Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Convulsões CONCEITOS Crise: é qualquer evento agudo / súbito, de curta duração e transitório Convulsão: é a manifestação clínica de um período de função neuronal excessiva e anormal que se estabelece de forma súbita (paroxística) no córtex cerebral – disparos desordenados o Crise motora: atônica, tônica, clônica, tônico-clônica, mioclônicas o Crise não motora: ausência, autonômica e de comportamento Epilepsia: é uma doença caracterizada por convulsões recidivantes de origem intracraniana o Primária, idiopática, funcional e genética são sinônimos o Secundária / sintomática / estrutural o Criptogênica / desconhecida OUTROS EVENTOS EPISÓDICOS Crises não convulsivas Crise vestibular Síncope Nercolepsia / catalepsia (come e cai) Tremores Dor (cervical) Distúrbios comportamentais Fraqueza aguda (miastenia gravis) Distúrbio do sono CAUSAS EXTRACRANIANAS DE CONVULSÃO Intoxicações: estricnina, organofosforados, carbamatos, chumbo, micotoxinas Metabólicas: hipoglicemia, hipocalcemia, policitemia em gatos, encefalopatia hepática, encefalopatia urêmica, hipotireoidismo (pouco provável) CAUSAS INTRACRANIANAS DE CONVULSÃO Crises epilépticas Primária/ idiopática/ funcional/ genética Secundária/ sintomática/ estrutural: doença intracraniana, progressiva ou não (lidera em gatos) Criptogênica/ desconhecida: provavelmente sintomática, mas suspeita de afecção intracraniana ainda não foi confirmada CAUSAS PRIMÁRIAS Distúrbio cerebral funcional Hereditário em várias raças (Pastor Alemão, Golden, Husky, Border Collie, Labrador, Beagle, Poodle, Dachshund, Collie, Shelties) Início entre 1 e 5 anos Generalizadas (eventualmente, focais generalizadas) Exame neurológico normal interictus (atenção ao momento, pelo menos 48h depois da crise) Exames complementares normais Responde bem ao fenobarbital ou ao KBr CLASSIFICAÇÃO DAS CRISES CONVULSIVAS Pela sintomatologia Generalizadas: epilepsia primária e distúrbios tóxicos e metabólicos o Em geral tônico e/ou clônicas (contração + movimentos involuntários), mas pode ser crises de ausência (desafio pois é muito parecida com a síncope) o Envolvimento simultâneo de ambos os hemisférios cerebrais (em geral, com porda de consciência – exceto mioclônica) o Ictus < 2 minutos (sem aura) o Pode ter sinais autonômicos (salivação, defecação, micção) Parciais (manifestação) / focais (descarga): anormalidade estrutural intracraniana o Em geral, contrações rítmicas dos músculos da face, lateralizadas ou regionais, com ou sem inconsciência (simples ou complexas/ psicomotoras) e com aura o Anormalidade focal de região cortical o Doração variável o Motoras: espasmos faciais, movimentos repetitivos de cabeça, piscar ritmamente, contrações repetitivas de extremidade o Autonômicas: dilatação pupilar, hipersalivação, vômito o Comportamental: agitação, ansiedade, medo sem causa Focal com generalização: epilepsia primária ou anormalidade estrutural intracraniana o Se foco for em área motora, será visível (se autonômica ou comportamental pode passar a fase focal sem que seja notada) o Evolução pode ser rápida o Com aura o Pode ter sinais autonômicos ABORDAGEM DIAGNÓSTICA O que o paciente tem é realmente uma convulsão? o Anamnese detalhada (o que viu? Antesm durante e depois. Além da crise, viu algo anormal? Quando e como foi vacinado? Como é o ambiente (infecção, agentes tóxicos)? Que doenças e problemas já teve? Histórico de pais e irmãos?) o Vídeo o Eletroencefalograma seria ideal Se sim, qual a causa? o Excluir causas extracranianas (identificação, anamnese, exame físico e oftálmico (musculoesquelético, cardiovascular, respiratório, gastrointestinal, fundo de olho), hemograma, bioquímico) o Buscar causas intracranianas: exame neurológico (interictal após 48 horas – déficits podem durar 2 semanas; atenção a estado mental, resposta à ameaça, sensibilidade nasal, reações posturais; exame normal não descarta alterações; assimetria sugere estrutural), LCR, RM TRATAMENTO Responsável deve entender frequência, sedação inicial, necessidade de exames e perspepctiva de ser para a vida toda Objetivo da terapia o Reduzir frequência das crises (1/3 é sucesso terapêutico) o Reduzir intensidade das crises Quando tratar o Duas crises em intervalo menor do que 6 a 8 meses o Cães com duas ou mais crises em menos de 24 horas (cluster) o Cães com epilepsia primária com menos de 2 anos Fármacos com eficácia comprovada para cães o Fenobarbital o Brometo de potássio ou de sódio o Gabapentina o Clonazepam o Levetiracetam o Zonisamida (não tem no Brasil) o Farmacocinética inadequada: carbamazepina, ácido valpróico, difenilhidantoína, diazepam Evitar KBr em gatos (optar por diazepam ou gabapentina) podem ter uma insuficiência respiratória aguda com o KBr FENOBARBITAL Não existe controle sem monitorar níveis séricos Terapia de escolha (85% erradicação) 2,5 mg/kg/BID (cães e gatos) (dobrar dose em filhotes – metabolismo