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1 RESUMO DA UNIDADE Esta unidade versará sobre a Gestão Democrática. Especificamente, foram enfocadas: a) Os pressupostos do Estado Moderno, Constituição e Lei de Diretrizes e Bases – 1996; b) O papel da gestão democrática nos sistemas de ensino; c) O sistema de organização e gestão das escolas. Trata-se de uma pesquisa desenvolvida por meio de busca bibliográfica em livros e artigos que retratam os fundamentos da gestão escolar. Justifica-se pela necessidade de, ao estudar a gestão, é necessária a forma como ela se organiza atualmente, de forma democrática. Os resultados revelam que os fundamentos da gestão escolar estão fundamentados na gestão democrática. Eles mostram também que a participação da sociedade nas decisões escolares é de extrema relevância para que a escola ten ha qualidade social, no entanto, apesar de termos progredido bastante, é necessário que a democracia se instale de fato nas escolas. Palavras-chave: Gestão escolar democrática; Sistemas de ensino; Órgãos de participação nas escolas. 2 SUMÁRIO RESUMO DA UNIDADE.........................................................................................................1 SUMÁRIO .................................................................................................................................2 APRESENTAÇÃO DO MÓDULO .........................................................................................3 CAPÍTULO 1 - GESTÃO DEMOCRÁTICA E OS APARATOS LEGAIS ....................4 1.1 A EVOLUÇÃO DO ESTADO MODERNO .............................................................4 1.2 GESTÃO DEMOCRÁTICA E CONSTITUIÇÃO ................................................ 10 1.3 LDB E GESTÃO DEMOCRÁTICA....................................................................... 13 CAPÍTULO 1 – RECAPITULANDO .................................................................................. 18 CAPÍTULO 2 - A GESTÃO DEMOCRÁTICA NOS SISTEMAS: FEDERAL, ESTADUAIS E MUNICIPAIS .............................................................................................. 24 2.1 PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO E A GESTÃO DEMOCRÁTICA ......... 24 2.2 A GESTÃO DEMOCRÁTICA NOS ESTADOS E MUNICÍPIOS ..................... 31 CAPÍTULO 2 – RECAPITULANDO .................................................................................. 39 CAPÍTULO 3 - O SISTEMA DE ORGANIZAÇÃO DAS ESCOLAS ......................... 44 3.1 DEMOCRACIA NAS ESCOLAS: ÓRGÃOS DEMOCRÁTICOS..................... 44 3.2 EXPERIÊNCIAS DEMOCRÁTICAS: OS CONSELHOS MUNICIPAIS DE EDUCAÇÃO........................................................................................................................... 50 3.3 EXPERIÊNCIA DEMOCRÁTICA DE GESTÃO ESCOLAR: AS ESCOLAS DO MST .................................................................................................................................. 55 CAPÍTULO 3 – RECAPITULANDO .................................................................................. 60 FECHANDO A UNIDADE ................................................................................................... 67 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................ 69 GLOSSÁRIO ......................................................................................................................... 70 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 71 3 APRESENTAÇÃO DO MÓDULO Esta unidade de ensino buscará apresentar ao aluno a teoria sobre gestão democrática no Brasil. Com o desenvolvimento no Estado Novo e processo de democratização da sociedade, sobretudo a partir da Constituição, a escola acrescenta e altera suas práticas em função da democracia, tanto no sentido de balizar o currículo escolar, quanto nas ações dentro da escola, a democratização da escola somada à aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN 9394/96) atribui à gestão democrática da educação no sentido de que cada sistema de ensino tem propriedade de legislar sobre essa questão e é a respeito dessa temática que se trata o primeiro capítulo desta unidade. No segundo capítulo, são expostas considerações a respeito das dimensões que a gestão democrática pode assumir, tendo como principal instituinte atualmente o Plano Nacional de Educação, válido por uma década com vencimento em 2024; Planos Estaduais de Educação em âmbito estadual e os Planos Municipais de Educação nos sistemas locais de ensino, consoantes entre si, mas privilegiando a cultura local dos municípios e estados. O terceiro e último capítulo é composto, inicialmente, pelo esclarecimento de como as escolas, a partir das políticas públicas que versam sobre a gestão democrática, organizam-se, esclarecendo os órgãos que atribuem democracia dentro das unidades escolares (Conselhos de escola, de classe, Associação de pai s e mestres, grêmios estudantis) bem como as possibilidades e limitações da gestão democrática nesses ambientes escolares. Enfim, esse módulo apresenta a organização da gestão democrática no Brasil para que o aluno que pretende se tornar um diretor de escola possa compreender de forma clara os processos e políticas educacionais vigentes no país. 4 CAPÍTULO 1 - GESTÃO DEMOCRÁTICA E OS APARATOS LEGAIS Neste capítulo, será realizado um percurso histórico da gestão democrática, explanando desde a constituição do Estado Moderno até a sua plenitude normativa com a Constituição de 1988, a qual deu o “pontapé” para a consecução da gestão democrática das escolas públicas, passando também pela tramitação e aprovação da Lei de Diretrizes e Bases em 1996, normatizando a democracia e acompanhamento da educação por parte da sociedade civil. 1.1 A EVOLUÇÃO DO ESTADO MODERNO A democracia, difundida na Grécia desde a constituição dos Estados, inicialmente, podia ser exercida de maneira aberta a todos aqueles que eram considerados cidadãos, no entanto, como estudaremos na Unidade, a complexibilidade da sociedade, que foi sendo desenvolvida ao longo dos séculos, alterou os modos da participação social que, em seu segundo momento, deu-se de maneira representativa como principal característica o sufrágio. Para entendermos a forma como a democracia se desenrola na atual sociedade, precisamos entender seus arranjos, desse modo, esse item visa entender como a democracia se desenvolveu no Estado Moderno. A figura abaixo ilustra esse movimento histórico em que a monarquia perdia forças e entrava em ação o poder da burguesia. Figura 1 - Formação do Estado Moderno Fonte: Impalea, 2019. 5 O Estado Democrático como se configura hoje tem seus ideais baseados no séc. XVIII, caracterizado pelo desmanche do sistema feudal e o nascimento da burguesia, iniciando o sistema capitalista. Nesse ínterim, ocorre uma mudança do renascentismo para o iluminismo na qual, sem a explicação racional, não é possível compreender o mundo para transformá-lo obtendo maior acumulação de capital. No período destacado acima, o qual ocorre a transição da manufatura para maquinofatura, ou seja, a evolução do artesanato para a indústria, temos em voga uma ideia de educação para todos financiada pelo governo, ou seja, por aqueles que têm a racionalidade de pensamento – os iluministas. Podem ser destacados três grandes movimentos políticos que resultaram na definição do Estado moderno: a Revolução Inglesa ou Revolução Gloriosa, a Revolução Francesa e a Revolução Americana, que estudaremos a seguir. A revolução Inglesa, denominada também de Revolução Gloriosa, é resultado da transição da Monarquia Absolutista para Parlamentarismo, um dos teóricos responsáveis por tal mudança de paradigma é Locke; seus ideais foram determinantespara a queda do sistema absolutista na Inglaterra. Segundo Locke, todos os homens, ao nascer, tinham direitos naturais (nativos) direito à vida, à liberdade e à propriedade, para garantir tais direitos, os homens haviam criado governos. Se esses governos, contudo, não levassem em consideração a vida, a liberdade e a propriedade, o povo teria o direito de se revoltar contra eles, pois, de acordo com a teoria desenvolvida por Locke, as pessoas podem contestar um governo injusto e não as obrigando a aceitar suas decisões. Os escritos de Locke alteraram as formas de dominação monárquica e absolutista. A Revolução Americana, iniciada em 1776, teve como resultado a Declaração de Independência das colônias americanas, a partir desse marco, considera-se que todos os homens são iguais e adquirem, desde seu nascimento direitos iguais, entre os quais se destacam a vida, a liberdade e o direito à felicidade e garanti-los. Foram organizados os governos entre os seres humanos que visam emanar poderes por meio dos consentimentos dos governados de forma justa e, sempre que um governo se constituir injusto e destrutivo, é direito do povo alterar a forma de governo, buscando zelar pelos direitos universais (vida, liberdade e felicidade), instituindo a supremacia do povo. 6 A Revolução Francesa, iniciada em 1789, foi caracterizada pela não aceitação do sistema absolutista, na qual a nação como centro integrador das vontades e interesses, resultando na “Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão” o qual estabelece que os homens nasçam todos, sem exceção, livres e iguais em relação aos direitos de liberdade, propriedade, segurança e a resistência à opressão e nenhuma restrição pode ser obrigada ao ser humano, a não ser por meio de normativas, que se constituem na expressão da vontade popular. PARA TOMAR NOTA: 3 momentos essenciais para o desenvolvimento do Estado moderno: Revolução Inglesa. Revolução Americana. Revolução Francesa. Florenzano (2007) estuda os autores que tratam a respeito da democracia no estado moderno, destacado dois autores principais, mas com ideias divergentes em alguns pontos, como veremos nos próximos parágrafos: Marx e Weber. Marx e Engels são autores muitos conhecidos que, ao escreverem o livro mundialmente conhecido “O capital”, visavam difundir seus pensamentos negativos em relação ao poder instituído, preocuparam-se, sobretudo em examinar o caráter de classe do Estado, em minimizar sua autonomia com relação às classes sociais, em fazer uma denúncia, portanto, sua suposta neutralidade (FLORENZANO, 2007). Por outro lado, segundo Florenzano (2007), expõe-se o pensamento de Weber que apresenta uma Teoria de Estado elaborada que determinou as modalidades e formas de poder instituído e seus meios de burocratização do estado. Weber não se absteve de destacar os ideais políticos que privilegiam o estado- nação em detrimento na unidade coletiva (sociedade civil). É importante destacar que o desenvolvimento do Estado moderno surge em meio e pela historiografia do século XIX, que difundiu o sentimento nacional e da racionalidade apresentando o Estado como realizador e provedor. 