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- -1 Sociedade de consumo Priscilla Silva Silvestrin Introdução Você já sentiu desejo ou idealizou uma meta para esse desejo, que pode ser bem ou produto? Mas como é que o ser humano chegou nesse estágio de consumo? Como foi que a sociedade se organizou para contemplar nossos desejos e expressar nossa singularidade por meio do consumo, que, ademais, pode definir pessoal estatus social? Em sociedade, o desejo acaba orientado pelo consumo, de modo que a satisfação de nossas demandas implica uma dinâmica social que atravessa toda a sociedade e cultura. Ao final desta aula, você será capaz de: • reconhecer os aspectos históricos do consumo identificando-os com a sociedade de consumo e a construção dos mercados. História do consumo A história do consumo acompanha a história humana porque o ser humano é desejante, e o consumo se apresenta como capaz de suprir o desejo e de nos diferenciar ou nos equiparar aos indivíduos do nosso grupo ou sociedade. Os grupos sociais de que fazemos parte nos fazem interagir socialmente e justificam nossos hábitos de consumo. Para Karsaklian (2012, p. 101): Entende-se por grupo de referência toda a agregação de interação pessoal que influencia as atitudes e os comportamentos de um indivíduo. É fundamental saber que o grupo influencia a concepção que o indivíduo tem de si mesmo, constituindo-se em seu ponto de referência. Com base nessa referência é que o homem decide o que, como e quando consumir determinado produto ou serviço, em outras palavras, os grupos influenciam o consumo em razão da nossa cultura, da nossa sociedade e porque estamos inseridos em grupos que nos referenciam. Figura 1 - História do Direito do Consumidor Fonte: Elaborada pela autora (2018). A cultura tem papel essencial na forma de consumir, pois ela aparece como um conjunto de comportamentos • - -2 A cultura tem papel essencial na forma de consumir, pois ela aparece como um conjunto de comportamentos distintos e concretiza uma série e prescrições de comportamentos que revelam um sistema de valores, decorrentes das sociedades em que estão inseridos e que levam o homem a se tornar um consumidor. Intervenção do Estado para promover o consumo – Revolução Industrial e New Deal A Revolução Industrial (1820) ocorrida no mundo foi responsável, pela primeira vez, por um excesso de bens colocados à disposição do homem, ou seja, uma superprodução fabril, acentuada pelas eficiências produtivas, ocorridas no decorrer do século. Essa superprodução resultou em um estoque de produtos que não possuíam mais um mercado para absorvê-lo e que foi também a origem da Crise de 1929, a maior recessão que o Capitalismo já experimentou. Iniciou-se nos Estados Unidos, mas seus reflexos foram sentidos em todo o mundo, inclusive no Brasil, com a redução das exportações do café. Assim, diversas ações foram tomadas para se tentar controlar os efeitos nocivos desse modelo de desenvolvimento, facilitando o consumo. O Estado concedeu crédito, inflacionou propositalmente a economia e elaborou políticas contra o desemprego. Esse movimento foi chamado de New Deal. Figura 2 - New Deal Fonte: Elaborada pela autora (2018). Relevante destacar que o Estado, ao intervir na economia, possibilitou a continuação do desenvolvimento, do FIQUE ATENTO Em uma economia, a lei da oferta e da procura é o que rege a formação de preços no mercado e, nesse modelo, há um equilíbrio entre o que os fornecedores estão dispostos a oferecer e os consumidores a consumir. A lei da procura diz que, quanto menor o preço, maior a quantidade de consumidores procurando no mercado os produtos que queiram comprar. Quanto mais alto for o preço, menos pessoas estarão dispostas a pagar pelo produto. - -3 Relevante destacar que o Estado, ao intervir na economia, possibilitou a continuação do desenvolvimento, do consumo e da geração de renda. Contudo, outra problemática relevante se estabeleceu, haja vista que o consumo é uma maneira contraditória e ineficaz de manter o desenvolvimento das sociedades, especialmente, em razão do exaurimento dos recursos naturais, pois nem todos são renováveis, como o petróleo, o carvão ou o gás natural. O Estado tem papel importante na relação entre o consumidor e o fornecedor porque é o detentor das decisões sobre políticas fiscais e monetárias, que podem influenciar o produto, o emprego e a inflação. Temos, portanto, uma função de regulação estatal da economia. Sociedade de consumo A expressão sociedade de consumo é relativamente recente e decorre do desenvolvimento industrial atingido pela evolução dos meios de produção e diz respeito, também, à produção dos discursos culturais a partir dos próprios meios de comunicação de massa. Um exemplo dessa tônica são as propagandas comerciais que incentivam o consumo de diversos produtos ou serviços, espalhadas em todos os lugares possíveis: rádio, televisão, internet, jornais e revistas. Figura 3 - Sociedade de consumo decorrente do desenvolvimento industrial Fonte: HelloRF Zcool, Shutterstock, 2018. Perin Júnior (2003) afirma que o consumo representa o ponto de partida da atividade econômica e é um SAIBA MAIS O curta-metragem do tipo documentário “Ilha das Flores”, produzido por Jorge Furtado, em 1989, retrata o atual modo de produção e de consumo com base no sistema capitalista. Aborda a desigualdade social, a fome, a pobreza e, em treze minutos, faz com que o espectador reflita acerca do consumismo e se atente às questões ambientais que certamente trarão impacto no futuro das gerações. Assista e saiba mais! - -4 Perin Júnior (2003) afirma que o consumo representa o ponto de partida da atividade econômica e é um importante componente da vida humana, enfatizando que o problema dos mercados globalizados é, provavelmente, uma das maiores dificuldades da sociedade contemporânea, dando relevância ao tema. A partir do cenário no qual o Estado aumenta os salários, objetivando um fomento no consumo, as empresas com uma superprodução passam a competir pelo mercado consumidor dos seus produtos a fim de gerar mais lucros e continuar o ciclo do desenvolvimento. Então, para atender à demanda por consumo, desenvolvimento econômico e progresso da sociedade, os métodos produtivos evoluíram com base nas teorias clássicas da administração tendentes a acudir necessidades humanas. Sobre a relação entre empresa e pessoas, assevera Chiavenato (2014, p. 2) que há uma estreita interdependência: a vida das pessoas depende das organizações, e estas dependem da atividade e do trabalho das pessoas. Ainda: As pessoas nascem, crescem, aprendem, vivem, trabalham, divertem-se, são tratadas e morrem dentro de organizações. O mundo atual é uma sociedade institucionalizada e composta de organizações. Toda a produção de bens (produtos) ou de serviços (atividades especializadas) é realizada por meio de organizações. (CHIAVENATO, 2014, p. 2). Outhwaite et al. (1996 p. 727), ao analisarem a mudança do trabalho humano relação ao realizado por máquinas e computadores, afirmaram que: Em paralelo com essas mudanças tecnológicas, temos as transformações sociais e culturais, refletindo as mudanças de uma sociedade baseada na manufatura e produção de bens materiais para uma sociedade baseada em uma economia de serviços. O acerto desses autores está em apontar as mudanças nas mentalidades que acompanham as transformações da produção e consumo: é por isso que você deve ficar atento às mudanças tecnológicas. EXEMPLO Antes da existência da sociedade de consumo, os interessados discutiam a matéria-prima e as características do produto, caracterizando a bilateralidade na relação de consumo. Atualmente, há unilateralidade na produção, pois o fornecedor decide as qualidades do produto oferecido ao consumidor, a quem cabe adquirir o produto ou aderir ao contrato. Exemplo: par de botas de couro. Era necessário fornecer a matéria-prima (couro) a um artesão (sapateiro) para a confecção. Hoje o fabricante declara: 100% couro. - -5 Como visto, o desenvolvimento industrial, os meios de produção, a evolução humanae a proteção ao Direito do Consumidor decorrem da evolução social. Os próximos passos da evolução da sociedade de consumo apontam para a sustentabilidade e preocupação com as gerações futuras. Mercados, necessidades, demandas e trocas O produto ou serviço deve atender ao desejo, consciente e inconsciente, do consumidor, de modo que ofereça a este uma possibilidade de diferenciação, de subjetivação. Para atingir o consumidor, as empresas precisam elaborar estratégias de marketing, com base no mercado, nas necessidades dos consumidores, nas demandas e nas trocas, conforme a figura a seguir. FIQUE ATENTO O Governo Federal, em atenção à sua responsabilidade socioambiental destinada a promover a produção e o consumo sustentáveis, possui uma campanha permanente para reduzir os impactos dos problemas relacionados com o lixo. Para o governo, um caminho a ser trilhado para poupar os recursos naturais e conter o desperdício é aplicar o "Princípio dos 3 Rs, que significa: Reduzir (consumir menos), Reutilizar (usar novamente) e Reciclar (transformar materiais usados em outros úteis). - -6 Figura 4 - Mercados, necessidades, demandas e trocas Fonte: Elaborada pela autora (2018). A sociedade, cujos gostos e crenças estão conformados pelos meios de comunicação, é quem dita o consumo, de acordo com aquilo que julga tendente a satisfazer as necessidades das pessoas. Dentro do campo jurídico, a satisfação dessas necessidades pressupõe um contrato, sendo que esse contrato possui uma série de requisitos e, eventualmente, alguma proteção a ser conferida para alguma das partes a fim de se estabelecer o necessário equilíbrio. Essa é a chave do Direito do Consumidor. Fechamento Agora que você já conhece a sociedade de consumo e seus aspectos históricos, poderá atentar-se à importância deste estudo durante o seu curso. Nesta aula, você teve a oportunidade de: • identificar que o ser humano vive em sociedade e nela se reconhece como indivíduo; • reconhecer que a intervenção estatal por meio do <i>New Deal </i>foi determinante para a evolução do consumo; • compreender que existem sujeitos em uma relação de consumo que evoluíram com o tempo; • constatar que a oferta atende às necessidades dos clientes, demandas estratégicas do negócio realizadas por meio de trocas. • • • • - -7 Referências BARBOSA, L. . Rio de Janeiro: Zahar, 2004.Sociedade de consumo CHIAVENATO, I. : abordagens prescritivas e normativas. Barueri/SP: Manole,Teoria geral da administração 2014. v. 1. KARSAKLIAN, E. . 