imaturo) Metabolização hepática e excreção renal Concentração sérica ideal entre 20 e 35 µg/mL (demora duas semanas para estabilizar) Vantagens o Eficaz, seguro, barato, BID o Oral, IM, IV Desvantagens o Sedação, PU / PD o Dependência (desmamar) o Tolerância farmacodinâmica o Hepatotoxicidade (controlar ALT e FA) o Supressão medular (3 a 5 meses) o Hiperexcitabilidade (Pastor Alemão) o Monitorar hemograma por 6 meses e manter de bioquímico BROMETO DE POTÁSSIO (KBr) Terapia incial (52% erradicação) ou associado 30 a 60 mg/kg/SID/VO (ideal 40) Dose de ataque BID de 40 mg/kg por 15 dias Concentração sérica ideal: 20 a 32 mmol/L (demora 60 a 120 dias para estabilizar) Vantagens o Eficaz, barato, seguro, SID o Excreção renal (não hepatotóxico) Desvantagens o Sedação, PU, diarreia o Ataxia de membros pélvicos e alterações comportamentais o Cuidado com nefropatias o Manipular (VO, IV e retal) o Sal (NaCl) da dieta interfere o Meia vida longa (15 a 25 dias) o Sensibilidade individual (impossível prever concentração sérica) Falha na terapia Monitorar níveis séricos Checar medicação e dosagem Checar adesão do responsável Tolerância farmacodinâmica Doença progressiva TERCEIRA OPÇÃO Eficácia entre 50% e 65% entre os refratários Levetiracetam (20 mg/kg/TID) Zonisamida (5 a 10 mg/kg/BID) Gabapentina (10 a 30 mg/kg/TID) Topiramato (2 a 5 mg/kg/BID) STATUS EPILEPTICUS Crise convulsiva com duração de mais de 5 minutos Sequência de eventos com duração de 30 minutos ou mais, sem recuperação da consciência normal nesse período CLUSTER Duas ou mais crises convulsivas em menos de 24h horas Objetivos do tratamento na emergência Manter vivo Cessar as convulsões (descartar causa metabólica) Proteger o encéfalo de mais danos Permitir plena recuperação do estado de status epileticus Identificar a etiologia Chegou convulsionando Fazer diazepam 0,5 a 2 mg/kg Se o animal já usa fenobarbital usar uma dose mais alta (começar com 1mg) 3 vezes com intervalos curtos de 3 minutos até somar 20 mg total Efeito dura por até 3 horas Midazolam 0,06 a 0,3 mg/kg: (não se faz IM, SC e IR) Lorazepam: não é lipídico (aumenta mais lentamente no LCR – dificuldade de atravessar a barreira hematoencefálica), não tem injetável no Brasil Não parou de convulsionar (ou voltou) Fenobarbital (ação em 15 a 30 minutos): efeito continuado pós diazepam. Há protocolo com 6 mg/kg IV + 6 mg/kg IM. Máximo 24 mg/kg/dia Diazepam em IC 0,5 mg/kg/h diluída em glicose 0,5% ou NaCl 0,9%. Se não tiver bomba fazer bolus de 0,5 mg/kg a cada 20 minutos por 4x (melhor encaminhar!) Se parou na IC começar a reduzir a dose do diazepam em 50% a cada 12 horas (e, depois a cada 6 horas). Pode reavaliar em 30 minutos depois do desmame, mas depois do fenobarbital é indicado aguardar cerca de 48 horas para reavaliar Não parou de convulsionar? Refratário! Checar a dose, sinais de alteração metabólica, neoplasia intracraniana, encefalite bacteriana Induzir com propofol: manter por 6 horas e desmamar. Considerar risco de depressão respiratória e miocárdica. Máximo 24 mg/kg por dia Tiopental 30 a 70 mcg/kg/min IC: causa muita arritmia, aumenta a mortalidade Anestesia inalatória Estabilização sistêmica A (airwais) o Garantir patência B (breathing) o Intubar, se necessário (quando cessarem convulsões) o Sempre oferecer O2 100% (FI 50%) C (circulation) o Solução salina (10 mL/kg/h) por 15 min o Vai lavar brometo (se o animal já fizer terapia), mas viabiliza infusão de diazepam o Acompanhar pressão, TPC, DU, lactato Temperatura o Evitar rabdomiólise e IRA (fibras musculares mortas sobrecarregam os rins causando IRA) o Reduzir acima de 40° para 38,5° (lento) Diagnóstico / tratamento Hemogasometria arterial: espera-se acidose metabólica; respiratória deve ser corrigida Eletrólitos Glicemia o Hipoglicemia (500 mg/kg/IV – diluído a 25% em 15 minutos ou oral) o Tiamina / B1 (25 a 50 mg/animal IM ou 2 mg/kg/IV) o Hiperglicemia (monitorar efeitos de fluido após convulsões cessarem) Hemograma / bioquímico: podem ser afetados pela convulsão e devem ser repetidos após 48 horas Urinálise: descarta mioglobinúria e monitorar débito urinário Eletrocardiograma: arritmia pode ocorrer até 72 horas depois por danos ao miocárdio PAS: manter normotenso Protocolos controversos Manitol o 1 mg/kg/IV por 15 minutos o Faz uma dose até entender o que está acontecendo Dexametasona o Ideal é não usar corticoide, mas em algumas doenças de base exigem por efeito anti-inflamatório e redução de edema o LCR segue alterado suficiente o 0,25 mg/kg/IV Identificação / anamnese Quando o episódio começou? Já havia convulsionado? Já havia tido SE ou cluster? Algum problema de saúde nos últimos meses? Alguma mudança de comportamento nos últimos meses? Toma anticonvulsivantes (frequência, dose e última administração)? Há quanto tempo toma anticonvulsivantes? Faz dosagem sérica? Quando? Quanto? Houve trauma, viagem, exposição a toxina? Comeu nas últimas horas?
Compartilhar