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INSTAGRAM/DEGASENOSSAVISAO Relatório do Grupo de Trabalho sobre Educação no Departamento Geral de Ações Socioeducativas do Estado do Rio de Janeiro – DEGASE Editora DEGASE RJ - 2018 Francisco Oswaldo Neves Dornelles Governador do Estado do Rio de Janeiro Wagner Granja Victer Secretário de Estado de Educação Alexandre Azevedo de Jesus Diretor-Geral do Novo DEGASE Sidney Mello Reitor da Universidade Federal Fluminense Coordenação: Elionaldo Fernandes Julião Grupo de Trabalho: Kátia Barghigiani Marcos Antônio da C. Santos Mirtes Bandeira Soraya Sampaio Equipe ASIST: Antonino Fonna Claudia Mendes Fernando Picamilho Gabriela Costa 978-85-64174-28-3 8 11 112 118 156 180 195 198 INTRODUÇÃO FUNDAMENTOS NACIONAIS E INTERNACIONAIS DA EDUCAÇÃO PARA JOVENS E ADULTOS EM SITUAÇÃO DE RESTRIÇÃO E PRIVAÇÃO DE LIBERDADE ESCOLARIZAÇÃO NO DEGASE – BREVE HISTÓRICO CARTOGRAFIA DA ESCOLARIZAÇÃO NO SISTEMA SOCIOEDUCATIVO DO RIO DE JANEIRO 2013 CURRÍCULO PARA ALÉM DAS GRADES A AVALIAÇÃO NAS ESCOLAS DO SISTEMA SOCIOEDUCATIVO FLUXOGRAMA DE COMUNICAÇÃO DE AÇÕES SOCIOPEDAGÓGICAS CONTRIBUIÇÕES DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO PARA AS DIRETRIZES NACIONAIS CONSIDERAÇÕES FINAIS E PROPOSIÇÕES REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ANEXO 209 219 231 RELATÓRIO DO GRUPO DE TRABALHO SOBRE EDUCAÇÃO NO INTRODUÇÃO 9 Partindo da premissa de que a proposta política de Educação no Sistema Socioeducativo deve visar delinear aspectos teóricos, políticos e metodológicos para a consecução de sua missão institucional traçada pelo Projeto Político Institucional do DEGASE e pelo Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) da Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro que consiste, em última instância, em zelar pelas atividades de produzir, organizar e disseminar o conhecimento de forma a contribuir para a reinserção social dos adolescentes em cumprimento de Medidas Socioeducativas, privilegiando, principalmente, sob qualquer custo, a busca pela formação de cidadãos conscientes da sua realidade social, foi criado em 2014, com o objetivo sistematizar informações e apresentar sugest ões para uma proposta político pedagógica para as escolas do Sistema Socioeducativo do estado, o Grupo de Trabalho (GT) sobre Educação do Departamento Geral de Ações Socioeducativas do estado do Rio de Janeiro. Fundamentado nos princípios socioeducativos do Sistema Nacional de Ações Socioeducativas (SINASE), o Grupo de Trabalho, composto por profissionais da Secretaria de Educação, bem como do Sistema Socioeduca- tivo do estado do Rio de Janeiro e do corpo docente da Universidade Fede- ral Fluminense – UFF, produziu este documento que visa, em linhas gerais, subsidiar o DEGASE e a Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro (SEEDUC) nas discussões sobre as escolas do Sistema Socioeducativo. 10 Durante a realização dos encontros, ainda em 2014, os trabalhos foram atravessados pelo início da discussão das Diretrizes Nacionais para o atendimento escolar de adolescentes e jovens em cumprimento de medidas socioeducativas que culminou com a aprovação no Conselho Nacional de Educação da Resolução CNE/CEB nº 3 de maio de 2016. O grupo contribuiu ativamente na construção das diretrizes em diferentes frentes e momentos. Principalmente participou de discussões no Conselho Nacional de Educação e com diversos atores do Sistema de Garantia de Direitos no estado do Rio de Janeiro na consulta pública realizada sobre o documento. Este atravessamento implicou na não publicação deste relatório por quase três anos. Hoje, independente da aprovação das Diretrizes Nacionais, compreendemos que ainda há necessidade de retomar o debate sobre a política de Educação no Sistema Socioeducativo, principalmente no contexto da política implementada no estado do Rio de Janeiro. Neste sentido, levando em conta toda a discussão que vem sendo realizada pelo Conselho Estadual de Educação em parceria com o Ministério Público do Rio de Janeiro sobre a implementação no estado das Diretrizes Nacionais, acreditamos que este relatório é um potente instrumento para subsidiar a discussão. 11 RELATÓRIO DO GRUPO DE TRABALHO SOBRE EDUCAÇÃO NO FUNDAMENTOS NACIONAIS E INTERNACIONAIS DA EDUCAÇÃO PARA JOVENS E ADULTOS EM SITUAÇÃO DE RESTRIÇÃO E PRIVAÇÃO DE LIBERDADE 12 Ao longo das últimas décadas, importantes marcos legais internacionais foram aprovados e pactuados pelos países que integram a Organização das Nações Unidas e, como desdobramento nacional, pelos diversos estados da federação brasileira, para consolidação de uma política que prime pela garantia de Direitos Humanos no âmbito das políticas de restrição e privação de liberdade, principalmente reconhecendo as Medidas Socioeducativas como eminentemente pedagógicas e com uma execução menos estigmatizante e violadora de direitos. Considerando as questões apresentadas na Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), nas Regras mínimas das Nações Unidas para a administração da justiça da infância e da juventude – Regras de Beijing – 1985, na Constituição Federal do Brasil (1988), nas Regras das Nações Unidas para Proteção de Jovens Privados de Liberdade – 1990, no Estatuto da Criança e do Adolescente (1990), na Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDBEN (Lei 9394/1996), nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos (Resolução CNE/CEB nº 1 de 2000), nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana (Resolução CNE nº 1/2004), no Parecer do Conselho Nacional de Educação sobre “Dias letivos para a aplicação da Pedagogia de Alternância nos Centros Familiares de Formação por 13 Alternância” (Parecer CNE/CEB nº 1/2006), nas Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica, modalidade Educação Especial (Resolução CNE nº 4/2009), nas Diretrizes Nacionais para a oferta de educação para jovens e adultos em situação de privação de liberdade nos estabelecimentos penais (Resolução CNE/ CEB nº 2/2010), nas Diretrizes Operacionais para a Educação de Jovens e Adultos (Resolução CNE/CEB nº 3 de 2010), nas Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica (Resolução CNE nº 4/2010), nas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (Resolução CNE nº 2/2012), na Lei nº 12.594, de 18 de janeiro de 2012 que regulamenta o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo – SINASE, na Diretrizes para o atendimento de educação escolar para populações em situação de itinerância (Resolução CNE nº 3/2012), na Lei Nº 12.852/ 2013 que aprova o Estatuto da Juventude, no Plano Nacional de Educação (Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014) e nas Diretrizes Nacionais para o atendimento escolar de adolescentes e jovens em cumprimento de medidas socioeducativas (Resolução CNE/CEB nº 3 de 2016), este documento visa apresentar os fundamentos legais nacionais e internacionais que regulamentam a Educação para adolescentes e jovens em cumprimento de medidas de restrição e privação de liberdade no Brasil. 14 No âmbito do estado do Rio de Janeiro, foram levados em consideração as resoluções da Secretaria de Estado de Educação n° 5053, de 12/03/2014, que fixa diretrizes para a implementação das matrizes curriculares nas unidades escolares da rede pública do estado do Rio de Janeiro que se encontram dentro de unidades socioeducativas e dá outras providencias, bem com a n° 5099, de 14/05/2014, que regulamenta a estrutura básica das unidades escolares do âmbito da Diretoria Especial de unidades escolares prisionais e socioeducativas DIESP/SEEDUC e dá outras providências. Visando orientar a reflexão sobre as diversas questões que envolvem a política de educação e a organização de um sistema de ensino para o Sistema Socioeducativo do estado do Rio deJaneiro, dividiremos esta parte do documento em duas seções. Na primeira serão apresentadas as principais questões evidenciadas nos marcos internacionais, pactuados pelos países que integram a Organização das Nações Unidas, e que fundamentam a implementação de uma política de educação para o Sistema Socioeducativo. Na segunda, propomos uma síntese das principais questões evidenciadas nos marcos nacionais que regulamentam o sistema nacional de ensino e a execução das Medidas Socioeducativas no Brasil. 