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INTRODUÇÃO CLINICA

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1.
0
INTRODUÇÃO À 
PSICOLOGIA CLÍNICA 
2
Alberto Carneiro Barbosa de Souza 
São Paulo 
Platos Soluções Educacionais S.A 
2021
INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA CLÍNICA
1ª edição
3
2021
Platos Soluções Educacionais S.A
Alameda Santos, n° 960 – Cerqueira César
CEP: 01418-002— São Paulo — SP
Homepage: https://www.platosedu.com.br/
Diretor Presidente Platos Soluções Educacionais S.A 
Paulo de Tarso Pires de Moraes
Conselho Acadêmico
Carlos Roberto Pagani Junior
Camila Turchetti Bacan Gabiatti
Camila Braga de Oliveira Higa
Giani Vendramel de Oliveira
Gislaine Denisale Ferreira
Henrique Salustiano Silva
Mariana Gerardi Mello
Nirse Ruscheinsky Breternitz
Priscila Pereira Silva
Tayra Carolina Nascimento Aleixo
Coordenador
Camila Turchetti Bacan Gabiatti
Revisor
Carla Priscila da Silva Pereira
Editorial
Alessandra Cristina Fahl
Beatriz Meloni Montefusco
Carolina Yaly
Mariana de Campos Barroso
Paola Andressa Machado Leal 
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)__________________________________________________________________________________________ 
Souza, Alberto Carneiro Barbosa de
S729i Introdução à psicologia clínica / Alberto Carneiro 
 Barbosa de Souza, – São Paulo: Platos Soluções 
 Educacionais S.A., 2021.
 44 p.
 
 ISBN 978-65-89881-74-2
 1. História. 2. Fundamentos. 3. Atuação. 4. Psicologia. I. 
Título. 
CDD 157.9
____________________________________________________________________________________________
Evelyn Moraes – CRB 010289/O
© 2021 por Platos Soluções Educacionais S.A.
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser 
reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, 
eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de 
sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, 
por escrito, da Platos Soluções Educacionais S.A.
4
SUMÁRIO
Psicologia clínica: o que é e como fazer? _____________________ 05
História da Psicologia Clínica _________________________________ 21
Psicoterapia e aconselhamento psicológico _________________ 38
Elementos do setting terapêutico ____________________________ 54
INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA CLÍNICA
5
Psicologia clínica: o que 
é e como fazer?
Autoria: Alberto Carneiro Barbosa de Souza
Leitura crítica: Carla Priscila da Silva Pereira
Objetivos
• Compreender o fazer da atuação do psicólogo clínico 
no Brasil.
• Apresentar as principais abordagens de atuação na 
Psicologia clínica.
• Estudar as questões éticas referentes ao exercício da 
Psicologia clínica.
• Compreender as diferenças entre a Psicologia clínica 
e a Psicanálise. 
6
1. Psicologia clínica: o que é e como fazer?
O cientista político Lightner Witner foi quem criou o termo Psicologia 
clínica, em 1896, ao fundar a primeira clínica de Psicologia, na 
Universidade da Pensilvânia, embora apenas para avaliações 
psicológicas. O tratamento propriamente dito só teve início bem mais 
tarde, a partir da década de 1940. De forma geral, podemos definir a 
Psicologia clínica como sendo a aplicação de técnicas especificas com 
base cientifica, na área da saúde mental, a fim de redução do sofrimento 
psíquico ou restauração do indivíduo em seu meio, assim como o 
tratamento de determinados distúrbios mentais (CABRAL; NICK, 1979). 
A Psicologia clínica oferece diversas modalidades de intervenção e 
tratamento, desde terapia de duração breve e definida até longa e sem 
término pré-determinado.
A fim de preservar a eficácia e confiabilidade da clínica, o profissional 
deve ser registrado no Conselho Regional de Psicologia (CRP), pois 
sem esse registro, o psicólogo não pode exercer clínica em Psicologia 
no Brasil. O fator que determinará a modalidade da clínica psicológica 
a ser empregada é o que chamamos de escuta clínica, inclusive em 
abordagens focadas em práticas corporais. Tal escuta é baseada no 
enfoque epistêmico usado na relação psicólogo-paciente, que pode ter 
orientação teórico-metodológica existencial, cognitivo-comportamental, 
Gestalt, terapia breve, clínica de suporte em oncologia, entre muitas 
outras.
Por fim, Figueiredo (2000) define a Psicologia clínica como a prática 
de modos de subjetivação, predominantes na sociedade ocidental 
contemporânea, e aplicados em um setting destinado ao apoio e 
melhora do paciente, sempre fundamentados na ética e comprometidos 
com a escuta responsável do psicólogo a partir de seu lugar clínico.
7
1.1 O fazer da Psicologia clínica e o exercício da profissão
Em 1971, foi criado o Conselho Federal de Psicologia (CFP), no Brasil, 
que é o órgão centralizador das diretrizes, recomendações e obrigações 
éticas que regulam a profissão de psicólogo em suas diversas áreas 
de atuação, inclusive a clínica. A fim de exercer a Psicologia clínica, o 
profissional deve, obrigatoriamente, se registrar em seu CRP e manter 
atualizada sua anuidade, caso contrário, não poderá exercer a profissão, 
mesmo tendo o título de psicólogo. É interessante o fato de que, no 
Brasil, o exercício da Psicologia no interior já ultrapassa o das capitais, 
apontando para a crescente importância das chamadas formações 
EaD (Educação a Distância). A prática clínica, que antes se concentrava, 
sobretudo, em atendimentos particulares, ampliou seu campo 
desde a década de 1980 e é, hoje, considerada serviço essencial em 
penitenciárias, hospitais, sobretudo na área de oncologia, Organizações 
Não Governamentais (ONGs), e no Sistema Único de Saúde (SUS).
A Psicologia tem como um de seus pilares primordiais, a ética, o que 
será discutido mais adiante, portanto, independentemente da linha 
teórica adotada pelo psicólogo, sua abordagem deve se orientar por 
valores éticos e morais vigentes na sociedade onde esta é exercida, além 
de respeitar as escolhas e crenças de seu paciente, uma vez que este 
último deve ser capaz decidir sua forma de viver, evitando-se, assim, 
o paternalismo psicológico, isto é, a orientação direta do psicólogo de 
como seu paciente deveria agir, de acordo com Vasquez (2014). Em 
outras palavras, no exercício da clínica é fundamental que se respeite 
o direito à autonomia do paciente, por meio de uma relação baseada 
em confiança mútua estabelecida ao longo do tratamento e no sigilo 
profissional do psicólogo.
Por fim, uma das mais importantes etapas na construção do fazer clínico 
é o estágio de final de curso na graduação. Em função da curta duração 
do estágio (normalmente de doze meses, sendo que, em algumas 
universidades, pode-se optar por estagiar em duas áreas diferentes), as 
8
intervenções se dão, muitas vezes, de forma pontual e/ou breve. No caso 
da clínica em Psicologia Hospitalar, faz-se o fechamento do atendimento 
ao término de cada sessão, uma vez que não se pode prever se o 
estagiário voltará a atender a mesma pessoa, seja em função do término 
do estágio, alta ou óbito do paciente. Entretanto, mesmo ao término do 
estágio final, aconselha-se fortemente que o profissional se especialize 
em alguma abordagem clínica, que veremos a seguir, a fim de garantir a 
boa qualidade de seu atendimento.
2. Principais abordagens em Psicologia clínica 
no Brasil
Segundo o CFP (2005), as intervenções clínicas têm como objetivo 
atender o paciente de forma individual, em casal, em grupo ou em 
instituições, a fim de compreender os “processos intra e interpessoais, 
utilizando enfoque preventivo ou curativo, isoladamente ou em 
equipe multiprofissional” (1992:2). Para tanto, o psicólogo adota uma 
das inúmeras abordagens clínicas aprovadas pelo CFP, nas quais o 
profissional poderá fazer psicodiagnósticos, terapia individual, de 
casal ou em grupo, orientação profissional, terapia de família, suporte 
à recuperação de dependência química, emocional e/ou do sexo e 
supervisão clínica. A seguir, veremos as principais abordagens clínicas 
exercidas no Brasil.Embora essa lista não se esgote em si mesma, uma 
vez que há inúmeras abordagens aprovadas pelo CFP, assim como 
novos saberes clínicos são sempre reconhecidos em suas práticas no 
Brasil.
2.1 Clínica de análise comportamental
Esta abordagem foi construída a partir da análise experimental do 
comportamento e do comportamentalismo radical, desenvolvido 
pelo psicólogo Skinner (HUBNER; MOREIRA, 2013). Sua escuta clínica 
9
é calcada na observação dos padrões de comportamento do paciente 
e na análise de sua interação com o ambiente, durante sua narrativa 
em sessões com o psicólogo. Por acreditar que o comportamento é 
fruto da relação do indivíduo com o ambiente e a cultura onde ele está 
inserido, o psicólogo estará atento ao que chama de contingências, 
isto é, pensamentos, emoções e crenças pessoais, que são o resultado 
da interação do paciente com o meio. Dessa forma, as contingências 
resultam da função biológica adaptativa do ser humano em seu habitat. 
Resumindo, o ambiente em si mesmo não determina as reações 
do paciente, mas, antes, suas respostas cognitivas e interpretações 
psíquicas a este.
O objetivo geral clínico desta abordagem é engendrar e motivar 
processos de mudanças do comportamento, por meio de intervenções 
terapêuticas, uma vez discutidas e analisadas as consequências das 
respostas cognitivas referentes a acontecimentos na vida do paciente. 
(HUBNER; MOREIRA, 2013). Os objetivos específicos da terapia são 
avaliados e/ou modificados ao longo do tratamento. Entre as diversas 
correntes teóricas na análise comportamental clínica, utilizadas no Brasil, 
a terapia cognitivo-comportamental (TCC) é a mais conhecida (Quadro 
1). Fundada nos anos 1960, por Aaron Beck, a TCC se propõe a descobrir 
padrões de pensamento, comportamentos, hábitos e crenças pessoais, 
responsáveis por traumas e problemas psicológicos. Nessa abordagem, 
o psicólogo escutará a queixa do paciente, que pode ser desde questões 
cotidianas até ataques de pânico. O objetivo dessa escuta será identificar 
o que a TCC denomina de esquemas disfuncionais (Figura 1), que são 
pensamentos negativos ou mágicos (não fundamentados em nenhum 
dado de realidade) e, uma vez identificados, inicia-se o tratamento. 
