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CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 1 Filosofia Geral: Problemas Metafísicos Metafísica na Modernidade Aula 4 Prof. Rui Valese CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 2 Conversa inicial Olá! Seja bem-vindo a mais uma aula da disciplina Filosofia Geral: Problemas Metafísicos! Nosso objetivo hoje é estudar sobre a Metafísica na Era Moderna, tendo como foco os pensamentos de Descartes e Kant. Vamos começar? Para saber mais sobre o tema da aula de hoje, assista ao vídeo de introdução que o professor Rui preparou para você! Acesse o material on- line! Contextualização Durante os séculos XV e XVI, não somente a Europa, mas praticamente todo o mundo conhecido passou por um processo de mudanças de proporções incalculáveis: ■ O feudalismo entrava em crise diante do renascimento comercial e urbano; ■ As grandes navegações iniciadas por portugueses e espanhóis promovera um encontro de culturas complemente diferentes, confirmando e provocando a revisão de muito conhecimento que se tinha até então como dogma; ■ O renascimento cultural resgata antigos valores greco-romanos, ao mesmo tempo em que recoloca o ser humano no centro (antropocentrismo); ■ As verdades, que até então eram tomadas como dogmas e reveladas, passam a ser questionadas e substituídas; ■ As críticas à Igreja Católica, tanto em seu poder espiritual, como temporal, provocam cismas em seu interior, fazendo surgir novas religiões e até mesmo revisões de ordem interna, dentre muitos outros acontecimentos. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 3 Os âmbitos político e econômico, com o surgimento de uma nova classe social, a burguesia, também iniciarão um processo de profundas transformações, principalmente com as lutas pelo fim das monarquias, culminando com a assunção da burguesia ao poder, primeiro economicamente, depois politicamente, consolidando o modo capitalista como sistema político e econômico predominante na Europa e, posteriormente, em outras partes do mundo. Figura 1 – A Idade Média Fonte: Vírus da Arte. Disponível em <http://virusdaarte.net/wp- content/uploads/2014/08/pic123.png> Acesso em 23/05/2016. Essas mudanças, que levaram pelo menos quatro séculos para se consolidarem, serão também acompanhadas por profundas mudanças no pensamento filosófico e científico. Desse movimento, destacaremos dois dos principais nomes da Filosofia, que promoveram uma profunda mudança no pensamento metafísico, com alcance em outras áreas do pensamento: Descartes e Kant. Iniciaremos contextualizando intelectualmente esse período. Em seguida, passaremos a refletir sobre alguns aspectos do pensamento cartesiano, principalmente sua proposta de dúvida metódica e, em seguida, algumas das suas reflexões acerca de Deus. Finalizaremos estudando alguns tópicos do pensamento kantiano, principalmente sua proposta de uma dupla metafísica: a da natureza e a dos costumes. http://virusdaarte.net/wp-content/uploads/2014/08/pic123.png http://virusdaarte.net/wp-content/uploads/2014/08/pic123.png CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 4 Para saber mais, assista ao vídeo a seguir que fala sobre o final da Idade Média: https://www.youtube.com/watch?v=rwyuuZv_wIM. Acesse o material on-line e assista ao vídeo que está disponível para você! Problematização Desde que somos gerados, começamos o nosso processo formativo intelectual. Primeiramente pelo pai e a mãe, bem como os demais parentes, se os temos, passando pelas primeiras relações interpessoais fora do ambiente familiar, por alguma comunidade religiosa (se por acaso frequentarmos uma), pelos meios de comunicação em geral e pela escola. Ora, uma questão que deve nos preocupar, assim como preocupou Descartes é: como distinguir, dentre todas as informações que recebemos por meio desses processos, quais são falsas e quais são verdadeiras? Contexto intelectual O nascimento da Modernidade (século XVII-XVIII) é marcado por uma ruptura epistemológica drástica no desenvolvimento do pensamento filosófico e científico. A concepção de Ser, de ser humano e de mundo, até então desenhada pelo pensamento antigo e medieval, entrará em crise e uma nova visão metafísica passará a ser gestada. Nessa unidade, veremos, de forma geral, o nascimento dessa nova mentalidade, bem como outras discussões filosóficas pertinentes desse período. Uma primeira crítica que os modernos fazem ao pensamento anterior é o da impossibilidade de se chegar à essência das coisas. Mesmo que por hipótese admitíssemos sua existência, ainda assim, dizem os modernos, seria impossível conhecê-la. Seria necessário pensarmos um outro tipo de conhecimento que não fosse o racional. Resta-nos, portanto, conhecer as coisas enquanto fenômenos. E, como tal, quem faz essa investigação é a ciência e não a metafísica, cuja qual https://www.youtube.com/watch?v=rwyuuZv_wIM CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 5 deveria ser abandonada. Rompendo com a tutela da fé sobre a razão, para os modernos, a razão natural somente poderia ter garantias de seu conhecimento em duas situações: quando conhecemos, por intuição intelectual, nosso próprio pensamento, isto é, quando tomamos ciência de que a nossa atividade da consciência é uma atividade intelectual; quando nossa consciência, a partir das impressões captadas pelos sentidos, conhece o que é o mundo fenomenal. Fonte: A Bíblia e a Pós-modernidade. Disponível em: <http://bibliaposmodernidade.blogspot.com.br/> Acesso em 23/05/2016. Para os modernos, o Iluminismo representa o ápice desse pensamento, a capacidade racional humana libertaria os indivíduos das crenças e superstições, enfim, da tutela da religião. Porém, esse uso da razão deveria vir acompanhado de um método, que passa a ser uma das preocupações centrais dos modernos. Outra característica do pensamento nascente é seu subjetivismo, isto é, o fato de dar ênfase ao sujeito que conhece, na relação que estabelece com o objeto que é conhecido. Quem conhece é o próprio sujeito e seu primeiro objeto de conhecimento é o próprio ato de conhecer. Assim, se para os metafísicos, a questão central era o ser, para os modernos, a questão central é o conhecer. Assim, para os modernos, a questão não é saber se as coisas são, mas, sim, se podemos conhecê-las. O que conhecemos primeiro são nossas ideias, que são inatas, isto é, que pertencem a nós, mesmo antes do nosso nascimento, nos são inerentes, constitutivas do nosso eu. Esse movimento leva o pensamento moderno, por vezes, a se reaproximar de uma metafísica idealista, mesmo que http://bibliaposmodernidade.blogspot.com.br/ CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 6 não abandone as investigações epistemológicas. Assim, para essa corrente de pensamento intitulada idealista, para conhecermos o real, basta adentrarmos a nossa consciência, já que os órgãos dos sentidos são os principais causadores de erros, conforme já havia manifestado Platão. Fonte imagem: Con efe de filosofía. Disponível em: <http://conefedefilosofia.blogspot.com.br/2014/09/idealismo-y-realismo-el-idealismo.html> Acesso