, tendo como exemplo, a presença de calçadas, áreas verdes, ruas com faixas de pedestres, semáforos, praças bem cuidadas, podem favorecer a motivação e a adesão às práticas de AF. Alguns estudos internacionais têm demonstrado fortes relações entre a prática de AF e as características do AC (SHIMURA et al., 2012; SUGIYAMA et al., 2012; KERR et al., 2013; GILES-CORTI et al., 2013; OGILVIE et al., 2011). Assim sendo, reconhecendo os vínculos da AF na promoção da saúde humana (em todas as dimensões da saúde) e os desafios que implicam a promoção desse comportamento, o presente estudo teve como objetivos: 1.1 Objetivos 1.1.1 Objetivo Geral 16 Investigar as relações entre as características do ambiente construído e prática de atividade física em diferentes domínios. 1.1.2 Objetivos Específicos Demonstrar estudos que relacionaram as características do ambiente construído com a prática de atividade física no Brasil; Verificar associação entre as características do ambiente percebido do bairro e à prática de atividade física, em diferentes domínios, entre adultos residentes em Manhuaçu - MG; Propor ações que favoreçam a prática de atividade física nesta cidade. 1.2 Organização da dissertação Esta dissertação está organizada em formato compacto, conforme a norma de dissertação e regulamento do Programa de Pós-Graduação em desenvolvimento Local (PPGDL) e, está apresentada na forma de capítulos. Primeiramente, é apresentada uma introdução breve sobre a temática tratada, a sua finalidade, os objetivos, geral e específicos e a organização da dissertação. A segunda parte é constituído pelo artigo de revisão de literatura. A terceira parte apresenta o artigo original com seus resultados e discussão sobre os dados da dissertação. A quarta parte constituiu-se pelo produto da dissertação - Proposição da Política Pública “Escolas Sempre Ativas (ESA)”. Em seguida, são apresentadas as considerações finais da dissertação, referências, anexos e apêndices. 17 2 ARTIGO DE REVISÃO DE LITERATURA AMBIENTE CONSTRUÍDO E ATIVIDADE FÍSICA: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DOS ESTUDOS REALIZADOS NO BRASIL BUILT ENVIRONMENT AND PHYSICAL ACTIVITY: A SYSTEMATIC REVIEW OF STUDIES CARRIED OUT IN BRAZIL AMBIENTE CONSTRUIDO Y ACTIVIDAD FÍSICA: REVISIÓN SISTEMÁTICOS LOS ESTUDIOS DESARROLLADOS EN BRASIL Cristiane Pereira Guimarães Gustavo Monnerat Calhi Resumo: Objetivos: demonstrar os estudos desenvolvidos no Brasil que relacionaram as características do ambiente construído (AC) com a prática de atividade física (AF), bem como identificar as populações mais investigadas e caracterizar as principais lacunas a serem preenchidas por futuros estudos. Metodologia: artigos indexados nas bases de dados PUBMED, BIREME e SCIELO, a partir de 1990, nas línguas portuguesa e inglesa. Resultados: 26 artigos foram selecionados, onde todos apresentaram delineamento transversal; 17 foram desenvolvidos na região Sul do Brasil, uma região com elevado Índice de Desenvolvimento Humano (IDH); 21 utilizaram o questionário internacional de atividade física (IPAQ), na versão longa para medir a AF; 15 utilizaram a Neighborhood Environment Walkability Survey (NEWS- A) para avaliar as características do AC relacionadas à prática de AF. A variável ambiental “presença de instalações recreativas”, como praças, campos, clubes de futebol, ciclovias e trilhas para caminhadas foi a que apresentouassociações significativas com a AF nos diferentes domínios. Conclusão: essa temática foi mais investigada em capitais, com IDH elevado, o que sugere que novas pesquisas deveriam ser conduzidas em cidades do interior, com IDH menores, para identificar se estas associações se repetem ou diferem nestes contextos. Palavras-chave: ambiente urbano, inatividade física, Brasil. Abstract: Objectives: to demonstrate the studies developed in Brazil that related the characteristics of the built environment (BE) with the practice of physical activity (PA), as to identify more investigated populations and to characterize the main gaps to release by future studies. Methodology: articles indexed in the databases PUBMED, BIREME and SCIELO, since 1990 and also Portuguese and English. Results: 26 articles were selected of which all showed cross-sectionally study, 17 had been developed in the South of Brazil, a zone with a high Human Development Index (HDI), 21 had as instrument the international physical activity questionnaire (IPAQ), in the long version, to measure PA, 15 used a Neighborhood Environment Walkability Survey (NEWS-A) to evoluate the characteristics of BE related to practice of PA. The environmental variable “presence of recreational facilities”, as squares, fields, football clubs, bike paths and hiking trails, was the what showed significant associations with PA in different domains. Conclusion: this thematic was the most 18 investigated in capitals, with high HDI, that suggests that new search should be conducted in inland cities, with lower HDI, to identify if these associations are repeated or differ in these contexts. Keyword: urban environment, physical inactivity, Brazil Resumen: Objetivos: demonstrar los estudios desarrollados en Brasil que relacionan las características del ambiente construido (AC) con la práctica de actividades físicas (AF). Así como identificar las las poblaciones más investigadas y caracterizar las brechas que deben ser cubiertas en estudios futuros. Metodología: artículos indexados en las bases de datos PUBMED, BIREME y SCIELO, desde 1990 y en portugués e inglés. Resultados: 26 artículos seleccionados, tenían un diseño transversal, 17 desarrolló en la región sur de Brasil, una región con un alto Índice de Desarrollo Humano (IDH), 21 utilizó la cuestionario internacional de actividad física (IPAQ), en la versión larga para medir la AF , 15 utilizó la Neighborhood Environment Walkability Survey (NEWS-A) ara evaluar las características de CA relacionadas con la práctica de AF.La variable ambiental "presencia de instalaciones recreativas", como plazas, campos, clubes de fútbol, ciclovías y rutas de senderismo, fue la que mostró asociaciones significativas con AP en diferentes dominios; Conclusión: Este tema se investigó más en las capitales, con un alto IDHM, lo que sugiere que se deben realizar más investigaciones en ciudades del interior, con IDHM más pequeño, para identificar si estas asociaciones se repiten o difieren en estos contextos. Palabras clave: ambiente urbano, la inactividad física, Brasil. INTRODUÇÃO Estima-se que 1,4 bilhões de adultos sejam inativos fisicamente (GUTHOLD et al., 2018), sendo que, em alguns países, a proporção chega a 70% (WHOa, 2018). No brasil, entre as populações mais jovens, esta proporção atinge quase 90% (GUTHOLD et al., 2020). O mais preocupante é que essa prevalência tem se mantido praticamente inalterada ao longo dos anos (GUTHOLD et al., 2018). Considerando que a inatividade física (IF) parece ser responsável por cerca de 5,3 bilhões de mortes prematuras em todo mundo (LEE et al., 2012), tal como preconiza a Organização Mundial de Saúde (WHO, 2018b), não agir no sentido de elevar os níveis de atividade física (AF) pode um impactos negativos para saúde, qualidade de vida, bem-estar da população. Intervenções têm sido propostas com o objetivo de combate a IF (WHO, 2014, ONU, 2015, WHO, 2018b), mas o sucesso dessas propostas exige ações em diversos níveis, e o baixo