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Atuação do Nutricionista em Academias: prescrição dietética e suplementação Prof. Thomas Thassio Rodrigues de Araújo Apostila do Curso de Atuação do Nutricionista em Academias Ensino a Distância 2 Sumário 1 Introdução ................................................................................................. 3 2. Anamnese ................................................................................................ 4 2.1 Avaliação do Consumo Alimentar .......................................................... 5 2.2 Avaliação Antropométrica ...................................................................... 7 2.3 Importância dos Exames Bioquímicos ................................................. 10 2.4 Avaliação do Gasto Energético ............................................................ 11 3. Emagrecimento ...................................................................................... 12 4. Hipertrofia Muscular ............................................................................... 16 5. Suplementos Alimentares ...................................................................... 18 6. Esteroides Anabolizantes ...................................................................... 21 Apostila do Curso de Atuação do Nutricionista em Academias Ensino a Distância 3 1 Introdução Os efeitos positivos do exercício físico bem conduzido, sobre a saúde dos indivíduos são inquestionáveis, sendo um importante fator capaz de influenciar diversos aspectos fisiológicos do organismo e estando positivamente associada a estratégias que levam a mudanças de hábitos alimentares, desencoraja o fumo e a utilização de outras substâncias prejudiciais à saúde, como álcool e drogas (LOPES et al., 2015). Dentre as diversas modalidades de exercício físico, a musculação ou treinamento resistido tem sido amplamente praticado pelas pessoas que buscam melhor desempenho físico, manutenção ou melhora da qualidade de vida. O número de praticantes de musculação se torna cada vez maior. Adolescentes, adultos e idosos frequentam as academias, seja por iniciativa própria ou por indicação médica, com o objetivo de ganho de massa muscular, perda de peso, fortalecimento muscular, manutenção e promoção à saúde (LOPES et al., 2015). Essas melhorias influenciam diretamente os aspectos psicológicos, como por exemplo, aumento da auto-estima e da motivação para a prática do exercício. Aliado a isso, a estética foi apontada como principal motivo para a prática da musculação por alunos e professores (SIMÕES et al., 2011). Tal ambiente favorece a disseminação de padrões estéticos estereotipados, como o corpo magro, com baixa quantidade de gordura ou com elevado volume e hipertrofia muscular, motivo pelo qual grande parte dos frequentadores buscam uma nutrição ideal e adequada ao tipo de treino. Ainda que a preocupação com a saúde e estética tenha aumentado notavelmente, existe muita falta de informação e orientação em relação à nutrição ideal e, assim, o praticante de exercícios físicos pode vir a desenvolver e/ou manter hábitos alimentares inadequados, ou consumir erroneamente suplementos alimentares, prejudicando o alcance de seus objetivos com a prática de exercícios físicos (MOREIRA & RODRIGUES, 2014). Apostila do Curso de Atuação do Nutricionista em Academias Ensino a Distância 4 A orientação dietética individualizada é defendida por nutricionistas com o objetivo de consumir refeições adequadas e equilibradas, somando-se à prática de exercícios físicos orientados e regulares, pois tais ações podem levar a resultados satisfatórios sob vários aspectos, salientando que a necessidade de utilização dos suplementos alimentares também deve ser avaliada por um profissional especializado (MOREIRA & RODRIGUES, 2014). 2. Anamnese Para a avaliação do estado nutricional de um indivíduo ou grupo populacional, é necessária a utilização de métodos de coleta e procedimentos diagnósticos que possibilitem determinar o estado nutricional, assim como as causas prováveis que deram origem ao(s) problema(s) nutricional(is), para que medidas de intervenção sejam planejadas, executadas e monitoradas nos âmbitos individual ou coletivo (SAMPAIO, 2012). A avaliação do estado nutricional tem como objetivo identificar distúrbios e riscos nutricionais, e também a gravidade desses, para então traçar condutas que possibilitem a recuperação ou manutenção adequada do estado de saúde. O monitoramento do paciente, através da avaliação nutricional, também é muito importante para acompanhar as respostas do indivíduo às intervenções nutricionais (SAMPAIO, 2012). Esta avaliação também é importante para notar o desequilíbrio entre o consumo alimentar e o gasto energético, que se observam as alterações no estado nutricional ao nível do corpo biológico. Tal desequilíbrio em decorrência do consumo insuficiente para atender as necessidades nutricionais, pode ter como consequência doenças carenciais, a exemplo da desnutrição energético proteica, anemia ferropriva, hipovitaminose A, dentre outras. No caso do excesso de consumo, tem-se a obesidade, excesso de algumas vitaminas e minerais, as dislipidemias e algumas doenças crônicas não transmissíveis, Apostila do Curso de Atuação do Nutricionista em Academias Ensino a Distância 5 como a hipertensão, o diabetes não insulino dependente e alguns tipos de câncer (SAMPAIO, 2012). Nesse âmbito, a anamnese é uma ferramenta interessante para investigar tais situações e alguns pontos podem ser perguntados, como: histórico de doenças, histórico de vida (onde e como nasceu, estilo de vida na infância e adolescência), padrão de sono, utilização de medicamentos e/ou suplementos, solicitação de exames bioquímicos, avaliação antropométrica, exame físico, avaliação da ingestão hídrica e do consumo alimentar. 