É importante lembrar que existem inúmeras abordagens em TCC, 
portanto, caso o psicólogo se interesse em praticar essa clínica, deve 
pesquisar a que melhor atende sua personalidade e qualificações. A 
abordagem mais usada, no Brasil, é a de Aaron Beck.
10
Quadro 1–Abordagens clínicas em análise comportamental mais 
usadas no Brasil
Análise 
comportamental
Fundador(res)
Foco principal 
da escuta clínica
Objetivos
Clínica cognitive.
Aaron Beck.
Estrutura do 
pensamento e 
das crenças do 
paciente.
Identificar pensamentos 
disfuncionais, a fim de 
reestruturar crenças 
pessoais (reestruturação 
cognitiva).
Behaviorismo 
radical.
B.F. Skinner.
Clínica focada em 
comportamentos 
observáveis 
(relação meio–
indivíduo).
Promover respostas 
adequadas e esperadas 
de eventos externos ao 
indivíduo; programação 
de contingências. 
Análise 
experimental do 
comportamento.
Romanes, 
Watson e 
Thorndike.
Compreensão do 
comportamento 
do paciente 
e padrões 
que afetam 
seu sistema 
intrapsíquico.
Reproduzir variáveis 
externas (daí o termo 
experimental, que deu 
origem a traumas e 
psicopatologias, a fim 
de proporcionar sua 
superação por meio 
da reprogramação do 
comportamento operante 
do paciente.
Fonte: elaborado pelo autor.
Como podemos ver na Figura 1, a terapia cognitivo-comportamental 
(TCC) busca modificar os esquemas disfuncionais de pensamento do 
paciente (no caso, a fobia de cachorros). Uma vez identificado o padrão 
de comportamento e reação ao que causa medo, o psicólogo irá intervir 
nesse ciclo, a fim de rompê-lo, e reprogramar as respostas do indivíduo 
11
frente não só a fobias, mas também ao abuso de álcool e drogas, 
traumas ou mesmo questões não específicas que causam angústia em 
seu cotidiano.
Figura 1–Esquema disfuncional de paciente de TCC, de Aaron Beck
Fonte: elaborada pelo autor.
A fim de identificar tais esquemas disfuncionais, o terapeuta estará 
atento ao ambiente no qual o problema ou o trauma se deu, às 
reações físicas do paciente ao relatar o problema e às emoções e 
sentimentos durante o relato do paciente. Resultados satisfatórios 
na TCC são alcançados por meio de uma boa aliança terapêutica 
durante o tratamento, embora não seja fator único. O caso acima, por 
exemplo, requer: atendimento semanal; vivência de dessensibilização 
gradativa, por meio de exposição a cachorros, antes com o terapeuta 
e, aos poucos, sozinho; e medicação para o quadro depressivo, caso 
necessário.
12
2.2 Clínica existencialista-fenomenológica
Essa abordagem possui uma visão intersubjetiva da experiência do 
paciente e sua construção dos significados sobre si próprio, a partir 
destas experiências, assim como a significação dada ao outro e ao 
ambiente nos espaços inter-relacionais do sujeito, segundo Schneider 
(2011), sempre dentro de uma escuta calcada na metodologia histórico-
dialética dentro da escola fenomenológica da Psicologia. O fundador 
dessa abordagem clínica foi o filósofo Jean-Paul Sartre, que buscou 
desenvolver a escuta clínica voltada para a forma com que o paciente 
elabora a construção de sua própria subjetividade ao longo de sua 
história de vida. O objetivo é promover uma profunda reflexão ao longo 
do tratamento, a fim de alcançar as mudanças desejadas.
No Brasil, a clínica existencialista é usada tanto no atendimento 
individual, como na clínica integrada de atenção básica à saúde (CIABS), 
dentro do Sistema Único de Saúde (SUS), onde o psicólogo atua uma 
equipe multidisciplinar, com o propósito de promover uma visão 
holística do usuário dos CIABS. A clínica existencialista-fenomenológica 
é capaz de capacitar o psicólogo a desenvolver uma escuta sensível à 
história do paciente vindo de camadas populares e usuárias do SUS, que 
não tiveram acesso ao atendimento em Psicologia clínica anteriormente, 
inclusive crianças, segundo Schneider (2011).
Nessa abordagem, a prática clínica deve, antes mais nada, reconhecer 
o fenômeno ou fenômenos que trouxeram o paciente ao consultório 
por meio da relação deste com o ambiente em que se insere, já que 
todos somos vistos como um ser no mundo. Portanto, a maneira 
como percebemos as diferentes situações em nossas vidas, tais como 
a fase da adolescência, casamento, a morte de um ente querido ou a 
conquista de objetivos, dependerá de variáveis socioculturais às quais 
estamos submetidos ao longo da vida. Assim sendo, nesta abordagem, 
a teoria estará sempre subordinada à prática, isto é, as experiências e 
percepções do paciente serão expressas no setting terapêutico, tanto por 
13
meio da fala, quanto de sua expressividade corporal ao longo da sessão, 
e são resultados de inúmeros fatores, tanto intrapsíquicos, como em 
relação ao exterior do sujeito.
2.3 Psicoterapia breve
Essa abordagem clínica possui curta duração e objetivos específicos, 
muito utilizada em hospitais, clínicas de dependência química e 
psiquiátrica, além de consultórios. Já nas primeiras sessões, o psicólogo 
deve concentrar sua atenção nas queixas que o paciente traz e, junto 
com ele, exerce uma escuta ativa, isto é, faz intervenções sempre que 
necessário. Psicólogo e paciente traçam em conjunto uma estratégia, a 
fim de se atingir os objetivos desejados.
De forma geral, esse processo terapêutico possui três fases. A inicial 
é onde o psicólogo identifica o meio no qual o paciente está inserido. 
A partir de um primeiro encontro, definem-se as queixas centrais e o 
planejamento para resolvê-las. A segunda fase, chama-se medial e, 
nesse momento, são postas em prática as estratégias do tratamento, 
adaptando-as conforme a necessidade e sempre avaliando o progresso 
obtido. Por fim, a fase final, ou terminal, encerra o tratamento. Aqui, é 
feita uma avaliação geral das queixas iniciais e os resultados alcançados 
e,por fim, a alta do paciente. A duração da Psicoterapia breve é, em 
média, de seis meses, com uma sessão semanal, embora esse tempo 
e frequência sejam sempre revisitados na fase medial do tratamento. 
As indicações mais comuns para essa abordagem são quadros de 
depressão, distúrbios do sono, fobias, ansiedade generalizada, 
transtorno pós-traumático e dificuldades de socialização, no caso, 
sobretudo, de crianças e adolescentes (FERREIRA-SANTOS, 2013).
14
2.4 Gestalt terapia
Assim como a clínica de Jean-Paul Sartre, a Gestalt também pertence 
ao grupo de terapias existencial-fenomenológicas, sendo desenvolvida 
por Frederick Fritz Perls e Laura Perls, na década de 1950, nos Estados 
Unidos, tendo seu início, no Brasil, em 1974. A Gestalt terapia parte do 
princípio de que o todo é maior do que a soma de suas partes, onde 
o terapeuta observará e elaborará, junto com o cliente, a percepção 
deste último sobre determinados eventos e questões em sua vida e o 
significado que este atribui. Uma das mais importantes características, 
desta terapia, é o foco no aqui e agora, onde as experiências do paciente 
são trazidas para o setting terapêutico e a sua verdade a respeito delas é 
respeitada.
Uma vez que o foco é no presente, o paciente é convidado a descrever 
o que sente a respeito de determinada situação durante a sessão, 
trazendo a vivência narrada para o momento de agora, onde até 
mesmo sua linguagem corporal e expressões faciais são levadas em 
conta pelo psicólogo clínico. Outra característica, desta terapia, são os 
exercícios existenciais. Tais exercícios oferecem a oportunidade para o 
paciente expressar o sente para além das palavras. Assim, é convidado 
a comunicar seus sentimentos de forma lúdica, tal como se sentar em 
frente a uma cadeira e se comunicar como se houvesse alguém ali, seja 
ele mesmo ou alguém com o qual o paciente tem questões que causam 
sofrimento. Independente da técnica usada, o mais importante é estar 
consciente de tudo que faz, pois a consciência é o cerne de toda Gestalt 
terapia. Nesta clínica, o indivíduo é o self, isto é, possuidor de uma 
complexa estrutura intrapsíquica que está em constante relação com 
o ambiente em que vive, que seria o outro, tal como alguém que você 
interage. Essa interação molda o self e vice-versa (Figura 2). A motivação 
dos fundadores da terapia da Gestalt foi a percepção de que outras 
terapias não conseguiam enxergar o sujeito como um todo, incluindo o 
meio no qual vive e essa foi uma das principais contribuições da terapia 
da Gestalt à Psicologia clínica.
15
Figura 2–Dinâmica da Gestalt terapia
Fonte: elaborada pelo autor.
2.5 A Psicanálise é uma abordagem da Psicologia clínica?
A resposta objetiva a essa pergunta é não. Apesar de ser esta uma 
prática clínica comum, no Brasil e na Argentina, e apesar de alguns 
autores incluírem a Psicanálise como uma matriz do pensamento em 
Psicologia, a Psicanálise não é abordagem da Psicologia. Em termos 
legislativos, no Brasil, a Psicanálise não é uma profissão regulamentada, 
ao contrário da Psicologia. Isso significa que, teoricamente, qualquer 
pessoa poderia legalmente se autodenominar psicanalista e abrir um 
consultório e, nesse caso, o CFP nada poderia fazer, pois o exercício da 
Psicanálise não é de sua competência. Todavia, para ser psicanalista, o 
postulante deve fazer uma formação longa e difícil, oferecida em muitas 
escolas de Psicanálise no Brasil. Resumindo, essa é uma obrigação ética 
e moral, mas não jurídica.
Sendo assim, no Brasil, não há um órgão específico de regulamentação 
no tocante à regulamentação da Psicanálise. Por outro lado, isso 
não significa que tal fato seja algo necessariamente negativo e, para 
isso, devemos lembrar que um dos maiores psicanalistas da história, 
Jacques Lacan, não possuía formação em Psicologia, assim como o 
próprio criador da Psicanálise: o primeiro era médico psiquiatra; e 
Freud, neurologista. Além disso, a não regulamentação da Psicanálise é 
defendida por muitos psicanalistas brasileiros, uma vez que essa clínica 
16
possui grande diversidade, podendo um psicanalista ter orientação 
freudiana, lacaniana, kleiniana, winnicotiana, entre outras.
