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POLÍTICAS DA EDUCAÇÃO ESPECIAL/ INCLUSIVA Lindaura Ferreira Vaz Barreto Adriana Vaz Efísio Emanuel Uniube EAD Lindaura Ferreira Vaz Barreto Adriana Vaz Efísio Emanuel POLÍTICAS DA EDUCAÇÃO ESPECIAL/ INCLUSIVA Catalogação elaborada pelo Setor de Referência da Biblioteca Central UNIUBE Barreto, Lindaura Ferreira Vaz. B275p Políticas da educação especial/inclusiva [livro eletrônico] / Lindaura Ferreira Vaz Barreto, Adriana Vaz Efísio Emanuel. – Uberaba: Universidade de Uberaba, 2018. 95 p. : il. color. Programa de Educação a Distância – Universidade de Uberaba. Inclui bibliografia. ISBN 1. Educação especial. 2. Educação especial – Brasil. 3. Educação inclusiva. 4. Legislação educacional. I. Emanuel, Adriana Vaz Efísio. II. Universidade de Uberaba. Programa de Educação a Distância. III. Título. CDD 371.9 © 2018 by Universidade de Uberaba Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Universidade de Uberaba. Universidade de Uberaba Reitor Marcelo Palmério Pró-Reitor de Pesquisa, Pós-graduação e Extensão André Luís Teixeira Fernandes Pró-Reitor de Educação a Distância Fernando César Marra e Silva Coordenação de Pós-Graduação a Distância Renata Maria de Almeida e Borges Editoração e Arte Produção de Materiais Didáticos-Uniube Preparação dos originais Patrícia Ferreira Rosa Revisão ortográfica, gramatical, textual e de estilos Erika Fabiana Mendes Salvador Editoração eletrônica Eduardo Estevam Araujo Projeto da capa Roberto Silva Araújo Assis Edição Universidade de Uberaba Av. Nenê Sabino, 1801 – Bairro Universitário Lindaura Ferreira Vaz Barreto Mestre em Educação pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Graduada em Pedagogia pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ituverava. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Políticas Públicas Educacionais, atuando principalmente na gestão e avaliação. Docente na Educação Básica e nos cursos de pós-graduação, com produção de material didático na área de avaliação educacional. Adriana Vaz Efísio Emanuel Mestre em Educação pela Universidade de Uberaba (Uniube). Especialista em Psicopedagogia Institucional, pela Faculdade de Educação de Uberaba (FEU). Graduada em Licenciatura Plena em Pedagogia, pela Universidade Presidente Antônio Carlos (Unipac). Atualmente é Analista Educacional-Pedagoga na Superintendêcia Regional de Ensino de Uberaba. Docente e coordenadora do curso de Especialização em Supervisão Educacional, Gestão Educacional e Educação Especial na Universidade de Uberaba (Uniube), modalidade de Educação a Distância. Sobre as autoras Sumário Apresentação .......................................................................................IX Capítulo 1 Tecendo conceitos sobre a Política da Educação Especial/Inclusiva no Brasil ............................................. 1 1.1 Educação do deficiente - dos primórdios da colonização brasileira à Constituição Federal de 1988 ................................................................................. 3 1.1.1 Diálogo com o passado .................................................................................. 4 1.2 A deficiência e os primeiros passos de organização da escola .............................. 6 1.2.1 As ações pedagógicas ................................................................................. 10 1.2.2 A influência médica na atenção ao deficiente .............................................. 13 1.2.3 Associações e pedagogos: entidades filantrópicas e escolas ..................... 17 1.2.4 O atendimento ao deficiente: o amparo legal .............................................. 19 1.3 Considerações finais.............................................................................................. 21 1.4 Referências ............................................................................................................ 22 Capítulo 2 Legislação educacional brasileira - gênese e evolução das escolas especiais no Brasil .................... 25 2.1 Introdução .............................................................................................................. 27 2.2 O arcabouço legal pró-inclusão ............................................................................. 28 2.3 A proposta de Educação Inclusiva ........................................................................ 29 2.4 As políticas públicas educacionais inclusivas da década de 1990 ....................... 32 2.4.1 Década de 90 ............................................................................................... 33 2.4.2 Um novo milênio ........................................................................................... 34 2.5 Alinhavando nossas ideias... ................................................................................. 40 2.6 Referências ............................................................................................................ 41 Capítulo 3 Desdobramentos das Políticas Públicas em Educação Especial/Inclusiva .......................................... 45 3.1 Introdução .............................................................................................................. 47 3.2 Reconhecer para avançar ..................................................................................... 48 3.3 Inclusão: um novo paradigma ............................................................................... 50 3.4 Vale a pena conhecer as políticas desenvolvidas no século XXI ......................... 54 3.5 Programas e ações para uma Educação Inclusiva ............................................... 57 3.6 Documentos orientadores à implementação da política de educação inclusiva .. 62 3.7 Considerações finais.............................................................................................. 69 3.8 Referências ............................................................................................................ 69 Capítulo 4 Práticas Educacionais Inclusivas .................................. 73 4.1 Operacionalização do atendimento especializado ................................................ 75 4.2 Conhecimentos necessários para incluir ............................................................... 78 4.2.1 Instrumento de Matrícula de Escola Inclusiva ............................................ 78 4.2.2 Deficientes – Quem são eles? ..................................................................... 80 4.2.3 Processo avaliativo ....................................................................................... 81 4.3 Materialização das Políticas para a Educação Especial ....................................... 84 4.3.1 Diretrizes para a ação do professor ............................................................. 85 4.4 Discutindo dificuldades x possibilidades ............................................................... 89 4.5 Considerações finais.............................................................................................. 93 4.6 Referências ............................................................................................................ 94 Caro(a) aluno(a), Produzimos o material pedagógico deste módulo pensando exclusivamente em você. Como? Como quem quer dar o melhor de si no compartilhamento de conhecimentos, ideias, fatos e circunstâncias sobre os quais se sedimentou a Educação Especial. Nossaexperiência profissional sinalizou as lacunas de formação e compreensão de grande parte dos profissionais que atuam na Educação Especial/Inclusiva, que, mesmo se propondo a superar desafios, muitas vezes caminha sozinha. Convidamos você para caminhar conosco percorrendo os árduos caminhos, muitos deles dolorosos, outros de realização e avanço, para nos aprofundarmos nos meandros da configuração do atendimento à pessoa com deficiência em nossa sociedade. Esse caminho se faz necessário para que a análise das Políticas Públicas venha ao encontro das necessidades de inclusão de todas as pessoas em nossas escolas, sendo-lhes garantidos os direitos previstos na Constituição Federal. Apresentação É preciso conhecer o que se passou para mudarmos o presente. Então venha e trilhe conosco a vastidão de conhecimentos sobre as Políticas Públicas em Educação Especial/Inclusiva e as suas singularidades. Organizamos este módulo em quatro eixos. Confira! CAPÍTULO 1 CAPÍTULO 2 CAPÍTULO 3 CAPÍTULO 4 Tecendo conceitos sobre a Política da Educação Especial/ Inclusiva no Brasil Legislação educacional brasileira - gênese e evolução das escolas especiais no Brasil Desdobramentos das Políticas Públicas em Educação Especial/ Inclusiva Práticas Educacionais Inclusivas Bons estudos e muito sucesso! 