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ATLS – ATENDIMENTO INICIAL (CAP 01) A PREPARAÇÃO Dois cenários clínicos diferentes: Fase pré-hospitalar Fase hospitalar Coordenação em conjunto com os médicos do hospital que irá receber o doente. Preparativos necessários para facilitar a rápida reanimação do doente traumatizado. FASE PRÉ-HOSPITALAR O hospital de destino seja notificado antes de iniciar o transporte. Deve haver mobilização da equipe de trauma de modo que todos os recursos humanos e materiais necessários ao atendimento estejam presentes no serviço de emergência à chegada do doente. Objetivos da fase pré-hospitalar A. Manutenção da via aérea B. Controle da hemorragia externa e do choque C. Imobilização do doente e ao transporte imediato ao hospital apropriado D. Abreviar a permanência na cena. E. obtenção e documentação de informações necessárias à triagem. FASE HOSPITALAR 1. Uma área de reanimação deve estar disponível para receber os doentes traumatizados. 2. Equipamentos apropriados para a abordagem de via aérea ( laringoscópios, tubos, etc. ) devem estar organizados, testados e imediatamente disponíveis. 3. Soluções de cristaloides aquecidas devem estar prontamente disponíveis para serem infundidas quando o doente chegar. Também devem estar disponíveis equipamentos adequados de monitoração. 4. Devem existir normas para a convocação de mais médicos quando, necessário. 5. E imprescindível que existam rotinas que assegurem a resposta rápida do pessoal de laboratório e de radiologia. 6. Todo o pessoal que está em contato com o doente deve estar protegido contra doenças transmissíveis. (Hepatites e HIV) A TRIAGEM Envolve a classificação dos doentes de acordo com o tipo de tratamento necessário e os recursos disponíveis. É a classificação dos doentes no local e à escolha do hospital para o qual deverá ser transportado. E de responsabilidade da equipe pré-hospitalar e de seu diretor médico assegurar que o doente apropriado seja transportado para o hospital apropriado. O tratamento prestado deve ser baseado nas prioridades ABC 1. Via aérea e proteção da coluna cervical 2. Ventilação 3. Circulação com controle da hemorragia MÚLTIPLAS VÍTIMAS 1. O número de doentes e a gravidade das lesões não excedem a capacidade de atendimento do hospital. 2. Os doentes com risco de vida iminente e os doentes com traumatismos multissistêmicos serão atendidos primeiro. VÍTIMAS EM MASSA: Em eventos com vítimas em massa: o número de doentes e a gravidade das lesões excedem a capacidade de atendimento da instituição e da equipe. Os doentes com maiores possibilidades de sobrevida, cujo atendimento implique menor gasto de tempo, de equipamentos, de recursos e de pessoal, serão atendidos primeiro. AVALIAÇÃO PRIMÁRIA Os doentes são avaliados e as prioridades de tratamento são estabelecidas de acordo com suas lesões, seus sinais vitais e mecanismo de lesão. Nos doentes com lesões graves, deve ser estabelecida uma sequência lógica de tratamento de acordo com as prioridades, com base na avaliação geral do doente. As funções vitais do doente devem ser avaliadas rápida e eficientemente. O seu tratamento deve consistir em uma avaliação primária rápida, reanimação das funções vitais, uma avaliação secundária mais pormenorizada e, finalmente, o início do tratamento definitivo. Esse processo constitui o ABCDE dos cuidados do doente traumatizado e identifica as condições que implicam risco à vida através da seguinte sequência: A Via aérea com proteção da coluna cervical B Ventilação e respiração C Circulação com controle da hemorragia D Disfunção, estado neurológico. E Exposição/controle do ambiente: despir completamente o doente, mas prevenindo a hipotermia. AVALIAÇÃO RÁPIDA DO A,B,C,D EM 10 SEGUNDOS. Uma rápida avaliação do A, B, C e D no doente traumatizado pode ser obtida quando você se apresenta, perguntando ao doente seu nome e o que aconteceu. Uma resposta apropriada sugere que não há comprometimento grave da via aérea (habilidade para falar claramente), a ventilação não está comprometida gravemente (habilidade para gerar movimento aéreo que permita falar) e não há maior diminuição do nível de consciência (alerta suficientemente para descrever o que aconteceu). A falha na resposta a essas questões sugere anormalidades no A, B ou C, que implicam avaliação