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EDUCAÇÃO UMA QUESTÃO DE COR

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EDUCAÇÃO UMA QUESTÃO DE COR: A 
TRAJETÓRIA EDUCACIONAL DOS 
NEGROS NO BRASIL 
EDUCAÇÃO 
A história da educação e escolarização dos negros e negras no Brasil, avanços 
legais que contribuíram para a inclusão e valorização da população negra na 
educação. 
RESUMO 
A história da educação e escolarização dos negros e negras no Brasil foi marcada 
por uma caminhada de desigualdades que se verifica até os dias atuais. Este 
trabalho pretende refletir sobre a trajetória e luta pela educação dos negros no 
Brasil, desde o período colonial até hoje. Questiona-se como os avanços legais 
contribuíram para a inclusão e valorização da população negra na educação. Para 
tanto foi feita uma pesquisa bibliográfica. Se verifica que os avanços legais 
foram e são significativos para a ascensão representativa do negro na educação, 
no entanto ocorreram de modo tardio e ainda não são o suficiente para reparar 
mais de um século de exclusão. 
Palavras chave: Educação, Desigualdade racial, Movimento Negro. 
RESUMÉN: 
La historia de la educación y escolarización de los negros y negras en Brasil fue 
marcada por una caminata de desigualdades que se verifica hasta los días 
actuales. Este trabajo pretende reflexionar sobre la trayectoria y lucha por la 
educación de los negros en Brasil, desde el período colonial hasta hoy. Se 
cuestiona cómo los avances legales contribuyeron a la inclusión y valorización de 
la población negra en la educación. Para el artículo se realizó una investigación 
bibliográfica. Se verifica que los avances legales fueron y son significativos para 
el ascenso representativo del negro en la educación, sin embargo ocurrieron de 
modo tardío y aún no son suficientes para reparar más de un siglo de exclusión. 
Palabras clave: Educación, Desigualdad racial, Movimiento Negro. 
1. INTRODUÇÃO 
O presente artigo titulado “Educação uma questão de cor: a trajetória educacional 
dos negros no Brasil”, tem como objetivo discutir sobre a educação e suas 
práticas racistas na história do Brasil, apresentando as lutas e conquistas da 
população negra brasileira por uma educação igualitária, observando as bases 
legais, os avanços e as deficiências ainda existentes. 
Por muitos anos a população negra se manteve exclusa nas representatividades 
dentro da educação, aqui nós cabe o questionamento: Como os avanços legais 
contribuíram para a inclusão e valorização da população negra na educação? 
Para compreender sobre a trajetória da educação dos negros no Brasil foi feita 
uma pesquisa bibliográfica. Nesse sentido, no artigo abordaremos o quanto as 
leis foram importantes e quão tardias foram criadas, a exemplo temos a Lei 
10.639/03, que oficializa o dia 20 de novembro como dia Nacional da 
Consciência Negra, e que torna obrigatório o ensino de Cultura Afro-brasileira. 
Mais tarde ainda foi sancionada a Lei 12.711/12, que abre as portas de acesso à 
educação superior, não só tornando a população negra representada através de 
sua história e cultura, como os colocando em um novo patamar, o de protagonista 
e produtores do seu próprio conhecimento, garantindo a estes o acesso às 
universidades públicas e privadas através das cotas raciais. 
Esses avanços educacionais citados surgiram através de mais de um século de 
lutas, deste modo a referente pesquisa mostra como a educação sempre foi um 
produto social, da qual a cor da pele é um fator determinante e limitante no 
tocante ao acesso social/educacional. Através das lutas se chegaram as bases 
legais que modificaram a participação da população negra dentro da educação, 
dando a estes maior espaço dos quais nunca estiveram antes. Toda via todo o 
avanço ainda é pouco diante dos fatores históricos de exclusão. 
2. AS FRONTEIRAS DO POSSÍVEL: A LUTA PELA 
ESCOLARIZAÇÃO/EDUCAÇÃO DOS NEGROS NOS TEMPOS DE 
ESCRAVIDÃO 
A educação se configura como um projeto político de um país, podemos verificar 
suas variáveis ao longo da história brasileira. Ghiraldelli (2001) apresenta a 
história da educação brasileira como um projeto político disputado pelos 
interesses das classes sociais. E a rigor, a classe hegemônica coloca em vigor seu 
projeto educacional, apresentando-se como consenso para o ideal de Nação. 
Desde o período da chegada dos portugueses às terras brasileiras a educação se 
construiu como uma importante ferramenta para formação de um tipo de 
sociedade. A educação oferecida no Brasil Colônia, por exemplo, tinha como 
objetivo a modelação dos povos nativos para se adequar aos modos europeus e 
inclui-lo em uma lógica de trabalho escravizado, bem como destinava-se a trazer 
novos fieis para o catolicismo. Já a educação destinada aos colonos se 
direcionavam para a preservação dos valores morais e religiosos. Ao passo que 
excluía os escravizados. 