em 23/05/2016. Já para os empiristas, corrente filosófica que rivalizava com os idealistas, nossas ideias não são inatas, mas, sim, adquiridas a partir das nossas experiências sensíveis, isto é, por meio do que os nossos órgãos dos sentidos captam e informam ao nosso intelecto. Herdeiros em boa parte do pensamento aristotélico, os empiristas consideram a mente humana como uma folha de papel em branco, uma tabula rasa, na qual as experiências iriam aos poucos registrando as ideias. A partir dessa perspectiva, a consequência para as reflexões epistemológicas são as seguintes: só podemos conhecer aquilo que as experiências sensíveisregistram em nossa mente. E o que podemos conhecer são os fenômenos. Ora, o que é um fenômeno? É aquilo que o sujeito capta, percebe das coisas. As ideias inatas são uma ilusão e, como não passaram pela experiência dos sentidos, não podem ser jamais conhecidas. Porém, idealistas e empiristas partilham de uma ideia, que os diferenciam dos metafísicos: não temos como garantir que conhecemos de fato a realidade em si. O que podemos conhecer são ideias dessa mesma realidade, representações que temos em nossas mentes, seja de maneira inata, seja de http://conefedefilosofia.blogspot.com.br/ http://conefedefilosofia.blogspot.com.br/2014/09/idealismo-y-realismo-el-idealismo.html CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 7 maneira empírica. Tanto de uma forma, quanto de outra, há um privilegiamento do sujeito no processo do conhecimento. E como esse sujeito percebe o real? Para isso, há a necessidade da construção de instrumentos que, de certa maneira, prolonguem a capacidade dos nossos órgãos dos sentidos, como também a construção de esquemas matemáticos, lógicos para representar essa mesma realidade. Tais instrumentos e ferramentas, no entanto, não têm por objetivo conhecer o real tal qual ele é, mas a imagem que a consciência elaborou do mundo. Os principais nomes do idealismo moderno são: Descartes, Leibniz, Espinosa, Malebranche, Wolff, entre outros. Já os empiristas são: John Locke, Berkeley e Hume. Durante o século XVIII, o filósofo Immanuel Kant tentará conciliar os dois caminhos. Segundo ele, na realidade não existem dois caminhos, mas dois momentos do conhecimento: um empírico e outro teórico. Assim, como queriam os empiristas, num primeiro momento, o que podemos conhecer é captado pelos nossos órgãos dos sentidos que, num segundo momento, como queriam os idealistas, são organizados pelo nosso intelecto, pela nossa consciência. Ou seja, para Kant, não há conhecimento sem as experiências sensíveis. Mas, o mesmo não se limita a elas. Da mesma forma, o conhecimento não é uma pura operação do espírito, mas uma operação de estruturação lógica desses mesmos dados empíricos. Para saber mais sobre racionalismo e empirismo, faça a leitura a seguir: http://www.consciencia.org/empirismo-e-racionalismo Para tirar as dúvidas que possam ter surgido, acesse o material on-line e assista ao vídeo que o professor Rui preparou. A busca cartesiana da verdade pela dúvida metódica René Descartes é uma espécie de divisor de águas no pensamento filosófico europeu. De família burguesa em ascensão, com título de nobreza (seu pai era advogado e juiz; possuía terras e o título de escudeiro; também era http://www.consciencia.org/empirismo-e-racionalismo CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 8 conselheiro parlamentar na Bretanha), estudou no Colégio Jesuíta de La Flèche, onde recebeu formação clássica, sobre a qual refletiu em grande parte de sua vida, como também tirou grande parte de seu pensamento dessas reflexões. Em meio às transformações políticas e econômicas que ocorriam na Europa, bem como a revolução cultural e científica que acontecia no mesmo período e espaço, Descartes se propõe um projeto simples, mas ao mesmo tempo ambicioso: reconstruir o saber. Na primeira parte de sua obra Discurso do Método, assim se expressa a respeito de tal empreitada: Fui alimentado com as letras desde minha infância, e, por me terem persuadido de que por meio delas podia-se adquirir um conhecimento claro e seguro de tudo o que é útil à vida, tinha um imenso desejo de aprendê-las. Mas assim que terminei todo esse ciclo de estudos, no termo do qual se costuma ser acolhido nas fileiras dos doutos, mudei inteiramente de opinião. Pois encontrava-me enredado em tantas dúvidas e erros, que me parecia não ter tirado outro proveito, ao procurar instruir-me, se não o de ter descoberto cada vez mais minha ignorância. Nesse fragmento, pelo menos duas ideias centrais chamam a atenção, pois marcarão seu pensamento de forma definitiva. A primeira delas é a dúvida, que Descartes tomará como ponto de partida de suas reflexões. A segunda dela, é a prudência com que coloca tais reflexões, manifesta em expressões como “encontrava-me”, “me parecia”, “instruir-me” e “minha ignorância”. Dessa forma, Descartes queria deixar bem claro que eram preocupações pessoais e que as mesmas não deveriam gerar polêmicas públicas a respeito de suas reflexões. O cuidado não é sem razão. Durante a Idade Média, o Tribunal do Santo Ofício, também conhecido pelo nome de Inquisição, havia perseguido, inquirido e condenado muitos daqueles que contestavam as verdades e dogmas defendidos pela Igreja Católica. Ainda na época de Descartes, o mesmo ainda era atuante. Vários foram os cientistas e pensadores perseguidos, além, é claro, de pessoas simples acusadas de heresia. Dentre os perseguidos, destacamos alguns: Giordano Bruno, William Tyndale, Copérnico, Kepler e o próprio CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 9 Descartes1. Talvez o caso mais famoso seja o de Galileu, que, levado a julgamento, “retratou-se” para salvar sua vida. Nessa unidade, nosso principal objetivo é compreender essas duas questões no pensamento de Descartes e, de que maneira as mesmas determinam as concepções metafísicas do mesmo. Essa atitude de Descartes, de reconstrução do saber, implica numa recusa de todo o saber produzido até então, inclusive o pensamento metafísico que bem marcou toda a Idade Média. Seu objetivo: chegar a um método que possibilite chegar à verdade absoluta de forma segura e indubitável. Seu caminho de reflexão, para ser coerente com o método que pensara, é ir de ideias simples, para as mais complexas. Assim ele inicia seu Discurso do Método: O bom senso é a coisa mais bem repartida entre os homens, pois cada qual pensa estar tão bem provido dele, que mesmo os que são mais difíceis de contentar em qualquer outra coisa não costumam desejar tê-lo mais do que o têm. E não é verossímil que todos se enganem a tal respeito; mas isso antes testemunha que o poder de bem julgar e distinguir o verdadeiro do falso, que é propriamente o que se denomina o bom senso ou razão, é naturalmente igual em todos os homens. E, desse modo, a diversidade das opiniões não provém de sermos uns mais racionais do que outros, mas de conduzirmos nossos pensamentos por vias diversas e não considerarmos as mesmas coisas. Pois não é suficiente ter o espírito bom, o