15 Os documentos analisados serão apresentados em uma ordem cronológica de aprovação, não se estabelecendo qualquer hierarquia. Consideramos todos importantes e fundamentais para a implementação da política de educação para jovens em situação de restrição e privação de liberdade no Sistema Socioeducativo. FUNDAMENTOS INTERNACIONAIS 1. Declaração Universal dos Direitos Humanos A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi adotada e proclamada pela Resolução 217 dada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948. Conforme o seu artigo XXVI, toda pessoa tem direito à educação que será gratuita e obrigatória, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. Segundo o documento, a educação técnico-profissional será acessível a todos e a educação superior será baseada no mérito. A educação será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos Direitos Humanos e pelas liberdades fundamentais. Promoverá a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos, e coadjuvará as atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz. 16 2. Regras Mínimas das Nações Unidas para a Administração da Justiça da Infância e da Juventude – Regras de Beijing As Regras Mínimas das Nações Unidas para a Administração da Justiça de Menores (Regras de Beijing) foram adotadas pela Assembleia Geral das Nações Unidas na sua resolução 40/33, de 29 de novembro de 1985, Ano Internacional da Juventude. O documento prevê, na assistência aos jovens em cumprimento de medidas socioeducativas, que “procurar-se-á assegurar aos adolescentes, em todas as fases do processo, assistência em matéria de alojamento, de educação, de formação profissional, de emprego ou outra forma de assistência prática e útil, com vista a facilitar a sua reinserção”. Quanto os objetivos da execução da Medida Socioeducativa, o documento prevê que “a formação e o tratamento dos adolescentes colocados em instituição têm por objetivo assegurar-lhes assistência, proteção, educação e formação profissional, a fim de os ajudar a desempenhar um papel construtivo e produtivo na sociedade”. Os jovens em cumprimento de Medidas Socioeducativas, segundo este documento, “receberão os cuidados, a proteção e toda a assistência necessária social, educacional, profissional, psicológica, médica e física que requeiram devido à sua idade, sexo e personalidade e no interesse do desenvolvimento sadio”. 17 O documento prevê ainda que “serão estimuladas a cooperação interministerial e interdepartamental para proporcionar adequada formação educacional ou, se for o caso, profissional ao jovem institucionalizado, para garantir que, ao sair, não esteja em desvantagem no plano da educação”. 3. Regras das Nações Unidas para Proteção de Jovens Privados de Liberdade As Regras das Nações Unidas para Proteção de Jovens Privados de Liberdade foram adotadas pela Assembleia Geral das Nações Unidas através da sua Resolução 45/113, de 14 de dezembro de 1990. Quanto à educação, formação profissional e trabalho, o documento define que “qualquer adolescente em idade de escolaridade obrigatória tem direito à educação adequada às suas necessidades e capacidades, com vista à preparação da sua reinserção na sociedade”. Tal educação, segundo o documento, “deve ser dada, sempre que possível, fora do estabelecimento socioeducativo em escolas da comunidade e, em qualquer caso, deve ser ministrada por professores qualificados, no quadro de programas integrados no sistema educativo do país, de modo a que os adolescentes possam prosseguir, sem dificuldade, os estudos após a sua libertação”. 18 Ainda de acordo com o documento, “a administração do estabelecimento deve conceder uma especial atenção à educação dos adolescentes de origem estrangeira ou com especiais necessidades culturais ou étnicas. Os adolescentes que são analfabetos ou que têm dificuldades cognitivas ou de aprendizagem devem ter direito a uma educação especial”. Segundo o documento, “os adolescentes acima da idade de escolaridade obrigatória que desejem continuar a sua educação devem ser autorizados e encorajados a fazê-lo e devem ser feitos todos os esforços para lhes possibilitar o acesso aos programas educacionais apropriados”. O documento estabelece que “os diplomas ou certificados de educação concedidos aos jovens durante a internação não devem indicar que o jovem esteve em cumprimento de medida socioeducativa” e que “cada estabelecimento socioeducativo deve proporcionar o acesso a uma biblioteca que deve estar adequadamente equipada com livros, tanto instrutivos como recreativos e com publicações periódicas adequadas aos adolescentes, devendo estes ser encorajados e ter possibilidades de fazerem uso completo dos serviços da biblioteca”. Cada jovem, segundo o documento, “deve ter direito a receber formação profissional em áreas susceptíveis para o preparar para a vida ativa” e “devem ter a possibilidade de escolher o tipo de trabalho que 19 desejam realizar” nos limites compatíveis com uma seleção profissional adequada e com as exigências da administração do estabelecimento. Quanto ao lazer, segundo o documento, “todos os jovens devem ter direito a um período de tempo diário adequado para a prática de exercício ao ar livre sempre que o tempo o permita, durante o qual lhe deve ser normalmente proporcionada educação física e atividades recreativas adequadas. Para estas atividades, devem ser disponibilizados o espaço, as instalações e o equipamento adequados. Todos os jovens devem dispor de tempo adicional para atividades diárias de tempos livres, parte das quais devem ser dedicadas, se o jovem o desejar, ao desenvolvimento de aptidões para artes e ofícios. A unidade de internação, segundo o documento, deve assegurar que cada jovem esteja fisicamente apto a participar nos programas de educação física disponíveis. Educação física reabilitativa e terapia, sob supervisão médica, devem ser proporcionadas aos jovens que delas necessitem. Quanto à religião, todos os jovens devem ter a possibilidade de satisfazer as necessidades da sua vida religiosa e espiritual, em especial participando nos serviços ou encontros organizados no estabelecimento socioeducativos ou realizando os seus próprios serviços e tendo na sua posse os necessários livros ou objetos de culto e instrução religiosa da sua confissão. 20 Se em um estabelecimento existir um número suficiente de jovens de uma dada religião, o documento prevê que um ou mais representantes qualificados dessa religião devem ser nomeados ou aprovados, devendo- lhes ser permitido celebrar serviços regulares e realizar visitas pastorais em privado aos jovens, de acordo com a sua solicitação. Todos os jovens, segundo o documento, devem ter o direito de receber visitas de um representante qualificado de qualquer religião da sua escolha, assim como o direito de não participar em serviços religiosos e de recusar livremente a educação, o aconselhamento ou a doutrinação religiosa. FUNDAMENTOS NACIONAIS 1. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 A Constituição Federal (CF), aprovada em 05 de outubro de 1988, em seu art. 5°, garante que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeirosresidentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”. Conforme o art. 6º da CF, “são direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, 21 a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistênciaaos desamparados, na forma desta Constituição”. Conforme o art. 205, “a educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. Segundo o documento (art. 208), “o dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 aos 17 anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria; II - progressiva universalização do ensino médio gratuito; III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino; V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um; VII - atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica, por meio de programas suplementares de material didático escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde”. Ainda segundo este documento, (art. 208, § 1º), “o acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo” e (§ 2º) “o não- oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder Público, ou sua oferta irregular, importa responsabilidade da autoridade competente”. 22 De acordo com o art. 210 da CF, “serão fixados conteúdos mínimos para o ensino fundamental, de maneira a assegurar formação básica comum e respeito aos valores culturais e artísticos, nacionais e regionais”. Além de que (§ 1º) “o ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental”. No art. 227 a CF define que “é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão”. Em 11 de novembro de 2009, foi aprovada a Emenda Constitucional 59 que, dentre outras questões, acrescenta § 3º ao art. 76 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias para reduzir, anualmente, a partir do exercício de 2009, o percentual da Desvinculação das Receitas da União incidente sobre os recursos destinados à manutenção e desenvolvimento do ensino de que trata o art. 212 da Constituição Federal, dá nova redação aos incisos I e VII do art. 208, de forma a prever a obrigatoriedade do ensino de 4 a 17 anos e ampliar a abrangência dos programas suplementares para todas as etapas da educação básica. 