No Brasil Império, quando as escolas se propagam, ainda assim não existiam 
escolas formais para negros/as e/ou apoio governamental que permitissem seu 
ingresso, diferentemente de outros países como os EUA. País esse que o racismo 
era explícito na separação de escolas para negros e escolas para brancos. 
Mesmo a educação sendo negada aos escravizados, as formas de resistências dos 
negros tornaram fartas. Sendo assim, já no Brasil Império, se verifica a existência 
de escolas informais para negros. 
Santos (2013) cita a antropóloga Irene Maria Ferreira Barbosa, da Fundação 
Escola de Sociologia e Política de São Paulo, que aborda sobre um dos mais 
antigos registros da escolarização dos povos negros, que foi através da escola do 
Professor Antônio Cesarino, situada em Campinas no interior de São Paulo, que 
funcionou de 1860 à 1876. 
O professor Cesarino e suas irmãs eram filhos de um escravo alforriado, o qual 
vendeu sua tropa de mulas para que seu filho pudesse estudar. Cesarino 
frequentou uma escola para brancos e conseguiu se formar, posteriormente 
passou a lecionar junto com suas irmãs e esposa. 
A escola que Cesarino fundou era para meninas brancas, elas aprendiam a ler, 
escrever, as resolver as operações matemáticas e também regras de etiqueta, além 
de costurar, bordar, cozinhar, etc. Com a mensalidade paga pelas meninas 
brancas que estudavam no diurno, Cesarino oferecia gratuitamente a 
escolarização para moças negras no noturno. (Santos; Oliveira; Oliveira; 
Gimenes, 2013). 
Além da escola de Cesarino há registros não tão aprofundados da escola de 
Pretextato, sendo esta a primeira escola para negros existente no Brasil, ela 
funcionou de 1853 à 1873, situada no Rio de Janeiro. Segundo a historiadora 
Adriana Maria Paulo da Silva (2002). Pretextato era homem negro e não se sabe 
como conseguiu alfabetizar-se, e abriu processo licitatório à corte, Eusébio de 
Queiroz para funcionamento de sua escola, que atendia em média de quinze 
alunos pobres, os quais não possuíam se quer sobrenome. 
Esses negros que a duras penas conseguiram ingressar nas escolas eram um 
grupo restrito de negros livres ou libertos. Conforme o decreto 7031 de 06 de 
setembro de 1878[4] só podia se matricular pessoas do sexo masculino, maiores 
de 14 anos livres ou libertos, saudáveis e vacinados. Deste modo fica evidente a 
exclusão das mulheres negras e escravos, visto que para estes era impossível 
executar trabalhos de longas jornadas e ter o “luxo” de aprender a ler e escrever. 
Diante desse contexto histórico pode-se perceber que a escolarização se tratando 
de povos negros nasceu diante de uma disparidade da qual vem sendo refletida ao 
longo dos anos. Percebe-se que a educação no Brasil, desde o seu principio 
preocupou-se em atender as necessidades dos homens da classe dominante 
branca, segregando a população negra do acesso e da produção intelectual. 
O que encontramos na história da escolarização dos negros até o início do século 
XX são casos isolados, produtos de algumas resistências e lutas, como essas 
experiências de Cesarino e Pretextato. Ainda podemos falar sobre a Imprensa 
Negra, como um fator importanteda luta pela educação, fugindo dos espaços 
escolares formais que eram negados. 
O final do século XIX, no Brasil, é marcado pela efervescência em defesa ao 
abolicionismo, e nesse período já existia uma grande parte da população negra 
https://meuartigo.brasilescola.uol.com.br/educacao/educacao-questao-cor-trajetoria-educacional-dos-negros-brasil.htm#_ftn4
livre. A impressa negra, que foi assim chamada por denunciar a escravidão e 
incentivar o abolicionismo, nasce aí. Segundo Fraga e Albuquerque (2009, p. 87-
88) nesse período a imprensa literária brasileira passa a contar com a participação 
de autores negros. Entre esses autores é possível citar o renomado Machado de 
Assis[5]. 
Machado de Assis foi um marco na literatura brasileira e no aparecimento da 
imprensa negra. Por ser negro e pobre, sua infância foi divida entre os estudos e 
trabalhos, estudos esse que ocorreram de maneira informal, foi alfabetizado e 
aprendeu a ler e escrever dentro de casa. Logo cedo começou a trabalhar como 
aprendiz de tipografo, onde ganhou notoriedade por seus escritos, ganhando 
espaço na sociedade letrada e reconhecimento de suas obras. Na sua própria 
trajetória notamos também a luta pela escolarização. 