7 O Estado moderno surge em meio à monarquia absolutista advinda do feudalismo e fim da considerada Idade Média e inicia da Idade Contemporânea e sua forte inserção do capitalismo como meio de produção (FLORENZANO, 2007). Nesse período de transição, estabeleceu forte resistência em relação à imposição fiscal: monarquia versus capitalistas (donos de fábrica). É nesse cenário que assistimos a grandes mudanças na década de 1950, desde a transição do sistema feudal para o capitalismo, crise geral do século XVII e aumento significativo do poder estatal. E seguimos até o século XIX com forte inserção do capital que permaneceu como sistema inabalável até o século XIX, muito maçado pelo liberalismo e neoliberalismo e oposição a um sistema fechado. Florenzano (2007) pontua que, a respeito da história e teorias do Estado moderno, destacaram-se três grandes escritos de Maquiavel, Jean Bodin e Thomas, que, juntos, constituem a tríade fundadora tanto do conceito de Estado moderno, em particular, quanto do pensamento político moderno. Com relação aos escritos da ciência política dessa época, Florenzano (2007) aponta que o estado moderno segundo Hobbes foi fundado pela Itália, desenvolvido e ampliado pela França e Inglaterra e interpretada, ou seja, estudada pelos franceses. Outro grande autor que contribuiu para o pensamento sobre o Estado moderno, segundo Danner e Oliveira (2009), foi Foucault, apresentando um estado potencialmente disciplinador e normativo, na medida em que tanto o desenvolvimento de cada indivíduo como o da sociedade são condicionados pelo dispositivo panóptico, que é o modelo básico dessa sociedade. Em Foucault, de acordo com Danner e Oliveira (2009), afirma-se que o Estado moderno é altamente disciplinador e normativo, significa entender que o indivíduo é capturado em uma rede de poder que o torna necessário e, ao mesmo tempo, “domesticado” aos interesses do sistema capitalista de produção. De acordo com Danner e Oliveira (2009), Foucault foi responsável por diagnosticar a anátomo-política que exerce poder de domesticação nos corpos dos indivíduos e a biopolítica que age no homem enquanto esse viver; esses dois 8 mecanismos juntos são a base para a manutenção e desenvolvimento da supremacia capitalista. Danner e Oliveira (2009) apontam que Foucault descobre que o biopoder empreendido na sociedade foi o elemento determinante para o desenvolvimento das relações de produção capitalista, que só foi possível pela inserção controlada dos corpos no aparelho de produção e a adaptação dos meios de vida aos processos de capital, tornando-os necessários para a vida e cotidiano, nesse sentido, as formas de capital tornam-se não só aceitáveis como necessárias. Nesse ponto, é preciso esclarecer ao leitor desta unidade alguns conceitos. Para que a sociedade capitalista esteja formatada da maneira como se encontra até hoje, é necessário que os indivíduos aceitem tal dominação exposta anteriormente por Marx (alienação) e, nesse sentido, o conceito de biopoder advindo dos escritos de Foucault compreende uma aceitação natural, ou seja, o formato de sociedade que se apresenta permite ao indivíduo não só aceitar pelos meios de coerção essa sociedade que está empregada (panóptico), mas desejar permanecer nela. Do exposto, o sistema capitalista exigiu, de acordo com Danner e Oliveira (2009), o desenvolvimento, a utilidade e a dominação dos corpos, mas, para que tal formulação entrasse em ação, foram necessários métodos de poder potentes para o aumento das forças, as aptidões, em geral, mecanismo capazes de controlar a vida e o cotidiano, sem, contudo, torná-los mais difíceis de sujeição. A anátomo-política e a biopolítica, formulados no decorrer dos séculos XVII e XVIII, como meios de poder pertencentes nas organizações da sociedade de maneira geral, como: família, escola e comunidade, agiram no n os processos econômicos, em todo o seu desenvolvimento nas forças que agem nesses processos e que os sustentam, resultaram, por outro lado, em um processo de distanciamento e de hierarquização da sociedade garantindo, assim, efeitos de hegemonia e relações de poder. No entanto, foi graças ao estabelecimento do biopoder, com suas diversas formas e procedimentos, que decorreu o enquadramento dos homens ao acúmulo do capital e a articulação do crescimento das camadas sociais, levando à expansão das forças de produção e à repartição de forma diferente dos lucros (DANNER E OLIVEIRA, 2009). 9 IMPORTANTE: Autores importantes para compreendermos as relações estabelecidas no Estado Moderno: Marx e Engels. Weber. Foucault. Os princípios fundamentaisda democracia, conforme estudamos nesse item, só foram alcançados após longo período de monarquia absolutista e tiveram como princípios fundamentais a supremacia da vontade popular, a preservação da liberdade e a igualdade de direitos, tendo como princípio a isonomia (igualdade de direitos). Contudo, novas formas de dominação surgiram e foram expostas, inicialmente, pela teoria de Marx e Engels pela alienação do ser humano ao sistema capitalista, e Weber pelo sistema de burocratização da sociedade, por fim, estudamos em Foucault o processo biopolítico de poder por meio da “dominação de corpos”. Do exposto, finalizamos esse item partindo do pressuposto que a democracia foi uma invenção da sociedade que foi sendo reelaborada ao longo das décadas. Atualmente, ela é instituída em lei e garante que os direitos dos cidadãos sejam mantidos por meio do sufrágio, o que não impediu, no entanto, que outras formas de organização de poder menos aparentes, mas não menos eficazes, instalassem-se. A seguir, estudaremos as normativas a respeito da democracia e processos democráticos instaurados da gestão educacional, foco desta unidade de estudos. PARA SABER MAIS SOBRE O ASSUNTO: Vídeo: Sociologia - Formas de organização do Estado Moderno Link: https://www.youtube.com/watch?v=FEFE1yRdAm0 10 1.2 GESTÃO DEMOCRÁTICA E CONSTITUIÇÃO Após a consecução do Estado moderno, assistimos, no Brasil, à tomada do poder pelos militares com o Golpe Militar (1964 – 1985), essas décadas foram decisivas para instaurar, na sociedade, uma grande vontade de poder participar das decisões relacionadas à sociedade, nesse sentido, mesmo antes do fim do regime militar, com seu enfraquecimento e com a constitucionalização de vários países sul - americanos, surge a ideia da elaboração da constituição democrática do Brasil. Do exposto, saímos de um período de ditadura com a necessidade de vivenciarmos relações mais democráticas, principalmente a partir da década de 1980. Entre os poderes atribuídos à sociedade na Constituição de 1988, a gestão democrática do ensino público foi uma das normativas ovacionadas pela área educacional, como estudaremos nesse item. Dourado (1998) concebe a gestão democrática como um aprendizado a ser obtido por meio de lutas políticas que não se instala somente em meio à educação, mas expande-se por todos os âmbitos da vida social e de sua relativa autonomia. A efetiva participação e aprendizado desses “jogos democráticos” faz o indivíduo que participa dessas ações repensar as estruturas de controle da sociedade que perpassam as relações e práticas sociais e educativas. O movimento a favor das liberdades democráticas; as primeiras grandes greves; o movimento das “Diretas Já” pelo retorno ao sufrágio para escolha dos governantes; o alcance pela livre organização de partidos, entre tantas outras ações no campo trabalhista, político e social resultaram em um movimento de grande participação e democratização dos vários âmbitos sociais no Brasil, incluindo-se o próprio desenvolvimento do Estado (ADRIÃO e CAMARGO, 2007). No âmbito das reformas democráticas do Brasil, é que se inscreveram as perspectivas balizadas pelas ideias expostas no parágrafo anterior, principalmente na esfera legislativa, pois uma das formas de se procurar garantir mecanismos e instâncias com conteúdos democráticos é normatizando-os (ADRIÃO e CAMARGO, 2007). 