Portanto, apesar de ser teoricamente possível qualquer pessoa abrir um 
consultório de Psicanálise, na prática, não é bem assim. A lei brasileira 
outorga tal direito, mas o psicanalista precisa fazer uma formação 
longa e difícil, sobretudo, porque a Psicanálise não é um saber teórico 
apartado de sua prática e vice-versa, e a clínica psicanalítica necessita 
da teoria para existir. Outra grande diferença em relação à Psicologia 
é que a Psicanálise trabalha com a verdade trazida pelo paciente no 
setting terapêutico, por meio de uma escuta na qual se ouve o que não 
é dito pelo consciente, muitas vezes, independente de fatos externos ao 
paciente, algo bem diferente da Psicologia que, normalmente, obedece a 
uma lógica cartesiana, segundo Figueiredo (2000).
Em outras palavras, a Psicologia é fundamentada na ciência, enquanto a 
Psicanálise se interessa pelas leis e estruturas do inconsciente do sujeito, 
que busca o recalcamento da agressividade e da libido, causando o 
sofrimento do sujeito. Se por um lado seria equivocado afirmar que a 
Psicologia oferece melhores resultados pelo fato de ter base científica, 
a Psicanálise, por sua vez, não é melhor por ter bases filosóficas mais 
profundas.
3. A Psicologia clínica contemporânea no 
cenário brasileiro
Apesar da Psicologia clínica ter seu foco na saúde intrapsíquica 
do paciente, por meio da análise dos processos psíquicos e/ou 
psicopatológicos do paciente, a Psicologia clínica contemporânea, no 
Brasil, sobretudo a partir da década de 1990, passou a enfatizar o 
contexto social no qual se insere aquele que busca ajuda do psicólogo, 
segundo Figueiredo (2000). A importância dessa mudança de paradigma 
17
clínico se reflete na maior atenção do psicólogo ao meio no qual o 
paciente está inserido, fazendo com que a o clínico esteja atento à 
subjetividade de seu paciente tanto quanto os aspectos internos, como 
ambientais, que o trouxeram ao consultório ou ambulatório hospitalar. 
Nesse último caso, é comum o psicólogo clínico prestar apoio quanto 
aos diagnósticos médicos e laboratoriais, tais como em diagnóstico 
positivo para HIV, por exemplo.
Atualmente, a queixa do paciente é vista como resultado de uma 
construção socio-histórica, segundo Block (2001) e uma das principais 
causas dessa mudança é a crescente inserção da Psicologia clínica nos 
serviços de saúde pública, sobretudo, no Sistema Único de Saúde (SUS) 
e o sucesso de sua implementação, de acordo com Figueiredo (2000). 
Todavia, tal como descrito por Féres-Carneiro (1993), é fundamental 
compreender que a Psicologia clínica permanece tendo como foco 
principal a singularidade da subjetividade e da existência do ser humano 
em seus aspectos intrapsíquicos. A mudança na contemporaneidade se 
dá no olhar para o paciente como sendo um ser no mundo, em que os 
aspectos ambientais são constituintes dessa mesma subjetivação, fruto 
de processos inscritos à história de vida e das experiências socioculturais 
de todos nós, de acordo com Féres-Carneiro (1993).
Portanto, não se concebe mais no fazer da Psicologia clínica 
contemporânea o paciente descontextualizado dos fatores socioculturais 
que o constituíram como sujeito protagonista em sua narrativa 
no consultório. Para tanto, é fundamental que o psicólogo clínico, 
no século XXI, esteja sempre atualizado e comprometido quanto à 
contextualização social no qual ele mesmo se insere, por meio do estudo 
da antropologia, sociologia e saúde pública voltadas para sua sociedade, 
segundo Figueiredo (2000). A subjetividade, tanto do psicólogo quanto 
de seus pacientes, é fruto dessa interação e, dessa forma, a fim de 
construir o melhor acolhimento possível, o clínico deve compreender 
como sendo constituído e constituindo o ethos no qual se encontra. Por 
fim, a Psicologia clínica, no Brasil, tem sofridoinfluências de diversas 
18
correntes teóricas, sendo a teoria cognitivo-comportamental e a Gestalt 
terapia abordagens muito comuns usadas no setting terapêutico no 
Brasil. A Psicanálise também tem forte entrada na clínica em saúde 
mental brasileira, mas, como visto anteriormente, essa não é uma 
especialidade da Psicologia clínica per se.
4. A Psicologia clínica em pandemias e 
catástrofes: o atendimento clínico on-line 
 durante a pandemia de COVID-19
Em situação de emergência coletiva, tal como em grandes pandemias, 
onde a saúde do indivíduo está em risco, sintomas como ansiedade, 
medo, nervosismo, entre outros, aumentam significativamente na 
população afetada. A partir de março de 2020, iniciava-se uma pandemia 
global do chamado Coronavírus, que atingiu o Brasil de forma jamais 
vista na história e, em 2021, transformou o país no epicentro mundial de 
uma doença chamada de COVID-19 pela Organização Mundial de Saúde 
(OMS). Na época, a pandemia chegou a ceifar até mais de três mil vidas, 
em apenas vinte e quatro horas, no Brasil. Essa catástrofe de saúde 
pública foi muito importante para o fazer da Psicologia clínica mundial 
e no Brasil, pois trouxe consigo a reformulação de diversos paradigmas, 
tais como o atendimento on-line, que sempre sofreu resistência por 
parte de muitos profissionais e pacientes.
A razão de tal transformação pode ser explicada pelo fato da Psicologia 
clínica ser instrumento essencial para a manutenção da saúde mental 
do ser humano e na atenção ao seu bem-estar psicossocial. Em função 
da característica de transmissão pelo ar, do Coronavírus, e o prolongado 
isolamento social imposto pelas autoridades sanitárias, um sintoma 
que se fez muito presente durante a emergência coletiva da COVID-19 
foi a depressão. Dessa forma, a impossibilidade de sessões clínicas 
presenciais trouxe, para o centro da prática da Psicologia clínica, uma 
19
antiga discussão a respeito de uma modalidade de atendimento que, 
se antes gerava controvérsia, agora se impunha como necessária: o 
atendimento clínico on-line (PEREIRA et al., 2013).
A adaptação dos psicólogos clínicos ao ambiente virtual se fez mais 
tranquila, sobretudo, entre profissionais já familiarizados com 
essa tecnologia, mas se mostrou um desafio àqueles com menos 
conhecimento de computadores e Internet. Contudo, além dessa 
modalidade de atendimento já ser reconhecida e aprovada pelo 
CFP, desde 2018, desde que não fira o código de ética da profissão. 
O atendimento clínico on-line passou a prover ajuda emergencial 
indispensável no combate à depressão em função da pandemia, e da 
ansiedade causada pela crise econômica. Por fim, o fortalecimento da 
clínica virtual apontou para mudanças no fazer da Psicologia clínica, 
consolidando essa forma de atendimento como eficaz e bem mais aceita 
pela população. Dessa forma, o estranhamento que havia em relação 
ao atendimento on-line dissipou-se relativamente rápido, uma vez que 
o atendimento presencial passou a ser, por um bom tempo, não só 
mais difícil, mas até mesmo proibido pelos órgãos de saúde púbica, 
municipais e estaduais, ao longo da maior pandemia da histórica do 
Brasil. Uma vez consolidada, a clínica psicológica via Internet vem cada 
vez mais sendo uma modalidade de forte crescimento no Brasil e no 
mundo.
5. Conclusão
A Psicologia clínica é, inicialmente, um fazer inter-relacional psicólogo-
paciente, onde ambos se influenciam e são influenciados, independente 
da linha teórica. Nesse sentido, as diferentes abordagens podem 
ter caminhos próprios para elaborar as questões trazidas para o 
consultório, mas o objetivo é comum a todas: o bem-estar e resoluções 
de problemas do paciente. Apesar da Psicologia clínica ter, no 
20
consultório particular, sua prática mais comum no Brasil, a partir da 
década de 1980, a clínica entra nas instituições se consolida como 
serviço essencial, tal como visto nas penitenciárias e hospitais. Da 
mesma forma, vale a pena mencionar que a prática da Psicologia cresce 
a largos passos no interior do país, entre outros fatores, pelo impulso 
da formação de psicólogo à distância ou EaD. Para concluir, outro 
grande fator que impulsionou a formação EaD em Psicologia foram os 
inúmeros estudos publicados nos últimos anos, atestando a eficiência 
da clínica psicológica on-line, onde foram obtidos os mesmos resultados 
alcançados em tratamentos presenciais, fazendo com que os resultados 
acadêmicos a distância obtivessem maior confiabilidade.
Referências
CABRAL, A., NICK, E. Dicionário técnico de Psicologia. São Paulo: Cultrix, 1994.
CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA (CFP). Código de ética profissional do 
psicólogo. Brasília: Conselho Federal de Psicologia, 2005.
FERES-CARNEIRO, T. Academia e profissão em Psicologia clínica: da relação 
possível à relação desejável. Psicologia: reflexão e crítica, 6 (1/2), supl. 1, p. 103-105, 
2003.
FERREIRA-SANTOS, E. Psicoterapia breve: abordagem sistematizada de situações 
de crise. 1. ed. Sao Paulo: Agora, 2013.
HUBNER, M. M. C.; MOREIRA, M. B. Temas clássicos da Psicologia sob a ótica da 
análise do comportamento. 1 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013.
PEREIRA M. D. et al. A pandemia de COVID-19, o isolamento social, consequências na 
saúde mental e estratégias de enfrentamento: uma revisão integrativa. Research, 
society and development. Preprint, 2020. Disponível em: https://preprints.scielo.
org/index.php/scielo/preprint/view/493/960. Acesso em: 28 maio 2021.
FIGUEIREDO, L. C. Matrizes do pensamento psicológico. 8. ed. Petrópolis: Vozes, 
2000.
SCHNEIDER, D.R. Sartre e a Psicologia Clínica. Florianópolis: EDUFSC, 2011.
VÁZQUEZ, A. S. Ética. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2014. 
21
História da Psicologia Clínica
Autoria: Alberto Carneiro Barbosa de Souza
Leitura crítica: Carla Priscila da Silva Pereira
Objetivos
• Conhecer a história da Psicologia clínica. 
