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A amenorreia (ausência de menstruação) pode ser primária ou secundária. → Amenorreia primária: é a ausência de menstruação aos 16 anos de idade em pacientes com crescimento e características sexuais secundárias normais – provável alteração anatômica. Se as pacientes não tiveram períodos menstruais aos 14 anos de idade e não têm sinais de puberdade – provável alteração no eixo hormonal (p. ex., qualquer tipo de desenvolvimento das mamas), deve-se avaliá-las para amenorreia primária. As principais causas de amenorreias primárias são: digenesia ovariana (malformação), disgenesia (não forma), hímen imperfurado, ausência de receptores LH/FSH, septo transverso e síndromes genéticas, genitária ambígua. Excesso de cortisol por dieta excessiva, obesidade. → Amenorreia secundária: consiste na ausência de menstruação por ≥ 6 meses ou por 3 ciclos após o estabelecimento dos ciclos menstruais regulares. No entanto, pacientes com ciclos previamente regulares são avaliadas à procura de amenorreia secundária se não houver menstruação por ≥ 3 meses; pacientes com ciclos previamente irregulares são avaliadas à procura de amenorreia secundária se não houver menstruação por ≥ 6 meses. As principais causas são: prolactinoma, adenomas, SOP, síndrome de Asherman, gravidez. Evidentemente, a amenorreia é normal antes da puberdade, durante a gravidez e a lactação e após a menopausa. → Hipomenorreia: redução nos dias de duração ou no fluxo. → Oligomenorreia: redução na frequência das menstruações (intervalos maiores que 35 dias). → Criptomenorreia: o sangramento não se exterioriza por alterações do trajeto de saída (agenesia de colo, hímen imperfurado ou septo transverso). → Amenorreia: ausência da menarca ou ausência da menstruação por no mínimo três ciclos menstruais consecutivos ou seis meses. → Amenorreia Hipotalâmica: a secreção pulsátil de GnRH é modulada por interações com neurotransmissores e esteroides gonadais periféricos. Opioides endógenos, hormônios de liberação de Corticotrofina (CRH), melatonina e Ácido Gama-Aminobutírico (GABA) inibem a liberação de GnRH, enquanto as catecolaminas, a acetilcolina e o Peptídeo Intestinal Vasoativo (VIP) estimulam pulsos de GnRH. A supressão do GnRH pode derivar de fatores psíquicos, neurogênicos ou iatrogênicos (uso de drogas). A doença crônica, a desnutrição, o estresse, os distúrbios psiquiátricos e o exercício inibem os pulsos de GnRH e, por esse motivo, alteram o ciclo menstrual. Outros sistemas hormonais que produzem quantidades excessivas ou insuficientes de hormônios podem causar feedback anormal e afetar a secreção de GnRH. Na hiperprolactinemia, na doença de Cushing (excesso de ACTH) e na acromegalia (excesso de GH) são secretados hormônios hipofisários em excesso que inibem a secreção de GnRH. Quando a diminuição da pulsatilidade do GnRH é significativa, ocorre amenorreia. A maioria das amenorreias secundárias possui origem hipotalâmica. Decorrem da deficiência da secreção pulsátil de GnRH por várias desordens do SNC. Representam, juntamente com as causas hipofisárias, o chamado hipogonadismo hipogonadotrófico. O diagnóstico de amenorreia hipotalâmica depende da exclusão de lesões hipofisárias. Quando não se identifica nenhuma causa óbvia de amenorreia hipotalâmica, o quadro geralmente é atribuído a um aumento do CRH (hormônio liberador da corticotropina), que desencadeia aumento da secreção opioide, que por sua vez diminui a secreção de GnRH. Tal redução também pode ser decorrente do aumento da dopamina. → Amenorreia Hipofisária: a adeno-hipófise é formada por gonadotrofos (que produzem LH e FSH), lactotrofos (prolactina), tirerotrofos (hormônio estimulante da tireoide), corticotrofos (hormônio adrenocorticotrófico) e somatotrofos (hormônio do crescimento). Algumas causas de amenorreia com origem na hipófise também podem ocorrer após anormalidades em outros tipos de células hipofisárias, que, por sua vez, alteram a função gonadotrófica. Portanto, o hipopituitarismo representa a minoria das amenorreias secundárias. Tumores (os mesmos tipos histológicos referidos para o hipotálamo), infartos, lesões infiltrativas ou granulomatosas, ablações cirúrgicas ou radioterapia e hiperprolactinemia podem determinar esta entidade. → Amenorreia Gonadal: o desenvolvimento embriológico anormal dos ovários acarreta a disgenesia ou agenesia gonádica. Resistência à ação das gonadotrofinas, falência ovariana precoce, alterações genotípicas, tumores e iatrogenias representam outras causas de amenorreia gonadal. Nestes casos, a produção ovariana de estrogênios é insuficiente ou ausente para a ocorrência da ovulação e da estimulação endometrial, mesmo com uma produção hipofisária adequada de gonadotrofinas. Assim, não ocorre o feedback negativo, culminando com a elevação das gonadotrofinas e caracterizando o hipogonadismo hipergonadotrófico. Na pré-puberdade, o hipoestrogenismo é responsável pela ausência ou hipodesenvolvimento dos caracteres sexuais secundários (pelos pubianos e axilares, desenvolvimento das mamas) e amenorreia primária. A resposta dos pelos ao estímulo androgênico é sinérgica com o estrogênio. → Amenorreia Uterovaginal: a menstruação, ou descamação do endométrio associada ao sangue, é o evento final de um ciclo de estímulos e respostas adequados de um eixo hipotálamo-hipófise- ovariano normofuncionante. Para que o sangramento menstrual ocorra de forma cíclica e regular, além de um eixo em total integração com