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Filosofia Geral - Problemas Metafísicos Aula 4 Metafísica na era moderna

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Prévia do material em texto

CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 
 
1 
 
 
 
 
 
Filosofia Geral: Problemas Metafísicos 
 
 
 
 
 
Metafísica na Modernidade 
Aula 4 
 
 
Prof. Rui Valese 
 
 
CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 
 
2 
Conversa inicial 
Olá! Seja bem-vindo a mais uma aula da disciplina Filosofia Geral: 
Problemas Metafísicos! Nosso objetivo hoje é estudar sobre a Metafísica na 
Era Moderna, tendo como foco os pensamentos de Descartes e Kant. 
Vamos começar? 
 
Para saber mais sobre o tema da aula de hoje, assista ao vídeo de 
introdução que o professor Rui preparou para você! Acesse o material on-
line! 
Contextualização 
Durante os séculos XV e XVI, não somente a Europa, mas praticamente 
todo o mundo conhecido passou por um processo de mudanças de proporções 
incalculáveis: 
■ O feudalismo entrava em crise diante do renascimento comercial e 
urbano; 
■ As grandes navegações iniciadas por portugueses e espanhóis 
promovera um encontro de culturas complemente diferentes, 
confirmando e provocando a revisão de muito conhecimento que 
se tinha até então como dogma; 
■ O renascimento cultural resgata antigos valores greco-romanos, ao 
mesmo tempo em que recoloca o ser humano no centro 
(antropocentrismo); 
■ As verdades, que até então eram tomadas como dogmas e 
reveladas, passam a ser questionadas e substituídas; 
■ As críticas à Igreja Católica, tanto em seu poder espiritual, como 
temporal, provocam cismas em seu interior, fazendo surgir novas 
religiões e até mesmo revisões de ordem interna, dentre muitos 
outros acontecimentos. 
 
CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 
 
3 
Os âmbitos político e econômico, com o surgimento de uma nova classe 
social, a burguesia, também iniciarão um processo de profundas 
transformações, principalmente com as lutas pelo fim das monarquias, 
culminando com a assunção da burguesia ao poder, primeiro economicamente, 
depois politicamente, consolidando o modo capitalista como sistema político e 
econômico predominante na Europa e, posteriormente, em outras partes do 
mundo. 
Figura 1 – A Idade Média 
 
Fonte: Vírus da Arte. Disponível em <http://virusdaarte.net/wp-
content/uploads/2014/08/pic123.png> Acesso em 23/05/2016. 
 
Essas mudanças, que levaram pelo menos quatro séculos para se 
consolidarem, serão também acompanhadas por profundas mudanças no 
pensamento filosófico e científico. Desse movimento, destacaremos dois dos 
principais nomes da Filosofia, que promoveram uma profunda mudança no 
pensamento metafísico, com alcance em outras áreas do pensamento: 
Descartes e Kant. Iniciaremos contextualizando intelectualmente esse período. 
Em seguida, passaremos a refletir sobre alguns aspectos do pensamento 
cartesiano, principalmente sua proposta de dúvida metódica e, em seguida, 
algumas das suas reflexões acerca de Deus. Finalizaremos estudando alguns 
tópicos do pensamento kantiano, principalmente sua proposta de uma dupla 
metafísica: a da natureza e a dos costumes. 
http://virusdaarte.net/wp-content/uploads/2014/08/pic123.png
http://virusdaarte.net/wp-content/uploads/2014/08/pic123.png
 
CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 
 
4 
Para saber mais, assista ao vídeo a seguir que fala sobre o final da Idade 
Média: 
https://www.youtube.com/watch?v=rwyuuZv_wIM. 
 
Acesse o material on-line e assista ao vídeo que está disponível para 
você! 
Problematização 
Desde que somos gerados, começamos o nosso processo formativo 
intelectual. Primeiramente pelo pai e a mãe, bem como os demais parentes, se 
os temos, passando pelas primeiras relações interpessoais fora do ambiente 
familiar, por alguma comunidade religiosa (se por acaso frequentarmos uma), 
pelos meios de comunicação em geral e pela escola. Ora, uma questão que deve 
nos preocupar, assim como preocupou Descartes é: como distinguir, dentre 
todas as informações que recebemos por meio desses processos, quais são 
falsas e quais são verdadeiras? 
Contexto intelectual 
O nascimento da Modernidade (século XVII-XVIII) é marcado por uma 
ruptura epistemológica drástica no desenvolvimento do pensamento filosófico e 
científico. A concepção de Ser, de ser humano e de mundo, até então desenhada 
pelo pensamento antigo e medieval, entrará em crise e uma nova visão 
metafísica passará a ser gestada. Nessa unidade, veremos, de forma geral, o 
nascimento dessa nova mentalidade, bem como outras discussões filosóficas 
pertinentes desse período. 
Uma primeira crítica que os modernos fazem ao pensamento anterior é o 
da impossibilidade de se chegar à essência das coisas. Mesmo que por hipótese 
admitíssemos sua existência, ainda assim, dizem os modernos, seria impossível 
conhecê-la. Seria necessário pensarmos um outro tipo de conhecimento que não 
fosse o racional. Resta-nos, portanto, conhecer as coisas enquanto fenômenos. 
E, como tal, quem faz essa investigação é a ciência e não a metafísica, cuja qual 
https://www.youtube.com/watch?v=rwyuuZv_wIM
 
CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 
 
5 
deveria ser abandonada. Rompendo com a tutela da fé sobre a razão, para os 
modernos, a razão natural somente poderia ter garantias de seu conhecimento 
em duas situações: quando conhecemos, por intuição intelectual, nosso próprio 
pensamento, isto é, quando tomamos ciência de que a nossa atividade da 
consciência é uma atividade intelectual; quando nossa consciência, a partir das 
impressões captadas pelos sentidos, conhece o que é o mundo fenomenal. 
 
Fonte: A Bíblia e a Pós-modernidade. Disponível em: 
<http://bibliaposmodernidade.blogspot.com.br/> Acesso em 23/05/2016. 
 
Para os modernos, o Iluminismo representa o ápice desse pensamento, a 
capacidade racional humana libertaria os indivíduos das crenças e superstições, 
enfim, da tutela da religião. Porém, esse uso da razão deveria vir acompanhado 
de um método, que passa a ser uma das preocupações centrais dos modernos. 
Outra característica do pensamento nascente é seu subjetivismo, isto é, 
o fato de dar ênfase ao sujeito que conhece, na relação que estabelece com o 
objeto que é conhecido. Quem conhece é o próprio sujeito e seu primeiro objeto 
de conhecimento é o próprio ato de conhecer. Assim, se para os metafísicos, a 
questão central era o ser, para os modernos, a questão central é o conhecer. 
Assim, para os modernos, a questão não é saber se as coisas são, mas, sim, se 
podemos conhecê-las. O que conhecemos primeiro são nossas ideias, que são 
inatas, isto é, que pertencem a nós, mesmo antes do nosso nascimento, nos são 
inerentes, constitutivas do nosso eu. Esse movimento leva o pensamento 
moderno, por vezes, a se reaproximar de uma metafísica idealista, mesmo que 
http://bibliaposmodernidade.blogspot.com.br/
 
CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 
 
6 
não abandone as investigações epistemológicas. Assim, para essa corrente de 
pensamento intitulada idealista, para conhecermos o real, basta adentrarmos a 
nossa consciência, já que os órgãos dos sentidos são os principais causadores 
de erros, conforme já havia manifestado Platão. 
 
