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Graziela Benevides | Medicina | 7º Período ESPECIALIDADES CLÍNICAS E CIRÚRGICAS CLÍNICA MÉDICA: Complicações Agudas da Diabetes Mellitus ➔ Critérios Laboratoriais para Diagnóstico de Diabetes: - Normoglicemia em jejum: menor que 100; - Pré-diabetes em jejum: maior ou igual a 100 e menor que 126; - Glicose em Jejum (diabetes estabelecido): maior ou igual a 126; • COMPLICAÇÕES AGUDAS: 1) CETOACIDOSE DIABÉTICA; 2) SÍNDROME HIPEROSMOLAR HIPERGLICÊMICA; 3) HIPOGLICEMIA; ➔ CETOACIDOSE DIABÉTICA: - Complicação mais grave associada ao Diabetes Mellitus (DM1 e DM2); - Caracteriza-se pela tríade: HIPERGLICEMIA, HIPERCETONOMIA E ACIDOSE METABÓLICA; - Principal causa de óbitos em diabéticos menores que 24 anos; - 15-67% de crianças e adolescentes com DM1; - Ocorre em 30% dos adultos; - Hemoglobina Glicada elevada é um preditor de CAD em indivíduos menores de 18 anos; - Tratamento deve ser realizado em ambiente de terapia intensiva (UTI); - Mortalidade: aproximadamente 5%. As principais causas de morte por CAD são edema cerebral, hipopotassemia, hipofosfatemia, hipoglicemia, complicações intracerebrais, trombose venosa periférica, mucormicose, rabdomiólise e pancreatite aguda; • DIAGNÓSTICO: - Hiperglicemia maior que 250; - Cetonemia ou cetonuria; - BIC menor que 15 mEq/L; - Acidose metabólica (H < 7,2) com ânion gap > 10; • FATORES DE RISCO: - Omissão de insulinoterapia; - Infecções; - Estresse agudo; - Cetoacidose prévia; - Doenças psiquiátricas; • SINAIS E SINTOMAS: - Poliuria; - Polidipsia; - Polifagia; - Vômitos; - Astenia; - Náuseas; - Dor abdominal; - Desidratação; - Respiração de Kussmaul; • FISIOPATOLOGIA: Cetoacidose diabética é precipitada por uma ausência relativa ou absoluta de insulina (insulinopenia). A resistência à insulina extrema causada pelos hormônios contrarreguladores (GH, cortisol e catecolaminas) levam ao aumento de glucagon e lipólise. A indisponibilidade da glicose e a alteração da insulina/glucagon causa gliconeogênese e glicogênese; A acidose é devido a alteração do metabolismo dos lipídeos: aumento do glucagon causando diminuição da enzima malonil coenzima A inibindo a produção de carnitina-palmitil-transferase, com a produção de energia usando como substrato lipídeos produzindo ácido aceto-acético; Outras alterações: - Produção de prostaglandinas vasodilatadoras e vasoconstritoras → hipotensão, náuseas e vômitos; - Glicemia maior que 180mg/dL → glicosúria; - Aumento das citocinas e fatores pró-coagulantes → risco para tromboembolismo; Graziela Benevides | Medicina | 7º Período • APRESENTAÇÃO CLÍNICA: 1) ANAMNESE: Quadro clínico: a sintomatologia apresenta poliuria, polidipsia e polifagia (evolução em horas a dias), além de náuseas e vômitos acompanhados ou não de dor abdominal (relacionada à gravidade da acidose e desidratação dificultando os movimentos dos folhetos do peritônio). O paciente pode apresentar: emagrecimento, desidratação, fraqueza, letargia, diminuição do nível de consciência, confusão mental e coma; Sinais de infecção sistêmica podem estar presentes, como: febre, calafrios, tosse, dispneia, disúria, urina fétida. Fatores de Risco: - Terapia inapropriada com insulina; - Processos infecciosos; - Diabetes recém-diagnosticado; - Uso de drogas hiperglicemiantes, como: glicocorticoides, altas doses de diuréticos tiazídicos, simpaticomiméticos, antipsicóticos atípicos, cocaína; OBS: Associação com o uso de inibidores do cotransportador sódio-glicose 2 (i-SGLT2) e o desenvolvimento de CAD em pacientes com DM1 e DM2; 2) EXAME FÍSICO: - Sinais de desidratação, com pele e mucosas secas e turgor diminuído; - Taquicardia; - Hipotensão; - Hipotermia; - Febre; - Respiração de Kussmaul; - Hálito cetônico; - Confusão mental; - Rebaixamento do nível de consciência; 3) ABORDAGEM DIAGNÓSTICA: - Não deve retardar a intervenção terapêutica; - A estabilização inicial do paciente (via aérea, respiração, circulação e nível de consciência) é fundamental e deve ser prioritária; - Após a estabilização, pode-se proceder com a confirmação diagnóstica