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Filosofando LP-21

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Leitura 
complementar
À esquerda, Mulher lendo 
(1879-1880), pintura de 
Édouard Manet. À direita, 
Mulher lendo (1911), pintura 
de Georges Braque. Os artistas 
Manet e Braque representaram 
o mesmo tema em suas telas, 
mas o resultado que observamos 
é diferente um do outro. Não 
existe hierarquia entre essas 
pinturas, pois cada uma responde 
a anseios e questionamentos de 
seu próprio tempo.
“[...] adquiri, ao longo dos anos, a convicção 
de que para todo indivíduo, inclusive para os que 
não a veem como uma vocação, é valioso estudar 
ao menos um pouco de fi losofi a, nem que seja por 
dois motivos bem simples.
O primeiro é que, sem ela, nada podemos com-
preender do mundo em que vivemos. É uma formação 
das mais esclarecedoras, mais ainda do que a das 
ciências históricas. Por quê? Simplesmente porque a 
quase totalidade de nossos pensamentos, de nossas 
convicções, e também de nossos valores, se inscreve, 
sem que o saibamos, nas grandes visões do mundo 
já elaboradas e estruturadas ao longo da história das 
ideias. É indispensável compreendê-las para apreen-
der sua lógica, seu alcance e suas implicações... [...]
Além do que se ganha em compreensão, conhecimento de si e dos outros 
por intermédio das grandes obras da tradição, é preciso saber que elas podem 
simplesmente ajudar a viver melhor e mais livremente. [...]
Aprender a viver, aprender a não temer em vão as diferentes faces da 
morte, ou simplesmente, a superar a banalidade da vida cotidiana, o tédio, 
o tempo que passa, já era o principal objetivo das escolas da Antiguidade 
grega. A mensagem delas merece ser ouvida, pois, diferentemente do que 
acontece na história das ciências, as fi losofi as do passado ainda nos falam. 
Eis um ponto importante que por si só merece refl exão.
Quando uma teoria científi ca se revela falsa, quando é refutada por outra 
visivelmente mais verdadeira, cai em desuso e não interessa a mais ninguém 
– à exceção de alguns eruditos. As grandes respostas fi losófi cas dadas desde 
os primórdios à interrogação sobre como se aprende a viver continuam, ao 
contrário, presentes. Desse ponto de vista seria preferível comparar a his-
tória da fi losofi a com a das artes, e não com a das ciências: assim como as 
obras de Braque e Kandinsky não são ‘mais belas’ do que as de Vermeer ou 
Manet, as refl exões de Kant ou Nietzsche sobre o sentido ou não sentido da 
vida não são superiores – nem, aliás, inferiores – às de Epicteto, Epicuro ou 
Buda. Nelas existem proposições de vida, atitudes em face da existência, 
que continuam a se dirigir a nós através dos séculos e que nada pode tornar 
obsoletas. As teorias científi cas de Ptolomeu ou de Descartes estão radical-
mente ‘ultrapassadas’ e não têm outro interesse senão histórico, ao passo 
que ainda podemos absorver as sabedorias antigas, assim como podemos 
gostar de um templo grego ou de uma caligrafi a chinesa, mesmo vivendo 
em pleno século XXI.”
FERRY, Luc. Aprender a viver: filosofia para os novos tempos. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007. p. 15-17.
Erudito: que tem instrução 
vasta e variada, geralmente por 
meio de leituras. No contexto, o 
estudioso que se debruça sobre 
a história das ciências.
 Questões
1. Luc Ferry indica dois motivos pelos quais todos deveriam 
estudar ao menos um pouco de filosofia. Quais são eles?
2. Em que sentido estudar a história da filosofia é diferente 
de estudar a história da ciência?
3. Por que é válido comparar a história da filosofia com a 
história da arte?
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Aprender a viver

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