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UNIDADE III TÓPICOS INTEGRADORES - PEDAGOGIA 2 Sumário Para início de converSa .................................................................................................3 1. a GeSTÃo eScoLar na PerSPecTiva da GeSTÃo democráTica .......................5 2. o ProJeTo PoLíTico-PedaGÓGico como um inSTrumenTo de LeGiTimidade da GeSTÃo democráTica ..................................................................................................9 3. aLGumaS QueSTÕeS Que PreciSam Ser conSideradaS Para a eFeTivaÇÃo da GeSTÃo democráTica .................................................................................................12 3 TÓPicoS inTeGradoreS ii unidade 3 Para início de converSa Olá, querido(a) estudante! Como vai você? Nesta unidade vamos conversar sobre a gestão democrática e os instrumentos necessários para a sua efetivação. É a organização da escola a partir da gestão democrática que favorece o clima de participação, autonomia, criatividade e aprendizagem. Mas, embora vivamos num país democrático, reconhecemos que há muito que se fazer para alcançar a democracia plenamente, pois ainda vivemos na sombra de uma história de comandos autoritários que incide na nossa forma de ser gestor e também professor. Logo, criar na escola espaços de diálogo, de participação, de condições para que todos se sintam acolhidos não é uma questão tão simples como parece. Entretanto, torna-se urgente nos posicionarmos diante do mundo assumindo qual o projeto de sociedade que defendemos, a partir da defesa de que a educação constitui-se como prática na qual os envolvidos buscam a apreensão da realidade pela consciência crítica, visando à transformação social, assumindo-a como possibilidade e não como determinação. Guiado por esta premissa reafirmamos que há um caminho a trilhar na busca de uma gestão democrática como ferramenta para auxiliar no exercício possível de participação, onde todos os sujeitos constituintes da escola estabeleçam com êxito a sua cidadania, relacionando-se melhor com as instâncias de poder da escola, expressando suas ideias e anseios. 4 orienTaÇÕeS da diSciPLina Diante do exposto, este Guia III da disciplina tópicos Integradores II pretende lhe conduzir para que você compreenda a importância da gestão democrática e os mecanismos para a sua legitimação na escola pública. Assim, este guia está organizado em quatro seções: 1 - A GESTÃO ESCOLAR NA PERSPECTIVA DA GESTÃO DEMOCRÁTICA – Neste primeiro item reconhecemos o Estado brasileiro como Estado Democrático de Direito. Nessa perspectiva, explicitamos que a gestão das escolas públicas também devem assumir o contorno de gestão democrática, fato legitimado por vários documentos legais. Dessa maneira, destacamos alguns órgãos colegiados que podem atuar como mecanismos de construção dessa gestão democrática. 2 - O PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO COMO UM INSTRUMENTO DE LEGITIMIDADE DA GESTÃO DEMOCRÁTICA – Elucidamos o que é o Projeto Político Pedagógico-PPP, bem como, pode ser realizado a sua construção. Valorizamos a participação como um elemento fundamental na sua construção. 3 - ALGUMAS QUESTÕES QUE PRECISAM SER CONSIDERADAS PARA A EFETIVAÇÃO DA GESTÃO DEMOCRÁTICA – Ressaltamos algumas temáticas contemporâneas que precisam compor o projeto de uma escola democrática, entre eles destacamos: a educação inclusiva, a educação sexual, as relações étnico-raciais e o combate ao bullying. 4 - CONCLUSÃO – Destacamos os pontos importantes apresentados ao longo do guia. 5 1. a GeSTÃo eScoLar na PerSPecTiva da GeSTÃo democráTica Guarde eSSa ideia! Prezado(a) aluno(a), na atualidade, compreendemos que a melhoria da qualidade de vida de todos nós, o desenvolvimento da população e a consolidação do nosso país numa sociedade proativa tem entre outros fatores, o investimento no campo educacional. Esse salto qualitativo está relacionado não apenas a mudanças nas práticas pedagógicas, mas na concepção de que é preciso promover o desenvolvimento do potencial humano e de competências caracterizado em um processo de aprender a aprender, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser. À luz desse entendimento, destaca-se que essas mudanças que ultrapassam as questões de