A imprensa negra teve um papel primordial na manifestação pública contra a 
vida segregada dos negros, e com a crítica da “opressão branca”. O surgimento 
da imprensa negra abre espaço para novos movimentos sociais que marcam o 
início e final do século XX, dentre eles o Movimento Negro Unificado. 
3. MOVIMENTO NEGRO UNIFICADO NA LUTA PELA EDUCAÇÃO 
Após a abolição da escravatura os negros e negras enfrentaram novos desafios 
diante do novo modelo de sociedade brasileira. Sem moradia, trabalho, estudos, 
literalmente jogados nas ruas, encontram-se obrigados a vender seu trabalho pela 
sua sobrevivência, evidenciando as desigualdades sociais nos primeiros 
momentos da nova configuração Republicana. A escola permaneceu eletista e 
não possibilitou aos negros e negras acesso à educação de qualidade, formação 
acadêmica, forjando assim, para além da exclusão social, um novo modelo de 
exclusão: o intelectual. 
A exclusão social e racial permanece após décadas do período abolicionista, 
limita o ingresso dos negros/as nas universidades, e qualifica-o como marginal. A 
militância pela ruptura das desigualdades e injustiças sociais fez emergir o 
Movimento Negro Unificado (MNU), 90 anos após a abolição. 
https://meuartigo.brasilescola.uol.com.br/educacao/educacao-questao-cor-trajetoria-educacional-dos-negros-brasil.htm#_ftn5
O surgimento do MNU data o ano de 1978[6], em decorrência do protesto pela 
morte do feirante Robson Silveira da Luz, torturado e morto por policiais do 44º 
departamento dos Guaianazes- SP, ao ser acusado de roubar frutas em seu local 
de trabalho. A agressividade da qual Robson sofrera, sem averiguação do caso, 
apenas por ser negro, fez com que negros e negras saíssem as ruas em protesto, 
nascendo assim o MNU, em tempos de Ditadura. 
O MNU veio para romper as barreiras racistas e foi importante para criação e 
implementação de políticas públicas, como: cotas universitárias, cotas em 
concursos públicos, além de fortalecer e ampliar a formação docente voltada para 
a valorização da cultura negra a partir da criação de leis. 
De acordo com Gomes (2012 p. 740) o Movimento Negro contribuiu para 
mudanças nas políticas educacionais reformulando os currículos com a 
implantação da Lei 10.639/03 da qual torna obrigatório o Ensino de História e 
Cultura Afro- brasileira. 
A educação passa a ser entendida como fator primordial para ingresso do ser 
humano na sociedade, sociedade esta padronizada, seletiva e preconceituosa. 
Segundo Gonçalves (2008) 
a educação pode ser uma atividade que reproduz a ideologia da democracia-
liberal-burguesa, reforçando as desigualdades sociais, ou pode contribuir para 
desvelar as contradições das estruturas sociais, política e econômica na 
perspectiva classista de luta para emancipação humana diante da lógica da 
contradição. (GONÇALVES, 2008. p. 65). 
Através da educação a sociedade se transforma e aquela passa a ser um 
instrumento da luta para aqueles que não tinham acesso às salas de aulas formais, 
ou frequentavam uma educação totalmente excludente da valorização da sua 
cultura, e se passa a entender e lutar por acesso à educação igualitária. 
A educação formal foi garantida para os negros e negras com o passar do tempo, 
mas aí entrou outra batalha. MNU entendeu a escola como um mecanismo de 
reprodução do racismo, vendo também a necessidade de reformulação do 
currículo e livros didáticos, de modo que garantisse a representatividade dos 
https://meuartigo.brasilescola.uol.com.br/educacao/educacao-questao-cor-trajetoria-educacional-dos-negros-brasil.htm#_ftn6
negros e negras. Para isso foram criadas Leis, a Lei 12.711/12 que permitissem o 
acesso de estudantes em universidades públicas e particulares através das cotas 
raciais, bem como a Lei 10.639/03 que torna obrigatório o ensino de cultura afro-
brasileira. Sobre essas questões legais, trataremos no próximo tópico. 
4. AVANÇOS LEGAIS PARA UMA EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA: LEI 
10.639/03 e 12.711/12 
Em 2003 foi sancionada a Lei 10.639 que torna obrigatório o ensino de cultura 
Afro-brasileira e oficializa o dia 20 de Novembro como “Dia da Consciência 
Negra”. 
Como é de se imaginar, tal lei não foi criada da noite para o dia. Para que fosse 
necessário se pensar na igualdade racial em ambiente escolar houve muita luta, 
como a do MNU, já citado. 