11 Todo processo legislativo configura-se como base de disputas entre interesses diferentes, muitas vezes, contrários, e que a lei, como resultado daquele movimento, sintetiza os conflitos existentes. Contudo, ainda que seja um desenvolvimento, a mera presença no texto de lei de quaisquer medidas que visam à democratização não resulta por si só em sua execução. A dualidade que acompanha as conquistas das normativas contém em si a contradição entre o normatizado e o efetivado (ADRIÃO e CAMARGO, 2007). Partindo do exposto, os discursos democráticos organizados pelos setores responsáveis caracterizavam-se por lutar por mudanças no funcionamento do Estado por meio da composição e efetivação de conselhos ou outros órgãos democráticos, compostos por representantes da sociedade civil, cuja função seria participar efetivamente da elaboração de políticas sociais a fim de garantir canais de controle e fiscalização das ações de Estado. (ADRIÃO e CAMARGO, 2007). Na constituição em 1988, a previsão de mecanismos democráticos para a gestão estatal pode ser vislumbrada no âmbito dos direitos individuais e dos direitos da sociedade civil. No primeiro caso, apresenta-se no inciso XXXIII do art. 5º, cujo todo sujeito tem direito ao acesso a informações de interesse subjetivo ou, a serem expedidas, sob pena de responsabilidade, por órgão público no prazo que a lei determinar. No caso dos direitos da sociedade, após estabelecer no art.6 a educação como um desses direitos, a Constituição de 1988 afirma, em seu art. 10, a todos os trabalhadores e empregadores, a possibilidade de participação nos órgãos colegiados da esfera pública os quais são de interesses profissionais ou previdenciários os temas discutidos. Portanto, conforme a constituição, é assegurada a participação de toda a sociedade nos colegiados dos órgãos públicos, principalmente, daqueles em que haja “interesses profissionais ou previdenciários como objeto de discussão e deliberação” (BRASIL, 1988). No capítulo de lei que trata da administração pública, encontram-se citações referentes a procedimentos que aumentam a participação dos servidores públicos ou funcionários, na avaliação dos serviços prestados e no acesso a informações da administração direta ou indireta (art. 37) 12 Em resumo, visando à democratização da gestão estatal por meio do aumento da participação da população em suas instâncias, a normativa constitucional menciona, de forma resumida, dois procedimentos: o acesso à informação e à participação de representantes de setores específicos em órgãos da administração pública. Ao realizar análise a respeito da aprovação do artigo que trata da gestão democrática do ensino, Adrião e Camargo (2007) apresentam o cenário da tramitação da constituição apontando duas vertentes: uma voltada aos interesses identificados com as ideias do “Fórum Nacional em Defesa da escola pública”, na qual apoiará a participação de pais, alunos e comunidade local nas definições das formulações das políticas educacionais, na outra vertente, os autores apresentam forte influência do setor privado no campo educacional a qual o nível aceitável para tal lei seria a possibilidade de famílias e educadores auxiliarem as direções escolares das instituições escolares. Por conta desses embates, o texto adquiriu um texto- ao ver dos autores- redundante - Artigo 206 – O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: [...] VI – gestão democrática do ensino público, na forma da lei”- que garantiu a gestão democrática apenas ao ensino público (aqui compreendido como as escolas gratuitas, restringindo a participação da comunidade escolar nas escolas de cunho privado. Outro ponto abordado por Adrião e Camargo (2007) se concentra no trecho “na forma da lei” protelando a gestão democrática para a Lei de Diretrizes e Bases. O resultado da constituição de 1988 que estabeleceu a gestão democrática como princípio se, de um lado, indicou a incorporação de experiências já existentes de democratização da gestão da educação básica na implantação e consolidação de conselhos escolares de natureza deliberativa, eleição de dirigentes e/ou estímulo aos grêmios estudantis –, de outro, favoreceu a generalização de políticas voltadas para o aumento da participação de educadores e usuários na gestão escolar, nas redes públicas onde ainda não ocorriam. A Constituição Federal de 1988 normatiza a descentralizaçãoda educação pelo artigo nº 211, por meio do qual se propõe, de forma inédita no Brasil, a organização dos sistemas de ensino por meio de um regime de colaboração entre 13 União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, elaborando, ainda mais tarde, a Emenda Constitucional nº 14, de 1996, que programou o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (FUNDEF). A LDB – Lei de Diretrizes e Bases, 1996, atribui maior autonomia na educação aos municípios mesmo em meio a reações ao centralismo do regime autoritário por conta da intensa valorização da instância local, mesmo com grande pluralidade de interesses (SOUZA e FARIA, 2004). Segundo Souza e Faria (2004), a Constituição de 1988 dispôs, pela primeira vez, sobre a organização dos sistemas municipais de ensino ao lado dos sistemas federal e estadual (já existentes), deliberando ainda sobre o Regime de Colaboração, matéria que veio a ser regulamentada pela Lei n° 9.394/96 que estudaremos a seguir. Conforme visto acima, a Constituição de 1988 atribuiu autonomia para que os municípios criassem seus sistemas de ensino próprios, delegando também a eles a oportunidade de formular suas próprias políticas educacionais no âmbito da educação infantil e do ensino fundamental, já que até então aos municípios cabiam somente a administração. (SOUZA e FARIA, 2004). Do exposto, percebe-se que a Constituição foi a primeira e mais importante normativa que vinculou as ideias de gestão democrática do ensino público, até então centralizadas no papel do diretor escolar, no entanto apenas a normatização dessa matéria como estudamos historicamente não foi suficiente para a instalação de uma efetiva gestão democrática que voltou a ser matéria de estudo somente após a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases que estudaremos a seguir. PARA SABER MAIS SOBRE: https://www.camara.leg.br/internet/agencia/infograficos-html5/constituinte/index.html 1.3 LDB E GESTÃO DEMOCRÁTICA A Constituição Federal, conforme estudamos no item anterior, foi um importante passo rumo à democratização das relações dentro da escola, no entanto não foi suficiente para atribuir gestão democrática nas escolas, o que ficou protelado https://www.camara.leg.br/internet/agencia/infograficos-html5/constituinte/index.html 14 para a Lei de Diretrizes e Bases que teve sua reformulação de maneira conturbada com várias alterações e fragmentações durante o seu processo de tramitação. O projeto de lei que foi enviado à Câmara que tinha por base a proposta elaborada por Saviani, não traduzia especificadamente o princípio da gestão democrática do ensino público, de modo que elementos referentes à temática seriam incorporados ou reformulados ao longo do imbricado processo de tramitação do projeto na Câmara e entre os senadores. (NARDI, 2016). Uma síntese do trâmite do projeto de lei, citado no parágrafo anterior, é necessária para entendermos os processos e incursões após a publicação da Lei de Diretrizes e Bases de 1996, tal percurso pode ser realizado, considerando-se o período determinado entre a apresentação do projeto, em novembro de 1988 até a aprovação da nova LDB, em dezembro do ano de 1996, tendo por base o conteúdo dos documentos que traduzem os caminhos do projeto de lei e seus diversos desdobramentos do processo no legislativo. Assinalamos, nesse quesito, diretrizes que embasaram a gestão democrática do ensino, referentes à autonomia da escola e, finalmente, processos de participação objetivando dar instrumentos para a gestão se efetivasse por meio de tais princípios (NARDI, 2016). A gestão democrática tão propagada a essas normativas, a concepção e o conteúdo do projeto inicial apresentado em novembro de 1988 distanciavam-se muito do projeto da Câmara dos Deputados. Dentre outros aspectos, é possível destacar o ocultamento referente ao Sistema Nacional de Educação e ao Conselho Nacional de Educação, demonstrando que tal projeto favorecia a maior autonomia do Poder Executivo na elaboração da política educacional e, desta forma, opunha-se de forma substancial da concepção democrática participativa que balizou o projeto da Câmara. Outro ponto excluído em tal projeto forma os dispositivos referentes diretamente aos órgãos e mecanismos de participação, bem como dispositivos sobre a autonomia da escola (NARDI, 2016). Sobre espaços e mecanismos de participação, são referidos, no art. 14 da Lei de Diretrizes e Bases, aprovada em 1996, a obrigatoriedade do projeto político pedagógico e dos conselhos escolares ou equivalentes. A figura do Conselho Nacional de Educação foi mantida, embora tendo sido mencionada uma única vez, conferidas ao órgão “funções normativas e de 15 supervisão e atividade permanente, criado por lei”. Resumindo, o processo que resultou na atual Lei de Diretrizes e Bases deu lugar a uma síntese de dispositivos sobre a gestão democrática do ensino público na educação básica, alocadas mais precisamente nos artigos 3º e 14ª da lei. Os dispositivos 9º trouxe como um mecanismo de efetivação da gestão democrática a elaboração do Plano Nacional de Educação, em colaboração com os estados, o Distrito Federal e os municípios. A exemplo, o artigo 12º atribuiu às escolas a elaboração e execução de suas propostas pedagógicas, por meio do projeto político pedagógico que também compuseram o conjunto de normas (NARDI, 2016). Conforme assinalamos, de um projeto amplo e diferente de propostas que visavam estabelecer regras para a flexibilidade ao princípio da gestão democrática do ensino público ao longo de duas décadas mostras o que propôs a lei de diretrizes e bases, assistimos a uma mudança de