alcance delas, até o momento, indica que essas ações podem não estar no caminho certo (GUTHOLD et al., 2018). Para superar esses desafios, o Modelo Comunitário de Enfoque Ecológico, desenvolvido por Sallis et al. (2006), propõem que as intervenções e estratégias devem contemplar as influências sobre a prática de AF em vários níveis: intrapessoal 19 (biológico e psicológico), interpessoal/cultural, organizacional, ambiente físico (construído, natural) e políticas (leis, regras, regulamentos e códigos). Interações dos fatores etiológicos, especificamente, do ambiente construído (AC) como prática de AF têm recebido atenção por parte dos pesquisadores (FLORINDO et al., 2011; BAUMAN et al., 2012). Contudo, a maioria dos estudos foram desenvolvidos em países de alta renda (SHIMURA et al., 2012; SUGIYAMA et al., 2012; KERR et al., 2013; GILES-CORTI et al., 2013; OGILVIE et al., 2011), com características muito diferentes do Brasil. Dessa forma, o presente trabalho teve como objetivo demonstrar os estudos desenvolvidos no Brasil que relacionaram as características do AC com a AF, além disso, identificar as populações mais investigadas, e caracterizar as lacunas que possam ser exploradas por novos estudos. METODOLOGIA Os procedimentos metodológicos adotados nesta revisão sistemática seguiram as diretrizes do PRISMA - Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (2009), que tem como objetivo ajudar no melhor desenvolvimento de revisões sistemáticas e metanálises, metodologias cada vez mais frequentes, e que são úteis como ponto de partida para o desenvolvimento de ações baseadas em evidências (MOHER et al., 2009). Num primeiro momento, foi realizada uma pesquisa exploratória sobre o tema, a fim de conhecer os principais estudos desenvolvidos, além dos melhores procedimentos metodológicos e das suas principais palavras chaves. A busca por palavras chaves foi realizada em português e inglês, em três bases de dados: Scielo, Bireme e Pubmed. Além disso, utilizou-se operador lógico booleano “OR”, a fim de buscar o máximo de sinônimos possíveis, e “AND”, para relacionar as palavras chaves, buscando o máximo de combinações possíveis, conforme apresentados no quadro 1: 20 Quadro 1:Modelo de busca Fonte: Elaboração dos autores (2020). Foram incluídos artigos originais, publicados a partir do ano de 1990, com medidas objetivas da AF avaliadas pelo uso de acelerômetros, pedômetros ou observação direta, ou com medidas subjetivas da AF, pela aplicação do International Physical Activity Questionnaire (IPAQ) versão curta ou longa, com medidas objetivas do AC, obtidas pelo uso de geoprocessamento, Sistema de Informação Geográfica (SIG), auditagem, Geographic position system (GPS), e medidas subjetivas do ambiente, através da Escala de percepção ambiental (Neighborhood Environmental Walkability Scale - NEWS) nas versões longas, curtas, ou adaptadas para o Brasil, artigos realizados com populações brasileiras, desenvolvidos em ambos os sexos e populações, estudos publicados em periódicos indexados, com delineamentos transversais, longitudinais, ensaios clínicos randomizados e de coorte ou caso-controle. Estudos de revisão, revisão sistemática, metanálise, artigos de opinião, carta ao editor, realizados em outros países, de validação de questionário, ou de qualquer característica semelhante, como por exemplo, que não utilizaram os métodos supracitados para a avaliação ou caracterização do AC e para a avaliação da AF não foram incluídos. A primeira etapa da revisão decorreu entre janeiro e fevereiro de 2020 e consistiu na busca de artigos publicados a partir de 1990 até fevereiro de 2020 nas bases de dados Scielo, Bireme e Pubmed. Foram localizados 821 artigos; após a exclusão de artigos duplicados, 568 permaneceram para a etapa da leitura do título; nessa fase, 462 artigos foram excluídos por não apresentarem relação com o objetivo do estudo. O passo seguinte envolveu a leitura dos resumos dos 107 documentosrestantes, onde desses, restaram apenas os que apresentaram relação entre AC e AF, desenvolvidos no Brasil, dos quais 55 foram excluídos, restando 52 para leitura completa. Após a leitura dos arquivos na íntegra, 26 foram excluídos pelas justificativas apresentadas na figura 2, sendo finalmente selecionados 26 estudos. 21 Figura 2: Fluxograma da seleção e exclusão de estudos sobre AC e AF desenvolvidos no Brasil (2020). Fonte: Elaborada pelos autores (2020). Após a leitura completa dos artigos finas, foram extraídos dos 26 artigos as seguintes informações: nome dos autores, ano de publicação, ano de coleta, local, delineamento do estudo, número da amostra, gênero, idade, instrumento de medida utilizado para avaliação do AC, instrumento de medida utilizado para avaliação da AF, variáveis individuais, variáveis do AC, domínios da AF. Por fim, foram descritos os resultados obtidos sobre as relações entre o AC e AF. RESULTADOS Do total, 26 artigos atenderam aos critérios de elegibilidade, todos publicados a partir de 2009, dos quais apenas cinco utilizaram dados coletados após o ano de 2010, 15 foram 22 realizados no sul do país (8 em Curitiba PR; 3 em Pelotas RS; 1 em Rio Grande RS, e 3 em Florianópolis SC), 8 no sudeste do país (5 em Ermelino Matarazzo SP; 1 em São Paulo SP; 2 em Rio Claro SP), 1 no nordeste do país (Recife) e 2 investigaram 3 cidades (em Curitiba no Sul do país, Vitória no sudeste, e Recife no nordeste). Todos exibiram desenho transversal. O tamanho da amostra variou entre 305 e 6166 sujeitos: 6 de 305 a 490; 5 de 699 a 972; 8 de 1206 a 1705; 4 de 2046 a 2874; e 3 de 3145 a 6.166; foram realizados entre homens e mulheres; 18 com pessoas de 18 ou mais, 2 com 16 anos ou mais, 5 com idosos, 1 com jovens de 18 anos. Para medir a AF, o principal instrumento foi o IPAQ versão longa (81%), 1 estudo utilizou somente acelerômetro, 1 conjugou acelerômetro e IPAQ versão longa 1 a versão curta do IPAQ e 2 não declararam a versão utilizada. Para avaliar o ambiente construído, 15 utilizaram o NEWS-A, 4 dados de geoprocessamento, 3 dados obtidos do SIG, 1 a versão curta da NEWS, 1 combinou observação sistemática com dados obtidos do SIG, 1 combinou dados da observação sistemática com NEWS-A, e outro, dados do SIG com NEWS-A, conforme demonstra a tabela 1: Tabela 1- Estudos que associaram as características do AC com a prática de AF no Brasil (n=26). Instrumento de medida Autores Ano-Pub. Ano- Col. Local D. N. Gênero Idade AF AC Salvador et al. 2009 2007 Ermelino Matarazzo - SP T 385 M/H ≥ 60 IPAQ VL NEWS-A Hallal et al. 2010 2007 Recife - PE T 2046 M/H ≥16 IPAQ VL NEWS -VC Amorim ; Azevedo; Hallal 2010 2006 Pelotas - RS T 972 M/H 20 a 69 IPAQ VL NEWS-A Salvador et al. 2010 2003 Ermelino Matarazzo - SP T 365 M/H ≥ 60 IPAQ VL NEWS-A Parra et al. 2011 2008 Curitiba - PR T 2097 M/H ≥ 18 IPAQ VL NEWS-A continua 23 Florindo et al. 2011 2007 Ermelino Matarazzo - SP T 890 M/H ≥ 18 IPAQ VL NEWS-A Corseuil et al. 2011 2009/2010 Florianópolis - SC T 1652 M/H ≥ 60 IPAQ VL NEWS-A Hino et al. 2011 2009 Curitiba - PR T 1206 M/H ≥ 16 IPAQ VL GP Gomes et al. 2011 2007- 2008- 2009 Recife / Curitiba / Vitória T 6166 M/H ≥ 18 IPAQ VL NEWS-A Giehl et al. 2012 2009/2010 Florianópolis - SC 1656 M/H ≥ 60 IPAQ VL NEWS-A Reis et al. 2013 2007/2008/2009 Recife / Curitiba / Vitória T 6166 M/H ≥ 18 IPAQ VL NEWS-A Florindo et al. 2013 2007 Ermelino Matarazzo - SP T 767 M/H ≥ 18 IPAQ VL OS + SIG Florindo; Salvador; Reis 