principal é aplicá-lo bem. 1 Da mesma forma que muitos nazistas e neonazistas negam a perseguição e morte de milhões de judeus durante os regimes ditatoriais de Hitler e Mussolini, além de negros, ciganos, homossexuais, comunistas, anarquistas e Testemunhas de Jeová, entre outros, também existem aqueles que negam tais perseguições e execuções ou tentam minimizá-las, argumentando que a inquisição católica não foi a única. Porém, destacamos isso aqui, uma vez que estamos falando de hegemonia intelectual que, nesse período, era cristão. E, em nome dessa hegemonia, muitos crimes foram cometidos, tendo sido reconhecidos publicamente pela própria Igreja. Ver: http://noticias.terra.com.br/educacao/voce-sabia/voce-sabia-a-igreja-reconheceu-que- errou-ao-condenar-galileu,400811f48735b310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html. http://noticias.terra.com.br/educacao/voce-sabia/voce-sabia-a-igreja-reconheceu-que-errou-ao-condenar-galileu,400811f48735b310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html http://noticias.terra.com.br/educacao/voce-sabia/voce-sabia-a-igreja-reconheceu-que-errou-ao-condenar-galileu,400811f48735b310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 10 Fonte: Ócio Elucidativo. Disponível em: <http://ocioelucidativo.blogspot.com.br/2010/10/cade-o- bom-senso-bom-senso-morreu.html> Acesso em 23/05/2016. Desse fragmento, para o nossoobjetivo, vamos destacar duas ideias expressas por Descartes: a primeira delas é sobre o fato de todos possuírem bom senso em igualdade. Isso possibilita, segundo ele, que todas as pessoas saibam distinguir o verdadeiro do falso. Porém, adverte, isso não é suficiente. O fato de possuirmos bom senso não nos garante que chegaremos à verdade. Para tanto, é necessário que o mesmo seja bem conduzido. E aí temos a segunda ideia: o bom senso precisa ser conduzido por regras que nos permitam chegar a verdades indubitáveis. Mais uma vez, a partir desse raciocínio, Descartes faz a crítica à tradição pois, segundo ele, mesmo a razão tendo sido conduzida pelos espíritos mais desenvolvidos em cada época, os resultados não foram satisfatórios, quando não, não passaram de um mero acúmulo de opiniões. Isso porque, como não foram obtidas pela orientação de um método concebido a priori, mesmo aparentando serem verdadeiras, não podem ser comprovadas como tais. Ora, então qual é o caminho a seguir? A partir dessas reflexões, Descartes começa a tratar de um método que nos dê garantias de chegarmos a “verdades claras e distintas”. Isso porque, afirmava ele, as ciências até então não tinham produzido mais do que acúmulo de opiniões. Na segunda parte do Discurso do Método, afirma o seguinte: http://ocioelucidativo.blogspot.com.br/2010/10/cade-o-bom-senso-bom-senso-morreu.html http://ocioelucidativo.blogspot.com.br/2010/10/cade-o-bom-senso-bom-senso-morreu.html CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 11 Entre eles, um dos primeiros foi que me lembrei de considerar que, amiúde, não há tanta perfeição nas obras compostas de várias peças, e feitas pela mão de diversos mestres, como naquelas em que um só trabalhou. Assim, vê-se que os edifícios empreendidos e concluídos por um só arquiteto costumam ser mais belos e melhor ordenados do que aqueles que muitos procuraram reformar, fazendo uso de velhas paredes construídas para outros fins. Ou seja, quando em uma obra atuam vários mestres, ou quando na construção de um edifício atuam diversos arquitetos, ou ainda, quando uma cidade, ao invés de ser construída seguindo um planejamento, segue de acordo com a vontade de cada um que atua nelas, o resultado não é tão belo quanto, se nessas mesmas obras, atuar um único indivíduo. Descartes faz a mesma reflexão com relação ao método para se chegar à verdade. A essa não se chega pelo acúmulo de opiniões obtidas ao longo da história, muito menos com a relatividade das condições de sua produção. Fonte imagem: Angola Bela. Disponível em: <http://www.angolabelazebelo.com/2011/10/crescimento-desordenado-da-cidade-de-cabinda/> Acesso em 23/05/2016. Então, qual é o primeiro passo do método? A dúvida. Porém, o exercício da mesma deve ser antecipado pela existência de um método. O espírito racional, de posse de um método, será capaz de rejeitar as opiniões e chegar a verdades indubitáveis sobre as coisas. Assim, Descartes afirma que devemos colocar todas as coisas sob a suspeição da dúvida. Tanto a tradição não é boa conselheira nem garantia da verdade das coisas, como também os sentidos não são fontes confiáveis de conhecimento. Faz-se necessário, então, o exercício da dúvida metódica. Porém, a dúvida é apenas o primeiro passo, o primeiro http://www.angolabelazebelo.com/2011/10/crescimento-desordenado-da-cidade-de-cabinda/ CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 12 momento da busca da verdade. A partir desses princípios, Descartes elaborará, então, o seu método, dividido em quatro passos ou regras: 1. Clareza e distinção: só admitir como verdadeiro, algo sobre o qual não restar nenhuma dúvida; 2. Análise: dividir um problema em tantas partes quanto forem necessárias para melhor compreendê-lo; 3. Ordem: ordenar o pensamento, partindo das ideias mais simples e conduzindo o espírito até as mais complexas; 4. Enumeração: revisar todos os passos e procedimentos para ter certeza de não ter esquecido ou deixado escapar nada. Essas quatro regras ou passos, no entanto, podem ser resumidas em duas palavras: dúvida e precaução. Quando Descartes faz a crítica ao fato de que a posse do bom senso não é garantia de se chegar à verdade das coisas, é porque o fato de acharmos que temos bom senso nos impede de mantermos nosso espírito alerta quanto a possíveis enganos e engodos. Todas as nossas certezas devem ser submetidas ao crivo da dúvida. Se as mesmas resistirem, é porque podemos aceitá-las como verdades claras e distintas. Caso contrário, devem ser rejeitadas. Fundado um método que seja capaz de nos dar garantias sobre os conhecimentos por meio dele adquiridos, é hora de tratar da realidade das coisas e das ideias, isto é, das questões metafísicas. Essa parte das investigações cartesianas foi tratada na obra Meditações Metafísicas. Nessa obra, Descartes ocupa-se da existência das coisas em geral. Porém, o método proposto por Descartes não se propõe apenas a inventariar as próprias coisas, mas conhecer o que são as coisas. O problema crucial, para ele, é a passagem da essência à existência. Isto é, como comprovar a correspondência entre as representações feitas das coisas e as coisas mesmas? Outra questão é a seguinte: como comprovar que as exigências da razão correspondem à realidade existente? Em outros termos: é preciso provar que o que é objetivo de acordo com as regras da razão, também o é do ponto de vista universal. Mesmo que as verdades sejam CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 13 o resultado do trabalho de um sujeito, e nesse sentido elas são subjetivas, o fato de utilizar-se de um método adequado faz com que tais verdades adquiram valor para além da subjetividade, isto é, adquiram