cenário, marcada pela efetivação do Plano Nacional de Educação, principalmente no que diz respeito ao tratamento dado às propostas no cenário legislativo. Não se pode afirmar que tenha havido uma quebra ou completa marginalização dos diferentes objetivos, antes informadas pelas diferentes propostas de mudança e aditamento em dispositivos da LDB, no entanto é possível afirmar que algumas propostas foram correspondidas pelo Plano Nacional de Educação, assim como ele parece ter firmado referências que impuseram alguma baliza a determinados objetivos e intencionalidades. Do exposto, prevalecem os avanços quanto ao conceito da gestão democrática do ensino público para que sejam protagonizados pelos sistemas de ensino, também por meio de legislação específica, agora estabelecida pelas estratégias da meta 19 no Plano Nacional de Educação (NARDI, 2016). Em favor de uma maior autonomia aos municípios, estes se viram perante desafios referentes à participação no regime de colaboração, de forma solidária, junto aos Estados e à União; a uma previsão da educação municipal, enquanto capítulo específico, na formulação de suas Leis Orgânicas e dificuldades em relação à elaboração dos Planos Municipais de Educação e a constituição de seus 16 Conselhos de Educação e de Acompanhamento e Controle Social. (SOUZA e FARIA, 2004). A lei mencionada na Constituição (1988) deveria ser a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei nº 9.394/1996. Essa normativa ratifica, em seu artigo 3º, que também trata dos princípios da educação nacional, aquilo que a Constituição de 1988 já indicava, mas dispõe de maneira um pouco mais específica no inciso VIII: “gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino”. A partir do anunciado no parágrafo acima, entende-se que a LDB adianta que tratará da temática, mas que os sistemas estaduais e municipais de ensino poderão e deverão regulamentá-la também nas suas próprias esferas (SOUZA e PIRES, 2018). Mais adiante, no artigo 14, a LDB retoma a temática e propõe que os municípios e os sistemas de ensino são que devem definiras normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas especificidades e conforme os seguintes princípios: I - participação dos prof issionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola; II - participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes. (BRASIL, 1996) Uma vez que a Lei de Diretrizes e Bases (1996) autoriza os entes federados a organizarem seu próprio regramento acerca da matéria, como discutido, esses então de organizam e criam leias a respeito dessa matéria, assunto que será tratado no próximo capítulo desta unidade. PARA SABER MAIS SOBRE O ASSUNTO Livro: LDB interpretada: diversos olhares se entrecruzam. Autor: Iria Brzezinski Org. Considerações finais deste capítulo A partir do que estudamos neste capítulo, pode-se concluir que a sociedade alterou suas formas de fazer política ao longo da história, a monarquia, que por muitas décadas garantiu um Estado absoluto, deu lugar a uma sociedade capitalista 17 de poder centralizado no povo, democrática, que a partir do sufrágio, pôde escolher seus governantes- o Estado Moderno. Estudamos também que, após duas décadas de regime militar, instalou-se, no Brasil, intensa mobilização para a implementação do federalismo por meio da Constituição federal, aprovada em 1988, com vias à concretização da plena participação social das decisões públicas, o que impactou a educação por meio da gestão democrática que, apesar de aparecer no texto lei constitucional, só foi normatizado em lei própria em 1996 após intensa e tumultuada tramitação, mas que, por fim, atendeu a gestão democrática das escolas públicas. A partir da Lei de Diretrizes e Bases, eclodem, no Brasil, vários estudos em relação à gestão democrática, e os sistemas estaduais e municipais tendem a regulamentar essa matéria em leis específicas como estudaremos também no próximo capítulo. 18 CAPÍTULO 1 – RECAPITULANDO QUESTÕES DE CONCURSOS Questão 1 Ano: 2019 Banca: FCC Órgão: Prefeitura de Recife - PE Prova: Analista de Planejamento, Orçamento e Gestão A partir do século XVI, a Europa Ocidental sofreu diversas transformações que promoveram o crescimento das cidades, das atividades comerciais e da ciência. Foi em meio a essas mudanças que as Monarquias Nacionais surgiram, contribuindo para o fortalecimento do poder real e acarretando no desaparecimento gradual da servidão e no declínio do mundo feudal. O Estado Nacional Moderno consistiu em um conjunto de práticas envolvendo questões de ordem econômica, social e política. Assim, o símbolo da formação dos Estados Modernos na Europa deu -se com: A) A participação dos burgueses na condução da política. B) O processo de centralização política nas mãos do rei. C) A unificação dos países e de suas elites. D) O surgimento da representatividade política através do parlamentarismo. E) As primeiras iniciativas de implementação da democracia. Questão 2 Ano: 2020 Banca: CESPE Órgão: TJ-PA Prova: Analista Judiciário. A redemocratização do país, no período imediatamente posterior ao regime militar, promoveu a descentralização da ação governamental e a atualização do arcabouço institucional. Entretanto, algumas medidas tiveram efeitos negativos. Neste contexto, considera-se um retrocesso na modernização da administração pública do país: a) O restabelecimento das eleições diretas em dois turnos para presidente, governador e prefeito. b) O processo de municipalização da gestão pública, o que concede maiores poderes aos municípios. c) A criação de conselhos municipais em várias áreas de interesse público. d) A redução da autonomia do Poder Executivo para tratar da estruturação dos órgãos públicos. 19 e) A ampliação da participação da sociedade na resolução de assuntos comunitários. Questão 3 Ano: 2019 Banca: IDHTEC Órgão: Prefeitura de Macaparana - PE Prova: Professor de Educação Básica - 1º ao 5º ano A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDBEN 9394/96, determina, em seu artigo 14, que os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades. Entende-se por gestão democrática: a) A prática administrativa na qual o gestor constrói a proposta pedagógica da escola e compartilha em seguida com os outros segmentos da escola. b) O fazer cotidiano que o gestor escolar executa, pautado nos princípios de autonomia e centralização. c) A prática de participação coletiva, onde os diferentes seguimentos da comunidade escolar participam da organização da escola e da construção de sua proposta pedagógica. d) Um fazer administrativo, na qual a figura do gestor é de fundamental importância, visto ser esse o responsável por garantir o controle e a autonomia dos sujeitos determinando quais seguimentos podem ou não participar da gestão da escola. e) Uma forma de atuar frente às políticas educacionais impostas pelo poder público, uma vez que a escola pública pode construir sua proposta autonomamente, criando diretrizes e orientações contrárias aos órgãos oficiais de ensino. Questão 4 Ano: 2019 Banca: UFPR Órgão: Prefeitura de Quatro Barras - PR Prova: Professor É um princípio constituidor da gestão democrática: a) A consulta pública para a constituição da equipe gestora das instituições de educação básica. 20 b) A participação dos estudantes em grêmios escolares ou em espaços de representação equivalentes. c) A participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola. d) A eleição para diretor e coordenador pedagógico via conselhos escolares ou associação de professores. e) A gestão da escola a partir de conselhos deliberativos constituídos por pais, professores e alunos. Questão 5 Ano: 2019 Banca: IDECAN Órgão: IF-PB Prova: Técnico em Assuntos Educacionais Com relação ao contexto escolar, a escola deve ser entendida como espaço real de participação e transparência como princípios da gestão democrática. Contudo, observamos a necessidade de a escola pública buscar de fato uma educação transformadora que possibilite ao educando tornar-se capaz de atuar de forma ética e participativa em seu ambiente local e global. Sobre o tema, analise as afirmativas a seguir. I. A democratização da gestão na escola encontra muitos desafios em sua efetivação, sendo um deles a lógica centralizadora na figura do diretor que constitui o dia a dia das escolas em espaços impeditivos à participação da comunidade, sem momentos de discussão e reflexão acerca do processo educativo. II. O projeto político - pedagógico concebido em visão dialógica e democrática deve ser resultado apenas da perspectiva da equipe gestora. III. A gestão democrática deve garantir mecanismos e condições para que espaços de participação, discussão e tomada de decisão possam ser concretizados no cotidiano escolar. Assinale: a) Se somente a afirmativa II estiver correta. b) Se somente as afirmativas I e III estiverem corretas. c) Se somente a afirmativa I estiver correta. d) Se somente as afirmativas II e III estiverem corretas. 