o meio endógeno e exógeno, é necessária a resposta proliferativa do endométrio ao estímulo estrogênico, sua oposição pela progesterona na segunda fase do ciclo transformando-se em secretor e, por fim, um trajeto de saída pérvio. As causas de amenorreia uterovaginais podem ser decorrentes da falha da resposta endometrial e de malformações uterinas ou do trajeto de saída, por agenesia ou simples obstrução. A classificação da amenorreia pode ser realizada de acordo com o compartimento em que se origina a disfunção. As principais causas são: (1) Compartimento I: desordens do trato de saída do fluxo menstrual (uterovaginais); (2) Compartimento II: desordens gonádicas (ovarianas); (3) Compartimento III: desordens hipofisárias; (4) Compartimento IV: desordens hipotalâmicas. → Síndrome de Turner: dentre as diversas formas de disgenesia gonadal, a síndrome de Turner é bastante comum. A maioria das pacientes apresenta cariótipo 45X ou mosaicos (45X/46XX, 45X/46XY), baixa estatura e estigmas, como pescoço alado, linfedema ao nascimento, múltiplos nevos pigmentados, distúrbios do coração, rins, grandes vasos e tórax em escudo. A maioria tem inteligência normal. Deve-se salientar que, como essas pacientes podem apresentar mosaico, o cariótipo deve ser realizado para excluir a presença de qualquer porção do cromossomo Y, pois, nessa situação, está indicada excisão cirúrgica das gônadas. É responsável pelos altos níveis de concentrações de gonadotrofinas, principalmente o hormônio folículo estimulante (FSH), em grande parte das pacientes com a síndrome. O aumento da produção destes hormônios gonadotróficos, pela hipófise, aniquila o efeito de retroalimentação negativa no eixo hipotálamo-hipofisário. Além disso, as concentrações de hormônio luteinizante (LH) são menores que as do FSH. → Disgenesia Gonadal: é a causa mais comum de amenorreia primária e infantilismo sexual. Nessa síndrome, o cariótipo é variável: 45X, mosaicos, 46XY e 46XX. Caracteriza-se pela presença de gônadas em fita, desprovidas de elementos germinativos, e quadro de hipoestrogenismo, com elevados níveis de gonadotrofinas (FSH e LH), pela ausência de retroalimentação negativa do estrogênio sobre o eixo hipotálamo-hipofisário. A disgenesia gonadal pura é caracterizada por cariótipo 46XX ou 46XY (síndrome de Swyer), fenótipo feminino com infantilismosexual, gônadas em fita, estatura normal e ausência de malformações somáticas. → Síndrome de Savage (síndrome do ovário resistente - 46 XX): pode ser causa tanto de amenorreia primária como de secundária. É caracterizada por elevados níveis de gonadotrofinas, com presença de folículos ovarianos. Esse quadro é resultado da incapacidade de resposta dos ovários à ação das gonadotrofinas. Para o diagnóstico, é necessária biópsia ovariana para avaliação histológica, que evidencia a presença de folículos, e exclui causa autoimune, que é caracterizada pela presença de infiltrado linfocitário. Tem ovário, mas responde parcialmente ou não responde ao FSH e LH: hipogonadismo (gônadas) hipergonadotrófico (hipófise, quem produz gonadotrofinas). → Síndrome de Kallman (amenorreia hipotalâmica – 46 XX): é uma doença genética em que a deficiência do GnRH resulta de defeito anatômico causado pela falha da migração de neurônios secretores de GnRH e axônios olfatórios para o hipotálamo, manifesta-se por puberdade tardia e amenorreia primária, com baixos níveis de gonadotrofinas, cariótipo normal (XX) e dificuldade de perceber odores (anosmia). Hipogonadismo hipogonadorófico. Desenvolve ovário, mas é infantilizado. → Síndrome de Morris (insensibilidade completa androgênica – 46 XY): é o resultado da insensibilidade dos receptores à testosterona, o fator de inibição de Muller é ativo e correspondido. O fenótipo é feminino, devido a incapacidade parcial ou total da célula para responder aos andrógenos, com mamas, ausência de pelos, vulva bem formada, vagina em fundo cego, ausência de órgãos internos femininos, e os testículos são encontrados na prega inguinal ou nos grandes lábios. Essa falta de resposta da célula prejudica/impede o desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários masculinos na puberdade, apesar do genótipo ser XY. → Síndrome de Rokitansky: também é conhecido por agenesia mülleriana, na qual a paciente possui uma anomalia congênita na qual ela nasce sem útero, colo uterino, tubas uterinas e terço superior da vagina. Ocorre no período embrionário, no qual os ductos müllerianos (que dão origem ao terço superior da vagina, ao colo e corpo uterinos e às tubas uterinas) sofrem um processo de agenesia, a qual pode ser total ou parcial. Os casos totais resultam na Síndrome de Mayer- Rokitansky-Kuster-Hauser (ou simplesmente Síndrome de Rokitansky), na qual as pacientes não desenvolvem nenhuma das estruturas associadas aos ductos de Müller. Apesar disso, a paciente apresenta ovários, de modo que em tais pessoas, os caracteres sexuais femininos secundários estão presentes. Logo, conclui-se que a ausência de menstruação não decorre da falta de estímulo hormonal, mas sim pela ausência da estrutura funcional responsável pelo sangramento (útero). Uma anamnese minuciosa e um exame clínico criterioso abreviam tanto o tempo quanto os custos da investigação da amenorreia. Nas amenorreias secundárias, a primeira conduta é a exclusão de gravidez. A etapa subsequente corresponde à dosagem de prolactina e do hormônio tireotrófico (TSH), explicada pelo baixo custo e simplicidade. Os valores séricos