2013 2007 Ermelino Matarazzo - SP T 890 M/H ≥ 18 IPAQ VL NEWS-A Teixeira; Nakamura; Kokubun 2014 2011/2012 Rio Claro - SP T 490 M/H ≥ 18 IPAQ VL NEWS-A Hino et al. 2014 2008 Curitiba - PR T 1206 M/H ≥ 18 IPAQ VL SIG Mendes et al. 2014 2012 Pelotas - RS T 2874 M/H ≥ 20 IPAQ VL NEWS-A Salvo et al. 2015 2009 Curitiba - PR T 1461 M/H ≥ 18 IPAQ VL NEWS-A Nakamura et al. 2016 xxx Rio Claro - SP T 1464 M/H ≥ 20 IPAQ VL GP Giehl et al. 2016 2009 -2010 Florianópolis - SC T 1705 M/H ≥ 60 IPAQ VL SIG Gonçalves et al. 2017 2010 Curitiba - PR T 305 M/H 20 a65 Acelerômetr o NEWS-A continua 24 Hino et al. 2017 2010 Curitiba - PR T 699 M/H 18 a65 IPAQ NEWS-A Florindo et al. 2017 2014/2015 São Paulo - SP T 3145 M/H ≥ 18 IPAQ VL SIG Da Silva et al. 2017 2011/2012 Pelotas - RS T 2279 M/H 18 Acelerômetr o - IPAQ VL GP Lopes et al. 2018 2009 Curitiba - PR T 1419 M/H ≥ 18 IPAQ VL OS +NEWS-A Silva et al. 2018 2012 Curitiba - PR T 328 M/H ≥ 18 IPAQ SIG +NEWS-A Borchardt; Paulitsch; Dumith 2019 2016/2017 Rio Grande - RS T 1290 M/H 18 a 65 IPAQ VL GP Legenda: T= transversal, M= mulheres, H= homens, IPAQ = international Physical Activity Questionnaire, VC= Versão curta, VL = Versão longa, NEWS-A = Aptation of Neighborhood Environmental Walkability Scale for Brazil, NEWS = Neighborhood Environmental Walkability Scale, SIG = Sistema de Informação Geográfica, GP= Geoprocessamento, OS= Observação sistemática. Fonte: Elaboração dos autores (2020). Doze estudos investigaram dois domínios ou mais, 10 o domínio do lazer (AFL), e 4 apenas o domínio do transporte (AFT), conforme demonstra a tabela 2. Para melhor descrever os resultados apresentados na tabela 2, os achados foram divididos em categorias: categorias AFT: caminhada no domínio do transporte (CT) e ciclismo no domínio do transporte (BT); AFL: qualquer atividade física no domínio do lazer (Q-AFL), caminhada no domínio do lazer (CL), ciclismo no domínio do lazer (BL), AFL leve, moderada (AFLM), vigorosa (AFLV), moderada e vigorosa (AFLMV); e AF: qualquer AF (Q-AF). Tabela 2 - Domínios da AF e resultados dos estudos que associaram as características do AC com a prática de AF no Brasil (n=26). Autores Ano- Pub. Domínios AF Resultados* Salvador et al. 2009 AFL AFL: boa percepção de segurança durante o dia (OR 4,21 IC 1,29- 13,79, p 0,019), presença de quadras próximas às residências (OR 2,95 IC 1,23- 7,09, p 0,017), morar a menos de dez minutos de caminhada até uma agência bancária (OR 3,82 IC 1,26-11,62, p 0,020) e morar a menos de dez minutos de caminhada até um posto de saúde (OR 3,60 IC 1,50-8,61, p 0,005), entre as mulheres: morar a menos de dez continua 25 minutos de caminhada de alguma igreja ou templo religioso (OR 5,73 IC 1,43-22,90, p 0,015) presença de praças (OR 3,63 IC 1,33 - 9,88, p 0,013), e presença de academias (OR 2,49 IC 1,10-5,62, p0,029) associou-se ao alcance dos 150 minutos por semana de AFL. Hallal et al. 2010 AFL/AFT AFL: falta de calçadas (OR 0,6 IC 0,3-0,9) e baixo acesso a instalações recreativas a uma caminhada de 5 minutos (OR 0,7 IC 0,5- 1,1) associou-se ao alcance dos 150 minutos por semana de AFL. AFT: apenas a variável estética desagradável associou-se ao alcance dos 150 minutos por semana de AFT (OR 1,5 IC 1,2-2,0). Amorim; Azevedo; Hallal. 2010 AFL/AFT AFL: “existência de áreas verdes” (OR 0.87 IC 0.81–0.94, p <0.001), e “existência de crimes” (OR 1.10 IC 1.00–1.22, p 0.05)associou-se com prática de AFL. AFT: “acúmulo de lixo no bairro” (OR 0.86 IC 0.75– 0.97, p 0.02), e “dificuldade de caminhar e andar de bicicleta no bairro devido ao trânsito" (OR 1.18 IC 1.04–1.33, p 0.01) associou-se com prática de AFT. Salvador et al. 2010 AF (CL + CT = NR- C) NR - C homens: presença de campos de futebol (OR 4.12 IC 1.41- 12.02, p 0.01) e a proximidade desses campos com as casas (OR 3.43 IC 1.46- 8.10, p 0.006), mulheres: presença de praças públicas (OR 4.70 IC 1.43- 15.43, p 0.012) e morar a menos de 10 minutos de uma unidade básica de saúde (OR 3.71 IC 1.19 - 11.54, p 0.025) associou- se com os níveis recomendados de prática de AF. Parra et al. 2011 AFL/AFT (CT/BT/C L/AFMV L / TT- AFLMV) CL: Não foram encontradas associações estatisticamente significativas. AFMVL: altos níveis de acessibilidade tiveram maior probabilidade de terem qualquer AFMVL (OR 1,7 IC 1,2-2,4). NR- AF: altas percepções de acessibilidade (OR 1,4IC 1,0-1,8) e altos níveis de qualidade dos espaços para pedestres (OR 1,4IC 1,0-1,9). CT: percepção de segurança (OR 1.5 IC 1,0–2.1)associaram-se com os níveis recomendados de prática de AF. Florindo et al. 2011 AFL (CT/AFM VL) AFL: presença de clubes próximos das residências (OR 2,26 IC 1,33- 3,85, p 0,010) e distância dos bares das residências (OR 1,21 IC 0,30- 4,85, p 0,004) associou-se com os níveis recomendados de prática de AFL. CT: percepção de segurança (OR 1,19 IC 1,07-1,33, p 0,003)associou-se com a prática de CT. Corseuil et al. 2011 AFT (TT - AFT) AFT: péssimas condições das calçadas (OR 1.55 IC 0.97, 2.49, p≤ 0.05.), ausência de ciclovias, trilhas, parques e quadras esportivas próximas a casa (OR 1.75 IC 1.22–2.51, p≤ 0.05) e presença de lixos nas ruas (OR 1.55 IC 1.04–2.30, p≤ 0.05)foram associadas a menores níveis de AFT, iluminação das ruas, os que relataram não tiverem maiores chances de ser pouco ativos ou inativos (Pouco ativos OR2.51 IC 1.36–4.64, p≤ 0.05; Inativos OR 2.43 IC1.43–4.15, p≤ 0.05). Hino et al. 2011 AFL (CL/ AFLMV) CL: ter duas ou mais de academias de ginástica (OR1,89 IC 1,21– 2,97) e proximidade das casas aos espaços de prática esportivas e centros de lazer (OR = 2,26; IC95% = 1,04–4,89) associou-se com CL. AFLMV: número de academia (POR = 1,52; IC95% = 1,11-2,09) associou-se com a prática de AFLMV. Gomes et al. 2011 AFL (CL/BL) CL: em Vitória - presença de calçadas nas ruas próximas foi associada à CL, porém, em uma direção negativa (OR 1.3 IC 1.0-1.7, p 0.04). Giehl et al. 2012 AFL NR-AFL: Existência de ciclovias, vias ou trilhas para pedestre de fácil acesso (OR 1,25 IC IC 1,03 - 1,43, p 0,02) associou-se com os níveis recomendados de AFL. Reis et al. 2013 AFT (CT/BT) CT e BT: não foram encontradas associações. continua 26 Florindo et al. 2013a AF (TT - CT + CL + AFLMV) AFL: quantidade de clubes públicos (p 0,037), faixas de pedestres (p 0,024), pistas de caminhada (p 0,002), igrejas(p 0,012), escolas (p 0,035), escolas de esporte (p 0,001) e associações de moradores (p 0,025) associaram-se com a prática de AFL. Florindo; Salvador; Reis 2013 AFT/AFL AFT: não foram encontradas associações. NR - AF: baixo nível de poluição ambiental (OR 1.46 IC 1.10–1.92, p 0.027) e alta percepção de segurança geral (OR 1.35 IC 1.04–1.75, p 0.038) associaram-se com os níveis recomendados de AFL. Teixeira; Nakamura; Kokubun 2014 AFL/AFT (CT / CL) CT: presença de faixa de pedestre no bairro (RO 1,05 IC 2,85, p0,032) associou-se com CT. CL: nenhuma variável relacionou-se se forma significativa. Hino et al. 2014 AFT (Q - CT/ NR - CT/ BT) Q- CT: maior número de estações de metrô (OR 1.50 IC 1.22–1.84, p <0.01) maio proporção de residência (OR 1.25 IC 1.02–1.53 p 0.03) e de área comercial (OR 1.47 IC 1.13–1.91 p<0.01) maior acessibilidade a uma ciclovia foi associado a menos CT (pessoas que residem até 367 m de uma ciclovia tinham probabilidade 20% menor de CT nos níveis recomendados (OR 0.82 IC 0.65–1.05 p 0.10). BT: maior número de semáforos (OR 0.27 IC 0.09–0.84 p 0.03), uso misto da terra (OR 0.52 IC 0.31–0.88 p 0.02) e maior proporção da área residencial(OR 0.53 IC 0.34–0.83 p 0.01)associaram-se com BT. Mendes et al. 2014 AFT/AFL AFT e AFT: não foram encontradas associações. Salvo et al. 2015 AFL (CL/AFL M/AFLV/ TT - AFLMV) CL: “muitas atrações naturais do bairro” (β 2,95 IC1,05-4,85 p 0,04, em média + 19,11 min / semana de CL por semana devido ao aumento das atrações); presença de muitos belos edifícios no bairro apenas para participantes dos status socioeconômico mais elevados (β = 1,02 IC 0,06-1,98 p 0,048, em média + 2,77 min / semana de CL) associou-se com CL. AFML: “muitos atrativos naturais” (β= 3,74IC3,21-4,27, p 0,01, em média + 42,10 min / semana de AFML) e proximidade com um pequeno parque (β = 3,12; IC 2,57-3,68, p <0,001, em média +22,65 min / semana de AFML). AFVL: “coisas interessantes para ver” no bairro (β = 2,89 IC 0,42-5,36, p 0,04, em média +18,00 min / semana de AFVL), morar perto de uma trilha de ciclismo apenas entre os homens (β= 2,05 IC 1,38-2,72; P = 0,001; em média +7,77 min / semana), morar próximo de um grande parque (β= 4,58 IC 2,29-6,88, p 0,02, em média +97,51 min / semana) morar mais próximo dos pontos de transportes públicos negativamente com o status socioeconômico mais alto (β –1,19; IC –1,56- –0,82, p<0,001, em média –3,28 min / semana). Nakamura et al. 2016 AFL (CL/AFM L/AFVL/ TT- AFL) CL: densidade populacional maior que 0,68 km / m 2 apresentaram menor prevalência de CL do que pessoas que moravam em áreas com menos de 0,22 km / m 2 densidades populacionais (OR 0,70 IC 0,49- 0,99). AFLM: não foram encontradas associações. AFVL: morar a uma distância maior que 596 metros de locais privados para praticar AF apresentaram menor prevalência AFVL do que pessoas que moravam mais próximas aos locais privados para praticar AF (OR 0,50 IC 0,27-0,92). TT- AFL: não foram encontradas associações. Giehl et al. 2016 AFL/AFT (CL/CT) CT: maior densidade populacional (OR 2,19 IC 1,40–3,42), maior conectividade de rua (OR 1,85 IC 1,16-2,94), maior densidade das calçadas (OR 1,77 IC 1,11-2,83) e ruas pavimentadas (tercil intermediário: OR 1,61 IC 1,04–2,49; tercil elevado: OR 2,11; IC 1,36–3,27) associaram-se e com CT. CL: densidade das ruas (OR 1.47 IC 1.02–2.10). Gonçalves et 2017 TS/ AF - AF leve: densidade residencial (B = -0,10, p = 0,032) e disponibilidade continua 27 al. L/ AF - M de instalações para caminhadas e ciclismo no bairro ( B = - 13,55; p = 0,037), porém um associação negativa. AFLMV: segurança de pedestres no trânsito ( B = 0,51; p = 0,054)associou-se com AFLMV Hino et al. 2017 CL / AFLMV CL: melhor percepção da estética (OR = 1,23, IC 95% = 1,01-1,50, p < 0.05) associou-se com CL por pelo menos 10 minutos. Em relação a CL por 150 min, ou mais, por semana, não foram encontradas associações. AFLMV por pelo menos 10 min por semana associou-se com acesso a espaços públicos de lazer (OR 1.46 IC 1.19-1.80, p < 0.05). AFLMV por ≥150 min por semana associou-se com o acesso a espaços públicos de lazer (OR 1.59 IC 1.25-2.01, p < 0.05) em mulheres jovens e adultas. Florindo et al. 2017 CL/CLN R Q- CL: morar a 500 m de uma praça (OR 1.41 IC 1.00–1.97, p < 0.05), de uma ciclovia (OR 1.55 IC 1.11–2.16, p < 0.05), presença de dois ou mais tipos de destinos de lazer (OR = 1,65; IC 1,09–2,55, p< 0.05) associaram-se com Q- CL. CL por ≥150 min por semana associou-se com presença de ciclovias dentro de um raio de 500 m (OR 1.59 IC 1.12–2.27, p< 0.05) e presença de dois ou mais tipos de destinos de lazer (OR 1.66 IC 1.03–2.69, p< 0.05). Da Silva et al. 2017 AFLMV - TT/ CL/ AFT AFLMV: iluminação pública (β = 2,2; IC 0,5- 3,9, p 0.013) e proporção de ruas pavimentadas (β = −3.6; −0.7, p 0.004) associaram com a menor AFMV. Morar perto da praia associou-se com AFLM, a aumentar as chances de prática AFLMV em 3,3 vezes (OR 3,31 IC 1,37 -802, p 008). AFT: iluminação pública (OR 1,22 IC 1,01-1,47, p 0.035) e presença de ciclovias (OR1,77IC1,05-2,96, p 0.031) somente entre o tercil intermediário do e altos do status socioeconômicos, associaram-se com AFT. CL: não foram encontradas associações. Lopes et al. 2018 CT / BT CT e BT ≥ 150min por semana: escore médio da “paisagem urbana” foi inversamente associado CT (OR 0,60 IC 0,40-0,91) com a CT e BT (OR 0,54 IC 0,29-0,99). Silva et al. 2018 CL/AFL CL; não foram encontradas associações significativas. Borchardt; Paulitsch; Dumith 2019 CL/AFL MV/CT/B T CT: Indivíduos que moravam em locais perto de parques e quadras (19%, IC95% 6–34) e clubes esportivos (18%, IC 95% 4-35) eram mais propensos a CT. CL: Os que moravam perto do mar tinham uma probabilidade 73% maior (IC 95% 29–133) CL. BT: morar perto do mar associou-se com BT. AFLMV: não foram encontradas associações. Legenda: * obtidos no modelo ajustado, AF= Atividade física, AC = Ambiente Construído AFL = Atividade física no domínio do lazer, AFT = Atividade física no domínio do transporte, AFO = Atividade física no domínio ocupacional, AFD = Atividade física no domínio doméstico, C= Caminhada, CT = Caminhada no domínio do transporte, CL= Caminhadano domínio do lazer, BL = Ciclismo no domínio do lazer, BT= Ciclismo no domínio do transporte, AFML = Atividade física moderada no lazer, AFVL = Atividade vigorosa no lazer, AFMV = Atividade física moderada a vigorosa, AFMVL= atividade física moderada a vigorosa no lazer, TT= Tempo Total, Q= Qualquer, NR = Níveis Recomendados,TS = Tempo Sedentário, AF – L= Atividade física de intensidade leve, AF- M = Atividade física de intensidade moderada. Fonte: Elaborada pelos autores (2020) Na AFL, entre idosos, as características do AC que se relacionaram foram: boa percepção de segurança durante o dia, presença de quadras, de agências bancárias, postos de saúde, igrejas, academias (SALVADOR et al., 2009) e ciclovias, trilhas para pedestres (GEIHL et al., 2012). Entre adultos, dois estudos não encontraram associações entre as 28 características do AC e AFL (TEIXEIRA; NAKAMURA; KOKUBUN, 2014; MENDES et al., 2014); os que encontraram, as variáveis que interagiram foram falta (HALLAL et al., 2010) ou presença de calçadas (GOMES et al., 2011), ter acesso a instalações recreativas (HALLAL et al., 2010; PARRA et al., 2011; HINO et al., 2014; FLORINDO et al., 2017), existência de áreas verdes (AMORIM; AZEVEDO; HALLAL, 2010; SALVO et al., 2015), praças (FLORINDO et al., 2017), clubes esportivos (FLORINDO et al., 2011; FLORINDO et al., 2013), academias (HINO et al., 2014; NAKAMURA et al., 2016), quantidade de pistas de caminhadas, faixas para pedestres, escolas, escolas de esportes, associação de moradores (FLORINDO et al., 2013), ciclovias (SALVO et al., 2015; FLORINDO et al., 2017), atrações naturais, belos edifícios, morar próximo a pontos de transportes públicos (SALVO et al., 2015), longe de bares (FLORINDO et al., 2011) com menor criminalidade (AMORIM; AZEVEDO; HALLAL, 2010), perto da praia, de locais privados para a prática de AF, com maior densidade populacional (NAKAMURA et al., 2016) melhor iluminação e número de ruas pavimentadas (DA SILVA et al., 2017). Com relação a AFT, idosos que relataram péssimas condições de calçadas, ausência de iluminação pública, ciclovia, trilhas, parque e quadras esportivas próximas a casa, e presença de lixo, eram menos ativos (CORSEUIL et al., 2011); por outro lado, idosos que viviam em áreas com maior densidade populacional, conectividade das ruas, densidade de calçadas, próximos