• Estudar a história da Psicologia clínica no Brasil.
• Compreender a transdisciplinaridade na Psicologia 
clínica no Brasil.
• Analisar as novas perspectivas no fazer da Psicologia 
clínica.
22
1. Introdução à história da Psicologia clínica
O estudo da mente humana e do comportamento do ser humano existe 
na sociedade ocidental desde a civilização grega antiga, por meio das 
obras de grandes filósofos, como Platão, que se ocupou em estudar 
o homem e a origem do conhecimento, segundo o qual existiria um 
mundo ideal, onde tudo o que vemos é apenas uma cópia grosseira da 
real fonte do conhecimento e sabedoria. Aristóteles também estudou o 
conhecimento humano, concluindo que somos todos animais políticos, 
sendo estes apenas dois entre muitos teóricos da época. Entretanto, 
a investigação sobre nossa capacidade de elaborar o que vivemos só 
se separou da Filosofia a partir do final do século XIX, quando Wilhelm 
Wundt, fisiólogo alemão, fundou o primeiro laboratório de Psicologia, 
em 1879, na Alemanha, fruto de seu interesse em conhecer os processos 
psicológicos básicos, segundo Goowin (2005).
O trabalho inicial de Wundt incentivou importantes pesquisadores nos 
Estados Unidos, tais como Edward Titchener e Wiliam James. Titchener 
deu continuidade ao método de pesquisa por Wundt e deu o nome 
de estruturalismo, que tinha por objetivo pesquisar a estrutura do 
consciente por meio da observação do comportamento e das sensações. 
Entretanto, foi somente com Lightner Witmer, aluno do próprio Wundt 
que o termo Psicologia clínica foi usado pela primeira vez na história 
e o primeiro jornal acadêmico de psicologia, o Abnormal Psychology 
só surgiria em 1907. Uma vez que Psicologia clínica já começava a 
ocupar espaço importante na sociedade americana, surge, em 1917, 
a Associação Americana de Psicologia clínica, a primeira do mundo. A 
clínica continua avançando e Emil Kraepelin anunciava que incorporar 
noções da Psiquiatria na prática da clínica psicológica, o que deu grande 
impulso a esta última. Em 1942, o psicólogo Carl Rogers trouxe umas 
das mais importantes contribuiçõespara a Psicologia clínica por meio da 
abordagem centrada na pessoa e, em 1950, a terapia comportamental 
surge anunciando o que seria um grande marco na Psicologia clínica 
23
mais tarde, a clínica cognitiva-comportamental. Por fim, no final do 
século XX, a Psicologia clínica agrega a tecnologia em sua prática e 
inicia o atendimento remoto via Internet, algo que viria se consolidar 
em nosso século, sobretudo, com o advento da pandemia mundial da 
COVID-19.
2. História da Psicologia clínica
Os primórdios da prática clínica se deram com Lightner Witmer 
no final do século XIX e início do século XX, quando este e seus 
auxiliares fundaram a primeira clínica da história, apesar de voltada 
apenas a auxiliar no desenvolvimento de crianças com problemas de 
aprendizagem e déficit intelectual, não oferecendo ainda atendimento 
a portadores de psicopatologias em geral. Uma das razões para a 
escolha desse público-alvo, por Witmer, é que seriam lugares ideais 
para o estudo do desenvolvimento humano a partir da observação 
da psique infantil, segundo Goowin (2005). Outra razão foi seu intuito 
em se afastar dos estudos ligados ao campo da Filosofia, pois Witmer 
acreditava que a Psicologia necessitava se aproximar de questões do 
cotidiano de pessoas inseridas na sociedade e, por isso, seria necessário 
se apartar, se não totalmente, em grande parte do contexto teórico da 
Filosofia. Apesar de sua contribuição em criar o termo Psicologia clínica, 
sua influência para a história da Psicologia não foi muito além disso, 
segundo Hothersal (2019).
Outro psicólogo que conduziu os primeiros estudos de clínica em 
Psicologia foi o francês Pierre Janet, no final do século XIX, sobretudo, 
no tocante à problemas mentais e quadros de doenças nervosas, com 
o lançamento de seu livro Neuroses e ideias fixas, em 1887. Uma das 
grandes contribuições de Janet foi de concordar com Witmer de que 
a Psicologia deveria estudar as questões do cotidiano do indivíduo e 
ter caráter prático, segundo hothersal (2019). No entanto, Janet fazia 
24
um resgate do diálogo da Psicologia com a Filosofia, uma vez que 
acreditava que filósofos tinham papel fundamental na construção do 
estudo de doenças mentais, algo que fica claro em uma de suas maiores 
contribuições para a Psicologia clínica da época, seu livro Da angústia ao 
êxtase, em 1926.
Entretanto, a grande contribuição para o estudo e pesquisa da psique 
humana, suas vicissitudes e compreensão da subjetividade só viriam 
com o médico neurologista Sigmund Freud. Na verdade, Freud não 
era profissional do campo da Psicologia e usou o termo Psicologia 
clínica apenas em sua correspondência pessoal, com o colega médico 
e biólogo alemão Wilhelm Fliess, em 1899. Não obstante, seu trabalho 
revolucionou a pesquisa e a prática clínica até os dias de hoje, por meio 
de seus estudos a respeito do inconsciente, da sexualidade infantil e da 
libido. Freud se formou em Medicina, em 1881, em Viena, na Áustria, e, 
quatro anos depois, mudou-se para Paris, onde foi aluno de Charcôt, 
no conceituado hospital de Salpetrière, o mesmo onde anos mais tarde 
o psiquiatra Jacques Lacan daria os famosos seminários, no intuito de 
resgatar a teoria freudiana. Ao regressar a Viena, Sigmund Freud iniciou 
suas pesquisas e, paralelamente, seu consultório especializado em 
doenças nervosas, criando, assim, a clínica e a pesquisa denominada 
Psicanálise.
A Psicologia seguiu avançando e se desenvolvendo na Europa e nos 
Estados Unidos, culminando em uma conferência, em 1949, nos Estados 
Unidos, onde foi criado o modelo de Boulder, importante marco na 
história da Psicologia clínica, segundo Hothersal (2019). Os criadores 
do modelo de Boulder acreditavam que apesar de o psicólogo dever 
estudar a melhor abordagem clínica para exercer e validar o fazer 
25
de sua prática, seu papel principal deveria ser o de um cientista, 
construindo e estudando a Psicologia, mais do que apenas um clínico. 
Uma das grandes contribuições do modelo de Boulder, portanto, foi de 
incrementar o saber científico da Psicologia clínica e criar uma linguagem 
própria ao fazer clínico, a exemplo do que já existia na Psiquiatria, 
propiciando maior independência da Psicologia clínica em relação a 
outros campos do saber e, sobretudo, fortalecendo sua presença na 
academia.
Essa orientação se deve, sobretudo, a alta demanda de atendimento 
clínico com pessoas sofrendo de doenças mentais em função da 
Segunda Guerra Mundial, tais como traumas de guerra e neuroses 
graves. Assim, exigência por uma pesquisa em Psicologia que trouxesse 
novos caminhos para tratamento de doenças mentais foi o grande 
combustível para a criação do modelo de Boulder que, por sua vez, 
impulsionou a pesquisa em Psicologia clínica nos hospitais do exército, 
que financiou importantes projetos nesse campo nos Estados Unidos, 
incentivo que fez com que a Associação Americana de Psicologia se 
juntasse a estes projetos, projetando a pesquisa e a própria Psicologia 
clínica e apartando-a definitivamente da clínica psicanalítica na América 
do Norte e Reino Unido, e aproximando-a da linguagem e saber da 
Psiquiatria, segundo Goowin (2005). Em países latinos e, sobretudo, 
na América Latina, contudo, este divórcio não ocorreu. Todavia, um 
afastamento da Psicanálise por parte dos clínicos latino-americanos se 
fez visível nessa parte do planeta a partir da entrada da pesquisa e da 
clínica cognitivo-comportamental, a partir da segunda metade do século 
XX.
A segunda metade do século XX trouxe grandes mudanças no fazer da 
Psicologia clínica e, acompanhando seu tempo, novas psicopatologias 
exigiam o rompimento com certos paradigmas e preconceitos, segundo 
Hothersal (2019). Da mesma forma, o final do século XX e o início de um 
novo milênio se apresentam com novas possibilidades e novos desafios 
(Figura 1). Por exemplo, determinadas condições psicopatológicas que se 
26
não eram completamente novas, eram frutos direto de um novo tempo 
e uma nova sociedade, tais como bulimia entre meninas muito mais 
jovens do que jamais visto na clínica, anorexia nervosa como produto 
de uma ditadura de culto ao corpo, compulsões e adicções, estas 
totalmente novas, tais como dependência à tecnologia ou a opioides. 
Portanto, novos fazeres na clínica se fizeram necessários e talvez um 
dos mais importantes paradigmas quebrados se deu com a entrada da 
Psicologia clínica no universo virtual. Inicialmente, enfrentando forte 
resistência e até proibições em algumas localidades, as exigências de 
um novo tempo se impuseram. Finalmente, com a chegada da maior 
pandemia global jamais vista, transmitida pelo vírus chamado Sars-
Cov-2, altamente letal e propagado pelo ar, o atendimento psicológico 
remoto se impôs não mais apenas como uma possibilidade, mas como 
uma necessidade. A pandemia, batizada de COVID-19 pela Organização 
Mundial da Saúde (OMS), em 2019, transformou o mundo como 
conhecíamos, a partir de 2020, exigindo novas estratégias profissionais 
em quase todas as áreas do mercado de trabalho. A Psicologia clínica 
não foi uma exceção.
27
Figura 1 – Linha do tempo da Psicologia clínica
Fonte: elaborada pelo autor.