Gomes (2012) aborda a importância dos movimentos sociais para reformulação 
das leis educacionais, ressaltando que: 
A educação tem merecido atenção especial das entidades negras como um direito 
paulatinamente conquistado por aqueles que lutam pela democracia, como uma 
possibilidade a mais de ascensão social, como aposta na produção de 
conhecimentos que valorizem o diálogo entre os diferentes sujeitos sociais e suas 
culturas e como espaço de formação de cidadãos que se posicionem contra toda e 
qualquer forma de discriminação. (GOMES, 2012. p. 735). 
A educação é um mecanismo de ascensão social, da qual possibilita a apreciação, 
valorização e enriquecimento da cultura, da vida e da comunidade da qual este 
aluno faz parte. 
A população negra, primeiro não tinha acesso à educação, isso mudou, mas ainda 
não havia representatividade nos materiais didáticos, não se era trabalhado sobre 
sua cultura, deste modo os afrodescendentes não se reconheciam dentro desta 
educação que lhes eram oferecida, somente depois de 115 anos que a população 
negra se libertou da escravidão se mudou algo nesse sentido. A Lei 10.639/03 foi 
sancionada pela presidência da república, ficando assim evidente o quanto lenta 
foram as conquistas educacionais para a população negra. 
A referida lei trata dos princípios da valorização da cultura negra e da 
importância destes povos para a formação do Brasil, conforme o artigo 26: 
Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e 
particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-
Brasileira. 
§ 1
o
 O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o 
estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a 
cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando 
a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à 
História do Brasil. 
§ 2
o
 Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasileira serão 
ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de 
Educação Artística e de Literatura e História Brasileiras. (BRASIL, 2003). 
A lei 10.639/03 gera uma reformulação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação 
Nacional (LBD 9.394/96), lei magna da educação. Através dela os currículos 
educacionais passaram a agregar o histórico da população negra, a miscigenação,o racismo contemporâneo, bem como a positivação e valorização da História e 
Cultura, trazendo maior significado para os alunos e alunas afrodescendentes a 
educação que lhes é oferecida. 
Em 2008 visto a necessidade de reconhecer que a população negra tem 
participação ativa para a formação do país, que sua cultura deve ser trabalhada 
em todo contexto nacional de educação, a LDB passou por uma nova 
reformulação nos artigos que abrangem a Lei 10.639, criando a Lei 11.645/08. 
"Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, 
públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo da história e cultura afro-
brasileira e indígena.” (BRASIL, 2008). 
A mudança do artigo refere-se quanto aos estabelecimentos de ensino, não sendo 
apenas dever do estado nas instituições públicas assegurar a igualdade racial 
educacional, como também as instituições privadas. Além de incluir os 
indígenas, também vitimas de preconceitos e exclusões. 
A identidade do homem negro, morador do subúrbio sempre foi negada nos 
livros didáticos. Sabendo que a educação é um produto social, a classe dominante 
branca e o racismo não queriam que negros e negras se sentissem partes 
construtoras da sociedade e nem ocupassem os mesmos espaços, querendo 
apagá-los impondo inúmeras restrições, inclusive educacionais. 
Apesar da tentativa do processo de branqueamento físico[7] da sociedade ter 
fracassado, seu ideal inculcado através de mecanismos psicológicos ficou no 
inconsciente coletivo brasileiro, rodando sempre nas cabeças de negros e 
mestiços. Esse ideal prejudicou o reconhecimento da identidade negra, já que 
todos sonham ingressar um dia na identidade branca, por julgarem superiores. 
(MUNANGA, 2006, p.16). 
Fica evidente a intenção de um projeto de sociedade que impossibilitou a 
formação da identidade negra criando tantos muros e barreira existentes. Os 
negros foram subalternizados, silenciados, sofreram e sofrem racismo, se 
tornando cada vez mais difícil se reconhecer na identidade negra. Daí a 
importância da Lei 10.639/03, pois colocou em pauta a valorização da cultura e 
história do povo negro possibilitando o reconhecimento e o fortalecimento da 
identidade negra com as relações positivas. 
Outra importante Lei criada na primeira década do século XXI, foi a Lei 
12.711/12, que garante o acesso ao ensino superior para alunos oriundos de baixa 
renda, negros, pardos e indígenas. Conforme os Artigos 1º e 3º: 
Art. 1
o
 As instituições federais de educação superior vinculadas ao Ministério da 
Educação reservarão, em cada concurso seletivo para ingresso nos cursos de 
graduação, por curso e turno, no mínimo 50% (cinquenta por cento) de suas 
vagas para estudantes que tenham cursado integralmente o ensino médio em 
escolas públicas. 
https://meuartigo.brasilescola.uol.com.br/educacao/educacao-questao-cor-trajetoria-educacional-dos-negros-brasil.htm#_ftn7
Parágrafo único. No preenchimento das vagas de que trata o caput deste artigo, 
50% (cinquenta por cento) deverão ser reservados aos estudantes oriundos de 
famílias com renda igual ou inferior a 1,5 salário-mínimo (um salário-mínimo e 
meio) per capita. 