elevados desses hormônios direcionam a investigação para as causas de hipotireoidismo primário e/ou hiperprolactinemia. Outros exames complementares podem ser solicitados conforme a suspeição diagnóstica, como o teste da progesterona, teste do estrogênio + progesterona, dosagem de FSH e LH, e, por fim, teste do GnRH, de acordo com a ordem de necessidade. → Anamnese: deve ser iniciada por meio da observação e investigação sobre o desenvolvimento puberal, avaliando a presença dos caracteres sexuais secundários e ciclagem menstrual, especificando o intervalo e a duração do ciclo, assim como a quantidade de fluxo menstrual. Partindo do fato de que a paciente já menstrua, deve-se investigar quando ocorreu a alteração, se foi abrupta ou gradual, bem como se ocorreu após algum evento, como cirurgia, infecção, radioterapia, quimioterapia etc. Em relação aos antecedentes familiares, deve-se perguntar quanto a possíveis causas de cessação precoce de menstruação, assim como histórico de doenças autoimunes. Quanto à história social, deve ser questionado sobre a exposição a toxinas ambientais, até mesmo cigarro, sendo observados aqueles que atuam nos circuitos da dopamina, como os antipsicóticos. → Exame Físico: começa quando a olhamos desde que ela entra no consultório, uma vez que a aparência geral da paciente pode ser útil para indicar possíveis causas, como um IMC baixo, além da observação de desgaste do esmalte dos dentes, que podem ser oriundos de transtornos alimentares. Deve-se buscar por sinais de anomalias genéticas, como síndrome de Turner e defeitos na linha média, que podem nos indicar o possível compartimento acometido. Apesar de não ser muito realizado no cotidiano, o exame dermatológico pode ser valioso nesse caso, uma vez que por meio dele podemos observar a presença de hirsutismo, acantose nigricans ou acne, que são indicativos de SOP. O exame das mamas pode elucidar a presença de galactorreia, o que poderia sugerir níveis elevados de prolactina, a qual influenciaria nos níveis de dopamina. Quanto ao exame da genitália, a inspeção revelaria o padrão de distribuição dos pelos pubianos (a não ser que a paciente seja tricotomizada), mostrando se a paciente possui um padrão tipicamente feminino ou masculinizado (indicativo de hiperandrogenismo), assim como esse tipo de distribuição pode se apresentar com clitoromegalia, engrossamento da voz e padrão de calvície masculino. Pacientes com produção estrogênica normal possuirão vagina úmida de cor rosada com muco cervical ao exame especular. O toque vaginal pode auxiliar na identificação da presença de útero, a fim de identificar possíveis causas de amenorreia primária. De acordo com as observações do exame físico, podem ser solicitados exames complementares direcionados aos achados clínicos. → Exclusão de Gravidez: todas as mulheres em idade reprodutiva e com amenorreia devem ser consideradas grávidas até prova em contrário. Portanto, sugere-se dosar os níveis urinário ou sérico de β- hCG. → Teste da Progesterona: a progesterona é administrada à paciente por 7 a 10 dias, simulando a segunda fase do ciclo menstrual, aguardando um possível sangramento endometrial. Caso a paciente relate fluxo menstrual, conclui-se que há estrogênio circulante, bem como que a paciente não estava ovulando e que o seu trato genital é pérvio. Nesse cenário, uma das hipóteses diagnóstica é um quadro de anovulação crônica. No caso de a paciente não menstruar, levantam- se hipóteses relacionadas à ausência dos caracteres mencionados anteriormente, como ausência de estrogênio circulante (nesse caso, o endométrio não é estimulado previamente) ou por um trato genital impérvio. Porém, para ter certeza quanto ao mecanismo, deve ser realizado um segundo teste, que comprovará a teoria da ausência do estrogênio. Sendo assim, realiza-se o teste do estrogênio + progesterona. Diversos fatores podem levar a interpretações incorretas do teste. Em primeiro lugar, os níveis estrogênicos podem oscilar tanto na amenorreia hipotalâmica como nos estágios iniciais da insuficiência ovariana. Como resultado, pacientes com esses distúrbios podem ter pelo menos um sangramento após a interrupção do uso de progesterona. Especificamente, observa-se menstruação após administração de progesterona em até 40% das mulheres com amenorreia hipotalâmica causada por estresse, perda de peso ou exercício, e em mais de 50% daquelas com insuficiência ovariana. Segundo, as mulheres com níveis androgênicos elevados, como ocorre nos casos de SOP e HSRC, podem ter endométrio atrófico e não sangram. Em até 20% das mulheres com estrogênio presente não ocorre sangramento após a interrupção do tratamentocom progesterona. → Teste do Estrogênio + Progesterona: o estrogênio é administrado, simulando a primeira fase do ciclo e após isso, é administrada a progesterona, de modo a simular a segunda fase, do mesmo modo que o teste anterior. Diante disso, se a paciente apresentar sangramento menstrual, constata-se que havia pouco estrogênio circulante, bem como que a sua cavidade endometrial é normal. Logo, suspeita-se de acometimentos no compartimento III ou IV, os quais não estão sendo capazes de estimular o ovário de forma adequada, ou ainda no próprio compartimento II, que não está sendo capaz de produzir os seus hormônios corretamente. No caso de haver a ausência de menstruarão após o teste, pode-se inferir uma cavidade endometrial comprometida, como nos casos de sinequia intrauterina, correspondente à Síndrome de