e investigação de fatores precipitantes; 4) EXAMES COMPLEMENTARES: - Glicemia → geralmente maior que 250 mg/dL, mais comum entre 400-800mg/dL; - Sódio → hiponatremia (eletrólitos); - Potássio → Déficit grave de 3 a 5 mEq/kg de peso; - Ânion-gap → aumentado; - Osmolaridade sérica efetiva: geralmente menor que 320 mOsm/kg. Normal de 280 a 295; - Ureia e creatinina → aumento discreto devido ao quadro de desidratação (função renal); - Urina tipo 1 → glicosúria, cetonuria; - Hemograma → aumento dos níveis de hematócrito, leucocitose e desvio a esquerda (processo infeccioso); - Gasometria arterial: alteração clássica é de acidose metabólica com ânion gap aumentado – espera-se encontrar pH < 7,3; bicarbonato sérico menor que 15-18mEq/L; ânion-gap > 10-12; - Cetonemia: se disponíveis, a dosagem de beta- hidroxibutirato (>2mmol/L) ou reação com nitroprussiato podem revelar a presença dos cetoácidos; - Cetonúria: inicialmente pode ser negativa, pois as fitas reagem ao acetoacetato, que é a última das cetonas a positivar na urina; - Amilase e lipase: pancreatite aguda é um importante diagnóstico diferencial de CAD e pode ser um fator desencadeante; podem estar elevadas na CAD, mesmo na ausência de pancreatite; OBS: CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS: GLICEMIA MAIOR OU IGUAL A 250 mg/dL, ou valores mais baixos na cetoacidose euglicêmica; Graziela Benevides | Medicina | 7º Período Acidose metabólica com pH menor que 7,3 ou bicarbonato sérico menor que 18 mmol/L, além de cetonemia ou cetonuria; 5) DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL: - Se dá com outras causas de hiperglicemia, cetose ou acidose metabólica: Estado hiperosmolar hiperglicêmico não cetótico, jejum prolongado, cetoacidose alcoólica, pancreatite aguda, sepse grave ou choque séptico, acidose láctica, insuficiência renal crônica; 6) ACOMPANHAMENTO: a) Internação Hospitalar: após receber os primeiros cuidados em ambiente de urgência, todos os pacientes devem ser internados para tratamento da cetoacidose e monitorização hidroeletrolítica; b) UTI: obrigatória nos casos moderados a graves; c) Seguimento Ambulatorial: durante a internação hospitalar, o esquema de insulina deve ser revisto e otimizado para a alta hospitalar. Após a alta, retorno ambulatorial deve ser garantido para adequado controle glicêmico e prevenção de novas crises; 7) ABORDAGEM TERAPÊUTICA: - O tratamento inclui: reposição volêmica, correção da hiperglicemia com insulina e distúrbios eletrolíticos (principalmente hipocalemia), reversão da acidose, manejo do fator desencadeante (ex: infecção); - Critérios utilizados para definir o controle laboratorial da CAD: GLICEMIAS MENOR OU IGUAL 200mg/dL e dois dos seguintes critérios: bicarbonato sérico > ou igual a 18 mEq/L; pH > ou igual 7,3; ânion gap menor ou igual 12 mEq/L; - Transição para insulina subcutânea; ➔ SÍNDROME HIPERGLICÊMICA HIPEROSMOLAR: - Emergência médica caracterizada por descompensação metabólica grave do diabetes precipitada por algum fator de estresse (ex: trauma, infecção, entre outros). - É representada por hiperglicemia grave e desidratação profunda, tipicamente acompanhada de alteração de consciência, variando de letargia e coma; - Taxa de mortalidade em torno de 5 a 16%; - Sinais e sintomas → insidioso; - Desidratação é um fator importante na gênese do SHH – centro da sede (hipotálamo); - Secreção de insulina: baixa captação de glicose tecidos sensíveis a insulina; suficiente para o bloqueio da cetogênese; - Não há hálito cetônico nem respiração de Cantani ou Kussmaul; 1) FISIOPATOLOGIA: A condição fisiopatológica é a insulinopenia, com consequente aumento de hormônios contrarregulatórios. Ao contrário da cetoacidosediabética, não ocorre cetoacidose, porque os níveis remanescentes de insulina são suficientes para inibir lipólise e Graziela Benevides | Medicina | 7º Período cetogênese, apesar de serem insuficientes para prevenir a hiperglicemia; 2) APRESENTAÇÃO CLÍNICA: - ANAMNESE: a) Epidemiologia: É mais prevalente em diabéticos tipo 2; A mortalidade varia de 5-16%, sendo maior nos