2. ed. São Paulo: Atlas, 2012.Comportamento do consumidor OUTHWAITE, W. et al. . Rio de Janeiro: Zahar, 1996.Dicionário do pensamento social do século XX PERIN JÚNIOR, E. : aspectos relevantes sobre a harmonizaçãoA globalização e o direito do consumidor legislativa dentro dos mercados regionais. Barueri/SP: Manole, 2003. - -1 Consumidor e fornecedor Estéfano Luís de Sá Winter Introdução As relações de consumo são muito importantes para a geração de riqueza na sociedade. De um lado, os fornecedores e, de outro, os consumidores realizando transações o tempo todo. Quais as normas gerais que regulam essas transações? Existe algum conceito jurídico que defina o consumidor? Quais são as normas que tutelam essa relação e por qual motivo o Direito tem um olhar próprio para o consumo? Para responder essas perguntas, devemos compreender os conceitos de consumidor e fornecedor, nosso objeto de estudo neste tema. Ao final desta aula, você será capaz de: • identificar as figuras centrais da relação de consumo, analisando as suas características e responsabilidades legais. Princípios gerais que incidem nas relações de consumo As relações de consumo possuem regulação própria pelo Direito, cujas regras mais relevantes se encontram no Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/1990), o qual representou um grande avanço e conquista para a sociedade brasileira à medida que concretizou as diretrizes constitucionais de subordinação da iniciativa econômica ao respeito aos consumidores (art. 170, V da CF/88). • - -2 Figura 1 - Proteção ao consumidor como principal missão do CDC Fonte: Zoriana Zaitseva, Shutterstock, 2018. O Código de Defesa do Consumidor tem por objetivo concretizar a Política Nacional das Relações de Consumo, buscando harmonia nas relações consumeristas, transparência, respeito às necessidades e direitos dos consumidores (art. 4º do CDC). Para tanto, o CDC estabelece um conjunto de princípios jurídicos que são os balizadores e norte de todas as práticas comerciais. Nesse sentido, conheça na tabela a seguir os princípios mais relevantes do CDC. - -3 Tabela 1 - Princípios do Código de Defesa do Consumidor Fonte: Elaborada pelo autor (2018). A interpretação e aplicabilidade de cada um desses princípios é uma das principais missões daquele que atua no mercado, sendo lesiva qualquer prática comercial que viole os princípios citados. Além disso, conforme Nunes (2012), o CDC é uma lei principiológica, o que significa dizer que se aplica a toda e qualquer relação jurídica de consumo, mesmo que o tema tenha legislação própria. Dessa forma, disposições e regras de uma lei infraconstitucional específica que conflitem com as normas e princípios do CDC perdem sua aplicabilidade, sujeitando-se ao Código do Consumidor (NUNES, 2012). Conceito de fornecedor A aplicabilidade dos princípios do Código de Defesa do Consumidor exige a compreensão dos conceitos de consumidor e fornecedor para a correta caracterização de uma relação de consumo. Nesse sentido, pode-se afirmar que é fornecedor, para fins de definição legal do CDC, qualquer pessoa que executa atividade de produção, montagem ou transformação de um produto que será distribuído ou comercializado, seja pessoa jurídica ou física, privada ou pública, nacional ou internacional (art. 3º do CDC). - -4 Figura 2 - Fornecedor é todo aquele que comercializa ou distribui um produto Fonte: Nestor Rizhniak, Shutterstock, 2018. Ademais, define-se como produto todo e qualquer bem que atende a uma necessidade do consumidor, seja bem material ou imaterial, móvel ou imóvel (art. 3º, § 1º do CDC). Portanto, todo aquele que atua como um agente econômico no mercado de consumo, seja de forma eventual ou habitual, entregando ao consumidor produto ou serviço que visa a atender uma necessidade específica desse consumidor, com a finalidade de auferir ganho financeiro ou possui interesse comercial, caracteriza-se como fornecedor para os fins legais (MIRAGEM, 2016). Conceito de consumidor Se, por um lado, o conceito de fornecedor não nos parece ter maior complexidade, por outro lado, o conceito de consumidor é bastante controverso e tem contornos menos definidos, a despeito da regulação do Código de Defesa do Consumidor. Nesse sentido, analisando as disposições do CDC, constata-se que consumidor é definido como toda pessoa que é destinatária final, seja pessoa física ou jurídica, de um produto/serviço adquirido ou utilizado (art. 2º do CDC). FIQUE ATENTO Quando utilizamos a expressão “produto” para qualquer discussão que envolve relações de consumo, nessa expressão está incluído também qualquer tipo de prestação de serviço, inclusive atividades bancárias, financeiras, de crédito e de seguro, com exceção apenas das atividades decorrentes de relação de emprego (art. 3º, § 2º do CDC). - -5 Figura 3 - Consumidor é o destinatário final de um produto ou serviço Fonte: Syda Productions, Shutterstock, 2018. A principal questão que surge na análise e interpretação dessa definição de consumidor reside na dificuldade de explicar o que significa ser “destinatário final”, questão esta que motiva um debate entre duas teorias, conhecidas como Teoria Finalista e Teoria Maximalista. Por essa razão, para uma compreensão precisa do conceito de consumidor, é necessário analisarmos cada uma dessas teorias. Acompanhe! Interpretação maximalista do conceito de consumidor A Teoria Maximalista aborda o conceito de consumidor de forma ampliada, entendendo que é consumidor todo aquele que adquireum produto/serviço, seja para finalidade privada ou econômica. Nesse sentido, uma empresa que compra computadores para sua atividade produtiva é entendida como consumidor (MIRAGEM, 2016). Interpretação finalista do conceito de consumidor A Teoria Finalista sustenta, ao contrário, que o destinatário final de um produto ou serviço é apenas o usuário que consome para atender uma finalidade própria e de cunho privado, não econômica, ou seja, não visa ao lucro com o produto/serviço; não sendo consumo uma atividade profissional, pois o produto/serviço não deve ser insumo de processo produtivo nem objeto de revenda (MIRAGEM, 2016). Logo, essa corrente de interpretação exclui a possibilidade de entender qualquer pessoa jurídica como consumidor, visto sua atividade de consumo sempre ter como objetivo a lucratividade. Contudo, essa interpretação, conhecida como Finalista Pura, tem sido revisitada pela jurisprudência do STJ, que tem desenvolvido a chamada Teoria Finalista Aprofundada, a qual considerada o porte do consumidor pessoa jurídica como um elemento relevante na análise quanto ao seu enquadramento no conceito de destinatário final, que passa a ser analisado caso a caso (MARQUES, 2006). - -6 Portanto, para a interpretação aprofundada da Teoria Finalista, se o comprador se encontra em situação de vulnerabilidade técnica, fática ou jurídica, também estamos diante de um consumidor para fins de aplicação do CDC, interpretação esta que tem sido a majoritária na doutrina e jurisprudência nacional. O consumidor equiparado O CDC amplia o conceito de consumidor criando a figura do consumidor equiparado, ao estabelecer que é consumidor a coletividade de pessoas, mesmo que indetermináveis, se impactadas pelas relações de consumo (art. 2º, único do CDC).§ Nesse sentido, todo aquele que for exposto às práticas comerciais e consumeristas pode ser entendido como consumidor, em sentido equiparado (art. 29 do CDC). Hipossuficiência do consumidor Como vimos, a vulnerabilidade é o elemento-chave que caracteriza o consumidor. Desse conceito decorre outro muito relevante: o conceito de hipossuficiência. A diferença entre vulnerabilidade e hipossuficiência reside no fato de que a última tem cunho processual e técnico, sendo o fundamento da inversão do ônus da prova (NUNES, 2012). FIQUE ATENTO O STJ, em julgamento realizado em 2013, afirmou que a jurisprudência da Corte tem mitigado os rigores da Teoria Finalista para autorizar a incidência do CDC nas hipóteses em que a parte (pessoa física ou jurídica), embora não seja tecnicamente a destinatária final do produto ou serviço, está em situação de vulnerabilidade (STJ, AgRg Resp 1149195, 01/08/2013). EXEMPLO O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro considerou aplicável o conceito de consumidor por equiparação a situação de inclusão de nome do autor em cadastro de negativação de crédito, mesmo que este não tenha celebrado negócio com a recorrente, por ter sido impactado pela relação de consumo devido à falta de cuidado da recorrente (TJ-RJ, Apelação 200900133093, 10/07/2009). - -7 Nesse sentido, quando, em um caso concreto, é demonstrada a incapacidade de o consumidor se defender, por exemplo, no caso de questionar uma informação que só foi gravada pelo fornecedor no momento da oferta, o juiz estabelece a inversão do ônus da prova, por ser a alegação de incapacidade do consumidor verossímil e sem a inversão do ônus da prova ser impossível sua defesa (art. 6º, VIII do CDC). Fechamento Neste tema, vimos os princípios que orientam a intepretação jurídica de todas as relações de consumo, as definições jurídicas de fornecedor e consumidor, bem como entendemos o conceito-chave de hipossuficiência do consumidor. Nesta aula, você teve a oportunidade de: • identificar as figuras centrais da relação de consumo, analisando as suas características e responsabilidades legais. Referências BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: < >. Acesso em: 23/06/2018.http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm ______. . Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. Disponível em: < >. Acesso em: 23/06/2018.http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/l8078.htm GIDI, A. Aspectos da inversão do ônus da prova no código do consumidor. ,Revista de Direito do Consumidor São Paulo, n. 13, 1995. MARQUES, C. L. . 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006.Contratos no Código de Defesa do Consumidor MIRAGEM, B. . 6. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016.Curso de direito do consumidor NUNES, R. . 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2012.Curso de Direito do Consumidor SAIBA MAIS A vulnerabilidade é um conceito absoluto, enquanto a hipossuficiência é relativa, devendo ser avaliada no caso concreto pelo julgador com base na demonstração de que o consumidor não tem capacidade técnica de comprovar os fatos alegados (art. 6º, VIII do CDC). Para saber mais, leia: “Aspectos da inversão do ônus da prova no código do consumidor”, de Gidi (1995). • http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/l8078.htm - -1 Princípios das relações de consumo Estéfano Luís de Sá Winter Introdução Neste tema estudaremos como o CDC visa a promover a educação e a informação para o consumidor e sua segurança, além de coibir abusos. Quais são os mecanismos para atingir essas garantias? Haverá meios alternativos de solução de conflitos para resolver violações aos direitos e garantias dos consumidores? Através do art. 4º do CDC são elencados os princípios das relações de consumo que orientam toda a intepretação das normas do Código de Defesa do Consumidor, nosso objeto de estudo nesta unidade. Ao final desta aula, você será capaz de: • reconhecer os princípios aplicáveis à relação de consumo identificando suas características e implicações legais. Vulnerabilidade A vulnerabilidade é o conceito-chave que define todo e qualquer consumidor, o qual tem menor capacidade técnica, jurídica e fática diante dos fornecedores, razão pela qual o CDC estabeleceu um rol de normas protetivas em todas as relações de consumo. Por isso, existem regras específicas para evitar a exploração de vulnerabilidades, como ocorre com os consumidores idosos (NUNES, 2012). • - -2 Figura 1 - Um exemplo de consumidor que tem especial proteção são os idosos Fonte: SeventyFour, Shutterstock, 2018. Nesse contexto, o CDC estabeleceu em seu art. 39 um rol de práticas abusivas, dentre elas, qualquer ação que se valha da fraqueza ou ignorância do consumidor, seja decorrente de condição econômica, conhecimento dos produtos, saúde e idade. Nesse sentido, podemos citar como exemplo as normas consumeristas de proteção do público idoso, por meio de um rol próprio que deve ser respeitado nas relações de consumo das quais participa, em função de sua maior vulnerabilidade. Conheça esse rol proposto pelo CDC. Tabela 1 - Rol de regras protetivas do consumidor idoso Fonte: Elaborada pelo autor (2018). Perceba que a vulnerabilidade das condições dos idosos, no tocante à saúde, transporte, acesso e lazer, ocorre - -3 Perceba que a vulnerabilidade das condições dos idosos, no tocante à saúde, transporte, acesso e lazer, ocorre nas relações comerciais das quais participam, devendo ser respeitadas as regras impostas pelo CDC nas estratégias de marketing das empresas que têm esse público como alvo. Esse é um dos exemplos de aplicação prática do conceito de vulnerabilidade que caracteriza todas as relações de consumo. Além disso, o CDC também veda a exploração de outras vulnerabilidades dos consumidores. Nesse sentido, a imposição de vantagem excessiva do fornecedor em relação ao consumidor, seja ele idoso ou não, por meio da cobrança de taxas e juros abusivos, multas não proporcionais ou até mesmo imposição de obrigações exageradas com o objetivo de obter vantagem são vedadas pelo art. 39, V do CDC. Devido às diversas formas de vulnerabilidadea que os consumidores estão sujeitos, o código consumerista restringe os limites da autonomia da vontade. Boa-fé Uma das principais normas de ordem pública que dita e orienta os contratos e relações de consumo é a boa-fé objetiva. Isto porque todas as relações de consumo se pautam no respeito à lealdade, transparência e confiança quanto ao cumprimento das promessas de ambas as partes, consumidor e fornecedor. Figura 2 - Os contratos consumeristas se baseiam no respeito à confiança Fonte: Nok Lek, Shutterstock, 2018. Esculpida no art. 51, IV do CDC como cláusula e princípio geral dos contratos consumeristas, a boa-fé objetiva é o princípio que coíbe o abuso, a lesão, primando pela cooperação contratual para atingir os interesses de ambas as partes (NUNES, 2012). - -4 Portanto, os contratos de consumo exigem uma conduta com intenção de gerar o melhor resultado para as partes, razão pela qual pode-se afirmar que o fornecedor tem um dever de informação qualificado, ou seja, mais do que simplesmente prestar informações para cumprir uma obrigação, deve buscar a efetiva compreensão do consumidor nas comunicações realizadas (MIRAGEM, 2016). Educação e informação Um dos direitos básicos do consumidor é o de ser devidamente informado sobre todos os dados de um produto ou serviço, de modo que possa ter liberdade em suas escolhas e consiga contratar de forma equânime (art. 6º, II do CDC). Por isso, os fornecedores têm o dever de ser claros e precisos em toda divulgação realizada, permitindo que o consumidor faça sua escolha de forma adequada. Nesse sentido, a embalagem dos produtos é um dos instrumentos de comunicação mais importante para os consumidores, devendo ter todas as informações necessárias para a escolha correta pelo consumidor. Figura 3 - As embalagens devem ter informações claras e precisas para o consumidor Fonte: Rido, Shutterstock, 2018. Esse dever de informar qualificado no CDC impõe um conjunto de princípios e regras que devem ser observados FIQUE ATENTO A boa-fé objetiva, princípio-norte dos contratos de consumo, diferencia-se da boa-fé subjetiva, que rege os contratos civis de modo geral. A boa-fé subjetiva é uma crença das partes de que seus atos são lícitos; a boa-fé objetiva constitui um dever de conduta que impõe a colaboração de ambas as partes do contrato. - -5 Esse dever de informar qualificado no CDC impõe um conjunto de princípios e regras que devem ser observados na atividade publicitária, sendo vedadas publicidades ilícitas, abusivas ou enganosas (art. 37 do CDC). Especialmente sobre as divulgações de dados disponíveis nas embalagens, quando o fornecedor deixa de informar ou omite informações que possam impactar a saúde do consumidor, comete infração penal cuja consequência é detenção de seis meses a dois anos e multa. Qualidade e segurança A justificativa para a penalização do fornecedor que deixa de cumprir seu dever qualificado de informar sobre a nocividade de um produto para a saúde do consumidor decorre do fato de que o CDC estabelece como objetivo central da Política Nacional de Consumo o respeito à segurança e à saúde, de tal sorte que sejam prestados serviços com padrões adequados de qualidade, segurança e desempenho (art. 4º do CDC). Assim, pode-se concluir que o CDC impõe um vínculo direto entre qualidade de vida e promoção do bem-estar do consumidor (MIRAGEM, 2016). Por esse motivo, estabelece o princípio de que os produtos disponibilizados em mercado não devem acarretar riscos à saúde e segurança dos consumidores (art. 8º do CDC). Além disso, o CDC também dispõe que todos os equipamentos e utensílios de fornecimento de produtos devem ser higienizados, como no caso de alimentação (art. 8º, § 2º do CDC). Constata-se, portanto, que é um direito de todos os consumidores o respeito à sua segurança e qualidade de vida, razão pela qual os fornecedores devem estar adstritos a condutas que não apenas não causem dano à saúde e segurança do consumidor, como também devem promover de forma proativa a sua segurança e qualidade de vida. Coibição e repressão ao abuso Corolário lógico da boa-fé objetiva, do dever de informar do fornecedor e de sua obrigação de promover a qualidade e segurança do consumidor decorre a proibição de qualquer prática abusiva, entendida como conduta de um fornecedor que, baseada no seu direito de exploração econômica por meio da livre iniciativa, excede os limites estabelecidos pelas normas protetivas do CDC. FIQUE ATENTO Caso o produto ofertado seja potencialmente nocivo à saúde, o fornecedor deve divulgar de modo ostensivo o risco que o produto acarreta, tal como ocorre nas embalagens de cigarro que passaram a informar, obrigatoriamente, em 30% da capa frontal da embalagem, que o produto pode causar sérias doenças (Resolução RDC 14/2015 da Anvisa). - -6 Assim, não é aceito pelo código consumerista qualquer tipo de abuso, seja por meio de concorrência desleal ou uso de signos ou marcas que possam causar prejuízos aos consumidores (art. 4º, VI do CDC). Quando identificada a ocorrência de abuso de direito, pode, por esse motivo, o juiz desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade empresária, passando a responder, de forma direta, os sócios e seu patrimônio pelo dano causado devido à conduta excessiva em relação ao direito do consumidor. Desse modo, podemos encontrar ao longo do CDC um amplo rol de proibições e normas que visam a coibir o abuso de direito, tais como: · no caso de preços tabelados, os fornecedores são obrigados a obedecer os limites oficiais (art. 41 do CDC); · obrigação do fornecedor de oferecer orçamento prévio ao serviço com o prazo de duração do serviço, o qual passa a vincular as partes (art. 40 do CDC); Portanto, o abuso de direito não é tolerável nem se alinha às normas do Código de Defesa do Consumidor, sendo sua prática proibida pelas próprias normas do CDC, que visam à construção de uma relação harmoniosa entre consumidor e fornecedor. Fechamento Neste tema, vimos como a vulnerabilidade do consumidor limita os tipos de práticas que podem ser