Asherman. → Dosagem do FSH: nas pacientes em que se evidencia sangramento após o teste do estrogênio, devem ser avaliados o compartimento II (ovário), o compartimento III (hipófise) e o compartimento IV (hipotálamo) em busca, respectivamente, de desordens gonádicas, hipofisárias e hipotalâmicas. Em outras palavras, a deficiência de estrogênio e progesterona pode ser atribuída a uma causa ovariana ou a um distúrbio no eixo hipotálamo-hipofisário. A dosagem do FSH plasmático fará o diagnóstico diferencial, sendo suficiente para distinguir as causas hipergonadotrópicas (aumento do FSH) das hipogonadotrópicas (diminuição do FSH). Dosagens elevadas de FSH (> 20 mUI/ml) indicam que há integridade do eixo hipotálamo- hipofisário e não está ocorrendo produção adequada dos hormônios ovarianos. Este fenômeno representa o hipogonadismo hipergonadotrófico. Dosagens baixas de FSH indicam que não está ocorrendo produção ovariana por ausência de estímulo central, caracterizando o hipogonadismo hipogonadotrófico. Assim, as causas ovarianas, como a menopausa e a falência ovariana precoce, cursam com níveis elevados de FSH, enquanto as disfunções hipotalâmicas e hipofisárias apresentam valores normais ou baixos de gonadotrofinas. Vale lembrar que a administração de hormônios exógenos durante o teste do estrogênio altera a produção de gonadotrofinas. Assim, deve haver um intervalo de pelo menos duas semanas entre esse teste e a dosagem plasmática do FSH. → Teste do GnRH: a administração de GnRH exógeno pode ser utilizada nos casos de hipogonadismo hipogonadotrófico para determinar a origem da disfunção, se hipotalâmica ou hipofisária. Coleta-se uma amostra de sangue para avaliação basal dos níveis de LH e FSH e administra-se 100 mg de GnRH por via intravenosa, com posterior avaliação dos níveis de LH e FSH. O teste é considerado positivo quando há aumento dos níveis de LH e/ou FSH em relação aos valores basais, sugerindo um defeito hipotalâmico, tendo como prováveis causas: exercício físico (no qual há uma alta produção de serotonina e opioides endógenos, que bloqueiam a pulsatilidade do GnRH); anorexia e bulimia (onde há um aumento da produção de cortisol, que também bloqueia os pulsos de GnRH); estresse (promove um aumento do cortisol); hiperprolactinemia (o excesso de prolactina bloquia os pulsos de GnRH); hipotireoidismo (o aumento do TSH bloqueia a pulsatilidade do GnRH). Quando o texto é considerado negativo, significa que houve uma diminuição dos níveis de LH e/ou FSH em relação aos valores basais, sugerindo, assim, um defeito hipofisário, tendo como prováveis causas: adenomas de hipófise; síndrome de Sheehan. → Exames Laboratoriais de Imagem: níveis normais ou diminuídos de gonadotrofinas justificam o rastreio de tumores do SNC através de exames de imagem. O método de imagem de eleição atualmente é a ressonância magnética. Na impossibilidade de sua realização, está indicada a tomografia computadorizada. O raio X de sela túrcica só deve ser solicitado na indisponibilidade da RM ou TC. A indicação rotineira desses métodos de imagem no início da investigação da amenorreia deve ser desestimulada, pois conduz ao achado problemático de incidentalomas hipofisários. Estima-se que aproximadamente 10% da população geral apresente microadenoma hipofisário não funcionante, sem repercussões clínicas a curto ou longo prazo. Se refere a qualquer processo no qual: (1) A função ovariana esteja reduzida ou ausente (hipogonadismo); e (2) As gonadotrofinas, em razão da ausência de feedback negativo, LH e FSH, encontrem-se aumentadas no soro (hipergonadotrófico). Implica disfunção primária ao nível do ovário, e não em nível central, no hipotálamo ou na hipófise. Esse processo também é conhecido como menopausa precoce ou insuficiência ovariana prematura (IOP), com tendência atual ao termo insuficiência ovariana primária. É caracterizado por dosagens elevadas de FSH (> 20 mUI/ml), que indicam que há integridade do eixo hipotálamo-hipofisário e não está ocorrendo produção adequada dos hormônios ovarianos. Portanto, nesse caso, os ovários não funcionam de forma adequada, apesar de um grande estímulo hipofisário e hipotalâmico, revelado pela alta dosagem sérica dos hormônios gonadotróficos. Pode ser adquirido por meio de infecções, doenças autoimunes, tratamentos medicamentosos ou outras causas. Nessas mulheres, a secreção crônica de esteroide sexual interfere com a retroalimentação normal entre ovário e eixo hipotálamo-hipofisário. A ausência de ciclicidade interfere na maturação normal de oócitos e na ovulação, impedindo a ocorrência de menstruação. Por terem níveis gonadotróficos relativamente normais, essas pacientes secretam estrogênio e, portanto, pode-se dizer que sejam portadoras de anovulação crônica com estrogênio presente. Isso se opõe às pacientes com insuficiência ovariana ou insuficiência hipotalâmico- hipofisária, nas quais os o estrogênio está ausente. Essa distinção pode ser útil para a avaliação e o tratamento. Portanto, nesse caso, as gonadotrofinas estão em níveis normais, mas não ocorre menstruação. A denominação hipogonadismo hipogonadotrófico indica que a anormalidade primária está no eixo hipotálamo-hipófise. A redução na estimulação dos ovários pelas gonadotrofinas leva a perdas na foliculogênese ovariana. Geralmente, nessas pacientes, os níveis de LH e FSH, embora baixos, permanecem dentro da faixa detectável (< 5 mUI/mL), indicando, portanto, que não está ocorrendo produção ovariana por ausência de