21 e) Se somente a afirmativa III estiver correta. QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE A partir das políticas neoliberais de Estado implementadas e difundidas no Brasil a partir do final de 1980 e por toda a década de 1990, tivemos a inserção da gestão democrática do ensino público no campo educacional. A partir dessas informações responda: Quais as principais normativas para a efetivação da gestão democrática do ensino público? TREINO INÉDITO O autor que ficou conhecido por difundir ideias a respeito de novas formas de dominação a partir do sistema capitalista e que estabeleceu o conceito de biopoder é: a. Frederick Marx. b. Engels.c. Foucault. d. Weber. e. Rousseau. NA MÍDIA Gestão Escolar Contemporânea Há vários impasses, desafios e possibilidades de se desenvolver uma gestão democrática escolar. Ademais, há muitas reflexões a fazer. A partir das décadas de oitenta e noventa, as instituições de ensino passaram por inúmeras transformações de cunho econômico, social, cultural e tecnológico que pressupõem a busca da descentralização do ponto de vista político e administrativo, com o fito de modernizar os processos de gestão escolar e considerar a escola como unidade autônoma e constituída de projeto participativo e cidadanizante. A concepção democrática de gestão educacional deve ser compartilhada com os diferentes segmentos da comunidade, não obstante, há a necessidade de fortalecer a democratização e a participação responsável, onde todos atuam e opinam nas 22 decisões necessárias mediante um compromisso coletivo, buscando realmente efetivar resultados educacionais mais significativos e edificantes. Nem sempre foi assim entendida, a administração de processos educativos que se atrelou inicialmente à concepção de divisão do trabalho na linha do taylorismo e do fordismo, onde discutir, planejar, pensar e agir eram dimensões estanques e até divorciadas, além de isoladas do processo integral. Assim, o trabalho era visto nas escolas como de cunho essencialmente técnico, racional, burocrático e reprodutivista, dividindo as atividades entre aqueles que as planejam e aqueles que as executam. Surge, assim, a necessidade premente de refletir sobre a gestão escolar e suas implicações decorrentes da mudança no modo de organizar e planejar as ações no âmbito escolar. Foi a partir da redemocratização de 1985 que começou a se cogitar em gestão democrática escolar. Principalmente, porque num Estado Democrático de Direito, a gestão escolar deveria ser igualmente democrática e compartilhada pelos diversos segmentos da comunidade, descentralizando, desse modo, os processos de decisão e as ações ocorrentes no interior das instituições escolares e de ensino. O descentralizar tem como marco principal a década de noventa, quando a Lei 9394/96 (LDB) que passou a efetivar e positivar relevantes mudanças referentes à administração financeira, administrativa e pedagógica. E, assim, os movimentos em prol da gestão democrática escolar tomou força e conteúdo. A partir dessa década, os gestores das escolas públicas passaram a ter seu papel ampliado, isto é, passaram exercer funções que outrora eram executadas por órgãos centrais e setoriais dos sistemas educacionais. A gestão requer a participação de todos os profissionais da educação e da comunidade escolar, pois, na perspectiva democrática, todos devem debater ideias e construir coletivamente os projetos e propostas para a escola, considerando as fundamentais, prioritárias e necessárias. Faz-se, assim, a socialização profissional na construção mútua de questões que condizem com a prática democrática na educação. A gestão democrática é chave primordial para se efetuar as necessárias mudanças no estilo de gestão e, com isso, tornar-se o modelo para a comunidade 23 escolar, uma vez que estimula as pessoas a integrarem uma gestão participativa, onde cada indivíduo deve ter responsabilidade e compromisso com o sucesso da escola, com qualidade e eficácia, com isso, a gestão democrática. [...] Fonte: JORNAL JURÍDICO Data: 10 mar. 2020. Leia a notícia na íntegra: https://www.jornaljurid.com.br/colunas/gisele-leite/gestao- escolar-contemporanea NA PRÁTICA A gestão democrática e participação da comunidade das decisões é algo imposto nas legislações educacionais, no entanto, na prática, ainda temos muita dificuldade de empregá-la, seja pela hierarquia escolar demarcada ou pela falta de vontade ou de conhecimento da comunidade educacional. PARA SABER MAIS Vídeo sobre o assunto: https://www.youtube.com/watch?v=_a13nWelrbE 24 CAPÍTULO 2 - A GESTÃO DEMOCRÁTICA NOS SISTEMAS: FEDERAL, ESTADUAIS E MUNICIPAIS Estudamos no capítulo anterior que, a partir dos pressupostos do Estado Novo e normas constitucionais, temos, hoje, uma sociedade democrática, o que garantiu, para o campo educacional, a gestão democrática das escolas públicas normatizas pela Lei de Diretrizes e Bases em 1996, que dispõe que cada estado, município e sistema de ensino elaborarão seus próprios regimentos, o que veremos neste capítulo. Outra regulamentação estabelecida pela Lei de Diretrizes e bases é a formulação do plano nacional de educação e planos estaduais e municipais de educação a partir da participação popular temáticas deste capítulo. 2.1 PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO E A GESTÃO DEMOCRÁTICA De acordo com Boaventura (2000), desde a criação do Conselho Nacional de Educação e o Manifesto dos Pioneiros no início da década de 1930, já apontava a necessidade da elaboração de um plano nacional de educação, como um projeto que ultrapassasse uma gestão de governo. Saviani (1999) afirma que, em coro ao Manifesto dos Pioneiros, a Constituição de 1934 estabeleceu, como uma das atribuições do governo federal, implementar o plano nacional de educação, de acordo com os sistemas de ensino de todos os graus, comuns e especializados, além de coordenar e fiscalizar a sua execução em todo o Brasil, no entanto, em 1937, o Conselho Nacional de Educação apresentou um projeto de plano que não foi concluído, por conta da suspensão dos trabalhos da Câmara dos Deputados, na qual o plano estava em análise. Somente na década de 1960, foi esboçado um plano pelo Conselho Federal de Educação que prezava pela aplicação dos recursos federais para a educação, que, no entanto, foi abortado antes de ser encaminhado ao legislativo. Entre 1970 e 1980, durante o regime militar, a elaboração dos planos de educação esteve atrelada aos processos mais gerais de planejamento centralizado do governo nacional da ditadura sem, contudo, a consulta de profissionais da educação (SAVIANI, 1999). 25 Teixeira (2004) compreende que a democratização da sociedade brasileira influenciou, na década de 1980, propostas de participação da sociedade civil em diferentes âmbitos da administração pública incentivando a criação de conselhos municipais de educação que tiveram amparo legal. Tais conselhos tinham como lócus de discussão e de participação as questões educacionais. Somente a partir de intensa mobilização popular em 1988, a Constituição Federal incorporou a obrigação de se estabelecer um plano nacional de educação decenal que tivesse como plano de fundo a gestão democrática com ampla participação social, e, nesse movimento, os conselhos foram fortalecidos a ponto de se estruturarem, dentro do princípio da autonomia, tornando-se essencial no processo de gestão democrática da educação. A LDBEN 9394/96 destaca a necessidade de integração escola-comunidade, a participação dos docentes na elaboração do projeto político-pedagógico, dos pais em órgãos colegiados e a progressiva autonomia destinada à escola pública de educação básica, impulsionando a criação dos conselhos municipais de educação, essa mesma lei determinou o prazo de um ano para a União encaminhar ao Congresso Nacional, o Plano Nacional de Educação e, no entanto, somente 13 anos depois da promulgação da Constituição Federal e quatro anos após a LDBEN 9394/96, foi aprovado o Plano Nacional de Educação com vigência de 2001 a 2010, tendo como principal problema enfrentado em sua aprovação e execução os recursos financeiros utilizados para se alcançar as metas estabelecidas (BRASIL, 2014). Conforme Teixeira (2004), os planos de educação são documentos, com força de lei, que estabelecem metas para que a garantia do direito à educação de qualidade avance em um município, estado ou país. Abordam o conju nto do atendimento educacionalexistente em um território, envolvendo redes municipais, estaduais, federais e as instituições privadas que atuam em diferentes níveis e modalidades da educação: das creches às universidades. Trata-se, pois, do principal instrumento da política pública educacional e por ser decenal os planos de educação se caracterizam como um instrumento contra a descontinuidade das políticas, na qual orienta a gestão da educação por meio do controle social e a participação da sociedade civil. 