2.1 História da Psicologia clínica no Brasil
A Psicologia clínica, no Brasil, teve seu início no âmbito escolar na 
cidade de São Paulo, quando Durval Marcondes inaugurou sua clínica 
infantil, em 1938, e com seu primeiro livro de Psicologia clínica A criança 
28
problema, em 1939. Uma nova etapa na clínica psicológica se deu a partir 
de 1962, quando o Brasil passou a ser o primeiro país na América Latina 
a regulamentar a profissão de psicólogo, embora, entre 1938 e 1962, 
trabalhos relevantes tenham sido feitos, realizados pelo menos 14 mil 
exames diagnósticos e 25 mil entrevistas com profissionais de educação 
infantil e pais de alunos. Nesse período pré-regulamentação da 
Psicologia clínica, vale ressaltar o excelente trabalho de Helena Antipoff, 
no Rio de Janeiro, segundo Makino Antunes (2014). Uma de suas 
grandes contribuiçõesfoi a criação, em 1946, do Centro de Orientação 
Juvenil (COJ), no Ministério da Saúde, o primeiro da América Latina. O 
COJ foi pioneiro no tratamento e prevenção da delinquência juvenil, 
entre jovens de 12 a 18 anos, em uma clínica multidisciplinar, com a 
colaboração entre a Psicologia, o Serviço Social e a Psiquiatria, e também 
responsável pela introdução da clínica Rogeriana no Brasil, por meio da 
psicóloga Mariana Alvim.
Em 1953, a escola de Medicina da Universidade Federal do Rio de 
Janeiro (UFRJ), o Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do 
Rio de Janeiro (IPUB), inaugura sua clínica voltada exclusivamente 
para pacientes de dois a 12 anos, quando os psiquiatras utilizavam a 
abordagem psicanalítica em suas práticas clínicas e com uma equipe 
multidisciplinar, dando grande impulso à Psicologia clínica no Brasil. 
Novas clínicas psicológicas também começavam a proliferar no país 
e, aos poucos, o psicólogo clínico começou a ter maior visibilidade na 
sociedade brasileira.
A partir da consolidação da Psicologia clínica escolar e sua 
regulamentação, outras especialidades começam e entrar no Brasil e 
ganhar importância, e é fundada a Associação Brasileira de Psicologia 
Aplicada. Em seguida, surge a primeira publicação especializada em 
Psicologia geral, a Revista de Psicologia Normal e Patológica, quando a 
Psicologia clínica passa a ter voz também no cenário latino-americano, 
com sua primeira participação no VI Congresso Interamericano de 
Psicologia, em 1960. A partir daí, a inauguração de cursos universitários 
29
de Psicologia e seus Serviços de Psicologia Aplicada (SPA), com 
clínicas universitárias e estágios supervisionados, fortaleceu ainda 
mais a Psicologia clínica no Brasil, sobretudo, em função da exigência 
das universidades no sentido de uma metodologia própria para a 
investigação e pesquisa em psicologia clínica, segundo Makino Antunes 
(2014).
Ao longo dos anos, novas formações e forte influências do exterior 
começam não só a legitimar o fazer clínico no Brasil, mas fazendo com 
que diferentes regiões enfatizassem mais certas abordagens e menos 
outras, tendência que se consolidou até os dias atuais. Para exemplificar 
essas influências e tendências regionais, Rio de Janeiro, Rio Grande do 
Sul e parte de Minas Gerais concentram boa parte da clínica psicanalítica 
no Brasil, com excelentes escolas e formação, assim como a abordagem 
Rogeriana. Já as regiões da grande São Paulo, Campinas e região, têm na 
clínica cognitivo-comportamental sua maior força.
A partir da criação do primeiro programa de Mestrado de Psicologia 
Clínica, no país, na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro 
(PUC-Rio), outros programas se seguiram, como na Pontifícia 
Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Universidade de São 
Paulo (USP), Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ–IMS) e 
Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), todos 
com excelência acadêmica até os dias de hoje. A clínica em Psicologia 
contemporânea, tanto no Brasil como em todo o mundo, apesar de 
possuir diversas abordagens, algumas, inclusive divergindo entre si, 
é unânime em enfatizar a necessidade de, cada vez mais, fortalecer 
o diálogo com outros saberes, resgatando não só com a Filosofia, 
mas abrir interlocuções com a Psicanálise, Antropologia, Sociologia, 
Linguística, entre outras, de acordo com Makino Antunes (2014). Tal 
diálogo se faz cada vez mais necessário, posto que uns dos maiores 
males modernos são a angústia e ansiedade, face a exigência cada 
30
vez maior do mercado de trabalho, sobretudo, entre as gerações mais 
novas.
2.2 Transdisciplinaridade na Psicologia clínica no Brasil
Uma equipe multidisciplinar trabalha no sentido de manter o 
arcabouço teórico e práticas de cada área do conhecimento, sem a 
influência direta dos demais saberes. Assim, normalmente, tem seu 
foco em um determinado projeto de curta ou média duração e não 
promove, necessariamente, o diálogo entre profissionais de campos 
diferentes, uma vez que não se almeja troca de expertise entre eles. 
Cada especialidade é chamada a contribuir com sua bagagem teórica e 
experiência. A equipe multidisciplinar é muito importante em situações 
de crises pontuais, como, por exemplo, no combate à violência em 
comunidades como Cidade de Deus ou Paraisópolis: a Psicologia, 
a Segurança Pública, o Serviço Social, a Sociologia e demais áreas, 
trabalharão por um determinado tempo e tendo um objetivo específico. 
Há colaboração entre estas expertises, a fim de solucionar ou propor 
saídas para uma situação pontual (Figura 2).
Figura 2–Em uma equipe multidisciplinar cada saber contribui 
individualmente
Fonte: elaborada pelo autor.
Já uma equipe interdisciplinar, almeja trocar expertises e buscar ganhos 
colaborativos a respeito de determinado tema. Esta equipe é muito 
importante quando determinada situação exige que cada disciplina 
não só colabore, mas agregue conhecimento umas com as outras. Um 
31
bom exemplo seria a questão do desmatamento na Amazônia. Não 
basta apenas que a engenharia florestal entre com sua expertise de 
manejo do solo e reposição de espécies nativas, pois o desmatamento 
tem causas muito mais profundas e duradouras, tais como o interesse 
de grandes empresas do agronegócio, grilagem de terras, invasão e 
de terras indígenas entre outras razões. Dessa forma, a antropologia 
agregará conhecimento ao engenheiro florestal, que, por sua vez, o fará 
com profissionais da segurança pública e de fronteiras, ou o psicólogo 
explicará ao sociólogo a gravidade do stress pós-traumático em 
indivíduos expulsos de suas terras. Os profissionais irão para o campo 
de trabalho conhecendo minimamente as questões que não sabia como 
lidar, mas que podem dificultar ou mesmo inviabilizar sua intervenção. 
Isso não significa que o engenheiro florestal saberá como tratar stress 
pós-traumático, mas estará minimamente apto a identificá-lo. O 
problema da abordagem interdisciplinar é a tendência a uma relação de 
poder hierarquizada entre os campos do saber, algo que estudaremos a 
seguir.
Quando se fala em interdisciplinaridade, muitos teóricos acreditam ser 
ainda uma utopia, enquanto outros já a colocam em prática. Portanto, 
deve-se compreender o significado do termo. O conceituado psicólogo 
suíço Jean Piaget, por exemplo, explicou que a interdisciplinaridade 
entre saberes acaba por fazer com que a relação entre eles tome uma 
forma vertical, isto é, as disciplinas consideradas mais complexas 
tendem a coordenar as demais hierarquicamente. Dessa maneira, 
teremos disciplinas satélites girando em torno de um eixo central. Um 
bom exemplo seria a relação entre a Psicologia clínica e a Psiquiatria, 
no Brasil, quando, por muito tempo, esta última frequentemente 
tomava o lugar central, enquanto a Psicologia clínica ocupava o 
lugar de disciplina-satélite. Essa relação vem se transformado muito, 
sobretudo, com o fortalecimento e consolidação da terapia cognitivo-
comportamental, abordagem que mantém constante diálogo com a 
Psiquiatria e, em alguns casos, é considerada como sendo o tratamento 
32
mais adequado, inclusive pela própria Psiquiatria. Entretanto, o processo 
de interdisciplinaridade teve papel de grande importância na história da 
Psicologia clínica, como salientou Foucault (2009) em sua obra, quando, 
por meio de uma longa e profunda discussão mostrou que esta relação 
acabou por forçar a Psicologia a se renovar e se desenvolver.
Atualmente, no Brasil, a Psicologia clínica tende, cada vez mais, a 
privilegiar o diálogo transdisciplinar com outros campos do saber, 
evitando, assim, uma hierarquização entre diferentes disciplinas, 
resultando no avanço e aprimoramento das diversas abordagens 
clínicas. Como exemplo, podemos citar o diálogo entre a clínica 
cognitivo-comportamental e a Psiquiatria ou da Psicanálise com a 
Antropologia e a Filosofia.
Um dos resultados concretos deste intercâmbio foi a criação do 
Centro de Referência Técnica em Psicologiae Políticas Públicas 
(CREPOP), em 2006, objetivando o aprimoramento do conhecimento 
e das qualificações de psicólogos atuantes ou que desejam atuar na 
promoção de políticas públicas. Esse é inclusive um bom exemplo 
do diálogo transdisciplinar da Psicologia clínica com outras áreas 
de estudo e pesquisa. Como podemos ver na Figura 2, a equipe 
multidisciplinar trabalha no sentido de valorizar o saber individual 
de cada área do conhecimento, mas sem que suas expertises se 
comuniquem diretamente. Já na Figura 3, vemos um dos saberes como 
preponderante, enquanto as outras áreas de conhecimento exercem 
papel secundário, além de se reportarem àquele.
33
Figura 3–Em uma equipe interdisciplinar há colaboração e troca de 
expertises, a partir de uma colaboração hierarquizada
Fonte: elaborada pelo autor.
O diálogo transdisciplinar (Figura 4) tem sido promovido pela Psicologia 
clínica brasileira, assim como nas Ciências Sociais no campo de políticas 
públicas. Tal promoção tem trazido bons resultados e importantes 
contribuições para o aprimoramento do fazer clínico no Sistema Único 
de Saúde (SUS), no tocante ao atendimento de populações em situação 
de vulnerabilidade social. A clínica de crianças e adolescentes, por 
exemplo, tem buscado, cada vez mais, aprimorar uma escuta atenta às 
demandas sociais e comunitárias traduzidas no discurso do paciente. 
Tal prática resultou em importantes contribuições da Psicologia na 
construção de políticas públicas voltadas para populações vulneráveis.
34
Figura 4–Uma equipe transdisciplinar não obedece a uma ordem 
hierárquica entre os diferentes campos do saber, pois todos 
contribuem e assimilam a expertise uns dos outros
Fonte: elaborada pelo autor.