currículo, métodos, equipamentos, bem como, de recursos materiais e financeiros. Para além desses aspectos, elas demandam uma nova forma de relacionamento entre as escolas e a comunidade em que ela está inserida, reconhecendo a cultura dos estudantes e a importância da sua valorização no cotidiano escolar. Essas mudanças também solicitam a participação de todos/as de forma consciente, efetiva, comprometida e responsável, ajudando a construir novas perspectivas que se efetivam através de práticas que visam a construção de novas realidades sociais, culturais, históricas e curriculares e visam contribuir para a formação de uma sociedade mais justa e democrática. Nesse cenário, a gestão educacional também precisa ser assumida a partir de novas concepções. Agora vamos conversar sobre alguns aspectos da gestão escolar? Então, iniciamos esta conversa, retomando o conceito de administração. De acordo com Paro (2012), a administração é o uso racional de recursos para a realização de determinados fins, condição necessária da vida humana. Ela sempre existiu permeando as mais diversas formas de organização social, especialmente na organização escolar, cujos fins precisam estar articulados, cada vez mais, aos movimentos de transformação social em seu sentido amplo. De acordo com Heloísa Lück (2011) a administração escolar é vista como um processo racional, linear e fragmentado de organização e de influência estabelecida de cima para baixo e de fora para dentro das unidades de ação, bem como do emprego de pessoas e de recursos de forma mecanicista e utilitarista, para que os objetivos institucionais sejam realizados. Dessa maneira, o ato de administrar corresponderia a comandar e controlar, mediante uma visão objetiva, tendo por base a previsibilidade do ambiente de trabalho e do comportamento humano, os conflitos seriam vistos como disfunções; o sucesso, como algo que uma vez alcançado será permanente; a falta de recursos, como impedimento para o andamento das ações. Assim, poderíamos congelar as formas de proceder e importar modelos que deram certo em outras realidades para obter êxito. Nessa concepção, os sujeitos são passivos e aceitam as determinações, o dirigente é a maior autoridade, cabendo-lhe o papel da tomada de decisões. 6 Meu(inha) caro(a), as limitações que a teoria da administração apresenta impõe aos administradores educacionais a retomada da especificidade da administração vinculada à natureza da educação, dando- lhe condições para superar o autoritarismo, que tem como características a ausência da participação dos sujeitos educativos nas decisões de seus objetivos e de suas realizações. Esta mudança, que Heloísa Lück (2011) chama de paradigmática, na perspectiva da administração escolar está associada ao processo de redemocratização que definiu novos contornos na relação com a sociedade. Dessa maneira, ela utiliza o termo gestão para visibilizar as necessárias mudanças na concepção dos/as gestores educacionais no contexto democrático. você Sabia? Você sabia que no artigo 1º, a nossa Constituição Federal, estabeleceu que o Brasil se constitui como um Estado Democrático de Direito? Pois é, Estado Democrático, por sua vez, tem conotação política e está intimamente ligado à participação do povo, isto é, de todos os cidadãos no governo, sem exclusões. É ainda a nossa constituição que no artigo 205 afirma que a educação é direito de todos e visa ao preparo da pessoa para o exercício da cidadania e que no artigo 206 ressalta os princípios que devem orientar o ensino e destaca, entre eles, a gestão democrática do ensino público. A Lei 9394/96 que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) dispõe em seu artigo 14que os sistemas de ensino definirão as normas de gestão democrática do ensino público de acordo com suas peculiaridades e conforme os princípios da participação dos profissionais da escola na elaboração do projeto pedagógico da escola e a participação da comunidade escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes. O Plano Nacional de Educação – 2014/2024, apresenta no Art. 2º, inciso VI, como uma de suas diretrizes a promoção do princípio da gestão democrática da educação pública. Mas, para além do que propõe as leis brasileiras, a mudança de concepções implica na mudança de cultura. De acordo com Lück (2011) esta mudança de paradigma na perspectiva da administração exige que avancemos da ótica fragmentada para a ótica da visão de conjunto; da limitação de responsabilidade para a sua expansão; da centralização da autoridade para a sua descentralização; da ação episódica por eventos para o processo dinâmico, contínuo e global; da burocratização e hierarquização para a coordenação e horizontalização; e, por fim, da ação individual para a ação coletiva. Assim, a gestão, como conceito relativamente novo, estabeleceu-se para superar o conceito de administração, mas não para substituí-lo, estando associado não apenas a uma mudança de termo, mas há uma mudança de paradigma, uma vez que resulta de um novo entendimento a respeito da condução dos destinos das organizações, que leva em consideração a relação do todo com as suas partes e destas entre si, de modo a promover mais efetividade do conjunto. ??? 7 Meu(inha) caro(a), o termo Gestão educacional ganhou grande ênfase nos debates acadêmicos, sobretudo, a partir de meados da década de 1990 quando o Conselho Nacional de Secretários de Educação - CONSED estabeleceu e mantém como uma de suas políticas prioritárias a gestão educacional. Entretanto, encontramos autores como Vitor Paro (2012) que utiliza os termos administração escolar e gestão escolar como sinônimos, para expressar a ideia de administração comprometida com a transformação social. O termo Gestão significa, etimologicamente, fazer brotar, germinar, fazer nascer. A palavra Gestão origina- se do latim gestio, cujo significado representa “ato de administrar, de gerenciar”. Gestão relaciona-se com a tomada de decisões, a organização, a direção, podendo ser compreendida a ação de impulsionar uma organização a atingir seus objetivos, cumprir as suas responsabilidades. O termo Gestão escolar se sustenta na perspectiva da superação das limitações da administração, do autoritarismo e da centralidade das ações, correspondendo na atualidade, a dinâmica de gerir o sistema de ensino como um todo e de coordenação das escolas em específico, em sintonia com as variadas diretrizes curriculares nacionais e as políticas educacionais públicas. Nesse contexto, a compreensão da evolução da perspectiva da administração para o da gestão, parte da superação do isolamento das partes para uma visão sistêmica da educação, o que demanda a necessidade de ações articuladas, interativas e que consideram a dimensão processual, bem como, uma percepção dinâmica, concreta e substantiva da realidade. Entretanto, assumir a perspectiva da gestão democrática solicita o envolvimento de todos no planejamento, execução, avaliação e recondução das atividades. Tais elementos, conectam-se para o estabelecimento de uma cultura da responsabilização coletiva das ações. A gestão educacional ultrapassa as formas burocráticas e técnicas que incidiram sobre a forma de administrar a escola, em desprezar esses artifícios como instrumentos. Nesse novo cenário, o gestor escolar é cada vez mais obrigado a considerar a evolução da ideia de democracia, que conduz o conjunto de professores, e mesmo os agentes locais, a maior participação, a maior implicação nas tomadas de decisão. Essa exigência está atrelada também a interação entre as dimensões política e pedagógica, na condução dos destinos e ações das organizações educacionais. Embora vivamos num país democrático, reconhecemos que há muito que se fazer para alcançar a democracia plenamente, uma vez que esse nosso passado autoritário repercute nas nossas práticas até hoje, assim abrir-se para uma gestão democrática não é tarefa fácil, asim como, pressupor que todos estão predispostos para participar ativamente da gestão também não é verdade. O que presenciamos, em alguns espaços, são participações não efetivas da comunidade, que só existem nos documentos formais e centradas na figura do gestor. Meu(inha) caro(a), a gestão democrática e participativa no âmbito escolar constitui-se numa prática que deve priorizar o desenvolvimento integrado de todos os agentes envolvidos no processo pedagógico. Se- gundo Paro (2012), o homem só se faz sujeito quando participa, produzindo uma ação e respondendo por ela. Logo, precisamos oportunizar que na escola os diferentes atores tornem-se protagonistas, através da sua