e tratamento urgentes. Durante a avaliação primária, as condições que implicam risco à vida devem ser identificadas em uma sequência de prioridades baseadas nos efeitos das lesões sobre a fisiologia do doente, isto porque não infrequentemente não se consegue identificar inicialmente as lesões anatômicas específicas. A sequência de prioridades é baseada no grau de ameaça à vida; assim, a maior anormalidade que ameaça a vida é manejada primeira. Para realiza- las efetivamente, os membros dessa equipe devem comunicar-se constantemente entre si e com o líder da equipe. POPULAÇÕES ESPECIAIS As populações de doentes que necessitam de considerações especiais são as crianças, grávidas, idosos, atletas e obesos. AS PRIORIDADES DE ATENDIMENTO DE UM DOENTE PEDIÁTRICO. A. São as mesmas do adulto. B. A quantidade de sangue, de líquidos e de medicamentos, o tamanho da criança, o grau e a rapidez de perda de calor e o mecanismo do trauma possam diferir. C. A avaliação e as prioridades assistenciais são as mesmas. AS PRIORIDADES NA ASSISTÊNCIA À MULHER GRÁVIDA São semelhantes às da não grávida, mas as alterações anatômicas e fisiológicas da gravidez podem modificar a resposta ao trauma. O pronto reconhecimento do estado gravídico são medidas importantes para a sobrevivência tanto da mãe como do feto. TRAUMAS EM PACIENTES IDOSOS ● A reanimação de doentes idosos exige cuidados especiais. ● O processo de envelhecimento reduz as reservas fisiológicas. ● Doenças crônicas cardíacas, respiratórias e metabólicas podem comprometer a capacidade de resposta do doente idoso ao trauma. ● Doenças associadas prejudicam a evolução após o trauma. ● O uso crônico de medicamentos pode alterar a resposta fisiológica ao trauma e frequentemente acarreta distorções na reanimação tanto no sentido de excesso quanto de insuficiência. ● Uma reanimação pronta e agressiva e a identificação precoce de doenças clínicas preexistentes e do uso de medicamentos costumam aumentar a sobrevivência nesse grupo de doentes. ● O uso precoce de monitoração invasiva pode ser uma medida auxiliar valorosa para o tratamento. TRAUMAS EM PACIENTES OBESOS ● A anatomia desses pacientes pode tornar procedimentos como a intubação mais difíceis e perigosos. Os exames diagnósticos, como a ultrassonografia, a lavagem peritoneal diagnóstica (LPD) e a tomografia computadorizada (TC), também são mais difíceis. ● Os obesos tipicamente têm doenças cardiopulmonares, que limitam sua capacidade de compensação ao trauma e ao estresse. ● A rápida reanimação volêmica pode exacerbar essas comorbidades de base. ATENDIMENTO DE TRAUMAS EM PACIENTES ATLETAS ● Devido a sua excelente condição, os atletas podem não manifestar precocemente sinais de choque, como taquicardia e taquipneia. Eles também podem ter pressão arterial sistólica e diastólica normalmente mais baixas. AVALIAÇÃO DAS VIAS AEREAS A via aérea deve ser avaliada em primeiro lugar para assegurar a sua permeabilidade. Identificar sinais de obstrução da via aérea deve incluir aspiração e inspeção para a presença de corpos estranhos e fraturas faciais, mandibulares ou traqueolaríngeas, que podem resultar em obstrução da via aérea. As manobras para estabelecer a permeabilidade da via aérea devem ser feitas com proteção da coluna cervical: é recomendada a manobra de elevação do mento (chin lift ) ou de tração da mandíbula (jaw thrust). Se o doente consegue comunicar-se verbalmente, é pouco provável que a obstrução da via aérea represente um risco imediato; no entanto, é prudente que a permeabilidade da via aérea seja avaliada a curtos intervalosde tempo. VIA AEREA DEFINITIVA Doentes com trauma craniencefálico grave e rebaixamento do nível de consciência ou portadores de um escore na escala de coma de Glasgow (GCS) igual ou inferior a 8 habitualmente exigem o estabelecimento de uma via aérea definitiva (isto é, tubo com balão insuflado, na traqueia). O achado de respostas motoras descoordenadas sugere fortemente a necessidade de uma via aérea definitivo. O tratamento da via aérea na criança exige o conhecimento das peculiaridades anatômicas da laringe da criança, tanto no que diz respeito à posição quanto ao tamanho, e implica o uso de equipamento especial. Evitar a movimentação excessiva da coluna cervical: A cabeça e o pescoço do doente não devem ser