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RLVS – G4b T2 RODÍZIO URGÊNCIA E EMERGÊNCIA – 9° Período AULA 5 Prof.: José Francisco DIABETES MELLITUS E COMPLICAÇÕES CASO CLÍNICO: • Paciente SAB, feminino, 25 anos, 58 kg, DM1 há 15 anos em má adesão a insulinoterapia. Durante comemoração com os amigos e ingesta etílica no dia anterior apresentou dor abdominal e vômitos. Deu entrada na Santa Casa de Piumhi. E agora? o Chance de complicações microvasculares associadas devido ao tempo de diagnóstico. o Pode ser ressaca, gastroenterite, mas também CAD (complicação comum em DM1, que cursa com vômitos e dor abdominal). DIABETES MELLITUS (DM) • Doença crônica de alta prevalência associada a morbimortalidade com incapacidade funcional. o As complicações micro e macrovasculares podem comprometer a vida do paciente (limitação funcional) – por nefropatia diabética que evolui com necessidade de diálise, por amputação de membros (neuropatia em bota e luva; pé diabético). CLASSIFICAÇÃO: • Classificação baseada na etiopatogenia do diabetes, que compreende o diabetes tipo 1 (DM1), o diabetes tipo 2 (DM2), o diabetes gestacional (DMG) e os outros tipos de diabetes [defeitos na função das células ß pancreáticas - MODY (Mature Onset Diabetes of the Young), LADA - autoimune, infecções, drogas, doenças do pâncreas exócrino, endocrinopatias]. o Sepse pode gerar DM por falência beta-pancreática. o Sd. de Cushing pode levar a hiperglicemia devido ao hipercortisolismo. o Escorpionismo pode levar à falência pancreática e gerar DM. DIAGNÓSTICO: • Paciente assintomático, utilizar critério de diagnóstico de DM a GJ ≥ 126 mg/dl, a glicemia 2 horas após uma sobrecarga de 75 g de glicose ≥ 200 mg/dl ou a HbA1c ≥ 6,5%. É necessário que dois exames estejam alterados. o PRECISA DE DUAS MEDIDAS ALTERADAS (repetida no mesmo exame ou dois exames diferentes alterados). • Na presença de sintomas de hiperglicemia (poliúria, polifagia, polidipsia, perda de peso), é recomendado que o diagnóstico seja realizado por meio de glicemia ao acaso ≥ 200 mg/dl. o Poliúria ocorre devido à hiperosmolaridade – sai muita glicose, que atrai líquido. • Rastreamento para TODOS os indivíduos com 45 anos ou mais, mesmo sem fatores de risco, e para indivíduos com sobrepeso/obesidade que tenham pelo menos um fator de risco adicional para DM2. TRATAMENTO DM1 → insulina de imediato (pois há falência pancreática). • Em pacientes com DM1 iniciar o tratamento com insulina após o diagnóstico clínico, para prevenir a descompensação metabólica e a cetoacidose diabética. RLVS – G4b T2 • O esquema de tratamento intensivo com insulina basal e prandial, com múltiplas aplicações ou infusão subcutânea contínua de insulina. o NPH → 0,5 – 1 UI/kg; esquema 2/3 + 1/3 (manhã/noite). • Os análogos de insulina de ação longa para insulinização basal, por apresentarem menor variabilidade glicêmica e menor incidência de hipoglicemia noturna, em comparação com a insulina NPH. • Os análogos de ação ultralonga podem ser considerados para insulinização basal de pessoas com risco aumentado para hipoglicemia, por estarem associados à menor incidência de hipoglicemia e à maior flexibilidade. o Ex. glargina. • Insulina de ação rápida (lispro, regular) – quando precisar de correção. DM2 → TTO baseado se o paciente tem sintomas ou não, se tem DAC/complicações renais ou não. Antes de iniciar o TTO é necessário dosar a HbA1c (Hb glicada) → o nível de HbA1c determina se o TTO será iniciado em monoterapia ou com mais de 1 fármaco associado. • Os