1 Tecendo conceitos sobre a Política da Educação Especial/Inclusiva no Brasil Lindaura Ferreira Vaz Barreto Uniube 3 O convite para ampliar nossos conhecimentos sobre a efetivação do direito à Educação passa pela compreensão da responsabilidade de universalizar a Educação e suscita a necessidade de dar voz às reivindicações educativas dos que foram silenciados ao longo da história da humanidade. 1.1 Educação do deficiente - dos primórdios da colonização brasileira à Constituição Federal de 1988 Neste capítulo, vamos dar voz aos brasileiros silenciados a partir da visitação aos marcos históricos da educação do deficiente. Mas o que é história? Sua resposta pode ser ampliada com o legado do filósofo e educador Neidson Rodrigues: História não é o relato do passado esquecido e rememorado no ato de conhecê-lo, mas é a recuperação do ato passado que, enquanto passado, funda o presente e enlaça o presente no passado e o futuro no presente, não na sua forma perfilada, mas na sua forma criadora, geradora. É um ato de geração, de produção. E como tal nós temos de encontrar, nas cercanias do objeto criado, as condições de sua criação. (RODRIGUES,1993, p.15, grifos nossos). No Brasil, as condições de criação da história da educação do deficiente foram as mesmas da história da Educação das demais pessoas, em que o foco foi “apenas nos momentos e na medida exata em que dela sentiram necessidade os segmentos dominantes da sociedade. ” (JANNUZZI, 2004, p. 53). Fonte: Acervo Depositphotos/ EAD - Uniube Figura 1: Voz dos silenciados. 4 Uniube Diálogo com o passado1.1.1 Para apreender a relação entre os conceitos de deficiência e as expectativas e mobilização da sociedade em prol da garantia do direito de todos à Educação, vamos dialogar com o passado, entrelaçando-o ao presente e ao futuro. Vamos visitar as iniciativas de institucionalização da educação do deficiente, com foco nas Políticas Públicas, que, segundo Dias (2012, p. 2), resultam em “[...] uma atitude social que se propõe a assegurar ações que visam a atender as necessidades da sociedade”. Ressaltamos que discutir o tema políticas públicas é importante “[...] para entender a maneira pela qual elas atingem a vida cotidiana, o que pode ser feito para melhor formatá-las e quais as possibilidades de se aprimorar a sua fiscalização.” (DIAS, 2012, p. 13). A memória dessa história evidencia fatos marcantes do século XVI, início da colonização portuguesa, até os primeiros anos do século XX, quando nossa industrialização começou a se incrementar. O destaque na década de 1970 foi a instituição do primeiro órgão de política de Educação Especial, o Centro Nacional de Educação Especial (CENESP) – órgão criado para a definição de metas governamentais específicas para a Educação Especial para organizar o que se vinha realizando em escolas, instituições para ensino especializado desse alunado e formação para o trabalho. Fonte: Acervo Depositphotos/ EAD - Uniube Figura 2: Memória da História. Assista à videoaula 1 a seguir para conhecer um pouco a respeito da epopeia do deficiente na sociedade humana. Uniube 5 O curso da história da educação do deficiente, no recorte do século XVI ao XXI, desvela a Educação Integrada com a organização da sociedade de forma inter-relacionada com o ideal de homem inserido nos diversos momentos da evolução cultural. Nessa trajetória o Termo deficiente é genericamente empregado, recebendo denominações várias, pois a palavra é o suporte de um sistema de normas e de valores e, mais geralmente, de interpretação simbólica do todo que uma sociedade faz de sua ordenação e de seus próprios conflitos. (BISSERET, 1971, p. 317). O cenário da sociedade rural e desescolarizada do período do Brasil Império (1822 a 1889) foi o pano de fundo do conceito de deficiente relacionado com anormalidade, excepcionais, retardados e atrasados. A prática social foi a de “silenciar completamente sobre o deficiente e esconder aqueles que mais se distinguiam ou cuja presença mais incomodava. ” (JANNUZZI, 2006, prefácio). Nesse entendimento, a deficiência significava uma ameaça, por se caracterizar por desequilíbrio à norma estabelecida e gerar sentimentos expressos pelo medo e pela pena, como repulsa, raiva e outros provocados pela condição de diferença. 6 Uniube O atendimento a pobres e doentes no século XVI direciona o olhar para as Santas Casas de Misericórdia, em Santos (1543), Salvador (1549), Rio de Janeiro (1552), Espírito Santo (provavelmente 1554), São Paulo (provavelmente 1599), Olinda e Ilhéus (1560), Porto Seguro (também em fins do século XVI), Sergipe e Paraíba (1604), Itamaracá (1611), Belém (1619), Iguaçu (1629) e Maranhão (data incerta, primeiras referências do Padre Vieira, em 1653) (MESGRAVIS, 1976, p. 38). A deficiência e os primeiros passos de organização da escola1.2 No fim do século XVIII e começo do XIX, surgiu, de maneira tímida, a institucionalização da educação das crianças deficientes dentro das ideias liberais dos movimentos históricos da Inconfidência Mineira (1789), a Conjuração Baiana (1798) e a Revolução Pernambucana (1817). Entretanto, em 1913, escrevia Basílio de Magalhães: "por nenhum dos meios usuais de comunicação de pensamento não se cuidou, em nossa Pátria, da infância degenerada, quer a atingida por anomalias lesionais do cérebro, quer da combalida por anomalias ou taras menos graves." (MAGALHÃE5, 1913, p. 11). As crônicas da época, sobre as crianças que traziam defeitos físicos ou mentais, permitem supor o abandono em lugares assediados por bichos, que muitas vezes as mutilavam ou as matavam. Corrobora essa suposição o pedido do governador Antônio Paes de Sande, no final do século XVII, de providência ao rei de Portugal, "contra os atos desumanos de se abandonar crianças pelas ruas, onde eram comidas por cães, mortas de frio, fome e sede." (MARCILIO, 1997, p. 59). As primeiras iniciativas de organização da escola primária também trouxeram, no bojo, tentativas para organizar as escolas para o deficiente, como em 1730, em Vila Rica, a Irmandade de Santa Ana criada para cuidar de órfãos e crianças abandonadas, que previa no artigo 2º do seu estatuto "uma casa de expostos e asilo para desvalidos." (SOUZA, 1991, Uniube 7 p. 29). A educação popular, e menos ainda a dos deficientes, não era motivo de preocupação, pois, para a elite, o problema da Educação era resolvido com a oferta do ensino domiciliar feita por preceptores. Figura 3: Sala de aula de uma escola primária. Fonte: Acervo Depositphotos/ EAD - Uniube As promessas de "instrução primária e gratuitaa todos", contidas na Constituição de 1824, a primeira do Brasil, não eram realidade no ano de 1870, que apontava o índice de 78% de analfabetos no país. Nesta época, foram poucas as manifestações e instituições de educação das crianças deficientes. No entanto, na Constituição, a sociedade já se protegia juridicamente do adulto deficiente (título II, artigo 8°, item 1°), privando do direito político o incapacitado físico ou moral (BARCELLOS, 1933). IndIcação de leItura Acesse o link a seguir para conhecer a 1ª Constituição Brasileira leia a partir da página 66. <http://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/137569/ Constituicoes_Brasileiras_v1_1824.pdf?sequence=5> http://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/137569/Constituicoes_Brasileiras_v1_1824.pdf?sequence=5 http://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/137569/Constituicoes_Brasileiras_v1_1824.pdf?sequence=5 8 Uniube Entre as poucas instituições existentes no século XIX, o destaque fica com a Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, que nesse período acentuou o acolhimento de crianças abandonadas até a idade de 7 anos. Fonte: Wikimedia Foundation, 2017 Figura 4: Roda, originalmente de madeira, onde eram deixados os recém-nascidos não desejados. Também, nesta época, algumas províncias criaram a possibilidade para as crianças com anomalias serem alimentadas e também receberem alguma educação de religiosas: irmãs de caridade de São Vicente de Paula, religiosas de Doroteia, filhas de Santana, franciscanas de Caridade (MORAES, 2000). Todas as crianças atendidas na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, após os 7 anos de idade, eram separadas, sendo as meninas encaminhadas para o Seminário da Glória (1825) e os meninos para o Seminário de Sant'Ana (1824). As meninas permaneciam no Seminário até casarem e os meninos até obterem uma profissão. Supostamente as crianças com anomalias mais leves também seguiram esse curso, enquanto as com anomalias acentuadas permaneciam com adultos nos locais que essas Santas Casas mantinham para doentes e alienados. O ano de 1893 marca a abertura, em São Paulo, de um asilo para alienados, um hospício superlotado e sem condições higiênicas e, no interior do Estado, os loucos eram recolhidos nas cadeias. https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Roda_expostos_1.jpg?uselang=pt Uniube 9 O atendimento, na rede regular, da deficiência mental nos fins do século XIX nos leva até os espaços do Pavilhão Bourneville, Ginásio Estadual Orsina da Fonseca no Rio de Janeiro (1898), Unidade Educacional Euclides da Cunha em Manaus (1892), Encruzilhada do Sul, na Escola Borges de Medeiros e em Montenegro no Grupo Escolar Delfina Dias Ferraz, ambos no Rio Grande do Sul (1909). Percebemos também grupos escolares que adotavam, desde 1890, a separação de alunos por nível de adiantamento, nas diversas séries do curso fundamental (RIBEIRO, 2000, p. 85), explicando provavelmente a criação posterior de classes para as crianças com dificuldade de aprendizagem. A legislação que sustenta a Educação Especial é muito importante desde os passos iniciais. Conheça um pouco mais sobre o assunto assistindo à videoaula 2 a seguir. 