2.1 Avaliação do Consumo Alimentar Ao realizar a avaliação do consumo alimentar, é necessária uma investigação detalhada dos hábitos alimentares, incluindo o padrão alimentar quanto ao número, ao tipo e composição das refeições, às restrições, às preferências alimentares e ao apetite. Ademais, recomenda-se a avaliação dos hábitos e das condições alimentares da família, com vistas ao apoio dietoterápico, em função de disponibilidade de alimentos, condições, procedimentos e comportamentos em relação ao preparo, conservação, armazenamento e cuidados higiênicos (FISBERG et al., 2009). Ao ampliar a visão, pode-se notar que os hábitos alimentares estão intimamente relacionados aos aspectos culturais, antropológicos, socioeconômicos e psicológicos que envolvem o ambiente das pessoas. Neste contexto, a análise do consumo alimentar tem papel decisivo e não se restringe à mera quantificação dos nutrientes consumidos. Ao contrário, busca-se, em conjunto com o paciente, a identificação dos determinantes demográficos, sociais, culturais, ambientais, cognitivo e emocionais da alimentação cotidiana para que sejam estabelecidos planos alimentares mais adequados à realidade, o que resultará em melhor adesão ao tratamento nutricional (FISBERG et al., 2009). Apostila do Curso de Atuação do Nutricionista em Academias Ensino a Distância 6 A avaliação do consumo alimentar é realizada para fornecer subsídios para o desenvolvimento e implantaçãode planos nutricionais e deve integrar um protocolo de atendimento para avaliação nutricional, cujo objetivo deve ser o de estimar se a ingestão de alimentos está adequada ou inadequada e o de identificar hábitos inadequados e/ou a ingestão excessiva de alimentos com pobre conteúdo nutricional (FISBERG et al., 2009). A avaliação do consumo alimentar individual requer, inicialmente, a definição clara da finalidade a ser alcançada para orientar a seleção do método de inquérito. Fatores como estado geral do indivíduo/paciente, evolução da condição clínica e os motivos pelos quais o indivíduo necessita de orientação nutricional direcionam a escolha do método de avaliação do consumo alimentar (FISBERG et al., 2009). Existem alguns métodos de avaliação do consumo alimentar e podem ser classificados em: quantitativos da ingestão de nutrientes (recordatório de 24h e registro alimentar), avaliação do consumo de alimentos ou grupos alimentares (questionário de frequência alimentar) e avaliação do padrão alimentar (história alimentar) (FISBERG et al., 2009). Os erros associados às medidas da dieta podem ser categorizados em três grupos: o entrevistado; o entrevistador e o método de inquérito utilizado para coletar e, subsequentemente, analisar a informação obtida. As interações nesse sistema triangular podem teoricamente afetar a medida da dieta, e, dependendo do tipo de erro introduzido, o consumo dietético pode ser subestimado ou superestimado (FISBERG et al., 2009). Tais erros podem ser minimizados através da obtenção de uma base de dados dietéticos (software) acurada, estabelecimento de uma relação cordial e respeitosa com o paciente, treinamento prévio do profissional para não cometer erros durante o questionamento (FISBERG et al., 2009). Após a coleta, para a análise da adequação da dieta consumida, deve- se considerar as estimativas propostas pelas Dietary Reference Intakes (DRI). Através destas, podem ser observadas: a necessidade média estimada (EAR) Apostila do Curso de Atuação do Nutricionista em Academias Ensino a Distância 7 que corresponde a 50% das necessidades daquele nutriente; a ingestão dietética recomendada (RDA), que corresponde a 97 a 98% das necessidades; a ingestão adequada (AI) que é utilizada quando não há dados suficientes para determinar a EAR e RDA; e o limite superior tolerável (UL), que corresponde ao valor mais alto de ingestão diária de determinado nutriente (COZZOLINO, 2016). Ao ver em qual faixa encontra-se cada nutriente, a interpretação se dá da seguinte maneira: EAR significa uma possibilidade de inadequação, RDA baixa probabilidade de inadequação acima desse valor, assim como AI, e por fim, UL nos mostra que uma ingestão acima dessa faixa representa risco ao organismo (COZZOLINO, 2016). 2.2 Avaliação Antropométrica A avaliação antropométrica é procedimento de suma importância na prática do nutricionista, pois monitora alterações na composição corporal que ocorrem de acordo com os protocolos de exercícios físicos e alimentação, é uma forma de interação entre profissional e paciente, além de relacionar a composição corporal com o desempenho no esporte (MCARDLE et al., 2011). Ao realizar uma avaliação antropométrico, é preciso ter em vista que o processo é contínuo e sistemático, ou seja, deve existir um acompanhamento e padronização do que é feito, além de comparar os dados. Além disso, deve ser funcional, integral e orientadora, pois é preciso mostrar ao cliente o porquê desse procedimento ser realizado e o que pode ser melhorado. Outro ponto importante e que deve ser diferenciado é a diferença entre medir e avaliar. Fazer apenas a medição, sem interpretar e avaliar, não terá relevância. É preciso uma adequada interpretação daquela medição para entregar ao