status de universalidade. O valor da ideia concebida a partir do método não tem valor apenas subjetivo – no sujeito e para o sujeito – mas objetivo e, portanto, universal. A dúvida, que já estava presente na elaboração do método também fará parte das meditações metafísicas cartesianas. A dúvida será praticada de forma radical: não deve haver exceção para o exercício da dúvida. Porém, não se trata da dúvida do cético, mas da dúvida enquanto provisoriedade. O exercício da dúvida se processa em duas etapas: a primeira parte é a recusa de continuar aceitando todas as certezas anteriormente adquiridas, seja pela tradição, seja pelos sentidos. Já a segunda parte, a dúvida metafísica, diz respeito às representações que fazemos das coisas e admitimos como ideias claras e distintas. Nesse ponto, Descartes levanta a hipótese da existência de um Gênio Maligno ou de um Deus Enganador que me leva a acreditar na verdade de representações das coisas como ideias claras e distintas, quando as mesmas não o são. Assim ele se expressa: Suporei, pois, que há não um verdadeiro Deus, que é a soberana fonte da verdade, mas certo gênio maligno, não menos ardiloso e enganador do que poderoso, que empregou toda a sua indústria em enganar-me. Pensarei que o céu, o ar, a terra, as cores, as figuras, os sons e todas as coisas exteriores que vemos são apenas ilusões e enganos de que ele se serve para surpreender minha credulidade. Considerar-me-ei a mim mesmo absolutamente desprovido de mãos, de olhos, de carne, de sangue, desprovido de quaisquer sentidos, mas dotado da falsa crença de ter todas essas coisas. Permanecerei obstinadamente apegado a esse pensamento; e se, por esse meio, não está em meu poder chegar ao conhecimento de qualquer verdade, ao menos está ao meu alcance suspender meu juízo. Eis porque cuidarei zelosamente de não receber em minha crença nenhuma falsidade, e prepararei tão bem meu espírito a todos os ardis desse grande enganador que, por poderoso e ardiloso que seja, nunca poderá impor-me algo. Descartes lança mão da ideia de um Deus Enganador ou de um Gênio Maligno para reafirmar o caráter metódico dadúvida. Isto é, mesmo quando acreditamos que temos certeza do que conhecemos, ainda assim precisamos manter o princípio da dúvida, mesmo que essa hipótese pareça absurda. “Eis CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 14 porque cuidarei zelosamente de não receber em minha crença nenhuma falsidade”, afirma ele. Isso porque não tenho como saber se Deus ou um Gênio Maligno seja ou não capaz de me enganar. Porém, se admito a onipotência de Deus, devo supor que sim. Inclusive também para o Gênio Maligno. Vamos continuar nos aprofundando? Então faça a leitura indicada a seguir: http://filosofiageral.wikispaces.com/O+Discurso+do+M%C3%A9todo+%E2%80 %93+Descartes+%28resenha+tem%C3%A1tica%29 Agora as explicações são por conta do professor Rui. Acesse o material on-line e assista ao vídeo que está disponível para você! A ideia de Deus em Descartes Após rejeitar todos os saberes adquiridos pela tradição ou pelos órgãos dos sentidos e tendo fundado um método para a reconstrução de todo o conhecimento, Descartes acha-se seguro para indagações metafísicas. Nosso objetivo nessa unidade é conhecer algumas de suas indagações à realidade das ideias, Deus como ideia e realidade, bem como Deus como fundamento da verdade. Para Descartes, a ideia não somente representa alguma coisa, mas também é, isto é, a ideia é real. Ela não tem existência apenas no interior de minha mente. Em termos ontológicos, podemos, segundo Descartes, falar do ser da ideia. É essa uma das novidades que Descartes traz para as discussões metafísicas. Antes dele, o conteúdo que representava uma determinada ideia era a coisa ou algo sobre o qual essa mesma ideia tratava. Numa discussão de causa e efeito, pensava-se: de onde a ideia tiraria seu conteúdo senão de algo ou da própria coisa? Descartes, no entanto, apresenta outra solução: não é necessário instituir um vínculo entre a ideia à coisa por meio de uma demonstração. Acreditar espontaneamente nesse vínculo, do ponto de vista idealista, é crer num juízo sem fundamento. Por isso, ele opta pela investigação das ideias enquanto realidades objetivas. Por realidade objetiva, Descartes http://filosofiageral.wikispaces.com/O+Discurso+do+M%C3%A9todo+%E2%80%93+Descartes+%28resenha+tem%C3%A1tica%29 http://filosofiageral.wikispaces.com/O+Discurso+do+M%C3%A9todo+%E2%80%93+Descartes+%28resenha+tem%C3%A1tica%29 CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 15 entende aquilo que, estando na mente do sujeito, o mesmo acessa por primeiro, pois o pensamento é o que o sujeito acessa primeiro. Assim, como ele entende que a ideia tem uma realidade objetiva, isto é, ela é real, há que se tomar cuidado em tentar vincular qualquer ideia a algo existente exterior à própria mente, pois nem tudo o que penso existe realmente. O fato de nesse momento eu pensar que, em algum lugar do mundo, uma pessoa acabou de ser assassinada não significa que exista ligação entre a ideia por mim pensada e o fato em si. Todos sabemos que, a todo momento, pessoas são assassinadas ao redor do mundo. Assim, o que houve foi tão somente uma coincidência e não uma relação de causa e efeito. Caso contrário, bastaria eu pensar os números de uma loteria com prêmio acumulado, fazer a aposta e esperar para receber o prêmio. Resumindo: para Descartes, as ideias são reais, elas são, independente de um conteúdo a que possa estar relacionado na realidade. Passemos agora a examinar a ideia de Deus, bem como a sua existência real. Segundo Descartes, a ideia não pode ser causa e efeito. Ela pode, tão somente, ser efeito, nunca causa. Sua realidade objetiva remete àquilo que é representado por ela, sua realidade formal. Assim, para verificar essa adequação, faz-se necessário partir da ideia concebida, examinar seu conteúdo e verificar se existe alguma realidade que seja causa dessa ideia fora de minha mente. A filosofia tradicional acreditava que as ideias eram seres de razão que se esgotavam na forma de conteúdos mentais. Não é assim que ele pensa. Para Descartes, as ideias são e, enquanto tal, deve-se procurar as causas das mesmas. E por quê? Porque somente assim posso descobrir a relação causal que existe entre a ideia e sobre o que ela mesma representa. Assim, para eu entender o mundo exterior, preciso partir do interior. Levado ao pé da letra, é de se supor que haveria a necessidade de examinar cada uma dessas vinculações. Porém, isso seria impraticável, dada a infinidade de ideias. Preciso, portanto, de um critério metafísico que encurte esse processo. Isso porque sou um ser finito. O próprio fato de ter dúvida, ponto de partida do método cartesiano, prova essa minha finitude e, por acréscimo, minha carência de conhecimento. No entanto, CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 16 eu possuo a ideia de infinito. Pergunta-se, então: pode um ser finito pensar uma ideia infinita? Em outros termos: pode o menor derivar o maior? Se não, para as duas perguntas, quem é então a causa da