10 Uniube As ações pedagógicas1.2.1 Figura 5: O silêncio sobre o deficiente. Fonte: Acervo Depositphotos/ EAD - Uniube A tentativa de esclarecer “o silêncio sobre o deficiente”, no período do Império, remete-nos à falta de registros sobre os educandos abrigados nos estabelecimentos mencionados e permite-nos levantar a hipótese de que, em uma sociedade rural desescolarizada, eram os mais lesados os que eram distanciados e os que incomodavam ou pelo aspecto global, ou pelo comportamento altamente divergente, que não contribuía para o exercício de tarefas sociais simples. Os registros datados do Império permitem perceber o movimento a favor da educação de deficientes, resultante de pessoas sensibilizadas com o problema, que encontraram apoio governamental, precário, em um momento em que a elite intelectual preocupava-se com a elevação do Brasil ao nível do século (REIS FILHO apud RIBEIRO, 2000, p. 65). Era fato que a aristocracia rural contava com uma economia agrária, baseada em ferramentas rudimentares, e o voto censitário para eleger senador e deputado, portanto não havia uma demanda para investimentos na Educação. Uniube 11 No contexto do federalismo advindo da Proclamação da República (1889), da Constituição de 1891, nota-se que as instituições ligadas aos cegos e aos surdos de certa forma foram privilegiadas, pois estiveram ligadas ao poder central até 1973, em detrimento da Educação do deficiente mental. Entretanto, quanto mais se avança no tempo, mais aumentam instituições destinadas ao atendimento dos intitulados deficientes mentais (MEC/SG/ CENESP/SEEC, 1975a). Observa-se, também, que os profissionais vão refletindo as expectativas daquela sociedade de então, tanto no discurso como na prática, de forma que vão justificando a separação do deficiente de forma paralela com a viabilização da vida dos mais prejudicados, juntamente com a família e outros setores da sociedade, por meio de conhecimentos mais sistematizados e procura de efetivação de práticas sociais mais eficientes. No fim dos anos de 1920, médicos, psicólogos, professores e pedagogos atuantes estruturaram associações profissionais reflexivas na procura de espaço para concretização de suas ações pedagógicas, como as criadas nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco, Bahia, Amazonas, Rio Grande do Sul e Minas Gerais. Desde os primórdios, ocorreu a vinculação da educação do deficiente com o campo médico, embora também estivesse ligada a estabelecimentos de Ensino Regular. As diferenças individuais mais evidentes aos poucos foram inspirando acolhimento, em locais diversos, desde hospitais, asilos com outros "desvalidos" e, de forma tímida, em instituições escolares especializadas. Como exemplo citamos o pavilhão Bourneville, no Rio de Janeiro, como a primeira escola especial para crianças anormais, uma vez que a deficiência mental foi considerada problema de saúde pública. 12 Uniube Em relação ao enfrentamento dos desafios do processo ensino- aprendizagem para os deficientes é histórico o envolvimento dos próprios deficientes e, também, de pessoas sensíveis à causa. Ainda no século XVIII, para o cego desenvolver a capacidade de leitura, foram inventadas várias formas de alfabetos que poderiam ser percebidos pelo tato, inclusive letras gravadas em madeira, fundidas em chumbo ou recortadas em papelão. A dificuldade de manusear e de assimilar o conhecimento por meio desses sistemas incitou seu aprimoramento, marcado pelo encontro do francês Louis Braille (1809-1852), cego aos 3 anos, com 14 livros com caracteres em relevo que consistiam em um código a partir de pontos, inventado, em 1819, por Charles Barbier, oficial da armada francesa, para a comunicação noturna em campo de batalha. O ano de 1824 marca o desenvolvimento do sistema Braille, que foi aprovado, oficialmente, dois anos após a morte de Louis Braille (1854). Quanto à educação do surdo, a história ressalta o alfabeto manual utilizado pelo monge beneditino Pedro Ponce de León (1520-1584), acreditando que tinha relação com o livro “Monasteriales”, copiado entre 910 e 1000 d.C, da linha beneditina, em inglês arcaico, que traz algumas listagens de sinais produzidos nos mosteiros, referentes ao universo religioso vivenciado (REILY; REILY, 2003). Passou, ainda, pela criação de outros alfabetos visuais, também chamados de “sinais metódicos”, uma valorização da participação dos surdos na constituição da língua dos sinais. Figura 6: Sinais metódicos. Fonte: Acervo Depositphotos/ EAD - Uniube Uniube 13 A influência médica na atenção ao deficiente1.2.2 Desde este período, a medicina exerceu influência na educação para os deficientes de forma inter-relacionada com problemas básicos de saúde: 1917: o doutor Renato Kehllança, pela imprensa, a campanha pró-eugenia, que dá origem à Comissão Central Brasileira de Eugenia em 1º de abril de 1931, para “estudo e propaganda das ideias de regeneração física e psíquica.” (LOPES, 1954, p. 16). 1918: Gustav Ried funda o Serviço de Profilaxia Mental de Engenho de Dentro, com Instituto de Psicologia, Escola de Enfermagem e Curso de Monitores Oficiais. 1920: Ried funda a Liga Brasileira de Higiene Mental com a colaboração de Juliano Moreira. Foram criadas ligas e associações médicas disseminadoras de ideias sobre a deficiência mental ligada aos problemas de profilaxia. Neste contexto, o desafio das crianças deficientes sistematizarem conhecimentos para participação da vida do grupo social despertou nos médicos o interesse pela pedagogia e, assim, criaram instituições escolares ligadas a hospitais psiquiátricos, principalmente para o atendimento de crianças mais comprometidas, segregadas socialmente junto a adultos loucos. 14 Uniube O destaque fica com os atendimentos a deficientes mentais feitos a partir dos médicos que fundaram diversas instituições: 1904 – Pavilhão Bourneville, anexo ao Hospício da Praia Vermelha no RJ, com a função de atendimento clínico e também orientação pedagógica fundamentada no sensorialismo e atividades com um conjunto de aparelhos, tendo os jogos valorizados e as crianças mantidas em atividades e vigilância constantes. Os agrupamentos eram organizados por sexo e gravidade das patologias. Para o internamento, era necessário diagnóstico de perito policial. (MUlLER, 2000). 1920 – O doutor Leitão da Cunha abriu atendimento pedagógico em Petrópolis. 1921 – O doutor Franco Rocha construiu em São Paulo um pavilhão, para as crianças, no Hospício de Juquery. De acordo com a percepção de Jannuzzi: [...] esses pavilhões anexos aos hospitais psiquiátricos, nascidos sob a preocupação médico-pedagógica, mantêm a segregação desses deficientes, continuando, pois, a patentear e a institucionalizar a segregação social, mas não apenas isso. Há a apresentação de algo esperançoso, de algo diferente, alguma tentativa de não limitar o auxílio a essas crianças apenas ao campo médico, à aplicação de fórmulas químicas ou outros tratamentos mais drásticos. Já era a percepção da importância da educação; daí as viabilizações possíveis, desde a formação dos hábitos de higiene, de alimentação, de tentar se vestir etc. necessários ao convívio social. Elas colocam de forma dramática o que se vai estabelecendo na educação do deficiente: segregação versus integração na prática social mais ampla. (JANNUZZI, 2004, p.38). Nota-se que houve dificuldade na efetivação da criação de escolas ou classes para alunos deficientes, apesar de contidas em lei do Estado de São Paulo (Lei nº 1.579 de 19 de dezembro de 1917). Ressaltamos Uniube 15 a iniciativa do doutor Ulysses Pernambucano de Mello Sobrinho (1892-1943), que, em 1929, fundou o Instituto de Psicologia, ligado ao Departamento de Saúde, e que, em 1929, foi transferido para o Departamento de Educação com a denominação Instituto de Seleção e Orientação Profissional com os seguintes objetivos: orientação e seleção de professores para escolas primárias, secundárias e profissionais; estabelecimento de testes