23 2. Estatuto da Criança e Adolescente – ECA O Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, fruto da luta de movimentos sociais, profissionais e de pessoas preocupadas com as condições e os direitos infanto-juvenis no Brasil, foi aprovado através da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, com o objetivo de revelar os direitos e os deveres das crianças e dos adolescentes e os deveres dos adultos. O ECA dispõe sobre a proteção integral das crianças e dos adolescentes (art. 3°) e lhes assegura todas as oportunidades e facilidades, “a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade”. Garante ainda que todas as crianças e adolescentes, independentemente de cor, etnia ou classe social, sejam tratados como pessoas que precisam de atenção, proteção e cuidados especiais para se desenvolverem e serem adultos saudáveis. Segundo o art. 4º do ECA, “é dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária”. Com relação ao direito à educação, à cultura, ao esporte e ao lazer, (art. 53), define que “a criança e o adolescente têm direito à 24 educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-se lhes: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II - direito de ser respeitado por seus educadores; III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias escolares superiores; IV - direito de organização e participação em entidades estudantis; V - acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência”. Garante ainda que (parágrafo único do art. 53) “é direito dos pais ou responsáveis ter ciência do processo pedagógico, bem como participar da definição das propostas educacionais”. Segundo o documento, o Estado deverá assegurar à criança e ao adolescente (art. 54): “I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria; II - progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio; III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino; V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um; VII - atendimento no ensino fundamental, através de programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde”. 25 Define ainda que (§ 1º - art. 54) “o acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo” e o (§ 2º) “não oferecimento do ensino obrigatório pelo poder público ou sua oferta irregular importa responsabilidade da autoridade competente”. Conforme art. 57, “o poder público estimulará pesquisas, experiências e novas propostas relativas a calendário, seriação, currículo, metodologia, didática e avaliação, com vistas à inserção de crianças e adolescentes excluídos do ensino fundamental obrigatório”. Quanto ao processo educacional (art. 58), deverão ser respeitados “os valores culturais, artísticos e históricos próprios do contexto social da criança e do adolescente, garantindo-se a estes a liberdade da criação e o acesso às fontes de cultura”. Com relação aos adolescentes em cumprimento de Medida Socioeducativa de Internação (art. 124), o documento garante como direitos do adolescente privado de liberdade, dentre outros: “I - entrevistar-se pessoalmente com o representante do Ministério Público; II - peticionar diretamente a qualquer autoridade; III - avistar-se reservadamente com seu defensor; IV - ser informado de sua situação processual, sempre que solicitada; V - ser tratado com respeito e dignidade; VI - permanecer internado na mesma localidade ou naquela mais próxima ao domicílio de seus pais ou responsável; VII - receber 26 visitas, ao menos, semanalmente; VIII - corresponder-se com seus familiares e amigos; IX - ter acesso aos objetos necessários à higiene e asseio pessoal; X - habitar alojamento em condições adequadas de higiene e salubridade; XI - receber escolarização e profissionalização; XII - realizar atividades culturais, esportivas e de lazer; XIII - ter acesso aos meios de comunicação social; XIV - receber assistência religiosa, segundo a sua crença, e desde que assim o deseje; XV - manter a posse de seus objetos pessoais e dispor de local seguro para guardá-los, recebendo comprovante daqueles porventura depositados em poder da entidade;XVI - receber, quando de sua desinternação, os documentos pessoais indispensáveis à vida em sociedade”. O documento garante que em nenhum caso (§ 1º) haverá incomunicabilidade. Com relação à proteção judicial dos interesses individuais, difusos e coletivos, no seu art. 208, considera como “ações de responsabilidade por ofensa aos direitos assegurados à criança e ao adolescente, referentes ao não oferecimento ou oferta irregular: I - do ensino obrigatório; II - de atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência; III - de atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de idade; IV - de ensino noturno regular, adequado às condições do educando; V - de programas suplementares 27 de oferta de material didático-escolar, transporte e assistência à saúde do educando do ensino fundamental; VI - de serviço de assistência social visando à proteção à família, à maternidade, à infância e à adolescência, bem como ao amparo às crianças e adolescentes que dele necessitem; VII - de acesso às ações e serviços de saúde; VIII - de escolarização e profissionalização dos adolescentes privados de liberdade”. 3. Lei nº 9.394/1996 - Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) Segundo a Lei nº 9.394/1996 - Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) (art. 1º), “a educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais”. Conforme o art. 1º, § 1º, “esta Lei disciplina a educação escolar, que se desenvolve, predominantemente, por meio do ensino, em instituições próprias”. Define ainda no § 2º deste artigo que “a educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social”. A educação, segundo o art. 2º, é “dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho” 28 e o ensino, segundo o art. 3º, “será ministrado com base nos seguintes princípios: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber; III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas; IV - respeito à liberdade e apreço à tolerância; VI - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; VII - valorização do profissional da educação escolar; IX - garantia de padrão de qualidade; X - valorização da experiência extraescolar; e XI - vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais”. Em seu art. 4º estabelece que “o dever do Estado com educação escolar pública será efetivado mediante a garantia de: I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria; II - universalização do ensino médio gratuito; III - atendimento educacional especializado gratuito aos educandos com necessidades especiais, preferencialmente na rede regular de ensino; IV - atendimento gratuito em creches e pré-escolas às crianças de zero a seis anos de idade; V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um; VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando; VII - oferta de educação escolar regular para jovens e adultos, com características e modalidades adequadas 29 às suas necessidades e disponibilidades, garantindo-se aos que forem trabalhadores as condições de acesso e permanência na escola; VIII - atendimento ao educando, no ensino fundamental público, por meio de programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde; IX - padrões mínimos de qualidade de ensino, definidos como a variedade e quantidade mínimas, por aluno, de insumos indispensáveis ao desenvolvimento do processo de ensino- aprendizagem; e X – vaga na escola pública de educação infantil ou de ensino fundamental mais próxima de sua residência a toda criança a partir do dia em que completar 4 anos de idade”. Garante, no art. 5º, que o acesso ao ensino fundamental “é direito público subjetivo, podendo qualquer cidadão, grupo de cidadãos, associação comunitária, organização sindical, entidade de classe ou outra legalmente constituída, e, ainda, o Ministério Público, acionar o Poder Público para exigi-lo”. Conforme o § 4º deste artigo, “comprovada a negligência da autoridade competente para garantir o oferecimento do ensino obrigatório, poderá ela ser imputada por crime de responsabilidade”. Segundo art. 5º, § 5º, compete aos estados e aos municípios, em regime de colaboração, e com a assistência da União: “para garantir o cumprimento da obrigatoriedade de ensino, o Poder Público 30 criará formas alternativas de acesso aos diferentes níveis de ensino, independentemente da escolarização anterior”. Da organização da Educação Nacional, conforme o seu art. 8º, “a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão, em regime de colaboração, os respectivos sistemas de ensino. E, de acordo com o § 1º, caberá à União a coordenação da política nacional de educação, articulando os diferentes níveis e sistemas e exercendo função normativa, redistributiva e supletiva em relação às demais instâncias educacionais”. Segundo o § 2º deste artigo, “os sistemas de ensino terão liberdade de organização nos termos desta Lei”. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, segundo art. 12, terão a incumbência de: “I - elaborar e executar sua proposta pedagógica; II - administrar seu pessoal e seus recursos materiais e financeiros; III - assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas-aula estabelecidas; IV - velar pelo cumprimento do plano de trabalho de cada docente; V - prover meios para a recuperação dos alunos de menor rendimento; e VI - articular- se com as famílias e a comunidade, criando processos de integração da sociedade com a escola”. 