3. Novas perspectivas no fazer da Psicologia 
clínica
O fazer transdisciplinar da Psicologia clínica se faz cada vez mais 
presente em suas práticas e pesquisas em nosso século, indicando 
que não só o futuro, mas o próprio presente privilegia a ampliação 
e a colaboração de outras expertises nos arcabouços teórico-
práticos da clínica. Em outras palavras, cada vez mais o psicólogo, 
independentemente de sua abordagem, se vê impelido a estudar 
diferentes campos do saber, mantendo um diálogo horizontal, a fim 
de agregar e absorver conhecimento. Não por acaso, psicólogos têm 
cada vez mais voz ativa, intervindo e/ou sugerindo modificações no 
tratamento de pacientes da Psiquiatria. Por outro lado, a Psicologia vem 
se afastando da resistência em relação à colaboração da Psiquiatria, 
35
trabalhando em conjunto e agregando discussões sobre o uso de 
medicamentos ao fazer clínico da Psicologia, sobretudo, no tocante à 
terapia cognitivo-comportamental.
O futuro da Psicologia clínica indica uma escuta cada vez mais aguçada 
e focada na prevenção e na resiliência, onde a relação do paciente com 
seu sintoma passa a ser central em muitas abordagens. A Psicologia 
clínica focada na prevenção e na resiliência talvez seja uma das grandes 
mudanças desse campo do saber. Não apenas isso, mas a compreensão 
do outro como ser no mundo, onde o aprimoramento da resiliência 
do paciente implica em uma visão mais holística do psicólogo clínico, 
na qual o ambiente, a cultura e o contexto social do paciente tenham 
papel muito importante em seu consultório. Isso significa que se cada 
vez mais a linguagem passa a ser essencial para a Psiquiatria, o contexto 
sociocultural toma cada vez mais espaço na Psicologia clínica. Não 
mais podemos admitir um setting terapêutico apartado da realidade 
do paciente fora deste, no qual a subjetividade intrapsíquica do sujeito 
tenha protagonismo absoluto na escuta do profissional. O paciente 
traz consigo a construção de uma subjetividade fruto de seu meio e de 
seu universo intrapsíquico. Dessa forma, revisitar e reavaliar reações, 
emoções e sentimentos do paciente em relação a acontecimentos 
passados ou presentes passa a ser fator importante no fazer clínico, 
no qual a capacidade de resiliência do sujeito é algo importante a ser 
trazido no setting terapêutico.
Outra característica da Psicologia clínica que tem se consolidado é uma 
forte diversificação do fazer terapêutico. O consultório tradicional, 
apesar de não deixar de existir, tem visto surgirem novas formas de 
atendimento, afastando-se cada vez mais do antigo modelo médico 
de uma relação de poder psicólogo-paciente. Portanto, a atuação no 
campo social e comunitário do psicólogo clínico tem tido crescimento 
exponencial, tanto no Brasil quanto no exterior, onde o profissional 
passa a discutir seu próprio lugar e papel social, tendo cada vez mais 
interferência na condução de novas políticas públicas no Brasil. A 
36
formação de psicólogo tende a privilegiar a importância e a dimensão 
deste profissional no âmbito sociocultural e mesmo político, em uma 
clínica engajada e comprometida com mudanças e transformações de 
paradigmas.
A crescente oferta de cursos de especialização em Psicologia 
clínica oferecida no Brasil, abrangendo públicos-alvo cada vez mais 
diversificados, também tem contribuído na construção de uma clínica 
cada vez menos conservadora e calcada em antigos preconceitos, que 
reprovavam psicólogos que não tenham uma formação tradicional 
e purista. A diversificação na formação de novos clínicos oriundos 
de outras áreas que, após se formarem em Psicologia, fazem 
especializações que permitem agregar sua bagagem acadêmica anterior, 
abre novos e preciosos caminhos para um novo fazer clínico em nosso 
século.
Para finalizar, talvez a maior mudança na Psicologia clínica seja o 
atendimento remoto ou on-line. A década de 1990 trouxe, para a 
América do Norte, o crescimento das tecnologias da informação e, 
entre elas, a comunicação remota via Internet. A partir daí, todas 
as áreas do conhecimento foram atingidas por esta transformação 
digital, incluindo a Psicologia clínica. Um dos fortes fatores que 
determinaram a consolidação definitiva deste modelo clínico foram 
as patologias da modernidade, tais como a fobia social, síndrome do 
pânico e depressão. A Internet veio facilitar o atendimento a pacientes 
que simplesmente não podiam sair de casa e que antes tinham que 
se submeter ao terror do deslocamento até o consultório ou hospital 
ou então encontrar profissionais que faziam atendimento clínico em 
domicílio, o que encarecia muito o tratamento, tornando acessível a uma 
pequena parcela da população. O atendimento remoto democratizou 
o tratamento dessas patologias e trouxe melhoras importantes e 
documentadas em inúmeras pesquisas e artigos científicos nos Estados 
Unidos e Canadá. Atualmente, multiplicam-se as plataformas digitais 
37
oferendo tratamento psicológico on-line para diferentes demandas, 
desde fobias até atendimentos de casal, inclusive no Brasil.
Referências
HOTHERSALL, D. História da Psicologia. 4. ed. São Paulo: AMGH, 2019.
MAKINO ANTUNES, M. A. (orgs.). A Psicologia no Brasil. 5. ed. São Paulo: EDUC- 
Editora da PUC de São Paulo, 2014.
GOODWIN, J. História da Psicologia moderna. São Paulo: Cultrix. 2005.
38
Psicoterapia e aconselhamento 
psicológico 
Autoria: Alberto Carneiro Barbosa de Souza
Leitura crítica: Carla Priscila da Silva Pereira
Objetivos
• Estudar as origens e definições do aconselhamento 
psicológico e da Psicoterapia: o que são e a quem se 
destinam?
• Conhecer semelhanças e diferenças entre 
aconselhamento psicológico e da Psicoterapia.
• Explorar os principais campos de atuação de 
aconselhamento psicológico no Brasil.
39
1. Introdução à Psicoterapia e aconselhamento 
psicológico
Ao iniciarmos este estudo, é importante que nos afastemos da noção 
do senso comum, que por muito tempo esteve presente também 
em parte da academia, de que a psicoterapia seria, em linhas gerais, 
uma abordagem mais eficiente que o aconselhamento psicológico. 
Essa percepção foi superada, sobretudo com a entrada de Carl 
Rogers no campo do aconselhamento psicológico com sua obra 
clássica Psicoterapia e consulta psicológica, em 1942, trazendo-apara 
o guarda-chuvas das teorias da Psicologia clínica, razão pela qual 
muitos escritos acadêmicos acerca de aconselhamento enfatizem a 
abordagem Rogeriana centrada na pessoa, segundo Amatuzzi (2012). 
O aconselhamento, assim como a Psicoterapia, possui especificidades 
e fazeres próprios, sendo uma das maiores diferenças o fato de que 
o aconselhamento não objetiva investigar as causas dos conflitos 
psicológicos de quem busca ajuda, mas antes explorar o potencial do 
sujeito em resolvê-los, segundo Castelo Branco (2019).
Ao longo de nosso estudo, conheceremos as principais diferenças e 
semelhanças entre aconselhamento psicológico e da Psicoterapia, e 
exploraremos as principais abordagens do aconselhamento. Entretanto, 
vale mais uma vez ressaltar que o aconselhamento psicológico tem 
papel tão importante quanto a Psicoterapia. A diferença é que há 
ocasiões e pacientes nas quais uma ou outra é a melhor opção de 
tratamento, algo que varia de acordo com a disponibilidade do paciente, 
a urgência da situação e o propósito do tratamento. Mais do que 
qualquer outro fator, o importante é a escolha do paciente.
40
2. Aconselhamento psicológico e psicoterapia: 
o que são e a quem se destinam?
Os antecedentes do aconselhamento psicológico remontam ao tempo 
da revolução industrial inglesa, quando Frank Parsons em 1909 buscava 
uma maneira objetiva e racional de auxiliar jovens ingleses na escolha 
de suas carreiras profissionais, embora seu início propriamente dito só 
se daria mais tarde nos Estados Unidos. Os aconselhamentos de Parsons 
foi tão bem-sucedido que se expandiu para outras áreas e vários países. 
A ideia seria oferecer ajuda imediata a pessoas que buscavam solucionar 
problemas educacionais e angústias e ansiedade, desde que tivessem 
queixas pontuais, de acordo com Amatuzzi (2012).
Em uma definição objetiva, o aconselhamento psicológico visa 
contribuir para que o sujeito compreenda o potencial que possui 
para resolver questões pessoais cotidianas, auxiliar na tomada de 
decisões e fortalecer a autoconfiança. Ao contrário da Psicologia clínica 
tradicional, no aconselhamento psicológico não é necessário que se 
adote uma abordagem específica, já que o importante é promover 
mudanças pontuais indicando caminhos para melhor conduzir questões 
especificas, como, por exemplo, crises conjugais e restabelecimento da 
harmonia entre os membros do casal ou da família (Figura1).
41
Figura 1–O aconselhamento psicológico é uma das modalidades 
clínicas mais utilizadas para o atendimento de famílias e casais
Fonte: Nosystem Images/ iStock.com. 
Desde a entrada de Carl Rogers no aconselhamento psicológico, a 
abordagem centrada na pessoa passou a ser a principal condução 
clínica adotada no sentido de trazer o paciente para o aqui e agora, sem 
distorções de pensamentos negativos, ajudando, assim, a se conectar 
de forma mais saudável possível com padrões positivos já existentes em 
sua subjetividade. Por isso, podemos dizer que foi com Rogers que deu o 
início o aconselhamento psicológico propriamente dito, segundo Castelo 
Branco (2019). Nesse fazer clínico, o cliente passa por um processo de 
aceitação de seus próprios sentimentos, sejam quais forem, para que 
desenvolva os instrumentos psíquicos necessários para reconhecê-los e, 
se for de sua decisão, modificá-los, sempre tendo em vista ser este um 
tratamento de curta duração e focada em questões pontuais, de acordo 
com Schmidt (2015).
42
O objetivo de Rogers, do aconselhamento psicológico, é auxiliar o 
sujeito a ser mais autônomo em suas decisões e suas ações, com intuito 
de que este possa atingir sua plenitude em seu autoconhecimento, 
possibilitando, assim, seu amadurecimento psicoemocional. Esse 
fazer clínico é muito difundido e respeitado, sobretudo, na América do 
Norte, onde o aconselhamento já se afastou da formação em Psicologia 
mais tradicional e, portanto, oferece mais recursos ao estudante, 
como mestrados e doutorados na área e mercado de trabalho voltado 
particularmente para este setor.
