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Geovanna Carvalho - T30 - UFCA 1 FISIOPATOLOGIA DA INSUFICIÊNCIA HEPÁTICA ● A insuficiência hepática pode se desenvolver de forma aguda ou insidiosa. ● Os principais sinais e sintomas de insuficiência hepática são consequência de distúrbio do metabolismo e hipertensão portal Anatomia hepática - Fígado é recoberto por uma cápsula fibroelástica - Irrigação sanguínea dupla → circulação venosa porta e circulação arterial pela artéria hepática - A circulação sanguínea da veia porta traz nutrientes e substâncias tóxicas absorvidos no intestino; células sanguíneas e os produtos de sua decomposição no baço; e insulina e glucagon secretados pelo pâncreas. - Oxigênio usado pelos hepatócitos é proveniente da veia porta (80%) e os outros 20% são provenientes da artéria hepática - O sentido da bile e do fluxo sanguíneo são opostos - Célula de Kupffer → localizada nos sinusóides e tem função fagocitária → Função exócrina do fígado é secretar bile - A bile produzida nos hepatócitos é transportada pelos canalículos biliares até a periferia dos lóbulos → ductos biliares + calibrosos (árvore hepatobiliar) → drenar para ducto hepático D + E → ducto hepático comum + ducto cístico → ducto biliar comum (colédoco) → + ducto pancreático → ampola de Vater ou hepatopancreática. Geovanna Carvalho - T30 - UFCA 2 Metabolismo da bilirrubina - Decomposição do heme contido nas hemácias envelhecidas (destruição de hemácias velhas ocorre no baço e no fígado) - Hemoglobina liberada pelas hemácias é metabolizada em biliverdina → convertida em bilirrubina lipossolúvel livre/indireta + proteínas plasmáticas para ser transportada na circulação sanguínea. - No citoplasma dos hepatócitos as proteínas Y e Z vão transportar a bilirrubina até o REL → reação de conjugação → bilirrubina hidrossolúvel vai ser excretada nas vias biliares para compor a bile. - Bilirrubina livre chega o fígado onde o hepatócitos irão realizadas o processo de conjugação → bilirrubina hidrossolúvel/direta/total - A bilirrubina direta vai constituir a bile e através dos ductos hepáticas irá para o intestina delgado → No intestino, cerca de 50% da bilirrubina são convertidos em uma substância altamente solúvel conhecida como urobilinogênio pela flora intestinal - Uma parte é reabsorvida pela circulação e vai ser excretada pelos rins e a outra é excretada pelas fezes. Geovanna Carvalho - T30 - UFCA 3 Manifestações Clínicas da Insuficiência Hepática Icterícia → Coloração amarelada da pele e mucosas visíveis é causada pela presença de níveis anormais de bilirrubina no sangue. Bilirrubina indireta = lipossolúvel // Bilirrubina direta = hidrossolúvel. - Icterícia por insuficiência hepática = aumento da bilirrubina total → bilirrubina direta - Icterícia por anemia hemolítica = aumento da bilirrubina indireta (lipossolúvel) → lipossolúvel que ainda não foi conjugada no fígado → A bilirrubina quando passa pelo fígado ela é conjugada e torna-se hidrossolúvel. Obs.: Paciente com anemia hemolítica crônica sempre vai apresentar aumento de bilirrubina indireta, mas caso ele passe a ter também aumento de bilirrubina direta possivelmente ocorreu um quadro de obstrução das vias biliares → Litíase negra (cálculo formado por bilirrubina e coloração escurecida/esverdeada) → Causas de icterícia: 1. Pré-hepática (Destruição excessiva de hemácias) → anemia hemolítica, doença falciforme, talassemia 2. Intra-hepáticas (captação reduzida de bilirrubina pelas células hepática e/ou conjugação reduzida de bilirrubina) → hepatite, cirrose, CA de fígado - Os níveis das frações conjugada e livre (não conjugada) aumentam, a urina geralmente é escura em consequência da presença de bilirrubina na urina e o nível sérico de fosfatase alcalina está ligeiramente elevado. 3. Pós-hepática ou colestática (Obstrução do fluxo de bile) → colelitíase, atresia congênita dos ductos biliares extra-hepáticos, tumor. - Os níveis de bilirrubina conjugada estão aumentados, as fezes têm coloração cinza clara em razão da ausência de bilirrubina na bile, a urina é escura, as concentrações séricas da fosfatase alcalina estão ligeiramente aumentadas e os níveis das aminotransferase estão um pouco elevados. Obs.; Doenças hepáticas como hepatite e cirrose são as causas mais comuns de icterícia intra hepática. Obs.: A queixa de prurido precedendo a icterícia é comum nos pacientes com icterícia obstrutiva → devido acúmulo de sais biliares. → Classificação das icterícias: 1. Pré-microssomais → o comprometimento é antes do processo de conjugação 2. Microssomais → deficiência no processo do conjugação 