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Conteudista: Prof. Me. Bruno Pinheiro Ribeiro Revisão Textual: Vanessa Dias Objetivos da Unidade: Conhecer diferentes linguagens de rua; Re�etir sobre a importância das linguagens de rua; Observar a potência estética e cultural das linguagens de rua; Estabelecer relações entre a educação e as linguagens de rua. Material Teórico Material Complementar Referências Linguagens da Rua A Rua Nesta Unidade estudaremos as linguagens da rua. Terminar esse percurso das linguagens artísticas na rua é signi�cativo. Primeiro porque a rua é convergência de mundos, é na rua que se manifestam diversas frentes culturais, a rua é uma espécie de cadeirão no qual a mistura é seu tempero fundamental. Outro aspecto interessante da rua é que de certo modo, na história da arte, as manifestações de rua quase sempre foram marginalizadas, estigmatizadas e diminuídas de sua dimensão estética. Sendo assim, chamar a atenção para as linguagens de rua é incidir criticamente sobre os aspectos teóricos e políticos que de�nem o que é e o que não é arte. E a rua segue produzindo arte, mesmo que alguns não deem esse nome. Assim como as demais linguagens estudadas em nossa disciplina, as linguagens da rua também se destacam por sua multiplicidade. E aqui, nesse caso, o que reúne essa diversidade é o espaço da rua, o ambiente público por excelência. Essa dimensão pública confere às linguagens da rua algumas características importantes. A primeira delas é que tais linguagens, ao se apropriarem da rua, apropriam-se de maneira consciente ou não, daquilo que é compartilhado, daquilo que concerne ao público, daquilo que se dissemina pela cidade, daquilo que é de uma maneira ou de outra experimentando por quem passa e por quem vive em tal ambiente. Sendo assim, as linguagens da rua têm uma dimensão de comunicabilidade com o tempo e o espaço de maneira muito especial. De modo geral tais linguagens respiram a história pública, respiram questões que se apresentam no coletivo, formas que se sedimentam nessas experiências compartilhadas e que muitas vezes atravessam o tempo. 1 / 3 Material Teórico Um segundo aspecto interessante é que ao se referir ao público, as linguagens da rua têm dimensão política, elas participam (em graus variados) dos debates e dos comportamentos públicos. Ou seja, sua interferência na vida da cidade é relevante, suas ações estéticas reverberam no conjunto da sociedade dos mais variados modos. Vale ressaltar, para �nalizar essa primeira parte da unidade, que as linguagens da rua operam sensitivamente sobre as pessoas. A potência de tais linguagens se dá também por sua capacidade estética, por sua possibilidade de se relacionar com os sentidos do público. Desse modo, as linguagens de rua são formas que operam e desenvolvem formas de percepção e possibilidades de leitura do espaço, do tempo e dos corpos. As Formas Como já pudemos observar em outras unidades as linguagens artísticas ocorrem nos mais variados espaços, nas mais diversas circunstâncias, logo a rua é mais um desses ambientes de produção e difusão das linguagens. Podemos dar vários exemplos a partir das linguagens estudadas: a arquitetura e sua capacidade de elaborar edi�cações e intervir na dinâmica do espaço público; as manifestações do gra�tti e demais artes plásticas urbanas que têm muros, prédios, e demais superfícies da cidade como suporte, como se fossem painéis e quadros públicos; as manifestações musicais que ocorrem na rua e ampli�cam os sons para um grande número de pessoas; as performances cênicas que de maneiras diversas intervêm sobre o olhar de passantes, que absorvem por alguns instantes a atenção dos transeuntes etc. Essas e tantas outras experiencias tem a rua como palco, tela, superfície, espaço, material etc., em suma tem a rua como elemento fundamental para sua existência enquanto linguagem artística, ou seja, a rua é um dos pilares constitutivos dessas formas em sua dimensão estética. Além dessas manifestações estudadas anteriormente – que se realizam na rua, mas de certa forma mantêm relação com linguagens que não necessariamente tem a rua como parâmetro de realização – existem uma extensa gama de experiencias artísticas que tem a rua como eixo de sua existência, como fundamento de sua forma, como destino inequívoco de sua realização. Serão essas que estudaremos a seguir, com destaque especial para as linguagens produzidas no Brasil. Por uma série de razões de nossa formação social ao, as