cliente um laudo avaliativo (LOPES & RIBEIRO, 2014). Apostila do Curso de Atuação do Nutricionista em Academias Ensino a Distância 8 A avaliação antropométrica tem como principal foco a composição corporal e pode ser aplicada na área clínica, esportiva e estética (LOPES & RIBEIRO, 2014). O primeiro indicador que pode ser avaliado apenas com os dados da massa corporal (Kg) e estatura (m), é o Índice de Massa Corporal (IMC). Entretanto, seus resultados são limitados, uma vez que uma pessoa pode encontrar-se na faixa de classificação de sobrepeso (IMC≥25Kg/m² a IMC = 29,9Kgm/m²), mas com bom padrão de massa magra e sem excesso de gordura corporal. Assim, é preciso outras ferramentas para detalhar a avaliação. Uma forma rápida e simples de realizar esta avaliação é através da perimetria, procedimento feito com uma fita inelástica. Os perímetros fornecem informações rápidas e confiáveis, mostram proporções corporais, podem ser utilizados para equações estimar a massa muscular, ajudam a perceber alterações na forma e tamanho de partes do corpo (importante para quadros de reabilitação, hipertrofia muscula e emagrecimento) e são utilizados em indicadores de saúde (HEYWARD, 2002). Um dos indicadores mais recentes é a razão cintura/estatura (RCE), que vem sendo utilizado como preditor de risco coronariano. Admite-se que há um maior risco se esta razão for >0,5. Dessa forma, a cintura (cm) deve ser, no máximo, metade da estatura (cm) para ter um menor risco cardiovascular (PITANGA & LESSA, 2006; HAUAN et al., 2009). Ou seja, um indivíduo com estatura de 150cm, deve ter a sua perimetria de cintura ≤75cm. Entretanto, os perímetros, isoladamente, nos dão poucas informações acerca da quantidade de gordura e massa muscular. Assim, com um plicômetro, pode-se realizar a aferição de dobras cutâneas e predizer a adiposidade corporal com relativa exatidão (LOPES & RIBEIRO, 2014). A faixa média de percentual de gordura para homens é em torno de 15% e para mulheres 23% (HEYWARD & STOLARCZYK, 2000). Uma baixa reserva de gordura, assim como um excesso apontam um risco para a saúde. Quando há uma baixa reserva de gordura corporal (≤5% Apostila do Curso de Atuação do Nutricionista em Academias Ensino a Distância 9 para homens ou ≤8% para mulheres), os riscos estão relacionados a desnutrição e desequilíbrio hormonal. Já com o excesso (≥25% para homens e ≥32% para mulheres), os riscos estão associados a doenças cardiovasculares, alterações no perfil lipídico e diabetes mellitus tipo II (LOPES & RIBEIRO, 2014). Além disso, com o plicômetro, pode-se observar a distribuição de gordura corporal e classificar em quatro tipos: distribuição periférica, concentração subcutânea na região central, excesso de gordura visceral, região coxo femoral (LOPES & RIBEIRO, 2014). É preciso ter cuidado com a interpretação dos resultados ao realizar a avaliação através de dois componentes (massa gorda e massa magra), como é feito através das dobras cutâneas. Muitas pessoas confundem os conceitos de massa magra e massa muscular. Assim, o conhecimento acerca dos conceitos dos componentes é de suma importância. A massa magra corresponde a massa livre de gordura corporal (todos os tecidos e resíduos livres de lipídios, incluindo água, músculos, ossos, tecidos conjuntivos e órgãos internos) mais os lipídios essenciais (fosfolipídios encontrados em membrana celular) (ROSSI et al., 2009). Dessa forma, a massa muscular está contida na massa magra e o indivíduo pode aumentar a sua quantidade de massa magra sem necessariamente elevar a quantidade de massa muscular. Para estimar a quantidade de massa muscular através dos perímetros e dobras cutâneas, Lee et al. (2000)realizaram um estudo com 244 homens e mulheres, IMC<30Kg/m², não atletas e idade superior a vinte anos, com o objetivo de desenvolver e validar equações de predição de massa muscular. Os autores as perimetrias do braço relaxado, coxa medial e panturrilha, e as dobras tricipital, coxa medial e panturrilha medial. Os modelos utilizados foram úteis, e a equação foi validada por ressonância magnética (Lee et al., 2000). Apostila do Curso de Atuação do Nutricionista em Academias Ensino a Distância 10 2.3 Importância dos Exames Bioquímicos De acordo com o artigo 1° da resolução do CFN Nº 306/2003, compete ao nutricionista a solicitação de exames laboratoriais necessários à avaliação, à prescrição e à evolução nutricional do cliente-paciente. Corroborando tal ponto, a resolução do CFN Nº 417/2008, aponta a avaliação de parâmetros bioquímicos como necessários à atenção dietética e nutricional. Os exames bioquímicos irão auxiliar o nutricionista a detectar deficiência subclínica ou marginal de nutrientes, confirmar suspeita de deficiências nutricionais, além de monitorar a adequação da estratégia. É preciso ficar atento ao tempo e real necessidade de solicitação, verificar o histórico do paciente e estudar as adaptações que ocorrerem. Cabe salientar que o diagnóstico de doenças é realizado pelo médico e é para este profissional que o paciente dever ser encaminhado caso haja alguma suspeita. Dentre os exames mais simples que podem ser solicitados, está o hemograma. Com ele, pode-se suspeitar de possíveis anormalidades, como: anemias, inflamação, infecções, leucemias e distúrbios de coagulação (CALIXTO-LIMA; REIS, 2012). Outros exames que avaliem o perfil lipídico, função hepática, lesão muscular, eixos hormonais, intolerâncias e micronutrientes também podem ser solicitados pelo nutricionista. Entretanto, o profissional precisa