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NÃO PODE FALTAR A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO Gabriel Pinto de Bairro Imprimir CONVITE AO ESTUDO Nesta primeira unidade de ensino, falaremos sobre os aspectos gerais do conhecimento geográ�co. Exploraremos como, historicamente, deu-se a construção do conhecimento geográ�co, as relações do homem (enquanto sociedade em geral) com o meio físico e como podemos pensar o Espaço Geográ�co no qual estamos inseridos, entendendo sua importância enquanto o objeto da Geogra�a. Todos os dias, realizamos nossas atividades circunscritos em uma realidade espacial, independentemente de sua escala. Se nosso objeto de estudo geográ�co é o espaço geográ�co – diferente do espaço da Física, por exemplo – precisamos compreender de que forma nossas interferências são produzidas e como produzem determinantes em nosso planeta, os quais in�uenciam diretamente nossa vida cotidiana. Se nossas relações produzem espaço geográ�co, torna-se necessário entender como podemos praticar ações que visem à sustentabilidade no planeta. 0 V e r a n o ta çõ e s Na sociedade em que vivemos atualmente, recebemos muitas informações, e todas elas apresentam um grau de di�culdade maior ou menor para a identi�cação dos processos de transformação do espaço geográ�co. Mas, como percebemos no ambiente em que estamos inseridos, existem diferenças entre os espaços geográ�cos produzidos. Por exemplo, uma cidade como São Paulo é diferente de uma cidade localizada no interior do Brasil, da mesma forma que também é diferente de uma metrópole como Nova Iorque. Isso se dá porque existem processos desiguais de construção espacial e contradições contidas em sua formação enquanto megacidades, pensando a primeira e a última. Desse modo, para pensar em sustentabilidade, é necessário entendermos como chegamos até aqui explorando o meio físico e os seus recursos, as relações que a Geogra�a possui com as Ciências Naturais e de que modo classi�camos os fenômenos espaciais e de construção do espaço geográ�co. Caminhemos juntos! PRATICAR PARA APRENDER Para que pudéssemos chegar a este ponto da história, nossa sociedade teve de se desenvolver de modo a se adaptar ao ambiente que a rodeava. Nesse primeiro momento, o meio físico era o que condicionava – ou seja, apresentava condições quase como leis – a sobrevivência do ser humano. Se observarmos o nosso redor, podemos perceber, nas mínimas coisas – desde o vestuário até a rua que passa em frente à nossa casa –, que o desenvolvimento das atividades humanas proporcionou um domínio sobre esse meio físico. Tal domínio prescinde de conhecimentos geográ�cos para localização no espaço geográ�co produzido pelos seres humanos, mas sempre esteve muito próximo e alinhado às Ciências Naturais. Os conhecimentos produzidos e desenvolvidos pela humanidade também 0 V e r a n o ta çõ e s são importantes atualmente para o desenvolvimento social e econômico. Se observarmos atentamente, é apenas a partir da mobilização de todos os conhecimentos construídos historicamente – incluídos aí os conhecimentos geográ�cos – que conseguiremos analisar e entender de que modo as tecnologias foram importantes para a apropriação do meio físico. Se nos atentarmos bem, notaremos que é do próprio meio físico – o qual nos fornece todos os recursos naturais de que precisamos para sobreviver – que desabrocha o desenvolvimento dessas técnicas e tecnologias. A Geogra�a contribuiu e ainda contribui muito para tal desenvolvimento, especialmente nas questões de localização espacial e de análises da construção do espaço geográ�co. Assim sendo, é muito importante que possamos estudar e analisar, através da Geogra�a, como se desenvolveu o conhecimento humano sobre as coisas e sobre o meio físico, paulatinamente apropriado e, além disso, transformado por nós. A questão da sobrevivência, antes determinada pelo meio físico, agora passa a ser determinada pelo ser humano, o qual produz as suas próprias condições de sobrevivência, explorando o meio que o rodeia. A �nalidade de nosso estudo nesta seção é entender como se desenvolveu a Geogra�a nos primórdios para percebermos que tudo ao nosso redor precisa dela para ser explicado em maior ou menor escala. E você pode observar em sua casa muitos dos itens que possibilitaram à sociedade contemporânea chegar aonde chegou. Um exemplo prático está numa simples lâmpada que você utiliza para ler este livro. Por trás de um interruptor que a acende e a apaga, está uma cadeia de conhecimentos sobre o espaço produzido pelo ser humano, os quais possibilitam a estruturação de uma rede de energia elétrica para proporcionar que, com um toque, “façamos a luz”! O ESPAÇO GEOGRÁFICO 0 V e r a n o ta çõ e s Imagine que você está conversando com um professor de Física, e ele diz que o espaço é o que de�ne a posição de um objeto em um determinado instante. Ele ainda complementa expondo que o espaço também é o espaço sideral, o qual considera o espaço das estrelas e de outros astros para além do planeta Terra. Porém, já sabemos que o desenrolar da história humana nos mostra que, para a Geogra�a, o espaço é algo construído por sociedades ao longo do tempo. Como podemos diferenciar, então, os dois espaços? Existe alguma aproximação entre o espaço da Geogra�a e as de�nições espaciais propostas por outras ciências? Qual o ponto de partida do espaço geográ�co? Pois bem, é para isso que precisamos saber as diferentes de�nições de espaço, e entender o que é o espaço geográ�co. Espaço geográ�co é o objeto de estudo especí�co da Geogra�a. É através dele que identi�camos as interfaces da sociedade humana com o meio físico e é ele que nos aproxima das Ciências Naturais, na medida em que, historicamente, foi preciso criar categorias e conceitos que pudessem dar conta das possibilidades de conexão entre as áreas. O espaço geográ�co de�ne-se, em linhas gerais, como o espaço apropriado e produzido pelo ser humano, resultado das suas interações com a natureza, que foi modi�cada de acordo com os seus interesses. Ou seja: o espaço é considerado como um produto de apropriação e de construção humana (constructo social) e não apenas um ponto no Universo. Para além de identi�car o lugar que um determinado objeto ocupa, o espaço geográ�co se preocupa com a historicidade deste objeto, observando onde e como ele foi produzido e modi�cado através do tempo. As transformações possíveis da sociedade humana (desde a agricultura até a invenção tecnológica e seu aprimoramento característico pelas sociedades modernas ao longo dos séculos) foram o que produziu, 0 V e r a n o ta çõ e s produz e produzirá aquilo que chamamos de espaço geográ�co. É por isso que não podemos partir de um espaço que apenas localize corpos, mas que entenda como esse espaço se modi�cou e foi produzido para comportar determinado corpo. Essa é uma diferença primordial entre o espaço geográ�co e o espaço da Física, por exemplo. Com isso, você poderá a�rmar que o espaço geográ�co pode analisar, além dos corpos e de suas localizações, a história de tudo aquilo que foi produzido pela humanidade. Isso não signi�ca que o espaço da Física esteja “errado” ou que ele não possa interpretar a realidade; mas é por causa da preocupação da Geogra�a em analisar o planeta Terra e suas questões relativas à modi�cação do meio físico e do social que pudemos nos diferenciar enquanto área do conhecimento cientí�co. E é por isso que, ao mesmo tempo, precisamos nos atentar às interfaces possíveis entre a Geogra�a e as Ciências Naturais, pois é através do conhecimento do meio físico que podemos observar e analisar as transformações históricas no espaço – para além de uma mera localização de pontos espaciais. Dito isso, podemos adiantar que uma possível solução para essa situação- problema é encontrar um meio termo entre as duas de�nições: a ideia de espaço geográ�co não exclui a localização de pontos no espaço, nem a extensão de fenômenos espaciais, tampoucoa observação e a orientação através de astros siderais. O espaço geográ�co agrega à de�nição de espaço da Física uma dimensão social. Por sua vez, a dimensão do meio físico acaba sendo um ponto de intersecção para o trabalho com o professor de Física, pois seria possível, em conjunto, por exemplo, encontrar a interdisciplinaridade através da extensão de uma chuva de granizo no espaço e suas implicações para a agricultura. O espaço geográ�co complementa as ações do espaço físico e, sem este, não pode existir. Mais uma demonstração da interdependência entre a Geogra�a e 0 V e r a n o ta çõ e s as Ciências Naturais. Espero que tenhamos sucesso em nossa caminhada nesta primeira seção do livro didático. Bons estudos e bom trabalho! CONCEITO-CHAVE Você sabia que é a partir do desenvolvimento da agricultura e da domesticação dos animais que o ser humano pôde se �xar em um determinado território para desenvolver suas atividades de subsistência? E que isso permitiu o desenvolvimento das técnicas e, posteriormente, o início das ciências, dentre elas, a Geogra�a? Nesta seção, falaremos sobre as importantes relações entre o ser humano e os fenômenos do meio físico, bem como os principais aspectos que possibilitaram não somente sua �xação em um determinado local, mas também o domínio sobre o meio físico que tornou possível nossa sobrevivência e nossa dominância sobre a natureza. Enquanto nômades, nossos hábitos estavam ligados à itinerância, ou seja, em a não nos �xarmos em determinados locais para constituir grandes grupos humanos. Isso fez com que as primeiras sociedades humanas estivessem mais ligadas a grupos menores de caçadores e de coletores. A agricultura, desenvolvida junto aos deltas férteis dos grandes rios e em locais adequados ao cultivo e ao manejo dessas terras férteis, proporcionaram um salto quantitativo populacional, bem como um avanço extremamente