31 Os docentes incumbir-se-ão (art. 13) de: “I - participar da elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento de ensino; II - elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a proposta pedagógica do estabelecimento de ensino; III - zelar pela aprendizagem dos alunos; IV - estabelecer estratégias de recuperação para os alunos de menor rendimento; V - ministrar os dias letivos e horas-aula estabelecidos, além de participar integralmente dos períodos dedicados ao planejamento, à avaliação e ao desenvolvimento profissional”. Os sistemas de ensino, conforme o art. 14, “definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios: I - participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola; e II - participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes”. O documento garante ainda, no art. 15, que “os sistemas de ensino assegurarão às unidades escolares públicas de educação básica que os integram progressivos graus de autonomia pedagógica e administrativa e de gestão financeira, observadas as normas gerais de direito financeiro público”. Dos níveis e das modalidades de educação e ensino, conforme art. 21, “a educação escolar compõe-se de: I - educação básica, formada pela educa- 32 ção infantil, ensino fundamental e ensino médio; e II - educação superior”. A Educação Básica, conforme art. 22, “tem por finalidades desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores” e poderá, segundo o art. 23, “organizar-seem séries anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância regular de períodos de estudos, grupos não-seriados, com base na idade, na competência e em outros critérios, ou por forma diversa de organização, sempre que o interesse do processo de aprendizagem assim o recomendar”. Conforme o § 1º deste artigo, “a escola poderá reclassificar os alunos, inclusive quando se tratar de transferências entre estabelecimentos situados no País e no exterior, tendo como base as normas curriculares gerais”. O calendário escolar, segundo o § 2º, “deverá adequar-se às peculiaridades locais, inclusive climáticas e econômicas, a critério do respectivo sistema de ensino, sem com isso reduzir o número de horas letivas previsto nesta Lei”. A Educação Básica, conforme art. 24, nos níveis fundamental e médio, será organizada de acordo com as seguintes regras comuns: “I - a carga horária mínima anual será de 800 horas, distribuídas por um mínimo de 200 dias de efetivo trabalho escolar, excluído o tempo 33 reservado aos exames finais, quando houver; II - a classificação em qualquer série ou etapa, exceto a primeira do ensino fundamental, pode ser feita: a) por promoção, para alunos que cursaram, com aproveitamento, a série ou fase anterior, na própria escola; b) por transferência, para candidatos procedentes de outras escolas; c) independentemente de escolarização anterior, mediante avaliação feita pela escola, que defina o grau de desenvolvimento e experiência do candidato e permita sua inscrição na série ou etapa adequada, conforme regulamentação do respectivo sistema de ensino; III - nos estabelecimentos que adotam a progressão regular por série, o regimento escolar pode admitir formas de progressão parcial, desde que preservada a sequência do currículo, observadas as normas do respectivo sistema de ensino; IV - poderão organizar-se classes, ou turmas, com alunos de séries distintas, com níveis equivalentes de adiantamento na matéria, para o ensino de línguas estrangeiras, artes, ou outros componentes curriculares; V - a verificação do rendimento escolar observará os seguintes critérios: a) avaliação contínua e cumulativa do desempenho do aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre os de eventuais provas finais; b) possibilidade de aceleração de estudos para alunos com atraso escolar; c) possibilidade de avanço nos cursos e nas séries mediante verificação 34 do aprendizado; d) aproveitamento de estudos concluídos com êxito; e) obrigatoriedade de estudos de recuperação, de preferência paralelos ao período letivo, para os casos de baixo rendimento escolar, a serem disciplinados pelas instituições de ensino em seus regimentos; VI - o controle de frequência fica a cargo da escola, conforme o disposto no seu regimento e nas normas do respectivo sistema de ensino, exigida a frequência mínima de 75% do total de horas letivas para aprovação; VII - cabe a cada instituição de ensino expedir históricos escolares, declarações de conclusão de série e diplomas ou certificados de conclusão de cursos, com as especificações cabíveis”. Conforme o art. 25, “será objetivo permanente das autoridades responsáveis alcançar relação adequada entre o número de alunos e o professor, a carga horária e as condições materiais do estabelecimento”. Prevê, ainda, no seu parágrafo único, que “cabe ao respectivo sistema de ensino, à vista das condições disponíveis e das características regionais e locais, estabelecer parâmetro para atendimento do disposto neste artigo”. Quanto aos currículos do ensino fundamental e médio, o art. 26 estabelece que “devem ter uma base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e 35 locais da sociedade, da cultura, da economia e da clientela”. Prevê ainda: “§ 1º- os currículos a que se refere o caput devem abranger, obrigatoriamente, o estudo da língua portuguesa e da matemática, o conhecimento do mundo físico e natural e da realidade social e política, especialmente do Brasil; § 2º- ensino da arte constituirá componente curricular obrigatório, nos diversos níveis da educação básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos; § 3º- educação física, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular da educação básica, ajustando-se às faixas etárias e às condições da população escolar, sendo facultativa nos cursos noturnos; § 4º- ensino da História do Brasil levará em conta as contribuições das diferentes culturas e etnias para a formação do povo brasileiro, especialmente das matrizes indígena, africana e europeia; § 5º- na parte diversificada do currículo será incluído, obrigatoriamente, a partir da quinta série, o ensino de pelo menos uma língua estrangeira moderna, cuja escolha ficará a cargo da comunidade escolar, dentro das possibilidades da instituição”. Já quanto aos conteúdos curriculares da Educação Básica observarão, ainda, as seguintes diretrizes, segundo o art. 27: “I - a difusão de valores fundamentais ao interesse social, aos direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao bem comum e à ordem 36 democrática; II - consideração das condições de escolaridade dos alunos em cada estabelecimento; III - orientação para o trabalho; IV - promoção do desporto educacional e apoio às práticas desportivas não-formais”. Na oferta de Educação Básica para a população rural, conforme o art. 28, “os sistemas de ensino promoverão as adaptações necessárias à sua adequação às peculiaridades da vida rural e de cada região, especialmente: I - conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às reais necessidades e interesses dos alunos da zona rural; II - organização escolar própria, incluindo adequação do calendário escolar às fases do ciclo agrícola e às condições climáticas; e III - adequação à natureza do trabalho na zona rural”. Quanto ao Ensino Fundamental, de acordo com o art. 32, será oferecido “com duração mínima de 9 anos, obrigatório e gratuito na escola pública, terá por objetivo a formação básica do cidadão, mediante: I - o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo; II - a compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade; III - o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a formação de atitudes e valores; IV - o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de 37 solidariedade humana e de tolerância recíproca em que se assenta a vida social”. Diz ainda: “§ 1º- é facultado aos sistemas de ensino desdobrar o ensino fundamental em ciclos; § 2º- os estabelecimentos que utilizam progressão regular por série podem adotar no ensino fundamental o regime de progressão continuada, sem prejuízo da avaliação do processo de ensino-aprendizagem, observadas as normas do respectivo sistema de ensino; § 3º- O ensino fundamental regular será ministrado em língua portuguesa, assegurada às comunidades indígenas a utilização de suas línguas maternas e processos próprios de aprendizagem; § 4º- o ensino fundamental será presencial, sendo o ensino a distância utilizada como complementação da aprendizagem ou em situações emergenciais”. Quanto ao ensino religioso, de acordo com o art. 33, este será “de matrícula facultativa, constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, sendo oferecido, sem ônus para os cofres públicos, de acordo com as preferências manifestadas pelos alunos ou por seus responsáveis, em caráter: I - confessional, de acordo com a opção religiosa do aluno ou do seu responsável, ministrada por professores ou orientadoresreligiosos preparados e credenciados pelas respectivas igrejas ou entidades religiosas; ou II - interconfessional, resultante de acordo entre as diversas entidades religiosas, que se 38 responsabilizarão pela elaboração do respectivo programa”. Com relação à jornada escolar no Ensino Fundamental, o art. 34 indica que “incluirá pelo menos 4 horas de trabalho efetivo em sala de aula, sendo progressivamente ampliado o período de permanência na escola”. Segundo o seu § 1º, “são ressalvados os casos do ensino noturno e das formas alternativas de organização autorizadas nesta Lei”. É previsto ainda no seu § 2º, que “o ensino fundamental será ministrado progressivamente em tempo integral, a critério dos sistemas de ensino”. Com relação ao Ensino Médio, o art. 35 estabelece que é “etapa final da educação básica, com duração mínima de 3 anos, terá como finalidades: I - a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no ensino fundamental, possibilitando o prosseguimento de estudos; II - a preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores; III - o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico; IV - a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos processos produtivos, relacionando a teoria com a prática, no ensino de cada disciplina”. 