linguagens de rua se desenvolveram e se sedimentaram de maneira excepcional, sendo um dos elementos mais importantes de nossa cultura, um dos elementos mais complexos e ricos de nossa vasta experiencia artística. Comecemos com as palavras do historiador brasileiro Luiz Antonio Simas sobre o carnaval: A acepção de Simas sobre o carnaval é interessante porque nos lança alguns problemas fundamentais da festa carnavalesca e das linguagens da rua de modo geral. O primeiro deles que Simas nos chama a atenção é a desquali�cação da festa, ou seja, a desquali�cação da linguagem da rua como alguma coisa que não está situada no panteon da cultura, como alguma coisa menor, reles. E tal caracterização se assenta num chão histórico de perseguição, opressão e aniquilamento de pobres e descendentes de pessoas escravizadas. Desse modo a festa carnavalesca tem um sentido de resistência, de insistência num modo de vida que a todo momento é questionado e que se tenta limitar. - SIMAS, 2019 “O carnaval é perigoso. O controle dos corpos sempre foi parte do projeto de desquali�cação das camadas historicamente subalternizadas como produtoras de cultura. Esse projeto de desquali�cação da cultura é base da repressão aos elementos lúdicos e sagrados do cotidiano dos pobres, dos descendentes dos escravizados e de todos que resistem ao con�namento dos corpos e criam potência de vida. O corpo carnavalizado, sambado, disfarçado, revelado, suado, sapateado, sincopado, dono de si, é aquele que escapa, subindo no salto da passista, ao con�namento da existência como projeto de desencanto e mera espera da morte certa. O carnaval é o duelo entre o corpo e a morte.” O outro aspecto fundamental da linguagem que Simas ressalta é o corpo. O autor com sua bela prosa nos mostra como o corpo da festa, o corpo do carnaval, o corpo da linguagem da rua, se move a partir de seus desejos, que são em última análise a a�rmação da vida. O duelo entre vida e morte aparece no carnaval por meio da possibilidade, da potência do encantamento, da resistência ao mundo desencantado imposto pela lógica sistêmica do capitalismo. O corpo é, portanto, um instrumento de luta, um agente de resistência, que se projeta para além de si mesmo, e que vive, porque valoriza a experiencia e as práticas da rua. Um corpo que cria uma gramática do encantamento. Seguimos nosso percurso, agora, com algumas de�nições realizadas sobre linguagens de rua, por Luís da Câmara Cascudo. Longe de conseguir esgotar quantidade das linguagens, essas de�nições são uma forma de inteirar-se com a diversidade e a riqueza das manifestações culturais brasileiras de rua. Bumba-Meu-Boi: Boi Calemba, Bumba (Recife), Boi-de-Reis, Boi-Bumbá (Maranhão, Pará, Amazonas), Três Pedaços (Porto da Rua, Porto de Pedras) em Alagoas, Folguedo-do-Boi, Reis-do-Boi em Cabo Frio (...) Bumba é interjeição, zás, valendo a impressão de choque, batida, pancada. Bumba-meu-Boi será “Bate! Chifra, meu Boi!” voz de excitação repetida nas cantigas do auto, o mais popular, compreendido e amado do Nordeste, o “folguedo brasileiro de maior signi�cação estética e social” para Renato Almeida .Exibe-se dos meados de novembro à noite de reis, 6 de janeiro, pertencendo ao ciclo do Natal (...) Apresenta-se em terreiro livre, campo aberto, não demandando tablado e atendendo aos convites para residências particulares. (CASCUDO, s\n, p. 192\193); Congadas, Congados, Congos: autos populares brasileiros, de motivação africana, representados no Norte, Centro e Sul do país. Os elementos de formação foram: A) coroação dos reis de Congo; B) préstitos e embaixadas; C) reminiscências de bailados guerreiros, documentativos de lutas, e a reminiscência da Rainha Njinga Nbandi (...) (CASCUDO, s\n, p. 298); Mamulengo: espécie de divertimento popular em Pernambuco, que consiste em representações dramáticas, por meio de bonecos, em um pequeno palco, ou espaço elevado. Por detrás de uma empanada escondem-se uma ou duas pessoas adestradas, e fazem com que os bonecos se exibam com movimento e fala. A esses dramas servem ao mesmo tempo de assuntos cenas bíblicas e de atualidade. Tem lugar por ocasião das festividades de igreja, principalmente nos arrabaldes. (CASCUDO, s\n, p.543); Com essa breve descrição é possível ter dimensão da imensidão de riquezas e complexidades que estão envolvidas as linguagens de rua. Sua variação geográ�ca, formal, espacial, temática e histórica contribui de maneira decisiva para que tais linguagens sejam elementos de construção