importante para a qualidade de vida humana: o aprimoramento das técnicas e das tecnologias para auxiliarem seu trabalho e sua sobrevivência. Para que isso tudo fosse possível, o homem precisou, em um primeiro momento, observar (e muito) a natureza que o rodeava. Entender o comportamento de uma determinada presa era importante, mas também foi importante saber como atacar e como conservar os alimentos obtidos. Importante também era compreender que determinadas condições eram 0 V e r a n o ta çõ e s mais favoráveis ao crescimento de certas plantas, as quais proporcionavam uma condição mais propícia ao desenvolvimento das sociedades humanas. Com isso, a partir da observação, o homem percebeu que poderia dominar a natureza se consolidasse conhecimentos a respeito dela. Os conhecimentos geográ�cos primordiais, nesse primeiro caminhar de nossa história, foram a localização e a orientação, que, em linhas gerais, deram-nos as bases para a consolidação social humana. As técnicas de localização e de orientação estiveram muito articuladas com o alto desenvolvimento de conhecimentos acumulados sobre o funcionamento do meio físico, o que coloca a Geogra�a lado a lado com o conhecimento das Ciências Naturais e da natureza como um todo. Vamos conhecer juntos um pouco mais sobre a história de nosso desenvolvimento social. OS FENÔMENOS DO MEIO FÍSICO E A SOBREVIVÊNCIA O começo de nossa discussão diz respeito aos primórdios da humanidade no planeta Terra, mais precisamente quando o ser humano inicia sua prática de �xação espacial (a qual é contrária ao nomadismo, prática itinerante humana) e a domesticação de animais, conjuntamente com a domesticação de plantas. Isso historicamente nos coloca por volta do ano 5000 a.C. quando passamos do período Paleolítico, também conhecido como Idade da Pedra Lascada, para o Neolítico, ou Idade da Pedra Polida, de modo que, já nas diferenças de nomenclatura, podemos inferir sobre o uso de novas técnicas humanas. Foi neste segundo período que a prática da agricultura se consolidou, tornando possível a �xação de grupos humanos em terras propícias ao desenvolvimento de culturas especialmente às margens de grandes rios. Como exemplos, temos o Rio 0 V e r a n o ta çõ e s Nilo e o Rio Amarelo (localizados na África e na Ásia, respectivamente), locais nos quais desenvolveram-se grandes sociedades e povos com vida sedentarizada – ao contrário da prática nômade de alguns povos. VOCABULÁRIO “Cultura”: do latim cultivare, aquilo que é cultivado em cada local, por cada povo, em cada tempo. Figura 1.1 | Representação da agricultura na sociedade egípcia Fonte: Shutterstock. O avanço histórico permitiu que os grupos humanos pudessem praticar a agricultura através de processos técnicos, que se tornaram so�sticados com o passar dos séculos. Esses processos tornaram o modo de vida humano paulatinamente mais sedentário, e o aumento da produção de alimentos a partir dessas técnicas fez surgir grandes sociedades em torno de terras férteis. Quanto mais o tempo avançava, mais as técnicas agrícolas se desenvolviam e ainda continuam se desenvolvendo na contemporaneidade. A história da humanidade, desse modo, está diretamente articulada com a observação dos fenômenos do meio físico que possibilitaram a 0 V e r a n o ta çõ e s sobrevivência humana. Sejam povos itinerantes, sejam sedentários, sua sobrevivência está diretamente atrelada ao domínio dos conhecimentos sobre o meio físico bem como ao entendimento dos fenômenos atribuídos às forças da natureza, através dos quais pode-se ter, minimamente, o controle do processo de construção de sua subsistência. É possível observar que a sedentarização ocorre a partir do entendimento dos fenômenos naturais aprendidos através, especialmente, da observação dos regimes de água dos grandes rios, por exemplo, em se tratando de agricultura. Vale lembrar, entretanto, que tal observação também é anterior à própria agricultura. O que faltava era o pontapé inicial para o surgimento de grandes aglomerados populacionais. REFLITA A história da humanidade se mistura com a história da agricultura. O desenvolvimento dos grupos humanos e dos conhecimentos sistematizados – que mais tarde formariam as ciências – foram possíveis graças à segurança alimentar iniciada com a �xação de grandes grupos humanos em torno das grandes parcelas de terra fértil. O domínio das técnicas de agricultura proporcionou o aumento populacional, e, com este, desenvolveram-se todas as atividades humanas, desde as mais simples até as mais complexas. A vida humana sedentária, diferentemente da nômade, garantiu segurança para o desenvolvimento da humanidade, assegurando sua sobrevivência e a dominância sobre o meio físico. LOCALIZAÇÃO E ORIENTAÇÃO 0 V e r a n o ta çõ e s O nomadismo humano precisava de um conhecimento que desse suporte à sua sobrevivência, que estabelecesse saberes rudimentares através da observação dos fenômenos naturais para orientar sua prática de vida. A rotina humana marcada, como vimos inicialmente, pelo domínio da natureza através da agricultura e da domesticação de animais propiciou a sedentarização do ser humano, e proporcionou a divisão social em trabalhadores produtores e não produtores diretos do meio de subsistência. A partir disso, com o passar dos séculos, a sociedade pôde criar um arcabouço teórico inicial sobre dois pressupostos básicos para a ciência geográ�ca: a localização e a orientação. A localização permitiu, não somente em tempos mais antigos, o reconhecimento dos territórios sobre os quais os homens poderiam plantar e caçar – garantindo, consequentemente, sua subsistência –, mas também posteriormente possibilitou o início de uma observação do sistema solar – o que ampliou os horizontes do conhecimento humano. É a localização que permite à humanidade o estabelecimento e o reconhecimento de si no mundo, determinando sua prática ao longo da história. Com o avançar das técnicas e com o consequente desenvolvimento de tecnologias rudimentares, ela permitiuo desenvolvimento de um sistema de coordenadas para localizar os pontos especí�cos no espaço. Tais horizontes ampliaram-se pela orientação, dada a partir da localização espacial de um determinado grupo social no mundo a partir de elementos que não necessariamente localizem-se no ambiente terrestre. Essa orientação tem como referência o local onde esses grupos sociais desenvolvem suas atividades. Na tentativa de relacionar sua posição à de outros lugares próximos de si, a orientação possibilitou sua expansão e consecutivo crescimento populacional. Além disso, ela se tornou extremamente útil ao ser humano quando da sua territorialização, 0 V e r a n o ta çõ e s pois o permitia realizar constructos sociais em torno de localizações no céu, utilizadas até hoje nas mais diversas atividades de aeronavegação, por exemplo. O produto de orientação mais utilizado é a rosa dos ventos, que permite ter o posicionamento de um determinado grupo social perante o espaço que a rodeia. Figura 1.2 | Bússola com os principais pontos cardeais e colaterais Fonte: Shutterstock. Figura 1.3 | Representação da constelação “Crux” conhecida como Cruzeiro do Sul Fonte: Shutterstock. 0 V e r a n o ta çõ e s Figura 1.4 | Pintura rupestre de caça, um dos principais usos da orientação pelos neandertais Fonte: Shutterstock. Figura 1.5 | Pintura rupestre análoga a um mapa do lugar habitado Fonte: Wikimedia Commons. 0 V e r a n o ta çõ e s Ambos articulados, localização e orientação, começam a tornar possíveis os processos de geolocalização no planeta Terra e dos seus povos. É o nascimento (ainda muito lento) daquilo que, séculos mais tarde, viria a se consolidar como uma das ciências mais importantes para o desenvolvimento humano: a Geogra�a. A EXPLORAÇÃO DO MEIO E A QUESTÃO DA SOBREVIVÊNCIA Para poder sobreviver, o ser humano precisou explorar o meio físico, o que ele somente pode fazer através do desenvolvimento técnico e de ferramentas para utilização tanto na caça como no plantio e no manejo de terras. Tais ferramentas signi�caram um salto qualitativo na evolução humana porque, além de possibilitarem um menor tempo de trabalho, também aumentaram a produtividade do ser humano. As “extensões ao corpo humano”, possibilitadas pelas ferramentas, �zeram com que as atividades de sobrevivência fossem aperfeiçoadas, inclusive aquelas não ligadas diretamente à produção de alimentos, mas à segurança desses grupos produtores. Podemos observar que a exploração do meio foi o que possibilitou nossa �xação em ambientes cada vez mais remotos e inóspitos. Tal exploração do meio está diretamente articulada à incorporação e ao desenvolvimento de técnicas diversas para a expansão dos horizontes geográ�cos humanos. Exemplos que podemos citar, a partir das técnicas agrícolas, são o arado de tração humana e animal, a enxada e, mais recentemente, as tecnologias de adaptação de sementes para plantios em regiões cada vez mais desa�adoras para a sobrevivência. O ser humano explora o meio a partir de suas próprias necessidades, as quais também extrapolam as demandas biofísicas (alimentares, por exemplo) e acabam tornando-se sociais. A exploração do meio coloca povos e culturas diferentes em interface e iminência de disputa territorial. Nesse sentido, os con�itos seculares dos povos antigos também foram 0 V e r a n o ta çõ e s fatores de adaptação e expansão de técnicas de sobrevivência e de exploração do meio físico que se apresentavam aos diferentes grupos humanos da Antiguidade. EXEMPLIFICANDO O desenvolvimento das tecnologias proporcionou um avanço nas comunicações entre as populações, o que expandiu os horizontes de ocupação humana nos mais vastos continentes. Podemos citar aqui o caso dos inuítes, pessoas que vivem nas terras gélidas do Círculo Polar Ártico, onde as temperaturas chegam a -70ºC no inverno. CONHECIMENTOS GEOGRÁFICOS E