39 O currículo do Ensino Médio, conforme art. 36, “observará (...) as seguintes diretrizes: I - destacará a educação tecnológica básica, a compreensão do significado da ciência, das letras e das artes; o processo histórico de transformação da sociedade e da cultura; a língua portuguesa como instrumento de comunicação, acesso ao conhecimento e exercício da cidadania; II - adotará metodologias de ensino e de avaliação que estimulem a iniciativa dos estudantes; III - será incluída uma língua estrangeira moderna, como disciplina obrigatória, escolhida pela comunidade escolar, e uma segunda, em caráter optativo, dentro das disponibilidades da instituição”. Prevê ainda que: “§ 1º - os conteúdos, as metodologias e as formas de avaliação serão organizados de tal forma que ao final do ensino médio o educando demonstre: I - domínio dos princípios científicos e tecnológicos que presidem a produção moderna; II - conhecimento das formas contemporâneas de linguagem; e III - domínio dos conhecimentos de Filosofia e de Sociologia necessários ao exercício da cidadania; § 2º- o ensino médio, atendida a formação geral do educando, poderá prepará-lo para o exercício de profissões técnicas; § 3º- os cursos do ensino médio terão equivalência legal e habilitarão ao prosseguimento de estudos; § 4º- a preparação geral para o trabalho e, facultativamente, a habilitação profissional, poderão ser desenvolvidas nos próprios estabelecimentos 40 de ensino médio ou em cooperação com instituições especializadas em educação profissional”. A Educação de Jovens e Adultos, a Educação Especial, Educação Profissional e Tecnológica, Educação do Campo, Educação Escolar Indígena e Educação a Distância são, segundo a LDB, modalidades da Educação Básica. Ou seja, possuem proposta curricular diferenciada de acordo com as especificidades dos seus sujeitos e dos seus cursos. Quanto à Educação de Jovens e Adultos, de acordo com o art. 37, “será destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria”. Conforme o seu § 1º, “os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos jovens e aos adultos, que não puderam efetuar os estudos na idade regular, oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames”. Já quanto ao § 2º, indica que “o Poder Público viabilizará e estimulará o acesso e a permanência do trabalhador na escola, mediante ações integradas e complementares entre si”. 41 Os sistemas de ensino manterão, conforme art. 38, “cursos e exames supletivos, que compreenderão a base nacional comum do currículo, habilitando ao prosseguimento de estudos em caráter regular”. Os exames, conforme § 1º, a que se refere este artigo realizar-se-ão: “I - no nível de conclusão do ensino fundamental, para os maiores de 15 anos; II - no nível de conclusão do ensino médio, para os maiores de 18 anos”. Os conhecimentos e habilidades adquiridos pelos educandos por meios informais, conforme o seu § 2º, “serão aferidos e reconhecidos mediante exames”. Com relação à Educação Profissional, art. 39, “a educação profissional, integrada às diferentes formas de educação, ao trabalho, à ciência e à tecnologia, conduz ao permanente desenvolvimento de aptidões para a vida produtiva”. Segundo o art. 40, “a educação profissional será desenvolvida em articulação com o ensino regular ou por diferentes estratégias de educação continuada, em instituições especializadas ou no ambiente de trabalho”. O conhecimento adquirido na educação profissional, inclusive no trabalho, conforme art. 41, “poderá ser objeto de avaliação, reconhecimento e certificação para prosseguimento ou conclusão de estudos”. 42 É previsto, conforme art. 42, que “as escolas técnicas e profissionais, além dos seus cursos regulares, [ofereçam] cursos especiais, abertos à comunidade, condicionada a matrícula à capacidade de aproveitamento e não necessariamente ao nível de escolaridade”. Com relação à Educação Especial, segundo art. 58, “entende- se (...), para os efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais”. Conforme o seu § 1º, “haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola regular, para atender às peculiaridades da clientela de educação especial”, assim como, com base no § 2º, “o atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços especializados, sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns de ensino regular”. De acordo com o seu art. 59, “os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com necessidades especiais: I - currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específicos, para atender às suas necessidades; II - terminalidade específica para aqueles que não puderem atingir o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas deficiências, e aceleração para concluir em menor tempo o programa escolar para os superdotados; III - professores com 43 especialização adequada em nível médio ou superior, para atendimento especializado, bem como professores do ensino regular capacitados para a integração desses educandos nas classes comuns; IV - educação especial para o trabalho, visando a sua efetiva integração na vida em sociedade, inclusive condições adequadas para os que não revelarem capacidade de inserção no trabalho competitivo, mediante articulação com os órgãos oficiais afins, bem como para aqueles que apresentam uma habilidade superior nas áreas artística, intelectual ou psicomotora; V - acesso igualitário aos benefícios dos programas sociais suplementares disponíveis para o respectivo nível do ensino regular”. Os sistemas de ensino, conforme art. 67, “promoverão a valorização dos profissionais da educação, assegurando-lhes, inclusive nos termos dos estatutos e dos planos de carreira do magistério público: I - ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos; II - aperfeiçoamento profissional continuado, inclusive com licenciamento periódico remunerado para esse fim; III - piso salarial profissional; IV - progressão funcional baseada na titulação ou habilitação,e na avaliação do desempenho; V - período reservado a estudos, planejamento e avaliação, incluído na carga de trabalho; e VI - condições adequadas de trabalho”. 44 Conforme art. 70, “considerar-se-ão como de manutenção e desenvolvimento do ensino as despesas realizadas com vistas à consecução dos objetivos básicos das instituições educacionais de todos os níveis, compreendendo as que se destinam a: I - remuneração e aperfeiçoamento do pessoal docente e demais profissionais da educação; II - aquisição, manutenção, construção e conservação de instalações e equipamentos necessários ao ensino; III - uso e manutenção de bens e serviços vinculados ao ensino; IV - levantamentos estatísticos, estudos e pesquisas visando precipuamente ao aprimoramento da qualidade e à expansão do ensino; V - realização de atividades-meio necessárias ao funcionamento dos sistemas de ensino; VI - concessão de bolsas de estudo a alunos de escolas públicas e privadas; VII - amortização e custeio de operações de crédito destinadas a atender ao disposto nos incisos deste artigo; VIII - aquisição de material didático-escolar e manutenção de programas de transporte escolar”. Não constituirão despesas de manutenção e desenvolvimento do ensino, conforme art. 71, “aquelas realizadas com: I - pesquisa, quando não vinculada às instituições de ensino, ou, quando efetivada fora dos sistemas de ensino, que não vise, precipuamente, ao aprimoramento de sua qualidade ou à sua expansão; II - subvenção a instituições públicas ou privadas de caráter assistencial, desportivo ou cultural; III - formação 45 de quadros especiais para a administração pública, sejam militares ou civis, inclusive diplomáticos; IV - programas suplementares de alimentação, assistência médico-odontológica, farmacêutica e psicológica, e outras formas de assistência social; V - obras de infraestrutura, ainda que realizadas para beneficiar direta ou indiretamente a rede escolar; VI - pessoal docente e demais trabalhadores da educação, quando em desvio de função ou em atividade alheia à manutenção e desenvolvimento do ensino”. 4. Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação de Jovens e Adultos (Resolução CNE/CEB nº 1/2000) A reconfiguração do campo da EJA se evidencia efetivamente através da LDB de 1996, nos seus artigos 4º, 37 e 38 que, assumindo-a como modalidade da Educação Básica, defende principalmente que o dever do Estado com a educação escolar pública será efetivado, segundo o art. 4º, mediante a garantia de: “(I) ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria; (II) progressiva universalização da obrigatoriedade e gratuidade do ensino médio; (...) (IV) oferta de ensino regular, adequado as condições do educando; (VII) oferta de educação escolar regular para jovens e adultos, com características e modalidades adequadas às suas necessidades e disponibilidades, garantindo-se aos que forem trabalhadores 46 as condições de acesso e permanência na escola” (BRASIL, 1996). Assim, a EJA deixa de ser considerada como projeto de governo, ações pontuais de alfabetização e elevação de escolaridade, principalmente de ensino fundamental, para se assumir como política pública de educação básica, ampliando-se como política até o Ensino Médio no sistema nacional de ensino. A partir destas questões apresentadas pela LDB, o Brasil vivencia um momento de intensa mobilização em torno da discussão do sentido da EJA como modalidade da Educação Básica, resultando, em 2000, na aprovação das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos (Resolução CNE/CEB nº 01/2000) em que, em seu parecer (CNE/CEB nº11/2000), a concepção de EJA como modalidade da Educação Básica é reconhecida pelo Conselho Nacional de Educação como “um modo de existir com característica própria”. Conforme parágrafo único do art. 5º, “como modalidade destas etapas da Educação Básica, a identidade própria da Educação de Jovens e Adultos considerará as situações, os perfis dos estudantes, as faixas etárias e se pautará pelos princípios de equidade, diferença e proporcionalidade na apropriação e contextualização das diretrizes curriculares nacionais e na proposição de um modelo pedagógico próprio”. 