simbólica fundamental para nossa sociedade. Educação e Rua Maracatu: grupo carnavalesco pernambucano, com pequena orquestra de percussão, tambores, chocalhos, gonguê (agogô dos candomblés baianos e das macumbas cariocas), percorre as ruas cantando, dançando sem coreogra�a especial. (...) Diz-se sempre nação, sinônimo popular de grande grupo homogêneo, e os títulos têm sabor primitivo: Nação de Porto Rico, Nação de Cambinda Velha, Nação do Elefante, Nação do Leão Coroado. À frente vão rei e rainha, príncipes, damas, embaixadores, dançarinas (vestidas de baianas) e indígenas com enduapes e cocares emplumados. (CASCUDO, s\n, p.552\553); Reisado: é denominação erudita para os grupos que cantam e dançam na véspera e dia de Reis (6 de janeiro). Em Portugal diz-se reisada e reiseiros (...) que tanto pode ser o cortejo de pedintes, cantando versos religiosos ou humorísticos, como os autos sacros, com motivos sagrados da história de Cristo (...) (CASCUDO, s\n, p.774); Quadrilha: a grande dança palaciana do séc. XIX, protocolar, abrindo os bailes da corte em qualquer país europeu ou americano, tornada preferida pela sociedade inteira, popularizada sem que perdesse o prestígio aristocrático, vívida, transformada pelo povo que lhe deu novas �guras e comandos inesperados, constituindo o verdadeiro baile em sua longa execução de cinco partes, gritas pelo “marcante”, bisadas, aplaudidas, desde o palácio imperial aos sertões. (CASCUDO, s\n, p.745); Quilombo: o quilombo ou dança dos quilombos, existente nas Alagoas, é considerado como uma sobrevivência histórica do Quilombo dos Palmares, que a partir dos meados do séc. XVII se estabeleceram em terras da comarca das Alagoas, então pertencente a Capitania de Pernambuco, mais particularmente na serra do Barriga (...) (CASCUDO, s\n, p.754). Como pensar as relações entre educação e as linguagens da rua? Nosso �nal de percurso se coloca com essa pergunta e apresenta o questionamento do historiador Luiz Antonio Simas: SIMAS nos provoca a re�etir sobre a centralidade da rua como espaço privilegiado para um projeto educativo importante, interessante e que seja capaz de vislumbrar outros futuros para o país. Ao fazer essa aposta, o historiador nos coloca diante de questões pedagógicas fundamentais: quais são as nossas referências? O que nos serve de base para construir pensamento? Quais os espaços que pisamos? Para onde olhamos? Embora não tenhamos respostas prontas, é interessante pensar que as próprias ruas especulam possibilidades para essas perguntas na medida em que seguem produzindo experiencias e imaginações, recheando assim nosso espaço simbólico de referências. Sendo assim, pensar pedagogicamente em relação às linguagens da rua é pensar e experimentar o que se faz por aí, o que se vive nas frestas das o�cialidades, o que se canta e dança Brasil afora, por praças, becos, favelas e ruas. É apostar no que pode um corpo que festeja, que se paramenta para o encontro com outros corpos, que se deixa levar pelas batidas de tambores e sopros harmônicos, que vai pela cidade como se de�nitivamente ela fosse sua. A linguagem da rua é, portanto, uma linguagem que ensina que a rua, o espaço público, pertence a todos, que se forja no ambiente do comum, no qual o diverso é sua força e sua seta. Aprendamos com a rua, então. - SIMAS, 2019 “Os comprometidos com a tarefa da invenção do país nas encruzilhadas da educação não poderão se esconder mais apenas em seus aparatos teóricos, leituras clássicas e ideologias redentoras. A educação está também fora dos muros escolares. Se a escola não reconhecer isso, pior para ela e para quem ela educa. Aí mora o problema.” Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Vídeos Luiz Antônio Simas faz Re�exão sobre o Carnaval 2 / 3 Material Complementar LUIZ ANTÔNIO SIMAS FAZ REFLEXÃO SOBRE O CARNAVAL https://www.youtube.com/watch?v=YK083GApA48 Danças Regionais – Maracatu de Baque Virado Reisado Barbalha Curta! Danças Regionais - Maracatu de Baque Virado - Aline Valen… Reisado Barbalha 06 - 01 - 2013 https://www.youtube.com/watch?v=iF4j747M8Hg https://www.youtube.com/watch?v=MwhSKIu5GXs Alguns Personagens do Cavalo-Marinho Alguns Personagens do Cavalo-Marinho https://www.youtube.com/watch?v=iqzvynCZvnQ SIMAS, L. A. O Corpo Encantando das Ruas. Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 2019. CASCUDO, L. da C. Dicionário do Folclore Brasileiro. Ediouro, São Paulo, s\n. 3 / 3 Referências
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