a locais privados para a prática de AF, eram mais propensos a serem ativos fisicamente (GEIHL et al., 2016). Entre adultos, três estudos não encontraram associações entre as características do AC com a AFT (REIS et al., 2013; MENDES et al., 2014; SILVA et al., 2018). Associações positivas entre AFT e estética desagradável (HALLAL et al., 2010) e agradável (HINO et al., 2017), presença de lixo na rua e dificuldade em caminhar ou andar de bicicleta no bairro devido ao trânsito (AMORIM; AZEVEDO; HALLAL et al., 2010), presença de faixa de pedestre (TEIXEIRA; NAKAMURA; KOKUBUN, 2014), número de estações de metrô, maior densidade residencial, área comercial, semáforo, uso misto da terra (HINO et al., 2014) e iluminação pública (DA SILVA et al., 2017), foram encontradas. Com relação à presença de ciclovia, um estudo encontrou associação positiva (DA SILVA et al., 2017) e um encontrou associação negativa (HINO et al., 2014). Dos estudos que avaliaram a AF, considerando AFL juntamente com AFT, um foi realizado entre idosos, no qual, as variáveis do AC associadas foram a presença de praças, unidades básicas de saúde, de campos de futebol, proximidade dos campos e das unidades de saúde com as casas (SALVADOR et al., 2010); um em adultos, com associações entre AF e 29 baixo nível de poluição ambiental e alta percepção de segurança geral (FLORINDO; SALVADOR; REIS, 2013). Um estudo, que buscou associar a intensidade da AF, medida objetivamente, com o AC (GONÇALVES et al., 2017), demonstrou associações negativas entre AF leve com densidade residencial e disponibilidade de instalações para caminhadas e ciclismo no bairro, e um associação positiva entre percepção de segurança de pedestres no trânsito e AF moderada e vigorosa. A variável que mais apresentou associação entre AF e o AC foram as relacionadas às instalações recreativas, como praças, campos de futebol, clubes esportivos, academias, escolas de esportes, pistas de caminhadas e ciclovias, descritas em 11 estudos (AMORIM; AZEVEDO; HALLAL et al., 2010; SALVADOR et al., 2010; HALLAL et al., 2010; PARRA et al., 2011; HINO et al., 2014; FLORINDO et al., 2011; FLORINDO et al., 2013; SALVO et al., 2015; NAKAMURA et al., 2016; FLORINDO et al., 2017). DISCUSSÃO Cada vez mais é aceito que os padrões habituais do comportamento podem ser afetados pelas condições ambientais (OGILVIE et al., 2011). O impacto dessas condições sobre a saúde pode se refletir sobre diferentes aspectos fisiológicos, emocionais, sociais, espirituais e intelectuais, entretanto, a capacidade de um ambiente promover saúde, ou não, é influenciada por fatores como organizações físicas, interpessoais, circunstâncias internacionais e socioculturais, tornando um desafio identificar as características ambientais mais importantes e que exercem maior influência (STOKOLS et al., 2003). Outro desafio refere-se ao fato que a maioria dos estudos são de natureza transversal (OGILVIE et al., 2011, GILES-CORTI et al., 2013), tal como nessa revisão, onde todos os estudos foram de natureza transversal, isso resulta em uma limitação devido ao fato de não permitir estabelecer uma causalidade entre as influências do AC sobre a prática de AF no contexto brasileiro. Entretanto, um estudo longitudinal de Giles-Corti et al. (2013), avaliou o impacto das características do AC sobre a CL em adultos que se mudaram para novos bairros numa cidade da Austrália, o qual mostrou resultados semelhantes aos obtidos nos estudos brasileiros (AMORIM; AZEVEDO; HALLAL et al., 2010, SALVADOR et al., 2010, HALLAL et al., 2010; PARRA et al., 2011; HINO et al., 2014; FLORINDO et al., 2011; FLORINDO et al., 2013; SALVO et al., 2015; NAKAMURA et al., 2016; FLORINDO et al., 2017), em relação 30 ao acesso a instalações recreativas, como praças, campos de futebol, clubes esportivos, academias, escolas de esportes, pistas de caminhadas e ciclovias. Nesse estudo, a CL aumentou cerca de 20,1 min/semana para cada tipo de destino de lazer (GILES-CORTI et al., 2013), de encontro aos achados de Florindo et al. (2017), onde a presença de dois ou mais tipos de destinos de lazer, a menos de 500 metros das casas, aumentou em 55% as chances de CL, a sugerir que o aumento do número de instalações recreativas poderá contribuir para o alcance das recomendações para AF. Na revisão sistemática de Bauman et al. (2012), a AFL esteve fortemente relacionada à pavimentação e segurança das calçadas, achados semelhantes ao verificado por Gomes et al. (2011). Por outro lado, na revisão de Shimura et al. (2012), não foram encontradas associações significativas entre CL e o AC, tal como visto em dois estudos brasileiros (TEIXEIRA; NAKAMURA; KOKUBUN, 2014; MENDES et al., 2014). Em relação à AFT, uma associação inesperada foi encontrada no estudo de Hino et al. (2014), em que sujeitos que moravam a menos de 367 metros de uma ciclovia eram 20% menos propensos a alcançarem os níveis recomendados de AFT. Os autores desse estudo sugerem que esse achado poderá ser explicado pelo fato de que, em Curitiba, os maiores números de instalações de ciclovias são em locais com maiores níveis socioeconômicos, onde as pessoas possuem carros e utilizam-nos como meio de transporte. Outra forte associação verificada nessa revisão, foi que os níveis mais elevados de AFT pareciam associados com estética desagradável (HALLAL et al., 2010) como a presença de lixo e dificuldade em caminhar ou andar de bicicleta no bairro devido ao trânsito (AMORIM et al., 2010). Gomez et al., 2005 descreveram resultados semelhantes, onde populações com baixos níveis socioeconômicos tiveram maiores níveis de AFTindependentemente dos fatores ambientais. Esses achados são complexos, mas poderão ter relações com o fato de que as pessoas com maior privação socioeconômica parecem utilizar a caminhada ou a bicicleta nas deslocações para e do trabalho (AMORIM et al., 2010), o que ressalta a importância de analisar a situação de cada lugar, e considerar que os níveis de AF poderão estar relacionados a questões como estatuto socioeconômico, discriminação e desigualdade (COBURN et al., 2007). Por outro lado, Shimura et al. (2012) avaliaram os níveis de CT e CL entre idosos por quatro anos, e verificaram que aqueles que moravam em bairros com melhores condições para caminhar mostraram reduções significativamente menores no tempo gasto no CT, em comparação aos que viviam em bairros pouco acessíveis (-1,1 min/dia versus – 6,7 min/dia, tendo em vistas que as recomendações da prática de AF giram em torno de 21 minutos por dia, 31 essa diferença não é trivial), corroborando com os resultados obtidos por Corseuil et al. (2011), em que 42% dos idosos que relataram ausência de calçadas para pedestres estavam inativos. A revisão sistemática de Sugiyama et al. (2012) demonstrou que 80% dos estudos associaram positivamente a CT com a presença e proximidade de lojas e serviços locais, uma associação encontrada em apenas um estudo desta revisão (HINO et al., 2014). Para Sugiyama et al.