estímulo central (estimulação hipotalâmica). Além disso, a ausência de função hipofisária causada por desenvolvimento anormal ou por lesão hipofisária grave pode resultar em níveis igualmente baixos. Conjunto contínuo contendo disfunção lútea, oligomenorreia e, nos casos mais graves, amenorreia. Portanto, nesse caso, ocorre a diminuição tanto dos hormônios ovarianos quanto das gonadotrofinas, de modo que essas não estimulam as gônadas de modo adequado. → Síndrome de Asherman: também chamada de sinéquias uterinas ou adesões intrauterinas, é a condição caracterizada pela presença de adesões e/ou fibrose no interior da cavidade uterina devido a cicatrizes (ex: abortamentos por repetição – e respectivas raspagens; radioterapia na região pélvica, infecção uterina...). → Síndrome de Sheehan: trata-se de hipopituitarismo pós-parto secundário à necrose hipofisária decorrente de hipotensão ou choque por causa de hemorragia maciça durante ou após o parto. Seu diagnóstico pode ser ignorado por anos, o que agrava a morbimortalidade entre as pacientes, devendo o clínico estar atento aos sinais de deficiência pituitária após o parto, principalmente em mulheres com história de hemorragia ou parto complicado. As primeiras manifestações da síndrome de Sheehan são a falha na amamentação após o parto e a falha em reassumir as menstruações (amenorreia). As outras manifestações do hipopituitarismo, como hipotireoidismo e hipofunção adrenal, ocorrem nos casos maisgraves e podem determinar o óbito. A deficiência de gonadotrofinas também pode ser ocasionada por traumas (principalmente cranioencefálico) e doenças infiltrativas ou inflamatórias da hipófise. A etiopatogênese da SOP é multifatorial, estando envolvidos fatores endócrinos e genéticos, além de fatores ambientais como dieta e atividade física. Dentre os fatores endócrinos, destaca-se como patognomônico da síndrome a hipersecreção de hormônio luteinizante (LH) e hiposecreção do hormônio folículo estimulante (FSH). A hipersecreção de LH leva à estimulação excessiva das células da teca, aumentando a produção de androgênios, principalmente testosterona, de modo desproporcional à sua conversão em estradiol, de modo que ocorre o hiperandrogenismo observado nas pacientes com SOP. Devido à baixa secreção de FSH, o completo crescimento e amadurecimento dos folículos é dificultado, de modo que estes interrompem seu desenvolvimento em estágios intermediários, conferindo ao ovário a morfologia policística característica. Em mulheres diagnosticadas com SOP, observa-se diminuição da sensibilidade dos neurônios hipotalâmicos secretores de GnRH à retroestimulação negativa normalmente estimulada pelos níveis elevados de estrogênios e progesterona, de modo que se justifica o aumento da secreção de GnRH e LH. A essa redução de sensibilidade, se atribui a deficiência na expressão de receptores de progesterona nos neurônios secretores de GnRH. No que tange aos fatores genéticos, há evidências de que se trata de uma doença oligo ou poligênica, com padrão de hereditariedade de difícil elucidação e identificação. O quadro clínico da SOP é caracterizado por irregularidade menstrual, oligo-amenorréia (ausência de menstruação por 90 dias ou mais) ou amenorréia, decorrentes da anovulação crônica, e por uma série de alterações decorrentes do hiperandrogenismo, podendo ocorrer presença de acne, seborréia, alopécia e hirsutismo. Devido à anovulação crônica pode também ocorrer infertilidade, achado coerente com as alterações hormonais do eixo hipotálamo- hipófise-ovário observadas na síndrome. → Síndrome Ligadora de Hormônios Sexuais (SHBG): ajuda a controlar a quantidade de hormônios sexuais disponíveis para o corpo—isso ajuda a manter em equilíbrio os processos relacionados a hormônios sexuais; pode estar relacionada à função da insulina, afetando condições como a síndrome metabólica e síndrome dos ovários policísticos (SOP); é importante mesmo após a menopausa— aqueles com altos níveis de SHBG apresentam risco menor de desenvolver câncer de mama pós-menopausa. A globulina ligadora de hormônios sexuais (SHBG) é uma proteína que afeta a função de alguns hormônios sexuais, incluindo a testosterona e o estrogênio. É produzida principalmente no fígado. Em resumo, a SHBG une-se a hormônios sexuais específicos, removendo-os da circulação direta no corpo. Sua ação no corpo ocorre da seguinte maneira: na corrente sanguínea, os hormônios sexuais podem ser encontrados em duas formas: livres e ligados. Hormônios podem se ligar a diferentes moléculas. No caso da testosterona e do estrogênio, uma dessas moléculas é a SHBG. Outra é a proteína albumina. Quando um hormônio sexual está livre ou ligado à albumina, o hormônio é considerado biodisponível (isso significa que ele pode adentrar tecido e produzir um efeito biológico). Por outro lado, quando ligado à SHBG, o hormônio sexual é essencialmente inativo e tem um impacto biológico mínimo—ou nulo—sobre o corpo até a sua liberação (isso ajuda a manter os processos relacionados aos hormônios sexuais em equilíbrio). Em mulheres e pessoas com órgãos reprodutivos femininos, a grande maioria da testosterona e estradiol no sangue está ligada à SHBG e outras proteínas e não é biodisponível—apenas cerca de 2% desses hormônios sexuais são livres para se ligar aos receptores e produzir algum impacto no corpo. Os níveis de SHBG podem variar ao longo do ciclo menstrual (isso pode ocorrer porque os níveis de estrogênio afetam a SHBG). O estrogênio atinge o pico