AS CIÊNCIAS NATURAIS Tendo em vista todo o processo de constituição da humanidade e de como os conhecimentos geográ�cos atravessam o tempo e acompanham o desenvolvimento do homem, é nítida a relação entre a Geogra�a e as Ciências Naturais. Desde os primórdios da humanidade, podemos observar a constituição de conhecimentos particularmente ligados à Terra. Retomando o período de desenvolvimento da agricultura e da �xação de grandes grupos humanos nos vales férteis dos rios, os conhecimentos sobre os ciclos de chuvas, bem como sobre o plantio e sobre as técnicas para cultivo e manejo de solos, e o reconhecimento do calendário lunar como especi�cidade cíclica de algumas das plantas domesticadas colocam em relação direta as Ciências Naturais e a Geogra�a, pois o desenvolvimento das primeiras também favoreceu a construção do conhecimento geográ�co e espacial. Os próprios con�itos humanos para expansão territorial não eram apenas rivalidades constituídas entre povos, mas eram também a necessidade de sua expansão sobre o meio físico. Tendo isso em vista, pode-se dizer que a adaptação da vida humana só se tornou possível a partir do entendimento das regras naturais que se apresentavam aos povos 0 V e r a n o ta çõ e s antigos, regras estas que foram sistematizadas pelas ciências irmãs da Geogra�a, mas que servem ao conhecimento geográ�co. Ora, de que adiantaria sabermos muito dos conceitos geográ�cos se não compreendermos o ciclo da água na natureza, tão importante para a Biologia e para a Ecologia? Do mesmo modo, os conhecimentos das Ciências Naturais estão na Geogra�a e in�uenciam o desenvolvimento desta enquanto ciência. A Geogra�a recorrentemente é tida como “a mais natural das Ciências Humanas” justamente por dar conta de explicar as interfaces do ser humano e do seu desenvolvimento social com os limites e as possibilidades que o meio físico lhe apresenta. De acordo com a necessidade humana, a Geogra�a foi se aproximando de outras áreas do conhecimento e adentrando-as, tanto para o conhecimento das potencialidades e dos recursos naturais como para o planejamento da ocupação e da apropriação (e exploração) do meio físico. A Geogra�a é irmã das Ciências Naturais porque possibilita a articulação de um pensamento amplo sobre a natureza e o meio que nos circunda. Atuando como uma ponte entre as Ciências Naturais e Ciências Humanas, a Geogra�a permite uma re�exão totalizante sobre nosso planeta, articulando aspectos desenvolvidos pelas Ciências Naturais com o que de melhor há nas Ciências Humanas. FOCO NA BNCC O desenvolvimento de competências da BNCC tanto para o ensino fundamental como para o ensino médio pressupõe a inter-relação entre áreas do conhecimento. Podemos citar dois exemplos entre a relação da Geogra�a e das Ciências Naturais contidas no documento da BNCC do ensino fundamental: 0 V e r a n o ta çõ e s Nesta seção, conhecemos um pouco mais sobre as relações da Geogra�a com as Ciências Naturais e vimos que nossa sociedade, ao longo do seu desenvolvimento, apropriou-se do meio físico enquanto desenvolveu técnicas para sua própria sobrevivência, que posteriormente foram sistematizadas nas diferentes áreas do conhecimento cientí�co – dentre elas a Geogra�a. A localização e a orientação, dessa forma, são dois dos principais conteúdos que precisamos ter em mente para iniciar nossa caminhada pela Geogra�a. É deles que se parte, são eles que nos acompanharão – em maior ou menor medida – sempre. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular: educação é a base. Brasília: MEC, 2018. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versa o�nal_site.pdf. Acesso em: 3 nov. 2021. KATUTA, A. M. O ensino e aprendizagem das noções, habilidades e conceitos de orientação e localização geográ�cas: algumas re�exões. Geogra�a, Londrina, v. 9, n. 1, p. 5-24, jan./jun. 2000. PEREIRA, R. da S. Geogra�a: contribuições para o ensino e para a aprendizagem da geogra�a escolar. São Paulo: Blucher, 2018. p. 19-29.E- book. SANTOS, M. A natureza do espaço. São Paulo: EDUSP, 2002. SOUSA, R. Geogra�a. Brasil Escola, [S. l., s. d.]. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/geogra�a. Acesso em: 8 mar. 2021. (EF03GE04) Explicar como os processos naturais e históricos atuam na produção e na mudança das paisagens naturais e antrópicas nos seus lugares de vivência, comparando-os a outros lugares” — BRASIL, 2018, p. 375“ (EF05GE03) Identi�car as formas e funções das cidades e analisar as mudanças sociais, econômicas e ambientais provocadas pelo seu crescimento” — BRASIL, 2018, p. 379).“ 0 V e r a n o ta çõ e s http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf https://brasilescola.uol.com.br/geografia 0 V e r a n o ta çõ e s NÃO PODE FALTAR AS RELAÇÕES HOMEM – MEIO FÍSICO Gabriel Pinto de Bairro Imprimir PRATICAR PARA APRENDER Olá, estudante! Como vimos na seção anterior, dadas as condições do avanço da história humana, o desenvolvimento das ciências tornou-se imprescindível para o progresso da sociedade. Novas formas de estruturar o debate entre as áreas do conhecimento �zeram com que todas elas pudessem estar dispostas a buscar pontos de aproximação entre si. Tudo em prol do avanço da sociedade humana sobre o meio físico. Pode-se dizer que a apropriação do meio físico não estava mais somente relacionada à questão da sobrevivência humana, como a centralidade tida pela agricultura e a domesticação de animais nos períodos anteriores da história humana, mas está, neste momento, também mais relacionada ao estabelecimento dessas sociedades que paulatinamente desenvolveram outras atividades para além daquelas que possibilitaram sua existência, sendo que tais transformações são perceptíveis até hoje. Dessa maneira, torna-se importante tratar das formas como o meio físico foi transformado pelos seres humanos e de que modo a exploração dos 0 V e r a n o ta çõ e s recursos naturais proporcionou a evolução das sociedades até a atualidade. Essas transformações passaram por diferentes estágios da humanidade e aprofundaram o desenvolvimento técnico e cientí�co de nossa sociedade. Tal exploração, evidentemente, causa impactos, os quais muitas vezes são conhecidos como a marca humana no planeta e os quais são, justamente, as consequências do desenvolvimento técnico e tecnológico humano ao longo do tempo. Por isso, eles devem sempre ser levados em consideração quando se analisam as transformações no meio físico e a exploração de recursos naturais. Por �m, chegamos àquilo que é o foco desta seção: os problemas ambientais e a exploração do meio. Todos sabemos que existem problemas relacionados à forma como nos relacionamos com o meio físico e o que essas relações ocasionam. Frequentemente ouvimos, nas ruas, nos meios de comunicação e até mesmo nas nossas conversas familiares, as constatações de que o avanço de nossa sociedade na história tem como principal marca os problemas que geramos no meio ambiente. Aqui, podemos citar não somente problemas típicos das cidades (como a poluição sonora e visual, por exemplo), mas também problemas relacionados às áreas rurais, como o desmatamento, a poluição e o assoreamento dos rios. Partilhemos nossos conhecimentos sobre esses temas para que possamos começar a entender as transformações no espaço realizadas pelos seres humanos e de que forma a Geogra�a pode nos auxiliar a entender todas essas características do espaço geográ�co. Ele, que está em constante transformação, ajuda-nos a analisar as marcas de nossa forma de vida no planeta Terra e de que modo podemos frear os impactos que causamos nele. Ainda que a Geogra�a seja a ciência que observa a constituição do espaço geográ�co, existem muitas outras categorias que surgem dentro dessa ciência e que nos auxiliam a interpretar esse tipo diferenciado de espaço 0 V e r a n o ta çõ e s que vimos anteriormente. Você já se imaginou em uma sala de aula tendo que explicar o que é paisagem para os alunos que estão no início de sua constituição enquanto estudantes de Geogra�a? Como conversar e elaborar em conjunto com os estudantes uma categoria tão profunda e importante para nossa área cientí�ca? Os caminhos e as entradas possíveis para abordar esse tópico são diversos, dada a natureza da prática educativa e as intencionalidades dos exercícios propostos pelo professor – assim como sua metodologia de ensino e a forma como isso in�uencia em sua prática. Desse modo, existe uma profusão de jogos, atividades, brincadeiras, simulações, diálogos, en�m, tudo de que podemos lançar mão em sala de aula para conseguir explicar e construir juntamente com nossos estudantes o conceito de paisagem. Porém, somente através de um bom planejamento prévio das atividades de aula e da organização conceitual – com o conhecimento adequado da área geográ�ca – é que podemos passar adiante as principais ideias sobre o que é paisagem. Paisagem é a composição dos elementos naturais e humanos no espaço, os quais nos tocam através de nossos sentidos e que se inter-relacionam no espaço geográ�co. A paisagem conta uma história, que é identi�cada no espaço através de diferentes elementos, como as construções humanas, antigas ou novas, ou elementos naturais que resistem e perduram em um determinado local a ser observado. É importante aqui atentar para as interfaces com outras áreas da ciência, pois a paisagem não é um conceito que aparece sozinho e que pode ser resolvido somente pela Geogra�a: ela envolve questões ambientais e biológicas, físico-químicas, sociais, políticas, entre outras. Existe uma série de exercícios que possibilitam o trabalho dos elementos da paisagem – sejam eles naturais, sejam culturais/humanos – em sala de 0 V e r a n o ta çõ e s aula, sendo eles uma das atividades que mais aproximam os estudantes do ensino fundamental da disciplina de Geogra�a na escola. Dessa forma, é importante, como asseveramos anteriormente, o