(2012), a presença de parques e instalações esportivas foram relevantes para CT em cerca de um quarto dos estudos, a conectividade de rua foi significativamente associada à CT em 58% dos estudos examinados, a presença ou manutenção das calçadas foi relevante para CT em 42% dos estudos, aspectos relatados em apenas um estudo brasileiro (GEIHL et al., 2016), contudo, desenvolvido em idosos. Com relação à densidade populacional, sete estudos (HINO et al., 2011, FLORINDO et al., 2011, HINO et al., 2014, NAKAMURA et al., 2016, GIEHL et al., 2016, DA SILVA et al., 2017; BORCHARDT; PAULITSCH; DUMITH, 2019) buscaram associações com a AF, e outros dois (SALVO et al., 2015; GONÇALVES et al., 2017), com densidade residencial. Porém, apenas o estudo de Giehl et al. (2016) encontrou associações entre AFT e densidade populacional, entre idosos, e Gonçalves et al. (2017) verificaram associações negativas entre densidade residencial e AF leve, contrariando os achados de Forsyth et al. (2007), que consideram que densidades residenciais mais altas oferecem benefícios em termos de infraestrutura, acessibilidade de moradias, a contribuir para níveis mais elevados de AFT. O instrumento mais utilizado para avaliar o AC foi o NEWS, um instrumento de baixo custo, fácil de aplicar e entender, validado no Brasil (MALAVASI et al., 2007) e que vem sendo utilizado em todo o mundo (SALLIS et al., 2016). Para a avaliação da AF, o instrumento mais utilizado foi o IPAQ na sua versão longa, a qual conta com 31 questões e foi projetada para coletar informações detalhadas sobre a AF nos domínios de atividades domésticas, ocupacional, transporte e lazer, além de atividade sedentária, e sobre o ritmo de caminhada e ciclismo (CRAIG et al., 2003). O IPAQ, em suas diferentes versões, passou por vários estágios de desenvolvimento e teste, culminando em confiabilidade e validade em vários países (CRAIG et al., 2003), e adaptado para a população brasileira (MATSUDO et al., 2001). A maioria dos estudos dessa revisão (80%) foram desenvolvidos em capitais e 65% foram desenvolvidos na região sul do Brasil, uma região que detém o maior IDH do País, de 0,831 (PNUD, 2013). A cidade mais investigada, Curitiba é a 10a no ranking dos melhores IDH dos municípios (PNUD, 2013). Desse modo, uma lacuna a ser preenchida por futuros 32 trabalhos refere-se ao desenvolvimento de estudos que avaliem a relação entre AC e AF em cidades que não sejam capitais, com IDH menores, pois talvez as características do ambiente que afetem a AF de uma cidade com um menor IDH, e do interior, não sejam as mesmas que atingem uma capital, com IDH elevado. Apenas cinco estudos utilizaram dados recolhidos após o ano de 2010, considerando que o Brasil tem apresentado uma rápida urbanização nos últimos tempos, fator que se relaciona com o aumento da IF (GUTHOLD et al., 2018), os resultados de futuros estudos, com dados coletados mais recentemente, poderão ser diferentes. CONCLUSÃO Existem evidências consistentes que suportam a associação entre a AF e o AC para a variável presença de instalações recreativas, no Brasil. Com relação às demais variáveis, não foi possível estabelecer uma conclusão devido ao número reduzido de estudos encontrados e à inconsistência das associações. Os achados da revisão mostram que essa temática foi mais investigada em capitais, com IDH elevado, o que sugere que novas pesquisas deveriam ser conduzidas em cidades do interior, com IDH menores, a fim de identificar se estas associações se repetem ou diferem nestes contextos. 33 REFERÊNCIAS AMORIM, T. C.; AZEVEDO, M. R.; HALLAL, P. C. Physical activity levels according to physical and social environmental factors in a sample of adults living in South Brazil. Journal of Physical Activity and Health, v. 7, n. s2, p. S204-S212, 2010. BAUMAN, A. E. et al. Correlates of physical activity: why are some people physically active and others not? The Lancet, v. 380, n. 9838, p. 258-271, 2012. BORCHARDT, J. L.; PAULITSCH, R. G.; DUMITH, S. C. The influence of built, natural and social environment on physical activity among adults and elderly in southern Brazil: a population-based study. International Journal of Public Health, v. 64, n. 5, p. 649-658, 2019. BRASIL; MINISTÉRIO DA SAÚDE (MS). VIGITEL Brasil 2018: vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico: estimativas sobre frequência e distribuição sociodemográfica de fatores de risco e proteção para doenças crônicas nas capitais dos 26 estados brasileiros e no Distrito Federal em 2018. 2019. Disponível em: <https://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2019/julho/25/vigitel-brasil-2018.pdf>. Último acesso em 21 de julho de 2020. CRAIG, C. L. et al. International physical activity questionnaire: 12-country reliability and validity.Medicine & Science in Sports & Exercise, v. 35, n. 8, p. 1381-1395, 2003. CORBURN, J. Reconnecting with our roots: American urban planning and public health in the twenty-first century. Urban Affairs Review, v. 42, n. 5, p. 688-713, 2007. CORSEUIL, M. W. et al. Perception of environmental obstacles to commuting physical activity in Brazilian elderly. Preventive Medicine, v. 53, n. 4-5, p. 289-292, 2011. DA SILVA, I. C. M. et al. Built environment and physical activity: domain-and activity- specific associations among Brazilian adolescents. BMC Public Health, v. 17, n. 1, p. 616, 2017. DING, D. et al. The economic burden of physical inactivity: a global analysis of major non- communicable diseases. The Lancet, v. 388, n. 10051, p. 1311-1324, 2016. FLORINDO, A. A. et al. Percepção do ambiente e prática de atividade física em adultos residentes em região de baixo nível socioeconômico. Revista de Saúde Pública, v. 45, n. 2, p. 302-310, 2011. FLORINDO, A. A. et al. Escore de ambiente construído relacionado com a prática de atividade física no lazer: aplicação numa região de baixo nível socioeconômico. Rev. Bras. Cineantropom. Desempenho Hum., Florianópolis, v. 15, n. 2, p. 243-255, 2013. FLORINDO, A. A.; SALVADOR, E. P.; REIS, R. S. Physical activity and its relationship with perceived environment among adults living in a region of low socioeconomic level. Journal of Physical Activity and Health, v. 10, n. 4, p. 563-571, 2013. 34 FLORINDO, A. A. et al. Public open spaces and leisure-time walking in Brazilian adults. International Journal of Environmental Research and Public Health, v. 14, n. 6, p. 553, 2017. FORSYTH, A. et al. Does residential density increase walking and other physical activity? Urban Studies, v. 44, n. 4, p. 679-697, 2007. GIEHL, M. W. C. etal. Atividade física e percepção do ambiente em idosos: estudo populacional em Florianópolis. Revista de Saúde Pública, v. 46, p. 516-525, 2012. GIEHL, M. W. C. et al. Built environment and walking behavior among Brazilian older adults: a population-based study. Journal of Physical Activity and Health, v. 13, n. 6, p. 617-624, 2016. GILES-CORTI, B. et al. The influence of urban design on neighbourhood walking following residential relocation: longitudinal results from the RESIDE study. Social Science & Medicine, v. 77, p. 20-30, 2013. GONÇALVES, P. B. et al. Individual and environmental correlates of objectively measured physical activity and sedentary time in adults from Curitiba, Brazil. International Journal of Public Health, v. 62, n. 7, p. 831-840, 2017. GUTHOLD, R. et al. Worldwide trends in insufficient physical activity from 2001 to 2016: a pooled analysis of 358 population-based surveys with 1· 9 million participants. The Lancet Global Health, v. 6, n. 10, p. e1077-e1086, 2018. GUTHOLD, R. et al. Global trends in insufficient physical activity among adolescents: a pooled analysis of 298 population-based surveys with 1·6 million participants. The Lancet Global Health, v. 4, n. 1, p. 23-35, 2020. GOMES, G. A. O et al. Walking for leisure among adults from three Brazilian cities and its association with perceived environment attributes and personal factors. International Journal of Behavioral Nutrition and Physical Activity, v. 8, n. 1, p. 111, 2011. GÓMEZ, L. F. et al. Prevalence and factors associated with walking and bicycling for transport among young adults in two low-income localities of Bogotá, Colombia. Journal of Physical Activity and Health, v. 2, n. 4, p. 445-459, 2005. HALLAL, P. C. et al. Association between perceived environmental attributes and physical activity among adults in Recife, Brazil. Journal of Physical Activity and Health, v. 7, n. s. 2, p. S213-S222, 2010. HINO, A. A. F et al. The built environment and recreational physical activity among adults in Curitiba, Brazil. Preventive Medicine, v. 52, n. 6, p. 419-422, 2011. HINO, A. A.F et al. Built environment and physical activity for transportation in adults from Curitiba, Brazil. Journal of Urban Health, v. 91, n. 3, p. 446-462, 2014. 