pouco antes da ovulação, portanto, é possível que o aumento da SHBG próximo da ovulação seja devido à variação dos níveis de estrogênio. A duração do ciclo pode estar associada aos níveis de SHBG. De maneira semelhante, pessoas com síndrome dos ovários policísticos (SOP), um distúrbio associado à síndrome metabólica, tendem a apresentar baixos níveis de SHBG. Isso pode ser causado por altos níveis de androgênios que causa desequilíbrios nos hormônios sexuais e suprime a produção de SHBG em pessoas com SOP. A prolactina (PRL) é um hormônio polipeptídeo segregado pela adeno-hipófise. A PRL é responsável pela produção do leite, tendo ainda efeitos na inibição da reprodução pela supressão do funcionamento do ovário, impedindo nova gestação durante o período de amamentação. Um efeito residual dessa atividade é o aparecimento de impotência e diminuição da libido nos homens com hiperprolactinemia. Portanto, a PRL pode ser considerada o hormônio da descendência, pois garante à prole o cuidado dos progenitores. A PRL é produzida por células da adeno-hipófise e está sob o controle do hipotálamo por meio de hormônios controladores que chegam à hipófise pelo sistema porta hipotalâmico-hipofisário. É controlada principalmente por um hormônio inibidor, a PIF (Prolactin Inhibiling Factor), que é a dopamina, sintetizada nos neurônios tuberoinfundibulares do hipotálamo. Portanto, com a perda desse controle do hipotálamo sobre a hipófise, que pode ocorrer até mesmo por uma patologia na haste hipofisária, impedindo a passagem dos hormônios, haverá diminuição de todos os hormônios produzidos pela adeno-hipófise, exceto a PRL, que sofrerá elevação de sua produção. Existe um hormônio hipotalâmico com ação estimuladora sobre a produção da PRL agindo como um fator liberador e identificado como o TRH, o hormônio liberador da tireotrofina, o que explica os casos de hiperprolactinemia associados ao hipotireoidismo quando há elevação do TRH. Ou seja, no hipertireoidismo o TRH elevado, estimula a produção de PRL levando assim também a um quadro de hiperprolactinemia. Algumas substâncias podem estimular a síntese e a liberação da PRL: o VIP (peptídeo vasoativo intestinal), o GnRH (horrnônio liberador das gonadotrofinas) e o GABA (ácido gama-aminobutírico). Outras substâncias podem influenciar a secreção da PRL, como o estrogênio, a progesterona, a serotonina, os opióides, a histamina, a vasopressina, a neuritensina, a substância P e o peptícleo histidina- metionin. A secreção da PRL pela adeno-hipófise acontece de maneira pulsátil, ocorrendo variações de seu nível circulante no decorrer do dia. A PRL aumenta durante o sono, diminuindo gradualmente no decorrer da manhã. Durante a gravidez ocorre elevação constante dos padrões de PRL em função dos níveis crescentes de estrogênio e progesterona produzidos pela placenta, atingindo o máximo no termo da gestação. No entanto, durante esse período não ocorre a lactação, em virtude da ação do próprio estrogênio diretamente na mama, inibindo localmente a PRL. Quando ocorre a dequitação da placenta, os níveis de estrogênio e de progesterona caem, liberando a ação da PRL, o que desencadeia a apojadura do leite. A manutenção dos níveis altos de PRL e, portanto, da lactação, a partir desse momento passa a depender de novo mecanismo de inibição do PIF, que é o reflexo neuroendócrino da estimulação do mamiIo pela sucção, conhecido como reflexo de Fergunson, que induz a cada mamada o aparecimento de um pico de PRL. A frequência constante das mamadas causa então um nível elevado da PRL, mantendo a lactação e inibindo a ovulação. A ação da PRL sobre a ovulação se dá pela sua interferência na secreção hipotalâmica pulsátil do GnRH e a consequente alteração dos níveis do hormônio folículo-estimulante(FSH) e do hormônio luteinizante (LH). Essa interferência está na dependência direta dos níveis circulantes de PRL, variando desde uma fase lútea inadequada, passando por uma anovulação intermitente, o que acarreta oligomenorreia, até anovulação total seguida de amenorreia, dependendo dos níveis sanguíneos de PRL. A função ovariana estará reduzida em razão da interferência da PRL nos pulsos de GnRH com consequente diminuição da secreção de FSH e LH. As manifestações clínicas variam na dependência do nível sérico da PRL circulante e, também entre o encurtamento da fase lútea, a oligomenorreia, até a amenorreia, podendo ocorrer graus menores de inibição ovariana que justificam o aparecimento de infertilidade relacionada com hiperprolactinemia sem amenorreia. Uma elevação discreta (<30ng/mL) pode ser causa de infertilidade por ocasionar fase lútea curta ou ciclos anovulatórios. Casos mais avançados podem apresentar redução dos níveis de produção de estrogênio (amenorreia central), acarretando atrofia genital e outras consequências do hipoestrogenismo, como a oesteoporose. Portanto, o aumento da prolactina circulante resulta em aumento compensatório da dopamina central, o principal inibidor da secreção de prolactina. O aumento nos níveis centrais de dopamina altera a secreção de GnRH, rompendo, consequentemente, a secreção gonadotrófica cíclica normal e impedindo a ovulação. Há três tipos de causas: → Fisiológicas: relacionadas com as variações de sua produção (sono, coito, exercícios) ou sobre seu controle natural (estímulo mamilar). A possibilidade de gravidez deve ser sempre considerada na mulher em período fértil. → Farmacológicas: causadas por medicamentos que atuam inibindo o PIF (dopamina) ou