pedagógicos, físico-psicológicos e diagnósticos de crianças excepcionais; realização de estudos de psicologia patológica (OLIVEIRA, 2001). Nesta época, organizou-se, também, no país a primeira equipe multidisciplinar formada por psiquiatra, pedagogo e psicólogo para trabalhar com os deficientes. Nesta abordagem médico-pedagógica, entre muitas publicações, destacou-se o livro de Basílio de Magalhães, escrito em 1913, com influências significativas no curso da educação para os deficientes mentais. O livro intitulado Tratamento e educação das crianças anormais de inteligência: contribuição para o estudo desse complexo problema científico e social, cuja solução urgentemente reclamam, - a bem da infância de agora e das gerações porvindouras - os mais elevados interesses materiais, intelectuais e morais, da Pátria Brasileira defendia uma educação preferencialmente coletiva e em classes, pois entendia que elas não aprendiam com e nem como os normais e, também, "o que é pior, impedem que as crianças normais aproveitem convenientemente a instrução que lhes é proporcionada." (MAGALHÃES, 1913, p. 57). Em relação às influências da vertente psicopedagógica nos atendimentos educacionais aos deficientes, deparamos com a penetração da psicologia principalmente pelo trabalho do médico Jean Marc Gaspard Itard com foco nas discriminações sensoriais e no desenvolvimento da plasticidade funcional - técnicas ainda usadas, atualmente, por psicólogos, sob a forma de testes. 16 Uniube SaIba maIS Conheça um pouco do percurso profissional de Itard e sua contribuição para a Educação Especial, acessando o endereço: <http://jeanmarcgasparditard.blogspot.com.br/> Os laboratórios de psicologia, da França, exerceram papel relevante na difusão das ideias oriundas das pesquisas genéticas e diferencial presentes nas obras de Alfred Binet (1857-1911), elaborador dos testes de inteligência (1905), e seu colaborador Théodore Simon (1871-1961). O professor Clemente Quaglio foi percursor na instalação do Gabinete de Psicologia Experimental, anexo à Escola Normal da Praça da República, com a aplicação na rede regular de ensino dos testes da escala métrica de inteligência de Binet e Simon. Também orientou professores e diretores na realização empírico-escolar de questionários e observações para posterior encaminhamento à seleção médico-pedagógica destinada ao exame do suposto anormal que, finalmente, ia para a seleção específica na qual se constituiriam as classes ou seções de escolas especiais e asilos-escolas. (MAGALHÃES, 1913, p. 79). Em síntese, a escola apontava os anormais e também estava em vigor a lei de isenção de matrícula aos imbecis e aos que, por qualquer defeito orgânico, fossem incapazes de receber instrução em grupos escolares e escolas-modelo. Portanto os anormais evidentes estariam rejeitados. A defesa da educação dos anormais esteve relacionada com a economia, pois evitariam manicômios, asilos e penitenciárias seriam evitados, tendo em vista as possibilidades de inserção no mercado de trabalho. http://jeanmarcgasparditard.blogspot.com.br/ Uniube 17 A atuação do psicólogo italiano Ugo Pizzoli merece ser revisitada, pois sob sua orientação, em 1914, foi elaborada a Carteira Biográfica Escolar para cada criança contendo fotografias, mensurações diversas, observações antropológicas, físico-psicológicas, dados anamnésicos da família e das crianças levantados pelo médico. SaIba maIS Para conhecer um pouco mais sobre Pizzoli , acesse o link: <http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/ revispsi/article/view/7708/5572> O objetivo da Carteira seria ajudar a traçar o método e a didática para o ensino. Pizzoli via a educação como uma árvore cujo tronco era alimentado por inúmeras raízes, representadas pelas ciências alimentadoras da educação do normal e do deficiente. Criticava a educação voltada para o enciclopedismo e a confusão entre doença mental e deficiência. Associações e pedagogos: entidades filantrópicas e escolas1.2.3 No período de 1930 a 1970, fase da industrialização do Brasil, cresce o envolvimento da sociedade civil e política na educação do deficiente por meio de associações de pessoas fundamentadas num conjunto de propostas para o aluno considerado normal. O governo investe na criação de escolas junto ao Ensino Regular, em hospitais e entidades filantrópicas, com educadores empregando a expressão ensino emendativo, cuja finalidade "[...] era suprir falhas decorrentes da anormalidade, buscando adaptar o educando ao nível social dos normais." (JANNUZZI apud SOARES, 1999, p. 70). Na iniciativa privada, foram sendo criados atendimentos diversos, principalmente a partir de 1950. http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/revispsi/article/view/7708/5572http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/revispsi/article/view/7708/5572 18 Uniube No campo da deficiência mental, destacaram-se os trabalhos dos pedagogos Norberto Souza Pinto e Helena Antipoff. Em São Paulo, Norberto Souza Pinto defendia o conceito de deficiência com base nas normas escolares e defesa dos testes de quociente de inteligência e os agrupamentos homogêneos. Enquanto Helena Antipoff, em Minas Gerais, com pensamento dentro de sua adesão à teoria da Escola Nova, defendia a oferta da Educação em classes homogêneas precedidas pelo diagnóstico médico e psicológico dos aspectos físicos, intelectuais, afetivos e sociais. SaIba maIS Acesse o link e conheça um pouco mais sobre Helena Antipoff. <https://cdpha.wordpress.com/helena-antipoff/biografia/> Para ela, a classe especial seria indispensável na formação dos professores em geral, tendo em vista educá-los na "atitude psicológica, indispensável com todas as crianças, se se quer que a educação produza os frutos que dela se esperam" (ANTIPOFF, 1930, p. 20). Uma profissional adiante do seu tempo, futurista! Helena Antipoff fundou e organizou a Sociedade Pestalozzi (1932) com objetivos de "assistir à criança e aos adolescentes excepcionais definidos nos seus estatutos como sendo aqueles classificados acima ou abaixo da https://cdpha.wordpress.com/helena-antipoff/biografia/ Uniube 19 norma de seu grupo, visto serem portadores de características mentais, físicas ou sociais que façam de sua educação um problema especial." (CAMPOS, 1980, p. 48). O atendimento ao deficiente: o amparo legal1.2.4 No início do século XX, é fundado em Minas Gerais o Instituto Pestalozzi (1935), que funcionava como órgão técnico para a realização de investigação nas áreas relacionadas à Educação Especial e ao atendimento às pessoas com deficiência mental, exigindo, do professor, uma profunda formação psicológica de forma que, compreendendo a totalidade da criança, estaria apto a encontrar uma metodologia que viabilizasse a sua melhor adaptação à sociedade. O ano de 1954 marca a fundação da primeira Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais – APAE e, em 1962, já contava com 16 instituições. Nessa época, foi criada a Federação Nacional das APAES (FENAPAES), que, em 1963, realizou seu primeiro congresso (MENDES, 1995). Essas duas instituições foram palco de discussão dos atendimentos às pessoas com deficiência marcados por uma concepção assistencialista que não promovia políticas públicas de universalização do acesso e, de acordo com Carvalho (2004), pouco ou nada tinham de inclusivas. No arcabouço legal, o ano de 1961 marca a promulgação da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a Lei n. 4.024/61, contendo um título e dois artigos destinados à educação de excepcionais e apontando o direito dos “excepcionais” à educação, preferencialmente dentro do sistema geral de ensino. Assim, ao final dos anos de 1960 e início da década de 1970, no estado de Minas Gerais, surgiam diversas instituições com oferta desse ensino emendativo: Instituto de Educação Emendativa da Fazenda do Rosário (1964) na cidade de Ibirité, a Escola Estadual de Ensino Emendativo (1967), em Carangola, a Escola de Educação Emendativa Doutor Lage (1972), em Pará de Minas (MEC/ SG/CENESP/SEEC, 1975a). 