26 Destaca-se que o plano que se findou em 2010 previu que os Estados, o Distrito Federal e os Municípios elaborassem planos decenais correspondentes, no entanto, ao final do período de vigência do Plano Nacional, praticamente metade dos Estados e dos Municípios ainda não havia elaborado seus respectivos planos. Além da restrição de recursos, a falta de centralidade do plano, na formulação da política nacional de educação, a ausência de regulamentação sobre a colaboração entre os entes federados bem como a cultura política brasileira, por vezes, contrária à construção democrática de planos de longo prazo têm sido consideradas explicações para esta situação, a qual se espera transformar com a formulação do novo Plano Nacional de Educação e outras ações voltadas à participação nos processos de construção e revisão dos planos estaduais e municipais de Educação (BRASIL, 2014). A figura abaixo ilustra de forma objetiva as dez diretrizes do novo Plano Nacional de Educação. Figura 2: Diretrizes estabelecidas no Plano Nacional de Educação (2014-2024) Fonte: INEP, 2014. Nesse sentido, o novo Plano Nacional de Educação (PNE), sancionado em junho de 2014, estabeleceu a elaboração e a revisão dos planos municipais e 27 estaduais de educação a partir de amplos processos participativos e embates dos vários sujeitos da sociedade sobre a educação, conforme o art. 8º, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão formular seus planos de educação, ou ajustar os planos já normatizados, observando a correspondência com as diretrizes, metas e estratégias previstas no Plano Nacional de Educação. (BRASIL, 2014). Diante da política educacional proposta, houve ampla mobilização nacional para a aprovação dos planos estaduais e municipais. A respeito da participação social na elaboração e acompanhamento dos planos, nota-se que o capítulo 2º dispõe que os processos de elaboração e adequação dos planos seriam realizados com ampla participação social por meio de representação da comunidade educacional e da sociedade civil. Nesse sentido, a meta 19 estabelece o dever de assegurar, no prazo de 2 anos a partir da aprovação do Plano Nacional de Educação, condições para a efetivação da gestão democrática na educação aliada a critérios técnicos de mérito e desempenho e à consulta popular da comunidade escolar, no âmbito das escolas públicas, prevendo recursos e apoio técnico da União para tanto. Podemos analisar ainda que uma das estratégias da meta discutida no parágrafo anterior é o estímulo e fortalecimento dos conselhos de educação como órgãos de participação e controle da gestão das escolas e sistemas, inclusive assegurando a plena participação por meio de programas de formação de conselheiros visando assegurar condições de funcionamento autônomo (BRASIL, 2014). Para oportunizar a atuação dos agentes sociais, torna-se necessária a criação e ressignificação de mecanismos institucionais de participação direta e representativa dos segmentos envolvidos com a educação, dentre os quais se destaca o conselho municipal de educação, exercendo o papel de articulador e mediador das demandas educacionais do município, junto aos gestores do poder público municipal. Nesse sentido, o conselho municipal de educação, na qualidade de órgão de composição plural e de ampla representatividade social, através do exercício de suas funções normativa, consultiva, propositora e fiscalizadora, ocupa posição fundamental na efetivação da gestão democrática dentro das possibilidades 28 dos planos municipais de educação, o qual viabiliza a autonomia do município no gerenciamento de suas políticas educacionais. De acordo com Souza e Faria (2004), o regime de colaboração entre os entes federados somente se efetivará quando o financiamento educacional se efetivar de forma autônoma e equitativa. Nesse sentido, o desafio então é definir e consolidar estratégias exequíveis que dessem conta da gestão democrática apontada nos textos de lei. Consequentemente, os municípios, para exercerem a democracia exigida nas leis, deveriam alicerçar suas instituições políticas e atos legais, reformulando as leis municipais e criando os Conselhos Municipais de Educação e os Conselhos de Acompanhamento e Controle Social, entre outros, nos quais se baseiam nas diretrizes norteadoras dessa construção em âmbito local. (SOUZA e FARIA, 2004). No caso dos sistemas públicos municipais de ensino, essas diretrizes devem ainda estar dispostas em seus Planos Municipais de Educação, havendo a necessidade de que sejam elaborados de forma democrática com ampla participação social e em conformidade aos Planos Estaduais e Nacional de Educação (SOUZA e FARIA, 2004). Esses dispositivos dialogam com a Lei Federal nº 9.394/1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB) e com uma demanda histórica de educadores e da sociedade, em favor da democratização da gestão escolar, que é consequência do reconhecimento da necessidade de se estabelecer no universo escolar e educacional condições mais dialógicas e participativas, favorecendo a socialização do poder institucional e a constituição de um ambiente mais adequado ao ensino e à aprendizagem (SOUZA e PIRES, 2018). Do exposto, o Plano Nacional de Educação estabeleceu inclusive sobre a necessidade de os estados e municípios aprovarem regras específicas para a gestão democrática em seus sistemas de ensino. (SOUZA e PIRES, 2018). A seguir, a imagem apresenta um resumo das vinte metas do Plano Nacional de Educação 29 Figura 3: Resumo das metas do Plano Nacional de Educação Fonte: Abreu, 2014. Observa-se que o princípio da gestão democrática, além de ser um preceito legal, configura-se, atualmente, como uma exigência política e ética, possibilitando a 30 participação da sociedade civil na definição e acompanhamento das políticas públicas educacionais nos sistemas de ensino do país. O Plano Nacional de Educação Lei nº 13.005/2014 difere da primeira Lei nº 010172/2001, principalmente, em relação à grande participação popular que o atual plano propôs, bem como a elaboração dos planos municipais de educação que atrelados aos Planos Nacionais de Educação e Planos Estaduais de Educação. Nessa proposta, a formulação dos planos municipais dos agentes locais, os quais se debruçaram junto aos conselhos municipais de educação a fim de pensar na melhoria da qualidade de ensino em suas cidades e consequentemente, de seus índices. No entanto, no primeiro biênio de vigência do plano, assim como observado na primeira proposta do Plano Nacional de Educação, lei n° 010172/2001, a problemática enfrentada encontra-se, principalmente, centrada no financiamento educacional, sobretudo após a aprovação da emenda constitucional 95, relacionada à PEC 241-55/2016 que determinou que nenhum investimento em áreas sociais pudesse exceder ao reajuste inflacionário por 20 anos, congelando, assim, o investimento em novas escolas, valorização dos profissionais de educação, enfim atravancando várias, e ou, se não todas as 20 metas estabelecidas no plano, aliado a esse problema, enfrentamos no Brasil nesse momento grande instabilidade política que tem causado enfraquecimento das instâncias de participação e fragilização da democracia. O item a seguir apresenta uma leitura atualizadada condição de normatização do artigo 9º, do Plano Nacional de Educação, buscando mostrar, por meio de um panorama dos estados da federação, em que condição se encontram os processos de normatização da gestão democrática e o cumprimento dos dispositivos legais mencionados. Ademais, analisa o alcance e a (in)suficiência dessa legislação, tanto das exigências formais quanto das necessidades de democratização da gestão da educação pública. PARA SABER MAIS SOBRE O ASSUNTO: Vídeo: Salto para o futuro PNE Link: http://pne.mec.gov.br/videos/item/39-salto-para-futuro-pne 31 2.2 A GESTÃO DEMOCRÁTICA NOS ESTADOS E MUNICÍPIOS Como analisamos no item acima, o Plano Nacional de educação estabeleceu que cada estado e município elaborassem seus respectivos Planos Estaduais de Educação e Planos Municipais de Educação com participação social, n esse sentido houve ampla mobilização para sua elaboração. Oliveira e Menezes (2018) analisa que “nas últimas duas décadas observou - se um movimento de dimensões mundiais rumo a padrões descentralizados de gestão dos sistemas educacionais”. Observa que reformas educacionais foram implementadas em âmbito mundial, tanto nos países em desenvolvimento como nos desenvolvidos, para os quais os governos vêm buscando dar autonomia administrativa e financeira, através da participação da comunidade nos colegiados e outras formas de gestão representativa nas escolas, passando-se, assim, o poder de decisão para essas comunidades escolares. Esses autores relatam também que na América Latina as agências de financiamento, especialmente o Banco Mundial, tiveram papel fundamental nessas mudanças, através de seus programas que cobravam ajustes estruturais em âmbito educacional (OLIVERA e MENEZES, 2018). De modo geral, Oliveira e Menezes (2018) observam que os Sistemas Estaduais de Ensino no Brasil possuem, a par de outras instâncias, dois órgãos superiores de administração da educação estadual que, em tese, devem atuar de forma articulada: a Secretaria de Estado de Educação (SEDUC) e o Conselho Estadual de Educação (CEE). O primeiro órgão, predominantemente executivo, exerce funções de coordenação, supervisão, articulação e implementação das políticas e ações educacionais. Já o segundo, órgão preponderantemente normativo, também com competências de assessoramento, atua na fiscalização e controle e, ainda na proposição de políticas educacionais locais e foram a partir dessas duas instâncias que foram produzidos os Planos Estaduais de educação em sua maioria formulados por esses órgãos ainda em 2014, o entanto, segundo esses autores, existe um quadro de insuficiência da legislação estadual no que se refere à gestão democrática, que não se mostra capaz, mesmo muitos anos após a aprovação da 32 Constituição de 1988 e da Lei de Diretrizes e Bases (1996), de traduzir o princípio democrático em regramentos para os seus sistemas (SOUZA e PIRES, 2018). Os Planos Estaduais de Educação (PEEs) são considerados importantes instrumentos de gestão, cuja particularidade implica, de um lado, integrar objetivos e metas do plano nacional, traduzindo-os, portanto, para a realidade territorial do estado e, de outro, prever a sua articulação às demandas municipais, a fim de que essas localidades possam adequar o planejamento nacional às suas particularidades (SOUZA e MENEZES, 2017). Os Planos Municipais de educação devem levar em consideração tanto as metas federais instituídas no Plano Nacional de educação quanto as metas estaduais – referentes ao estado da federação a qual o município está inserido – expostas no Plano Estadual de educação. Sobre os planos municipais de educação, um primeiro reflexo gerado pela atribuição de uma maior autonomia aos municípios refere-se à contemplação da educação nas Leis Orgânicas Municipais (LOMs), estas podendo ser consideradas enquanto “Constituições Municipais” (SOUZA e FARIA, 2004). Nesse sentido, os Planos Municipais de Educação se constituem como política educacional municipal mais abrangente e deve conter todas as aspirações da comunidade educacional e sociedade sobre a qualidade de ensino que se pretende na cidade. Temos que levar em conta ainda que, apesar das metas estabelecidas nesse plano, as escolas devem elaborar o seu Projeto Político Pedagógico que contemplará as especificidades da comunidade local a que se refere à escola, levando em consideração, ainda, que, para as aprendizagens escolares, a federação deve contemplar a Base Nacional Comum Curricular. A elaboração dos Planos Municipais deve seguir protocolos específicos para que contemple a participação popular e se torne efetivação uma lei municipal. A figura a seguir ilustra os passos percorridos pelos municípios até a aprovação dos planos municipais de educação. 