47 5. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro- Brasileira e Africana (Resolução CNE nº 1/2004) As Diretrizes para Educação das Relações Étnico-Raciais representam um avanço para a sociedade brasileira formalizando o reconhecimento e necessidade de avançarmos na qualidade da Educação ofertada considerando também o Ensino de História e Cultura Afro- Brasileira e Africana, tendo “por meta, promover a educação de cidadãos atuantes e conscientes no seio da sociedade multicultural e pluriétnica do Brasil, buscando relações étnico-sociais positivas, rumo à construção de nação democrática”, bem como “o reconhecimento e valorização da identidade, história e cultura dos afro-brasileiros, bem como a garantia de reconhecimento e igualdade de valorização das raízes africanas da nação brasileira, ao lado das indígenas, europeias, asiáticas”. Em seu parágrafo 1º do art. 2º, é definido como objetivo “a divulgação e produção de conhecimentos, bem como de atitudes, posturas e valores que eduquem cidadãos quanto à pluralidade étnico- racial, tornando-os capazes de interagir e de negociar objetivos comuns que garantam, a todos, respeito aos direitos legais e valorização de identidade, na busca da consolidação da democracia brasileira”. 48 No art. 3º, é dada autonomia às instituições escolares e docentes no que tange o desenvolvimento das atividades acerca da Educação das Relações Étnico-Raciais e o estudo de História e Cultura Afro-Brasileira e História e Cultura Africana, bem como é atribuído aos sistemas de ensino: incentivo e criação de condições materiais e financeiras; promoção de estudos através das coordenações pedagógicas; pesquisas sobre processos educativos; a interlocução e troca com movimento negro, grupos culturais negros, instituições formadoras de professores, núcleos de estudos e pesquisas, como os núcleos de estudos afro-brasileiros; a garantia de frequência a estabelecimentos de ensino de qualidade por alunos afrodescendentes. Cabe aos órgãos colegiados dos estabelecimentos de ensino “o exame e encaminhamento de solução para situações de discriminação, buscando-se criar situações educativas para o reconhecimento, valorização e respeito da diversidade”. No seu art. 8º é prevista a promoção de atividades de exposição, avaliação e divulgação dos sucessos e dificuldades acerca do ensino e da aprendizagem, devendo os resultados serem encaminhados ao Ministério da Educação – MEC, a Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial – SEPIR, Conselho Nacional de Educação – CNE e Conselhos. 49 6. Parecer CNE/CEB nº 1/2006: dias letivos para a aplicação da Pedagogia de Alternância nos Centros Familiares de Formação por Alternância (CEFFA) Segundo o Parecer CNE/CEB nº 1/2006, que discute os dias letivos para a aplicação da Pedagogia de Alternância nos Centros Familiares de Formação por Alternância (CEFFA), as alternâncias se dividem em três tipos, sempre focando os aspectos socioprofissionais e os escolares: “(a) Alternância justapositiva, que se caracteriza pela sucessão dos tempos ou períodos consagrados ao trabalho e ao estudo, sem que haja uma relação entre eles; (b) Alternância associativa, quando ocorre uma associação entre a formação geral e a formação profissional, verificando-se, portanto, a existência da relação entre a atividade escolar e a atividade profissional, mas ainda como uma simples adição; (c) Alternância integrativa real ou copulativa, com a compenetração efetiva de meios de vida sócio-profissional e escolar em uma unidadede tempos formativos. Nesse caso, a alternância supõe estreita conexão entre os dois momentos de atividades em todos os níveis – individuais, relacionais, didáticos e institucionais. Não há primazia de um componente sobre o outro. A ligação permanente entre eles é dinâmica e se efetua em um movimento contínuo de ir e retornar. Embora seja a forma mais complexa da alternância, seu dinamismo permite constante evolução. 50 Em alguns centros, a integração se faz entre um sistema educativo em que o aluno alterna períodos de aprendizagem na família, em seu próprio meio, com períodos na escola, estando esses tempos interligados por meio de instrumentos pedagógicos específicos, pela associação, de forma harmoniosa, entre família e comunidade e uma ação pedagógica que visa à formação integral com profissionalização”. O calendário escolar, quando de sua elaboração, segundo o documento, tem presente os aspectos: sociocultural, participativo, geográfico e legal. A carga horária anual ultrapassa os duzentos dias letivos e as oitocentas horas exigidas pela Lei de Diretrizes a Bases da Educação Nacional. Os períodos vivenciados no centro educativo (escola) e no meio socioprofissional (família/comunidade) são contabilizados como dias letivos e horas, o que implica em considerar como horas e aulas atividades desenvolvidas fora da sala de aula, mas executadas mediante trabalhos práticos e pesquisas com auxilio de questionários que compõem um Plano de Estudo. O Plano Curricular ou Plano de Formação é formulado com base nos conteúdos definidos em nível nacional para o Ensino Fundamental ou Ensino Médio e ou Ensino Supletivo (Educação de Jovens e Adultos) mais as matérias de Ensino Técnico, de acordo com as características de cada unidade educativa. 51 No desenvolvimento metodológico em que o aluno executa um Plano de Estudo, o documento ressalta que tem “o período das semanas na propriedade ou no meio profissional, oportunidade em que o jovem discute sua realidade com a família, com os profissionais e provoca reflexões, planeja soluções e realiza experiências em seu contexto, irradiando uma concepção correta de desenvolvimento local sustentável; enquanto isso, no período em que o aluno permanece em regime de internato ou semi-internato no centro de formação, isto é, a escola, tem oportunidade de socializar sua realidade sob todos os aspectos, embasada em pesquisas e trabalhos teóricos e práticos que realizam nas semanas em que permaneceram com suas famílias. Tudo isso é desenvolvido com o auxilio de monitores (formadores), de forma que o aluno levanta situações vivenciadas na realidade familiar, busca novos conhecimentos para explicar, compreender e atuar, partindo do senso comum para alcançar o conhecimento cientifico”. 52 7. Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica, modalidade Educação Especial (Resolução CNE/CEB nº 4/2009) A Resolução nº 4, de 2 de outubro de 2009, do Conselho Nacional de Educação institui as Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica, modalidade Educação Especial. Conforme definido no art. 2º, o “Atendimento Educacional Especializado (AEE) tem como função complementar ou suplementar a formação do aluno por meio da disponibilização de serviços, recursos de acessibilidade e estratégias que eliminem as barreiras para sua plena participação na sociedade e desenvolvimento de sua aprendizagem”. São considerados como recursos de acessibilidade na educação “aqueles que asseguram condições de acesso ao currículo dos alunos com deficiência ou mobilidade reduzida, promovendo a utilização dos materiais didáticos e pedagógicos, dos espaços, dos mobiliários e equipamentos, dos sistemas de comunicação e informação, dos transportes e dos demais serviços”. Segundo o seu art. 4º, considera-se público-alvo do AEE: “I – alunos com deficiência: aqueles que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, intelectual, mental ou sensorial; II – alunos com transtornos globais do desenvolvimento: aqueles que apresentam 53 um quadro de alterações no desenvolvimento neuropsicomotor, comprometimento nas relações sociais, na comunicação ou estereotipias motoras. Incluem-se nessa definição alunos com autismo clássico, síndrome de Asperger, síndrome de Rett, transtorno desintegrativo da infância (psicoses) e transtornos invasivos sem outra especificação; III – alunos com altas habilidades/superdotação: aqueles que apresentam um potencial elevado e grande envolvimento com as áreas do conhecimento humano, isoladas ou combinadas: intelectual, liderança, psicomotora, artes e criatividade”. O atendimento, segundo o documento, será “na sala de recursos multifuncionais da própria escola ou em outra escola de ensino regular, no turno inverso da escolarização, não sendo substitutivo às classes comuns, podendo ser realizado, também, em centro de Atendimento Educacional Especializado da rede pública ou de instituições comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos, conveniadas com a Secretaria de Educação ou órgão equivalente dos Estados, Distrito Federal ou dos Municípios”. No que tange o projeto pedagógico da escola de ensino regular, segundo o art. 10º, “deve institucionalizar a oferta do AEE prevendo na sua organização: I – sala de recursos multifuncionais: espaço físico, mobiliário, materiais didáticos, recursos pedagógicos e de acessibilidade 54 e equipamentos específicos; II – matrícula no AEE de alunos matriculados no ensino regular da própria escola ou de outra escola; III – cronograma de atendimento aos alunos; IV – plano do AEE: identificação das necessidades educacionais específicas dos alunos, definição dos recursos necessários e das atividades a serem desenvolvidas; V – professores para o exercício da docência do AEE; VI – outros profissionais da educação: tradutor e intérprete de Língua Brasileira de Sinais, guia-intérprete e outros que atuem no apoio, principalmente às atividades de alimentação, higiene e locomoção; VII – redes de apoio no âmbito da atuação profissional, da formação, do desenvolvimento da pesquisa, do acesso a recursos, serviços e equipamentos, entre outros que maximizem o AEE”. 