adotadas pelos fornecedores, que a boa-fé objetiva deve estar presente em todos os contratos e relações de consumo, afinal, o Direito do Consumidor visa à educação e informação completa dos consumidores, à proteção à sua saúde e segurança, vedando qualquer forma de abuso de direito. Nesta aula, você teve a oportunidade de: • reconhecer os princípios aplicáveis à relação de consumo identificando suas características e EXEMPLO A consumação mínima em bares, boates e restaurantes, prática ainda relativamente frequente em diversos estabelecimentos, é um exemplo de abuso de direito por parte do fornecedor, pois não se alinha aos princípios e normas do CDC, visto que é um excesso do seu direito de exploração econômica em relação ao respeito ao consumidor. SAIBA MAIS A desconsideração da personalidade jurídica é um instrumento pelo qual o juiz pode, em casos concretos e previstos em lei, determinar que a separação entre o patrimônio da sociedade e dos sócios não seja respeitado, de tal forma que os sócios passam a responder de forma ilimitada na situação em concreto, a despeito do tipo societário. Para saber mais, leia: “Desconsideração da Personalidade Jurídica”, de Gonçalves, 2006. • - -7 • reconhecer os princípios aplicáveis à relação de consumo identificando suas características e implicações legais. Referências AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (ANVISA). . Resolução – RDC nº 14, de 10 de abril de 2015 Dispõe sobre a advertência sanitária que deve ocupar 30% (trinta por cento) da parte inferior da face frontal das embalagens de produtos fumígenos derivados do tabaco. Disponível em: <https://www.poderesaude.com.br >. Acesso em: 02/07/18./novosite/images/publicacoes_13.04.2015-I.pdf BRASIL. . Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. Disponível em: < >. Acesso em: 28/06/2018.http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/l8078.htm ______. . Dispõe sobre o Estatuto do Idoso e dá outras providências.Leinº 10.741, de 1º de outubro de 2003 Disponível em: < >. Acesso em: 03/07/18.http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/L10.741.htm GONÇALVES, O. . Curitiba: Juruá, 2006.Desconsideração da personalidade jurídica MIRAGEM, B. . 6. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016.Curso de direito do consumidor NUNES, R. . 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2012.Curso de Direito do Consumidor • https://www.poderesaude.com.br/novosite/images/publicacoes_13.04.2015-I.pdf https://www.poderesaude.com.br/novosite/images/publicacoes_13.04.2015-I.pdf http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/l8078.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/L10.741.htm - -1 Direitos básicos do consumidor Estéfano Luís de Sá Winter Introdução Quais são os direitos de um consumidor? Como a violação a algum desses direitos é reprimida pelo CDC e quais os mecanismos para se proteger contra eventuais abusos de direito? Existem normas e regras contratuais que tutelam a relação jurídica entre consumidor e fornecedor? Para responder essas perguntas, devemos compreender quais são os direitos básicos do consumidor dispostos pelo CDC, nosso objeto de estudo neste tema. Ao final desta aula, você será capaz de: • reconhecer os direitos básicos do consumidor, de consumo, analisando as suas características e aplicações sociais. Proteção da vida, saúde e segurança No art. 6º do CDC são elencados os direitos básicos do consumidor, dentre os quais, a proteção à vida, saúde e segurança. Com base nesses direitos, os produtos colocados no mercado não podem colocar em risco a vida, a saúde e a segurança do consumidor, razão pela qual os produtos perigosos e nocivos têm circulação proibida ou restrita. Então, quando o produto não oferece o nível de segurança que se espera dele, estamos diante de um produto defeituoso cuja responsabilidade pelos danos causados é do produtor (art. 12 do CDC). • - -2 Figura 1 - Produtos defeituosos causam risco à segurança do consumidor Fonte: Markik, Shutterstock, 2018. Nesse sentido, o CDC estabelece como princípio a responsabilização objetiva dos produtores ou fornecedores quando um produto causa dano aos consumidores por defeitos relativos à baixa segurança (arts. 12 e 14 do CDC). Essa regulamentação se deve ao fato de que o CDC busca a melhoria da qualidade de vida dos consumidores por meio da ampliação do conforto material e do bem-estar do consumidor em sentido mais amplo, moral e psicologicamente (NUNES, 2012). Educação para o consumo O CDC busca promover a formação de uma consciência sobre o consumo, educando os consumidores sobre seus direitos e deveres de tal forma que contribua para a formação de um mercado de consumo mais sustentável (art. 4º, IV do CDC). Logo, conclui-se que o código consumerista incentiva que o ato de consumo seja um ato de cidadania, orientado para os interesses da coletividade (GOMES, 2006). Assim, com vistas a concretizar essa principiologia, foi promulgada a Lei 13.186/2015, que instituiu a Política de Educação para o Consumo Sustentável, com vistas a adotar práticas de consumo e técnicas de produção ecologicamente sustentáveis, educando os consumidores para que mudem sua atitude quanto ao consumo de produtos e serviços (art. 1º da Lei 13.186/15). As principais práticas recomendadas pela referida lei estão sintetizadas na tabela a seguir. - -3 Tabela 1 - Elementos de promoção da educação para o consumo sustentável Fonte: Elaborada pelo autor (2018). Portanto, por meio da Lei 13.186/2015, o objetivo visado pelo CDC se amplia e se complementa com disposições e diretrizes programáticas que buscam a noção de coletividade e o dever para com a sustentabilidade nas relações de consumo, fomentando a educação para um consumo orientado aos valores sociais e ambientais. Informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços Tanto a segurança quanto a proteção à saúde e vida dos consumidores, bem como a educação para um consumo, somente se concretizam por meio de informações adequadas, razão pela qual a temática é tão relevante no CDC, que prevê como direito básico de todos os consumidores a informação adequada e clara sobre produtos e serviços, envolvendo todas as suas características, preços e custos, assim como o conhecimento sobre riscos que possam trazer para o consumo (art. 6º, III do CDC). - -4 Figura 2 - Informação clara e detalhada sobre o produto é direito básico dos consumidores Fonte: HstrongART, Shutterstock, 2018. Além disso, quando é veiculada uma publicidade com informações precisas e claras que geram uma promessa quanto a um produto ou serviço, esta passa a vincular o seu ofertante (art. 30 do CDC). Um dos principais requisitos da informação para os consumidores é a veracidade, pois o fornecedor, de modo algum, por omissão ou comissão, pode faltar com a verdade ou adotar linguagem confusa e ambígua, que confunda o consumidor (NUNES, 2012). Então, quando o fornecedor faz afirmação falsa sobre produto ou omite informação relevante, está sujeito à pena de detenção de três meses a um ano e multa (art. 66 do CDC), norma que visa a promover a veracidade como princípio-norte de toda informação divulgada pelos fornecedores no âmbito das relações de consumo. Proteção contra publicidade enganosa e abusiva Pautado no princípio da veracidade, o CDC estabelece como direito básico dos consumidores a proteção contra qualquer tipo de publicidade enganosa ou abusiva ou qualquer método comercial coercitivo ou desleal (art. 6º, IV do CDC). Essa proteção contra a publicidade enganosa decorre da própria principiologia constitucional, que busca harmonizar a atividade comercial com as demais garantias constitucionais (NUNES, 2012). SAIBA MAIS A Lei 13.146/2015 dispõe que as informações devem estar acessíveis às pessoas portadoras de deficiência física, logo, a acessibilidade das informações é um requisito disposto pelo CDC. Para tanto, o Ministério do Trabalho disponibilizou um com o CDC em áudio e em línguasite brasileira de sinais. Acesse: < >.http://www.pcdlegal.com.br/cdc http://www.pcdlegal.com.br/cdc http://www.pcdlegal.com.br/cdc - -5 Figura 3 - Publicidade falsa como prática vedada pelo CDC Fonte: HstrongART, Shutterstock, 2018. Nesse sentido, quando realizada publicidade que não se baseia no princípio da veracidade ou que desrespeita norma ou valor jurídico tutelado, a primeira implicação prática é a imposição de contrapropaganda, que deverá ter o mesmo nível de abrangência para retificar a falsidade veiculada ou redimir a violação ao direito, cujas despesas correrão por conta do infrator (art. 60 do CDC). Além disso, o infrator está sujeito à detenção e multa, cuja pena varia de acordo com o tipo de publicidade ilícita promovida (arts. 67 e 68 do CDC). Proteção contratual Uma das formas de concretizar esses direitos básicos garantidos pelo CDC é através de um rol de proteções contratuais que permitam ao consumidor se proteger contra abusos dos seus direitos. Assim, os contratos somente têm poder vinculante e obrigatório para os consumidores depois que for dado ao consumidor ciência e conhecimento de todo o seu conteúdo (art. 46 do CDC). Outra importante proteção contratual é o prazo de desistência que se aplica quando a compra é feita fora do FIQUE ATENTO Conforme dispõe o CDC, as cláusulas contratuais de consumo não podem ser redigidas de forma a dificultar sua compreensão pelo consumidor, devendo todas as cláusulas ser interpretadas de modo mais favorável ao consumidor, em caso de dúvida ou divergência de sua compreensão (arts. 46 e 47 do CDC). - -6 Outra importante proteção contratual é o prazo de desistência que se aplica quando a compra é feita fora do estabelecimento comercial, por exemplo, a compra ou por telefone, que autoriza o consumidor a desistiron-line da aquisição em até dias a partir do recebimento do produto, exercendo-se o direito de arrependimento esete com a devolução de todos os valores pagos, devidamente atualizados, em função de o produto não atender suas expectativas (art. 