domínio das categorias e dos conceitos da Geogra�a por parte dos professores, tendo em vista que somente a partir disso que se podem trabalhar aspectos como a paisagem e os elementos que a compõem. Bons estudos! O conhecimento geográ�co possibilita o entendimento de nossa sociedade! CONCEITO-CHAVE Todos os dias somos inundados com uma quantidade imensa de informações a respeito dos problemas do meio ambiente, mas são raras as vezes em que pensamos profundamente a respeito da origem desses problemas, sempre �cando mais atentos a tentar encontrar modos não que expliquem, mas que solucionem, na prática, tais falhas em nossa capacidade de nos apropriarmos do meio físico. Com isso, algumas questões surgem, em princípio, a respeito da relação da Geogra�a com outras áreas da ciência para além das Ciências Naturais. Você já se perguntou quais são as possíveis interfaces entre a Geogra�a e as outras ciências que compõem aquilo que chamamos de Ciências Humanas? E de que forma a Geogra�a se relaciona com elas? E sobre os problemas ambientais, já passou pela sua mente como as técnicas e as tecnologias auxiliaram no aprofundamento de nossa capacidade de exploração do meio físico? E, além disso, por que explorar o meio físico para além de nossa necessidade de sobrevivência? Vamos investigar essas veredas do conhecimento geográ�co? O CARÁTER RELACIONAL DA GEOGRAFIA 0 V e r a n o ta çõ e s Como vimos anteriormente, a Geogra�a tem relações com outras ciências da natureza, as quais não se limitam à análise ou ao intercâmbio entre conhecimentos com determinada área, mas demonstram a capacidade que o conhecimento geográ�co possui de ser uma “disciplina coringa” – e claramente interdisciplinar – em nosso trabalho escolar e social cotidiano. A Geogra�a apresenta essa característica por conseguir trabalhar articuladamente os conhecimentos cientí�cos de sua área com outras esferas do conhecimento. Isso �ca explícito, como vimos anteriormente, se observamos as relaçõesentre nossos estudos e os das Ciências Naturais, como a Física – importante para entendermos, por exemplo, os processos de localização e de orientação espacial – , a Química – no que tange às questões dos ciclos d’água – e da Biologia, ciência que permeia as análises geográ�cas quando levamos em conta as relações dos seres humanos com toda a vida em nosso planeta, seja ela advinda da fauna, seja da �ora do meio físico. É importante destacarmos, nesse sentido, a estreita relação com outras disciplinas cientí�cas e que também estão na escola, por exemplo a relação da Geogra�a com as disciplinas de Ciências Humanas, como História, Sociologia e Filoso�a. A relação entre Geogra�a e História se dá, em linhas gerais, para que possamos traçar um caminho o qual a sociedade atravessou em seu desenvolvimento especí�co ao longo dos anos. É através das relações estabelecidas no decorrer da história que conseguimos demarcar, pela Geogra�a, as mudanças geradas nas paisagens pelo uso e pela ocupação do meio físico pelo ser humano. A História é, assim, uma das Ciências Humanas que mais se relaciona com a Geogra�a por permitir associar as mudanças no espaço com o avanço do tempo histórico. Já a relação com a Sociologia se dá no seio da transformação social possibilitada pelo adensamento das sociedades humanas. A observação das relações entre os seres humanos permite veri�car aspectos como o 0 V e r a n o ta çõ e s desenvolvimento da política, das leis, das relações entre as classes sociais dentro de diferentes sociedades, por exemplo. A Sociologia empresta à Geogra�a suas categorias de análise (tais como gênero, personalidade, desenvolvimento social, etc.), possibilitando à Geogra�a as análises sobre a sociedade em si e como se podem pensar os diferentes desenvolvimentos humanos em espaços diferentes, a partir de suas leis, costumes próprios, cultura, entre outros. Não menos importante é a relação entre Geogra�a e Filoso�a. Sendo esta a base da construção do conhecimento humano e da constituição desse conhecimento, a Filoso�a permitiu o desenvolvimento das ciências dentro das sociedades. A Filoso�a é importante para a Geogra�a não somente na sua constituição enquanto ciência, mas também no que diz respeito à ação enquanto uma “ciência do conhecimento”, permitindo, através de categorias como a ética e a moral, o reconhecimento de sociedades antigas e contemporâneas e as formas como elas marcam o desenvolvimento social humano. REFLITA Sabemos que a Filoso�a começa a ser praticada na Grécia Antiga. Muitos pensadores que conhecemos hoje, tais como Aristóteles, Sócrates e Hipócrates, puderam elaborar seus trabalhos – assim como outros escritores e pensadores da Antiguidade – por pertencerem a classes sociais não subalternas. Desse modo, os pensadores gregos pertenciam à casta dos cidadãos, isto é, eram os que tinham acesso à polis grega, e não precisavam, dessa forma, trabalhar para cultivar seus alimentos, já que os escravos o faziam. Nesse sentido, sempre é importante re�etirmos o papel das divisões sociais do trabalho (o que pode ser obtido através da Sociologia, por exemplo) para entendermos como se dispunham geogra�camente as sociedades ao longo dos anos. 0 V e r a n o ta çõ e s Dito isso, agora podemos compreender o caráter relacional da Geogra�a, o qual pode ser de�nido como a capacidade que essa esfera do conhecimento tem de relacionar diferentes conceitos de sua área com aqueles desenvolvidos em outras áreas das ciências, sejam elas Naturais ou Humanas. Esse caráter relacional está estritamente conectado à proposta da ciência geográ�ca em analisar e compreender como as relações humanas se dão com o meio físico, observando de que modo, historicamente, os seres humanos se apropriam dele e como ele – o meio físico – também determina as ações humanas. Conforme vimos anteriormente, as condições que o meio físico apresentou para a história humana foram fundamentais para a localização e para a permanência humana nos crescentes férteis, o que, consequentemente, possibilitou o desenvolvimento social humano através da agricultura e de todas as outras esferas sociais que foram possíveis a partir da garantia da sobrevivência. A APROPRIAÇÃO DO MEIO FÍSICO Com o decorrer da história humana, a elaboração das técnicas, não somente na agricultura – como vimos – mas também em outras áreas do conhecimento, que puderam avançar devido à própria trajetória de desenvolvimento social, permitiu ao ser humano paulatinamente ampliar seu patamar e seu raio de ação no mundo. As tecnologias, imprescindíveis para o desenvolvimento social, são fruto do trabalho humano materializado nas ferramentas desenvolvidas ao longo da história. Essas ferramentas foram produzidas com o intuito de ampliar a apropriação do meio físico, como forma de organização e expansão dos seres humanos no planeta. Figura 1.6 | Roda produzida pelos humanos na Antiguidade 0 V e r a n o ta çõ e s Fonte: Shutterstock. Figura 1.7 | O uso de tecnologias remotas na sociedade contemporânea Fonte: Shutterstock. Como podemos perceber a partir da Figura 1.6 e da Figura 1.7, a evolução das tecnologias e de suas aplicações, desde a primeira roda até os dispositivos que nos conectam à internet, contém em si um emaranhado de técnicas e de tecnologias que nos permitem diferenciar as épocas e as transformações no espaço geográ�co entre si. 0 V e r a n o ta çõ e s ASSIMILE Técnica: conjunto de ações e de normas que guiam a produção de dispositivos, permitindo a apropriação do espaço pelo ser humano. Tecnologia: resultado do desenvolvimento das técnicas que, se forem articuladas em determinadas condições e espaços geográ�cos, possibilitam o entendimento da evolução da história humana. Ambos os conceitos pressupõem o entendimento de uma categoria essencial para o entendimento do ser humano, que é o trabalho, ou seja, a ação humana no planeta. Ao longo da história da humanidade, a apropriação do meio físico foi realizada de diferentes maneiras. Desde a agricultura, com suas técnicas – as quais se desenvolvem até hoje –, passando por diferentes etapas de construção de casas e suas tecnologias e pela organização do espaço local e mundial – o que gerou, em períodos posteriores, a organização por nações e países –, todas as ações humanas prescindem, em maior ou menor grau, do uso de técnicas e de tecnologias para apropriação do meio físico. Seja no desenvolvimento de computadores de alta performance, seja no uso de um telefone �xo com �o (tecnologia que pode ser considerada obsoleta nas últimas décadas devido ao surgimento dos aparelhos celulares e pela recente popularização de smartphones), todo desenvolvimento tecnológico prescinde de uma apropriação do meio físico, como já sabemos. Essa apropriação pode ser realizada de vários modos, mas o que temos de ter sempre em mente é que uma exploração necessita da transformação imediata de alguma matéria ou de algum elemento em algo que tenha sentido (ou propósito) e signi�cado para o ser humano, em um determinado momento de sua história. Dessa forma, a apropriação do meio físico é o que impulsiona, através do 0 V e r a n o ta çõ e s uso de técnicas e do emprego de tecnologias, a expansão do ser humano sobre o planeta, criando novos e transformando antigos espaços de ocupação de acordo com sua necessidade contemporânea. É possível veri�car, através de testemunhos espaciais, tempos anteriores da humanidade – dada a natureza, em algumas sociedades, de preservação de seu patrimônio histórico. EXEMPLIFICANDO Podemos observar os caminhos da apropriação do meio físico ao veri�carmos os centros das cidades brasileiras. Um bom exemplo é o centro antigo da cidade de São Paulo, que preserva, em seus prédios históricos, as marcas de tempos anteriores através de seus �xos espaciais. Outro exemplo possível, para além das áreas urbanas, são os monumentos de Stonehenge, na Inglaterra, ou asPirâmides do Egito, que demonstram as formas espaciais consolidadas através dos tempos, dando testemunho da expansão humana de civilizações anteriores. Esses espaços reservam ao olhar atento da Geogra�a uma importante fonte de pesquisa e de trabalho com os estudantes, observando as inter-relações entre as diferentes disciplinas escolares. TRANSFORMAÇÕES DO MEIO E A EXPLORAÇÃO DOS RECURSOS A partir do desenvolvimento de diversas técnicas e tecnologias, adentramos o que tange às transformações realizadas no meio pelo ser humano. Tais transformações acabam se aprofundando no século XVII, por exemplo, com a Primeira Revolução Industrial, a qual é considerada um salto qualitativo na história da humanidade por, dentre outras muitas razões, proporcionar uma ampliação na capacidade humana de intervenção no meio físico. 