33 Figura 4: Passo a passo para a formulação dos planos municipais de educação Fonte: INEP, 2014. Os Planos Nacionais de Educação reformulados em 2014 (em substituição ao de 2010) fortaleceram ainda mais a elaboração de um Sistema Municipal e a criação dos conselhos municipais de educação no sentido de supervisionar “de perto” as ações referentes às metas estabelecidas pelos municípios nos planos municipais de educação. De acordo com Monlevade (2003, p.44), havendo um “conselho municipal de educação, com poder normativo ou somente consultivo, é dele o papel primordial de inspirar, incentivar, cobrar e orientar todo o processo de elaboração, execução e avaliação do PME”. No contexto mais recente de descentralização da educação via municipalização, a ideia de formulação de um Plano de Educação atinge os Municípios de uma dupla forma: de um lado, pelo menos em termos formais, chamando o poder local a participar da formulação desse plano de modo a garantir que este não venha se reduzir a um Plano Federal, mas de toda a sociedade e, de outro, definindo uma tendência local voltada à elaboração de seus respectivos 34 Planos Municipais de Educação. No segundo caso, há de se considerar que esses Planos Municipais de Educação, apesar de não se afigurarem enquanto exigência legal, constituem-se em instrumentos considerados de grande importância para a implantação e gestão dos sistemas municipais de ensino (SOUZA e FARIA, 2004). A ação permanente do conselho municipal de educação, com democracia, legitimidade e qualidade científica, visa garantir não somente a qualidade do processo de construção do plano municipal de educação, mas também a qualidade social do plano. A respeito da participação social na elaboração e acompanhamen to dos planos já citado neste capítulo o parágrafo 2º, meta 19 e estratégia 19.5 estabelece a importância da formação dos conselheiros para conseguirem alcançar condições técnicas para que participem de forma plena e autônoma da elaboração e acompanhamento dos planos municipais de educação. Segundo o “de olho nos planos”, site que monitora os planos municipais de educação, em 2019, quando o plano nacional de educação completou quatro anos de vigência, três balanços de quatro anos de sua implementação foram divulgados pelo INEP, em todos eles, o cenário é de grave descumprimento. No balanço realizado pela Campanha Nacional pelo Direito à Educação1 em parceria com a Universidade Federal do Paraná, verificou-se, ainda com atraso, apenas um dispositivo foi cumprido de maneira integral: a publicação bianual de estudo de aferição da evolução das metas. De responsabilidade do Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais (INEP), o último estudo (2018) indicou o alcance da meta 13 ainda em 2015, que versa sobre a titulação mínima de docentes do Ensino Superior, na qual foi estipulada a garan tia de pelo menos 75% de mestres e 35% doutores, por outro lado, o relatório observou graves diferenças quando se analisa o dado discriminadopor tipo de instituição: nas organizações de ensino superior privadas, a titulação continua aquém da esperada. 1 Campanha Nacional pelo Direito à Educação: fundação em 5 de outubro de 1999, no Rio de Janeiro às vésperas do Fórum Mundial de Educação de Dakar, no Senegal, Com propósito de somar diferentes forças políticas pela efetivação dos direitos educacionais garantidos por lei para que todo cidadão e toda cidadã tenha m acesso a uma educação pública de qualidade. http://portal.inep.gov.br/informacao-da-publicacao/-/asset_publisher/6JYIsGMAMkW1/document/id/1476034 35 A ANPAE - Associação Nacional de Políticas e Administração da Educação - publicou também uma série sobre artigos acadêmicos sobre a análise das metas do Plano. Mesmo construído com ampla participação social e aprovado pelo poder legislativo e mesmo com o prazo de 10 anos para justamente esse plano ter descontinuidade política, infelizmente, não é o cenário que observamos. O Plano Nacional de Educação tem sido ignorado pelo Governo Federal. Com o desmonte do Fórum Nacional de Educação e a mudança da coordenação da CONAE - Conferência Nacional de Educação para o Ministério da Educação acarretou no enfraquecimento das instâncias de participação da sociedade civil e mobilização social. Para maior agrave houve a extinção da SASE, responsável por dar assistência ao monitoramento dos planos de educação e a falta de outro ente federal que cumpra esta função dificulta o acompanhamento do plano nos estados e municípios. Outro ponto que importa destacar é que o texto da Lei do Plano Nacional de Educação estabelece um prazo que já expirou para que todos os entes federados regulamentem a gestão democrática em sua circunscrição. No entanto, segundo levantamento, apenas 44,4% das Unidades Federativas o fizeram, o que pode ser observado no quadro a seguir (SOUZA e PIRES, 2018). Quadro 1 – Panorama da gestão democrática dos estados e Distrito Federal Região UF Gestão democrática1 Diretores2 Conselho Escolar3 Outras Formas4 N RR AM AP AC PA TO RO NE MA PI CE RN PB PE AL 36 SE BA SE ES MG RJ SP S RS SC PR CO MS MT DF GO Fonte: SOUZA e PIRES, 2018. Legenda para compreender o quadro: 1 Estados que possuem uma lei específica de gestão democrática no seu sistema de ensino. 2 Estados que possuem decretos, resoluções ou leis específicas sobre a eleição, indicação ou concurso para a função de diretor e vice-diretor no seu sistema de ensino. 3 Estados que possuem decretos, resoluções ou leis específicas sobre o conselho escolar no seu sistema de ensino. 4 Estados que possuem outras formas de orientação sobre as criações de conselhos escolares, grêmios estudantis e associação de apoio ou de pais e mestres. Agravante ao quadro já estabelecido e, por último, a crise econômica ainda desconhecida durante a escrita deste artigo por conta da COVID-19 que poderá acarretar no financiamento educacional bem como na ampliação da desigualdade entre escolas públicas e privadas em relação à qualidade de ensino e impactar em muitas metas estabelecidas nos planos nacional, estaduais e municipais de educação. Diante do cenário apresentado a proposta desse projeto não pode ficar enfraquecida, pois, apesar das adversidades, as escolas e sistemas municipais de educação estão em funcionamento, escolas estão fazendo políticas a todo o momento; de acordo com Ball, Maguire e Braum (2016) as políticas são colocadas 37 em ação em condições materiais, com diferentes recursos, em relação a determinados “problemas”, para esse autor: As políticas – novas e antigas- são def inidas contra e ao lado de compromissos, valores e formas de experiências existentes. Assim, o material, o estrutural e o relacional precisam ser incorporados na análise das políticas, a f im de compreender melhor atuações das políticas no âmbito institucional. (p.37) Não há como desconsiderar o movimento empreendido pelas comunidades escolares, discussões atreladas e organização dos conselhos municipais de educação em prol da elaboração dos planos municipais de educação. O monitoramento dos planos por parte da sociedade civil, mais do que nunca, é essencial para que os planos de educação estejam sintonizados com os desafios locais, regionais e nacionais e os conselhos municipais de educação são os órgãos com maior prioridade para auxiliar nesse processo. Para finalizar, é necessário compreender que, apesar das normativas em âmbitos nacional, estadual e municipal, em relação à gestão democrática a ênfase, todavia, continua recaindo sobre a escola, lamentavelmente. Isto é, não é inadequado se compreender que a escola é o epicentro do sistema educacional e, por isso se faz necessário que a sua gestão se paute pelos princípios e procedimentos democráticos. Do exposto, é insuficiente supor que gestores escolares agirão com a comunidade escolar de forma similar como são tratados pelos gestores dos sistemas (supervisores, secretários municipais de educação ou dirigentes de ensino). Nesse sentido, se pretendemos que haja relações mais horizontais na escola, um caminho para tal seria adequar de forma a horizontalizar as relações no âmbito do próprio sistema educacional, isso significa que a busca por formas democráticas da gestão do sistema educacional é um todo que se apresenta urgente (SOUZA e PIRES, 2018). PARA SABER MAIS: Vídeo: Conselhos Municipais de Educação monitoram PME. Link: www.deolhonosplanos.org.br 38 Considerações finais deste capítulo A partir do que estudamos nesse item, é possível compreender que o Plano Nacional de educação e seus consecutivos planos estaduais e municipais de educação são imprescindíveis para que a gestão democrática leve em consideração os âmbitos locais, no entanto, para que a democracia se dê de fato, é necessária à participação dos órgãos que garantem a participação social, como os conselhos estaduais e municipais de educação. É necessário, também, além da participação nas formulações – o que de fato parece ter se efetivado – devido acompanhamento pelos órgãos de participação das políticas educacionais locais. No próximo capítulo, estudaremos como as escolas se organizam nos seus interiores a partir da gestão democrática da educação, além de demonstrar um exemplo de sistema de ensino que tem conseguido efetivar a gestão democrática de seu sistema, principalmente aliando os objetivos comuns do seu sistema com os da escola, na qual envolve não só a gestão como um todo, mas o currículo escolar para garantir que por meio da formação de futuros cidadãos, continuem a lutar pelos ideais estabelecidos naquela comunidade. 