49 do CDC). Finalmente, um dosprincípios jurídicos mais relevantes que se aplicam aos contratos de consumo é a vinculação, que obriga os fornecedores à execução dos contratos e das declarações de vontade, instrumentos particulares ou pré-contratuais ou das ofertas realizadas em publicidades (art. 48 do CDC). Indenização A garantia prevista pelo CDC não teria efetividade se não houvesse mecanismos de sanção para punir os descumprimentos de eventuais violações a direitos. Nesse sentido, o art. 6º, VII, do CDC garante amplo acesso aos órgãos judiciários e administrativos para defesa dos consumidores, inclusive garantindo a reparação por danos morais e patrimoniais, sejam individuais, coletivos ou difusos, decorrentes de violação aos seus direitos. Destaca-se que os tribunais têm entendido que as indenizações quanto a danos causados, seja de ordem patrimonial ou moral, não podem ser irrazoáveis nem fonte de enriquecimento do consumidor, estando relacionadas ao do dano causado (BESSA; MOURA, 2014).quantum A indenização é de ordem material quando gera um prejuízo financeiro ao patrimônio do consumidor e é de ordem moral quando gera constrangimento psicológico a este ou danos aos seus direitos de personalidade. Qualquer cláusula contratual que vise a atenuar ou exonerar a obrigação de indenização, seja de ordem material ou moral, é cláusula nula de pleno direito, por desrespeitar a principiologia do CDC. Portanto, todas as violações dos direitos básicos dos consumidores são reparáveis por meio de indenizações EXEMPLO O Tribunal de Justiça do Maranhão entendeu que no caso de extravio de bagagem por companhia área há uma relação de consumo, razão pela qual esse extravio dá direito à indenização e reparação de danos, cujo indenizatório deve ser proporcional àsquantum perdas causadas e ao tamanho do transtorno provocado (TJ-MA, Apelação Cível, 1198352003, 28/11/2003). FIQUE ATENTO Conforme entendimento da Súmula 37 do STJ, as indenizações decorrentes de danos morais e materiais são acumuláveis de um mesmo fato, de tal sorte que é possível que um mesmo fato possa gerar direito à indenização por dano moral e material ao mesmo tempo. - -7 Portanto, todas as violações dos direitos básicos dos consumidores são reparáveis por meio de indenizações pelos danos causados. Finalmente, cabe destacar que não apenas a reparação dos danos já ocorridos está protegida pelo CDC, como também a proteção contra possível violação potencial que pode ser prevenida por meio do acesso preventivo ao Poder Judiciário (BESSA; MOURA, 2014). Fechamento Neste tema, vimos os direitos básicos do consumidor relativos à segurança, vida e saúde; educação para o consumo sustentável; informação adequada sobre produtos e serviços; proibição contra publicidades abusivas e enganosas; além dos instrumentos aplicáveis em caso de descumprimento de direitos. Nesta aula, você teve a oportunidade de: • reconhecer os direitos básicos do consumidor, de consumo, analisando as suas características e aplicações sociais. Referências BESSA, L. R.; MOURA, W. J. F. de. . 4. ed. Brasília: Escola Nacional de DefesaManual de Direito do Consumidor do Consumidor, 2014. BRASIL. . Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. Disponível em: < >. Acesso em: 23/06/18.http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/l8078.htm ______. Lei nº 13.186, de 11 de novembro de 2015. Institui a Política de Educação para o Consumo Sustentável. Disponível em: < >. Acesso em: 09http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/L13186.htm /07/18. ______. Superior Tribunal de Justiça. . Súmula Vinculante nº 37 São cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral oriundos do mesmo fato. Disponível em: <http://www.conteudojuridico.com.br/sumula- >. Acesso em: 09/07/18.organizada,stj-sumula-37,2268.html GOMES, D. V. Educação para o Consumo Ético e Sustentável. Revista eletrônica Mestrado Educação Ambiental , v. 16, jan./jun. 2006. NUNES, R. . 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2012.Curso de Direito do Consumidor • http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/l8078.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/L13186.htm http://www.conteudojuridico.com.br/sumula-organizada,stj-sumula-37,2268.html http://www.conteudojuridico.com.br/sumula-organizada,stj-sumula-37,2268.html - -1 Proteção do consumidor e responsabilidades do fornecedor Estéfano Luís de Sá Winter Introdução Quando um fornecedor entrega um produto com defeito ou com algum vício, qual é o efeito prático? Qual é seu nível de responsabilização e de que forma o consumidor pode reclamar quanto à baixa qualidade desse produto ou serviço? Em algum momento o comerciante pode ser responsabilizado porque vendeu um produto com defeito de fabricação? Para responder essas perguntas, devemos compreender quais são as responsabilidades do fornecedor no tocante à proteção dos direitos do consumidor, nosso objeto de estudo neste tema. Ao final desta aula, você será capaz de: • conhecer as disposições relativas à qualidade de produtos e serviços, o sistema de prevenção e reparação dos danos ao consumidor; • identificar os conceitos de fato do produto ou serviço e vício do produto ou serviço e as correspondentes responsabilidades. Proteção à saúde e segurança do consumidor Os produtos disponibilizados no mercado não podem acarretar risco à saúde do consumidor, devendo o fornecedor informar ao mercado sobre eventuais riscos que seu produto acarreta. • • - -2 Figura 1 - Fornecedor deve apresentar os riscos do produto ao consumidor Fonte: MinDof, Shutterstock, 2018. Nesse sentido, o Código de Defesa do Consumidor estabeleceu o dever de informar como princípio básico para evitar danos à saúde e segurança do consumidor, além de pressupor que os produtos colocados no mercado não podem trazer riscos que não sejam previsíveis (art. 8º do CDC). Cabe destacar que o dever de informar o consumidor quanto aos riscos de produtos ou serviços colocados no mercado não cabe apenas ao fornecedor, pois, quando o poder público tomar conhecimento da periculosidade de algum produto (União, estados, Distrito Federal e municípios) deve realizar ações de comunicação para informar os consumidores dos riscos dos produtos e serviços (art. 10, § 3° do CDC). Ademais, quando o fornecedor toma conhecimento de riscos que surgiram de um produto, após sua entrada no mercado, também deve realizar anúncios para informar aos consumidores (art. 10, § 1° do CDC). Logo, o dever de informar protege o consumidor quanto aos riscos à sua saúde e segurança. EXEMPLO O Tribunal de Justiça de São Paulo entendeu que a presença de corpo estranho em garrafa de refrigerante constitui um exemplo concreto de produto ou serviço que apresenta risco à saúde e segurança do consumidor, devendo ser responsabilizado o fabricante pela falha de produção (TJ-SP, Apelação Cível, 00029828520108260438, 29/08/2016). - -3 Responsabilidade pelo fato do produto ou serviço Independentemente da existência de culpa, o fornecedor, fabricante ou produtor deverão responder pelos danos que seus produtos causarem à saúde e segurança do consumidor. Figura 2 - Fornecedor responde por produtos perigosos colocados no mercado Fonte: MinDof, Shutterstock, 2018. Nota-se que o tipo de responsabilização adotada pelo Código de Defesa do Consumidor é a responsabilidade objetiva, a qual impõe responsabilidade ao fornecedor de um produto ou serviço, não em função da demonstração de culpa ou intencionalidade, mas pelo simples fato de assumir os riscos do negócio e ter o dever objetivo de entregar produtos que não causem risco à saúde e nem à segurança do consumidor (BESSA; MOURA, 2014). Essa responsabilização somente é afastada quando demonstrado que o fornecedor/fabricante não foi responsável pela inclusão do produto no mercado, ou que o defeito de qualidade não existe ou, até mesmo, que o dano causado à segurança e à saúde foi provocado pelo próprio consumidor (art. 12, § 3° do CDC). - -4 Dessa forma, todos os atores envolvidos na cadeiada relação de consumo são responsáveis pelos danos causados ao consumidor, inclusive o comerciante, quando o fornecedor não puder ser localizado ou o produto divulgado não tiver identificação clara de quem é seu fornecedor/produtor ou, ainda, por má armazenagem de produtos perecíveis (art. 13 do CDC). Logo, toda vez que estivermos diante de um produto que cause risco à saúde e segurança do consumidor, caberá indenização a este pelos danos que lhe forem causados. Responsabilidade pelo vício do produto ou serviço Outro importante princípio quanto à responsabilização por danos causados é o da solidariedade. Por força dos arts. 18 e 19 do CDC, os fornecedores respondem de forma solidária entre si pelos vícios dos produtos, seja em função da sua qualidade ou quantidade. O vício é relativo à qualidade do produto, quando estamos diante da situação que torna o consumo do produto impossibilitado ou sua fruição prejudicada, pois há significativa diminuição do valor do produto (art. 18 do CDC). Nesse caso, o fornecedor tem até 30 dias para resolver o vício de qualidade, sob pena de o consumidor poder tomar ações específicas para sua reparação. Por outro lado, o vício é relativo à quantidade quando estamos diante de situação na qual o conteúdo do produto é inferior à quantidade indicada em sua embalagem ou em qualquer outro meio de divulgação do produto, como no caso da propaganda (art. 19 do CDC). De acordo com a natureza do vício, caberá ao consumidor escolher a melhor forma de ser reparado contra a lesão provocada, conforme podemos constatar na tabela a seguir. FIQUE ATENTO O princípio da responsabilização objetiva não se aplica quando o fornecedor ou prestador do serviço for profissional liberal, de tal sorte que, nesse caso, é necessária a demonstração da culpa ou intenção de causar dano ao consumidor para sua responsabilização, por força do disposto no art. 14, § 4° do CDC. - -5 Tabela 1 - Formas de reparação do consumidor contra vícios em produtos e