 
Fonte imagem: Con efe de filosofía. Disponível em: 
<http://conefedefilosofia.blogspot.com.br/2014/09/idealismo-y-realismo-el-idealismo.html> 
Acesso em 23/05/2016. 
 
Já para os empiristas, corrente filosófica que rivalizava com os idealistas, 
nossas ideias não são inatas, mas, sim, adquiridas a partir das nossas 
experiências sensíveis, isto é, por meio do que os nossos órgãos dos sentidos 
captam e informam ao nosso intelecto. Herdeiros em boa parte do pensamento 
aristotélico, os empiristas consideram a mente humana como uma folha de papel 
em branco, uma tabula rasa, na qual as experiências iriam aos poucos 
registrando as ideias. A partir dessa perspectiva, a consequência para as 
reflexões epistemológicas são as seguintes: só podemos conhecer aquilo que 
as experiências sensíveisregistram em nossa mente. E o que podemos 
conhecer são os fenômenos. Ora, o que é um fenômeno? É aquilo que o sujeito 
capta, percebe das coisas. As ideias inatas são uma ilusão e, como não 
passaram pela experiência dos sentidos, não podem ser jamais conhecidas. 
Porém, idealistas e empiristas partilham de uma ideia, que os diferenciam 
dos metafísicos: não temos como garantir que conhecemos de fato a realidade 
em si. O que podemos conhecer são ideias dessa mesma realidade, 
representações que temos em nossas mentes, seja de maneira inata, seja de 
http://conefedefilosofia.blogspot.com.br/
http://conefedefilosofia.blogspot.com.br/2014/09/idealismo-y-realismo-el-idealismo.html
 
CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 
 
7 
maneira empírica. Tanto de uma forma, quanto de outra, há um privilegiamento 
do sujeito no processo do conhecimento. E como esse sujeito percebe o real? 
Para isso, há a necessidade da construção de instrumentos que, de certa 
maneira, prolonguem a capacidade dos nossos órgãos dos sentidos, como 
também a construção de esquemas matemáticos, lógicos para representar essa 
mesma realidade. Tais instrumentos e ferramentas, no entanto, não têm por 
objetivo conhecer o real tal qual ele é, mas a imagem que a consciência elaborou 
do mundo. 
Os principais nomes do idealismo moderno são: Descartes, Leibniz, 
Espinosa, Malebranche, Wolff, entre outros. Já os empiristas são: John Locke, 
Berkeley e Hume. 
Durante o século XVIII, o filósofo Immanuel Kant tentará conciliar os dois 
caminhos. Segundo ele, na realidade não existem dois caminhos, mas dois 
momentos do conhecimento: um empírico e outro teórico. Assim, como queriam 
os empiristas, num primeiro momento, o que podemos conhecer é captado pelos 
nossos órgãos dos sentidos que, num segundo momento, como queriam os 
idealistas, são organizados pelo nosso intelecto, pela nossa consciência. Ou 
seja, para Kant, não há conhecimento sem as experiências sensíveis. Mas, o 
mesmo não se limita a elas. Da mesma forma, o conhecimento não é uma pura 
operação do espírito, mas uma operação de estruturação lógica desses mesmos 
dados empíricos. 
Para saber mais sobre racionalismo e empirismo, faça a leitura a seguir: 
http://www.consciencia.org/empirismo-e-racionalismo 
 
Para tirar as dúvidas que possam ter surgido, acesse o material on-line e 
assista ao vídeo que o professor Rui preparou. 
A busca cartesiana da verdade pela dúvida metódica 
René Descartes é uma espécie de divisor de águas no pensamento 
filosófico europeu. De família burguesa em ascensão, com título de nobreza (seu 
pai era advogado e juiz; possuía terras e o título de escudeiro; também era 
http://www.consciencia.org/empirismo-e-racionalismo
 
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8 
conselheiro parlamentar na Bretanha), estudou no Colégio Jesuíta de La Flèche, 
onde recebeu formação clássica, sobre a qual refletiu em grande parte de sua 
vida, como também tirou grande parte de seu pensamento dessas reflexões. Em 
meio às transformações políticas e econômicas que ocorriam na Europa, bem 
como a revolução cultural e científica que acontecia no mesmo período e espaço, 
Descartes se propõe um projeto simples, mas ao mesmo tempo ambicioso: 
reconstruir o saber. Na primeira parte de sua obra Discurso do Método, assim 
se expressa a respeito de tal empreitada: 
Fui alimentado com as letras desde minha infância, e, por me terem 
persuadido de que por meio delas podia-se adquirir um conhecimento 
claro e seguro de tudo o que é útil à vida, tinha um imenso desejo de 
aprendê-las. Mas assim que terminei todo esse ciclo de estudos, no 
termo do qual se costuma ser acolhido nas fileiras dos doutos, mudei 
inteiramente de opinião. Pois encontrava-me enredado em tantas 
dúvidas e erros, que me parecia não ter tirado outro proveito, ao 
procurar instruir-me, se não o de ter descoberto cada vez mais minha 
ignorância. 
Nesse fragmento, pelo menos duas ideias centrais chamam a atenção, 
pois marcarão seu pensamento de forma definitiva. A primeira delas é a dúvida, 
que Descartes tomará como ponto de partida de suas reflexões. A segunda dela, 
é a prudência com que coloca tais reflexões, manifesta em expressões como 
“encontrava-me”, “me parecia”, “instruir-me” e “minha ignorância”. Dessa forma, 
Descartes queria deixar bem claro que eram preocupações pessoais e que as 
mesmas não deveriam gerar polêmicas públicas a respeito de suas reflexões. 
O cuidado não é sem razão. Durante a Idade Média, o Tribunal do Santo 
Ofício, também conhecido pelo nome de Inquisição, havia perseguido, inquirido 
e condenado muitos daqueles que contestavam as verdades e dogmas 
defendidos pela Igreja Católica. Ainda na época de Descartes, o mesmo ainda 
era atuante. Vários foram os cientistas e pensadores perseguidos, além, é claro, 
de pessoas simples acusadas de heresia. Dentre os perseguidos, destacamos 
alguns: Giordano Bruno, William Tyndale, Copérnico, Kepler e o próprio 
 
CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 
 
9 
Descartes1. Talvez o caso mais famoso seja o de Galileu, que, levado a 
julgamento, “retratou-se” para salvar sua vida. Nessa unidade, nosso principal 
objetivo é compreender essas duas questões no pensamento de Descartes e, 
de que maneira as mesmas determinam as concepções metafísicas do mesmo. 
Essa atitude de Descartes, de reconstrução do saber, implica numa 
recusa de todo o saber produzido até então, inclusive o pensamento metafísico 
que bem marcou toda a Idade Média. Seu objetivo: chegar a um método que 
possibilite chegar à verdade absoluta de forma segura e indubitável. Seu 
caminho de reflexão, para ser coerente com o método que pensara, é ir de ideias 
simples, para as mais complexas. Assim ele inicia seu Discurso do Método: 
O bom senso é a coisa mais bem repartida entre os homens, pois cada 
qual pensa estar tão bem provido dele, que mesmo os que são mais 
difíceis de contentar em qualquer outra coisa não costumam desejar 
tê-lo mais do que o têm. E não é verossímil que todos se enganem a 
tal respeito; mas isso antes testemunha que o poder de bem julgar e 
distinguir o verdadeiro do falso, que é propriamente o que se denomina 
o bom senso ou razão, é naturalmente igual em todos os homens. E, 
desse modo, a diversidade das opiniões não provém de sermos uns 
mais racionais do que outros, mas de conduzirmos nossos 
pensamentos por vias diversas e não considerarmos as mesmas 
coisas. Pois não é suficiente ter o espírito bom, o principal é aplicá-lo 
bem. 
 