20 Uniube Figura 7. Fonte: Acervo Depositphotos/ EAD - Uniube A Lei nº 5.692/71 alterou a LDBEN de 1961 ao definir “tratamento especial” para os alunos com “deficiências físicas, mentais, e os que se encontrem em atraso considerável quanto à idade regular de matrícula e os superdotados” e iniciou a formatação da Educação Especial como uma política de Estado. Em razão da preocupação com o analfabetismo da população, em 1967, o governo militar começou a implementação do Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL) e, de forma paralela, campanhas foram realizadas na área das deficiências chamando a atenção para o problema, levando o governo, em 1973, a criar o Centro Nacional de Educação Especial (CENESP), cujo conceito de deficiente mental, que serviu de base para sua implantação, foi o de Helena Antipoff. O CENESP tinha como responsabilidade a formulação das ações de Educação Especial no Brasil que se encontravam num movimento desenvolvimentista. Assim, sob os princípios de normalização e integração, ele impulsionou campanhas assistenciais e ações isoladas do Estado voltadas às pessoas com deficiência e com superdotação, entretanto reforçou o encaminhamento dos alunos para as classes e escolas especiais. Uniube 21 Na questão pedagógica, os médicos e psicólogos continuaram influenciando a educação de forma geral e, também, a dos deficientes em um contexto de ampliação dos atendimentos desses com a criação das classes anexas a hospitais, crescimento do atendimento em instituições filantrópicas e a criação dos serviços diversos, clínicas e centros de reabilitação. Nesses espaços, os atendimentos continuaram precedidos da aplicação dos testes de inteligência, bem como a organização de turmas homogêneas, consideradas facilitadoras da aprendizagem reforçando a crença, do princípio do século, na psicologia das diferenças individuais, enquanto suporte de metodologias a partir das especificidades. Permaneceu a concepção de políticas especiais para tratar a educação do deficiente e do superdotado com acesso ao Ensino Regular, porém sem um atendimento especializado, organizado e que considerasse as singularidades de aprendizagem desses alunos. Considerações finais1.3 SaIba maIS A partir dos estudos que fizemos neste capítulo, sugerimos a você que, antes de iniciar os estudos do Capítulo 2, faça uma reflexão sobre: “quais foram os aspectos fundamentais para o avanço nas políticas públicas da Educação Especial? Sempre que possível registre suas reflexões para futuras pesquisas. O próximo capítulo é um convite para você conhecer os caminhos trilhados pela Educação do Deficiente e do Superdotado a partir da Constituição Federal de 1988. 22 Uniube Referências1.4 AGUIAR, Maneta. Helena Antipoff: suas obras no Brasil. Revista do Ensino, Rio Grande do Sul, ano 11, jul. 1972. AILVIN, Clóvis de Faria. Introdução ao estudo da deficiência mental. 2. ed. Belo Horizonte: Sociedade Pestalozzi de Minas Gerais, 1967. 229 p. ANTIPOFF, Helena. O ensino nas classes especiais. Revista do Ensino, Belo Horizonte, nº 50,51,52, out/dez. 1930 ANTIPOFF, Helena. Educação do excepcional: manual para professores. 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São Paulo: Contexto, p. 28-43, 1991. 2 Legislação educacional brasileira - gênese e evolução das escolas especiais no Brasil Lindaura Ferreira Vaz Barreto Uniube 27 Introdução2.1 Neste capítulo vamos refletir sobre as ideias disseminadas a partir da promulgação da Constituição Federal (CF), de 1988, com foco no respeito às diferenças individuais, o direito à igualdade de oportunidades, sem discriminações, preconceitos ou privilégios. O cenário de debates da sociedade brasileira sobre o seu futuro fomentou o processo de redemocratização do país que culminou na promulgação da Constituição Federal, de 1988, marco fundamental para compreender a história do “tempo presente” das políticas públicas educacionais no Brasil. Assista à videoaula 3 a seguir para revisitar a caminhada histórica da legislação brasileira para a inclusão. 28 Uniube O arcabouço legal pró-inclusão2.2 A CF de 1988 trouxe em seu bojo traços de uma política educacional inclusiva explicitada nos seus objetivos fundamentais: “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação” (art.3º inciso IV) e definiu, no artigo 205, a educação “como um direito de todos, garantindo o pleno desenvolvimento da pessoa, o exercício da cidadania e a qualificação para o trabalho”. Também determinou como “direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância e a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição." (art.6°, redação dada pela Emenda Constitucional nº 64, de 2010) (BRASIL, 1988). Merece destaque o Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei nº 8.069/90, que no art. 55º reforça os dispositivos constitucionais ao determinar que "os pais ou responsáveis têm a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino” e no art. 5º que “nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais.” (BRASIL, 1990, n. p.). Portanto a política educacional, na perspectiva de consolidação do sistema de proteção social, a partir de 1988, veio ao encontro dos anseios da sociedade de universalização da Educação e, também, da Saúde – mudanças ocorridas pelo mundo, relativas ao deficiente com experiências de matrículas de crianças com deficiências em salas de aulas comuns: na Alemanha e nos Estados Unidos da América, nos anos 1970; na Espanha nos anos 1980 (BAYER et al., 2006). Uniube 29 A proposta de Educação Inclusiva2.3 Assim inicia a disseminação de uma proposta de Educação Inclusiva de forma entrelaçada com os seguintes aspectos: Mudanças ocorridas pelo mundo, relativas ao deficiente com experiências de matrículas de crianças com deficiências em salas de aula comuns: na Alemanha e nos Estados Unidos da América, nos anos 1970; na Espanha nos anos 1980 (BAYER et al., 2006). Movimento da sociedade civil por meio de organização de deficientes, pais e profissionais, principalmente a partir da década de 1950 em associações de defesa de seus direitos (JANNUZZI, 2004). Convenções internacionais da economia com ligações entre o Banco Mundial e conferências das Nações Unidas sobre temas sociais com impacto na educação de muitos países. Esses aspectos apontavam para a disseminação do discurso sobre Educação Inclusiva alicerçadono levantamento da UNESCO, na década de 1980, cujos dados informavam que, em 58 países, a organização da Educação Especial dava-se predominantemente em escolas especiais separadas, que atendiam um número reduzido de alunos. Ainscow (1995) afirma que [...] é necessário introduzir mudanças tanto nas escolas especiais como nas regulares [...] Há muitas indicações de que em um número elevado de países de todo o mundo a integração é um elemento central na organização da educação especial [...]. Esse projeto parece adequado para os países do Terceiro Mundo, dada a magnitude das necessidades e as inevitáveis limitações de recursos disponíveis (AINSCOW, 1995, p. 18). 30 Uniube No Brasil, a partir da Constituição Federal de 1988, a educação, além de ser concebida como um "direito social", é também valorizada como formadora de uma "cultura da modernidade", indo ao encontro das mudanças propostas para escolas especiais e regulares. A visitação dos documentos oficiais sobre a Educação Inclusiva no Brasil mostra o impacto das ideias disseminadas a partir das conferências realizadas, como exemplo: SaIba maIS A Conferência Mundial de Educação para Todos, de 1990, promovida pela UNESCO e pelo Banco Mundial: <http://www.unicef.org/brazil/pt/resources_10230.htm> A Declaração de Salamanca, 1994. <http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/salamanca.pdf> O Fórum Consultivo Internacional para a Educação para Todos, 2000. <http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/Direito-a- Educa%C3%A7%C3%A3o/declaracao-de-dakar.html> Portanto as discussões ocorridas nas conferências muitas vezes passaram a ser usadas para justificar medidas tomadas pelo governo brasileiro, como trechos da Declaração de Viena (1993): [...] Atenção especial deve ser prestada às pessoas portadoras de deficiências, visando a assegurar- lhes um tratamento não discriminatório e equitativo no campo dos direitos humanos e liberdades fundamentais, garantindo sua plena participação em todos os aspectos da sociedade. (ALVES, 2001, p. 368). http://www.unicef.org/brazil/pt/resources_10230.htm http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/salamanca.pdf http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/Direito-a-Educa%C3%A7%C3%A3o/declaracao-de-dakar.html http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/Direito-a-Educa%C3%A7%C3%A3o/declaracao-de-dakar.html Uniube 31 O caminho percorrido nessa direção remete também às propostas contidas na Declaração de Salamanca, cujo objetivo era o estabelecimento de princípios, políticas e práticas na área das necessidades educativas especiais de forma a tornar realidade a proposta “de que todas as crianças, sempre que possível, devem aprender juntas, independentemente de suas dificuldades e diferenças." (DECLARAÇÃO DE SALAMANCA, 1994). É observável, em decorrência das propostas, a alteração, nos documentos nacionais, do termo “necessidades educativas especiais” por “necessidades educacionais especiais” e da mesma forma a expressão “integrada” ou “integradora” foi também substituída por “inclusiva”. As imagens, a seguir, mostram o significado das palavras que historicamente estiveram presentes nas políticas de Educação Especial. Assista à videoaula 4 a seguir para