hiperestendidos, hiperfletidos ou rodados com o intuito de estabelecer ou manter a via aérea. a proteção da medula do doente deve ser feita e mantida com uso de dispositivos apropriados de imobilização. Métodos de imagem, devem ser realizados posteriormente. Caso necessário a retirada temporária do dispositivo de imobilização cervical, um dos membros da equipe de trauma deve encarregar-se de imobilizar manualmente a cabeça e o pescoço, mantendo-os alinhados. Considere a existência de uma lesão de coluna cervical em todo doente com traumatismos multissistêmicos, especialmente nos doentes que apresentem nível de consciência alterado ou traumatismo fechado acima da clavícula. Todo esforço deve ser feito para identificar sem demora o comprometimento da via aérea e para assegurar uma via aérea definitiva. VENTILAÇÃO E RESPIRAÇÃO A permeabilidade da via aérea, por si só, não garante ventilação adequada. Uma troca adequada de gases é necessária para que seja possível a oxigenação e a eliminação de dióxido de carbono num grau máximo. Uma boa ventilação exige um funcionamento adequado dos pulmões, da parede torácica e do diafragma. O pescoço e o tórax do doente devem ser expostos para avaliar adequadamente: Inspeção: a distensão de veias jugulares, a posição da traqueia e a movimentação da parede torácica. A ausculta: deve ser realizada para se confirmar o fluxo de ar nos pulmões. A palpação poderão detectar lesões da parede do tórax capazes de comprometer a ventilação. A percussão do tórax também pode identificar anormalidades, mas no ambiente barulhento da reanimação, isso pode ser difícil ou levar a resultados não confiáveis. As lesões que podem prejudicar gravemente a ventilação num curto prazo são: 1. Pneumotórax hipertensivo 2. O tórax instável (retalho costal móvel) com contusão pulmonar 3. O hemotórax maciço 4. O pneumotórax aberto. O hemotórax ou o pneumotórax simples, as fraturas de arcos costais e a contusão pulmonar podem comprometer a ventilação, mas em grau menor, e são habitualmente identificados na avaliação secundária. A radiografia de tórax deve ser realizada tão logo seja possível, depois da intubação e do início da ventilação. CIRCULAÇÃO COM CONTROLE DA HEMORRAGIA Os principais fatores circulatórios a considerar são volume sanguíneo, débito cardíaco e hemorragia. Volume Sanguíneo e Débito Cardíaco A hemorragia é a principal causa de mortes pós-traumáticas evitáveis. Por isso, a identificação e a parada da hemorragia são passos cruciais na avaliação e tratamento desses doentes. Uma vez descartado o pneumotórax hipertensivo como causa de choque, a hipotensão em doentes traumatizados deve ser considerada hipovolêmica até prova em contrário. Os elementos clínicos que oferecem informações importantes dentro de poucos segundos são: 1. O nível de consciência: Quando o volume sanguíneo está diminuído, a perfusão cerebral pode estar criticamente prejudicada, resultando em alteração do nível de consciência. 2. Cor da pele: a coloração acinzentada da face e a pele esbranquiçada das extremidades são sinais evidentes de hipovolemia. 3. Pulso: pulso central de fácil acesso (femoral ou carotídeo) deve ser examinado bilateralmente para se avaliar sua qualidade, frequência e regularidade. Pulso rápido e filiforme é habitualmente um sinal de hipovolemia, embora possa ter outras causas. Quando irregular, o pulso costuma ser um alerta para uma potencial disfunção cardíaca. A ausência de pulsos centrais, não relacionada a fatores locais, significa a necessidade de uma ação imediata de reanimação para restaurar o défice sanguíneo e um débito cardíaco adequado. HEMORRAGIA Deve-se identificar se a fonte de hemorragia é externa ou interna. A hemorragia externa deve ser identificada e controlada durante a avaliação primária. A hemorragia externa significativa deve ser tratada por compressão manual direta sobre o ferimento. Os torniquetes são efetivos na exsanguinação nas lesões de extremidades, mas podem causar lesão isquêmica e devem ser utilizados quando a compressão direta não for efetiva. O uso de pinças hemostáticas pode lesar nervos e veias. As principais áreas de hemorragia interna são: tórax, abdome, retroperitônio, bacia e ossos longos. O tratamento pode incluir descompressão do tórax, compressão da pelve usa de imobilizadores e intervenção cirúrgica. ARMADILHAS