participação. Para Libâneo (2004, p. 87), a participação é o principal meio de assegurar a gestão democrática, possibilitando o envolvimento de todos os integrantes da escola no processo de tomada de decisões e no funcionamento da organização escolar. Dessa maneira, a participação proporciona aos agentes da 8 escola, o profundo conhecimento dos seus objetivos e também das metas da escola e da aprendizagem, de sua estrutura e dinâmica administrativa, pedagógica e financeira. Ao criar e fomentar estratégias de participação da comunidade, a gestão propicia um clima favorável ao sentimento de pertença, proporcionando maior aproximação entre professores, alunos, pais e funcionários. Nas empresas buscam- se resultados por meio da participação. Luck (2011, p. 66) compreende a participação como uma forma de intervenção dos profissionais da educação e dos seus usuários, ou seja, os estudantes e suas famílias, na gestão da escola. Para ela há dois sentidos de participação articulados entre si: um de caráter mais interno que funciona como uma estratégia para a autonomia da escola, dos seus professores e dos seus estudantes, o que constitui os elementos pedagógicos, curriculares e organizacionais da escola; e a participação de abordagem mais externa, que se apresenta através do processo de tomada de decisões compartilhada entre os profissionais da escola, os estudantes e os pais. Guarde eSSa ideia! Para que a participação realmente se efetive, torna-se necessário criar órgãos de gestão que por um lado garantam a representatividade e por outro a continuidade, por consequência, a legitimidade. O Conselho Escolar, o Conselho de Classe, a Associação de Pais e Mestres, o Grêmio Estudantil são formas colegiadas de participação que devem ser organizados pelo coletivo da escola com a representatividade necessária à tomada de decisões democráticas, porém, assegurando a direção estabelecida no Projeto Político Pedagógico que foi construído coletivamente e que será instrumento condutor da política educacional em ação na escola. Esses órgãos colegiados ao se inserirem na escola trazem benefícios pedagógicos, financeiros e administrativos, enriquecendo a tomada de decisões e assegurando os princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência da gestão pública. você Sabia? Você sabia que o Conselho escolar é o órgão colegiado que se responsabiliza pelo estudo e também planejamento, por debater e decidir, controlar e avaliar as ações concernentes ao cotidiano da escola? Pois é, essas ações se referem ao âmbito pedagógico, administrativo e financeiro. Dessa maneira, na dimensão pedagógica atuam no acompanhamento dos estudantes, nos programas e projetos desenvolvidos na escola. No administrativo e financeiro, apontando como os gastos das verbas destinadas pelos âmbitos municipais, estaduais e/ou federai devem ser utilizadas. Entretanto, muitos associam a função do Conselho escolar apenas a fiscalização e controle, sem reconhecer que suas funções extrapolam essa dimensão. Ele é constituídopor todos os segmentos da comunidade escolar: estudantes, pais, professores, gestão, equipe pedagógica e funcionários. Podendo ainda compor o grupo representante do grêmio estudantil e dos movimentos sociais organizados da comunidade. ??? 9 Meu(inha) caro(a), outro órgão colegiado é o Conselho de Classe que tem como função detectar os problemas relacionados com os estudantes e as turmas e buscar a sua resolução, para que os educadores em tempo hábil possam ofertar aos alunos formas diferenciadas de se apropriarem dos conteúdos ofertados. Em geral, as reuniões acontecem nos finais dos bimestres, trimestres e/ou semestre tendo como principal ponto de pauta as notas e os comportamentos apresentados pelos estudantes. Entretanto, é importante avançar nessa discussão ampliando-a para a discussão da prática pedagógica, discutindo o processo de ensino-aprendizagem, enxergando o estudante de forma integral, e não apenas as suas fragilidades. Já o Grêmio é um grupo que representa os interesses dos estudantes. Ele tem como função favorecer a participação dos estudantes nas atividades propostas e vivenciadas na escola, organizando atividades recreativas, esportivas, culturais e pedagógicas. O intuito é potencializar o protagonismo estudantil para que juntamente