1 Da mesma forma que muitos nazistas e neonazistas negam a perseguição e morte de milhões 
de judeus durante os regimes ditatoriais de Hitler e Mussolini, além de negros, ciganos, 
homossexuais, comunistas, anarquistas e Testemunhas de Jeová, entre outros, também existem 
aqueles que negam tais perseguições e execuções ou tentam minimizá-las, argumentando que 
a inquisição católica não foi a única. Porém, destacamos isso aqui, uma vez que estamos falando 
de hegemonia intelectual que, nesse período, era cristão. E, em nome dessa hegemonia, muitos 
crimes foram cometidos, tendo sido reconhecidos publicamente pela própria Igreja. 
Ver: http://noticias.terra.com.br/educacao/voce-sabia/voce-sabia-a-igreja-reconheceu-que-
errou-ao-condenar-galileu,400811f48735b310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html. 
http://noticias.terra.com.br/educacao/voce-sabia/voce-sabia-a-igreja-reconheceu-que-errou-ao-condenar-galileu,400811f48735b310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html
http://noticias.terra.com.br/educacao/voce-sabia/voce-sabia-a-igreja-reconheceu-que-errou-ao-condenar-galileu,400811f48735b310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html
 
CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 
 
10 
 
Fonte: Ócio Elucidativo. Disponível em: <http://ocioelucidativo.blogspot.com.br/2010/10/cade-o-
bom-senso-bom-senso-morreu.html> Acesso em 23/05/2016. 
 
Desse fragmento, para o nossoobjetivo, vamos destacar duas ideias 
expressas por Descartes: a primeira delas é sobre o fato de todos possuírem 
bom senso em igualdade. Isso possibilita, segundo ele, que todas as pessoas 
saibam distinguir o verdadeiro do falso. Porém, adverte, isso não é suficiente. O 
fato de possuirmos bom senso não nos garante que chegaremos à verdade. Para 
tanto, é necessário que o mesmo seja bem conduzido. E aí temos a segunda 
ideia: o bom senso precisa ser conduzido por regras que nos permitam chegar a 
verdades indubitáveis. Mais uma vez, a partir desse raciocínio, Descartes faz a 
crítica à tradição pois, segundo ele, mesmo a razão tendo sido conduzida pelos 
espíritos mais desenvolvidos em cada época, os resultados não foram 
satisfatórios, quando não, não passaram de um mero acúmulo de opiniões. Isso 
porque, como não foram obtidas pela orientação de um método concebido a 
priori, mesmo aparentando serem verdadeiras, não podem ser comprovadas 
como tais. 
Ora, então qual é o caminho a seguir? A partir dessas reflexões, 
Descartes começa a tratar de um método que nos dê garantias de chegarmos a 
“verdades claras e distintas”. Isso porque, afirmava ele, as ciências até então 
não tinham produzido mais do que acúmulo de opiniões. Na segunda parte do 
Discurso do Método, afirma o seguinte: 
http://ocioelucidativo.blogspot.com.br/2010/10/cade-o-bom-senso-bom-senso-morreu.html
http://ocioelucidativo.blogspot.com.br/2010/10/cade-o-bom-senso-bom-senso-morreu.html
 
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11 
Entre eles, um dos primeiros foi que me lembrei de considerar que, 
amiúde, não há tanta perfeição nas obras compostas de várias peças, 
e feitas pela mão de diversos mestres, como naquelas em que um só 
trabalhou. Assim, vê-se que os edifícios empreendidos e concluídos 
por um só arquiteto costumam ser mais belos e melhor ordenados do 
que aqueles que muitos procuraram reformar, fazendo uso de velhas 
paredes construídas para outros fins. 
Ou seja, quando em uma obra atuam vários mestres, ou quando na 
construção de um edifício atuam diversos arquitetos, ou ainda, quando uma 
cidade, ao invés de ser construída seguindo um planejamento, segue de acordo 
com a vontade de cada um que atua nelas, o resultado não é tão belo quanto, 
se nessas mesmas obras, atuar um único indivíduo. Descartes faz a mesma 
reflexão com relação ao método para se chegar à verdade. A essa não se chega 
pelo acúmulo de opiniões obtidas ao longo da história, muito menos com a 
relatividade das condições de sua produção. 
 
Fonte imagem: Angola Bela. Disponível em: 
<http://www.angolabelazebelo.com/2011/10/crescimento-desordenado-da-cidade-de-cabinda/> 
Acesso em 23/05/2016. 
 
Então, qual é o primeiro passo do método? A dúvida. Porém, o exercício 
da mesma deve ser antecipado pela existência de um método. O espírito 
racional, de posse de um método, será capaz de rejeitar as opiniões e chegar a 
verdades indubitáveis sobre as coisas. Assim, Descartes afirma que devemos 
colocar todas as coisas sob a suspeição da dúvida. Tanto a tradição não é boa 
conselheira nem garantia da verdade das coisas, como também os sentidos não 
são fontes confiáveis de conhecimento. Faz-se necessário, então, o exercício da 
dúvida metódica. Porém, a dúvida é apenas o primeiro passo, o primeiro 
http://www.angolabelazebelo.com/2011/10/crescimento-desordenado-da-cidade-de-cabinda/
 
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12 
momento da busca da verdade. A partir desses princípios, Descartes elaborará, 
então, o seu método, dividido em quatro passos ou regras: 
1. Clareza e distinção: só admitir como verdadeiro, algo sobre o qual 
não restar nenhuma dúvida; 
2. Análise: dividir um problema em tantas partes quanto forem 
necessárias para melhor compreendê-lo; 
3. Ordem: ordenar o pensamento, partindo das ideias mais simples e 
conduzindo o espírito até as mais complexas; 
4. Enumeração: revisar todos os passos e procedimentos para ter 
certeza de não ter esquecido ou deixado escapar nada. 
Essas quatro regras ou passos, no entanto, podem ser resumidas em 
duas palavras: dúvida e precaução. Quando Descartes faz a crítica ao fato de 
que a posse do bom senso não é garantia de se chegar à verdade das coisas, é 
porque o fato de acharmos que temos bom senso nos impede de mantermos 
nosso espírito alerta quanto a possíveis enganos e engodos. Todas as nossas 
certezas devem ser submetidas ao crivo da dúvida. Se as mesmas resistirem, é 
porque podemos aceitá-las como verdades claras e distintas. Caso contrário, 
devem ser rejeitadas. 
Fundado um método que seja capaz de nos dar garantias sobre os 
conhecimentos por meio dele adquiridos, é hora de tratar da realidade das coisas 
e das ideias, isto é, das questões metafísicas. Essa parte das investigações 
cartesianas foi tratada na obra Meditações Metafísicas. Nessa obra, Descartes 
ocupa-se da existência das coisas em geral. Porém, o método proposto por 
Descartes não se propõe apenas a inventariar as próprias coisas, mas conhecer 
o que são as coisas. O problema crucial, para ele, é a passagem da essência à 
existência. Isto é, como comprovar a correspondência entre as representações 
feitas das coisas e as coisas mesmas? Outra questão é a seguinte: como 
comprovar que as exigências da razão correspondem à realidade existente? Em 
outros termos: é preciso provar que o que é objetivo de acordo com as regras da 
razão, também o é do ponto de vista universal. Mesmo que as verdades sejam 
 