3. Pós-microssomais → comprometimento da excreção Geovanna Carvalho - T30 - UFCA 4 → Necrose hepática - Nesse quadro o hepatócito tem uma deficiência na captação e conjugação da bilirrubina indireta e por isso ocorre um acúmulo de bilirrubina direta - No processo de insuficiência hepática → a destruição de hepatócitos faz com que eles liberem em grande quantidade a bilirrubina direta que já foi conjugada e estava armazenada. A quantidade de bilirrubina direta é muito maior no hepatócito que a indireta. - Logo, na insuficiência hepática a bilirrubina indireta também vai aumentar, mas proporcionalmente a bilirrubina direta aumenta muito mais. Colúria e acolia Colúria = bilirrubina direta acumulada na corrente sanguínea e é excretada na urina → logo ela precisa estar hidrossolúvel (conjugada) e para isso é necessário uma lesão hepática. - Ao mesmo tempo que há colúria pode haver fezes embranquecida (acolia) devido a falta de urobilinogênio fecal, já que na insuficiência hepática a bilirrubina vai principalmente para a corrente sanguínea → atrelada a uma esteatorréia, já que não há produção da bile para digerir e absorver as gorduras - Acolia fecal: é causada pela colestase da bile impedindo que a bilirrubina direta chegue até o intestino para ser convertida em estercobilina - Pode ter acolia mas não esteatorreia, a alimentação dele pode não ser rica em gordura - Esteatorreia não é uma manifestação exclusiva da insuficiência hepática, pode ser gerado por uma quantidade muito grande de gordura na alimentação Hipertensão portal → É o quadro sindrômico resultante de qualquer obstáculo ao tronco porta ou a um de seus ramos, acarretando pressões > 12 mmHg. (V. N. = 7 mmHg) - Causas intra-hepáticas (cirrose) ou extra-hepáticas (trombose). - Propanol ajuda na hipertensão portal → relaxando os vasos portais - Alteração vascular/ hemodinâmica → redução do fluxo sanguíneo na veia porta → geralmente a causa é doença no fígado (cirrose hepática) , mas pode ser gerada por trombose da veia porta ou hepática (síndrome de Budd Chiari). Consequências: 1. Ascite → devido o transudato que extravasa dos vasos com alta pressão associada a uma hipoalbuminemia nos casos de cirrose. 2. Esplenomegalia → o baço vai ter dificuldade de drenar pela veia esplênica para a veia porta, logo ele vai se distender por congestão → síndrome de hiperesplenismo: sequestro de quantidades significativas de elementos sanguíneos → redução da sobrevida de todos os elementos celulares do sangue, com redução subsequente de suas contagens e anemia, trombocitopenia e leucopenia 3. Encefalopatia hepática → Anastomoses entre veia porta e veias sistêmicas devido às altas pressões da veia porta → shunt portossistêmicos → logo no Geovanna Carvalho - T30 - UFCA 5 sangue vai ter muitas substâncias que escaparam da desintoxicação hepática já que não passaram pelos sinusóides hepáticos → ex.: amônia → intoxicação do SNC. 4. Varizes esofágicas → A drenagem venosa de parte do esôfgo vai drenar para a veia porta → essas veias vão ficar dilatadas por congestão devido a alta pressão da veia porta → gerar as varizes → sua ruptura gera hemorragia digestiva alta. Obs.: A ruptura dessas varizes e a hemorragia que podem gerar está muito associado também a coagulopatia gerada pela insuficiência hepática, já que o fígado passa a produzir menos fatores de coagulação. → Causas de hipertensão portal - Causas extra hepáticas : trombosede veia hepática, veia cava, veia porta → síndrome de Budd-Chiari (veia hepática) - Cirrose → hipertensão portal por necrose de hepatócitos - Esquistossomose → os hepatócitos não estão lesionados - Doenças que causam inflamação crônica no fígado → amiloidose, sarcoidose Obs.: na esquistossomose é mais incomum a encefalopatia, do que comparado a cirrose que tem mais encefalopatia. Mas as outras consequências tem Encefalopatia Hepática → Sinais e sintomas neurológicos de insuficiência hepática. 1. Asterixis ou Flapping 2. Resposta de extensão do hálux ou sinal de Babinski 3. Postura de descerebração → hiperextensão de membros → Patogênese: Provavelmente causada por compostos lesivos absorvidos pelo intestino e que escapam da detoxificação hepática devido hipertensão portal e formação de shunt Geovanna Carvalho - T30 - UFCA 6 portossistêmico. Ex.: Amônia, GABA, mercaptanos. → Classificação da encefalopatia hepática - Estágio I: Distúrbio do sono, irritabilidade e alterações de personalidade. - Estágio II: Letargia e desorientação. - Estágio III: Sonolência profunda. - Estágio IV: Coma. Cirrose → Sinônimo de fígado em estágio terminal, logo grande parte dos tecidos hepáticos funcionantes