Os doentes idosos têm uma capacidade limitada de aumentar sua frequência cardíaca em resposta à perda sanguínea. Dessa forma, perde-se u m dos sinais mais precoces de hipovolemia, a taquicardia. As crianças têm uma reserva fisiológica exuberante e frequentemente demonstram poucos sinais de hipovolemia, mesmo quando existem perdas volêmicas significativas. Quando a deterioração hemodinâmica ocorre, ela é muito rápida e catastrófica. O atleta bem condicionado possui mecanismos de compensação semelhantes aos da criança. Costuma apresentar uma bradicardia relativa e não demonstra o nível habitual de taquicardia com aperda volêmica. DISFUNÇÃO N EU ROLÓGICA No final da avaliação primária, realiza-se uma avaliação neurológica rápida. Avaliação neurológica: estabelece o nível de consciência do doente, o tamanho e reatividade das pupilas, sinais de lateralização e o nível de lesão da medula espinhal. A GCS é um método rápido e simples para determinar o nível de consciência e que permite prever a evolução do doente (particularmente a melhor resposta motora). O rebaixamento do nível de consciência pode representar diminuição da oxigenação e/ou da perfusão cerebral ou ser resultado de um trauma direto ao cérebro. A alteração do nível de consciência implica necessidade imediata de reavaliação de ventilação, oxigenação e perfusão. A Hipoglicemia, o álcool, e o uso de entorpecentes ou outras drogas também podem alterar o nível de consciência do doente. Por isso devem ser excluídos. A lesão cerebral primária resulta do efeito estrutural do trauma sobre o cérebro. A prevenção da lesão cerebral secundária, por meio da manutenção de oxigenação e perfusão adequadas, são os principais objetivos do atendimento inicial. EXPOSIÇÃO E CONTROLE DO AMBI ENTE O doente deve ser totalmente despido, usualmente cortando as roupas para facilitar o exame e avaliação completos. Depois de retirar a roupa do doente e completar a avaliação, o doente deve ser coberto com cobertores aquecidos ou algum dispositivo de aquecimento externo para prevenir a ocorrência de hipotermia na sala de trauma. Os fluidos intravenosos devem ser aquecidos antes de administrados e o ambiente deve ser mantido aquecido. O mais importante é garantir a temperatura corporal do doente e não o conforto da equipe de atendimento. A REANIMAÇÃO E O TRATAMENTO DAS LESÕES COM RISCO Reanimação também segue a sequência ABC e ocorre simultaneamente com a avaliação. VIA AÉREA A via aérea deve ser protegida em todos os doentes. A elevação do mento ou a tração da mandíbula pode ser suficiente como intervenção inicial. Se houver qualquer dúvida sobre a capacidade do doente manter a permeabilidade de sua via aérea, deve-se estabelecer a intubação. Se a intubação for contraindicada ou não for possível, deve serobtida uma via aérea cirúrgica. VENTILAÇÃO, RESPIRAÇÃO E OXIGENAÇÃO. O pneumotórax hipertensivo compromete dramaticamente e de modo agudo a ventilação e a circulação. Quando suspeitado, deve ser tratado imediatamente por descompressão torácica. Todo doente traumatizado deve receber oxigenioterapia suplementar. Se não for intubado, o doente deve receber oxigênio por meio de uma máscara com reservatório que garanta oxigenação máxima. O oxímetro de pulso deve ser usado para monitorar a adequação da saturação de hemoglobina. CIRCULAÇÃO E CONTROLE DA H EMORRAGIA Deve-se inserir um mínimo de dois cateteres endovenosos (EV) calibrosos. A velocidade máxima dos fluidos administrados é determinada pelo diâmetro interno do cateter e é inversamente proporcional ao seu comprimento. Não depende do calibre da veia em que o cateter é colocado. E preferível iniciar por punções venosas periféricas nos membros superiores. Assim que a veia for puncionada ou cateterizada, devem ser retiradas amostras de sangue para: 1. Tipagem sanguínea e prova cruzada 2. Exames laboratoriais de rotina 3. Teste de gravidez para todas as mulheres em idade fértil. 