8. Diretrizes Nacionais para a oferta de educação para jovens e adultos em situação de privação de liberdade nos estabelecimentos penais (Resolução CNE/CEB nº 2/2010) Em 19 de maio de 2010, entrou em vigor as Diretrizes Nacionais para Educação para jovens e adultos em situação de privação de liberdade em prisões e penitenciárias. Esta normativa representou um grande avanço, pois, dentre outras questões, deu visibilidade aos quase 500 mil brasileiros que estão sob custódia no país. O aspecto 55 emblemático desta resolução perpassa por validar a política de educação como central para ressocialização e reintegração do apenado à sociedade. A referida diretriz impõe aos governos estaduais a responsabilidade pela oferta da Educação nos estabelecimentos penais, com exceção dos estabelecimentos federais cuja oferta será dada através do Governo Federal. É importante ressaltar que é ratificado o caráter fundamental da articulação entre as secretarias de educação e o órgão responsável pela administração dos presídios e penitenciárias. O financiamento, segundo o documento, dar-se-á através de recursos públicos federais, estaduais e municipais. No inciso III do art. 3º, está previsto que a Educação deverá estar “associada às ações complementares de cultura, esporte, inclusão digital, educação profissional, fomento à leitura e a programas de implantação, recuperação e manutenção de bibliotecas destinadas ao atendimento à população privada de liberdade, inclusive as ações de valorização dos profissionais que trabalham nesses espaços”. Considerando as especificidades de cada regime/medida, bemcomo as necessidades de cada sujeito, é previsto atendimento diferenciado de acordo com as situações apresentadas. 56 No inciso VI, é prevista a implantação de ações que visem à “elevação de escolaridade associada à qualificação profissional, articulando-as, também, de maneira intersetorial, a políticas e programas destinados a jovens e adultos”. O atendimento, segundo o documento, será em todos os turnos bem como “será organizada de modo a atender às peculiaridades de tempo, espaço e rotatividade da população carcerária levando em consideração a flexibilidade prevista no art. 23 da Lei nº 9.394/96 (LDB)”. Visando o planejamento e controle social, os órgãos responsáveis pela Educação devem: “publicizar a situação e as ações através de relatório anual; promover fomento à pesquisa, de produção de documentos e publicações e a organização de campanhas sobre o valor da educação em espaços de privação de liberdade; fazer chamadas públicas periódicas destinadas a matrículas”. No art. 5º, é estabelecida obrigatoriedade para Estados, o Distrito Federal e a União do incentivo e “promoção de novas estratégias pedagógicas, produção de materiais didáticos e a implementação de novas metodologias e tecnologias educacionais, assim como de programas educativos na modalidade Educação a Distância (EAD), a serem empregados no âmbito das escolas do sistema prisional”. 57 É previsto, no seu art. 6º, a promoção de “parcerias com diferentes esferas e áreas de governo, bem como com universidades, instituições de Educação Profissional e organizações da sociedade civil, com vistas à formulação, execução, monitoramento e avaliação de políticas públicas de Educação de Jovens e Adultos em situação de privação de liberdade”. O art. 7º prevê a adequação dos espaços físicos para realização “das atividades educacionais, esportivas, culturais, de formação profissional e de lazer, integrando-as às rotinas dos estabelecimentos penais”. Segundo o art. 8º, “as ações, projetos e programas governamentais destinados à EJA, incluindo o provimento de materiais didáticos e escolares, apoio pedagógico, alimentação e saúde dos estudantes, contemplarão as instituições e programas educacionais dos estabelecimentos penais”. As atividades laborais e artístico-culturais, segundo o art. 10, “deverão ser reconhecidas e valorizadas como elementos formativos integrados à oferta de educação, podendo ser contempladas no projeto político-pedagógico como atividades curriculares, desde que devidamente fundamentadas”, assim como compatíveis com as atividades educacionais. 58 Em relação aos profissionais que atuam nos estabelecimentos penais e de ensino, é assegurado o “acesso a programas de formação inicial e continuada que levem em consideração as especificidades da política de execução penal” cabendo ainda aos professores que os mesmos sejam “devidamente habilitados e com remuneração condizente com as especificidades da função”. Recomendando-se que haja um calendário unificado entre “educação não-formal, bem como de educação para o trabalho, inclusive na modalidade de Educação a Distância, conforme previsto em Resoluções deste Conselho sobre a EJA”. São ainda garantidas, no seu art. 12, “condições de acesso e permanência na Educação Superior (graduação e pós-graduação), a partir da participação em exames de estudantes que demandam esse nível de ensino, respeitadas as normas vigentes e as características e possibilidades dos regimes de cumprimento de pena previstas pela Lei n° 7.210/84”. O referido documento explicita que se restringe ao atendimento dos jovens e adultos que estão em situação de restrição e privação de liberdade no sistema prisional, neste sentido, é fundamental ressaltar que não pode ser utilizado como diretriz para o Sistema Socioeducativo. 59 9. Diretrizes Operacionais para a Educação de Jovens e Adultos nos aspectos relativos à duração dos cursos e idade mínima para ingresso nos cursos de EJA; idade mínima e certificação nos exames de EJA; e Educação de Jovens e Adultos desenvolvida por meio da Educação a Distância (Resolução CNE/CEB nº 3 de 2010) Quanto às Diretrizes Operacionais para a Educação de Jovens e Adultos, aprovadas em 2010 (Resolução CNE/CEB nº 03/2010), são instituídas diretrizes nos aspectos relativos à duração dos cursos; idade mínima para ingresso nos cursos e exames de EJA; certificação nos exames de EJA; Educação de Jovens e Adultos desenvolvida por meio da Educação a Distância (EAD) que, segundo o documento (art. 1º), deverão ser “obrigatoriamente observadas pelos sistemas de ensino, na oferta e na estrutura dos cursos e exames de Ensino Fundamental e Ensino Médio que se desenvolvem em instituições próprias integrantes dos Sistemas de Ensino Federal, Estaduais, Municipais e do Distrito Federal”. Em seu art. 2º, o documento defende que: “para o melhor desenvolvimento da EJA, cabe a institucionalização de um sistema educacional público de Educação Básica de jovens e adultos, como política pública de Estado e não apenas de governo, assumindo a gestão democrática, contemplando a diversidade de sujeitos aprendizes, proporcionando a conjugação de políticas públicas setoriais e fortalecendo 60 sua vocação como instrumento para a educação ao longo da vida”. Depois de muitas discussões, principalmente promovidas pelos Fóruns Estaduais de Educação de Jovens e Adultos em todo o país, sem consenso sobre a idade mínima para matrícula na EJA, a Resolução, levando em conta o disposto no artigo 4º, incisos I e VII, da LDB e a regra da prioridade para o atendimento da escolarização obrigatória, regulamenta, nos artigos 5º e 6º, como idade mínima 15 anos completos, para matrícula nos cursos de EJA e para a realização de exames de conclusão de EJA do Ensino Fundamental, e 18 anos completos, para matrícula em cursos de EJA de Ensino Médio e inscrição e realização de exames de conclusão de EJA do Ensino Médio. Levando em consideração o grande número de jovens na faixa etária de 15 anos ou mais com defasagem idade-série1 , principalmente tentando responder às questões emergentes no debate sobre a inserção indiscriminada deste público na EJA, o documento apresenta como encaminhamento para a política, em seu parágrafo único, além de “fazer a chamada ampliada de estudantes para o Ensino Fundamental em todas 1 A distorção idade-série significa a diferença entre a idade do aluno e a idade indicada para a série a qual ele está frequentando. O valor da distorção é calculado em anos e pode ser demonstrado quando o aluno está dois ou mais anos acima da idade prevista para ele na respectiva série. O cálculo da distorção idade-série é realizado a partir de dados coletados no Censo Escolar. Todas as informações de matrículas dos alunos são capturadas, inclusive a idade dos alunos. 