ter bom senso e só pedir para o paciente realizar, se souber interpretar e correlacionar. Apostila do Curso de Atuação do Nutricionista em Academias Ensino a Distância 11 2.4 Avaliação do Gasto Energético Uma ingestão energética adequada é a pedra angular da dieta, pois suporta a funcionamento corporal ideal, determina a capacidade de ingestão de macronutrientes e micronutrientes e auxilia na manipulação da composição corporal (THOMAS et al., 2016). O balanço energético é feito através da ingestão energética total e gasto energético total (GET). Tal gasto é determinado pela somatória do metabolismo basal (TMB), efeito térmico dos alimentos (ETA) e efeito térmico do exercício (ETE). Por sua vez, o efeito térmico do exercício é feito pelo somatório da atividade física espontânea, atividade termogênica sem exercício e o próprio gasto energético proveniente deste (THOMAS et al., 2016) Para estimar a TMB em indivíduos moderadamente ativos, a fórmula de Cunningham pode ser utilizada, que leva em consideração a massa livre de gordura. Em atletas de elite, a TMB corresponde a 38% a 47% do gasto energético total. Já em indivíduos sedentários, corresponde de 60% a 80% (THOMAS et al., 2016). Dessa forma, a uma boa parte deste gasto e auxilia para que a estimativa fique o mais próximo da realidade. Além da TMB, é preciso estimar o gasto energético do exercício físico. Para isso, usa-se o equivalente metabólico (MET). Um MET corresponde, para um indivíduo adulto médio, a um consumo de oxigênio de aproximadamente 3,5 ml x kg (peso corporal)-1 x min-1 ou 1 kcal x kg (peso corporal)-1 x h-1 (FARINATTI, 2003). Para determinar o gasto calórico de uma atividade, deve-se medir o dispêndio relativo ao repouso (ou seja, a TMB), multiplicando-o pelo valor em METs sugerido pelo compêndio existente. Uma vez que a TMB é próxima de 1 kcal x kg (peso corporal)-1 x h-1, o custo energético pode ser estabelecido em termos de múltiplos seus. Multiplicando-se o peso corporal pelo valor do MET e considerando a duração da atividade, é possível estimar o gasto calórico específico de um indivíduo cujo peso é conhecido (FARINATTI, 2003). Apostila do Curso de Atuação do Nutricionista em Academias Ensino a Distância 12 Por exemplo, pedalar a 4 METs implica em um gasto calórico de 4 kcal x kg-1 x h-1. Um indivíduo de 60 kg que pedala nesta intensidade, por 40 minutos, despende 4 METs x 60 kg x (40 min/60 min), ou seja 160 kcal, ou 4 kcal x min- 1. Um indivíduo de 80 kg que executa a mesma atividade, teria um gasto calórico total de 213 kcal, ou 5,3 kcal x min-1 (FARINATTI, 2003). 3. Emagrecimento Os danos para a saúde que podem decorrer do consumo insuficiente ou excessivo de alimentos são há muito tempo conhecidos pelos seres humanos. O excesso de peso é uma condição que desperta interesse desde a antiguidade e infinitas modalidades terapêuticas vêm sendo implementadas, porém, com pouco avanço (TARDIDO & FALCÃO, 2006). A prevalência da obesidade está sempre aumentando, e alguns dos fatores que contribuem para ascensão desta epidemia é a transição nutricional, com aumento do fornecimento de energia pela dieta, e redução da atividade física, o que podemos chamar de estilo de vida ocidental contemporâneo. Consequentemente, o acúmulo de gordura corporal torna-se mais fácil com esse padrão (TARDIDO & FALCÃO, 2006). A perda de peso em pessoas com sobrepeso e obesidade através da dieta e/ou exercício físico pode conferir uma série de benefícios metabólicos. Embora somente a restrição energética promova uma perda de peso, há um decréscimo da massa muscular, que pode ter várias consequências, como alcançar um platô durante essa perda ou recuperar o peso após o programa de emagrecimento (JOSSE et al., 2011). Uma meta-análise averiguou o efeito de diferentes estratégias para a perda de peso no período de no mínimo seis meses, sendo elas: apenas exercício físico, apenas dieta, dieta e exercício físico, dieta de muito baixo valor calórico, substitutos de refeições, uso do medicamento orlistat, uso do Apostila do Curso de Atuação do Nutricionista em Academias Ensino a Distância 13 medicamento sibutramina e apenas orientações. Ao final do estudo, os autores observaram que a perda de peso alcançou um platô aos seis meses (FRANZ et al., 2007). De acordo com Matarese e Pories (2014), muitos fatores interferem no processo de emagrecimento e possuem uma inter-relação, como: composição corporal, regulação hormonal, taxa metabólica basal, microbiota intestinal, uso de medicamentos, composição da dieta, fatores socioeconômicos e comportamentais, efeito térmico dos alimentos e prática de exercício físico. Dentre todos esses pontos, a chave inicial para o emagrecimento é promover uma restrição calórica. As consequências de um balanço energético negativo na massa corporal total e na massa muscular esquelética estão bem estabelecidas. Em geral, a massa corporal total diminui em resposta a períodos prolongados do balanço energético negativo, e a proporção é de perda é de 75% de tecido adiposo e 25% em massa livre de gordura (MLG) (CARBONE et al., 2012). Embora a mudança predominante na composição corporal seja a perda de gordura, o que pode ser benéfico, a concomitante redução da massa muscular esquelética pode afetar negativamente os processos metabólicos, função muscular e desempenho físico. Em indivíduos com sobrepeso e obesos que tentam perder peso, a redução da massa muscular pode prejudicar a regulação de processos metabólicos, tais comoturnover de proteína e a TMB, comprometendo