A Psicoterapia, por sua vez, tem na etimologia de seu termo duas 
palavras de origem grega: psyche, que significa mente; e therapeuein, 
cura. Seu objetivo é o tratamento de condições, tais como depressão, 
ansiedade, problemas de adaptação sociocultural, além de questões 
familiares. Ao contrário do aconselhamento psicológico, a clínica na 
Psicoterapia costuma ter abordagens terapêuticas bem definidas 
e escolhidas pelo psicólogo, tais como a Gestalt terapia, Psicologia 
analítica, Psicanálise, entre outras, segundo Cordioli (2018). A 
Psicoterapia tem como principal característica o fato de ter uma 
dinâmica colaborativa cliente-psicólogo, onde ambas as partes são 
sujeitos ativos no processo terapêutico. Outras características são ter 
duração usualmente mais longa que o aconselhamento psicológico, 
possui um espaço.ou setting, próprio para a sessões e acolhe 
encaminhamentos feitos por um clínico de aconselhamento, não por ser 
uma prática mais profunda, mas por poder tratar de casos com maior 
especificidade em função de suas inúmeras abordagens.
3. Semelhanças e diferenças entre 
aconselhamento psicológico e Psicoterapia
A Psicoterapia e o aconselhamento psicológico foram por muito tempo 
confundidas entre si e a definição de cada uma nem sempre foi tarefa 
43
fácil, pelo menos até Carl Rogers definir claramente as características 
do acompanhamento psicológico como ser sempre a clínica centrada 
na pessoa. Por isso mesmo, as semelhanças entre as duas são muitas. 
Para começar, ambas se dedicam a identificar demandas específicas, 
sendo que estas sempre devem partir do cliente e jamais do psicólogo, 
segundo Castelo Branco (2019). Da mesma forma, ambas as práticas 
se empenham em ajudar o cliente no sentido de que este consiga 
desenvolver uma real capacidade de compreensão de sua própria 
demanda em relação aos seus problemas, assim como caminham 
junto, a fim de ajudá-lo a reconhecer e saber usar suas capacidades 
na resolução destes problemas. Esse processo é feito de forma muito 
similar nas duas clínicas, ou seja, traçando estratégias de tratamento 
com o intuito de promover mudanças concretas para que o cliente possa 
viver melhor e com boa qualidade de vida psicoemocional, segundo 
Schmidt (2015).
Ainda em relação às semelhanças, ambas têm maior presença na 
prática clínica do que na pesquisa teórica acadêmica no Brasil, realidade 
diferente da América do Norte, onde o aconselhamento possui forte 
presença em pesquisas universitárias em níveis de mestrado, doutorado 
e pós-doutorado. Em relação à prática clínica, o atendimento em 
plantão psicológico é comum a ambas as abordagens (embora esteja 
muito presente no aconselhamento, em função de sua característica de 
objetividade em resolver demandas mais imediatas), assim como sua 
inserção no âmbito escolar, desde o ensino fundamental até o ensino 
médio, segundo Cordioli (2018).
Outra forte presença é notada em centros comunitários voltados 
para populações em situação de vulnerabilidade socioeconômica, tais 
como em comunidades de baixa renda, acampamentos de populações 
destituídos de moradia rural, tais como o Movimento dos Sem-Terra 
(MST), vítimas de violência doméstica, preconceito e racismo. Esses 
atendimentos são muito em ONG’s voltadas para a comunidade 
LGBTQ+, grupos de apoio a mulheres em situação de vulnerabilidade, 
44
entre outros (Figura 2). A razão para a forte presença, nesses locais, é 
a característica de atendimentos pontuais e tratamentos a curto prazo, 
algo fundamental no atendimento emergencial e de apoio pontual.
Figura 2–Muitas ONG’s oferecem aconselhamento psicológico para 
grupo em situação de vulnerabilidade, em todo o Brasil
Fonte: SDI productions/ iStock.com. 
As diferenças entre essas duas clínicas podem ser bem marcadas 
ou pertencerem a uma fronteira muito fluida. Entre as diferenças 
mais marcadas, está o fato da Psicoterapia possuir o foco, além de 
problemas pontuais, em psicopatologias da personalidade,algo 
que não é abordado pelo aconselhamento, uma vez que não é seu 
objetivo. O aconselhamento se concentra mais em conflitos presentes 
na consciência e, portanto, ligados ao meio sociocultural do cliente, 
exigindo do psicólogo conhecimento social e antropológico em relação 
ao público atendido e, muitas vezes, muito ligada a questões de justiça 
social. Por outro lado, é comum a Psicoterapia se ocupar de processos 
inconscientes do cliente por meio de abordagens psicanalíticas que, 
se não são tratamentos tão longos, são mais demorados do que no 
aconselhamento, segundo Castelo Branco (2019).
45
De forma geral, o aconselhamento psicológico é um tratamento 
muito apropriado e indicado no caso de não haver algum diagnóstico 
em Psicopatologia, pois, se o intuito é auxiliar o cliente a tomar 
decisões objetivas, é preciso que seus processos psicológicos estejam 
preservados, ao contrário da Psicoterapia, onde é possível lidar com 
indivíduos que tenham comprometimentos em sua estrutura psíquica, 
que possa causar conflitos existenciais mais intensos, segundo Cordioli 
(2018). Essa diferença faz com que a Psicoterapia complemente o 
atendimento realizado pelo aconselhamento psicológico e vice-versa. 
Por exemplo, é muito comum o cliente em aconselhamento ser 
encaminhado ao tratamento psicoterápico para tratar questões de 
maior comprometimento psíquico.
O caminho inverso também é possível: alguém em tratamento 
psicoterápico pode ser encaminhado ao aconselhamento psicológico 
com a finalidade de tratar questões pontuais e mais urgentes. Por 
exemplo, o paciente LGBTQ+ em crise intrafamiliar em função de 
sua orientação sexual tem, na Psicoterapia, o acolhimento ideal para 
explorar questões profundas relativas ao preconceito e intolerância 
social. Todavia, este mesmo paciente pode ser encaminhado para o 
aconselhamento psicológico, a fim de resolver questões pontuais com 
sua família, que necessitem de atenção mais urgente para seu bem-estar 
e equilíbrio emocional, tais como conflitos específicos com membros 
da família ou desenvolver maneiras eficientes de dialogar e manter a 
harmonia entre as pessoas, de acordo com Castelo Branco (2019).
Contudo, um dos exemplos mais clássicos para se compreender 
a importância do aconselhamento psicológico seja o serviço de 
atendimento prestado a membros de programas chamados reality 
shows exibidos na TV em todo o mundo. O objetivo das sessões, aqui, é 
pontual e direto: prestar auxílio psicoemocional ao membro do elenco 
do programa que esteja passando por conflitos com outros participantes 
e/ou consigo mesmo. Nesses casos, o aconselhamento psicológico é a 
única forma de atendimento que pode realmente ajudar, pois qualquer 
46
outro fazer clínico, inclusive a Psicoterapia demandaria mais tempo. 
Da mesma forma, nada impede que o profissional em aconselhamento 
perceba a necessidade de um tratamento mais prolongado. Se este for o 
caso, ele irá instruir o indivíduo a buscar ajuda ao término do programa.
O aconselhamento psicológico possui uma característica muito 
particular, que é seu caráter didático e de prevenção durante as 
sessões, ao contrário da Psicoterapia, que funciona mais como um 
processo de restauração da saúde mental. Isso significa que enquanto o 
aconselhamento se concentra na prevenção do problema, a Psicoterapia 
se ocupa em sua resolução, uma vez que este já se está instalado. 
Essa é uma das principais razões para o tempo mais abreviado do 
aconselhamento: quando trabalhamos na prevenção, estamos lidando 
com o sujeito ainda preservado de um problema, ao passo que a 
Psicoterapia necessita de mais tempo para que o sujeito elabore e 
resolva o problema, segundo Amatuzzi (2012). O cliente chega na 
Psicoterapia apresentando certo grau de sofrimento psíquico e, muitas 
vezes, sequer reconhece as causas de tal sofrimento. Ele busca ajuda 
porque sofre.
Inversamente, o indivíduo procura o aconselhamento psicológico com 
uma demanda muito específica e nem sempre está com o mesmo grau 
de sofrimento psíquico encontrado no consultório psicoterapêutico. 
Sua motivação é objetiva: problemas de relacionamento do casal, 
rendimento escolar, dúvidas em relação à escolha profissional ou 
aceitação e elaboração de sua identidade sexual. Aqui, o propósito do 
tratamento é evitar o sofrimento existencial mais profundo. Buscando 
ajuda pontual, o sujeito aprende a resolver determinadas questões 
que, se não vistas naquele momento, poderiam ser internalizadas e 
recalcadas. O objetivo é, antes de mais nada, a prevenção. O psicólogo 
se pauta na necessidade de promover ações que possam ser tomadas 
pelo cliente, ao passo que o psicoterapeuta estará mais focado na 
reflexão a respeito de determinadas questões, segundo Schmidt (2015).
47
É importante salientar que o mesmo profissional pode exercer tanto 
a Psicoterapia quanto o aconselhamento psicológico. Se assim for, 
deverá possuir sólida formação teórica que o capacite para ser capaz 
de identificar as demandas de quem chega em seu consultório. 
Evidentemente que o mesmo psicólogo não pode tratar do mesmo 
cliente nas duas abordagens. Caso o sujeito venha até ele com uma 
demanda de aconselhamento e, ao longo das sessões, perceba a 
necessidade de um tratamento psicoterápico, o profissional deve 
encaminhá-lo a um colega seu e vice-versa.
Em função do Brasil não possuir uma formação acadêmica tão 
estabelecida em aconselhamento psicológico, como nos Estados Unidos 
e Canadá, é muito comum vermos psicólogos atuando nesta área com 
pós-graduação no exterior, tendo em vista que muitas universidades 
não oferecem sequer, na graduação em Psicologia, cursos em 
aconselhamento, embora já existam instituições oferecendo estágios 
neste fazer clínico e laboratórios de excelente qualidade acadêmica.