Art. 3
o
 Em cada instituição federal de ensino superior, as vagas de que trata o 
art. 1
o
 desta Lei serão preenchidas, por curso e turno, por autodeclarados pretos, 
pardos e indígenas e por pessoas com deficiência, nos termos da legislação, em 
proporção ao total de vagas no mínimo igual à proporção respectiva de pretos, 
pardos, indígenas e pessoas com deficiência na população da unidade da 
Federação onde está instalada a instituição, segundo o último censo da Fundação 
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. (BRASIL, 2012). 
As vagas são destinadas aos alunos de baixa renda ou que tenham cursado todo 
ensino médio na rede pública de ensino, evidenciando que a exclusão escolar é 
decorrente da exclusão histórico social. As políticas públicas de reparação 
tornam-se o caminho para igualdade educacional entre negros e brancos. 
A lei das cotas 12711/12 que foi sancionada quase dez anos depois da 
implementação de Ações Afirmativas[8], em agosto de 2012, estabelece cotas de 
no mínimo 50% das vagas nas instituições para estudantes que tenham estudado 
o ensino médio em escolas públicas, com finalidade de amenizar as disparidades 
raciais. 
O primeiro Programa de Cotas brasileiro foi implementado em 2003 pela 
Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Desde então, a quantidade de 
universidades que aderiram ao programa de cotas foi ascendendo rapidamente 
em um curto período. De 2003 a 2005, 14 universidades aderiram às Cotas, 
sendo que em 2006 esse número chegou a 43 universidades, e em 2010 já 
somavam 83 instituições de ensino superior com cotas (GUARNIERI, 2008). 
Ainda assim as cotas raciais suscitaram controvérsias no cenário brasileiro e 
seriam constantemente alvo de críticas. 
As críticas quanto ao sistema de cotas por parte de grandes instituições de ensino 
superior decorria da justificativa de que a abertura de vagas para negros, índios e 
alunos de baixa renda desvalorizaria tais instituições. No entanto sabendo que a 
https://meuartigo.brasilescola.uol.com.br/educacao/educacao-questao-cor-trajetoria-educacional-dos-negros-brasil.htm#_ftn8
educação é um produto de ascensão social do indivíduo, aonde as classes 
desfavorecidas têm a oportunidade de terem suas vidas equiparadas, a políticas 
de cotas se faz importante para a ruptura das barreiras educativas e sociais, 
conforme Bezerra: 
Se as pessoas não são iguais, não receberão coisas iguais. A parte desta certeza 
devemos entender que precisamos tratar os desiguais de forma diferenciada para 
que possamos, enfim, alcançar a almejada isonomia. Ou seja, diante de tal 
imperativo não basta o Estado adotar uma ação neutra, mais que isso, veda-se ao 
Estado a prática de ações ou projetos que versem sobre a criação, promoção ou 
execução de discursos e condutas que tenham por essência a cultura da 
desigualdade e de outros mecanismos de discriminação e exclusão. (BEZERRA, 
2016). 
As cotas raciais enquanto política pública tem esta finalidade, de fazer o Estado 
participativo do desenvolvimento educacional e social do individuo, assim como 
é declarado no Art. 205 da Constituição Federal de 1988: 
“Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será 
promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno 
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua 
qualificação para o trabalho.” (Brasil, 1988). 
Para que esses avanços legais pudessem acontecer foi necessário muita luta da 
população negra, na busca de ser reconhecidos como protagonistas de sua 
história, e respeitados quanto seres humanos iguais. No entanto é evidente que 
tais políticas ainda ocorrem em caráter reparativo, sendo a sociedade brasileira 
por séculos manteve os negros em condição exclusão. 
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Se tratando de educação brasileira podemos mencionar os avanços legais 
extremamente importantes que servem para equiparar a população negra, que por 
muito tempo esteve excluída e sem direitos educacionais. Vemos que o acesso à 
educação foi historicamente negado a população negra, e quando a partir de lutas 
se conquistou esse direito, uma outra batalha se intensificou: trazer ao cenário 
educacional a representatividade negra na valorização da cultura e história 
africana e afro-brasileira. 
A liberdade garantida através da Lei Áurea não trazia medidas de equidade social 
entre negros e brancos, os negros foram “jogados” dentro de uma sociedade 
desenvolvida, sendo obrigados a buscar sua subsistência de maneira totalmente 
precária. 
Décadas, séculos se passaram, leis foram criadas, e o assunto ainda tem 
necessidade de ser rediscutido. É um paradoxo se pensar que em um país onde 
sua população é multicolorida, composta por descentes de váriospovos e de 
culturas diferentes, a educação se manteve destinada a uma única cor, excluía as 
demais culturas que não estivessem de acordo com padrão branco/europeu. 