35 HINO, A. A. F. et al. Perceived neighborhood environment and leisure time physical activity among adults from Curitiba, Brazil. Revista Brasileira de Cineantropometria & Desempenho Humano, v. 19, n. 5, p. 596-607, 2017. IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censo demográfico 2010. Disponível em:< http://www. censo2010. ibge. gov. br/>. Acesso em, 20 de julho de 2020. KERR, J. et al. Advancing science and policy through a coordinated international study of physical activity and built environments: IPEN adult methods. Journal of Physical Activity and Health, v. 10, n. 4, p. 581-601, 2013. LOPES, A. A. S. et al. Characteristics of the environmental microscale and walking and bicycling for transportation among adults in Curitiba, Paraná State, Brazil. Cadernos de Saúde Pública, v. 34, p. e00203116, 2018. LEE, I. M.et al. Effect of physical inactivity on major non-communicable diseases worldwide: an analysis of burden of disease and life expectancy. The Lancet, v. 380, n. 9838, p. 219-229, 2012. MALAVASI, L. M. et al. Escala de mobilidade ativa no ambiente comunitário–NEWS Brasil: retradução e reprodutibilidade. Rev. Bras. Cineantropom. Desempenho Hum, v. 9, n. 4, p. 339-350, 2007. MATSUDO, S. et al. Questionário internacional de atividade física (IPAQ): estupo de validade e reprodutibilidade no Brasil. Revista Brasileira de Atividade Física & Saúde, v. 6, n. 2, p. 5-18, 2001. MENDES, M. de A. et al. Physical activity and perceived insecurity from crime in adults: a population-based study. PloS One, v. 9, n. 9, 2014. MOHER, D. et al. Preferred reporting items for systematic reviews and meta-analyses: the PRISMA statement. Annals of Internal Medicine, v. 151, n. 4, p. 264-269, 2009. NAKAMURA, P. M. et al. Association between private and public places and practice of physical activity in adults. Revista Brasileira de Cineantropometria & Desempenho Humano, v. 18, n. 3, p. 297-310, 2016. OGILVIE, D. et al. An applied ecological framework for evaluating infrastructure to promote walking and cycling: the iConnect study. American Journal of Public Health, v. 101, n. 3, p. 473-481, 2011. PARRA, D. C. et al. Perceived environmental correlates of physical activity for leisure and transportation in Curitiba, Brazil. Preventive Medicine, v. 52, n. 3-4, p. 234-238, 2011. PNUD - PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO. Ranking IDHM Unidades. 2013. Disponível em : < http://www. pnud. org.br/atlas/ranking/Ranking-IDHM-UF-2010. aspx>. Último acesso em 20 de julho de 2020. REIS, R, S. et al. Bicycling and walking for transportation in three Brazilian cities. American 36 Journal of Preventive Medicine, v. 44, n. 2, p. e9-e17, 2013. SALLIS, J. F. et al. An ecological approach to creating active living communities. Annu. Rev. Public Health, v. 27, p. 297-322, 2006. SALVADOR, E. P. et al. Perception of the environment and leisure-time physical activity in the elderly. Revista de Saúde Pública, v. 43, p. 972-980, 2009. SALLIS, J. F. et al. Physical activity in relation to urban environments in 14 cities worldwide: a cross-sectional study. The Lancet, v. 387, n. 10034, p. 2207-2217, 2016. SALVADOR, E. P. et al. Perception of the environment and leisure-time physical activity in the elderly. Revista de Saúde Pública, v. 43, p. 972-980, 2009. SALVADOR, E. P.; REIS, R. S.; FLORINDO, A. A. Practice of walking and its association with perceived environment among elderly Brazilians living in a region of low socioeconomic level. International Journal of Behavioral Nutrition and Physical Activity, v. 7, n. 1, p. 67, 2010. SALVO, D. et al. Intensity-specific leisure-time physical activity and the built environment among Brazilian adults: a best-fit model. Journal of Physical Activity and Health, v. 12, n. 3, p. 307-318, 2015. SHIMURA, H. et al. High neighborhood walkability mitigates declines in middle-to-older aged adults’ walking for transport. Journal of Physical Activity and Health, v. 9, n. 7, p. 1004-1008, 2012. SILVA, A. T. da et al. DISTÂNCIA ATÉ AS ACADEMIAS AO AR LIVRE, USO DAS ESTRUTURAS E ATIVIDADE FÍSICA EM ADULTOS. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, v. 24, n. 2, p. 157-161, 2018. STOKOLS, D. et al. Increasing the health promotive capacity of human environments.American Journal of Health Promotion, v. 18, n. 1, p. 4-13, 2003. SUGIYAMA, T. et al. Destination and route attributes associated with adults’ walking: a review.Medicine & Science in Sports & Exercise, v. 44, n. 7, p. 1275-1286, 2012. Sustainable Development Goals—United Nations.United Nations Sustainable Development, 2015. TEIXEIRA, I. P.; NAKAMURA, P. M.; KOKUBUN, E. Prática de caminhada no lazer e no deslocamento e associação com fatores socioeconômicos e ambiente percebido em adultos. Rev. Bras. Cineantropom. Desempenho Hum, v. 16, n. 3, p. 345-358, 2014. WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO) Global recommendations on physical activity for health. World Health Organization, 2010. WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). Global status report on noncommunicable diseases 2014. World Health Organization, 2014. 37 WORLD HEALTH ORGANIZATION(WHOa). Noncommunicable diseases country profiles 2018, 2018. WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHOb). Global action plan on physical activity 2018–2030: more active people for a healthier world. World Health Organization, 2018. 