4. Principais campos de atuação do 
aconselhamento psicológico no Brasil
Carl Rogers é uns dos principais nomes da história do aconselhamento 
psicológico e o criador da abordagem denominada Abordagem Centrada 
na Pessoa (ACP). Independente da abordagem em aconselhamento 
psicológico, a ACP será, na maioria das vezes, a base da prática clínica, 
adaptada aos seus objetivos particulares. Isso não quer dizer que não 
exista um fazer em aconselhamento psicológico que não seja baseado 
na ACP, embora sejam bem menos frequentes, de acordo com Castelo 
Branco (2019). O aconselhamento psicológico, no Brasil, é muito usado 
em plantões psicológicos nos mais variados setores, desde consultórios 
a hospitais, escolas, igrejas e até mesmo em algumas delegacias de 
polícia. Entre as principais abordagens mais comuns, no Brasil, podemos 
enumerar as seguintes:
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• Aconselhamento escolar e pedagógico: auxilia alunos do ensino 
fundamental e médio (e mais recentemente ensino superior) 
na identificação, elaboração e resolução de crises pessoais e/ou 
interpessoais, que estejam influenciando direta ou indiretamente 
o desempenho acadêmico do aluno por meio da elaboração das 
potencialidades dos processos cognitivos do estudante, fazendo 
com que possa remover empecilhos psicoemocionais em relação 
ao seu desempenho escolar. O objetivo é de prevenção de 
problemas maiores que acabem por comprometer de forma mais 
profunda os estudos do sujeito e, em alguns casos, levando até a 
evasão escolar.
• Aconselhamento psicológico no campo social: promove a inclusão 
social por meio de sessões individuais ou em grupo, nas quais se 
promova a autonomia do sujeito vítima de preconceito, racismo, 
homofobia, misoginia e outras situações causadas por agentes 
opressores. O aconselhamento psicológico grupal, neste caso, se 
mostra muito eficiente, pois a exclusão social não é vista apenas 
como sofrimento individual, mas, antes, fruto do isolamento 
e estigmatização de determinada minoria, muitas vezes, 
denominado no aconselhamento psicológico como sofrimento 
ético-político. A experiência individual da segregação sofrida é 
compartilhada por outros membros de uma mesma comunidade. 
Portanto, o aconselhamento psicológicoatua como poderoso 
instrumento transformador e de empoeiramento individual e 
grupal.
• Aconselhamento psicológico no campo da saúde: o 
aconselhamento psicológico possui uma particularidade talvez 
única no contexto dos cuidados da saúde. O profissional possui 
uma escuta idiossincrática, pois as demandas que chegam até 
ele tem uma diversidade difícil de encontrar em outras fazeres 
clínicos. O plantonista em hospitais gerais, por exemplo, deve estar 
preparado para demandas que vão desde crises de ansiedade 
até vítimas de acidentes de trânsito que, ao mostrarem-se muito 
49
nervosas, são encaminhadas ao plantão de aconselhamento. Além 
disso, existem as demandas pré e pós cirurgia, muito comum 
em cirurgias bariátricas, neofaloplastia (conhecida como cirurgia 
de mudança de gênero) e mastectomia (retirada do seio em 
casos de câncer), auxílio na elaboração emocional de resultados 
laboratoriais, tais como HIV, câncer etc.
• Acompanhamento psicológico como tratamento clínico regular: 
o grande diferencial clínico no aconselhamento é o foco na 
prevenção. Além disso, a clínica em aconselhamento, quando não 
existe uma demanda urgente, buscará sempre estabelecer um 
plano de ação junto ao cliente para que este atinja os objetivos 
esperados. Assim, o psicólogo deve fazer uma reavaliação 
periódica junto com seu cliente, a fim de reavaliar a proposta do 
tratamento caso necessário. Da mesma forma, diferente da clínica 
psicológica tradicional, o profissional oferece o que se denomina 
devolução de resultados ao cliente, tendo em vista o caráter 
objetivo e de curto prazo do tratamento, segundo Amatuzzi (2012).
• Aconselhamento psicológico no contexto organizacional: o 
aconselhamento no contexto organizacional não deve ser 
confundido com o papel do psicólogo em funções de recursos 
humanos, onde suas funções estão mais concentradas em 
acompanhamento nas entrevistas de contratação e desligamento, 
treinamento e capacitação de pessoal, segundo Scorsolini-Comin 
(2015). O aconselhamento em empresas é muito usado em 
situações de adaptação profissional, ou seja, quando o funcionário 
é realocado de sua função, cidade ou país. O psicólogo deve 
estar focado na manutenção da saúde mental do funcionário, 
fazendo, como é característica do aconselhamento, um trabalho de 
prevenção. O aconselhamento psicológico organizacional investiga 
os diversos fenômenos psicológicos referentes a questões 
organizacionais, tais como Burnout, ansiedade em função da 
competição acirrada, dependência de álcool e drogas entre outros, 
de acordo com Scorsolini-Comin (2015).
50
• Aconselhamento psicológico no contexto esportivo profissional: as 
demandas no contexto esportivo são, muitas vezes, advindas do 
ambiente altamente competitivo entre integrantes das equipes. 
Entre os homens, a vigorexia (ou a necessidade compulsiva de se 
manter em boa forma física a qualquer custo) tem se mostrado 
muito frequente. O psicólogo que trabalha neste contexto deve 
ter minimamente de Fisiologia, anatomia, assim como as regras 
do esporte de seus clientes. Além disso, o profissional deve buscar 
compreender as consequências dos diferentes estados emocionais 
dos atletas nas mais diversas situações nas quais poderá afetar 
o cliente que busca ajuda, ajudando-o a elaborar suas emoções, 
a fim de manter sua saúde mental e suas habilidades físicas, 
segundo Weinberg (2016).
• Aconselhamento psicológico no contexto religioso: tema de muito 
debate e polêmicas, o aconselhamento psicológico em templos e 
igrejas tem sido defendido e atacado por diferentes correntes na 
Psicologia, embora seja autorizado pelo CFP. Todavia, o risco em 
resvalar em questões éticas é grande e, por isso, o psicólogo que 
atue neste contexto deve estar muito atento a estas questões. A 
maior fonte de controvérsias se origina em situações nas quais 
o líder religioso instrui o psicólogo a adotar condutas clínicas 
que ferem a ética da profissão. Entre estas situações está a 
chamada terapia de conversão, na qual o cliente LGBTQ+ tem 
seu tratamento conduzido no sentido de reverter sua orientação 
sexual para que este seja heterossexual, algo que contradiz o 
código de ética de Psicologia, passível de cassação do registro 
do profissional. Entretanto, o aconselhamento psicológico no 
contexto religioso é muito rico e de muito mais abrangência do 
que esta polêmica que, por ter maior visibilidade na imprensa, 
acaba sofrendo uma injusta estigmatizaçāo, mesmo entre muitos 
psicólogos, de acordo com Munguba (2012).
Em igrejas protestantes, de maneira geral, este serviço é denominado 
aconselhamento pastoral. As responsabilidades do psicólogo, neste 
51
caso, estão na esfera do aconselhamento direcionado a membros da 
denominação religiosa em questão e seus familiares, feito de forma 
bem estruturada e com o propósito de auxiliá-los em crises pessoais, 
familiares ou mesmo aconselhamento em geral. Já no Espiritismo, o 
aconselhamento se denomina atendimento fraterno e é realizado de 
forma individual ou em grupo, por meiode conversas informais, mas 
seguindo a ética e o modelo clínico do aconselhamento psicológico.
Figura 3–O aconselhamento psicológico no contexto religioso pode 
seguir a orientação da religião na qual está inserido, desde que não 
contrarie o código de ética da Psicologia
Fonte: SDI Alina555/ iStock.com.
No catolicismo, o aconselhamento psicológico leva, muitas vezes, (mas 
não somente) o nome de direção espiritual. Nesse caso, o objetivo é o 
acolhimento incondicional do demandante, no qual sempre se incentiva 
o perdão e aconselhamento para alcançar a paz interior. Apesar de ser 
obrigação do profissional manter uma postura misericordiosa, este não 
está isento, como em nenhuma outra religião, de cumprir as obrigações 
éticas da Psicologia.
52
Embora tais normas éticas devam ser seguidas, o aconselhamento no 
contexto religioso não está proibido de incluir, nos temas das sessões, 
a palavra de Deus ou das entidades da denominação, assim como pode 
observar as doutrinas da religião, desde que não entrem em conflito 
com as normas do CFP e/ou com a lei vigente. O aconselhamento 
psicológico no contexto religioso tem papéis sociais e de saúde mental 
muito importantes. Entre outras razões, pode promover a aproximação 
da ciência com a religião, além de promover a maior tolerância inter-
religiosa por meio de seminários, conferências e palestras.
Em termos históricos, o aconselhamento psicológico nasceu nos 
Estados Unidos, onde, atualmente, é não só respeitado, mas também 
estabelecido como tendo papel fundamental na sociedade no sentido 
da promoção do bem-estar e manutenção da saúde mental da 
população em geral, assim como no Canadá. Seu início se deu em dois 
momentos: o primeiro, com a publicação do livro Psicoterapia e Consulta 
Psicológica, do psicólogo Carl Rogers, a respeito da prática clínica do 
aconselhamento; e, depois, em 1945, com o mesmo psicólogo norte-
americano, a convite da Universidade de Chicago, com o intuito de 
prestar auxílio psicológico pontual a veteranos da Segunda Guerra 
Mundial.
O nome couselling, traduzido, no Brasil, como aconselhamento, foi criado 
também por Carl Rogers, após ele ter sido proibido de se autodenominar 
psicoterapeuta por não possuir formação médica. Comparativamente, 
o Brasil ainda está nos estágios iniciais do aconselhamento, por isso, 
a reduzida produção de pesquisas acadêmicas, mas a tendência é que 
esta modalidade clínica se estabeleça e seja cada vez mais reconhecida 
não só na sociedade brasileira, mas também na academia (ANTÚNEZ; 
SAFRA, 2018). Consequentemente, é necessário que mais pesquisas 
sejam promovidas nesta área da Psicologia clínica, no Brasil, incluindo 
investigações qualitativas com clientes e suas percepções acerca de suas 
experiências com a clínica do aconselhamento psicológico brasileiro.
53
Para concluir, o aconselhamento psicológico pode ser diretivo ou 
não diretivo e, neste último, o orientador auxiliará o demandante 
a tomar suas decisões,

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