A educação para população negra se deu através de lutas e resistências, desde a 
primeira escola para negros com Pretextato, e com a desobediência das regras 
educacionais feitas por Antônio Cesarino. A partir dessas desobediências se 
forjaram vários movimentos que contribuiriam para efetivação de uma 
escolarização para os negros. A Imprensa Negra no final do século XIX, bem 
como o MNU no final do século XX, demonstram como os movimentos sociais 
com denuncia da desvalorização da cultura negra foram importantes para a 
criação das Leis 10.639/03 e 12.711/12, no início do século XXI. Leis tardias, 
mas necessárias, para a reparação das desigualdades raciais. 
Embora com todo empenho empregado constata-se o alcance apenas fracionado 
das ações afirmativas, exigindo do Estado uma atuação efetiva, quanto a forma 
de políticas públicas, bem mais direcionadas a promoção da igualdade das 
oportunidades no acesso ao ensino superior público. Mesmo com as críticas, 
o fato é que as ações afirmativas têm sido a única oportunidade de acesso ao 
ensino superior para grande parte da população de negra que passados tantos e 
tantos anos da abolição da escravatura ainda precisa ter que conviver com o 
preconceito e a negação dos seus direitos mesmo os básicos. 
6. REFERÊNCIAS 
 
A História de uma Família de Negros de Campinas dedicada a Educação 
Antônio Ferreira Cesarino nasceu em 1808, na Vila do Paracatu do Príncipe, noroeste da 
então Província de Minas Gerais. Era filho de um negro alforriado, ou seja, que havia 
obtido sua libertação. O nome de seu pai era Custódio. Cesarino o conheceu apenas aos 11 
anos de idade, quando o tropeiro retornou à Vila do Paracatu do Príncipe. Custódio entrou 
em Campinas, chamada Vila de São Carlos na época, com uma tropa de mulas durante o 
período escravista, em 1838, e resolveu vender a tropa para que o filho de 14 anos pudesse 
estudar. 
Antônio Cesarino também estudava música com Maneco músico, Manoel José Gomes, pai 
de Carlos Gomes. 
Quando deixou a fazenda de João Francisco de Andrade, onde trabalhava, ele exerceu 
outras ocupações como carpinteiro, músico e alfaiate. Esta última atividade o renumerava 
satisfatoriamente. Na época em que era alfaiate, estudava à noite e conseguiu o diploma de 
professor. 
Casou-se com Balbina Gomes da Graça, negra e alfabetizada, no final da década de 1820, e 
fundou com sua esposa um colégio feminino. 
Antônio Cesarino fundou a escola Perseverança, em 10 de março de 1860. A escola 
funcionou até 1876. Era uma das poucas escolas da região que se dedicava à alfabetização 
dos negros. Também recebia alunas brancas durante a tarde, que pagavam uma mensalidade 
ao conceituado professor Cesarino. Através dessa arrecadação, ele podia manter a 
instituição e dar aulas para mulheres escravas e negras no período noturno. O colégio era 
dirigido pela D. Bernardina Gomes Cesarino, filha mais velha de Antonio Cesarino. Era 
uma escola de alto nível, uma das que mais teve expressão na época. Em 1875, contava com 
50 alunas, algumas pertencentes às melhores famílias da cidade que pagavam mensalidades 
altas. 
Ainda em 1875, o Imperador Dom Pedro II acompanhado de sua esposa, visitou alguns 
estabelecimentos de ensino da cidade e esteve no colégio da família Cesarino, registrando 
em seu Diário: o “Colégio Perseverança do Cesarino e sua mulher pardos tem muitas 
meninas e é conceituado”. 
Sua filha ensinava matemática, português, francês, história, costura e piano. Antônio 
Cesarino é reconhecido como um dos grandes nomes da educação campineira, sendo objeto 
de diversos estudos, livros e trabalhos acadêmicos. O “velho Cesarino”, como era 
conhecido na Campinas do século XIX, ganhou respeito da sociedade conservadora 
campineira. Seu filho Cesarino filho, foi Professor da Escola Estadual Culto à Ciência de 
Campinas, sua neta, Balbina Cesarino Silva, fundou o Colégio São Benedito, anexa a Igreja 
de São Benedito de Campinas. 
O Bisneto de Antônio Cesarino, o Professor e Jurista, Cesarino Júnior, ajudou Vargas na 
Consolidação das Leis do Trabalho de 1943. Fonte: Kabengele, Daniela do Carmo – A 
trajetória do “pardo” Antonio Ferreira Cesarino (1808-1892 
 
 
O professor Pretextato conduziu a primeira escola exclusiva para 
“pretos e pardos” no século XIX 
Por Adriana Maria Paulo da Silva, do afrokut 
iStockphoto 
O ingresso e a permanência das populações não brancas nas escolas 
brasileiras mobilizam importantes discussões e esforços há muitos anos. 