38 3 ARTIGO DE RESULTADOS E DISCUSSÃO Percepção do ambiente e prática de atividade física em adultos residentes de uma cidade do interior de Minas Gerais Perception of the environment and practice of physical activity in resident adults of a city of the interior of Minas Gerais Cristiane Pereira Guimarães Gustavo Monnerat Cahli Resumo: Objetivos: Verificar associação entre as características do ambiente percebido do bairro(ABP) e à prática de atividade física (AF) entre adultos residentes de Manhuaçu-MG. Métodos: Estudo transversal, conduzido com 155 adultos, de ambos os sexos, com idades entre 18 e 60 anos. Dados acerca da prática de AF foram obtidos através do Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ), e, as características do APB foram analisadas através do instrumento Neighborhood Environmental Walkability Scale (A-NEWS). Os questionários foram aplicados no formato on-line, durante o mês de maio de 2020. Resultados: a prevalência de 150 min/sem de caminhada no lazer (CL) foi de 16,1%, de caminhada como forma de deslocamento (CD) de 23,2% e de AF moderada e vigorosa (AFMV) foi de 48,4%. A CD associou significativamente com: renda, escolaridade, ocupação, presença de praças e sombras das árvores nas calçadas. Não foram encontradas associações significativas entre as variáveis estudadas e a prática de CL. Relativamente à prática de AFMV, foram encontradas associações com: segurança em relação à criminalidade e caminhada durante a noite, qualidade das calçadas e satisfação quanto ao bairro ser um bom lugar para viver. Conclusão: O estudo demonstrou associações significativas entre o APB e a prática de AF em diferentes domínios. Palavras-chaves: ambiente construído, atividades físicas, adultos. Abstract: Objectives: To verify the association between the characteristics of the neighborhood's perceived environment (NPE) and the practice of physical activity (PA) among adults living in Manhuaçu-MG. Methods: Cross-sectional study, conducted with 155 adults, of both sexes, aged between 18 and 60 years. Data on the practice of PA were obtained through the International Physical Activity Questionnaire (IPAQ), and the characteristics of the NPE were analyzed using the Neighborhood Environmental Walkability Scale (A-NEWS). The questionnaires were applied in the online format, during the month of May 2020. Results: the prevalence of 150 min/week of leisure walking (LW) was 16.1%, of walking as a form of commuting (WC) 23.2% and moderate and vigorous PA (MVPA) was 48.4%. The WC significantly associated with: income, education, occupation, presence of squares and shadows of trees on the sidewalks. No significant associations were found between the studied variables and the practice of LW. Regarding the practice of MVPA, associations were found with: security in relation to crime and walking at night, quality of sidewalks and satisfaction with the neighborhood being a good place to live. Conclusion: The study demonstrated significant associations between NPE and the practice of PA in different domains. 39 Keyword: built environment, physical activities, adults. 1 INTRODUÇÃO A prática regular de atividade física (AF) melhora aspectos que refletem na saúde e qualidade de vida do indivíduo, a favorecer desde a manutenção do peso em níveis saudáveis, à saúde mental, além de ser determinante no tratamento e prevenção de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), fatores que podem colaborar para o desenvolvimento social, cultural e econômico de uma sociedade1. Em contrapartida, a inatividade física (IF) contribui para uma condição pouco favorável, sendo considerado um fator de risco relevante ao desenvolvimento de DCNT1. Estima-se que a IF seja responsável por mais de 5,3 milhões de mortes prematuras no mundo2, além disso, representa uma carga global de doenças de 6% (variando de 3,2% no sudeste da Ásia a 7,8% na região mediterrânea oriental) das doenças coronarianas; 7% (3,9 a 9, 6%) de diabetes tipo 2; 10% (5,6 a 14,1%) do câncer de mama; e 10% (5,7 a 13,8%) do câncer de cólon2, doenças que representam a maior proporção de mortalidade em todo mundo3. Apesar desse cenário preocupante, um estudo desenvolvido por Guthold et al.4, verificou que mais de 1,4 bilhões de adultos, em 2016, foram considerados inativos fisicamente, com riscos de desenvolver ou exacerbar as tais doenças. O mesmo grupo de autores5 investigaram a predominância da IF entre adolescentes, e constataram uma situação preocupante: mundialmente, mais de 80% (variando de 77,8 a 87,7%) dos adolescentes entre 11 a 17 anos, não atendem às recomendações de AF diária preconizadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS)6, ou seja, são inativos fisicamente. Ainda sobre esse cenário, os autores alertam para os altos índices de IF encontrados nos países da América Latina, especialmente no Brasil, onde cerca de 47,0% (variando de 38,9 a 55,3%) dos adultos4 e 83,6% (variando de 81,1 a 85,8%) dos adolescentes5, encontram- se nessa situação. A situação é tão preocupante que, ao longo das últimas décadas, assembleias, relatórios e elaboração de políticas públicas passaram a estabelecer metas de redução da IF, como por exemplo, as metas lançadas em 2018 pela OMS, no Plano de Ação Global da Atividade Física 2018-20307. Esse documento estabelece estratégias para a redução relativa de 10% da prevalência da IF até 2025, e 15% até 2030, entre adolescentes e adultos, em todo o mundo. 40 Cabe ressaltar que, estabelecer estratégias para promover comportamentos em saúde, e, em questão, a prática regular de AF, é um desafio que inclui grandes investimentos e ações em diversos níveis políticos, sociais, ambientais e individuais8. Entretanto, muitos modelos e teorias amplamente utilizados nesse sentido enfatizam as características individuais e habilidades sociais, e não consideram explicitamente as influências comunitárias, ambientais, organizacionais e políticas sobre tal comportamento8. Para preencher as lacunas dessas ações, Sallis et al.9 apresentaram uma abordagem denominada Modelo Comunitário de Enfoque Ecológico. Nesse modelo, as intervenções e estratégias contemplam as influências sobre o comportamento em vários níveis: intrapessoal (biológico e psicológico), interpessoal/cultural, organizacional, ambiente físico (construído, natural) e políticas (leis, regras, regulamentos e códigos). Dentre esses aspectos, as influências do ambiente construído (AC) sobre a prática de AF têm recebido uma especial atenção por parte dos pesquisadores10. Alguns estudos internacionais demonstram que existem fortes relações entre a prática de AF e as características do AC11,12,13,14,15. Contudo, a maioria dos estudos com delineamento e resultados mais robustos sobre essas relações, foram desenvolvidos em países de alta renda11,12,13,14,15, países que possuem características muito diferentes do Brasil. No Brasil, a maior parte dos estudos com essa temática foram desenvolvidos em grandes centros urbanos16,17,18,19,20,21,22, e em Curitiba - PR17,23,24,25,26,27,28,29,30, cidades que possuem contextos urbanos, condições e características muito diferentes das cidades do interior do país. Assim, o objetivo desse estudo foi verificar associação entre as características do ambiente percebido do bairro (APB) e à prática de atividade física, em diferentes domínios, entre adultos de uma cidade do interior de Minas Gerais. 2 METODOLOGIA Este estudo, de modelo transversal, teve a coleta de dados realizada com a utilização de inquérito on-line. A escolha da aplicação do questionário nesse formato foi principalmente pelo fato de que, deste modo, os indivíduos poderiam participar do estudo em segurança, visto que a pesquisa decorreu no mês de maio de 2020, durante o período da pandemia da COVID- 19. O questionário foi formulado através da ferramenta Google Form, que está disponível on-line e gratuitamente. Antes de iniciar a coleta dos dados com o questionário 41 virtual, o participante teve acesso ao Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) virtual, composto por uma página de esclarecimento sobre a pesquisa; uma questão “você desejava contribuir com a pesquisa”; e a solicitação de autorização para o uso dos dados. 2.1 AMOSTRA O município de Manhuaçu está localizado na região da zona da Mata de Minas Gerais, possui um produto interno bruto entre os mais altos do estado: num ranking de 853 cidades, encontra-se na colocação