com outros membros da comunidade escolar eles possam participar dos rumos da escola. Logo, o Grêmio estudantil é um ambiente de construção de cidadania, respeito, solidariedade, parcerias, convivência, divisão de responsabilidade, lutas por uma escola e sociedade mais justa, plural e humana. É através das condições necessárias para que esses órgãos atuem verdadeiramente na escola, ajudando a construir as suas diretrizes e vivências democráticas que a gestão da escola pública vai se constituindo democrática, considerando a importância de que todos têm espaço, vez e voz. Até agora, querido(a) aluno(a), alguma dúvida? Precisa de auxílio para tirar alguma dúvida? Sinalize o seu tutor, ele vai te ajudar no que for preciso. 2. o ProJeTo PoLíTico-PedaGÓGico como um inSTrumenTo de LeGiTimidade da GeSTÃo democráTica Aluno(a), organizar o planejamento educacional e, em especial, o planejamento almejando a construção do projeto político-pedagógico da escola é, exercitar o processo democrático, ou seja, a capacidade de coletivamente tomar decisões. Assim, reconhecemos o projeto político-pedagógico de uma escola como um instrumento teórico-metodológico, que orienta as relações da escola com a comunidade a quem vai atender. Ele também evidencia o que se vai fazer na escola, porque se vai fazer, para que se vai fazer, para quem se vai fazer e como se vai fazer. Através dele são estabelecidos os elos entre as políticas educacional nacionais, estaduais, municipais e a escola. Essa articulação é visualizada através da definição dos princípios, dos objetivos educacionais, do método de ação e das práticas que serão adotadas para favorecer o processo de desenvolvimento e de aprendizagem dos estudantes. Logo, a sua construção exige a reflexão, a proposição de ações e a participação coletiva-professores, funcionários, pais e alunos, num processo coletivo de construção. 10 veJa o vídeo! Para compreender a importância do Projeto Político-Pedagógi- co na dinâmica da escola, assista ao vídeo “Roda de Conversa - Tema: Projeto Político-Pedagógico - Parte 1” com a professo- ra Ilma Passos, pós-doutora em educação. O vídeo tem 17’05’’ e está disponível em LINK Nesse sentido, precisamos considerar que a elaboração do Projeto Político - Pedagógico (PPP) necessita se consolidar como um processo democrático onde prevalece a participação. Sua relevância está na vivacidade da prática pedagógica e no envolvimento dos educadores, estudantes, pais, funcionário, gestão, enfim, da comunidade escolar para vivenciá-lo. Logo, o PPP precisa apresentar clareza, ser socializado amplamente com a comunidade, bem como, ser exequível, considerando a necessidade de constante avaliação e atualização. reFLiTa! Você já participou da elaboração de um Projeto Político-Pedagógico? Já leu algum? É muito comum ao solicitarmos o PPP de alguma escola, escutarmos a resposta de que ele está em elaboração ou ainda que ele não está disponível. É urgente repensar esse importante instrumento para a democratização da escola. De acordo com a orientação do MEC (2004) no livro “Educação inclusiva”, Volume 3, organizado por Maria Salete Fábio Aranha, a composição do PPP apresenta várias etapas que devem ser iniciados pelas reflexões filosóficas e sociopolíticas. Assim, cabem as questões: O que entendemos por Educação? O que a comunidade espera da escola? Qual o papel e a função da escola na formação do cidadão? Qual o contexto político, econômico e social em que está inserida essa escola? Como é a relação dessa comunidade com a escola? Como tem sido a participação da comunidade no cotidiano escolar? Como ampliar essa relação? Essas proposições tem o intuito de ajudar a comunidade a compreender o papel da escola e os seus objetivos para que PPP seja construído. A partir dessas reflexões iniciais a gestão juntamente com a comunidade pode propor: Que cidadãos queremos formar? Para que tipo de sociedade? Para que tipo de comunidade? Definindo assim, a missão da escola. Após esta definição, outras questões são importantes para serem discutidas, tais como: Que ações a escola precisa desenvolver para cumprir a missão a que ela está se propondo? Como a gestão precisa se organizar para dar conta dessa missão? E, os professores, o que precisam mudar na sua prática? Qual o perfil do profissional