0 V e r a n o ta çõ e s A Primeira Revolução Industrial, iniciada no ano de 1760, na Inglaterra, tem como pano de fundo as acumulações primitivas dos países capitalistas durante a fase das grandes navegações do Capitalismo Mercantil, ocorrida especialmente entre os séculos XIV e XV. O desenvolvimento do sistema comercial mundial tornava obrigatória a organização de um sistema de navegação muito avançado, o que possibilitou a alguns países uma função um pouco mais especí�ca, cabendo, por exemplo, à Inglaterra acumular riqueza e, através de sua burguesia, iniciar a industrialização. Os avanços das técnicas e das tecnologias nesse período foram importantes para a exploração dos recursos do meio físico, imprescindíveis para o desenvolvimento desse novo conjunto de ações. Tal exploração de recursos pode ser de�nida, em linhas gerais, como a extração de recursos do meio físico, que modi�ca a natureza de acordo com a necessidade humana. Esses recursos podem ser subdivididos em recursos provenientes de fontes renováveis e de fontes não renováveis, sendo os primeiros de fontes inesgotáveis, como a energia da luz solar e dos ventos, por exemplo, e de fontes que, em algum momento, podem se esgotar, como é o caso do petróleo. De modo geral, podemos subdividir os recursos naturais – dadas suas condições de uso pelos seres humanos – em quatro grandes categorias: recursos biológicos (vegetais e animais), recursos energéticos (combustíveis), recursos minerais (elementos da natureza de ordem geológica, como argila, calcário, areia, ouro, diamante, ferro, dentre outros) e recursos hídricos (provenientes de cursos d’água de qualquer natureza, sejam eles subterrâneos, sejam super�ciais). Um poço artesiano é um exemplo de tecnologia empregada na obtenção de um recurso hídrico (água percolada no solo a nível freático ou subsuper�cial, por exemplo). Para poder extrair esses recursos da natureza, foram necessários 0 V e r a n o ta çõ e s inúmeros esforços para desenvolver esses conjuntos de técnicas e de tecnologias ao longo da história. Eles permitiram ao ser humano transformar a paisagem de acordo com suas necessidades, adaptando-as ao que seria necessário, no momento, à humanidade. Nesse sentido, é importante de�nirmos o que é paisagem para os seres humanos. A paisagem, uma das categorias mais importantes para a Geogra�a desde a sua constituição enquanto ciência, pode ser de�nida como o conjunto de elementos contidos no espaço e que permitem observar uma relação dinâmica entre os elementos do meio físico e da sociedade. A paisagem geográ�ca é tudo aquilo que, presente no espaço, podemos observar; ela contém tanto os elementos naturais (formados pela ação da natureza como montanhas, vegetação, rios, mares, entre outros), quanto os elementos culturais ou humanos (os que foram construídos pelo trabalho humano). Desse modo, a descrição de uma paisagem está diretamente relacionada à forma como uma pessoa pode interpretar a paisagem que observa. Também podemos nos atentar ao fato de que, em algumas paisagens, os elementos naturais estão mais presentes do que os elementos culturais e que, em outras, pode haver o movimento inverso. Contudo, os elementos da paisagem que compõem esses grupos não são derivados de meras subjetividades, podendo ser agrupadas em formas e funções diferentes de acordo com a análise gerada. As paisagens em que há predomínio de elementos humanos (culturais) são chamadas de paisagens humanizadas ou culturais (como cidades, áreas industriais e áreas agrícolas, arti�cialmente produzida pelo trabalho humano). Já as paisagens em que identi�camos o predomínio de elementos naturais, chamamos de paisagens naturais (onde a interferência dos seres humanos é pequena ou inexistente); em alguns casos, ela pode até ser considerada “intocada” pelo ser humano dado o seu baixo grau de modi�cação. Um exemplo clássico utilizado é o interior 0 V e r a n o ta çõ e s do continente antártico, sobre o qual sabemos muito pouco, ou o sul do Oceano Índico. Aliás, pouco sabemos sobre as profundidades dos nossos oceanos. Figura 1.8 | Exemplo de uma paisagem predominantemente natural Fonte: Wikimedia Commons. Figura 1.9 | Paisagem majoritariamente cultural Fonte: Shutterstock. 0 V e r a n o ta çõ e s Já a paisagem cultural ou humana (também chamada de arti�cial) pode ser descrita como uma paisagem que foi modi�cada e, em alguns casos, quase totalmente reformulada pelos seres humanos. Exemplos dela são a cidade de Las Vegas, nos Estados Unidos, e a cidade de Dubai, capital do Catar. Ambos os espaços tiveram transformações radicais na paisagem natural e mostram como a tecnologia funciona quando falamos das transformações do meio e da exploração dos recursos. FOCO NA BNCC A habilidade EF06GE01 da BNCC para o 6º ano do ensino fundamental possibilita o trabalho com imagens e a observação do espaço geográ�co. Sua proposta de comparar modi�cações das paisagens nos lugares de vivência e os usos desses lugares em diferentes tempos é uma das primeiras a serem trabalhadas e permite observar a evolução da paisagem em diferentes tempos. Normalmente, essas atividades permitem que o aluno identi�que características da paisagem que os façam entender a categoria paisagem, diferenciando os modos de sua produção (natural ou cultural/arti�cial). PROBLEMAS AMBIENTAIS E A EXPLORAÇÃO DO MEIO A exploração do meio, como conhecemos, acarreta problemas ambientais das mais variadas categorias. Os exemplos mais comuns dizem respeito às formas de exploração agressiva do meio ambiente, tais como: o assoreamento dos rios, a poluição dos cursos d’água, a poluição atmosférica (que retorna como poluição hídrica também), o desperdício de recursos não renováveis, a geração desenfreada e acúmulo exorbitante de lixo (articulados a um baixo índice, especialmente em países em desenvolvimento, de reciclagem de materiais), entre outros. Todos esses problemas se relacionam ao modo predatório com que as sociedades humanas, ao longo da história, apropriaram-se do meio e em 0 V e r a n o ta çõ e s como elas buscaram desenvolver-se sem pensar as consequências dessa exploração desenfreada. A grande maioria dos problemas ambientais que temos hoje são consequência dos atos humanos de apropriação do espaço através da exploração do meio. Sobretudo nas áreas de maior adensamento urbano, essas questões também derivam das infraestruturas da vida urbana – ou seja, produzidas pelo ser humano – tais como a poluição sonora e a visual. Dito isso, as consequências principais dessa ação não sustentável do ser humano em relação ao meio físico estão relacionadas ao dano ambiental causado pelas distintas sociedades. O século XXI e o aprofundamento das relações tecnológicas trouxeram a ampliação da capacidade de exploração do meio, ocasionando problemas como a aceleração de extinções de grande número de espécies da fauna e da �ora planetária. Esse fenômeno pode ocorrer devido à criação de uma área de inundação de barragem para construção de hidroelétricas em que haja o desequilíbrio de ecossistemas únicos em determinadolocal a serem impactados, por exemplo. Outro problema característico causado pela sociedade contemporânea é o consumo elevado de matérias-primas (articulado ao consumismo estimulado pelo sistema em que vivemos) e que, se somado à falta de atenção nos processos de reciclagem de materiais, podem tornar irreversíveis os danos feitos ao meio ambiente. Por isso, é sempre importante atentar-se para práticas ambientais socialmente responsáveis, como o consumo sustentável. Ainda que seja uma prática de remediação aos problemas ambientais, isso já contribui bastante para diminuir a “pegada ecológica” no planeta, isto é, o tamanho dos danos causados pela ação humana no meio ambiente, ocasionada pela exploração intensa do meio físico. Esperamos que tenha sido uma ótima travessia até aqui. Seguimos juntos e lembre-se: o processo do conhecimento é motivado pela vontade de saber. 0 V e r a n o ta çõ e s REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular: educação é a base. Brasília: MEC, 2018. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versa o�nal_site.pdf. Acesso em: 3 nov. 2021. FREITAS, E. de. O trabalho integrado da Geogra�a com outras disciplinas. Brasil Escola, [S. l., s. d.]. Disponível em: https://educador.brasilescola.uol.com.br/estrategias-ensino/o-trabalho- integrado-geogra�a-com-outras-disciplinas.htm. Acesso em: 2 abr. 2021. MAXIMIANO, L. A. Considerações sobre o conceito de paisagem. Revista RA’EGA, Curitiba, n. 8, p. 83-91, 2004. SANTOS, M. A natureza do espaço. São Paulo: EDUSP, 2002. SCHIER, R. A. Trajetórias do conceito de paisagem na Geogra�a. Revista Ra’E GA, Curitiba, n. 7, p. 79-85, 2003. WARNAVIN, L.; ARAUJO, W. M. de. Estudo das transformações da paisagem e do relevo. Curitiba: InterSaberes, 2016. p. 15-25. ZIMMERMANN, N. Os cinco maiores problemas ambientais do mundo e suas soluções. DW Brasil, [S. l.], 13 out. 2016. Disponível em: https://www.dw.com/pt-br/os-cinco-maiores-problemas-ambientais-do- mundo-e-suas-solu%C3%A7%C3%B5es/a-36024985. Acesso em: 2 abr. 2021. 