serviços Fonte: Elaborada pelo autor (2018). Nota-se que caberá ao consumidor definir qual a melhor forma de ser reparado quando identificado um vício em um produto ou serviço, sendo vedada, por ser nula de pleno direito, a estipulação de cláusula que retire essa obrigação de reparação pelos fornecedores, sendo também desnecessária a previsão contratual das garantias já apresentadas, por serem expressamente determinadas pelo CDC (arts. 24 e 25 do CDC). Ademais, mesmo que o fornecedor desconheça os vícios de qualidade do produto, sua culpa não é eximida, pois ele tem a obrigação legal de fornecer produtos de qualidade ao mercado consumidor (art. 23 do CDC). Prazos para reclamação Outro elemento importante a ser identificado são os prazos legais para que um consumidor possa se valer do direto de reclamação e ser ressarcido de danos causados por produtos com qualquer tipo de vício, seja de qualidade ou quantidade. - -6 Figura 3 - Respeito aos prazos é fundamental para o consumidor exercer seus direitos Fonte: Brian A Jackson, Shutterstock, 2018. Então, para uma correta análise dos prazos legais de reclamação contra vícios, é importante, em primeiro lugar, estabelecer a distinção entre decadência e prescrição, conceitos estes importantes na sistemática do Código de Defesa do Consumidor. Vejamos: · prescrição: extingue a possibilidade de questionamento judicial e do direito à pretensão, apesar de o direito material ainda existir. É reconhecida via contestação da outra parte, admitindo renúncia; · decadência: extingue o direito material operando a caducidade, eliminando qualquer possibilidade de pretensão do direito. É reconhecida de ofício, pelo juiz, não admitindo renúncia. Contudo, o regime jurídico dos prazos, inaugurado pelo Código de Defesa do Consumidor, traz uma novidade no âmbito da temática da prescrição e decadência, que é a possibilidade de interrupção do prazo de decadência por meio da figura da obstaculização (NUNES, 2012). Dessa forma, do marco inicial da contagem do prazo de decadência – a entrega do produto ou término da prestação do serviço –, o prazo pode ser obstado por reclamação ou a instauração de inquérito civil (art. 26 do CDC). Contudo, para que ocorra a obstaculização dos prazos, é necessário que a reclamação tenha sido comprovadamente formulada pelo consumidor e que sua resposta negativa tenha ocorrido de forma inequívoca, bem como tenha sido encerrado o inquérito civil. Há que se ter claro que, conforme disposto no do art. 26caput do CDC, o prazo para reclamar de vícios que sejam aparentes é de 30 dias, quanto a produtos não duráveis, e 90 dias para produtos duráveis, prazos que são contados da mesma forma quando o vício for oculto, com a única diferença de que o termo inicial é a descoberta do vício que não era visível. SAIBA MAIS Para compreender de modo mais detalhado as diferenças entre a prescrição e a decadência no Direito Civil, bem como compreender as inovações trazidas pelo Código de Defesa do Consumidor quanto à temática, leia: “Curso de Direito do Consumidor”, de Nunes, 2012. - -7 Finalmente, o Código de Defesa do Consumidor estabelece que a reparação de danos que os consumidores tenham sofrido, seja de ordem material ou de ordem moral, tem prazo de prescrição de para acinco anos pretensão à reparação, o que significa dizer que, passado esse tempo da ocorrência do dano, o consumidor não tem mais o direito de acionar o Poder Judiciário para poder exigir o cumprimento das indenizações reparatórias (art. 27 do CDC). Fechamento Neste tema, vimos que os fornecedores respondem de forma solidária e objetivamente por qualquer dano causado ao consumidor, seja por vício nos produtos ou por prestarem serviços que atentam contra a saúde e segurança dos consumidores. Também estudamos os prazos de que os consumidores dispõem para protegerem seus direitos e solicitarem a reparação contra danos sofridos. Nesta aula, você teve a oportunidade de: • conhecer as disposições relativas à qualidade de produtos e serviços, o sistema de prevenção e reparação dos danos ao consumidor; • identificar os conceitos de fato do produto ou serviço e vício do produto ou serviço e as correspondentes responsabilidades. Referências BESSA, L. R.; MOURA, W. J. F. de. . 4. ed. Brasília: Escola Nacional de DefesaManual de Direito do Consumidor do Consumidor, 2014. BRASIL. . Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. Disponível em: < >. Acesso em: 23/06/2018.http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/l8078.htm NUNES, R. . 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2012.Curso de Direito do Consumidor FIQUE ATENTO Não há que se falar em prazo de decadência nem de prescrição quando um vício ainda era oculto e desconhecido pelo consumidor, pois a contagem de todos os prazos estabelecidos pelo CDC somente tem início quando da descoberta do vício que era oculto e não aparente ao consumidor, cabendo ao juiz a aplicação do instrumento de inversão de ônus da prova, caso seja verossímil a alegação do consumidor, devido à sua vulnerabilidade. • • http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/l8078.htm - -1 Princípios contratuais gerais do CDC Luiz Guedes da Luz Neto Introdução Com a popularização da tecnologia, as transações comerciais são feitas em qualquer lugar e a qualquer hora, entre pessoas e empresas de praticamente qualquer país do globo. Quem nunca adquiriu um produto ou serviço para uso próprio sem pensar que estava celebrando um contrato? Diante desse fenômeno, um instrumento é de suma importância para gerar segurança às partes envolvidas: o contrato. Apesar de a lei consumerista ter as suas raízes no Direito Civil clássico, o Estado brasileiro reconheceu as suas peculiaridades com a edição de normas específicas, notadamente o Código de Defesa do Consumidor, que atribuiu qualidades específicas ao contrato. Vamos saber mais sobre os contratos? Ao final desta aula, você será capaz de: • Reconhecer os princípios contratuais gerais aplicáveis à relação de consumo analisando suas característicase aplicações no campo prático. Autonomia da vontade No sistema jurídico brasileiro, a vontade das partes ao celebrar um contrato é de suma importância, pois, havendo algum dos vícios na manifestação da vontade, o pacto celebrado pode ser considerado nulo. Em síntese, a autonomia da vontade é um princípio em que as pessoas têm liberdade para pactuar tudo que desejarem, sem interferências externas de outras pessoas ou do Estado. De acordo com Silva (2006, p. 26), o princípio da autonomia da vontade, em termos gerais, “pode enunciar-se como a faculdade que têm as pessoas de concluir livremente os seus contratos”. Um princípio intrinsecamente relacionado ao da autonomia da vontade é o isto é, os pactospacta sunt servanda, devem ser sempre cumpridos por aqueles que se obrigaram através da celebração dos contratos, porém, a autonomia da vontade não é ilimitada e sofre limitações na lei, em especial no CDC, diante da vulnerabilidade do consumidor nas relações consumeristas. • - -2 Figura 1 - Celebração de contrato A CF/88 (art. 5º, XXXII) inseriu a defesa do consumidor como direito humano fundamental, outorgando maior proteção ao consumidor nessa relação jurídica especial, que é a relação consumerista. Dentro da ordem constitucional vigente, para adequar-se à peculiaridade da relação de consumo, o princípio da autonomia da vontade sofreu limitações ainda mais sensíveis do que no ramo do Direito Civil. Liberdade contratual O princípio da liberdade contratual tem a sua origem no Estado Liberal, o qual dotou o cidadão de mecanismos de proteção contra a ingerência estatal nos seus negócios jurídicos, concedendo às pessoas e empresas maior liberdade em suas contratações. Inserida nesse princípio está a liberdade de escolher o tipo contratual, com quem contratar e determinar o conteúdo do contrato, sendo este o alcance do princípio da liberdade contratual no Estado Liberal. Com o advento do Direito do Consumidor, essa limitação foi mais intensa, pois o consumidor passou a ser considerado como a parte vulnerável na relação de consumo, necessitando da proteção estatal através das normas jurídicas que regulem de forma especial os negócios jurídicos consumeristas. SAIBA MAIS O CDC, em razão da vulnerabilidade do consumidor, mitigou, no art. 6º, inciso V, o pacta sunt (do latim “acordos devem ser mantidos”), ao prever, de forma expressa, como direitoservanda básico do consumidor a revisão de cláusulas consideradas abusivas. - -3 O princípio da liberdade contratual precisou ser compatibilizado com o sistema de proteção ao consumidor inaugurado no Brasil com o CDC. Por isso, a liberdade contratual das partes é limitada no CDC, especialmente para o fornecedor, que não pode estabelecer cláusulas que gerem obrigações excessivas ao consumidor ou cláusulas que apenas o beneficiem, em detrimento do consumidor. Força obrigatória dos contratos O contrato obriga as partes, vinculando-as às estipulações contidas no pacto firmado, e estas são livres para contratar, porém, uma vez firmado o contrato, são obrigadas a cumprir a integralidade das obrigações ali firmadas. Figura 2 - Obrigações do contrato já firmado Conforme ressaltado por Farias (2017, p. 892), “tendo o contrato como fundamento a vontade intersubjetiva, em princípio, ninguém é obrigado a se vincular, mas, se o indivíduo assim o fizer, o contrato deverá ser cumprido em todos os seus termos”. Não havendo o cumprimento do contrato por qualquer das partes, aquela que se sentir prejudicada poderá recorrer ao Poder Judiciário para obrigar a parte inadimplente a cumprir o acordado ou, na impossibilidade de cumprimento da obrigação de fazer, buscar a reparação dos danos pelo não cumprimento do contrato. A força obrigatória dos contratos é a manifestação do princípio do , porém, esse princípiopacta sunt servanda sofreu mitigações consideráveis na seara do Direito do Consumidor diante da presunção de vulnerabilidade do consumidor frente ao fornecedor de bens e