4. A gasometria e o nível de lactato devem ser obtidos para avaliar a presença e o grau do choque. O controle definitivo da hemorragia inclui: 1. Cirurgia 2. angioembolização 3. Estabilização pélvica. Deve ser iniciada a administração endovenosa de fluidos com soluções crisataloides. Uma infusão em bolus de 1 a 2 litros de solução isotônica pode ser necessária para alcançar uma resposta apropriada nos adultos. Todas as soluções endovenosas devem ser aquecidas através do armazenamento em ambiente aquecido 37oC a 40°C ou por meio de dispositivos de aquecimento de líquidos. O choque associado ao trauma é mais frequentemente de origem hipovolêmica. Se o doente não responder à terapia inicial com cristaloides, pode ser necessária a transfusão sanguínea. A hipotermia é uma complicação potencialmente letal nas vítimas de traumatismo. Recomenda-se a utilização de aquecedores de alto fluxo ou de fornos de micro-ondas para aquecer as soluções cristaloides a uma temperatura de 39°C ( 102.2°F). No entanto, os hemoderivados não devem ser aquecidos em forno de micro-ondas. AS MEDIDAS AUXILIARES UTILIZADAS DURANTE AS FASES DA AVALIAÇÃO PRIMÁRIA E DA REANIMAÇÃO 1. Monitoração eletrocardiográfica: A presença de arritmias, incluindo taquicardias inexplicáveis, fibrilação atrial, contrações ventriculares prematuras e alterações no segmento ST, pode indicar trauma cardíaco contuso. A atividade elétrica sem pulso (AESP) pode indicar tamponamento cardíaco, pneumotórax hipertensivo e/ou hipovolemia profunda. Quando há bradicardia, condução aberrante ou extrassístoles, deve-se suspeitar imediatamente de hipóxia ou hipoperfusão. A hipotermia extrema também provoca essas arritmias. 2. A cateterização urinária e gástrica: O débito urinário é um indicador sensível da volemia do doente e reflete a perfusão renal. A monitoração do débito urinário é realizada de forma mais adequada pela inserção de uma sonda vesical transuretral da bexiga é contraindicada nos casos em que se suspeita de lesão uretral. Deve-se suspeitar de lesão uretral quando há: Sangue no meato uretral, Equimose perineal, Deslocamento cranial da próstata ou ela não é palpável ao toque retal. 3. A cateterização 4. Outras monitorações, como frequência respiratória, gasometria, oximetria de pulso e pressão arterial. 5. Exames radiológicos AVALIAÇÃO SECUNDÁRIA: QUANDO COMEÇA? A avaliação secundária só deve ser iniciada depois de completar a avaliação primária (ABCDE) e quando as medidas indicadas para a reanimação tiverem sido adotadas e o doente demonstrar tendência para normalização de suas funções vitais. A avaliação secundária é um exame do doente traumatizado da cabeça aos pés, isto é, uma história clínica e um exame físico completos, incluindo a reavaliação de todos os sinais vitais. Cada região do corpo deve ser examinada por completo. HISTÓRIA Toda avaliação médica completa deve incluir a história do mecanismo do trauma. na impossibilidade de obter informações do próprio paciente devem ser consultados a família e o pessoal de atendimento pré-hospitalar, com o intuito de se obter informações que possam esclarecer melhor o estado fisiológico do doente. A utilização do código "AMPLA" é uma fórmula mnemônica útil para alcançar essa finalidade: Alergia Medicamentos de uso habitual Passado médico/Prenhez Líquidos e alimentos ingeridos recentemente Ambiente e eventos relacionados ao trauma O trauma geralmente é classificado em dois grandes grupos, fechado e penetrante. O trauma fechado Trauma Penetrante É resultante, na maioria dos casos, de colisões automobilísticas, quedas e outras lesões relacionadas a transporte, recreação ou trabalho. A incidência de traumas penetrantes (por exemplo, ferimentos por arma de fogo, arma branca e empalamentos) está aumentando. Lesões Térmicas As queimaduras representam outro tipo significativo de trauma que pode apresentar-se isolado ou acompanhado de trauma fechado ou penetrante, resultante de um incêndio em automóvel etc... As lesões por inalação ou a intoxicação por monóxido de carbono frequentemente complicam as lesões das queimaduras. Desse modo é importante saber as circunstâncias nas quais as queimaduras ocorreram. A hipotermia aguda ou crônica sem proteção adequada contra a perda de calor produz lesões localizadas ou generalizadas provocadas pelo frio. A perda significativa de calor pode ocorrer em temperaturas ambientais moderadas se as roupas estiverem molhadas, na diminuição da atividade física e/ou por vasodilatação causada por uso de álcool ou drogas. Essas informações devem ser obtidas da equipe de atendimento pré-hospitalar. Ambientes de Risco Uma história de exposição a elementos químicos, tóxicos e radiação é importante por duas