0 V e r a n o ta çõ e s http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf https://educador.brasilescola.uol.com.br/estrategias-ensino/o-trabalho-integrado-geografia-com-outras-disciplinas.htm https://www.dw.com/pt-br/os-cinco-maiores-problemas-ambientais-do-mundo-e-suas-solu%C3%A7%C3%B5es/a-36024985 NÃO PODE FALTAR ESPAÇO GEOGRÁFICO: O OBJETO DA GEOGRAFIA Gabriel Pinto de Bairro Imprimir PRATICAR PARA APRENDER Caro estudante! Esta seção que encerra nossa primeira unidade é uma das que podemos considerar centrais para a continuidade de nossos estudos. Falamos das categorias geográ�cas e de como elas incidem na organização espacial, tópico extremamente importante para compreendermos a Geogra�a enquanto ciência. Dizemos isso para demonstrar a centralidade que as categorias de análise geográ�ca têm no estudo dessa área da ciência, pois é somente a partir delas que podemos analisar o espaço geográ�co, objeto de estudo da Geogra�a. As categorias atuam como uma espécie de lentes especiais que, quando aplicadas às relações em nosso objeto de estudo, mostram-se reveladoras das condições concretas sobre as quais o espaço geográ�co se produz e se reproduz ao longo do tempo. Para tanto, sempre é bom lembrarmos que a história possui uma importância central em nossas análises, porque nos apresenta o desenvolvimento do tempo histórico e as relações das ações humanas – a história social – como base para a 0 V e r a n o ta çõ e s ação concreta no espaço e, consequentemente, para a produção do espaço geográ�co. Com isso, trabalharemos com as quatro principais categorias da Geogra�a: paisagem, território, lugar e região. A partir disso, podemos avançar no entendimento dos fenômenos espaciais e da maneira como se constituem enquanto parte importante das análises sobre o espaço geográ�co. A diferenciação entre os tipos de fenômenos possibilita a compreensão das dinâmicas das atividades humanas e como estas afetam nossa percepção dos impactos dos fenômenos da natureza sobre a sociedade. A paisagem e o território, aqui, tornam-se centrais para analisarmos as características desses fenômenos. Ainda, os processos de construção do espaço tomam importante lugar em nosso aprendizado. Tal construção é resultado do acúmulo histórico de transformações humanas no espaço, que envolvem diretamente todos os atores sociais, e afeta também o modo como um determinado grupo de pessoas observa o que está em seu redor e como se apropria disso. Aqui, utilizaremos as categorias de lugar e de região para entendermos o processo de construção através de mudanças feitas pelo ser humano em seus lugares vividos. Como forma de �nalização de nossa seção e, consequentemente, de nossa unidade, trataremos das contradições que ocorrem no espaço e que decorrem dele, dadas todas as inter-relações que expusemos ao longo do conteúdo. Buscaremos identi�car como essas contradições saltam aos nossos olhos e de que forma a Geogra�a – com suas categorias e seu conhecimento cientí�co – podem nos ajudar não somente a identi�car contradições, mas também a propor alternativas e soluções para elas, observando os limites e as possibilidades da ação do geógrafo. Existe uma noção muito difundida hoje em dia de que o pro�ssional de Geogra�a necessita de um aprofundamento muito grande em 0 V e r a n o ta çõ e s atualidades. Isso se dá para que possa desenvolver bem uma aula da disciplina na escola, por exemplo, ou para que consiga identi�car fatores de modi�cação em uma paisagem observada através de mapas. Em todo caso, essa noção muitas vezes acaba afastando os professores e os geógrafos de seu objeto de estudo (o espaço geográ�co) na medida em que não conseguem se apropriar adequadamente das categorias geográ�cas. As principais são: paisagem, território, lugar e região. Como já visto, a Geogra�a é uma ciência que estabelece facilmente inter- relações – sendo uma disciplina por excelência, na escola, interdisciplinar. Através dela podemos observar as interações entre a sociedade humana e o meio físico, permitindo-se analisar o espaço geográ�co como um conjunto indissociável de sistemas de ações e de sistemas de objetos unidos pela técnica (SANTOS, 2002). Também nos permite observar que o espaço geográ�co é a síntese entre forma, estrutura e função, dada a partir do modo como a estrutura social molda o espaço ao qual pertence (LEFEBVRE, 1992). Para realizarmos tais análises, necessitamos nos apropriarmos das principais categorias geográ�cas com vistas ao entendimento do espaço enquanto um constructo das relações humanas de exploração e de adaptação do meio físico às suas necessidades. Desse modo, a materialização do espaço envolve uma síntese historicamente determinada pelas ações sociais de técnicas, tecnologias e ações humanas no espaço geográ�co. Imagine que você, enquanto professor de Geogra�a, depara-se com uma notícia trazida por um de seus estudantes sobre um deslizamento de terra na cidade em que vive e que, infelizmente, tirou a vida de moradores uma área de ocupação irregular estabelecida anteriormente pela prefeitura. Como você pode articular seus conhecimentos sobre as categorias geográ�cas para explicar aos estudantes os fatores geográ�cos componentes dessa notícia? E como você consegue trabalhar as 0 V e r a n o ta çõ e s contradições espaciais e o que as envolve a partir do fato ocorrido? Esperamos que o conteúdo desta seção seja de muito proveito para você. Vamos em frente e juntos para descobrirmos mais e mais sobre a ciência geográ�ca! CONCEITO-CHAVE Conforme viemos desenvolvendo desde nossa última seção, a paisagem é uma importante categoria para estudo da Geogra�a. Nela, é possível identi�car as ações humanas em diferentes ambientes mais ou menos afetados por esta atividade. Também já entendemos suas subdivisões em: paisagemnatural e paisagem arti�cial, sendo a primeira relacionada a ambientes menos modi�cados pelo ser humano e a segunda, a ambientes no qual o meio físico está modi�cado pela humanidade a partir de suas técnicas e do desenvolvimento de tecnologias para se apropriar dele. Contudo, existem outras formas de entender a paisagem de acordo com as análises a serem realizadas sobre ela. Nosso objetivo, a partir de agora, será o aprendizado das categorias e das dimensões do espaço geográ�co, das formas como podemos analisar os fenômenos espaciais e suas categorizações, os processos de construção do espaço e a identi�cação das contradições no espaço geográ�co, observando o modo como este também contribui para suas dimensões do conhecimento. CATEGORIAS E DIMENSÕES DO ESPAÇO GEOGRÁFICO É comum observarmos, na Geogra�a, por exemplo, o uso de conceitos como o de paisagem cultural – também conhecida como paisagem humanizada –, que deriva da divisão primeira da paisagem (natural e arti�cial), mas que é um conceito utilizado dada a modi�cação intensi�cada de determinados ambientes pelas práticas humanas. Contudo, a paisagem cultural (ou humanizada) não exclui a coexistência, 0 V e r a n o ta çõ e s em um mesmo espaço, com uma paisagem que remonte à paisagem natural. Nesse sentido, vale lembrar que a ação humana de criação de áreas protegidas em cidades, por exemplo, é também produção de paisagem arti�cial. O que queremos dizer aqui é que a paisagem natural, quando produzida pelo ser humano sob uma intencionalidade, pode ser considerada também arti�cial. Paisagem é um espectro analítico da Geogra�a que é visível e material (portanto, concreto) e que compreende as interfaces de relação social ao longo da história – ou seja, está em constante transformação. Outra categoria importante e cara para a Geogra�a é o território. Este exprime uma relação de apropriação do espaço geográ�co pela humanidade, marcada pelas delimitações criadas pela sociedade. O território, para a Geogra�a, pressupõe relações sociais de poder, nas quais diferentes sujeitos exercem suas vontades sobre uma determinada – e limitada – porção espacial. No início da consolidação da Geogra�a como ciência, a categoria paisagem dava conta da de�nição de território justamente por, a princípio, relacionar paisagem a um domínio estatal sobre uma porção espacial. Vale lembrar que esse período de consolidação da Geogra�a enquanto ciência – como veremos adiante – foi fortemente marcado pela consolidação dos Estados europeus, fato que in�uenciou uma produção geográ�ca voltada para a exaltação das qualidades nacionais dos Estados em formação. Atualmente, a de�nição de território, articulada com o poder sobre um espaço, ganha palco juntamente com análises sistêmicas que dizem respeito aos tipos de poder espacial. O território enquanto conceito permite, então, analisar um determinado lugar a partir de seus prismas especí�cos (criando de�nições como as de território cultural, território social, território político, etc.), mas que não podem, em nenhuma situação, afastar-se da totalidade da categoria território enquanto manifestação do poder no espaço. Diferentes territórios podem coexistir 0 V e r a n o ta çõ e s no espaço, contribuindo para a multidimensionalidade desse fenômeno, ou seja, um território não existe sozinho, pois o espaço geográ�co comporta a totalidade das manifestações de poder. Outra categoria importante para a Geogra�a é o lugar, de�nido como um ponto do espaço tal e qual o ser humano se relaciona com ele. Normalmente está articulado com a noção de local, sendo esta última mais atrelada à localização de um ponto no espaço, sem, necessariamente, haver uma percepção imediata do ser humano naquele espaço. O lugar está, desse modo, intrinsecamente relacionado a como uma sociedade percebe o espaço que a circunda (o qual evidentemente construiu e modi�ca a todo momento). Assim sendo, o lugar descreve a articulação entre as determinantes gerais do espaço em um