extremos de idade e na presença de hipotensão e coma; b) Quadro Clínico: Início gradual, em dias a semanas, com quadro de desidratação, acompanhado de polúria, polidipsia, náuseas, vômitos, emagrecimento, turvação visual, fraqueza; Alterações sensoriais são achados clássicos da SHH, porém o estado mental pode variar de totalmente alerta a confuso, letárgico ou comatoso; Convulsões podem ocorrer em até 20% dos pacientes; c) Fatores de Risco: - Infecção; - Omissão ou uso inadequado de insulina e outros medicamentos antidiabéticos; - Condições associadas: IAM, AVC, cirurgia, sepse, pancreatite, trauma; - Fatores que limitam a ingestão hídrica: demência, restrição ao leito, doenças psiquiátricas; - Uso de drogas hiperglicemiantes: glicocorticoides, diuréticos tiazídicos, simpaticomiméticos, antipsicóticos atípicos; - EXAME FÍSICO: Possíveis achados incluem: desidratação, taquicardia, hipotensão, hipotermia ou febre, confusão mental, rebaixamento do nível de consciência podendo evoluir para coma. Sinais neurológicos focais (hemianopsia e hemiparesia) e convulsões (focais ou generalizadas) também podem estar presentes; - Geralmente pneumonia ou infecção do trato urinário é a descontinuação ou terapia inadequada com insulina são fatores precipitantes para SHH; 3) ABORDAGEM DIAGNÓSTICA: - Não deve retardar a intervenção terapêutica, sendo assim, a estabilização inicial do paciente (via aérea, respiração, circulação e nível de consciência) é fundamental e deve ser prioritária; - Após a estabilização, pode-se proceder com a confirmação diagnóstica e investigação de fatores precipitantes; - Exames Iniciais: hemograma completo, função renal e eletrólitos, glicemia, hemoglobina glicada, gasometria arterial, lactato, osmolaridade sérica, urinálise (EAS ou urina tipo 1), proteína c-reativa, eletrocardiograma, radiografia de tórax; - Cetonemia e cetonuria podem ser solicitadas para diagnóstico diferencial com cetoacidose diabética; - Na suspeita de infecção (na presença de leucocitose): solicitar culturas (hemocultura, urocultura); - Na suspeita de síndrome coronariana aguda (a partir do ECG): solicitar marcadores de necrose miocárdica (CK-MB e troponina); Graziela Benevides | Medicina | 7º Período 4) CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS: - Hiperglicemia grave e desidratação com estado mental alterado, na ausência de acidose significativa, caracterizam o EHH; - Pacientes com EHH costumam se apresentar com glicemia maior que 600 mg/dL, pH > 7,3 e bicarbonato > 15 mEq/L; Hiperosmolaridade (efetiva > 320mOsm/L); ausência de cetose e acidose; - Tais achados diferenciam o SHH da cetoacidose diabética, no entanto, uma subpopulação de pacientes com diabetes tipo 2 pode apresentar características sobrepostas de SHH e cetoacidose diabética; 5) ABORDAGEM TERAPÊUTICA: - SHH constitui uma emergência médica tendo grande risco de óbito; - O tratamento inclui: reposição volêmica, correção da hiperglicemia com insulina, correção de distúrbios eletrolíticos (principalmente hipocalemia), manejo do fator desencadeante (ex: infecção); - A insulina NPH não é administrada após o jantar, devido ao risco de hipoglicemia durante o sono; ➔ HIPOGLICEMIA: - A hipoglicemia é a complicação aguda mais comum do tto do DM; - Os pacientes com DM1 apresentam, aproximadamente, 2 hipoglicemias sintomáticas por semana; - Causas mais comuns: tratamento com insulina e sulfonilureia; - Quanto mais rígido for o controle glicêmico, menor será a chance de complicações crônicas do diabetes, porém maior será o risco de hipoglicemia; - Síndrome clínica de diversas causas, caracterizada por sinais e sintomas resultantes da queda da concentração de glicose no sangue. - Em geral, considera-se hipoglicemia quando valores de glicose no sangue estão menor que 60- 70 mg/dL, associados a sinais e sintomas compatíveis. Em pacientes diabéticos, considera-se hipoglicemia qualquer episódio de glicose sérica diminuída (<70 mg/dL); 1) FISIOPATOLOGIA: Surge em um contexto de anormalidade nos mecanismos de homeostase da glicose no nosso organismo; A manutenção de