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13 
o resultado do trabalho de um sujeito, e nesse sentido elas são subjetivas, o fato 
de utilizar-se de um método adequado faz com que tais verdades adquiram valor 
para além da subjetividade, isto é, adquiram status de universalidade. O valor da 
ideia concebida a partir do método não tem valor apenas subjetivo – no sujeito e 
para o sujeito – mas objetivo e, portanto, universal. 
A dúvida, que já estava presente na elaboração do método também fará 
parte das meditações metafísicas cartesianas. A dúvida será praticada de forma 
radical: não deve haver exceção para o exercício da dúvida. Porém, não se trata 
da dúvida do cético, mas da dúvida enquanto provisoriedade. O exercício da 
dúvida se processa em duas etapas: a primeira parte é a recusa de continuar 
aceitando todas as certezas anteriormente adquiridas, seja pela tradição, seja 
pelos sentidos. Já a segunda parte, a dúvida metafísica, diz respeito às 
representações que fazemos das coisas e admitimos como ideias claras e 
distintas. Nesse ponto, Descartes levanta a hipótese da existência de um Gênio 
Maligno ou de um Deus Enganador que me leva a acreditar na verdade de 
representações das coisas como ideias claras e distintas, quando as mesmas 
não o são. Assim ele se expressa: 
Suporei, pois, que há não um verdadeiro Deus, que é a soberana fonte 
da verdade, mas certo gênio maligno, não menos ardiloso e enganador 
do que poderoso, que empregou toda a sua indústria em enganar-me. 
Pensarei que o céu, o ar, a terra, as cores, as figuras, os sons e todas 
as coisas exteriores que vemos são apenas ilusões e enganos de que 
ele se serve para surpreender minha credulidade. Considerar-me-ei a 
mim mesmo absolutamente desprovido de mãos, de olhos, de carne, 
de sangue, desprovido de quaisquer sentidos, mas dotado da falsa 
crença de ter todas essas coisas. Permanecerei obstinadamente 
apegado a esse pensamento; e se, por esse meio, não está em meu 
poder chegar ao conhecimento de qualquer verdade, ao menos está 
ao meu alcance suspender meu juízo. Eis porque cuidarei zelosamente 
de não receber em minha crença nenhuma falsidade, e prepararei tão 
bem meu espírito a todos os ardis desse grande enganador que, por 
poderoso e ardiloso que seja, nunca poderá impor-me algo. 
Descartes lança mão da ideia de um Deus Enganador ou de um Gênio 
Maligno para reafirmar o caráter metódico dadúvida. Isto é, mesmo quando 
acreditamos que temos certeza do que conhecemos, ainda assim precisamos 
manter o princípio da dúvida, mesmo que essa hipótese pareça absurda. “Eis 
 
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14 
porque cuidarei zelosamente de não receber em minha crença nenhuma 
falsidade”, afirma ele. Isso porque não tenho como saber se Deus ou um Gênio 
Maligno seja ou não capaz de me enganar. Porém, se admito a onipotência de 
Deus, devo supor que sim. Inclusive também para o Gênio Maligno. 
Vamos continuar nos aprofundando? Então faça a leitura indicada a 
seguir: 
http://filosofiageral.wikispaces.com/O+Discurso+do+M%C3%A9todo+%E2%80
%93+Descartes+%28resenha+tem%C3%A1tica%29 
 
Agora as explicações são por conta do professor Rui. Acesse o material 
on-line e assista ao vídeo que está disponível para você! 
A ideia de Deus em Descartes 
Após rejeitar todos os saberes adquiridos pela tradição ou pelos órgãos 
dos sentidos e tendo fundado um método para a reconstrução de todo o 
conhecimento, Descartes acha-se seguro para indagações metafísicas. Nosso 
objetivo nessa unidade é conhecer algumas de suas indagações à realidade das 
ideias, Deus como ideia e realidade, bem como Deus como fundamento da 
verdade. 
Para Descartes, a ideia não somente representa alguma coisa, mas 
também é, isto é, a ideia é real. Ela não tem existência apenas no interior de 
minha mente. Em termos ontológicos, podemos, segundo Descartes, falar do ser 
da ideia. É essa uma das novidades que Descartes traz para as discussões 
metafísicas. Antes dele, o conteúdo que representava uma determinada ideia 
era a coisa ou algo sobre o qual essa mesma ideia tratava. Numa discussão de 
causa e efeito, pensava-se: de onde a ideia tiraria seu conteúdo senão de algo 
ou da própria coisa? Descartes, no entanto, apresenta outra solução: não é 
necessário instituir um vínculo entre a ideia à coisa por meio de uma 
demonstração. Acreditar espontaneamente nesse vínculo, do ponto de vista 
idealista, é crer num juízo sem fundamento. Por isso, ele opta pela investigação 
das ideias enquanto realidades objetivas. Por realidade objetiva, Descartes 
http://filosofiageral.wikispaces.com/O+Discurso+do+M%C3%A9todo+%E2%80%93+Descartes+%28resenha+tem%C3%A1tica%29
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entende aquilo que, estando na mente do sujeito, o mesmo acessa por primeiro, 
pois o pensamento é o que o sujeito acessa primeiro. Assim, como ele entende 
que a ideia tem uma realidade objetiva, isto é, ela é real, há que se tomar cuidado 
em tentar vincular qualquer ideia a algo existente exterior à própria mente, pois 
nem tudo o que penso existe realmente. O fato de nesse momento eu pensar 
que, em algum lugar do mundo, uma pessoa acabou de ser assassinada não 
significa que exista ligação entre a ideia por mim pensada e o fato em si. Todos 
sabemos que, a todo momento, pessoas são assassinadas ao redor do mundo. 
Assim, o que houve foi tão somente uma coincidência e não uma relação de 
causa e efeito. Caso contrário, bastaria eu pensar os números de uma loteria 
com prêmio acumulado, fazer a aposta e esperar para receber o prêmio. 
Resumindo: para Descartes, as ideias são reais, elas são, independente de um 
conteúdo a que possa estar relacionado na realidade. Passemos agora a 
examinar a ideia de Deus, bem como a sua existência real. 
Segundo Descartes, a ideia não pode ser causa e efeito. Ela pode, tão 
somente, ser efeito, nunca causa. Sua realidade objetiva remete àquilo que é 
representado por ela, sua realidade formal. Assim, para verificar essa 
adequação, faz-se necessário partir da ideia concebida, examinar seu conteúdo 
e verificar se existe alguma realidade que seja causa dessa ideia fora de minha 
mente. A filosofia tradicional acreditava que as ideias eram seres de razão que 
se esgotavam na forma de conteúdos mentais. Não é assim que ele pensa. Para 
Descartes, as ideias são e, enquanto tal, deve-se procurar as causas das 
mesmas. E por quê? Porque somente assim posso descobrir a relação causal 
que existe entre a ideia e sobre o que ela mesma representa. Assim, para eu 
entender o mundo exterior, preciso partir do interior. Levado ao pé da letra, é de 
se supor que haveria a necessidade de examinar cada uma dessas vinculações. 
Porém, isso seria impraticável, dada a infinidade de ideias. Preciso, portanto, de 
um critério metafísico que encurte esse processo. Isso porque sou um ser finito. 
O próprio fato de ter dúvida, ponto de partida do método cartesiano, prova essa 
minha finitude e, por acréscimo, minha carência de conhecimento. No entanto, 
 