assim a manutenção do peso saudável (CARBONE et al., 2012). Dessa forma, a restrição calórica deve ser de 10 a 20% do GET ou de 250 a 500Kcal. Deve-se promover uma perda de peso seja de 0,7 a 1,4Kg por semana para garantir a sustentação da MLG. Além disso, o consumo de proteína de 2,3 a 3,0g/Kg de MLG auxiliará o processo (THOMAS et al., 2016; ARAGON et al., 2017). No âmbito do exercício físico, é preciso ter muito cuidado com a restrição calórica, pois pode proporcionar uma deficiência relativa de energia, Apostila do Curso de Atuação do Nutricionista em Academias Ensino a Distância 14 mais relatada e estudada em atletas. A Deficiência Relativa de Energia no Esporte (RED-S), é a descrição inclusiva de todo conjunto de complicações fisiológicas observadas em atletas masculinos e femininos que consomem ingestões de energia insuficientes. Os efeitos potenciais do RED-S sobre o desempenho podem incluir: diminuição da resistência, aumento do risco de lesão, diminuição da resposta ao treinamento, diminuição da coordenação, diminuição da concentração, irritabilidade, depressão, diminuição dos estoques de glicogênio e diminuição da força muscular (THOMAS et al., 2016) Além da restrição calórica, outro aspecto importante da prescrição nutricional e a proporção dos macronutrientes. De La Iglesia et al. (2014) realizaram um estudo com pacientes com síndrome metabólica com o intuito de avaliar o efeito de duas intervenções nutricionais. O grupo controle ingeriu uma dieta com 55% de carboidratos, 30% de lipídios e 15% de proteínas. Já o outro grupo, denominado de dieta RESMENA, ingeriu uma dieta com 40% de carboidratos, 30% de proteínas e 30% de lipídios. Os resultados mostraram que a dieta RESMENA pode ser eficaz para a redução peso, gordura androide e melhora da função hepática. Como pode ser observado, a principal diferença da dieta RESMENA foi a menor quantidade de carboidrato e maior ingestão de proteína. Nesse contexto, duas dietas têm sido utilizadas com esse propósito, a low carb e a cetogênica. É comum haver uma certa confusão com essas duas dietas. Enquanto a low carb pode ter a proporção de 40% de lipídios, 40% proteínas e 20% carboidratos ou caracteriza-se por um consumo abaixo de 200g de carboidratos por dia ou entre 50-150g, na cetogênica a quantidade de gorduras pode chegar em 70% da ingestão calórica total, enquanto a quantidade de carboidratos chega no máximo a 5% (máximo de 50g) e os 25% da proteína. (WESTMAN et al., 2007; PERES; ARAGON et al., 2017). A proposta dessas dietas é controlar a quantidade de carboidratos, a glicemia e a secreção de insulina. Apostila do Curso de Atuação do Nutricionista em Academias Ensino a Distância 15 A homeostase da glicemia é controlada particularmente pela insulina e glucagon. Num estado pós-prandial, a glicemia eleva e estimula o pâncreas a liberar insulina, que irá promover a assimilação da glicose nas células e nos reservatórios de glicogênio hepático e muscular, sendo o excesso convertido em gordura para armazenamento. Por outro lado, baixo nível de glicose estimula o pâncreas a liberar glucagon, que favorecerá o processo de glicogenólise, com liberação de glicose na corrente sanguínea (WHITNEY & ROLFES, 2008). Vale ressaltar que outros hormônios, como cortisol, catecolaminas e GH também participam da regulação da glicemia, aumentando a concentração de glicose no organismo (COZZOLINO & COMINETTI, 2013). Uma revisão sistemática e meta-análise realizada por Santos et al. (2012) demonstrou que as dietas low carb são pertinentes para controle da glicose, insulina, além da redução de gordura corporal e controle da pressão arterial sistólica e diastólica. Apesar da eficácia para o emagrecimento, dietas low carb parecem ter efeito por um determinado período. Uma meta-análise realizada por Hession et al. (2009), comparou os efeitos da dieta low carb/high protein com a dieta low fat/high carb e perceberam que a dieta low carb apresenta resultados positivos num período de seis meses. Entretanto, ao se avaliar o resultado em doze meses, os resultados são bem similares. É importante salientar que numa dieta na qual é restrição de carboidrato é muito severa, faz-se necessário quantidades adequadas de proteína para evitar o catabolismo muscular (MANNINEN et al., 2006). Associar este ponto com treinamento resistido, a exemplo da musculação, é fundamental para contornar a perda de MLG. Além disso, uma dieta hiperproteica favorece uma maior saciedade e proporciona um aumento do efeito térmico proveniente da alimentação (ARAGON et al., 2017). Uma outra estratégia que pode ser utilizada para o emagrecimento é o jejum intermitente. Dentre os seus benefícios, está a melhora do sistema cardiovascular, do perfil lipídico, glicemia em jejum, insulina em jejum e Apostila do Curso de Atuação do Nutricionista em Academias Ensino a Distância 16 redução de marcadores inflamatórios (AZEVEDO; IKEOKA; CARAMELLI, 2013). Dessa maneira, cabe ao nutricionista ter bom senso e atenção no momento da anamnese para coletar as informações necessárias e avaliar de maneira detalhada o paciente para prescrever a dieta que mais se encaixa com cada indivíduo. 