serviços. Então, a força obrigatória do contrato consumerista não é EXEMPLO O art. 54, § 3º, do CDC é um exemplo claro de norma limitadora do princípio da liberdade contratual, quando o legislador impõe que os contratos de adesão escritos serão redigidos em termos claros e com caracteres legíveis, especificando que o tamanho da fonte não seja inferir ao corpo doze. - -4 consumidor frente ao fornecedor de bens e serviços. Então, a força obrigatória do contrato consumerista não é absoluta, encontrando como balizador a função social dos contratos. Perceba que no CDC o princípio da força obrigatória dos contratos sofre limitação, considerando o consumidor a parte vulnerável na relação contratual, em especial diante dos contratos por adesão, nos quais este não tem poder de influenciar na redação das cláusulas contratuais, restando, como liberdade, o ato de aderir ou não ao contrato elaborado unilateralmente pelo fornecedor do bem ou prestador do serviço. Efeito relativo do contrato O efeito relativo do contrato, conhecido também como princípio da relatividade dos contratos, ou princípio da relatividade dos efeitos do contrato, informa que terceiros não envolvidos na celebração do contrato não estão submetidos aos seus efeitos. Figura 3 - Efeitos contratuais Esse princípio, contudo, não é absoluto, sofrendo mitigações pelas normas consumeristas, pois, em determinadas situações, o terceiro, que não participou da relação jurídica entre o fornecedor do bem e o consumidor, pode ser responsabilizado pelo vício do produto. Alguns doutrinadores brasileiros defendem a inexistência do efeito relativo no Direito do Consumidor, como Coelho (1994, p. 69), que defende a ideia de que “o princípio da relatividade simplesmente não existe no tratamento das relações de consumo feito pelo direito brasileiro”. FIQUE ATENTO O art. 51 do Código de Defesa do Consumidor apresenta uma relação das cláusulas nulas de pleno direito, ou seja, aquelas que não obrigam o consumidor ao cumprimento do contrato, e, por conseguinte, limitam o princípio da força obrigatória dos contratos. - -5 Assim, as normas de proteção ao consumidor inseridas no CDC preveem expressamente o afastamento do princípio do efeito relativo do contrato, podendo os seus efeitos irem além das pessoas que o celebraram, visando proteger a parte vulnerável na relação de consumo, o consumidor. Os princípios sociais do contrato Inicialmente, os contratos eram regidos pelas normas do Direito Civil. Ao longo do tempo, especialmente com o advento do consumo de massa e da adoção em série dos contratos por adesão, constatou-se que as normas liberais não eram mais suficientes para oferecer proteção, pois a dinâmica social havia mudado e o processo negocial dos contratos também, não tendo mais a igualdade entre as partes nos moldes liberais. Surge, então, o Estado Social, com mais intervenção no domínio econômico. Figura 4 - Estado Social intervindo nas relações contratuais Com a previsão constitucional do Direito do Consumidor como direito fundamental (art. 5º, XXXII da CF/88), os princípios contratuais típicos do Estado Social ganharam força, culminando com a publicação do CDC. Conheça, então, os princípios sociais do contrato: • função social do contrato: como qualquer contrato repercute na sociedade, os interesses das partes devem ser exercidos em conformidade com os interesses sociais. Havendo suposto conflito entre os interesses particulares dos contratantes e os interesses da coletividade, estes últimos prevalecem; • equivalência material do contrato: busca o equilíbrio real de direitos e obrigações contratuais FIQUE ATENTO No Brasil, para o Direito do Consumidor, a eficácia do contrato consumerista pode atingir pessoas que não celebraram diretamente o contrato de compra e venda de determinada mercadoria. O fornecedor mediato, ou seja, o fabricante, pode ser chamado a responder pelo vício do produto, mesmo não tendo participado da relação negocial de compra e venda (art. 12 do CDC). • • - -6 • equivalência material do contrato:busca o equilíbrio real de direitos e obrigações contratuais distribuídos entre as partes, tanto na fase anterior à pactuação como durante e após a execução contratual. Note que não se busca o cumprimento total do contrato na forma como foi celebrado, mas evitar que a sua execução gere desvantagem excessiva para uma das partes e vantagens desmedias para a outra; • boa-fé objetiva: relaciona-se com a ética exigida da conduta humana, da pessoa que vive em sociedade. É uma regra de conduta das pessoas nas relações jurídicas obrigacionais que exige conduta honesta, leal e correta dos contratantes. O CDC (art. 4º, III) prevê expressamente o princípio da boa-fé objetiva nas relações consumeristas. Função social do contrato No sistema de proteção ao consumidor, introduzido no ordenamento jurídico pela CF/88, como resultado da adoção de determinados princípios do Estado Social, o princípio da função social do contrato ganha destaque. Esse princípio informa que os interesses individuais dos contratantes sejam exercidos em conformidade com os interesses sociais da coletividade, isto é, sempre que houver colisão entre os interesses das partes e da sociedade, estes últimos devem prevalecer. Então, pelo princípio social dos contratos, o interesse privado se curva diante do interesse da sociedade. Fechamento Nesta aula estudamos os princípios contratuais gerais aplicáveis à relação de consumo com repercussão importante nas relações consumeristas, cuja inobservância gera nulidade das cláusulas contratuais; a mudança de paradigma do Estado Liberal para Social, com o advento da CF/88 e com a publicação do CDC, sendo introduzidas normas legais no ordenamento jurídico brasileiro que mitigaram os princípios da autonomia da vontade, da liberdade contratual, da força obrigatória dos contratos e do efeito relativo do contrato; os princípios sociais do contrato e sua função social, constatando que o sistema de proteção inaugurado pelo CDC leva em consideração a presunção de vulnerabilidade do consumidor, estabelecendo de forma efetiva a proteção estatal ao elo mais fraco da relação consumerista. Referências COELHO, F. U. . São Paulo: Saraiva, 1994.O empresário e os direitos do consumidor FARIAS, C. C. de.; BRAGA NETTO, F.; ROSENVALD, N. – v. único. Salvador: JusPodivm,Manual de Direito Civil 2017. PEREIRA, C. M. da S. . 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006.Instituições de Direito Civil • • - -1 Dever de informar e dever de redação clara nos contratos de consumo Luiz Guedes da Luz Neto Introdução Qual é o dever do fornecedor do produto e do prestador do serviço? Qual é o direito do consumidor nessa relação de consumo? Os contratos de consumo precisam ser redigidos de forma clara para não gerar dúvidas nas partes envolvidas, pois, em geral, os contratos de consumo são de adesão. O fornecedor do produto ou o prestador do serviço apresenta o instrumento contratual com todas as cláusulas, e o consumidor em nada pode influenciar no conteúdo destas, restando a este aderir ou não. No CDC, os contratos de consumo devem ser redigidos de forma clara e com redação acessível a todos, evitando palavras com teor eminentemente técnico, cujo significado esteja fora do alcance do cidadão médio; no caso de necessidade do uso de expressões técnicas, que haja explicitação do seu conceito. Vamos conhecer mais sobre este assunto? Ao final desta aula, você será capaz de: • reconhecer os requisitos das informações colocadas à disposição do consumidor analisando as características do dever de informação e implicações da redação clara nos contratos de consumo. Requisitos do dever de informar Entre os direitos básicos do consumidor está o de obter a informação adequada e clara sobre os produtos e serviços, com “especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentem” (art. 6º, III, do CDC). Em 2015, a Lei nº 13.146 incluiu o parágrafo único ao art. 6º, que determina como direito básico do consumidor com deficiência informação acessível. No contexto do CDC, o dever de informar ganha contornos significativos e fundamentais nos tempos atuais – no Direito Civil ou no do Consumidor – em que sua importância é ainda maior, refletindo-se na proteção legal da vulnerabilidade do consumidor, conforme art. 4º, III, do CDC (BESSA; MOURA, 2014). • - -2 Figura 1 - Direitos básicos do consumidor Fonte: Wright Studio, Shutterstock, 2018. Há mais dispositivos sobre o dever de informar no CDC: no art. 30, há a previsão da obrigação de a informação ser veiculada de forma suficientemente precisa em qualquer forma ou meio de comunicação com relação a produtos e serviços oferecidos ou ofertados, vinculando o fornecedor pela informação veiculada. Já no art. 36, parágrafo único, há a previsão da obrigatoriedade do fornecedor de manter, em seu poder, para informação dos legítimos interessados, os dados fáticos, técnicos e científicos que embasaram a publicidade. O dever da informação (art. 31 do CDC) está relacionado ao princípio da transparência, que deve operar em todos os contratos, em especial nos contratos de consumo, nos quais existe uma assimetria de informações. De um lado, há o fornecedor de produtos ou serviços, que detém toda a informação, e, do outro, o consumidor, que é um leigo em relação àquele produto ou serviço. SAIBA MAIS Com base no direito de informação do consumidor, o STJ negou provimento ao recurso especial do fornecedor que reduziu o volume de refrigerante de garapa de 600 ml para 500 ml, infringindo o dever de informar de forma clara e precisa as modificações no produto. Acesse: < > e conheçahttp://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?livre=201600903690.REG mais decisões. http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?livre=201600903690.REG http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?livre=201600903690.REG - -3 Figura 2 - Dever de informação assegurado pelo CDC Fonte: alexskopje, Shutterstock, 2018. Saiba que o dever de informar ocorre em