39 CAPÍTULO 2 – RECAPITULANDO QUESTÕES DE CONCURSOS Questão 1 Ano: 2020 Banca: VUNESP Órgão: Prefeitura de Piracicaba - SP Prova: Professor de Ensino Fundamental Segundo Pimenta (1990), admitir um projeto significa ter consciência do que se quer, ou seja, quando se fala em projeto pedagógico, deve se ter, previamente, clareza de que está se pautando em determinadas concepções de educação e de ensino. Para a autora, a escola que se quer democrática precisa: a) Definir, a priori, uma nova qualidade, que passa pelas questões de organização escolar que modifique a realidade que aí está, a partir dessa realidade encontrada. b) Desconsiderar a realidade atual, para que se possa conceber uma nova organização escolar sem vícios. c) Estabelecer com clareza que a organização administrativa da escola precisa caminhar independentemente do pedagógico. d) Compor uma assessoria didático-pedagógica independente,composta de profissionais externos qualificados, não contaminados pelos problemas da escola. e) Considerar os alunos como “indivíduos reais” e, dessa forma, rebaixar o nível do ensino para atender as suas necessidades. Questão 2 Ano: 2019 Banca: IDECAN Órgão: IF-PB Prova: Professor EBTT Acerca do tema Currículos e Projeto Político Pedagógico (PPP), analise as afirmativas abaixo: I. O Projeto Político Pedagógico tem sido concretizado no documento que registra o conjunto de decisões e ações para o desenvolvimento do trabalho educativo. É importante destacar que todo o projeto pedagógico traz, de modo apenas explícito, uma concepção de educação e é justamente essa compreensão que caracteriza a dimensão política do projeto pedagógico. II. Ao entender o PPP como as intenções e as práticas de se trabalhar com as trajetórias de formação de educandos e educadores, pode-se dizer que ele se 40 identifica com o currículo escolar. Como tal, o PPP precisa ser resposta a uma demanda viva que decorre da leitura da realidade. III. Um PPP que registre a proposta de um currículo crítico, isto é, um currículo comprometido com a superação das realidades opressivas, voltado para o desenvolvimento da autonomia dos seres humanos e para a luta pela ampliação das condições necessárias para uma vida digna para todos, pode também significar uma forma de resistência aos currículos hegemônicos. Assinale: a) Se todas as afirmativas estiverem corretas. b) Se somente as afirmativas I e II estiverem corretas. c) Se somente as afirmativas I e III estiverem corretas. d) Se somente as afirmativas II e III estiverem corretas. e) Se somente a afirmativa I estiver correta. Questão 3 Ano: 2018 Banca: CONSCAM Órgão: Prefeitura de Bariri - SP Prova: Diretor de Escola Com base no documento Conselhos escolares: democratização da escola e construção da cidadania; caderno 1, parte II, indique o que são os Conselhos Escolares e sua função: a) Os Conselhos Escolares são órgãos singulares compostos por representantes especificamente das comunidades escolares, que têm como atribuição deliberar sobre questões político-pedagógicas, administrativas, financeiras, no âmbito da escola. b) Os Conselhos Escolares são órgãos colegiados compostos por representantes especificamente das comunidades locais e estaduais, que têm como atribuição deliberar sobre questões administrativas, financeiras, terapêuticas, mediadoras, no âmbito da escola. c) Os Conselhos Escolares são órgãos colegiados singulares por representantes das comunidades escolar e local, que têm como atribuição deliberar sobre questões administrativas, financeiras, terapêuticas, mediadoras, no âmbito da escola. 41 d) Os Conselhos Escolares são órgãos colegiados compostos por representantes das comunidades escolar e local, que têm como atribuição deliberar sobre questões político-pedagógicas administrativas, financeiras, no âmbito da escola. e) Os Conselhos Escolares são órgãos colegiados singulares por representantes das comunidades escolar, local, regional e estadual, que têm como atribuição avaliar e qualificar sobre questões administrativas, financeiras, terapêuticas, mediadoras, no âmbito da escola. Questão 4 Ano: 2019 Banca: IDECAN Órgão: IF-AM Prova: Professor - Biologia Com relação ao Plano Nacional de Educação – PNE, as alternativas a seguir completam satisfatoriamente a frase, à exceção de uma. Assinale-a. A execução do PNE e o cumprimento de suas metas serão objeto de monitoramento contínuo e de avaliações periódicas, realizados pelas seguintes instâncias: a) Ministério da Educação – MEC. b) Comissão de Educação da Câmara dos Deputados e Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado Federal. c) Ministério Público. d) Conselho Nacional de Educação – CNE. e) Fórum Nacional de Educação. Questão 5 Ano: 2019 Banca: IDHTEC Órgão: Prefeitura de Macaparana - PE Prova: Supervisor de Ensino Acerca da universalização e do fluxo escolar no Ensino Fundamental de 9 (nove) anos, a Meta 2 do PNE estabelece: a) Universalização a toda a população de 6 (seis) a 14 (quatorze) anos, garantindo que pelo menos 95% (noventa e cinco por cento) dos alunos concluam essa etapa na idade recomendada, até o último ano de vigência do PNE. 42 b) Universalização a toda a população de 4 (quatro) a 17 (dezessete) anos, garantindo que todos concluam essa etapa na idade recomendada, até o último ano de vigência deste PNE. c) Universalização a toda a população de 6 (seis) a 14 (quatorze) anos, garantindo que pelo menos 95% (noventa e cinco por cento) dos alunos concluam essa etapa na idade recomendada, no segundo ano de vigência do plano. d) Universalização a toda a população de 6 (seis) a 14 (quatorze) anos, independente da correção de fluxo. e) Universalização a toda a população de 5 (cinco) a 17 (dezessete) anos, garantindo 100% de correção do fluxo, até o último ano de vigência deste PNE. QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE Nos textos deste capítulo, estudamos os Planos de educação: Nacional, Estaduais e Municipais. A partir das leituras realizadas, responda qual a importâ ncia dos conselhos estaduais e municipais na elaboração e acompanhamento dos Planos estaduais e municipais de educação? TREINO INÉDITO Estudamos neste capítulo que os Planos de educação devem ser elaborados com ampla participação social. Qual o órgão de participação apresentado no texto como necessário na elaboração e acompanhamento dos planos municipais de educação? a. Conselho Municipal de Educação. b. Associação de Pais e Mestres. c. Caixa Escolar. d. Grêmio Estudantil. e. Conselho nacional de educação. 43 NA MÍDIA TCU: Brasil deverá descumprir 90% das metas do Plano Nacional de Educação A área técnica do TCU correu a lupa pelas ações propostas no Plano Nacional de Educação. O documento estabelece diretrizes e um pacote de vinte metas a serem alcançadas entre 2014, quando foi lançado, e 2024. O levantamento tem como base os resultados de 2019, portanto o meio do caminho. A conclusão é tenebrosa. De acordo com os técnicos, das duas dezenas de objetivos traçados, o Brasil tem alta probabilidade de não atingir 18 deles, ou seja, 90%. O resultado do trabalho de fiscalização deve ser levado ao plenário do tribunal hoje à tarde pelo relator do caso, ministro Augusto Nardes, e gerar enxaquecas em Abraham Weintraub. Fonte: O GLOBO Data de acesso: 20 abr. 2020. Leia a notícia na íntegra: https://blogs.oglobo.globo.com/lauro-jardim/post/tcu-brasil- devera-descumprir-90-das-metas-do-plano-nacional-de-educacao.html NA PRÁTICA Um dos maiores agravantes nesse ano para a não consecução das metas estabelecidas no Plano Nacional de Educação é a crise mundial decorrente da COVID-19 que afetou a economia mundial e consequentemente a economia nacional. PARA SABER MAIS Filme sobre o assunto: O QUE É PNE? Aprenda de forma definitiva tudo sobre o Plano Nacional de Educação Acesse o link: https://www.youtube.com/watch?v=t0ceez2g6L0 44 CAPÍTULO 3 - O SISTEMA DE ORGANIZAÇÃO DAS ESCOLAS Neste capítulo, estudaremos o sistema de organização das escolas com foco nos órgãos de participação dentro da escola a partir da gestão democrática instituída. Os autores estudados defendem uma gestão escolar democrática em que a coletividade possa se manifestar através da participação efetiva nas decisões e ações da escola e, para que tal democratização ocorra, é necessário que a escola se transforme em uma organização aprendente. Participação e autonomia são fatores essenciais para que a escola construa um espaço de gestão escolar democrática. A partir desse conceito, compreendem também que a figura do diretor se transforma do administrador burocrático para o líder democrático, que busca
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