4. Hipertrofia Muscular A hipertrofia do músculo esquelético é descrita como um aumento da secção transversal área de células musculares (fibras). Este processo é motivado principalmente pelo acréscimo de proteínas miofibrilares que são predominantemente compostas de actina e miosina (WEST et al., 2010). Os eventos adaptativos decorrentes do treinamento resistido ocorrem, tanto estruturalmente (aumento da massa muscular – que envolve síntese de proteínas contráteis, enzimas, citoesqueleto), como neural, em estruturas adjacentes (motoneurônios). Incrementos nas capacidades de força, potência, e/ou resistência resultam, em grande parte, destas adaptações (IDE et al., 2011). Os exercícios resistidos podem elevar a síntese proteica muscular (SPM) por ≥2 dias e ingestão de proteína na dieta durante esse período pós- exercício potencializa ainda mais o aumento da SPM. Se a síntese exceder a degradação proteica, resulta num balanço proteico positivo, com acréscimo de proteína (WEST et al., 2010). Assim, seria esperado que o exercício ativasse as vias de transdução de sinais para gerar um aumento na síntese de proteínas contráteis, e ao mesmo tempo inibisse as vias intracelulares que sinalizam atrofia muscular (degradação proteica). A ativação e a inibição destas vias, aliadas a alimentação adequada, produzem um balanço nitrogenado positivo, necessário para que ocorra o anabolismo. As principais vias envolvidas nestes processos Apostila do Curso de Atuação do Nutricionista em Academias Ensino a Distância 17 são as cascatas desencadeadas pela insulina e fatores de crescimento, como o fator de crescimento semelhante à insulina tipo 1 (IGF-1) (IDE et al., 2011). Entretanto, mesmo com o estimulo anabólico resultante do exercício físico, na ausência de ingestão energética adequada, o balanço proteico mantem-se negativo, sendo necessária a ingestão de carboidratos e proteínas para alcançar um balanço energético positivo (MOREIRA, 2010). A recomendação da ingestão proteica para indivíduos ativos fica em torno de 1,4 a 2,0g/Kg. O ideal para promover a SPM é fracionar essa proteína ao longo do dia num intervalo de 03-04h na dose de 0,25g/Kg ou 20 a 40g,sendo de 0,5-0,6g/Kg ou 30 a 40g antes de dormir. No período após o treino (00-02h) é fundamental o fornecimento de 10g de aminoácidos essenciais para potencializar a recuperação muscular e SPM (THOMAS et al., 2016; JAGER et al., 2017). Como já dito, além do balanço energético positivo, adequada ingestão e distribuição proteica, faz-se necessário um balanço nitrogenado positivo. De acordo com Lemon (1991), para promover um balanço nitrogenado positivo, são necessárias no mínimo 100Kcal não nitrogenadas para cada grama de nitrogênio. Por exemplo, se uma dieta tiver 15g de nitrogênio, serão necessárias 1500Kcal, no mínimo, advindas de carboidratos e gorduras. Em relação à ingestão de carboidratos, o American College of Sports Medicine (2016), recomenda a ingestão de 3-5g/Kg para um treino leve, 5- 7g/Kg para um treino moderado (duração de 01h), 6-10g/Kg para um treino com intensidade alta (01 a 03h de duração) e 8-12g/Kg quando a intensidade é muito alta (duração maior que 04h). De acordo com essa recomendação, para os frequentadores de academia, a indicação ficaria em torno de 3 a 7g/Kg. Um outro ponto de suma importância para o processo de hipertrofia muscular é a qualidade do sono. Dentre os possíveis prejuízos decorrentes de um padrão de sono ruim está a desregulação hormonal, com a redução de hormônios anabólicos, como a testosterona, hormônio do crescimento (GH) e IGF-1 e o aumento do cortisol (hormônio catabólico). Isso irá resultar numa Apostila do Curso de Atuação do Nutricionista em Academias Ensino a Distância 18 atrofia muscular, piora da capacidade de recuperação e pior proliferação, fusão e diferenciação celular das células satélites (passo fundamental para o processo de hipertrofia muscular) (DATTILO et al., 2011). 5. Suplementos Alimentares Um auxílio ergogênico é qualquer técnica de treinamento, dispositivo mecânico, ingrediente ou prática nutricional, método farmacológico ou técnica psicológica que possa melhorar a capacidade de desempenho do exercício ou melhorar as adaptações de treinamento (KERKSICKET al., 2018). Estes recursos podem ajudar a preparar um indivíduo para o exercício, melhorar a eficiência do exercício, melhorar a recuperação do exercício ou auxiliar na prevenção de lesões durante o treinamento intenso (KERKSICKET al., 2018). Dentre os recursos ergogênicos, estão os suplementos alimentares. De acordo com a Anvisa os suplementos alimentares constituem uma categoria de produtos caracterizada pela heterogeneidade de composição, constante incorporação de inovações tecnológicas, forte apelo publicitário e variedade de benefícios alegados. Essa categoria de produtos apresenta um constante crescimento comercial e uma diversidade de abordagens regulatórias em nível internacional. Apesar da diversidade de suplementos existentes, poucos possuem uma forte evidência no que diz respeito a melhora da performance, como creatina, beta alanina, carboidratos, ingestão hídrica, repositores energéticos e bicarbonato de sódio. Já aqueles que tem correlação positiva com o processo de hipertrofia muscular são: aminoácidos e proteínas (já mencionados), creatina e beta-hidroxi-beta-metilbutirato (HMB) (KERKSICKET al., 2018). A proteína do soro do leite (whey protein) é um dos suplementos mais utilizados com o intuito de melhorar a composição corporal, em especial a Apostila do Curso de Atuação do Nutricionista em Academias Ensino a Distância 19 hipertrofia muscular. A qualidade da proteína da dieta é derivada da digestibilidade, conteúdo de aminoácidos e disponibilidade de aminoácidos resultante para suportar a função metabólica. Nesse quesito, a whey protein é uma das proteínas de melhor qualidade, devido ao seu alto conteúdo de