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eu possuo a ideia de infinito. Pergunta-se, então: pode um ser finito pensar uma 
ideia infinita? Em outros termos: pode o menor derivar o maior? Se não, para as 
duas perguntas, quem é então a causa da ideia infinito? 
Para responder a essa questão, Descartes recorre ao recurso da 
proporcionalidade entre causa e efeito. Isto é, a relação entre a ideia enquanto 
realidade objetiva e a ideia enquanto realidade formal. Observando os dados da 
realidade, percebo que, na relação de causa e efeito, o grau de ser de um efeito, 
no máximo é igual ao da causa; nunca superior. Ou seja, o que é efeito não pode 
ser maior do que o que é causa. Sendo inferior, a causa não daria conta de tanto 
efeito. Pois bem, como seres finitos que somos, de onde então tiramos a ideia 
de infinito, já que do inferior não se deriva o superior? A resposta precisa ser 
buscada fora de mim, isto é, a causa da ideia de infinito em mim tem uma origem 
exterior a mim; um ser que é infinito, que é a causa da ideia infinita em mim. 
A essa ideia/ser Descartes chama de Deus, uma vez que a ele atribuo 
todos os predicados em grau infinito. Portanto, o único que pode causar a ideia 
de infinito em mim. Poderia se objetar o seguinte: quem é a causa de Deus? 
Seguindo a ideia de Descartes: ele mesmo. Isso porque, para Descartes, uma 
ideia pode ser causa de outra de mesmo grau. Ora, Deus, como ser infinito, pode 
ser causa de si mesmo, que é infinito, e de todas as outras coisas que são finitas. 
Bom, e por que eu não posso supor ser a causa de mim mesmo? Atribuindo 
predicados infinitos a mim mesmo? Não faria sentido, diante da possibilidade de 
me dar o meu ser, que o desse de maneira finita e não infinita. A resposta de 
Descartes é a seguinte: a causa de mim mesmo são meus genitores, seres 
finitos, e a causa de meus genitores são meus avós e assim sucessivamente. 
No entanto, não posso pensar essa sucessão de causa e efeito ad infinitum. Em 
algum momento, terei que chegar a uma causa absoluta, primeira, a partir de 
onde tudo começa. Essa causa só pode ser Deus, que possui todos os 
predicados em grau infinito. Assim, ele afirma em sua Terceira Meditação: 
Pelo nome de Deus entendo uma substância infinita, eterna, imutável, 
independente, onisciente, onipotente e pela qual eu próprio e todas as 
coisas que são (se é verdade que há coisas que existem) foram criadas 
 
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e produzidas. Ora, essas vantagens são tão grandes e tão eminentes 
que, quanto mais atentamente as considero, menos me persuado de 
que essa ideia possa tirar sua origem de mim tão-somente. 
Porém, para ele, essa causa primeira não age apenas no impulso inicial. 
Ela continua agindo em todos os momentos posteriores. Ela não é apenas 
criação, mas também recriação. Ora, para continuar agindo, essa causa 
necessita possuir o mesmo poder inicial. Caso contrário, seria corruptível, isto é, 
perderia graus de seus predicados; por conseguinte, não seria infinito. 
Tendo chegado à ideia de Deus como um ser que possui infinitamente 
todos os predicados e em grau quese possa pensar, encontramos o fundamento 
da verdade, ao mesmo tempo em que resolvemos o dilema da existência de um 
Deus Enganador, que brincaria comigo, impedindo-me de chegar à verdade. 
Para Descartes, o engano não seria um poder, mas uma carência. Num primeiro 
momento, quando a ideia de Deus era ainda embrionária, poderia supor que, 
como ser onipotente, poderia qualquer coisa, inclusive enganar. Porém, depois 
de compreender a Deus em sua onipotência, descubro que, como um de seus 
atributos é a perfeição, por isso mesmo não pode patrocinar a imperfeição, ou 
seja, enganar-me. Assim, agindo metodicamente sobre todas as 
representações, chego a ideias claras e distintas, que são garantidas por Deus. 
Nas palavras de Descartes, em sua Sexta Meditação: 
Ora, não sendo Deus de modo algum enganador, é muito patente que 
ele me envia essas ideias imediatamente por si mesmo, nem também 
por intermédio de alguma criatura, na qual a realidade das ideias não 
esteja contida formalmente, mas apenas eminentemente. 
Para saber mais, faça a leitura indicada a seguir: 
http://frankvcarvalho.blogspot.com.br/2010/08/tres-provas-da-existencia-de-
deus-por.html 
 
E para tirar as dúvidas, acompanhe as explicações do professor Rui no 
vídeo que está disponível no material on-line. 
http://frankvcarvalho.blogspot.com.br/2010/08/tres-provas-da-existencia-de-deus-por.html
http://frankvcarvalho.blogspot.com.br/2010/08/tres-provas-da-existencia-de-deus-por.html
 
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Kant e a metafísica da natureza 
O filósofo Kant faz parte de um período em que a razão é elevada ao 
status de redentora do indivíduo. Viveu o período do Iluminismo, onde a máxima 
era colocar o ser humano no domínio da razão para fazê-lo libertar-se das 
crendices, das superstições e da tutela de outrem. Nesse contexto, Kant 
intentará superar duas posições distintas que até então marcaram a Filosofia: o 
empirismo e o racionalismo. Como contemporâneo e partidário dessas ideias, 
também ele defenderá o primado da razão como forma de colocar o indivíduo no 
controle de sua existência. Num pequeno texto intitulado Resposta à pergunta: 
o que é esclarecimento?, Kant afirma: 
Esclarecimento [Aufklärung] é a saída do homem de sua menoridade, 
da qual ele próprio é culpado. A menoridade é a incapacidade de fazer 
uso de seu entendimento sem a direção de outro indivíduo. O homem 
é o próprio culpado dessa menoridade se a causa dela não se encontra 
na falta de entendimento, mas na falta de decisão e coragem de servir-
se de si mesmo sem a direção de outrem. Sapere aude! Tem coragem 
de fazer uso de teu próprio entendimento, tal é o lema do 
esclarecimento. 
Ou seja, por meio do uso da razão, o ser humano se esclarece, alcança 
a maioridade e governa a si mesmo. Por outro lado, o não uso da razão leva o 
indivíduo a não fazer uso do entendimento e, por conseguinte, necessitar ser 
tutelado. Assim, nessa unidade, nosso objetivo é compreender apenas alguns (e 
isso não é força da expressão, dada a riqueza da produção do pensamento de 
Kant) dos princípios metafísicos kantianos e de que maneira os mesmos se 
articulam com esse projeto de emancipação dos sujeitos humanos via uso da 
razão. 
Primeiramente, cabe dizer que Kant apresenta o seguinte problema: é 
possível pensar a metafísica como ciência? Se a resposta for negativa, como 
entender a curiosidade humana por questões metafísicas? Podemos dividir a 
metafísica kantiana em duas: a da natureza, preocupada com a investigação do 
que são as coisas, e a dos costumes, ocupada das questões relativas à liberdade 
humana. As questões que apresentaremos de seu pensamento metafísico serão 
de duas principais obras: Crítica da Razão Pura e Crítica da Razão Prática. 
 