ideia infinito? Para responder a essa questão, Descartes recorre ao recurso da proporcionalidade entre causa e efeito. Isto é, a relação entre a ideia enquanto realidade objetiva e a ideia enquanto realidade formal. Observando os dados da realidade, percebo que, na relação de causa e efeito, o grau de ser de um efeito, no máximo é igual ao da causa; nunca superior. Ou seja, o que é efeito não pode ser maior do que o que é causa. Sendo inferior, a causa não daria conta de tanto efeito. Pois bem, como seres finitos que somos, de onde então tiramos a ideia de infinito, já que do inferior não se deriva o superior? A resposta precisa ser buscada fora de mim, isto é, a causa da ideia de infinito em mim tem uma origem exterior a mim; um ser que é infinito, que é a causa da ideia infinita em mim. A essa ideia/ser Descartes chama de Deus, uma vez que a ele atribuo todos os predicados em grau infinito. Portanto, o único que pode causar a ideia de infinito em mim. Poderia se objetar o seguinte: quem é a causa de Deus? Seguindo a ideia de Descartes: ele mesmo. Isso porque, para Descartes, uma ideia pode ser causa de outra de mesmo grau. Ora, Deus, como ser infinito, pode ser causa de si mesmo, que é infinito, e de todas as outras coisas que são finitas. Bom, e por que eu não posso supor ser a causa de mim mesmo? Atribuindo predicados infinitos a mim mesmo? Não faria sentido, diante da possibilidade de me dar o meu ser, que o desse de maneira finita e não infinita. A resposta de Descartes é a seguinte: a causa de mim mesmo são meus genitores, seres finitos, e a causa de meus genitores são meus avós e assim sucessivamente. No entanto, não posso pensar essa sucessão de causa e efeito ad infinitum. Em algum momento, terei que chegar a uma causa absoluta, primeira, a partir de onde tudo começa. Essa causa só pode ser Deus, que possui todos os predicados em grau infinito. Assim, ele afirma em sua Terceira Meditação: Pelo nome de Deus entendo uma substância infinita, eterna, imutável, independente, onisciente, onipotente e pela qual eu próprio e todas as coisas que são (se é verdade que há coisas que existem) foram criadas CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 17 e produzidas. Ora, essas vantagens são tão grandes e tão eminentes que, quanto mais atentamente as considero, menos me persuado de que essa ideia possa tirar sua origem de mim tão-somente. Porém, para ele, essa causa primeira não age apenas no impulso inicial. Ela continua agindo em todos os momentos posteriores. Ela não é apenas criação, mas também recriação. Ora, para continuar agindo, essa causa necessita possuir o mesmo poder inicial. Caso contrário, seria corruptível, isto é, perderia graus de seus predicados; por conseguinte, não seria infinito. Tendo chegado à ideia de Deus como um ser que possui infinitamente todos os predicados e em grau quese possa pensar, encontramos o fundamento da verdade, ao mesmo tempo em que resolvemos o dilema da existência de um Deus Enganador, que brincaria comigo, impedindo-me de chegar à verdade. Para Descartes, o engano não seria um poder, mas uma carência. Num primeiro momento, quando a ideia de Deus era ainda embrionária, poderia supor que, como ser onipotente, poderia qualquer coisa, inclusive enganar. Porém, depois de compreender a Deus em sua onipotência, descubro que, como um de seus atributos é a perfeição, por isso mesmo não pode patrocinar a imperfeição, ou seja, enganar-me. Assim, agindo metodicamente sobre todas as representações, chego a ideias claras e distintas, que são garantidas por Deus. Nas palavras de Descartes, em sua Sexta Meditação: Ora, não sendo Deus de modo algum enganador, é muito patente que ele me envia essas ideias imediatamente por si mesmo, nem também por intermédio de alguma criatura, na qual a realidade das ideias não esteja contida formalmente, mas apenas eminentemente. Para saber mais, faça a leitura indicada a seguir: http://frankvcarvalho.blogspot.com.br/2010/08/tres-provas-da-existencia-de- deus-por.html E para tirar as dúvidas, acompanhe as explicações do professor Rui no vídeo que está disponível no material on-line. http://frankvcarvalho.blogspot.com.br/2010/08/tres-provas-da-existencia-de-deus-por.html http://frankvcarvalho.blogspot.com.br/2010/08/tres-provas-da-existencia-de-deus-por.html CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 18 Kant e a metafísica da natureza O filósofo Kant faz parte de um período em que a razão é elevada ao status de redentora do indivíduo. Viveu o período do Iluminismo, onde a máxima era colocar o ser humano no domínio da razão para fazê-lo libertar-se das crendices, das superstições e da tutela de outrem. Nesse contexto, Kant intentará superar duas posições distintas que até então marcaram a Filosofia: o empirismo e o racionalismo. Como contemporâneo e partidário dessas ideias, também ele defenderá o primado da razão como forma de colocar o indivíduo no controle de sua existência. Num pequeno texto intitulado Resposta à pergunta: o que é esclarecimento?, Kant afirma: Esclarecimento [Aufklärung] é a saída do homem de sua menoridade, da qual ele próprio é culpado. A menoridade é a incapacidade de fazer uso de seu entendimento sem a direção de outro indivíduo. O homem é o próprio culpado dessa menoridade se a causa dela não se encontra na falta de entendimento, mas na falta de decisão e coragem de servir- se de si mesmo sem a direção de outrem. Sapere aude! Tem coragem de fazer uso de teu próprio entendimento, tal é o lema do esclarecimento. Ou seja, por meio do uso da razão, o ser humano se esclarece, alcança a maioridade e governa a si mesmo. Por outro lado, o não uso da razão leva o indivíduo a não fazer uso do entendimento e, por conseguinte, necessitar ser tutelado. Assim, nessa unidade, nosso objetivo é compreender apenas alguns (e isso não é força da expressão, dada a riqueza da produção do pensamento de Kant) dos princípios metafísicos kantianos e de que maneira os mesmos se articulam com esse projeto de emancipação dos sujeitos humanos via uso da razão. Primeiramente, cabe dizer que Kant apresenta o seguinte problema: é possível pensar a metafísica como ciência? Se a resposta for negativa, como entender a curiosidade humana por questões metafísicas? Podemos dividir a metafísica kantiana em duas: a da natureza, preocupada com a investigação do que são as coisas, e a dos costumes, ocupada das questões relativas à liberdade humana. As questões que apresentaremos de seu pensamento metafísico serão de duas principais obras: Crítica da Razão Pura e Crítica da Razão Prática. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 19 Antes de apresentarmos algumas ideias da metafísica da natureza de Kant, vejamos alguns princípios gerais de seu pensamento que, de certa forma, já apontam as características de seu pensamento metafísico. A primeira questão importante é que Kant operou, como ele mesmo chamou, uma “revolução copernicana do pensamento”. Em suas palavras: Até agora, admitia-se que todo o nosso conhecimento se devia regular pelos objetos, mas todas as tentativas de estabelecer em torno deles alguma coisa a priori, por meio de conceitos, com os quais se teria podido ampliar nosso conhecimento, assumindo tal pressuposto, não conseguiram nada. Portanto, finalmente, faça-se a prova de ver se não seríamos mais afortunados nos problemas da metafísica, formulando a hipótese de que os objetos devem se regular pelo nosso conhecimento, o que se coaduna melhor com a desejada possibilidade de um conhecimento a priori, que estabeleça alguma coisa em relação aos objetos antes que eles nos sejam dados. Assim como a mudança de perspectiva adotada por Copérnico para observar o universo vai provocar uma profunda mudança de paradigmas, também a sugestão de Kant fará o mesmo no pensamento filosófico, principalmente no campo do conhecimento. Fonte: Lampada Tradam. Disponível em: <https://lampadatradam.wordpress.com/2014/04/04/resenhando-03-a-dimensao-galatica-da- astrologia-de-dane-rudhyar/> Acesso em 23/05/2016. A partir dessa afirmação, Kant irá derivar variados pensamentos. Nosso conhecimento se divide em dois tipos: o sensível e o intelectivo. O primeiro tipo https://lampadatradam.wordpress.com/2014/04/04/resenhando-03-a-dimensao-galatica-da-astrologia-de-dane-rudhyar/ https://lampadatradam.wordpress.com/2014/04/04/resenhando-03-a-dimensao-galatica-da-astrologia-de-dane-rudhyar/ CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 20 diz respeito a como os objetos nos são dados, isto é, como os nossos sentidos captam as manifestações dos objetos. Segundo Kant, não captamos os objetos tais quais são em si, mas como se nos apresentam. A esse processo, chamou de intuição empírica, uma vez que se trata de uma experiência que necessita da matéria para poder concretizar-se. Já a intuição pura é aquela que prescinde da matéria. Da mesma forma, para Kant, existem apenas duas “formas” ou “intuições puras”: o espaço e o tempo. Isso porque, segundo ele, qualquer objeto que meus sentidos captem o fará num determinado tempo e espaço. Já o segundo tipo de conhecimento (o intelectivo) diz respeito a como o nosso intelecto trata esses dados captados pelos sentidos, isto é, como nosso intelecto os pensa. E aqui, o primordial não é a intuição, mas o conceito. A esse estudo, a origem dos conceitos, se dedica a lógica transcendental. E os estuda enquanto conceitos a priori aos objetos. O intelecto é nossa capacidade de julgar. Assim, para o filósofo de Königsberg2, o fundamento do conhecimento acerca do objeto está no sujeito que o conhece e não no objeto, como se acreditava até então. Da mesma forma, o conhecimento adquirido é universal e necessário. Porém, é fenomênico, pois diz respeito às coisas como elas aparecem ao sujeito que as conhece. Da mesma forma, a realidade fenomênica das coisas não é toda a realidade dessas mesmas coisas, pois seu âmbito total escapa ao nosso conhecimento. Kant distingue razão de intelecto. Enquanto o último diz respeito à capacidade de julgar do indivíduo, a primeira diz respeito à capacidade de elaborar silogismos, isto é, de pensar sobre conceitos puros e juízos, chegando a conclusões particulares por meio de princípios supremos e não condicionados. Segundo Kant, existem três tipos de silogismos e, por conseguinte, três tipos de ideias: 2 Cidade natal de Kant. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 21 a. Silogismo categórico: trata-se de um determinado tipo de silogismo, raciocínio, do qual não resta dúvida da conclusão a que se chega, a partir das premissas de que se parte. Por exemplo: todo ser humano é mortal (premissamaior); João é ser humano (premissa menor); logo, João é mortal (conclusão). Se parto do princípio de que todo ser humano é mortal e que João é ser humano, só posso concluir que João é mortal. A conclusão se impõe ao meu raciocínio. b. Silogismo hipotético: nesse tipo de raciocínio, existe uma condição para, um se. Por exemplo: se eu faltar ao trabalho e não tiver algo que abone a minha falta, terei meu dia descontado; se eu não entregar uma determinada avaliação na data marcada e não tiver uma justificativa plausível e legalmente aceita, não obterei nota da respetiva avaliação, podendo inclusive reprovar. c. Silogismo disjuntivo: é um tipo de raciocínio que afirmo, como possiblidade, duas coisas oposta de algo, podendo concluir apenas uma delas. Por exemplo: ou Pedro é ser humano ou é imortal. Ele não é imortal. Logo, é ser humano. Enquanto para Platão as ideias transcendiam a razão, para Kant, as mesmas são conceitos supremos da razão e existem três tipos de ideias: a. Ideia psicológica: refere-se à alma. Segundo Reale, “visa encontrar (...) o sujeito absoluto, do qual derivam todos os fenômenos psíquicos”. b. Ideia cosmológica: é a ideia do mundo entendida como realidade ontológica, mais do que um conjunto de fenômenos. c. Ideia teológica: ou teleológica é a ideia de Deus, ente entendido como o modelo de todas as coisas. A respeito das provas da existência de Deus elaborada pela metafisica desde a antiguidade, existem, na realidade, apenas três: CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 22 ■ A prova ontológica (elaborada por Anselmo, Descartes e Leibniz), que parte do princípio de que Deus é uma perfeição absoluta e, portanto, deve existir; ■ A prova cosmológica, para a qual Deus é a causa de tudo; ■ A prova físico-teológica, que chega à ideia de Deus, partindo da variedade e finalidade do mundo. Porém, Kant entende esse tipo de argumento como um erro, pois não é possível, segundo ele, chegar à existência de um ser, pressupondo sua perfeição. A partir desses fundamentos, podemos então apresentar mais algumas concepções metafísicas kantianas. Para Kant, espaço e tempo não são determinações ontológicas, mas modos e funções do sujeito, que estão nos próprios sujeitos. Enquanto o espaço diz respeito à forma do sentido externo, o tempo diz respeito à forma do sentido interno ao sujeito. No entanto, ambos não são realidades absolutas, que existem independentemente das nossas intuições sensíveis ou que sejam “inerentes absolutos das coisas como suas condições ou qualidades”. Quanto à Ideia, Kant retoma o sentido platônico e, posteriormente, se propõe a melhorá-lo. Nesse sentido, a toma como um conceito puro da razão. E como tal, a entendia como o objeto por excelência da metafísica. Segundo ele, existiam três Ideias: a Ideia psicológica – a alma; a Ideia cosmologia – o mundo enquanto unidade metafísica; a Ideia teológica – Deus. Para explorar mais este assunto, faça a leitura a seguir: http://pensamentoextemporaneo.com.br/?p=2270 Agora, veja o que o professor Rui tem a dizer sobre este assunto assistindo ao vídeo que está disponível no material on-line! http://pensamentoextemporaneo.com.br/?p=2270 CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 23 Kant e a metafísica dos costumes Enquanto as leis da natureza são objetos de estudo da metafísica da natureza, como vimos na Unidade “Kant e a metafísica da natureza”, o dever ser e as leis da liberdade são objetos de ocupações da metafísica dos costumes. Kant tratou dessas questões em sete obras: Fundamentação da