aminoácidos (aminoácidos essenciais, de cadeia ramificada e leucina) e digestibilidade rápida. O consumo de proteína do soro de leite tem uma capacidade robusta de estimular a síntese de proteína muscular (DEVRIES e PHILLIPS, 2015). Há muita especulação acerca da necessidade da ingestão proteica ser próxima ao treino. As evidências atuais parecem não apoiar a alegação de que o consumo proteico imediato (≤ 1 hora) pré e/ou pós-treino aumenta significativamente adaptações relacionadas à força ou à hipertrofia em exercícios resistidos. Os resultados de uma meta-análise indicam que se, de fato, uma janela anabólica de oportunidade existe, a janela para o consumo proteico parece ser maior que uma hora antes e depois de uma sessão de treinamento resistido (SCHOENFELD et al., 2013). Outra especulação e prática muito frequente era de associar a proteína com um carboidrato para potencializar a ativação ao mTOR (proteína alvo da rapamicina em mamíferos), proteína chave da sinalização proteica, devido ao estímulo a insulina. Entretanto, estudos demonstraram que a insulina não é a reguladora primária da SPM, que uma quantidade mínima desse hormônio já é suficiente para estimular SPM e tal secreção já é estimulada com a suplementação proteica (FIGUEIREDO E CAMERON-SMITH, 2013). Desse modo, não se faz necessário a ingestão de carboidrato para potencializar a SPM. Dentre os suplementos listados, a creatina é considerada a mais eficaz e com extensa comprovação científica. O requerimento diário deste médio é de 2g/dia, sendo 1g proveniente da dieta e 1g da produção endógena (ALVES; LIMA, 2009). Sua maior concentração se encontra no músculo esquelético, correspondendo 95% da quantidade corporal total. As principais fontes são: carnes, aves e peixes, que proporcionam cerca de 4 a 5g de creatina por kg de Apostila do Curso de Atuação do Nutricionista em Academias Ensino a Distância 20 alimento. Assim, vegetarianos têm uma desvantagem no que se diz respeito ao consumo da creatina exógena (McARDLE; KATCH & KATCH, 2011). Os principais benefícios da creatina, estão: aumento da intensidade do treino e massa corporal, melhora da síntese de glicogênio, maior tolerância ao treinamento e aumento da capacidade de trabalho durante as séries de contrações musculares de esforço máximo (KREIDER et al., 2017). Alguns mitos são relatados com o seu uso, mas não foram comprovados, como: surgimento de doença renal, câimbra, desidratação e distúrbio eletrolítico e que todo o peso ganho é devido a retenção. Ademais, vale ressaltar, que as creatinas mais modernas não são mais eficientes, sendo a monohidratada a mais eficaz (BUFORD et al., 2007; KREIDER et al., 2017). Em relação ao modo de uso, pode ocorrer de duas maneiras: com saturação e sem saturação. No modo com saturação, deve-se ingerir 0,3g/Kg durante 5-7 dias e posteriormente 3 a 5g/dia. Já no modo sem saturação, basta ingerir 3 a 5g diariamente. Vale ressaltar que a absorção da creatina é melhora quando ingerida junto com carboidrato e proteína (KREIDER et al., 2017). Outro suplemento que pode ser utilizado para melhora da performance é a beta alanina. Esse aminoácido ao combinar-se com a histidina, dá origem a carnosina, um composto que tem um potencial de reduzir a fadiga, melhorar a contração muscular e a percepção subjetiva do esforço. A sua utilização é feita diariamente numa dose de 4-6g preferencialmente fracionada para evitar parestesia. Os resultados com a beta-alanina são mais evidenciados após 02 semanas de uso, particularmente em exercícios que durem de 01 a 04 minutos (TREXLER et al., 2015). A cafeína é um suplemento muito eficaz para a performance esportiva, tanto para exercícios de alta intensidade intermitente,como para longa duração. Dentre os seus benefícios está o aumento da oxidação de gordura e redução da utilização do glicogênio (efeito poupador), além de aumentar o estado de alerta e potencializar a contração muscular. A sua utilização deve ocorrer numa dose de 3-6mg/Kg, sendo que doses de 9mg/Kg não apresentam efeito superior. Vale salientar que não há comprovação que a cafeína aumente a diurese e prejudique o exercício, além de não ser consenso do seu efeito Apostila do Curso de Atuação do Nutricionista em Academias Ensino a Distância 21 sobre o ganho de força (GOLDSTEIN et al., 2010). O HMB (metabólito da leucina) é um suplemento alimentar de grande popularidade e amplamente usado por atletas e esportistas, com o objetivo de aumentar o desempenho e a massa muscular (PALISIN & STACY, 2005). Dentre os seus efeitos, estão: aumento da síntese proteica e hipertrofia, força e potência, aumento da MLG em idosos e inibição da degradação proteica. A dose recomendada é de 3g/dia e os resultados surgem a partir de duas semanas (WILSON et al., 2013). A utilização de suplementos fitoterápicos no esporte tem crescido muito nas últimas décadas de forma alternativa ao uso de medicamentos tradicionais. Atualmente, algumas ervas são utilizadas para aumento de força muscular e massa corporal, e outras para melhora de desempenho no exercício (SELLAMI et al., 2018). Um estudo realizado por Henkel et al. (2014) demonstrou que o fitoterápico Eurycoma longifolia aumentou a testosterona livre e força em homens e mulheres mais velhas, numa dose de 400mg durante 05 semanas. Já Cardoso et al. (2013) demonstrou um efeito positivo do Camellia sinensis (chá verde) no emagrecimento de indivíduos obesos. Este efeito foi potencializado quando combinado com o exercício físico. Assim, pode-se perceber que existem algumas alternativas de suplementos para melhora da performance e/ou composição corporal, sendo o nutricionista responsável por adequar a dose e tempo de uso, além de avaliar a real necessidade de prescrição. 