razões: Primeiro: esses agentes podem produzir uma grande variedade de disfunções pulmonares, cardíacas ou de outros órgãos internos. Segundo: esses mesmos agentes também representam um perigo ao pessoal médico hospitalar. EXAME FÍSICO Durante a avaliação secundária, o exame físico segue a sequência da cabeça, estruturas maxilofaciais, pescoço e coluna cervical, tórax, abdome, períneo/reto/vagina, sistema musculoesquelético e sistema neurológico. Cabeça: � Toda a cabeça e o couro cabeludo devem ser examinados à procura de lacerações, contusões ou evidências de fraturas. � Uma rápida avaliação da acuidade visual de ambos os olhos pode ser realizada por meio da leitura do Quadrode Snellen ou de palavras escritas em rótulos de frasco de soro ou em um pacote de gaze. � A mobilidade ocular deve ser avaliada para excluir o bloqueio de músculos extraoculares devido a fraturas da órbita. � Esses procedimentos geralmente identificam lesões ópticas não aparentes de outra forma. Estruturas Maxilofaciais � Palpação de todas as estruturas ósseas, a avaliação da oclusão dentária, o exame intra oral e a avaliação de partes moles. � Doentes com fraturas do terço médio da face podem ter fratura da placa crivosa. Nesses doentes, a sondagem gástrica deve ser realizada através da boca. Cervical � Doentes com trauma craniano e maxilofacial devem ser considerados portadores de lesão instável de coluna cervical (fraturas efou lesões de ligamentos). Seu pescoço deve ser imobilizado até traumas tenham sido excluídos. � O exame do pescoço inclui inspeção, palpação e ausculta. � As artérias carótidas devem ser palpadas e auscultadas para verificar a presença de frêmitos e sopros. � A maioria das lesões vasculares cervicais são produzidas por ferimentos penetrantes mas o cinto de segurança podem produzir traumas. � O murmúrio vesicular é auscultado na parte anterossuperior do tórax para a identificação de pneumotórax e na face posterior das bases para a detecção de hemotórax. � Osachados auscultatórios podem ser de difícil avaliação em um ambiente barulhento, mas podem revestir-se de extrema utilidade. � O tamponamento cardíaco e o pneumotórax hipertensivo podem ser sugeridos pela presença de distensão das veias do pescoço, embora a hipovolemia associada possa diminuir ou mesmo abolir este sinal. � A diminuição do murmúrio vesicular, o timpanismo à percussão e o choque podem ser os únicos sinais de um pneumotórax hipertensivo e da necessidade de descompressão torácica imediata. � A radiografia do tórax confirma a presença de hemotórax ou pneumotórax simples. Abdome O doente com contusão abdominal deve ser observado de perto e com frequentes reavaliações do abdome, preferencialmente pelo mesmo observador. Períneo, Reto e Vagina. � O períneo deve ser examinado à procura de contusões, hematomas, lacerações e sangramento uretral. � O toque retal pode ser realizado antes da introdução da sonda urinária. Se o exame retal é necessário, o médico deve avaliar a presença de sangue na luz intestinal, a existência de próstata alta e flutuante, a presença de fraturas pélvicas, a integridade da parede do reto e a tonicidade do esfíncter. � Nas doentes do sexo feminino, o exame vaginal deve ser realizado em doentes com risco de lesão vaginal. � O médico deve avaliar a presença de sangue na vagina e a existência de lacerações vaginais. � Além disso, um teste de gravidez deve ser realizado em todas as mulheres em idade fértil. Sistema Musculoesquelético � Os membros devem ser inspecionados para verificar a presença de contusões e deformidades. � A palpação dos ossos: pesquisando dor ou movimentos anormais, ajuda na identificação de fraturas ocultas. � Fraturas pélvicas podem ser suspeitadas pela identificação de equimoses sobre as asas do ilíaco, púbis, grandes lábios ou escroto. � A dor à palpação do anel pélvico é um achado importante no doente consciente. � Além disso, o exame dos pulsos periféricos pode identificar lesões vasculares. � A ruptura dos ligamentos provoca instabilidade da articulação. A lesão de tendões interfere na movimentação ativa da estrutura afetada. � Perdas da sensibilidade ou da contratilidade muscular voluntária podem ser decorrentes de uma lesão nervosa ou de isquemia, incluindo a resultante de síndrome compartimental. � A avaliação musculoesquelética