principais parâmetros de HbA1c que são estabelecidos são 7,5% e 9%. • HbA1c 9%: é preciso analisar se o paciente apresenta sintomas de hiperglicemia ou não. o Se paciente assintomático → preferencialmente utiliza-se terapia dupla (mesmo esquema utilizado em pacientes c/ HbA1c entre 7,5 e 9%). o Se paciente sintomático (polidipsia, poliúria, polifagia) → o melhor controle é obtido com a terapia baseada em insulina (basal-plus ou basal-bólus), podendo ou não usar a metformina associada. Como a DM se trata de uma doença crônica, é essencial que o paciente seja REAVALIADO periodicamente (doença crônica é sinônimo de reavaliação). Assim, 3 meses (90 dias = 12 semanas) após a instituição da terapia é necessário reavaliar o paciente. RLVS – G4b T2 • Se o paciente atingiu a meta, mantém o TTO. • Se o paciente não atingiu a meta, adiciona mais uma medicação. o Ex. se o paciente estava em monoterapia e não atingiu a meta → adiciona uma 2ª medicação. o Ex. se o paciente estava em terapia dupla e não atingiu a meta → adiciona a 3ª medicação. o Ex. se o paciente estava em terapia tripla e não atingiu a meta → adiciona uma 4ª medicação (terapia quádrupla). • Obs.: para todos os casos a partir da terapia dupla com paciente apresentando HbA1c > 9% ou qualquer paciente a partir de terapia tripla é necessário considerar a insulinoterapia p/ o paciente, pois os antidiabéticos não apresentam um potencial infinito de redução da HbA1c. CETOACIDOSE DIABÉTICA (CAD) E ESTADO HIPEROSMOLAR HIPERGLICÊMICO (EHH) Representam até 9% das internações dos pacientes com DM. DEFINIÇÃO: 1 - CAD: • Glicemia > 250 mg/dl; se jejum prolongado pode ocorrer euglicemia/ hipoglicemia o Paciente vomitando muito, sem conseguir comer, pode apresentar níveis glicêmicos normais ou diminuídos. • pH arterial 600 mg/dl o Dosagem plasmática o Na glicemia capilar pode vir HI (quando glicemia estiver > 500 mg/dl) • pH arterial > 7,3 • Osmolaridade sérica > 320 mosm / Kg OBS.: Os pacientes podem apresentar concomitantemente CAD e EHH. RLVS – G4b T2 CAD Fisiopatologia: 1- Fator precipitante – precisa de um gatilho (infecção, má adesão, estresse, álcool, drogas) a. Infecção aumenta cortisol, o qual aumenta os níveis glicêmicos b. Uso de corticoide a longo prazo pode causar hiperglicemia 2- Ausência absoluta / relativa de insulina – maior glicose plasmática, porém glicopenia intracelular (baixos níveis de glicose intracelular) 3- Aumento dos hormônios contrarreguladores (GH, catecolaminas, cortisol) – p/ tentar colocar glicose dentro da célula 4- Glucagon (gliconeogênese / glicogenólise) + Lipólise (corpos cetônicos) a. Visando geração de glicose e liberação para o plasma 5- Hiperglicemia: acima de 180 mg/dl começa a ocorrer diurese osmótica, que leva à desidratação e hiperosmolaridade 6- A lipólise leva à formação de corpos cetônicos (acetona, acetoacetato, B hidroxibutirato) que geram → acidose (diminuição do pH) 7- Aumento de prostaglandinas, substâncias vasoconstritoras (geram vasoconstrição esplâncnica), citocinas, fatores pró coagulantes gerando hipotensão, náuseas, vômitos, dor abdominal (devido à vasoconstrição esplâncnica), risco TEV *O quadro é mais esperado em pacientes com DM do tipo 1, mas tem sido cada vez mais frequente em pacientes com DM tipo 2. EHH Fisiopatologia: 1- Fator precipitante – precisa de um gatilho (infecção, má adesão ao TTO, estresse, álcool, drogas) a. Pacientes idosos, desidratados. 