para esta escola? De quais propostas de formação continuada necessitamos? Quais as expectativas da comunidade escolar no que se refere ao trabalho da escola? Após essas primeiras questões norteadoras, é necessário fazer o diagnóstico da escola, ou seja, olhar 11 para a realidade da escola. Essa é uma ação primordial para que se possa compreender a distância entre o que somos e o que queremos ser, ou seja, o que precisamos fazer para construir a escola que almejamos. Nesse sentido, algumas questões parecem pertinentes, tais como: De que maneira a escola está organizada? Nossas práticas de gestão favorecem o processo democrático? Como organizamos nossas práticas cotidianas? Essas práticas caminham no sentido de uma escola para todos/as? Respeitamos a diversidade e a diferença trazida pelos estudantes e professores? Como organizamos nossos planos de ensino? Eles contemplam a necessidade de todos/as estudantes? Planejamos articulados ou de forma fragmentada? Nos organizamos de maneira disciplinar ou interdisciplinar? Como lidamos com as dificuldades de aprendizagem? Como é o trabalho da coordenação pedagógica? E, a formação continuada e em serviço, ela acontece? Como avaliamos? Que profissionais temos? Esse é um momento importante para refletir e descrever a realidade, bem como, a organização da prática pedagógica. Cumprido esta etapa, a próxima ação da elaboração do PPP é definir o que necessita ser organizado para transformar a realidade que temos na realidade almejada, ou seja, é a hora de planejar os aspectos sociopolíticos, administrativos e didático-pedagógicos que contribuirão para minimizar a distância entre a escola que temos e a que queremos. As construções resultantes dessas reflexões precisam ser registradas formalmente para orientar a organização da escola. O PPP pode ser organizado a partir do seguinte roteiro: • Apresentação ou introdução; • Identificação do estabelecimento; • Histórico da unidade escolar e a sua relação com a comunidade; • Eixos norteadores da escola; • Marco referencial; • Princípios, as teorias de aprendizagem e os princípios do sistema de avaliação; • Diagnóstico da realidade da escola; • Programação de proposta de ação para efetivar as práticas; • Proposta Curricular; • Matriz curricular; • Marcos de Aprendizagem; • Projetos especiais; • Anexos. LeiTura comPLemenTar Para saber mais sobre essaquestão leia o capítulo 1 do livro “Planejamento dialógico: como construir o projeto político-pedagógico da escola”. São Paulo: Cortez; Instituto Paulo Freire, 2001 de Paulo Roberto Padilha. Ele está disponível em LINK 12 A participação influencia na democratização da gestão e na melhoria da qualidade do ensino, assim todos os segmentos da comunidade devem participar, para que assim possam compreender melhor o funcionamento da escola, para acompanhar melhor a educação ali oferecida. O Projeto Político- Pedagógico deve ser um instrumento democrático que deve expressar os valores da escola, nos seus aspectos administrativos, pedagógicos e curriculares. A equipe gestora deve organizar-se para entrar em sintonia com os documentos que representam e fomentam o sentido democrático, bem como, para criar estratégias de escuta de toda a comunidade escolar. 3. aLGumaS QueSTÕeS Que PreciSam Ser conSideradaS Para a eFeTivaÇÃo da GeSTÃo democráTica Prezado(a) estudante, a educação como direito de todos precisa também assegurar que as diferenças sejam visibilizadas. Nesse contexto, o projeto de uma escola democrática precisa comprometer-se com as questões da Educação em Direitos Humanos. Nesse contexto, destacamos algumas temáticas que precisam fazer parte do PPP da escola, bem como, dos projetos escolares. Orientada por esse princípio da Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) a escola deve incluir através das suas práticas pedagógicas uma Educação pautada em/para os direitos humanos visando à construção de uma sociedade mais justa e digna, que incorpora como um dos seus princípios o direito à diferença, bem como, almeja igualdade de tratamento para todos. A educação é uma das ferramentas para a mudança social, pois desde cedo pode proporcionar às crianças o contato com as diferenças, numa perspectiva de valorização, respeito, compreendendo-a como algo positivo e enriquecedor para