não está completa sem o exame do dorso do doente. Se o dorso do doente não for examinado, lesões significativas podem passar despercebidas. Sistema Neurológico � Um exame neurológico abrangente não inclui apenas a avaliação sensorial e motora das extremidades, mas também a reavaliação do nível de consciência e do tamanho e da resposta da pupila do doente. � A escala de coma de Glasgow facilita a identificação precoce de alterações no estado neurológico. � O doente deve ser monitorado frequentemente para detecção de deterioração no nível de consciência ou modificações no exame neurológico, que podem indicar progressão de uma lesão intracraniana. � Se um doente com traumatismo craniano piora do ponto de vista neurológico, a oxigenação e a perfusão do cérebro e a adequação da ventilação (ABCDE) devem ser reavaliadas. Trauma Vertebromedular. � Qualquer evidência de perda de sensibilidade, paralisia ou fraqueza sugere lesão mais grave à medula ou ao sistema nervoso periférico. Défices neurológicos � Devem ser documentados quando identificados, mesmo que a transferência para outro hospital ou médico especialista seja necessária. REAVALIAÇÃO. O doente traumatizado deve ser reavaliado constantemente para assegurar que novos achados não sejam negligenciados e para descobrir deterioração nos achados registrados previamente. A monitoração contínua dos sinais vitais e do débito urinário é essencial. Para um doente adulto é desejável a manutenção de um débito urinário de 0,5 mL/kg/h. Nos doentes pediátricos, acima de 1 ano, é conveniente manter o débito de 1 mL/kg/h. O ALÍVIO DA DOR Devem ser administrados cautelosamente e em pequenas doses para alcançar o nível desejado de conforto para o doente e alívio da ansiedade, evitando, ao mesmo tempo, a depressão respiratória e o mascaramento de lesões sutis ou de mudanças no estado do doente. REGISTROS O registro meticuloso com documentação cronológica de todos os eventos é muito importante. Problemas médico-legais ocorrem frequentemente e um registro preciso dos fatos ajuda em todos os aspectos. CONSENTIMENTO INFORMADO O consentimento deve ser conseguido, se possível, antes de se instaurar o tratamento. Nos casos com risco à vida, frequentemente não é possível obter esse consentimento prévio. Nesses casos, o tratamento deve ser iniciado primeiro e o consentimento obtido depois. EVIDÊNCIA FORENSE Caso se suspeite que uma lesão tenha sido decorrente de atividade criminosa, a equipe de atendimento deve preservar as evidências. Todos os itens como roupas e projéteis, devem ser guardados para a polícia. As determinações laboratoriais dos níveis sanguíneos de álcool e de outras drogas podem ser particularmente pertinentes e possuem implicações legais substanciais. TRABALHO EM EQUIPE Com o objetivo de realizar efetivamente o trabalho em equipe, um membro deve assumir o papel de líder. O líder não é necessariamente a pessoa presente mais velha. Ele deve ser treinado no ATLS e no que concerne à liderança de equipe médica. O líder da equipe supervisiona atribuindo tarefas para os outros membros da equipe. Na chegada do doente, o líder supervisiona a passagem do caso pela equipe de pré-hospitalar, certificando-se de que nenhum membro da equipe comece a atender o doente a menos que as condições que ameçam a vida sejam óbvias ( "hands-off handsover") . Um formato útil é o mnemônico MIST: M ecanismo (e tempo) do trauma I (Injuries) Lesões encontradas e suspeitas S inais e Sintomas T ratamento iniciado A medida que se procede à avaliação do "A", "B" e "C", é extremamente importante que cada membro saiba o que os outros encontraram e/ou estejam fazendo. Pedidos e ordens não devem ser feitos em termos gerais, e sim dirigidos a um indivíduo pelo nome. Aquele indivíduo então repete o pedido/ordem e confirma posteriormente sua execução, se aplicável ou não. O líder da equipe checa a progressão da avaliação em intervalos sugere/direciona a transferência do doente. Durante todo o processo espera-se que todos os membros da equipe façam anotações, questionamentos e sugestões quando apropriado. Quando o doente deixa o departamento de emergência, é ideal que o líder conduza uma revisão pós-atendimento, durante a qual aspectos técnicos e emocionais da reanimação são pontuados.
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