No tempo da escravidão, um grupo de pais de meninos “pretos e 
pardos” residentes na cidade do Rio de Janeiro enfrentou o desafio de 
escolher um professor “preto”, Pretextato dos Passos e Silva, para os 
seus filhos e de ajudá-lo a manter uma escola específica para eles. 
Em teoria, a partir da lei de 1854, as escolas públicas do Império 
deveriam aceitar alunos de qualquer cor, desde que fossem livres – 
incluindo os escravos alforriados –, vacinados e não portadores de 
doenças contagiosas. As escolas particulares podiam selecionar seu 
público de acordo com a vontade de seus donos, desde que os 
interessados fossem saudáveis também. E nos dois casos, a convivência, 
às vezes, poderia se tornar um conflito racial. Por isso, pais dos 
“meninos pretos e pardos” fizeram um abaixo-assinado para que a 
escola do professor Pretextato continuasse funcionando. Segundo eles, 
seus filhos aprendiam mais do que em experiências anteriores. As 
razões do sucesso daquela escola não foram explicadas no abaixo-
assinado, e sim pelo próprio professor, de acordo com suas intenções na 
época. 
O documento compunha um dossiê que Pretextato preparou para 
solicitar ao Inspetor Geral da Instrução Pública – o então responsável 
pela educação básica da Corte – dispensa de uma prova muito 
importante para os professores da época: a de capacidade profissional. 
A partir de 1854, todos os docentes públicos e particulares da cidade 
que quisessem continuar dando aulas ou manter abertas suas escolas 
eram obrigados a fazer este exame. E, ao que parece, esta era uma 
prova bastante difícil: tinha uma parte escrita e outra oral. Os 
examinadores eram, além do Inspetor Geral, pessoas convidadas por 
ele. Em 1856, por exemplo, apenas 31 dos 77 avaliados foram 
aprovados. 
Pretextato não queria fazer aquela prova e, para se livrar dela, reuniu 
vários documentos, dentre os quais o abaixo-assinado dos pais. Seu 
objetivo: demonstrar que era um bom professor, que seu trabalho era 
socialmente aprovado e reconhecido e que a sua escola merecia 
continuar aberta. 
No processo encaminhado em 1856 à Inspetoria Geral da Instrução 
Pública – órgão responsável pela fiscalização do setor na então capital –, 
em que pede autorização para que sua escola siga funcionando, 
Pretextato conta como e por que ela foi criada. 
O professor relata que “em algumas escolas ou colégios, os pais dos 
alunos de cor branca não querem que seus filhos ombreiem com os de 
cor preta”, e que por isso os professores geralmente “repugnam admitir 
os meninos pretos”. Os que são admitidos “na aula não são bem 
acolhidos; e por isso não recebem uma ampla instrução, por estarem 
coagidos”. Ele confirma ainda que, pelo fato de também ser “preto”, foi 
“convocado por diferentes pais de famílias” para que abrisse em sua 
casa uma “pequena escola de instrução primária, admitindo seus filhos 
da cor preta, e parda”. 
Pelas regras criadas em 1854, era preciso atender a algumas condições 
para receber a licença de professor: ser maior de 25 anos, possuir 
“atestados de moralidade” e redigir uma declaração explicando qual 
havia sido seu meio de vida nos cinco anos anteriores. Para os donos de 
escolas, era exigido também um programa de estudos e o regulamento 
do estabelecimento, além da descrição do estado físico do local.Por fim, 
era necessário fornecer uma lista com nomes e habilitações de todos os 
professores que ali trabalhavam. 
Pretextato apresentou os atestados, mas nada sobre sua vida passada, 
anterior à abertura de sua escola. No processo não consta sua idade 
nem o que fazia antes de ser professor. Havia apenas seu endereço (Rua 
da Alfândega, 313, no Centro do Rio), a lista de matérias que ensinava, 
duas declarações (uma fornecida por seu vizinho e outra pelo inspetor 
do quarteirão onde morava) e os nomes dos quinze pais de seus alunos 
(com dois abaixo-assinados feitos por eles defendendo a continuidade da 
escola) e de pessoas que o conheciam (com um terceiro abaixo-
assinado). 
Os documentos com quinze assinaturas de responsáveis por alunos 
atestavam o bom comportamento e a competência do professor. “Nós 
lhe estamos muito obrigados (a Pretextato) e muito satisfeitos com o 
seu ensino, moralidade e bom comportamento”, dizia um dos textos. A 
maioria dos pais (77%) e todas as mães eram analfabetas, já que 
apenas seis homens assinaram seus nomes. E entre os que assinaram os 
nomes, quatro tinham letra sofrível, o que indica que não estavam 
acostumados a escrever. 