ponto, constituindo a singularidade dos fenômenos que lhe são próprios. Essa categoria é importante na Geogra�a escolar, pois possui uma in�uência grande na consolidação primeira da disciplina Geogra�a. Por ser mais próxima aos sentidos humanos, pode ser trabalhada em ambiente escolar mais facilmente, em um primeiro momento. Ainda, pode-se dizer que a categoria região possui centralidade para a Geogra�a, centralidade esta tão grande que uma corrente geográ�ca esteve estabelecida sobre seus principais traços. A Geogra�a Regional – levada à cabo especialmente por Paul Vidal de La Blache na França – utilizou-se dessa categoria para descrever, delinear culturalmente e retratar as paisagens que compunham o território francês no século XIX. Região, desse modo, caracteriza a contiguidade – ou seja, a continuidade – de algum aspecto analisado no espaço geográ�co. Seu processo de análise – a regionalização – pressupõe uma base para que se possam veri�car os pontos de convergência entre as variáveis escolhidas no território. Por exemplo, podemos identi�car a região (e, consequentemente, regionalizar) o espaço em que habitam certos indígenas no interior da Floresta Amazônica, bem como podemos 0 V e r a n o ta çõ e s regionalizar a in�uência da língua portuguesa no continente sul- americano. Evidentemente, nos dois casos, extrapola-se a noção pura e simples da territorialização – o que nos dá pistas sobre as formas com as quais podemos trabalhar – integral e de modo integrado – todas as categorias de análise geográ�ca, sendo o espaço geográ�co aquele que nos aponta as categorias que “devem ser corretamente empregadas”. Isso quer dizer que não basta nos apropriarmos das categorias: precisamos ter a humildade e a inteligência de percebermos para onde o espaço geográ�co nos aponta, o que dele emerge e como nele podemos atuar. ASSIMILE Paisagem: conjunto de aspectos contidos no espaço que permitem observar uma relação dinâmica entre os elementos do meio físico e da sociedade. Território: relação de apropriação do espaço geográ�co pela humanidade marcada pelas delimitações criadas pela sociedade, pressupondo relações de poder. Lugar: percepção do que é imediato ao ser humano, dadas suas relações com o ambiente em que vive. Região: contiguidade espacial dada a partir de determinado prisma de análise. Podemos mencionar ainda as dimensões do espaço geográ�co – as quais tornaremos a abordar na sequência de nossos estudos. Tais dimensões encontram-se amarradas ao que se pretende trabalhar e ao que tentaremos identi�car no espaço e compõem a síntese das interrelações que podemos estabelecer entre as categorias geográ�cas. As redes que amarram as dimensões do espaço geográ�co dizem respeito a conexões espaciais que possibilitam a união dos pontos geográ�cos (entendidos através da categoria lugar) em sua articulação com a sociedade da informação, constituindo assim a nova morfologia das sociedades do 0 V e r a n o ta çõ e s capital (CASTELLS, 1999). Todos elas, as quais expusemos até aqui, são consideradas dimensões escalares da Geogra�a, pois permitem observar a espacialidade dos fenômenos. Essas dimensões são representadas na Geogra�a, de modo prático, pelas escalas geográ�cas, que se entrelaçam dadas as amplitudes dos fenômenos analisados, podendo ser divididas em micro, meso, ou macroescala, sendo um bom exemplo prático a cidade, o estado da federação e o país. Trataremos disso de modo mais especí�co adiante. O fato é que podemos perceber que as escalas geográ�cas prescindem das categorias de análise e do que se apresenta no concreto real, devido às construções da sociedade humana no curso da história. ANÁLISE DOS FENÔMENOS ESPACIAIS Para analisarmos os fenômenos espaciais, devemos nos atentar às dimensões do espaço geográ�co. Essas dimensões são as escalas de análise que utilizaremos tanto para representar os fenômenos (em representação cartográ�ca, por exemplo)quanto para dar amplitude ao que é observado. Fenômenos espaciais, como o próprio nome diz, são aqueles que se realizam no espaço, o qual, para nossa ciência, é o espaço geográ�co. Esses fenômenos ocorrem e podem ser subdivididos de acordo com sua natureza (fenômenos naturais e fenômenos arti�ciais, produzidos pelas relações humanas com o meio físico) e de acordo com sua extensão (locais, regionais ou mundiais). No grupo dos fenômenos naturais, encontram-se as manifestações da natureza perceptíveis pelo ser humano, como as chuvas, as tempestades, os furacões, as erupções vulcânicas, os maremotos, os terremotos, os deslizamentos de terra, etc. Já os fenômenos arti�ciais advêm especialmente da criação humana que se manifesta no espaço, como as cidades, a eletricidade, a roda, os automóveis, entre outros. Podemos observar a inter-relação de ambos ao 0 V e r a n o ta çõ e s observarmos a intensi�cação da ocorrência de fenômenos naturais em decorrência da ampliação da exploração do meio físico pelo ser humano. É comum ouvirmos e observarmos, em nosso dia a dia, que os fenômenos naturais são as causas de desastres para a humanidade. Figura 1.10 | Vulcão em erupção – exemplo de fenômeno natural Fonte: Shutterstock. Figura 1.11 | Destruição causada pelo Furacão Katrina nos EUA, em 2005 Fonte: Shutterstock. 0 V e r a n o ta çõ e s Devemos estar sempre atentos a algumas informações que nos são fornecidas diariamente, especialmente no que diz respeito aos fenômenos naturais e às tragédias causadas eventualmente por eles. As causas desse grupo de fenômenos não está no ser humano, isto é, não somos nós que os causamos, eles ocorrem independentemente da existência humana, por serem manifestações e fenômenos planetários da natureza. Mas, sim, estão relacionados aos impactos e às extensões pelas quais esses fenômenos são percebidos na paisagem e no território construído e constituído pela humanidade. Evidentemente que, como podemos observar, não se pode fazer nada contra os fenômenos e contra sua incidência e sua ocorrência – no sentido de controlar a sua existência –, mas se pode planejar a ocupação e a expansão territorial humana, bem como a construção da paisagem arti�cial, para que fenômenos naturais normalmente articulados a catástrofes afetem em menor escala nossa sociedade. EXEMPLIFICANDO Observamos os fenômenos naturais todos os dias em nosso cotidiano e podemos trabalhar com eles em sala de aula. Um dia chuvoso, por exemplo, pode ser o ponto de partida para se trabalhar com uma aula sobre planejamento urbano e sobre o acesso às infraestruturas da cidade ao demonstrarmos quais são os pontos principais de alagamento e onde os cursos d’água – normalmente localizados em áreas mais baixas chamadas fundos de vale – encontram-se. PROCESSOS DE CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO A construção do espaço, desse modo, observa os fenômenos naturais e lança mão de fenômenos arti�ciais e da produção da vida humana para modi�car o meio físico. Desde seus primórdios, a Geogra�a se preocupa com a transformação do espaço e com as formas por meio das quais 0 V e r a n o ta çõ e s diferentes sociedades se relacionam com o meio no qual estão inseridas. Assim, uma das primeiras tentativas de sistematizar processos de construção espacial na Geogra�a se pautou nas categorias lugar e região para produzir análises. A Geogra�a regional – sobretudo com as análises francesas do século XIX – buscou produzir quadros de análise do lugar que investigavam, buscando observar interfaces de transformação da paisagem – o que convencionalmente se entende por dinâmica da paisagem. Essa dinâmica diz respeito ao grau de modi�cação de um lugar e de uma região de acordo com a ação humana sobre o meio físico naquele determinado espaço. A diferença entre os modos de vida humana, sua historicidade e a cultura de um determinado povo afeta o grau e a velocidade da transformação da paisagem, sendo sua dinâmica mais ou menos veloz a depender de qual sociedade falamos. FOCO NA BNCC Para que possamos trabalhar os processos de construção do espaço, a BNCC do 7º ano do ensino fundamental traz como aspectos do mundo do trabalho a modi�cação espacial causada pela indústria. A habilidade EF07GE08 objetiva “estabelecer relações entre os processos de industrialização e inovação tecnológica com as transformações socioeconômicas do território brasileiro” (BRASIL, 2018, p. 387), o que permite ao professor trabalhar aspectos da construção do Espaço Geográ�co sob o prisma das transformações causadas pela indústria no Brasil. Os processos de construção espacial levam em conta a condição material das sociedades que se inseriram historicamente em um determinado lugar. As condições do meio físico encontradas pelo ser humano na sociedade europeia do século X, por exemplo, são diferentes das 0 V e r a n o ta çõ e s encontradas por sociedades americanas no mesmo período. O meio natural, ao mesmo tempo que determina, é também determinado pelo ser humano durante a produção do espaço geográ�co. Esses processos são ditados pelas técnicas e pelas tecnologias – e seus respectivos avanços históricos – em cada uma das porções territoriais que se analisam. A construção espacial, desse modo, depende do território a ser analisado, do grau de modi�cação da paisagem e da produção e da intensi�cação das técnicas e das tecnologias de uma sociedade em um período histórico analisado. CONTRADIÇÕES NO/DO ESPAÇO GEOGRÁFICO Como encaminhamento de nossa primeira unidade de estudos, propomos aqui resgatar os conceitos aprendidos especialmente nesta seção para compreendermos como se manifestam as contradições espaciais. Para além disso, buscaremos entender as contradições advindas do espaço geográ�co a partir de uma relação dialética (na qual ambas as partes se in�uenciam mutuamente) entre elas e, ao mesmo tempo, as contradições já consolidadas e consideradas, muitas vezes, como “inerentes” ao espaço: as contradições do espaço geográ�co. Nesta, exempli�caremos quais as principais contradições que o olhar geográ�co permite observar no espaço. Antes disso, vamos nos deter na análise de uma especi�cidade espacial sobre a qual, no sistema capitalista, as contradições no e do espaço geográ�co se manifestam: a desigualdade na Divisão Internacional do Trabalho (DIT) no capitalismo. A divisão do trabalho é inerente e comum a todas as sociedades humanas e pode se manifestar de diferentes formas: divisão sexual, classista, etária, por guetos e nichos sociais, etc. Sob a égide do capitalismo contemporâneo – o qual encontra-se cada vez mais mundializado e conecta – direta ou indiretamente – todos os lugares por meio de suas 0 V e r a n o ta çõ e s redes, a exploração do meio físico se intensi�cou muito mais e tem se aprofundado com o passar dos anos. Contudo, não é somente a exploração do meio físico que preocupa a Geogra�a no que tange à DIT. Esta submete os países e seus povos a uma condição de desigualdade social extrema e enraizada no modo de produção, o que aprofunda as contradições dos sistemas econômico, político e social que vivemos. Com isso, as divisões entre países ricos (também chamados de “primeiro mundo”) e países pobres (também chamados de “terceiro mundo” ou, em uma perspectiva positiva, de “países em desenvolvimento econômico”) estão relegadas a um aprofundamento constante, o qual, para a Geogra�a, manifesta-se nas contradições espaciais contidas no espaço geográ�co, as quais são aprofundadas pelas relações estabelecidas nele – neste último caso, as próprias contradições do espaço geográ�co. REFLITA Se observarmos as diferenças entre os países tidos como “modelo” no sistema capitalista, normalmente identi�cados na mídia e no nosso dia a dia como países de “primeiro mundo”, podemos entender que eles são os países que, historicamente, tiveram mais relações de exploração colonial do que outros. Atentemos para o caso dos países europeusda Europa Ocidental e Central: todos os países ricos dessas localizações foram, um dia, grandes centros coloniais ou estiveram envolvidos com etapas centrais para o desenvolvimento do capitalismo internacionalizado. Essas contradições normalmente se manifestam de modo mais intenso se observarmos países de diferentes pontas da Divisão Internacional do Trabalho. Tal divisão aprofunda a especialização do espaço geográ�co, dividindo tudo e todos como aqueles que possuem meios de produção e 0 V e r a n o ta çõ e s aqueles que apenas fornecem seus braços ao trabalho. Numa sociedade mundializada, nunca podemos analisar apenas um único fato ou um único local no planeta sem que esteja relacionado aos outros lugares com que estabelece suas conexões. Esse é o caráter relacional da Geogra�a, capaz de compreender os lugares conforme suas inter-relações com os outros. As contradições espaciais, portanto, desenvolvem-se segundo as condições sociais concretas. Tais contradições podem ser de ordem social – por exemplo, as condições de moradia precárias nas comunidades que habitam as periferias urbanas –, econômica – um país cuja diferença entre o mais rico e o mais pobre seja menor possui uma qualidade de vida melhor, sendo o contrário também verdadeiro – , natural – uma cidade com concentração maior de poluentes no ar –, entre outros. Assim, o modo com que essas contradições se apresentam é diverso, cabendo a nós as analisarmos sob o prisma da diferenciação primordial do sistema capitalista: a divisão entre detentores dos meios de produção e dos detentores apenas de sua própria força de trabalho. Tal divisão é inerente ao sistema em que vivemos – ainda que muitas pessoas neguem a questão de classe, ela existe na concretude – e aprofunda as contradições espaciais. Observando os países “de primeiro mundo” e os países “de terceiro mundo”, notamos que a diferença está enraizada na falta de capital e no fator explorador-explorado, primeiramente, o que insere algumas partes do mundo no mercado como fornecedores de matéria-prima e de mão de obra barata. A paisagem produzida nesses territórios é muito diferente das paisagens de primeiro mundo, dadas as condições de reprodução social naqueles lugares. As contradições escancaram, dentro dos próprios lugares, a diferenciação social das pessoas, basta que nos atentemos, por exemplo, aos condomínios de luxo que dividem a paisagem com as construções precárias dos trabalhadores urbanos. 0 V e r a n o ta çõ e s Figura 1.12 | Comparação entre as habitações de alto e de baixo padrão Fonte: Shutterstock. Terminamos aqui nossa primeira unidade de estudos. Esperamos que tenha sido proveitoso para você e que tenha servido para que seu conhecimento geográ�co seja aprofundado. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular: educação é a base. Brasília: MEC, 2018. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versa o�nal_site.pdf. Acesso em: 3 nov. 2021. CASTELLS, M. A sociedade em rede: A era da informação: economia, sociedade e cultura. Tradução de Roneide Venâncio Majer. São Paulo: Paz 0 V e r a n o ta çõ e s http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf e Terra, 1999. v. 1. HARVEY, D. O enigma do capital: e as crises do capitalismo. São Paulo: Boitempo, 2011. p. 91-100. LEFEBVRE, H. A produção do espaço. Tradução de Doralice Barros Pereira e Sérgio Martins. [S. l.: s. n.], 2006. 1ª versão. Título original: La production de l'espace. MOREIRA, R. A (Geogra�a da) sociedade do trabalho. Terra Livre – AGB, São Paulo, ano 29, v.1, n. 40, p. 131-142, jan.-jun. 2013. SANTOS, M. A natureza do espaço. São Paulo: EDUSP, 2002. TORO, M. A. R. S. A produção do espaço e suas contradições: possibilidades para a construção de novos caminhos. Revista Eletrônica História, Natureza e Espaço, Rio de Janeiro, v. 4, n. 1, 2015, p. 4. 0 V e r a n o ta çõ e s NÃO PODE FALTAR INTRODUÇÃO À CARTOGRAFIA Gabriel Pinto de Bairro Imprimir CONVITE AO ESTUDO Olá, estudante! Bem-vindo à nossa segunda unidade. Nesta parte de nossa caminhada, iremos versar sobre um dos mais importantes produtos da Geogra�a: os mapas e o estudo de como os confeccioná-los, dados através da Cartogra�a. É comum ouvirmos que a Geogra�a é a ciência dos mapas, e o geógrafo é o responsável por mapear e construir estes elementos tão importantes para nossa vida em sociedade. A�nal, os mapas estão presentes em nossas tecnologias mais do que aparentemente pensamos. Quem nunca se surpreendeu por um anúncio da internet direcionado para sua região ou para o local onde vive? Atualmente, também é muito difícil encontrarmos alguém que não tenha contato com os mapas e localizadores por satélite, os populares GPS (Sistemas de Posicionamento Global, no inglês) e que nos ajudam a chegar nos lugares que precisamos. Atravessaremos a história da Cartogra�a desde seus primórdios, mas não sem antes de�nirmos o que é e qual seu o objeto de estudo, e como a Cartogra�a mantém relações historicamente com a Geogra�a. Ainda, 0 V e r a n o ta çõ e s buscaremos observar quais as interfaces possíveis entre essas duas disciplinas do conhecimento, e como a Cartogra�a esteve incluída por muitos anos nos currículos de Geogra�a – e ainda estão, como podemos ver em nosso curso. Já que a competência que iremos desenvolver nesta unidade diz respeito à compreensão das relações entre o ser humano e o meio em que vive, temos na Cartogra�a um ótimo exemplo de como podemos classi�car as interferências antrópicas no meio para, possivelmente, buscarmos exercer a sustentabilidade em nossa prática de sala de aula com nossos alunos. Também analisaremos como que os produtos cartográ�cos possuem uma intencionalidade por detrás de suas confecções. Observaremos que a consolidação, por exemplo, de territórios está intrinsecamente representada nas relações de poder que os mapas possibilitam interpretar e conhecer. Veri�caremos, portanto, que os mapas possuem uma relação geopolítica e permitem observar, por meio da Cartogra�a, o poder que está incutido nas produções cartográ�cas. Por �m, buscaremos conhecer um pouco mais sobre como, na era da informação, os produtos cartográ�cos se desenvolvem. Dadas as tecnologias, vamos analisar um pouco o que são os Sistemas de Informação Geográ�ca (SIG) e sua importância para a confecção de produtos cartográ�cos digitais, como os bancos de dados são fundamentais para os SIG, assim como passaremos por alguns produtos cartográ�cos que permitem o avanço das tecnologias geográ�cas nos mapas e na Cartogra�a como um todo. Esperamos que os estudos sejam proveitosos e que seu interesse em nossa ciência cresça conforme formos avançando em nosso livro! PRATICAR PARA APRENDER 0 V e r a n o ta çõ e s Caro estudante! Como asseveramos, os mapas estão presentes em nosso dia a dia, mas eles não surgiram apenas com as tecnologias da informação. Muito antes de nos estabelecermos, como vimos em nossa primeira unidade de estudos, enquanto povos desenvolvedores de tecnologias para sobrevivermos pela agricultura – e o consequente estabelecimento em localidades de terras férteis no planeta – os desenhos e as pinturas de nossos antepassados já apresentavam as situações cotidianas dos hominídeos na Terra. Nossas tão conhecidas pinturas rupestres não apenas servem atualmente como documento histórico, mas também nos permitem pensar como era a organização do modo de vida de nossa espécie no planeta antes mesmo que nos estabelecêssemos enquanto sociedade. É através destas gravuras – muitas esculpidas e/ou confeccionadas em pedras e dentro de cavernas – que pudemos observar que havia, já neste período, uma divisão (ainda que não intencional como vemos hoje) do trabalho entre homens e mulheres, sendo os primeiros responsáveis pela caça e coleta de alimentos, e as segundas responsáveis pelo cuidado com os animais domesticados
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