todo/as. Assim, ela deve formar para vida em sociedade e não apenas passar e repassar conteúdos e formas estereotipadas de ver o outro, de ver o mundo. Guarde eSSa ideia! No que se refere à discussão étnico-racial, devemos exigir o cumprimento da Lei nº 11.645/08 que altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN - Lei nº 9.394/96) torna obrigatória a inclusão das temáticas “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena” nas instituições públicas e privadas de ensino. Esse dispositivo legal garante as populações negras o direito de ver sua história narrada nas salas de aula de todo país, possibilitando às novas gerações a oportunidade de conhecer a luta, o sofrimento, a importância e a participação dos negros na história da sociedade brasileira e africana. Mas, é preciso ressaltar que para a lei ser cumprida se faz necessário que a sociedade, a escola, a família e o professor desenvolvam atividades que possibilitem a validação dessa lei. 13 Cotidianamente o aluno se depara na escola com situações sociais em que a diversidade se faz presente, contribuindo de alguma forma na construção de sua identidade. Na escola, que precisa se tornar um espaço cada dia mais plural, justo e humanos, ele/a ainda se dá conta das desigualdades sociais, culturais e raciais que o cerca. Logo, para se construir uma pedagogia pautada na diversidade e na diferença é fundamental que a gestão, o educador e os educandos conheçam, respeitem e procurem desenvolver práticas para lidar com a pluralidade. É mais precisamente na escola que o novo e o diferente são vistos com um olhar que muitas vezes demonstra toda crueldade que a intolerância e o preconceito trazem para o desconhecido. Nesse ensejo, salientamos que a escola exerce um papel fundamental para o desenvolvimento do processo de construção da identidade das crianças, em especial, as negras, e por isso deve-lhes proporcionar um ambiente favorável e acolhedor para a cultura afrodescendente, buscando valorizar e respeitar as diferenças. Outra questão é a Educação Sexual que está diretamente ligada com formação dos professores, suas próprias visões de mundo e formas de ser e viver a sexualidade. Logo, é fundamental abandonar-se nessa viagem, que é educar para a diferença, considerando as várias formas de viver a sexualidade, as inquietações dos educandos, com uma visão construtiva, emancipatória e de valorização do outro, escutando e acolhendo as dúvidas, opiniões e orientação sexuais de cada um e, principalmente, tornando a escola um espaço de acolhimento e celebração das diferenças e não de rechaçamento das mesmas. Outra questão primordial que precisa compor o projeto da gestão democrática é o compromisso com o combate ao bullying. O termo “bullying” de origem inglesa é oriundo do verbo to bully, podendo ser compreendido como uma ação consciente, bem como, deliberada de maltratar uma pessoa e colocá-la sobre forte tensão. Assim, o verbo é acompanhado da terminação “ing”, que representa a prática de um autor ou intimidador. Nesse contexto, não podemos compreender o bullying como um fato comum da infância ou da adolescência, nem tampouco mera brincadeira de amigos. O bullying pode ser compreendido como um conjunto de comportamentos agressivos, intencionais e repetitivos, adotado por um ou mais alunos contra outro(s), sem motivação evidente, causando dor, angústia e sofrimento e executadas dentro de uma relação de poder, tornando possível a intimidação da vítima. Caro(a) estudante, reconhecendo a escola como um espaço de valorização de todos, não podemos acatar ou desconsiderar os episódios de bullying que trazem tanto sofrimento e constrangimento aos estudantes. Nesse sentido, é importante e necessário promover momentos de fala, onde os agredidos possam compartilhar suas dores e angústias, bem como, os agressores sejam estimulados a repensar suas posturas, bem como, a plateia, a rever a sua omissão frente a esses atos violentos. É importante que cada estudante saiba os danos que tal ação causa e que reconheçam a escola, a sua gestão e os seus professores como uma rede de proteção que não aceita essas posturas e comportamentos. Outra questão primordial é que a gestão democrática considera os estudantes como centro da ação educativa, ela reconhece cada aluno, considerando