metafísica dos costumes (1785), Crítica da razão prática (1788), Teoria e Prática (1793), Paz perpétua (1795), Princípios metafísicos da doutrina do direito (1797), Princípios metafísicos da doutrina da virtude (1797) e O conflito das faculdades (1798). O filósofo de Königsberg se coloca as seguintes questões: quais os princípios fundamentais da metafísica dos costumes? Tais fundamentos têm uma realidade objetiva prática e têm decidibilidade? Em que medida tais fundamentos podem servir de parâmetro para legislar sobre aspectos essenciais do agir humano, tais como direito, política e educação? Na introdução da Metafísica dos Costumes, Kant apresenta os primeiros resultados. A metafísica dos costumes e a antropologia moral compõem as duas partes da filosofia prática. A primeira diz respeito à liberdade e, na medida em que se constitui como um sistema, também pode ser chamada de “antroponomia”. Da mesma forma, a mesma se divide em dois grupos: doutrina do direito e doutrina das virtudes ou ética. Enquanto a doutrina do direito, nas palavras do filósofo, diz respeito ao “aspecto formal do livre arbítrio a ser cerceado pelas leis da liberdade na sua relação externa”, a ética contém princípios metafísicos próprios, bem como “oferece ainda a matéria (um objeto do livre arbítrio), um fim da razão prática”. Porém, ainda que a antropologia seja, segundo Kant, uma teoria científica empírica e como tal se refere às ações práticas dos seres humanos em sociedade, os fundamentos da moral devem ser pensados em seu estado puro e a priori, ou seja, antes de qualquer experiência. Sobre a relação da metafísica dos costumes e a antropologia, diz Kant: “a metafísica dos costumes não pode ser fundamentada na antropologia, contudo, ela pode ser aplicada a esta”. Ainda sobre a relação entre ambas, Kant afirma que a antropologia não deve vir antes da metafísica dos costumes, “nem mistura CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 24 com ela”. Se a mesma se antecipar, corre o risco “de produzir leis morais falsas ou pelo menos indulgentes, que dão por inatingível o que não é alcançado precisamente porque a lei não é vista na sua pureza (no que consiste a sua força)”. Da mesma forma, quando ambas se misturam, correm o risco de fazer uso de “motivos impróprios ou impuros para aquilo que em si concorda com o dever e é bom, os quais [motivos] não fornecem quaisquer leis morais seguras”. Isto é, quem deve determinar os juízos do agir humano não é a pesquisa empírica (antropologia), mas a razão pura (metafísica dos costumes). E o que estuda a metafísica dos costumes? Segundo Kant, os atos do livre arbítrio em geral dos indivíduos. A ação livre dos indivíduos produz casos concretos. Porém, tais casos são apenas e tão somente referências individuais, particulares; não adquirem status de universalidade. O que a reflexão da metafísica dos costumes se indaga é: é possível determinar, a priori, os princípios práticos que conduzam a vontade humana? Assim, Kant entende ao relacionar a metafísica dos costumes à filosofia da natureza: Mas tal como, numa metafísica da natureza, devem existir também os princípios de aplicação daquelas leis fundamentais supremas universais, os mesmos também não devem faltar numa metafísica dos costumes, e nós teremos frequentemente de tomar como objeto a natureza particular dos homens, conhecida tão somente pela experiência, a fim de mostrar nela as consequências que se seguem dos princípios morais universais. Kant, porém, não entende que as leis a priori e o domínio de sua aplicação na metafísica dos costumes sejam iguais aos da metafísica da natureza. Os mesmos nãos são princípios teóricos, mas juízos derivativos da lei moral. Assim, o propósito da metafísica dos costumes é preestabelecer leis sobre a prática humana, possibilitando, assim, a resolução a priori dos conflitos que porventura apareçam no uso da liberdade. E, como afirma no título de uma de suas obras, realizar a Paz Perpétua. E aqui, Kant se refere à relação entre os estados nacionais, por meio de uma confederação mundial, bem como à relação entre os estados e seus cidadãos. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 25 E como e onde fica a liberdade, o livre arbítrio de que o mesmo fala?Para Kant, ela está no respeito à lei moral. Uma vez que, seguindo a lei racionalmente pensada, tornar-me-ei independente em relação à dimensão fenomênica, isto é, não estarei submetido às leis da natureza, mas às leis da razão. Colocarei em prática minha capacidade de autodeterminação. Kant chamou essa condição de autonomia, e a submissão às leis da natureza de heteronomia. Essa forma de condução da própria vida não impossibilita a busca pela felicidade? Segundo Kant, não, uma vez que, colocando a busca pela felicidade antes do cumprimento do dever, limitará a mesma a fins materiais. Enquanto que, como afirma Reale: “agindo pelo puro dever, o homem se torna ‘digno de felicidade’”. E, para determinar e conduzir, a priori, a vontade, Kant estabelece máximas e imperativos. As máximas são princípios que têm validade apenas para o indivíduo e não alcançam universalidade, ainda que algumas máximas tenham sido utilizadas para justificar atos individuais. Por exemplo: o “costume” que se tinha, e ainda talvez se tenha em alguns lugares, de lavar a “honra” com sangue, quando um homem flagrava sua mulher em adultério. Ou, entre os jovens, sejam meninos ou meninas, de entrarem em agressão física porque alguém supostamente estava a lhe encarar. Fonte: Gostando de Filosofia. Disponível em: <http://gostandodefilosofia.blogspot.com.br/2013/08/olha-o-imperativo-categorico-ai- gente.html> Acesso em 23/05/2016. http://gostandodefilosofia.blogspot.com.br/2013/08/olha-o-imperativo-categorico-ai-gente.html http://gostandodefilosofia.blogspot.com.br/2013/08/olha-o-imperativo-categorico-ai-gente.html CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 26 Já os imperativos são válidos para todos e são independentes da intervenção de fatores emotivos ou empíricos. Funcionam como mandamentos, regras, leis, que devem ser postos em ação, impedindo que outros fatores entrem em jogo para determinar a mesma. Os imperativos podem ser de dois tipos: hipotéticos e categóricos. No primeiro caso, é condição para alguém alcançar alguma coisa. Por exemplo: se você quer ter saúde, é necessário que se alimente corretamente, pratique esportes, vá ao médico regularmente, descanse o necessário, tenha bons hábitos de higiene etc. Já os imperativos categóricos prescindem dos efeitos, “deves e pronto”. Tratam-se de leis práticas que têm validade incondicional. Por que tenho que respeitar os sinais e leis de trânsito? Porque devo e pronto. É claro que tais normas têm (ou deveriam ter) uma certa racionalidade. Também as podemos não respeitar, arcando ou não com possíveis consequências. Porém, as mesmas são estabelecidas pensando na organização racional do direito de ir e vir dos cidadãos com segurança, eficácia e eficiência. Kant cita três imperativos categóricos. Três princípios fundamentam os mesmos: a ideia de universalidade dos mesmos; a consideração de que tanto você, quanto a outra pessoa sejam tomados não como meio para, mas como fins em si mesmos; por fim, destaca o papel da vontade na elaboração das leis: 1. “Age de modo que a máxima de tua vontade possa valer sempre, ao mesmo tempo, como princípio de uma legislação universal”. 