61 as modalidades”, de se: “II - incentivar e apoiar as redes e sistemas de ensino a estabelecerem, de forma colaborativa, política própria para o atendimento dos estudantes adolescentes de 15 a 17 anos, garantindo a utilização de mecanismos específicos para esse tipo de alunado que considerem suas potencialidades, necessidades, expectativas em relação à vida, às culturas juvenis e ao mundo do trabalho, tal como prevê o artigo 37 da Lei nº 9.394/96, inclusive com programas de aceleração da aprendizagem, quando necessário; e III - incentivar a oferta de EJA nos períodos escolares diurno e noturno, com avaliação em processo”. Quanto à duração dos cursos presenciais, para os anos iniciais do Ensino Fundamental, segundo o documento, no art. 4º, “a duração deve ficar a critério dos sistemas de ensino. Já para os anos finais do Ensino Fundamental, a duração mínima deve ser de 1.600 horas. Para o Ensino Médio, a duração mínima deve ser de 1.200 horas”. Para a Educação Profissional Técnica de Nível Médio integrada com o Ensino Médio, em seu parágrafoúnico estabelece que: “reafirma-se a duração de 1.200 horas destinadas à educação geral, cumulativamente com a carga horária mínima para a respectiva habilitação profissional de Nível Médio, tal como estabelece a Resolução CNE/CEB nº 4/2005, e para o ProJovem, a duração estabelecida no Parecer CNE/CEB nº 37/2006”. 62 Quanto aos cursos de EJA desenvolvidos por meio da EAD, serão restritos ao segundo segmento do Ensino Fundamental e ao Ensino Médio e deverão seguir ao regulamentado nesta Resolução com relação à idade mínima para matrícula nos cursos e carga horária mínima. 10. Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica (Resolução CNE nº 4/2010) As Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica foram aprovadas pelo Conselho Nacional de Educação, em 2010, através da sua Resolução CNE/CEB 04 de 2010. Conforme o seu art. 4º, “as bases que dão sustentação ao projeto nacional de educação responsabilizam o poder público, a família, a sociedade e a escola pela garantia a todos os educandos de um ensino ministrado de acordo com os princípios de: I - igualdade de condições para o acesso, inclusão, permanência e sucesso na escola; II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber; III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas; IV - respeito à liberdade e aos direitos; V - coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; VI - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; VII - valorização do profissional da educação escolar; VIII - gestão democrática do ensino público, na forma da 63 legislação e das normas dos respectivos sistemas de ensino; IX - garantia de padrão de qualidade; X - valorização da experiência extraescolar; XI - vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais”. Sobre o acesso e permanência para a conquista da qualidade social, em seu art. 8º, afirma que “a garantia de padrão de qualidade, com pleno acesso, inclusão e permanência dos sujeitos das aprendizagens na escola e seu sucesso, com redução da evasão, da retenção e da distorção de idade/ano/série, resulta na qualidade social da educação, que é uma conquista coletiva de todos os sujeitos do processo educativo”. Conforme o seu art. 9º, “a escola de qualidade social adota como centralidade o estudante e a aprendizagem, o que pressupõe atendimento aos seguintes requisitos: I - revisão das referências conceituais quanto aos diferentes espaços e tempos educativos, abrangendo espaços sociais na escola e fora dela; II - consideração sobre a inclusão, a valorização das diferenças e o atendimento à pluralidade e à diversidade cultural, resgatando e respeitando as várias manifestações de cada comunidade; III - foco no projeto político-pedagógico, no gosto pela aprendizagem e na avaliação das aprendizagens como instrumento de contínua progressão dos estudantes; IV - inter-relação entre organização do currículo, do trabalho pedagógico e da jornada de trabalho do professor, tendo como objetivo a aprendizagem do estudante; V - preparação 64 dos profissionais da educação, gestores, professores, especialistas, técnicos, monitores e outros; VI - compatibilidade entre a proposta curricular e a infraestrutura entendida como espaço formativo dotado de efetiva disponibilidade de tempos para a sua utilização e acessibilidade; VII - integração dos profissionais da educação, dos estudantes, das famílias, dos agentes da comunidade interessados na educação; VIII - valorização dos profissionais da educação, com programa de formação continuada, critérios de acesso, permanência, remuneração compatível com a jornada de trabalho definida no projeto político-pedagógico; IX - realização de parceria com órgãos, tais como os de assistência social e desenvolvimento humano, cidadania, ciência e tecnologia, esporte, turismo, cultura e arte, saúde, meio ambiente”. Com relação à organização curricular (conceito, limites, possibilidades), a Resolução, em seu artigo 11, afirma que “a escola de Educação Básica é o espaço em que se ressignifica e se recria a cultura herdada, reconstruindo-se as identidades culturais, em que se aprende a valorizar as raízes próprias das diferentes regiões do País”. Essa concepção de escola, segundo o seu parágrafo único, “exige a superação do rito escolar, desde a construção do currículo até os critérios que orientam a organização do trabalho escolar em sua multidimensionalidade, privilegia trocas, acolhimento e aconchego, para 65 garantir o bem-estar de crianças, adolescentes, jovens e adultos, no relacionamento entre todas as pessoas”. Cabe aos sistemas educacionais, em geral, de acordo com o art. 12, “definir o programa de escolas de tempo parcial diurno (matutino ou vespertino), tempo parcial noturno, e tempo integral (turno e contra turno ou turno único com jornada escolar de 7 horas, no mínimo, durante todo o período letivo), tendo em vista a amplitude do papel socioeducativo atribuído ao conjunto orgânico da Educação Básica, o que requer outra organização e gestão do trabalho pedagógico”. Determina ainda que: “§ 1º deve-se ampliar a jornada escolar, em único ou diferentes espaços educativos, nos quais a permanência do estudante vincula-se tanto à quantidade e qualidade do tempo diário de escolarização quanto à diversidade de atividades de aprendizagens; § 2º a jornada em tempo integral com qualidade implica a necessidade da incorporação efetiva e orgânica, no currículo, de atividades e estudos pedagogicamente planejados e acompanhados; § 3º os cursos em tempo parcial noturno devem estabelecer metodologia adequada às idades, à maturidade e à experiência de aprendizagens, para atenderem aos jovens e adultos em escolarização no tempo regular ou na modalidade de Educação de Jovens e Adultos”. 66 Quanto às formas para a organização curricular, em seu art. 13, estabelece que “o currículo, assumindo como referência os princípios educacionais garantidos à educação, assegurados no artigo 4º desta Resolução, configura-se como o conjunto de valores e práticas que proporcionam a produção, a socialização de significados no espaço social e contribuem intensamente para a construção de identidades socioculturais dos educandos”. O currículo deve, ainda, segundo o § 1º, “difundir os valores fundamentais do interesse social, dos direitos e deveres dos cidadãos, do respeito ao bem comum e à ordem democrática, considerando as condições de escolaridade dos estudantes em cada estabelecimento, a orientação para o trabalho, a promoção de práticas educativas formais e não formais”. Na organização da proposta curricular, o § 2º diz que “deve- se assegurar o entendimento de currículo como experiências escolares que se desdobram em torno do conhecimento, permeadas pelas relações sociais, articulando vivências e saberes dos estudantes com os conhecimentos historicamente acumulados e contribuindo para construir as identidades dos educandos”. Já quanto à organização do percurso formativo, aberto e contextualizado, o § 3º indica que “deve ser construída em função das 67 peculiaridades do meio e das características, interesses e necessidades dos estudantes, incluindo não só os componentes curriculares centrais obrigatórios, previstos na legislação e nas normas educacionais, mas outros, também, de modo flexível e variável, conforme cada projeto escolar, e assegurando: I - concepção e organização do espaço curricular e físico que se imbriquem e alarguem, incluindo espaços, ambientes e equipamentos que não apenas as salas de aula da escola, mas, igualmente, os espaços de outras escolas e os socioculturais e esportivo- recreativos do entorno, da cidade e mesmo da região; II - ampliação e diversificação dos tempos e espaços curriculares que pressuponham profissionais da educação dispostos a inventar e
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