conhecer a trajetória dos avanços conquistados a partir da década de 1980 com vistas a garantir os direitos da pessoa deficiente. Figura 1. Fonte: Acervo Depositphotos/ EAD - Uniube 32 Uniube 2.4 As políticas públicas educacionais inclusivas da década de 1990 As “palavras-chave” que fundamentam uma política, quando alteradas, representam avanço e possibilidade de mudanças no jeito do olhar direcionado aos sujeitos com necessidades especiais e também impulso na efetivação das políticas públicas inclusivas. Nesse cenário, a construção da história da Educação Especial/Inclusiva manteve uma relação íntima entre as políticas educacionais dos diferentes países e o processo de globalização por meio das agências multinacionais que direcionam ações por meio de suas declarações, seus acordos e convênios multilaterais. Assim, no início dos anos 90, as agências multilaterais abriram-se para as demandas da promoção de direitos humanos e, nesse período, o termo inclusão passou a fazer parte do discurso educacional brasileiro em diversos contextos. Uniube 33 Na década de 1990, a concepção de educação fundamentada no paradigma da inclusão passou a orientar as políticas educacionais comprometidas com a promoção do rompimento com a trajetória de exclusão e segregação das pessoas com deficiência. Vamos juntos revisitar as políticas públicas educacionais inclusivas da década de 1990? Década de 902.4.1 1994 Tendências e Desafios da Educação Especial Projeto de capacitação de educadores com foco na importância da inclusão de alunos com deficiências na Escola Regular, na compreensão do conceito de inclusão, nas oportunidades de aprendizagem na sala de aula regular e na necessidade de envolvimento dos pais na vida escolar dos alunos. Política Nacional de Educação Especial Orientação: o processo de integração instrucional, condicionando o acesso às classes comuns do Ensino Regular apenas para os que apresentassem condições de acompanhar e desenvolver as atividades curriculares programadas do ensino comum, no mesmo ritmo que os alunos ditos normais. Análise: a reafirmativa dos padrões homogêneos de participação e aprendizagem não contribuiu para a valorização dos diferentes potenciais de aprendizagem e, assim, não promoveu a desejada reformulação das práticas educacionais. 34 Uniube 1996 A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN • Artigo específico sobre Educação Especial como modalidade da Educação Básica. • Reconhecimento do direito à diferença, ao pluralismo e à tolerância trazendo preceitos importantes para a matrícula de alunos com deficiências nas escolas do país. Um novo milênio2.4.2 A década de 2000 pode ser relembrada como a década de avanços importantes na efetivação das políticas brasileiras de Educação Inclusiva de forma articulada com as agendas internacionais. Podemos identificar a concreticidade de determinações legais presentes na CF de 1988 e na Lei nº 9394/1996 com a aprovação de decretos, resoluções, diretrizes e outros. Vamos conhecê-los? Esses documentos nos aproximam do presente em que iremos atuar, portanto é importante a revisitação. • Decreto nº 3.956 de 2001 - Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Pessoas Portadoras de Deficiência. Afirmativa: pessoas com deficiência têm os mesmos direitos humanos e liberdades fundamentais que as demais pessoas. Repercussão: exigência de uma reinterpretação da Educação Especial, compreendida no contexto da diferenciação para promover a eliminação das barreiras que impedem o acesso à escolarização. (BRASIL, 2001). • Resolução 02/2001 - Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica por meio do Atendimento Educacional Especializado complementar ou suplementar à escolarização. Análise: ao admitir a possibilidade de substituir o Ensino Regular, não se potencializou a adoção de uma política de Educação Inclusiva na rede pública de ensino (BRASIL, s. d.). Uniube 35 • Plano Nacional de Educação (2001-2011) Constituição: objetivos e metas educacionais. Elege: “grande avanço que a década da Educação deveria produzir seria a construção de uma escola inclusiva que garanta atendimento à diversidade humana. ” (BRASIL, 2001). 2002 Resolução CNE/CP Nº 1/2002 - Diretrizes Curriculares Nacionais para Formação de Professores da Educação Básica Determinação para as instituições superiores: contemplar, na sua organização curricular, a formação dos professores voltada para a atenção à diversidade e com conhecimentos sobre as especificidades dos alunos com necessidades educacionais especiais. Lei nº 10.436/02 Reconhecimento: Língua Brasileira de Sinais como meio legal de comunicação e expressão, bem comosua inclusão no currículo dos cursos de formação de professores. SaIba maIS Para mais conhecimento, acesse o endereço a seguir: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10436.htm> 2003 No ano de 2003, documentos federais passaram a anunciar a implantação do que se tem denominado sistemas educacionais inclusivos formados por escolas que comportem toda e qualquer http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10436.htm 36 Uniube criança e nos quais o atendimento educacional especializado seja apenas complementar ou suplementar à escolaridade comum. Tendo o MEC implementado em 2003 o “Programa Educação Inclusiva: direito à diversidade”. O discurso oficial do governo trouxe a Educação como prioridade nacional, promotora da inclusão social (coerência com o discurso da Organização das Nações Unidas), e difundiu princípios de inclusão em seus Planos Plurianuais: • Plano Brasil de Todos: participação e inclusão – 2004-2007. • Plano Desenvolvimento com inclusão social e educação de qualidade – 2008 -2011). 2004 Em 2004, foi publicado, pelo Ministério Público, o documento O Acesso de Alunos com Deficiência às Escolas e Classes Comuns da Rede Regular com o objetivo de disseminar os conceitos e as diretrizes mundiais para a inclusão (BRASIL, s.d.). Destaque para a Agenda Social de Inclusão das Pessoas com Deficiência por meio do Programa Brasil Acessível (2005), implantação dos Núcleos de Atividades de Altas Habilidades/Superdotação – NAAH/S (2005) e regulamentação da Lei nº 10.436/2002 pelo Decreto nº 5626/05, que dispõe sobre a inclusão da Libras como disciplina curricular, a formação e a certificação de professor, instrutor e tradutor/intérprete de Libras, o ensino da Língua Portuguesa como segunda língua para alunos surdos e a organização da educação bilíngue no Ensino Regular (BRASIL, 2005). Lançamento do Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos, que determina a inclusão no currículo da Educação Básica das temáticas relativas às pessoas com deficiência e o desenvolvimento de ações afirmativas que possibilitem o acesso e a permanência na Educação Superior (BRASIL, s.d.). Uniube 37 2006 A articulação das políticas públicas do Brasil com as políticas internacionais pode também ser observada no ano de 2006. A Convenção sobre Direitos das Pessoas com Deficiência aprovada pela Organização das Nações Unidas (ONU), deficiência é um conceito em evolução. O documento afirma ainda: […] é um conceito em evolução e que a deficiência resulta da interação entre as pessoas com deficiências e as barreiras atitudinais e ambientais que impedem sua plena e efetiva participação na sociedade em igualdade de oportunidades com as demais pessoas [...]. (BRASIL, 2012, p. 24). O Brasil, signatário dessa Convenção, assumiu o compromisso de assegurar um sistema educacional inclusivo em todos os níveis, garantindo a todos deficientes acesso ao sistema geral de ensino. E assim passou a estruturar a Educação Especial em três eixos: • constituição de um arcabouço político e legal fundamentado na concepção de Educação Inclusiva; • institucionalização de uma política de financiamento para a oferta de recursos e serviços para a eliminação das barreiras no processo de escolarização; • orientações específicas para o desenvolvimento de práticas inclusivas. (BRASIL, 2010, p. 7-8). Outro exemplo da relação entre as políticas nacionais e internacionais foi a publicação, no ano de 2006, do material de formação docente “Educar na Diversidade”, resultado do Projeto Educar na Diversidade nos Países do Mercosul. Essa formação teve como objetivo preparar os professores para responderem à diversidade de estilos e ritmos de aprendizagem de seus alunos. 