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Antes de apresentarmos algumas ideias da metafísica da natureza de Kant, 
vejamos alguns princípios gerais de seu pensamento que, de certa forma, já 
apontam as características de seu pensamento metafísico. 
A primeira questão importante é que Kant operou, como ele mesmo 
chamou, uma “revolução copernicana do pensamento”. Em suas palavras: 
Até agora, admitia-se que todo o nosso conhecimento se devia regular 
pelos objetos, mas todas as tentativas de estabelecer em torno deles 
alguma coisa a priori, por meio de conceitos, com os quais se teria 
podido ampliar nosso conhecimento, assumindo tal pressuposto, não 
conseguiram nada. Portanto, finalmente, faça-se a prova de ver se não 
seríamos mais afortunados nos problemas da metafísica, formulando 
a hipótese de que os objetos devem se regular pelo nosso 
conhecimento, o que se coaduna melhor com a desejada possibilidade 
de um conhecimento a priori, que estabeleça alguma coisa em relação 
aos objetos antes que eles nos sejam dados. 
Assim como a mudança de perspectiva adotada por Copérnico para 
observar o universo vai provocar uma profunda mudança de paradigmas, 
também a sugestão de Kant fará o mesmo no pensamento filosófico, 
principalmente no campo do conhecimento. 
 
 
Fonte: Lampada Tradam. Disponível em: 
<https://lampadatradam.wordpress.com/2014/04/04/resenhando-03-a-dimensao-galatica-da-
astrologia-de-dane-rudhyar/> Acesso em 23/05/2016. 
 
A partir dessa afirmação, Kant irá derivar variados pensamentos. Nosso 
conhecimento se divide em dois tipos: o sensível e o intelectivo. O primeiro tipo 
https://lampadatradam.wordpress.com/2014/04/04/resenhando-03-a-dimensao-galatica-da-astrologia-de-dane-rudhyar/
https://lampadatradam.wordpress.com/2014/04/04/resenhando-03-a-dimensao-galatica-da-astrologia-de-dane-rudhyar/
 
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diz respeito a como os objetos nos são dados, isto é, como os nossos sentidos 
captam as manifestações dos objetos. Segundo Kant, não captamos os objetos 
tais quais são em si, mas como se nos apresentam. A esse processo, chamou 
de intuição empírica, uma vez que se trata de uma experiência que necessita 
da matéria para poder concretizar-se. Já a intuição pura é aquela que prescinde 
da matéria. Da mesma forma, para Kant, existem apenas duas “formas” ou 
“intuições puras”: o espaço e o tempo. Isso porque, segundo ele, qualquer objeto 
que meus sentidos captem o fará num determinado tempo e espaço. 
Já o segundo tipo de conhecimento (o intelectivo) diz respeito a como o 
nosso intelecto trata esses dados captados pelos sentidos, isto é, como nosso 
intelecto os pensa. E aqui, o primordial não é a intuição, mas o conceito. A esse 
estudo, a origem dos conceitos, se dedica a lógica transcendental. E os estuda 
enquanto conceitos a priori aos objetos. O intelecto é nossa capacidade de 
julgar. Assim, para o filósofo de Königsberg2, o fundamento do conhecimento 
acerca do objeto está no sujeito que o conhece e não no objeto, como se 
acreditava até então. Da mesma forma, o conhecimento adquirido é universal e 
necessário. Porém, é fenomênico, pois diz respeito às coisas como elas 
aparecem ao sujeito que as conhece. Da mesma forma, a realidade fenomênica 
das coisas não é toda a realidade dessas mesmas coisas, pois seu âmbito total 
escapa ao nosso conhecimento. Kant distingue razão de intelecto. Enquanto o 
último diz respeito à capacidade de julgar do indivíduo, a primeira diz respeito à 
capacidade de elaborar silogismos, isto é, de pensar sobre conceitos puros e 
juízos, chegando a conclusões particulares por meio de princípios supremos e 
não condicionados. 
Segundo Kant, existem três tipos de silogismos e, por conseguinte, três 
tipos de ideias: 
 
2 Cidade natal de Kant. 
 
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21 
a. Silogismo categórico: trata-se de um determinado tipo de 
silogismo, raciocínio, do qual não resta dúvida da conclusão a que se 
chega, a partir das premissas de que se parte. Por exemplo: todo ser 
humano é mortal (premissamaior); João é ser humano (premissa 
menor); logo, João é mortal (conclusão). Se parto do princípio de que 
todo ser humano é mortal e que João é ser humano, só posso 
concluir que João é mortal. A conclusão se impõe ao meu raciocínio. 
b. Silogismo hipotético: nesse tipo de raciocínio, existe uma condição 
para, um se. Por exemplo: se eu faltar ao trabalho e não tiver algo 
que abone a minha falta, terei meu dia descontado; se eu não 
entregar uma determinada avaliação na data marcada e não tiver 
uma justificativa plausível e legalmente aceita, não obterei nota da 
respetiva avaliação, podendo inclusive reprovar. 
c. Silogismo disjuntivo: é um tipo de raciocínio que afirmo, como 
possiblidade, duas coisas oposta de algo, podendo concluir apenas 
uma delas. Por exemplo: ou Pedro é ser humano ou é imortal. Ele 
não é imortal. Logo, é ser humano. 
Enquanto para Platão as ideias transcendiam a razão, para Kant, as 
mesmas são conceitos supremos da razão e existem três tipos de ideias: 
a. Ideia psicológica: refere-se à alma. Segundo Reale, “visa encontrar 
(...) o sujeito absoluto, do qual derivam todos os fenômenos 
psíquicos”. 
b. Ideia cosmológica: é a ideia do mundo entendida como realidade 
ontológica, mais do que um conjunto de fenômenos. 
c. Ideia teológica: ou teleológica é a ideia de Deus, ente entendido 
como o modelo de todas as coisas. 
A respeito das provas da existência de Deus elaborada pela metafisica 
desde a antiguidade, existem, na realidade, apenas três: 
 
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■ A prova ontológica (elaborada por Anselmo, Descartes e Leibniz), 
que parte do princípio de que Deus é uma perfeição absoluta e, 
portanto, deve existir; 
■ A prova cosmológica, para a qual Deus é a causa de tudo; 
■ A prova físico-teológica, que chega à ideia de Deus, partindo da 
variedade e finalidade do mundo. 
Porém, Kant entende esse tipo de argumento como um erro, pois não é 
possível, segundo ele, chegar à existência de um ser, pressupondo sua 
perfeição. 
A partir desses fundamentos, podemos então apresentar mais algumas 
concepções metafísicas kantianas. Para Kant, espaço e tempo não são 
determinações ontológicas, mas modos e funções do sujeito, que estão nos 
próprios sujeitos. Enquanto o espaço diz respeito à forma do sentido externo, o 
tempo diz respeito à forma do sentido interno ao sujeito. No entanto, ambos não 
são realidades absolutas, que existem independentemente das nossas intuições 
sensíveis ou que sejam “inerentes absolutos das coisas como suas condições 
ou qualidades”. 
Quanto à Ideia, Kant retoma o sentido platônico e, posteriormente, se 
propõe a melhorá-lo. Nesse sentido, a toma como um conceito puro da razão. E 
como tal, a entendia como o objeto por excelência da metafísica. Segundo ele, 
existiam três Ideias: a Ideia psicológica – a alma; a Ideia cosmologia – o mundo 
enquanto unidade metafísica; a Ideia teológica – Deus. 
Para explorar mais este assunto, faça a leitura a seguir: 
http://pensamentoextemporaneo.com.br/?p=2270 
 
Agora, veja o que o professor Rui tem a dizer sobre este assunto 
assistindo ao vídeo que está disponível no material on-line! 
 