suas potencialidades, necessidades e limitações, e a essas questões atende com qualidade e trabalho pedagógico. Ela acolhe os estudantes com deficiência como seres humanos que propõem desafios a escolas e seus professores para ofertar educação para todos, acolhendo a necessidade de cada um. Nesse sentido, a escola democrática e inclusiva parte do princípio que a escola é um espaço de promoção de aprendizagens, desse modo, a não garantia da aprendizagem de qualquer aluno é uma responsabilidade da escola, da comunidade e da família que juntas não conseguiram satisfazer as expectativas do estudante. Dessa forma, cabe a gestão providenciar, entre outras questões, as necessárias adaptações na arquitetura do prédio para que o ambiente também se torne acessível. 14 Guarde eSSa ideia! Nessa lógica, se faz fundamental desenvolver propostas educativas que considerem todos os aspectos da vida humana. A Educação em Direitos Humanos (EDH) compreende todo o processo educativo, indo além da aprendizagem cognitiva, atenta para o aspecto social e emocional do desenvolvimento humano, de forma que as dimensões da ética, da justiça, da igualdade e da equidade possam estar presentes neste processo educativo. Portanto, a gestão democrática consiste em uma ferramenta indispensável para o fortalecimento da cidadania e para o respeito e convívio harmonioso com as diferenças no contexto escolar. Para reviSar! v A gestão democrática solicita o envolvimento de todos no planejamento, execu- ção, avaliação e recondução das atividades. Ela rompe com os preceitos burocráticos e autoritários da administração escolar, estabelecendo um novo paradigma no campo educacional. v Gestão democrática implica participação de todos que compõem a comunidadees- colar. Entretanto, isso não significa apenas opinar ou concordar com as proposições. Significa, sobretudo, assumir compromisso para que o proposto se concretize. Nesse contexto, os órgãos colegiados tem um importante papel na consolidação da gestão democrática. v A construção do projeto político-pedagógico da escola é um exercício do processo democrático, pois exige a capacidade de coletivamente tomar decisões. O PPP é um instrumento teórico-metodológico que orienta as relações da escola com a comunidade a quem vai atender. v Questões como a educação inclusiva, educação sexual, as relações étnico-raciais e o bullying precisam fazer parte do PPP e do compromisso da gestão democrática das escolas públicas. PaLavraS FinaiS Prezado(a) aluno(a), Chegamos ao término da nossa terceira unidade. Espero que os conteúdos propostos incidam positivamente na sua formação. Se você tiver alguma dúvida ou dificuldade acesse o fórum de dúvidas no Ambiente Virtual de Aprendizagens – AVA. Acesse aos vídeos e as leituras propostas para entender ainda mais sobre os conteúdos apresentados. Bons estudos! 15 reFerênciaS bibLioGráFicaS BRASIL. BRASIL. Constituição da república federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF, 5 out. 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/ Constituicao.htm>. Acesso em: 01 maio. 2017. ______.Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional). Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília, DF, 20 dez. 1996. Disponível: <http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/ldb.pdf>. Acesso em: 22 agosto. 2015. ______. Lei nº 11.645, de 10 março de 2008. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, modificada pela Lei no 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”. Brasília, DF, 10 mar. 2008. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ ato2007-2010/2008/lei/l11645.htm>. Acesso em: 08 abr. 2018. ______. Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014. Aprova o Plano Nacional de Educação (PNE) e dá outras providências. Brasília, DF, 25 jun. 2014. Disponível em: <http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l13005.htm>. Acesso em: 15 maio. 2017. LIBÂNEO, José Carlos. Organização e gestão da escola: teoria e prática. Goiânia: Editora Alternativa, 2004. LÜCK, Heloísa. A gestão participativa na escola. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2011. PARO, Vitor Henrique. Gestão democrática da escola pública. 3. ed. São Paulo: Ática, 2012.
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