2. “Age de modo a considerar a humanidade, tanto em tua pessoa como na pessoa de qualquer outro, sempre também como finalidade, e jamais como simples meio”. 3. “Age de modo que a vontade, com a sua máxima, possa se considerar como universalmente legisladora em relação a si própria”. Por fim, a liberdade, a imortalidade da alma e a existência de Deus, de ideias simples, tornam-se postulados, isto é, pressupostos de existência. Por conseguinte, podemos derivar conceitos que, de outro modo, seriam impossíveis de serem pensados: CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 27 1. A liberdade – permite “conceber a vontade pura como causa livre”; 2. A existência de Deus – como Ser onisciente e onipresente, torna a felicidade humana adequada aos seus méritos e às suas virtudes; 3. A imortalidade da alma – para se chegar ao sumo bem, é requerida uma vida de santidade, que poderá concretizar-se somente num processo infinito. Faça a leitura indicada a seguir e saiba mais sobre o assunto deste tema: http://navarroanl.jusbrasil.com.br/artigos/171331635/emmanuel-kant-o- imperativo-categorico-da-moral-e-o-imperativo-hipotetico-do-direito Para finalizar os estudos deste tema, acesse o material on-line e assista ao vídeo que está disponível para você! Trocando ideias Na metafísica dos costumes, Kant fala de máximas e de imperativos. Enquanto na primeira não se tem universalidade, sendo válidas apenas para o indivíduo que as formula, os imperativos têm, segundo ele, universalidade, tanto os hipotéticos, quanto os categóricos. Assim, acesse o fórum desta disciplina no Ambiente Virtual de Aprendizagem e debata com seus colegas a respeito do seguinte item: Os imperativos categóricos e as manifestações em redes sociais: o respeito ao outro em sua diversidade de ser, pensar, existir e a liberdade de expressão. Na prática O método cartesiano – evidência, análise, síntese e enumeração – pode ser aplicado às mais diferentes situações, desde a realização de tarefas domésticas à realização de uma prova de concurso, até mesmo como método investigativo científico. Tomemos, por exemplo, uma tarefa doméstica simples: lavar a louça. Quando observamos uma pia repleta de louças depois de um jantar para várias pessoas, a primeira sensação é de desespero. Porém, você pode http://navarroanl.jusbrasil.com.br/artigos/171331635/emmanuel-kant-o-imperativo-categorico-da-moral-e-o-imperativo-hipotetico-do-direito http://navarroanl.jusbrasil.com.br/artigos/171331635/emmanuel-kant-o-imperativo-categorico-da-moral-e-o-imperativo-hipotetico-do-direito CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 28 facilitar o trabalho, aplicando o método cartesiano na resolução desse problema. E o primeiro passo é acreditar que a tarefa é possível de ser realizada. O segundo e terceiro passos são analisar e dividir os objetos a serem lavados por gênero, o que pode ser feito enquanto a tarefa está sendo executada. Por fim, enxaguar os mesmos, mantendo a mesma divisão original para facilitar a próxima tarefa, verificando se não se esqueceu de lavar nenhum. Uma outra aplicação é, por exemplo, a realização de uma prova de concurso. O primeiro passo é acreditar que é possível resolver todas as questões, dentro do prazo previsto. Para tanto, ler previamente cada uma das questões, classificando-as quanto ao grau de dificuldade e/ou conhecimento que se tem a respeito dos conteúdos cobrados. Em seguida, responder as questões indo das mais simples para as mais complexas. Por fim, revisar para ter certeza de não ter se esquecido de responder alguma ou corrigir alguma da qual se tenha dúvida acerca da resposta. No caso de uma investigação filosófica, por exemplo, a aplicação fica mais evidente. Tomemos, por exemplo, a investigação de um determinado conceito num determinado autor: conceito de alma em Platão. O primeiro passo é não aceitar os conceitos dados previamente como verdadeiros, sem antes verificar se procedem ou não. O segundo passo, é analisar aqueles escritos em que tal conceito aparece, a partir de uma leitura criteriosa dos mesmos. Em seguida, expor as descobertas, comparando-as com as informações prévias. Por fim, revisar os passos para se ter certeza de que não se fez uma interpretação equivocada ou tenha omitido alguma informação importante. Síntese O nascimento da modernidade marca uma mudança radical em vários sentidos. Na filosofia, há a ruptura não somente com o pensamento antigo, mas, principalmente, com a mentalidade medieval, fundamentada em dogmas e verdades reveladas. Ainda que Descartes faça um discurso de modéstia, seu pensamento inaugurará uma nova fase não só no pensamento filosófico, comoCCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 29 também nas ciências em geral. Suas regras do método têm balizado muitas pesquisas científicas desde então. Da mesma forma, a revalorização do princípio da dúvida, que é característica central do pensamento filosófico, foi importante para retomar o tò thaumázein, inaugurado pelos gregos antigos, principalmente Platão e Aristóteles. Da dúvida ou do espanto é que nascem o desejo de explicação racional para as coisas; quando as explicações míticas e até mesmo a tradição, seja religiosa ou não, não dão mais conta de satisfazer a necessidade de conhecimento que o ser humano tem. Da mesma forma, Kant faz, como ele mesmo afirma, uma “revolução copernicana no pensamento”. Até então, acreditava-se que o ser humano deveria girar ao redor do objeto de conhecimento. Kant faz uma inversão: é o objeto que deve girar ao redor do sujeito que conhece. Enquanto Descartes propõe um método para se conhecer, Kant se pergunta se o conhecimento é possível. Sua resposta é que conhecemos aquilo que os objetos manifestam a nós, e não os objetos em si. Dessa epistemologia, funda tanto a sua metafísica da natureza, como deriva da mesma uma metafísica dos costumes, fundamentando uma ética a partir de imperativos categóricos. Seu texto Resposta à pergunta: o que é Esclarecimento? define muito bem o que era o Iluminismo, movimento cultural, político e científico que caracterizou o século XVIII. Para as considerações finais do professor Rui, acesse o material on-line e assista ao vídeo que está disponível para você! Referências ARANHA, M. L. A. Filosofando. São Paulo: Moderna, 2009. CHAUÍ, M. Iniciação à Filosofia. São Paulo: Ática, 2011. LOPARIC, Z. As duas metafísicas de Kant. Disponível em: <ftp://ftp.cle.unicamp.br/pub/kant-e-prints/vol.2,n.5,2003.pdf>. Acesso em 10 fev 2016. ftp://ftp.cle.unicamp.br/pub/kant-e-prints/vol.2,n.5,2003.pdf CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 30 REALE, G. História da Filosofia. São Paulo: Paulus, 2003. SILVA, F. L. e. Descartes. São Paulo: Moderna, 1993.
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