com ação direta sobre a produção da PRL. Muitos medicamentos utilizados na prática clínica por diferentes especialidades podem ser responsáveis pela hiperprolactinemia (p.ex., verapamil e morfina inibem a produção central de dopamina; reserpina e alfametildopa provocam depleção dos estoques cerebrais de dopamina; metroclopramida e sulpirida bloqueiam a ligação da dopamina com seu receptor; inibidores da monoaminoxidase e antidepressivos tricíclicos inibem a recaptação de dopamina). Outros medicamentos atuam inibindo a recaptação da serotonina, como a fluoxetina e os opiáceos. A cimetidina e a ranitidina agem por antagonizar os receptores H2 da histamina. Os estrogênios causam hiperprolactimemia por ação direta na hipófise, estimulando a transcrição genica e a atividade mitótica dos lactotrofos. → Patológicas: desencadeadas por doenças sistêmicas ou hipotalâmico-hipofisárias, como o adenoma hipofisário produtor de PRL. A causa endócrina mais comum é o hipotireoidismo primário que, em razão da queda dos hormônios tireoidianos, induz aumento do TRH que, por sua ação estimulatória sobre a produção da PRL, pode causar a hiperprolactinemia. A doença da tireoide também é uma causa relativamente comum de oligomenorreia associada a gonadotrofinas na faixa normal. Classicamente, diz-se que o hipotireoidismo causa amenorreia, enquanto o hipertireoidismo tem sido implicado com menorragia. Embora mais raramente, é possível encontrar hipertireoidismo em pacientes com amenorreia. Nesse modelo, a redução primária nos níveis circulantes de hormônio da tireoide provoca aumento compensatório no hormônio hipotalâmico liberador da tireotrofina (TRH). Como parte do eixo da tireoide, o TRH aumenta o TSH estimulando os tireotrofos hipofisários. Além disso, o TRH liga-se também aos lactotrofos hipofisários, aumentando a secreção de prolactina. O aumento da prolactina circulante resulta em aumento compensatório da dopamina central, o principal inibidor da secreção de prolactina. O aumento nos níveis centrais de dopamina altera a secreção de GnRH, rompendo, consequentemente, a secreção gonadotrófica cíclica normal e impedindo a ovulação. Observe que esse aumento da prolactina pode ser primário, causado por prolactinoma, ou secundário, em razão de elevação no TRH. De maneira geral, na hiperprolactinemia secundária, os níveis de prolactina são inferiores a 100 ng/mL. Não há dúvida de que há outros mecanismos por meio dos quais a doença tireoidiana e os níveis elevados de prolactina provocam distúrbios na função menstrual, mas tais mecanismos no momento não estão bem compreendidos. Por exemplo, há receptores tireoidianos na maioria dos tipos celulares. Além disso, o hormônio da tireoide aumenta os níveis de globulina de ligação a hormônios sexuais, alterando os níveis de esteroides ovarianos livres e, consequentemente, ativos. Ademais, também foram identificados receptores de prolactina no ovário e no endométrio. O diagnóstico diferencial de amenorreia pode ser realizado com base nas necessidades para a geração de ciclos menstruais normais. Para a produção de um padrão de sangramento uterino cíclico e controlado há necessidade de regulação temporal e quantitativa precisa de uma série de hormônios reprodutivos. Em primeiro lugar, o eixo hipotálamo-hipófise-ovário deve estar funcional. A amenorreia pode se seguir ao rompimento dessa comunicação articulada. Contudo, mesmo quando ocorrem as alterações hormonais cíclicas esperadas, é possível haver ausência de menstruação, em razão da presença de anormalidades anatômicas. O endométrio deve estar apto a responder normalmente à estimulação hormonal, e o colo, a vagina e o introito devem estar presentes e patentes. Diagnóstico diferencial + quadro clínico SOP: O que é mais amplamente utilizado e que abrangerá maior número de pacientes é o critério de Rotterdam. Portanto, levar-se em consideração, a presença de ao menos dois dos três critérios diagnósticos: oligo-amenorreia, hiperandrogenismo clínico e/ou laboratorial e morfologia ultrassonográfica de policistose ovariana. Além disso, a exclusão de outras doenças que também cursam com hiperandrogenismo constitui-se no quarto, e obrigatório, critério diagnóstico. Embora, ao se adotar os critérios de Rotterdam, possa se deparar com pacientes sem sinais clássicos de hiperandrogenismo, as manifestações clínicas mais características da doença são quase todas decorrentes do excesso de androgênios circulantes. Visto que, o hiperandrogenismo está implicado em alterações na programação da regulação do eixo HHO, com interferências na sensibilidade do hipotálamo ao feedback exercido pelo estrogênio e pela progesterona de origem ovariana. Desta maneira, ocorre uma secreção atípica de GnRH, que determina a secreção de pulsos anárquicos de gonadotrofinas, caracterizado pela hipersecreção de LH, levando a ciclos anovulatórios, com o recrutamento inicial de múltiplos folículos, porém sem a maturação completa de nenhum, mantendo-os retidos em estágio intermediário de desenvolvimento (morfologia policística dos ovários). A anovulação secundária a este processo gera atraso menstrual com ciclos longos, porém normoestrogênicos, já que o crescimento folicular ocorre parcialmente, por isso há oligo-amenorreia e infertilidade. E por fim, o efeito direto dos androgênios sobre os folículos pilosos e sebáceos leva aos sinais e sintomas clínicos do hiperandrogenismo, como hirsutismo, acne, pele oleosa, queda de cabelo e nos casos mais graves, sinais de