foi substituída por tecido fibrótico. - Muito associada ao alcoolismo, mas existem outras causas: hepatites virais, reações tóxicas aos fármacos, obstrução biliar… - O tecido fibroso que normalmente substitui o tecido hepático funcionante forma faixas constritivas, que bloqueiam o fluxo nos canais vasculares e nos ductos biliares do fígado → bloqueio vascular predispõe à hipertensão portal → Achados patológicos: - Perda da organização acinar do parênquima hepático. - Substituição de ácinos hepáticos por nódulos. - Fibrose irregular formando septos entre os nódulos de hepatócitos. Obs.: tricrômico de masson → cora de azul o tecido conjuntivo fibrótico nas lâminas hepáticas Insuficiência hepática → Incapacidade parcial ou total do fígado de metabolizar elementos químicos endógenos ou exógenos determinando, por conseguinte, agressão aos demais órgãos, particularmente o cérebro - encefalopatia hepática. → O quadro deve ser avaliado por exame físico e laboratoriais, podendo gerar: - Falta de fatores de coagulação - Predisposição à infecções e até sepse por disfunção das células kupffer - Alterações hormonais Classificação - Congênita ou Adquirida (principalmente pelo consumo de álcool) - Aguda ou crônica Causas 1. Intoxicações medicamentosas: S. de Reye por aspirina. Hepatopatia por rifampicina (reversível com a descontinuação) , anestésicos, barbitúricos, entorpecentes, tranquilizantes, etc.. Todas levam a necrose hepática. 2. Hepatites virais: B, Influenza, febre amarela. 3. Hepatites bacterianas: Ricketsias - febre Q. (febre maculosa) 4. Hipóxias por obstrução do fluxo. - trombose 5. Depleção hidroeletrolítica em hepatopatas crônicos → desidratação piora o quadro crônico precipitando até o coma Obs.: medicamento que mais gera insuficiência hepática é o paracetamol Geovanna Carvalho - T30 - UFCA 7 Fisiopatologia - A ausência do metabolismo da amônia, indol, fenois, escatois, cresois, etc., determina a passagem destes elementos diretamente para a corrente sanguínea. - Estes metabólitos agridem tecidos vários, muito especialmente o cérebro, provocando dentre outras, alterações cognitivas e sensoriais, culminando com o coma. Características clínicas - Cirrose – mais visível através da TC. - Hipertensão portal → ascite perceptível com as manobras semiológicas → macicez móvel e piparote - Esplenomegalia - Hipoalbuminemia → gera tendência a edema. - Ascite - Propensão ao sangramento: TP (tempo de coagulação) prolongado, fibrinogênio baixo (pouca produção) - Síndrome hepatorrenal → fígado falha, os rins falham também (não se base explicar 100% o mecanismo) - Síndrome hepatopulmonar → insuficiência hepática faz com que haja alteração da hematose→ uma vez que o sangue para ser oxigenado é desviado dos capilares próximos aos alvéolos para capilares mais profundos → reduz hematose. - Alterações endócrinas → alimentos com substâncias estrogênicas que escapam do processo de metabolização/desintoxicação do fígado → ginecomastia, eritema palmar, aranhas vasculares, atrofia testicular. - Encefalopatia hepática com fetor hepaticus (hálito fétido) e asterixis Precipitantes do coma hepático 1. Hemorragia digestiva: varizes de esôfago, úlcera péptica ou de estresse, deficiência de fatores da coagulação, etc. 2. Dietas hiperproteicas → a amônia é derivada da proteína. As bactérias da flora intestinal que geram amônia a partir das proteínas, logo para evitar esse processo pode-se administrar antibióticos para matar a flora intestinal e reduzir a produção da amônia. → gentamicina/amicacina são glicopeptídeos de escolha, pois são pouco absorvidos e tem maior ação no TGI 3. Infecções intercorrentes. 4. Vômitos e diarreias → gera desidratação e altera eletrólitos 5. Stress cirúrgico Diagnóstico - Clínico - Laboratorial: transaminases (avaliar função hepática) , dosagem de amônia, bilirrubinas, FA (fosfatase alcalina - icterícia por obstrução de vias biliares), TP (tempo de protrombina) e TTPA (tempo de tromboplastina), etc. Classificação de Child-Pugh - Avaliar a gravidade de doença hepática - fila de transplante - A classificação modificada de Child-Pugh avalia a gravidade da doença hepática de acordo com o grau de ascite, concentrações plasmáticas de bilirrubina e albumina, tempo de protrombina e grau de encefalopatia. - Um escore total de 5-6 é considerado grau A (doença bem compensada) - 7-9 é grau B (comprometimento funcional significativo) Geovanna Carvalho - T30 - UFCA 8 - 10-15 é grau C (doença descompensada). Estes graus correlacionam-se com a sobrevida do paciente dentro de um e dois anos.
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