http://pensamentoextemporaneo.com.br/?p=2270
 
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Kant e a metafísica dos costumes 
Enquanto as leis da natureza são objetos de estudo da metafísica da 
natureza, como vimos na Unidade “Kant e a metafísica da natureza”, o dever ser 
e as leis da liberdade são objetos de ocupações da metafísica dos costumes. 
Kant tratou dessas questões em sete obras: Fundamentação da metafísica 
dos costumes (1785), Crítica da razão prática (1788), Teoria e Prática (1793), 
Paz perpétua (1795), Princípios metafísicos da doutrina do direito (1797), 
Princípios metafísicos da doutrina da virtude (1797) e O conflito das 
faculdades (1798). O filósofo de Königsberg se coloca as seguintes questões: 
quais os princípios fundamentais da metafísica dos costumes? Tais fundamentos 
têm uma realidade objetiva prática e têm decidibilidade? Em que medida tais 
fundamentos podem servir de parâmetro para legislar sobre aspectos essenciais 
do agir humano, tais como direito, política e educação? 
Na introdução da Metafísica dos Costumes, Kant apresenta os 
primeiros resultados. A metafísica dos costumes e a antropologia moral 
compõem as duas partes da filosofia prática. A primeira diz respeito à liberdade 
e, na medida em que se constitui como um sistema, também pode ser chamada 
de “antroponomia”. Da mesma forma, a mesma se divide em dois grupos: 
doutrina do direito e doutrina das virtudes ou ética. Enquanto a doutrina do 
direito, nas palavras do filósofo, diz respeito ao “aspecto formal do livre arbítrio 
a ser cerceado pelas leis da liberdade na sua relação externa”, a ética contém 
princípios metafísicos próprios, bem como “oferece ainda a matéria (um objeto 
do livre arbítrio), um fim da razão prática”. Porém, ainda que a antropologia seja, 
segundo Kant, uma teoria científica empírica e como tal se refere às ações 
práticas dos seres humanos em sociedade, os fundamentos da moral devem ser 
pensados em seu estado puro e a priori, ou seja, antes de qualquer experiência. 
Sobre a relação da metafísica dos costumes e a antropologia, diz Kant: “a 
metafísica dos costumes não pode ser fundamentada na antropologia, contudo, 
ela pode ser aplicada a esta”. Ainda sobre a relação entre ambas, Kant afirma 
que a antropologia não deve vir antes da metafísica dos costumes, “nem mistura 
 
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com ela”. Se a mesma se antecipar, corre o risco “de produzir leis morais falsas 
ou pelo menos indulgentes, que dão por inatingível o que não é alcançado 
precisamente porque a lei não é vista na sua pureza (no que consiste a sua 
força)”. Da mesma forma, quando ambas se misturam, correm o risco de fazer 
uso de “motivos impróprios ou impuros para aquilo que em si concorda com o 
dever e é bom, os quais [motivos] não fornecem quaisquer leis morais seguras”. 
Isto é, quem deve determinar os juízos do agir humano não é a pesquisa 
empírica (antropologia), mas a razão pura (metafísica dos costumes). 
E o que estuda a metafísica dos costumes? Segundo Kant, os atos do 
livre arbítrio em geral dos indivíduos. A ação livre dos indivíduos produz casos 
concretos. Porém, tais casos são apenas e tão somente referências individuais, 
particulares; não adquirem status de universalidade. O que a reflexão da 
metafísica dos costumes se indaga é: é possível determinar, a priori, os 
princípios práticos que conduzam a vontade humana? Assim, Kant entende ao 
relacionar a metafísica dos costumes à filosofia da natureza: 
Mas tal como, numa metafísica da natureza, devem existir também os 
princípios de aplicação daquelas leis fundamentais supremas 
universais, os mesmos também não devem faltar numa metafísica dos 
costumes, e nós teremos frequentemente de tomar como objeto a 
natureza particular dos homens, conhecida tão somente pela 
experiência, a fim de mostrar nela as consequências que se seguem 
dos princípios morais universais. 
Kant, porém, não entende que as leis a priori e o domínio de sua 
aplicação na metafísica dos costumes sejam iguais aos da metafísica da 
natureza. Os mesmos nãos são princípios teóricos, mas juízos derivativos da lei 
moral. Assim, o propósito da metafísica dos costumes é preestabelecer leis 
sobre a prática humana, possibilitando, assim, a resolução a priori dos conflitos 
que porventura apareçam no uso da liberdade. E, como afirma no título de uma 
de suas obras, realizar a Paz Perpétua. E aqui, Kant se refere à relação entre os 
estados nacionais, por meio de uma confederação mundial, bem como à relação 
entre os estados e seus cidadãos. 
 
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E como e onde fica a liberdade, o livre arbítrio de que o mesmo fala?Para 
Kant, ela está no respeito à lei moral. Uma vez que, seguindo a lei racionalmente 
pensada, tornar-me-ei independente em relação à dimensão fenomênica, isto é, 
não estarei submetido às leis da natureza, mas às leis da razão. Colocarei em 
prática minha capacidade de autodeterminação. Kant chamou essa condição de 
autonomia, e a submissão às leis da natureza de heteronomia. Essa forma de 
condução da própria vida não impossibilita a busca pela felicidade? Segundo 
Kant, não, uma vez que, colocando a busca pela felicidade antes do 
cumprimento do dever, limitará a mesma a fins materiais. Enquanto que, como 
afirma Reale: “agindo pelo puro dever, o homem se torna ‘digno de felicidade’”. 
E, para determinar e conduzir, a priori, a vontade, Kant estabelece 
máximas e imperativos. As máximas são princípios que têm validade apenas 
para o indivíduo e não alcançam universalidade, ainda que algumas máximas 
tenham sido utilizadas para justificar atos individuais. Por exemplo: o “costume” 
que se tinha, e ainda talvez se tenha em alguns lugares, de lavar a “honra” com 
sangue, quando um homem flagrava sua mulher em adultério. Ou, entre os 
jovens, sejam meninos ou meninas, de entrarem em agressão física porque 
alguém supostamente estava a lhe encarar. 
 
 
Fonte: Gostando de Filosofia. Disponível em: 
<http://gostandodefilosofia.blogspot.com.br/2013/08/olha-o-imperativo-categorico-ai-
gente.html> Acesso em 23/05/2016. 
 
http://gostandodefilosofia.blogspot.com.br/2013/08/olha-o-imperativo-categorico-ai-gente.html
http://gostandodefilosofia.blogspot.com.br/2013/08/olha-o-imperativo-categorico-ai-gente.html
 
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Já os imperativos são válidos para todos e são independentes da 
intervenção de fatores emotivos ou empíricos. Funcionam como mandamentos, 
regras, leis, que devem ser postos em ação, impedindo que outros fatores 
entrem em jogo para determinar a mesma. Os imperativos podem ser de dois 
tipos: hipotéticos e categóricos. No primeiro caso, é condição para alguém 
alcançar alguma coisa. Por exemplo: se você quer ter saúde, é necessário que 
se alimente corretamente, pratique esportes, vá ao médico regularmente, 
descanse o necessário, tenha bons hábitos de higiene etc. Já os imperativos 
categóricos prescindem dos efeitos, “deves e pronto”. Tratam-se de leis práticas 
que têm validade incondicional. Por que tenho que respeitar os sinais e leis de 
trânsito? Porque devo e pronto. É claro que tais normas têm (ou deveriam ter) 
uma certa racionalidade. Também as podemos não respeitar, arcando ou não 
com possíveis consequências. Porém, as mesmas são estabelecidas pensando 
na organização racional do direito de ir e vir dos cidadãos com segurança, 
eficácia e eficiência. 
Kant cita três imperativos categóricos. Três princípios fundamentam os 
mesmos: a ideia de universalidade dos mesmos; a consideração de que tanto 
você, quanto a outra pessoa sejam tomados não como meio para, mas como fins 
em si mesmos; por fim, destaca o papel da vontade na elaboração das leis: 
1. “Age de modo que a máxima de tua vontade possa valer sempre, ao 
mesmo tempo, como princípio de uma legislação universal”. 
2. “Age de modo a considerar a humanidade, tanto em tua pessoa como 
na pessoa de qualquer outro, sempre também como finalidade, e 
jamais como simples meio”. 
3. “Age de modo que a vontade, com a sua máxima, possa se 
considerar como universalmente legisladora em relação a si própria”. 
Por fim, a liberdade, a imortalidade da alma e a existência de Deus, de 
ideias simples, tornam-se postulados, isto é, pressupostos de existência. Por 
conseguinte, podemos derivar conceitos que, de outro modo, seriam impossíveis 
de serem pensados: 
 