Essas informações mostram que quase todos os alunos vinham de 
famílias humildes, com baixo nível de instrução – dois homens e duas 
mulheres que assinaram a lista nem tinham sobrenomes. A expectativa 
desses pais era apenas que seus filhos pudessem “saber alguma coisa, 
ainda que não seja com perfeição, ao menos melhor do que até agora”, 
e que saíssem da escola sabendo “ler alguma coisa desembaraçado, 
escrever quanto se pudesse ler, fazer as quatro espécies de conta, e 
alguma coisa de gramática”. De fato, no programa da escola constavam 
aulas de leitura, escrita, das quatro operações básicas da aritmética e de 
doutrina (religião). 
Os pais dos alunos explicam também que pediram a ajuda de Pretextato 
porque algumas crianças “tinham de entrar (na escola) naquele ano”, 
provavelmente numa alusão ao decreto do ministro dos Negócios do 
Império, Luís Pedreira do Couto Ferraz, que obrigava todos os maiores 
de sete anos a assistirem a aulas, mesmo que em casa, sob pena de 
multa. 
Era comum os professores tentarem “fugir” do exame. Pretextato foi um 
dos que pediram para não serem avaliados pela Inspetoria Geral, 
alegando o seguinte: “como o suplicante, se bem que não ignora estas 
matérias; contudo é assaz acanhado, para em público responder com 
prontidão a todas as perguntas de um exame”. Ele acrescenta que não 
se recusaria a fazer a prova “se não conhecesse a sua falta de coragem”. 
O interessante para quem lê o documento é verificar como Pretextato 
mudou o tom do seu discurso: num momento fez uma crítica inflamada 
ao racismo vivenciado pelos meninos e no outro se assumiu “tímido”. 
A timidez para falar em público era a justificativa apresentada pela 
maioria dos professores que pediam dispensa da prova. Em geral, os 
pedidos como esses eram negados pelo Inspetor Geral e ex-ministro da 
Justiça Eusébio de Queirós (1812-1868), mas o de Pretextato foi aceito. 
A autorização para funcionamento da escola também foi concedida, 
mesmo com poucas informações sobre a vida do docente no processo. E 
isto faz também do caso Pretextato algo especial: as autoridades eram 
muito exigentes com relação à documentação das escolas e dos 
professores, mas não o foram neste caso. 
Em sua recomendação, Eusébio de Queirós dá pistas de que, ao aceitar 
a demanda de Pretextato, levou em conta o caráter único de sua escola. 
Ele até demonstra simpatia pela ideia ao destacar a “conveniência de 
haver mais estabelecimentos em que possam receber instrução os 
meninos (negros) a que se refere o suplicante (o professor Pretextato)”. 
Em 1871, a escola ainda funcionava na Rua da Alfândega, e há registros 
de que em 1872 ela continuava contando com 15 alunos, mas não se 
sabe quem eram eles. Por essa época, o professor se mudou para uma 
rua paralela, a Senhor do Passos. Em 1873, acabou sendo despejado e 
teve seu material de trabalho penhorado pela Santa Casa de Misericórdia 
em consequência do não pagamento dos aluguéis de março e abril 
daquele ano. Terminava assim a experiência, talvez pioneira e única, do 
professor Pretextato. Os pesquisadores não encontraram qualquer 
registro de outra escola deste tipo, com estas motivações, no século 
XIX. 
Nos colégios públicos de primeiras letras de Minas Gerais, por exemplo, 
num período muito próximo ao da iniciativa do professor Pretextato, a 
grande maioria dos alunos era composta de pardos. No Rio de Janeiro, 
em 1836, a escola primária da freguesia de Santana abrigava cinco 
meninos forros entre os seus 100 alunos. Sem contar com duas crianças 
alemãs que estudaram lá, não se pode dizer que os outros 93 alunos 
eram brancos, porque não há informações sobre as cores dos outros 
meninos. É bem provável que houvesse muitos “pardos” entre eles. Na 
Zona da Mata de Pernambuco, no mesmo período, mais de 20% dos 
alunos eram não brancos. 
Apesar de ter tido conhecimento da existência de uma escola racializada, 
o governo do Império nunca investiu nesse tipo de proposta educacional. 
Também nunca investiu na criação de leis que dividissem racialmente o 
público que poderia frequentar os espaços de instrução, tanto na 
condição de alunos como na de professores. 
Ao que parece, a imensa maioria da população não branca que teve 
condições de colocar seus filhos e filhas em escolas não “optou” pela 
criação de instituições étnicas. Em vez disso, enfrentou e venceu o 
racismo no dia a dia.

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