dois momentos: no pré-contratual, que engloba a propaganda veiculada sobre o produto ou serviço e que vincula o fornecedor (art. 30 do CDC) – propaganda esta que pode ser transmitida em qualquer veículo de comunicação ou aquela fornecida pelo fornecedor, que acompanha o bem de consumo –, e no contratual, em que ocorre a concretização do instrumento contratual. A informação clara e precisa tem o objetivo de fornecer ao consumidor elementos que o deixem seguro e livre para o ato de consumo, permitindo que tenha elementos suficientes acerca do bem de consumo para que o seu consentimento seja verdadeiramente livre, pois fundamentado na informação clara e precisa do produto ou serviço. Esse momento está diretamente ligado ao aspecto preventivo da proteção da relação de consumo. Porém, não é qualquer informação que se adequa ao sistema de proteção do consumidor inserido no CDC, pois precisa atender aos requisitos do Código Consumerista, a saber: a informação precisa ser correta e verdadeira; clara, de fácil compreensão pelo consumidor, que geralmente é pessoa leiga e não domina os aspectos técnicos do produto ou serviço; precisa; ostensiva, isto é, de fácil percepção, e na língua nacional. Efeitos jurídicos da informação publicitária Como o CDC regulou a publicidade, especificando os seus efeitos jurídicos, o fornecedor, ao anunciar seus produtos ou serviços, tem a obrigação de informar corretamente aos consumidores sobre o bem de consumo, de forma clara, precisa, de fácil compreensão, de forma ostensiva e em língua portuguesa. - -4 Figura 3 - Consumo e dever de informar Fonte: pedrosek, Shutterstock, 2018. O efeito principal decorrente da publicidade é a vinculação do fornecedor aos seus termos (art. 30 do CDC). A promoção de publicidade enganosa ou abusiva é tipificada como crime às relações de consumo (art. 67 do CDC), com pena de detenção de três meses a um ano e multa. O art. 68 do CDC prevê o crime de promoção de publicidade que sabe ou deveria saber ser capazde induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança, com pena de detenção de seis meses a dois anos e multa. Deixar de organizar dados fáticos, técnicos e científicos que dão base à publicidade também é tipo penal (art. 69 do CDC). Já o art. 6º, inciso IV, do CDC, prevê a proteção do consumidor contra a publicidade enganosa ou abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais. Nesse contexto, em caso de recusa do fornecedor de produtos ou serviços ao cumprimento da oferta, o consumidor tem o direito a escolher, de forma alternada e livre, exigir o cumprimento forçado da obrigação, nos termos da oferta, apresentação ou publicidade (art. 35, I, CDC); aceitar outro produto ou prestação de serviço equivalente (art. 35, II, CDC); rescindir o contrato, com direito à restituição de quantia eventualmente paga de forma antecipada, com a devida atualização monetária, mais perdas e danos (art. 35, III, CDC). Da propaganda enganosa e abusiva surge a possibilidade de realização da denominada contrapropaganda, que será divulgada pelo responsável da mesma forma, frequência e dimensão (art. 60, § 1º, do CDC). EXEMPLO O fornecedor de um produto, ao veicular as suas características, anunciou que o produto tinha determinado aspecto que, de fato, não tinha. Essa veiculação errônea de determinada característica do produto vincula o fornecedor e, ao se constatar que esse aspecto do produto é inexistente, há nulidade do contrato com o dever de devolver ao consumidor o dinheiro pago, bem como perdas e danos. - -5 Garantia de conhecimento do consumidor O direito à informação clara, precisa e adequada sobre o produto ou serviço colocado à disposição no mercado constitui básico do consumidor ao mesmo tempo que é um do fornecedor. A infração a esse deverdireito dever gera vários efeitos, bem como responsabilização cível, administrativa e penal. Figura 4 - Informação: direito do consumidor e dever do fornecedor Fonte: Shutterstock, 2018. O conhecimento é de fundamental importância para o consumidor, sendo elemento essencial e fundamental para a tomada de decisão diante de determinado produto ou serviço. A importância é tamanha que muitas vezes o consumidor não teria realizado a compra se conhecesse um aspecto determinado do produto. Para evitar isso, o CDC insere como um dos direitos básicos do consumidor o acesso à informação clara, precisa e adequada sobre produtos e serviços, direito este que é elemento basilar da cidadania, diretamente relacionado à consciência da população acerca dos seus direitos. Desde o advento do CDC, na década de 1990, essa conscientização tem ganhado relevo nas campanhas dos órgãos envolvidos na proteção do consumidor. - -6 Com o CDC, os consumidores, cientes dos seus direitos, descobriram a importância da informação clara, precisa e adequada de produtos e serviços postos no mercado e que a informação é uma importante ferramenta na defesa dos seus direitos, garantindo a possibilidade de adoção de comportamentos, por parte do consumidor, de medidas de cuidado na vida cotidiana ao usar produtos adquiridos, melhorando, dessa forma, a qualidade das relações de consumo no Brasil. Caso prático – exemplos de julgado relativos ao dever de informar Este tema tem repercussões práticas no dia a dia das pessoas, pois todos são, em algum momento das suas relações interpessoais, consumidores. O STJ tem vários julgados sobre o dever do fornecedor de informar de forma clara, precisa e adequada ao consumidor, e um exemplo bastante interessante sobre o tema é o Acórdão do REsp 1582318 / RJ, no qual o STJ fixou a seguinte tese: o fornecedor sempre tem o dever de informar todos os aspectos do negócio jurídico, em obediência ao .princípio da transparência Em relação aos contratos de transporte aéreo de passageiros e cancelamentos de voos, assim se manifesta o STJ no REsp sobre o dever de informar: a empresa aérea é obrigada a informar, ou seja, a comprovar as1469087/AC razões técnicas ou de segurança do cancelamento de voos. Não basta apenas cancelar o voo, precisa informar o motivo do cancelamento, em obediência ao dever de informar. Os julgados relativos ao transporte aéreo corroboram a noção de proteção do consumidor através do dever de FIQUE ATENTO Para cumprir o dever de informação no contrato, esta precisa ser correta, verdadeira, clara, de fácil compreensão pelo consumidor – que geralmente é pessoa leiga e que não domina os aspectos técnicos do produto ou serviço – ostensiva, isto é, de fácil percepção, e veiculada na língua nacional. FIQUE ATENTO Conforme observado na jurisprudência pacífica do STJ, o fornecedor tem o dever de informar todos os aspectos do negócio jurídico, em obediência ao princípio da transparência. Do princípio da transparência decorre o dever de informar, bem como o dever de redação clara nos contratos de consumo. - -7 Os julgados relativos ao transporte aéreo corroboram a noção de proteção do consumidor através do dever de informar nos contratos, dentro do determinado no microssistema de proteção do consumidor previsto no CDC. O tema ora estudado é de aplicação prática diária nas relações de consumo, bem como nas ações judiciais ajuizadas com o intuito de afastar nulidades contratuais decorrentes da não observância do dever de informar. Fechamento Analisando o dever de informar e o dever de redação clara nos contratos de consumo, constata-se a importância do tema nas relações consumeristas diárias. O microssistema de proteção do consumidor inserido no ordenamento jurídico brasileiro pelo CDC prevê normas protetivas específicas relativas ao dever de informar e ao dever de redação clara nos contratos consumeristas. O não atendimento a esse dever, por parte do fornecedor, pode resultar em práticas abusivas, tornando nulas partes do contrato de consumo, bem como gerando para o consumidor o direito a ser indenizado. Nesta aula, você teve a oportunidade de: • reconhecer os requisitos das informações colocadas à disposição do consumidor analisando as características do dever de informação e implicações da redação clara nos contratos de consumo. Referências BESSA, L. R.; MOURA, W. J. F. . 4. ed. Brasília: Escola Nacional de Defesa doManual de direito do consumidor Consumidor, 2014. BRASIL. .Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências.Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/l8078.htm>. Acesso em: 29/05/2018. • http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/l8078.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/l8078.htm - -1 Interpretação do contrato de consumo Luiz Guedes da Luz Neto Introdução Tema de suma importância no Direito do Consumidor é o da interpretação do contrato de consumo. Quem nunca se deparou com um contrato de consumo e ficou a se perguntar a melhor forma de interpretá-lo? Cabe ao operador do Direito aplicar os princípios consumeristas no momento da interpretação das cláusulas do contrato de consumo, identificando as cláusulas nulas, as alternativas que a legislação faculta ao consumidor, entre outros pontos que serão devidamente estudados nesta unidade. Ao final desta aula, você será capaz de: • reconhecer o conceito de <i>pacta sunt servanda, </i>de interpretação mais favorável ao consumidor, a aplicação das principais cláusulas dos contratos analisando a validade destes perante a lei incidental; • compreender o funcionamento da interpretação técnica analisando um exemplo de contrato de consumo. Conceito de pacta sunt servanda O princípio , ou princípio da força obrigatória dos contratos, é um dos mais tradicionais empacta sunt servanda matéria de interpretação de contratos. De acordo com esse princípio, o disposto no contrato deve ser rigorosamente obedecido e cumprido pelas partes contratantes. O indica que o contrato faz lei entre as partes, obrigando seu cumprimento dentro dospacta sunt servanda limites da lei. De acordo com Bessa e Moura (2014, p. 207), “concluído o contrato, estão as partes a ele vinculadas
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