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1. A liberdade – permite “conceber a vontade pura como causa livre”; 
2. A existência de Deus – como Ser onisciente e onipresente, torna a 
felicidade humana adequada aos seus méritos e às suas virtudes; 
3. A imortalidade da alma – para se chegar ao sumo bem, é requerida 
uma vida de santidade, que poderá concretizar-se somente num 
processo infinito. 
Faça a leitura indicada a seguir e saiba mais sobre o assunto deste tema: 
http://navarroanl.jusbrasil.com.br/artigos/171331635/emmanuel-kant-o-
imperativo-categorico-da-moral-e-o-imperativo-hipotetico-do-direito 
 
Para finalizar os estudos deste tema, acesse o material on-line e assista 
ao vídeo que está disponível para você! 
Trocando ideias 
Na metafísica dos costumes, Kant fala de máximas e de imperativos. 
Enquanto na primeira não se tem universalidade, sendo válidas apenas para o 
indivíduo que as formula, os imperativos têm, segundo ele, universalidade, tanto 
os hipotéticos, quanto os categóricos. Assim, acesse o fórum desta disciplina no 
Ambiente Virtual de Aprendizagem e debata com seus colegas a respeito do 
seguinte item: 
Os imperativos categóricos e as manifestações em redes sociais: o 
respeito ao outro em sua diversidade de ser, pensar, existir e a liberdade 
de expressão. 
Na prática 
O método cartesiano – evidência, análise, síntese e enumeração – pode 
ser aplicado às mais diferentes situações, desde a realização de tarefas 
domésticas à realização de uma prova de concurso, até mesmo como método 
investigativo científico. Tomemos, por exemplo, uma tarefa doméstica simples: 
lavar a louça. Quando observamos uma pia repleta de louças depois de um jantar 
para várias pessoas, a primeira sensação é de desespero. Porém, você pode 
http://navarroanl.jusbrasil.com.br/artigos/171331635/emmanuel-kant-o-imperativo-categorico-da-moral-e-o-imperativo-hipotetico-do-direito
http://navarroanl.jusbrasil.com.br/artigos/171331635/emmanuel-kant-o-imperativo-categorico-da-moral-e-o-imperativo-hipotetico-do-direito
 
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facilitar o trabalho, aplicando o método cartesiano na resolução desse problema. 
E o primeiro passo é acreditar que a tarefa é possível de ser realizada. O 
segundo e terceiro passos são analisar e dividir os objetos a serem lavados por 
gênero, o que pode ser feito enquanto a tarefa está sendo executada. Por fim, 
enxaguar os mesmos, mantendo a mesma divisão original para facilitar a 
próxima tarefa, verificando se não se esqueceu de lavar nenhum. 
Uma outra aplicação é, por exemplo, a realização de uma prova de 
concurso. O primeiro passo é acreditar que é possível resolver todas as 
questões, dentro do prazo previsto. Para tanto, ler previamente cada uma das 
questões, classificando-as quanto ao grau de dificuldade e/ou conhecimento que 
se tem a respeito dos conteúdos cobrados. Em seguida, responder as questões 
indo das mais simples para as mais complexas. Por fim, revisar para ter certeza 
de não ter se esquecido de responder alguma ou corrigir alguma da qual se tenha 
dúvida acerca da resposta. 
No caso de uma investigação filosófica, por exemplo, a aplicação fica 
mais evidente. Tomemos, por exemplo, a investigação de um determinado 
conceito num determinado autor: conceito de alma em Platão. O primeiro passo 
é não aceitar os conceitos dados previamente como verdadeiros, sem antes 
verificar se procedem ou não. O segundo passo, é analisar aqueles escritos em 
que tal conceito aparece, a partir de uma leitura criteriosa dos mesmos. Em 
seguida, expor as descobertas, comparando-as com as informações prévias. Por 
fim, revisar os passos para se ter certeza de que não se fez uma interpretação 
equivocada ou tenha omitido alguma informação importante. 
Síntese 
O nascimento da modernidade marca uma mudança radical em vários 
sentidos. Na filosofia, há a ruptura não somente com o pensamento antigo, mas, 
principalmente, com a mentalidade medieval, fundamentada em dogmas e 
verdades reveladas. Ainda que Descartes faça um discurso de modéstia, seu 
pensamento inaugurará uma nova fase não só no pensamento filosófico, comoCCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 
 
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também nas ciências em geral. Suas regras do método têm balizado muitas 
pesquisas científicas desde então. Da mesma forma, a revalorização do princípio 
da dúvida, que é característica central do pensamento filosófico, foi importante 
para retomar o tò thaumázein, inaugurado pelos gregos antigos, principalmente 
Platão e Aristóteles. Da dúvida ou do espanto é que nascem o desejo de 
explicação racional para as coisas; quando as explicações míticas e até mesmo 
a tradição, seja religiosa ou não, não dão mais conta de satisfazer a necessidade 
de conhecimento que o ser humano tem. 
Da mesma forma, Kant faz, como ele mesmo afirma, uma “revolução 
copernicana no pensamento”. Até então, acreditava-se que o ser humano 
deveria girar ao redor do objeto de conhecimento. Kant faz uma inversão: é o 
objeto que deve girar ao redor do sujeito que conhece. Enquanto Descartes 
propõe um método para se conhecer, Kant se pergunta se o conhecimento é 
possível. Sua resposta é que conhecemos aquilo que os objetos manifestam a 
nós, e não os objetos em si. Dessa epistemologia, funda tanto a sua metafísica 
da natureza, como deriva da mesma uma metafísica dos costumes, 
fundamentando uma ética a partir de imperativos categóricos. Seu texto 
Resposta à pergunta: o que é Esclarecimento? define muito bem o que era o 
Iluminismo, movimento cultural, político e científico que caracterizou o século 
XVIII. 
 
Para as considerações finais do professor Rui, acesse o material on-line e 
assista ao vídeo que está disponível para você! 
Referências 
ARANHA, M. L. A. Filosofando. São Paulo: Moderna, 2009. 
CHAUÍ, M. Iniciação à Filosofia. São Paulo: Ática, 2011. 
LOPARIC, Z. As duas metafísicas de Kant. Disponível em: 
<ftp://ftp.cle.unicamp.br/pub/kant-e-prints/vol.2,n.5,2003.pdf>. Acesso em 10 fev 
2016. 
ftp://ftp.cle.unicamp.br/pub/kant-e-prints/vol.2,n.5,2003.pdf
 
CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 
 
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REALE, G. História da Filosofia. São Paulo: Paulus, 2003. 
SILVA, F. L. e. Descartes. São Paulo: Moderna, 1993.

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