38 Uniube 2007 Em 2007 é lançado o Plano de Desenvolvimento da Educação – PDE, cujos eixos foram a implantação de Salas de Recursos, Acessibilidade Arquitetônica dos prédios escolares e Formação Docente para a Educação Especial de forma a assegurar as condições de acesso, participação e aprendizagem de todos os alunos nas escolas regulares, em igualdade de condições. O fortalecimento do ingresso do deficiente na rede regular foi expresso nas diretrizes do Compromisso Todos pela Educação, publicado para implementar o PDE. 2008 O ano de 2008 instaura um novo marco teórico e organizacional com a publicação da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva – MEC/2008, que define: educação Especial como modalidade não substitutiva à escolarização; conceito de atendimento educacional especializado complementar ou suplementar à formação dos estudantes; público- alvo da Educação Especial constituído pelos estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação. (INCLUSÃO JÁ, 2011, p. 1) A evolução das matrículas de alunos com deficiência nas Escolas Regulares/Classes Comuns, no período visitado, mostra que, embora continuem existindo desafios nesse campo, os avanços ocorreram, conforme podemos visualizar no gráfico a seguir. Uniube 39 Figura 2. Fonte: Portal MEC. 2009 O Atendimento Educacional Especializado ganhou diretrizes operacionais na Resolução nº 4/2009, que reforçou o dever dos sistemas de ensino de matricularem os alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação nas classes comuns do Ensino Regular e no Atendimento Educacional Especializado-AEE. Reforçou, também, os preceitos legais que determinam a realização da Educação Especial em todos os níveis, etapas e modalidades de ensino, tendo o AEE como parte integrante do processo educacional. Explicitou onde se realiza o AEE: prioritariamente na sala de recursos multifuncionais da própria escola ou preferencialmente em outra escola do Ensino Regular, no turno inverso da escolarização. http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=12345&Itemid=709 40 Uniube Quanto aos recursos para financiamento da Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva, determinou, no âmbito do FUNDEB (Decreto Nº6571/008), contabilizar duplamente os alunos matriculados em classe comum de Ensino Regular público que tiver matrícula concomitante no AEE. Definiu, também, as atribuições do professor e sua competência para a elaboração e execução do AEE, cuja organização deve estar definida no Projeto Político Pedagógico da escola e/ou instituição. Vídeo EDUCAÇÃO ESPECIAL – MEC Acesse o link a seguir e assista ao vídeo Educação Especial - MEC: <https://www.youtube.com/watch?v=T5E_8ct- JEA&list=PL79E0570546BB2A98&index=3> Esse documentário foi produzido para o MEC, em 2009, para mostrar a inclusão de alunos com necessidades especiais nas escolas regulares da rede pública, do Ensino Fundamental à universidade. Roteiro e Direção: Deborah Andrade, 2009. Alinhavando nossas ideias...2.5 A trajetória revisitada evidencia a luta pela educação para os deficientes, com o enfrentamento dos desafios e a movimentação de diferentes setores tendo em vista a concreticidade da elaboração de políticas públicas inclusivas. Fica evidente o impacto, no Brasil, dos acordos e compromissos internacionais na formulação das políticas, programas e ações, como o movimento inclusão. https://www.youtube.com/watch?v=T5E_8ct-JEA&list=PL79E0570546BB2A98&index=3 https://www.youtube.com/watch?v=T5E_8ct-JEA&list=PL79E0570546BB2A98&index=3 Uniube 41 De acordo com os autores do documento “A Educação Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar – A escola Comum Inclusiva”, a Inclusão rompe com os paradigmas, questiona a fixação de modelos ideais, a normalização de perfis específicos de alunos e a seleção dos eleitos para frequentar as escolas (BRASIL, 2010). Os marcos político-legais e pedagógicos promulgados após a Constituição de 1988 até o documento Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva visaram orientar e subsidiar as Secretarias de Educação,os Conselhos de Educação, a gestão escolar, as organizações da sociedade civil, os supervisores e professores na promoção da inclusão educacional. A Educação Inclusiva garante o direito constitucional à educação para todos, concebe a escola como um espaço de todos, tais quais eles são: únicos, singulares, mutantes. Para atender todos e atender melhor, a escola necessita de muitas frentes. Vamos conhecer, no próximo capítulo, o esforço coletivo de outras frentes que também mobilizaram esforços para vencer os desafios de ofertar a todos os alunos um ensino que se distingue pela sua qualidade. Bons estudos! Referências2.6 AGUIAR, Maneta. Helena Antipoff: suas obras no Brasil. Revista do Ensino, Rio Grande do Sul, Secretaria de Educação e Cultura, ano Xl, jul, 1972. AILVIN, Clóvis de Faria. Introdução ao estudo da deficiência mental. 2. ed. Belo Horizonte: Sociedade Pestalozzi de Minas Gerais, 1967. 229 p. ALVES, J. A. L. Relações internacionais e temas sociais: a década das con- ferências. Brasília: IBRI, 2001. 42 Uniube ANTIPOFF, Ottilia. Educação do excepcional: manual para professores. Rio de Janeiro, Sociedade Pestalozzi, vol. 1. 2. 205p.1974. AINSCOW, M. Necesidades especiales en el aula. Guía para la formación del profesorado. Paris: UNESCO; Madrid: NARCEA, 1995. BARROSA, M. F. R. R. M. A educação de pessoas cegas em Cabo Verde: um processo marcado pela inserção profissional. 2003. Dissertação (Mestrado em Educação) - UFSC, Florianópolis, 2003. BAYER, H et al. Da integração escolar à educação inclusiva: implicações pedagógicas. In: BAPTISTA, C. R. (Org.). Inclusão e escolarização: múltiplas perspectivas. Porto Alegre: Mediação: 2006. BRASIL. 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Convenção interamericana para a eliminação de todas as formas de discriminação contra as pessoas portadoras de deficiência. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2001/d3956.htm>. Acesso em: 22 dez. 2017. ______. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva – MEC/2008. Disponível em: <https://inclusaoja.com. br/2011/06/03/3-mecanismos-para-a-garantia-do-direito-das-pessoas-com-defi- ciencia-a-educacao-inclusiva/>. Acesso em: 22 dez. 2017. _____. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Edu- cação Inclusiva. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=- com_docman&view=download&alias=16690-politica-nacional-de-educacao-es- pecial-na-perspectiva-da-educacao-inclusiva-05122014&Itemid=30192. Acesso em: 22 dez. 2017. http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=16690-politica-nacional-de-educacao-especial-na-perspectiva-da-educacao-inclusiva-05122014&Itemid=30192 http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=16690-politica-nacional-de-educacao-especial-na-perspectiva-da-educacao-inclusiva-05122014&Itemid=30192 http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=16690-politica-nacional-de-educacao-especial-na-perspectiva-da-educacao-inclusiva-05122014&Itemid=30192 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2001/d3956.htm https://inclusaoja.com.br/2011/06/03/3-mecanismos-para-a-garantia-do-direito-das-pessoas-com-deficiencia-a-educacao-inclusiva/ https://inclusaoja.com.br/2011/06/03/3-mecanismos-para-a-garantia-do-direito-das-pessoas-com-deficiencia-a-educacao-inclusiva/ https://inclusaoja.com.br/2011/06/03/3-mecanismos-para-a-garantia-do-direito-das-pessoas-com-deficiencia-a-educacao-inclusiva/ http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=16690-politica-nacional-de-educacao-especial-na-perspectiva-da-educacao-inclusiva-05122014&Itemid=30192 http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=16690-politica-nacional-de-educacao-especial-na-perspectiva-da-educacao-inclusiva-05122014&Itemid=30192 http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=16690-politica-nacional-de-educacao-especial-na-perspectiva-da-educacao-inclusiva-05122014&Itemid=30192 Uniube 43 _____Convenção sobre Direitos das Pessoas com Deficiência aprovada pela Organização das Nações Unidas – ONU, 2012. Disponível em: <http:// www.pessoacomdeficiencia.gov.br/app/sites/default/files/publicacoes/conven- caopessoascomdeficiencia.pdf>. Acesso em: 22 dez. 2017. ______DECRETO Nº 5.626, DE 22 DE DEZEMBRO DE 2005. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/decreto/d5626.htm>. Acesso em: 22 dez. 2017. _____Plano Nacional de Educação LEI No 10.172, DE 9 DE JANEIRO DE 2001. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/ l10172.htm>. Acesso em: 22 dez. 2017. BUENO, J. G. S.; FERREIRA J. R. (Coord.). Políticas regionais de educação especial no Brasil. REUNIÃO ANUAL DA ANPED, 26, 2003, Poços de Caldas. Anais... Poços de Caldas: ANPED, 2003. CARVALHO, M. M. C. de. Quando a história de educação é a história da dis- ciplina e da higienização das pessoas. In: FREITAS. M. C. de (Org.). História social da infância no Brasil. São Paulo, Cortez/EDUSP .1997. DECLARACION DE SALAMANCA. Marco de acción para las necesidades educativas especiales. Aprobada por la conferencia mundial sobre necesi- dades educativas especiales: acceso y calidad. Salamanca, España, 7- 10 de junio de 1994. EDLER, Rosita. Estudo da estrutura e funcionamento da educação espe- cial nos sistemas estaduais de educação do Brasil. Rio de Janeiro: Funda- ção Getúlio Vargas, 1977. FONSECA, E. S. Classe hospitalar - atendimento pedagógico-educacional para crianças e jovens hospitalizados: realidade nacional. Revista Integração, ano 9, n. 21, 1999. JANNUZZI, G. M. Algumas concepções de educação do deficiente. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Campinas, v. 25, n. 3, p. 9-25, maio, 2004. RODRIGUES, Neidson. Por uma nova escola: o transitório e o permanente na educação. 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Fonte: Acervo Depositphotos/ EAD - Uniube Introdução3.1 Os estudos que fizemos nos capítulos anteriores nos permitiram uma viagem histórica no curso das políticas públicas para Educação Especial desenvolvidas no Brasil - das primeiras iniciativas, passaram pela mobilização social de luta pelo direito do deficiente e culminaram no preceito constitucional de inclusão da Educação como direito social para todos os brasileiros e brasileiras (BRASIL, 1988). Figura 2. Fonte: Acervo Depositphotos/ EAD - Uniube 48 Uniube O cenário visitado nos direciona para a agenda do direitoà educação, materializada em políticas públicas desenhadas para responder aos desafios postos pela contemporaneidade de garantir a todos o direito humano, universal e social, inalienável à Educação. Os desdobramentos dessas políticas com foco no direito à educação das pessoas com deficiência passam a ser de forma mais detalhada o objeto de nosso estudo neste terceiro capítulo. Convidamos você para visitar o percurso de atuação do Ministério da Educação, fundamentado nos marcos legais políticos e pedagógicos da Educação Especial na perspectiva de assegurar-lhes o direito à educação regular no nosso país. SaIba maIS Acesse o endereço a seguir e navegue para conhecer mais a respeito da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (Secadi): <http://portal.mec.gov.br/secretaria-de-educacao-continuada- alfabetizacao-diversidade-e-inclusao/apresentacao> Reconhecer para avançar3.2 No campo legal, são notórios os avanços das Políticas Nacionais de Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva, no Brasil, desde as décadas de 1990, 2000 e 2010. Existe um arcabouço legal farto de orientações para os sistemas de ensino responderem às demandas da sociedade e, também, subsidiar, no âmbito das escolas, as discussões e ações das políticas públicas voltadas à inclusão escolar das pessoas com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento, altas habilidades/ superdotação. http://portal.mec.gov.br/secretaria-de-educacao-continuada-alfabetizacao-diversidade-e-inclusao/apresentacao http://portal.mec.gov.br/secretaria-de-educacao-continuada-alfabetizacao-diversidade-e-inclusao/apresentacao Uniube 49 Desde 1988, foram incluídos, na agenda brasileira, os preceitos constitucionais de garantia do acesso à educação para todos os brasileiros, conforme discutimos no Capítulo 2, fundamentados na superação do paradigma de uma escola não acessível a todos, já discutido na Conferência Mundial de Necessidades Educativas Especiais: acesso e qualidade, realizada pela UNESCO em 1994, delegando a todas as escolas comuns a responsabilidade da busca de meios para combater a discriminação por meio da acolhida de todos. Figura 3. Fonte: Acervo Depositphotos/ EAD - Uniube peSquISando na web Vale a pena conhecer o artigo “Desafio na Educação Inclusiva”, da Prof.a Daniela Alonso, especialista em Educação Inclusiva. Acesse o link a seguir para ler o artigo. <https://novaescola.org.br/conteudo/554/os-desafios-da- educacao-inclusiva-foco-nas-redes-de-apoio> https://novaescola.org.br/conteudo/554/os-desafios-da-educacao-inclusiva-foco-nas-redes-de-apoio https://novaescola.org.br/conteudo/554/os-desafios-da-educacao-inclusiva-foco-nas-redes-de-apoio 50 Uniube Inclusão: um novo paradigma3.3 Figura 4. Fonte: Acervo Depositphotos/ EAD - Uniube No paradigma da inclusão resultante do crescente movimento mundial para construção de políticas de acessibilidade e qualidade educacional para todos, a escola passa a ser concebida como espaço que reconhece e valoriza as diferenças. O Brasil, a passos largos no sentido legal e a passos lentos na implementação de práticas pedagógicas, vai avançando na superação dos desafios de promover a inclusão de todos os alunos no sistema educacional. Na contramão do paradigma mundial da inclusão, publica a Política Nacional de Educação Especial alicerçado no paradigma integracionista com foco no modelo clínico de deficiência resultante da valorização das características físicas, intelectuais e sensoriais incapacitantes para promover a inclusão educacional. https://sga.uniube.br/aulas/ftp/ebook/politicas_da_educacao_especial/o_paradigma_da_integracao.pdf Uniube 51 Nesse documento, apesar dos avanços dos atendimentos educacionais para os deficientes nas modalidades domiciliar, hospitalar, sala de recurso, ensino itinerante, oficinas pedagógicas e estimulação essencial, foram mantidas as classes especiais em substituição às regulares. O acesso dos portadores de necessidades especiais às classes do ensino regular ficou condicionado à capacidade de acompanhar e desenvolver as atividades curriculares programadas do ensino comum, no mesmo ritmo que os alunos ditos normais (BRASIL,1994). Essas práticas representaram uma forma de compreensão das diretrizes no viés do caráter substitutivo da Educação Especial, apesar do avanço em relação à oferta de atendimento às especificidades do aluno da escola comum. Esse entendimento parece ter sido considerado pelo legislador da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996) quanto à organização da Educação Especial e da escola comum. A Lei determinou a matrícula preferencial do aluno com deficiência na escola comum, entretanto deixou aberta a possibilidade de matrÍcula na escola especial em classe de atendimento educacional especializado substitutivo à escolarização. Assista à videoaula 5 a seguir para saber mais sobre os desdobramentos das políticas públicas da educação especial/inclusiva. 52 Uniube Destacamos, no ano de 2006, os compromissos firmados na Convenção sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência, ratificados no artigo 9º do Decreto 6949/2009: [...]a fim de possibilitar às pessoas com deficiência viver com autonomia e participar plenamente de todos os aspectos da vida, os Estados Partes deverão tomar as medidas apropriadas para assegurar-lhes o acesso, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas, ao meio físico, ao transporte, à informação e comunicação. (BRASIL, 2009a, n. p.). Também o ano de 2008 é marcado pela publicação do documento Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva. Esse documento, constituído de orientações para organização de ações pelos Estados e Municípios, teve como horizonte a transformação das redes de ensino em redes inclusivas. As ações desenhadas nessa Política também resultaram do esforço social para o enfrentamento do desafio de superação da história de exclusão vivida por muitos brasileiros. Figura 5. Fonte: Acervo Depositphotos/ EAD - Uniube Uniube 53 SaIba maIS Você conhece alguma história de exclusão educacional vivida por alguém com deficiência? Se você conhece, compreende a relevância das ações propostas nessa Política. Se não conhece, acesse o link a seguir para conhecer a “Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência”. <http://www.mpgo.mp.br/portalweb/hp/41/docs/comentarios_a_ convencao_sobre_os_direitos_das_pessoas_com_deficiencia.pdf> As dimensões históricas já visitadas neste módulo evidenciam a Educação Especial inserida em um processo de reflexão e prática na perspectiva de mudanças nos sistemas, rumo à Educação Inclusiva para todos. Esse movimento, fundamentado nos tratados internacionais, elegeu o conceito de deficiência acordado na Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. Pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. (BRASIL, 2009a, n. p.). Entretanto o século XXI iniciou-se com questionamentos a respeito da estrutura segregativa reproduzida nos sistemas de ensino, que mantêm um alto índice de pessoas com deficiência em idade escolar fora da escola e matrícula de estudantes público-alvo da educação especial, majoritariamente, em escolas e classes especiais (BRASIL, 2010b). http://www.mpgo.mp.br/portalweb/hp/41/docs/comentarios_a_convencao_sobre_os_direitos_das_pessoas_com_deficiencia.pdf http://www.mpgo.mp.br/portalweb/hp/41/docs/comentarios_a_convencao_sobre_os_direitos_das_pessoas_com_deficiencia.pdf 54 Uniube Nos sistemas de ensino em processo de transformação na direção da inclusão, os entraves mais evidentes foram os defensores do paradigma integracionista presentes principalmente no universo da prática com atitudes de defesa
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