glicose em níveis normais (mecanismos de homeostase da glicose) depende dos carboidratos ingeridos, da produção renal e hepática de glicose e dos hormônios sinalizadores: a) Insulina: reduz de forma imediata quando os níveis de glicose caem; b) Glucagon e adrenalina: aumentam de forma imediata quando os níveis de glicose caem; c) GH e cortisol: aumentam se a queda da glicose permanecer (hipoglicemia prolongada); Em diabéticos: a hipoglicemia surge como combinação de excesso relativo ou absoluto do uso de insulina (ou dos secretagogos de insulina) e do comprometimento da homeostase da glicose (frequente no DM1 e ocorre no DM2 de longa data); Graziela Benevides | Medicina | 7º Período 2) APRESENTAÇÃO CLÍNICA: - Qualquer paciente com alteração aguda do estado mental ou coma deve ser submetido a teste de glicemia capilar para avaliação de hipoglicemia como uma possível causa, principalmente, se idoso, diabético ou portador de doença grave; - Manifestações clínicas: a) Neuroglicopênicas (falta de glicose no cérebro) → irritabilidade, tontura, apreensão, fadiga, confusão, distúrbio visual, déficits neurológicos focais transitórios, torpor, convulsão, perda da consciência, coma; b) Autonômicas – são subdivididos em: mediados por catecolaminas: taquicardia, tremores e nervosismo; mediados por acetilcolina: sudorese, fome e parestesias; Atenção: em pacientes não diabéticos, a ocorrência de sintomas neuroglicopênicos evidencia uma causa hipoglicemiante subjacente, que deve ser investigada; 3) CLASSIFICAÇÃO EM PACIENTES DIABÉTICOS TRATADOS: a) HIPOGLICEMIA GRAVE: - Episódio com comprometimento neurocognitivo que necessita de outra pessoa para administrar o tratamento; b) HIPOGLICEMIA SINTOMÁTICA DOCUMENTADA: - Medição da concentração de glicose menor ou igual a 70mg/dL que coincida com sintomas simpatoadrenérgicos ou neurológicos. - O episódio é tratado pelo paciente; c) HIPOGLICEMIA ASSINTOMÁTICA: - Medição da concentração de glicose menor ou igual a 70mg/dL, mas sem sintomas concomitantes; - A ausência de sintomas pode se dever ao desconhecimento da hipoglicemia ou à insuficiência autonômica associada à hipoglicemia; d) PSEUDO-HIPOGLICEMIA: - Sintomas típicos de hipoglicemia, mas com medições da concentração de glicose > 70mg/dL. Os sintomas podem ser causados pelo reajuste do sistema contrarregulatório no contexto de mau controle glicêmico crônico; Graziela Benevides | Medicina | 7º Período 4) DIAGNÓSTICO: - Tem que apresentar os 3 critérios da tríade de Whipple: Glicemia abaixo de 70mg/dL, sintomas compatíveis com hipoglicemia e melhora dos sintomas após a administração de glicose via oral ou intravenosa; - Em idosos com hipoglicemia recorrente ou com diabetes de longa duração, já com disfunção autonômica ou insuficiência renal ou em uso de betabloqueadores, os sintomas adrenérgicos podem ser bastante discretos ou ausentes. Nesses casos, pode haver sintomas tardios apenas quando a glicemia já está muito baixa, como convulsões ou coma, implicando a possibilidade de sequelas neurológicas permanentes, como a encefalopatia hipoglicêmica. Deve-se suspeitar de hipoglicemia assintomática/oligossintomática quando a hemoglobina glicada estiver de 5-6% ou quando há episódiosde irritabilidade, sonolência ou pesadelos frequentes durante o sono. 5) ABORDAGEM DO PACIENTE COM HIPOGLICEMIA: - Episódios leves ou moderados: Ingestão de carboidratos de absorção rápida; 15g de carboidratos de absorção rápida → aumento em média de 15mg/dL; Ex: meia lata de refrigerante normal; Tablete de glicose, gel de glicose ou alimentos (sucos); Evitar alimentos gordurosos; Ensinar pacientes e familiares a reconhecer os sinais e sintomas; 6) INSUFICIÊNCIA AUTONÔMICA ASSOCIADA À HIPOGLICEMIA: - Hipoglicemias frequentes → perda da resposta autonômica; - Diminuição da liberação de catecolaminas e ativação simpática; - Hipoglicemia grave pois o paciente perde a capacidade de reconhecer os sintomas; - A melhora da frequência de episódios de hipoglicemias ajuda na recuperação deste mecanismo de defesa;
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