6. Esteroides Anabolizantes Esteroides Anabolizantes androgênicos (EAA) são substâncias hormonais análogas a testosterona muito utilizadas para ganho de massa muscular e melhora da performance atlética. Embora esses EAA tenham função terapêutica, o seu abuso através do uso não-terapêutico é evidente (KERSEY et al., 2012) Apostila do Curso de Atuação do Nutricionista em Academias Ensino a Distância 22 Os andrógenos são hormônios esteróides sintetizados principalmente nas gônadas e glândula adrenal. Di-hidrotestosterona, dehidroepiandrosterona, androstenediona, androstenediol e testosterona são os andrógenos humanos, sendo a testosterona é o principal promotor andrógeno e facilitador da síntese protéica (anabolismo) (KERSEY et al., 2012). Atualmente, a utilização destes esteroides apresenta um nível além da área biomédica para o tratamento e terapêutica de quadros clínicos, sendo buscada por indivíduos que objetivam a modificação da composição corpórea para fins estéticos e para o aumento da performance, sem a requisição e conselho de um profissional da área de saúde. Sua utilização recreativa vem sido relacionada com diversos riscos à saúde, apresentados por literaturas científicas, por documentos de políticas públicas, e até mesmo por reportagens de veículo midiático (MORAES et al, 2015). Os esteroides anabólicos podem ser utilizados através de injeções, ou por comprimidos via oral, ou por outras vias. Como o seu uso é ilícito, muitos indivíduos utilizam os esteroides sem a prescrição médica, podendo atingir doses cavalares muito além das recomendações médicas. Além disso, muitos combinam diferentes esteroides para potencializar a sua efetividade (SANTOS, 2007). Pode-se suspeitar de quem está utilizando algum tipo de esteroide anabólico através de algumas alterações, como: rápido ganho de peso (com marcante destaque para a musculatura), acne severa, marcas de agulhas em músculos grandes e largos, calvície, pressão arterial elevada e ginecomastia. No público feminino, os efeitos androgênicos são os masculinizantes, como o aparecimento de pelo na face e no corpo, engrossamento da voz, pele grossa e aumento do clitóris (SANTOS, 2007). Embora o uso desse tipo de substância tenha a sua prescrição feita por médicos, a mesma não está isenta de efeitos colaterais. Mas, a prescrição é feita decorrente da análise de diversos exames bioquímicos, análise dos prós e Apostila do Curso de Atuação do Nutricionista em Academias Ensino a Distância 23 contras do uso, controle periódico dos efeitos do medicamento, podendo haver reajuste ou interrupção das doses. No entanto, esse tipo de atenção não é vista nos indivíduos que treinam em academias e optam pelo uso dessas substâncias. Seu uso é feito de maneira descontrolada, algumas vezes em doses extremamente elevadas, sem acompanhamento médico, e na maioria das vezes a droga é obtida por meios clandestinos, sem a garantias da seguridade e veracidade (MORAES, 2014). Quando a testosterona livre (que não é modificada quimicamente) é administrada por via oral, é imediatamente degrada pelo fígado antes de alcançar o músculo esquelético. Dessa forma, em 98% dos casos de administração oral, a testosterona livre degrada-se e é inativada durante a primeira passagem pelo fígado. Porém, quando a testosterona é injetada, ela alcança o músculo esquelético antes do fígado. Da mesma forma, quando houve a primeira passagem pelo fígado, sofrerá a mesma porcentagem de degradação (SANTOS, 2007). O esteroide anabólico considerado efetivo deve ter a capacidade de circular várias vezes pela corrente sanguínea antes de ser inativado. Quando molécula da testosterona é modificada pela adição de um grupo de elementos ao Grupo Alquilado I, em mais especificamente na posição 17- alfa, consequentemente esse esteroide anabólico será mais difícil de ser processado pelo fígado. Estes chegam a passar várias vezes no fígado antes de serem modificados (SANTOS, 2007). Em contrapartida, os esteroides anabólicos injetáveis são na sua maioria ésteres da testosterona. Na sua composição existe como base a testosterona, e o éster caracterizado pela reação do álcool e um ácido. Devido à essa característica de esterificação, a droga injetável garante seus efeitos mesmo que ela passe pela corrente sanguínea antes de ser inativada no fígado (SANTOS, 2007). Dessa maneira, é preciso orientar o aluno da academia sobre outras alternativas mais seguras a serem utilizadas e que podem melhorar a sua Apostila do Curso de Atuação do Nutricionista em Academias Ensino a Distância 24 performance e composição corporal, pois a utilização de esteroides anabolizantes restringe-se a um público específico, como a deficiência hormonal em homens (SANTOS, 2007). Apostila do Curso de Atuação do Nutricionista em Academias Ensino a Distância 25 Referências ARAGON, Alan A. et al. International society of sports nutrition position stand: diets and body composition. Journal of the International Society of Sports Nutrition, v. 14, n. 1, p. 16, 2017. ALVES, C.; LIMA, R. V. B. Uso de suplementos alimentares por adolescentes. Jornal de Pediatria. Rio de Janeiro, v.85, n.4, p.287-294, 2009. AZEVEDO, Fernanda Reis de; IKEOKA,Dimas; CARAMELLI, Bruno. Effects of intermittent fasting on metabolism in men. 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