virilização com clitoromegalia e alopecia androgênica. De acordo com o exposto acima, pode-se definir que o diagnóstico da SOP é quase sempre clínico, principalmente levando-se em consideração que grande parte das portadoras de SOP apresentará irregularidade menstrual e hiperandrogenismo clínico. O histórico menstrual de oligo- amenorreia será caracterizado como a ausência de menstruação por 90 dias ou mais, ou a ocorrência de menos de 9 ciclos menstruais em um ano, sendo, portanto, um critério bastante objetivo. Já o diagnóstico dos sinais e sintomas de hiperandrogenismoé mais subjetivo. Entretanto, alguns parâmetros podem nortear esta avaliação como, por exemplo, o Índice de Ferriman-Galleway, que se trata de uma escala para quantificação de pelos em áreas androgênios dependentes, com nove áreas avaliadas, sendo que cada localização pode somar 0 a 4 pontos, aonde 0 corresponde à ausência completa de pelos e 4 ao crescimento acentuado de pelos terminais. Nos casos em que as manifestações clínicas não forem tão exuberantes, deve-se avaliar a característica morfológica dos ovários. A maneira mais simples e de baixo custo para esta avaliação é a ultrassonografia pélvica bidimensional, preferencialmente transvaginal. Os critérios ultrassonográficos padronizados, segundo as novas recomendações da ASRM/ESHRE de 2018, são: a presença de 20 ou mais folículos com diâmetro médio de 2 a 9 mm e/ou volume ovariano total maior ou igual 10cm³ (exceto se houver cisto funcional, neste caso deve-se repetir o exame no ciclo seguinte), em um ou ambos os ovários. A melhoria dos equipamentos de ultrassom e melhora na qualidade da imagem, permitiu que folículos anteriormente não visíveis fossem visualizados, o que trouxe a necessidade de se aumentar os padrões de normalidade como referência para a contagem de folículos antrais iniciais, que anteriormente era de doze folículos. Também nos casos em que o fenótipo não é claramente hiperandrogênico, deve-se realizar o diagnóstico diferencial com outras causas de anovulação crônica, sendo as principais a hiperprolactinemia, as anovulações de origem hipotalâmica e a insuficiência ovariana prematura. Para isso, a solicitação de dosagens hormonais de prolactina e FSH são suficientes, havendo casos em que a dosagem de Hormônio Tireo Estimulante (TSH) poderá também ser útil nesta avaliação. Diagnóstico Hiperprolactinemia: a base do diagnóstico é a dosagem da PRL basal. Sua pesquisa na ginecologia está sempre indicada nos casos de galactorreia, amenorreia com ou sem galactorreia e na infertilidade. Os dados clínicos e a investigação inicial devem afastar outras causas de elevação da PRL, como gravidez, uso de drogas, hipotireoidismo e insuficiência renal crónica. Os exames complementares relacionados com a causa-base da hiperprolactinemia devem ser realizados visando à identificação da patologia subjacente (p. ex., afastar adenoma de hipófise) para instituição do tratamento adequado. Diante de uma paciente com quadro clínico compatível com possível elevação da PRL, a primeira conduta será a dosagem da PRL, sempre associada à dosagem do TSH para afastar o hipotireoidismo (subclínico) como causador da hiperprolactinemia. A coleta do sangue deve ser feita pela manhã, após período de repouso, e evitando-se o "estresse" da punção venosa. Níveis entre 5 e 25ng/mL são considerados normais. O encontro de níveis >100ng/mL é sugestivo de tumores e de níveis >200ng/mL, de macroprolactinomas. A radiografia de crânio para avaliação da sela túrcica está indicada nas pacientes com galactorreia isolada ou associada aos outros sintomas e na hiperprolactinemia comprovada pelo exame laboratorial. Os métodos de imagem, como a tomografia computadorizada (TC) e a ressonância magnética (RM), apresentam grande sensibilidade, sendo de maior valor nos casos com níveis altos de PRL ou com aparecimento de imagem suspeita à radiografia de crânio. A campimetria visual e o exame do fundo de olho são métodos de acompanhamento dos grandes tumores, até mesmo durante a gravidez. • Tratado de Ginecologia / Manoel João Batista Castello Girão, Edmund Chada Baracat, Geraldo Rodrigues de Lima, editores associados Afonso Celso Pinto Nazário... [et al.]. – 1. ed. – Rio de Janeiro: Atheneu, 2017. a. Vol2. Seção 8. Cap 65 – Amenorreia – páginas 939 a 944. b. Vol2. Seção 8. Cap 66 – Síndrome de Anovulação Crônica – páginas 945 a 952 (SOP). • Joseph I. Schaffer, Barbara L. Hoffman, John O. Schorge. Ginecologia de Williams. 2ª. Edição, Editora Artmed, 2014. è Capítulo - 16 páginas 440 a 459 è Capítulo - 17 páginas 460 a 480 • Síndrome Dos Ovários Policístico. São Paulo: Federação Brasileira Das Associaçoes De Ginecologia E Obstetrícia (FEBRASGO):2018.103P. (Série Orientaçoões E Recomendações Febrasgo, N.4, Comissão Nacional De Ginecologia Endógrina. Critérios diagnósticos estudar pelo Manual da FEBRASGO ESTUDAR EXCLUSIVAMENTE PELO MANUAL DA FEBRASGO. è Capítulo 1 – páginas 1 a 15 è Capítulo 5 – Manifestações androgênicas páginas 56 a 67. • Resumos da Med: https://www.passeidireto.com/arquivo/96116591/amenorreia- primaria • Resumos da Med: https://www.passeidireto.com/arquivo/96116591/amenorreia- primaria https://www.passeidireto.com/arquivo/96116591/amenorreia-primaria https://www.passeidireto.com/arquivo/96116591/amenorreia-primaria https://www.passeidireto.com/arquivo/96116591/amenorreia-primaria https://www.passeidireto.com/arquivo/96116591/amenorreia-primaria
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