2- Deficiência relativa de insulina – glicopenia intracelular 3- Aumento dos hormônios contrarreguladores (GH, catecolaminas, cortisol) 4- Glucagon (gliconeogênese / glicogenólise) – quebrando glicogênio e gerando glicose a. A deficiência de insulina não é absoluta, por isso não há quebra de gordura. 5- Hiperglicemia: Diurese osmótica (desidratação importante e hiperosmolaridade com alteração hidroeletrolítica). Infecção é o fator precipitante em 30-50% dos casos de CAD e 30-60% doscasos de EHH. RLVS – G4b T2 Apenas na CAD ocorre a alteração do metabolismo lipídico com a produção de corpos cetônicos e acidose. No EHH, ao contrário da CAD, a deficiência de insulina é apenas relativa, de forma que não ocorre uma elevação tão importante do glucagon, e assim a alteração do metabolismo lipídico não ocorre com produção de cetoácidos. Entretanto, esses pacientes se apresentam com desidratação muito maior. QUADRO CLÍNICO: • Poliúria, polidipsia, polifagia • Náuseas, vômitos, dor abdominal (na CAD) • Desidratação, taquicardia, taquipneia (Respiração de Kussmaul) – na CAD, febre. o Desidratação pode levar à hipotensão → taquicardia. Taquicardia sinusal é a mais comum no paciente hipotenso. • Hálito cetônico (na CAD) *O paciente normalmente se encontra alerta, sendo as manifestações neurológicas e alterações do nível de consciência muito mais correlacionadas com a osmolaridade do que com a acidose e, portanto, muito mais prevalentes no doente com EHH em relação ao paciente com CAD. EXAMES COMPLEMENTARES: • Hemograma, PCR, glicemia, gasometria arterial (posteriormente venosa), cetonemia ou cetonúria, urina rotina, eletrólitos (Na, Cl, K, fósforo), ureia, creatinina, ECG, Rx de tórax o Eletrólitos são importantes para o cálculo do anion gap. o Fósforo – em pacientes com IR e o No idoso, uma das manifestações de IAM pode ser a hiperglicemia (devido ao estresse metabólico). o ECG – rastreio de isquemia coronariana como fator precipitante p/ CAD; avaliação de complicações da hipercalemia ou de outros DHE. o RX de tórax p/ descartar contexto infeccioso (pneumonia). • Leucocitose secundária ao estresse metabólico. Atentar se leucócitos > 25.000 cels / mm3, pois fala a favor de contexto infeccioso. Pode ocorrer aumento de HT / HB e função renal (devido à desidratação) • Cálculo da osmolaridade efetiva: 2 x (Na corrigido) + Glicemia / 18 (> 320 mosm / Kg indica hiperosmolaridade) o Hiperosmoralidade fala a favor de desidratação do paciente hiperglicêmico o Na corrigido: Na medido + 1,6 x [(glicemia medida -100)/100] • Ânion GAP: Na – (Cl + HCO3). o VR: 8-12 o PROVA – SABER CALCULAR o Cátion - ânions o Importante p/ avaliar gravidade e critério p/ desligar a bomba de insulina. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL: RLVS – G4b T2 • Cetoacidose alcoólica (histórico de abuso alcoólico, não tem histórico de DM). • Cetose diabética (glicemia elevada, mas sem acidose associada). o Às vezes nem precisa administrar insulina EV, pois SC já resolve • Hipoglicemia • CAD x EHH *Euglicemia pode ocorrer em pacientes em jejum prolongado, CLASSIFICAÇÃO DA CAD: Feita com base no pH, no AG, bicarbonato (o que estiver pior). RLVS – G4b T2 *Considera o pior parâmetro. TRATAMENTO: • Hidratação (Inicial, estabilização hemodinâmica) o Expansão: 1000 a 1500 ml (15 a 20 ml/Kg) NaCl 0,9% EV – 1 hora. Segunda fase 250 a 500 ml/h (4 ml/Kg); o tipo de solução dependerá do sódio – Na 135 (NaCl 0,45%). ▪ Pode usar RL também. o Quando glicemia atingir 250 – 300 mg/dl → hidratação SG 5% + NaCl 0,45% (1 litro de SG 5% + 20 ml NaCl 20%) EV 250-500 ml/h. • Insulinoterapia (atentar ao K 70 mg/dl/h → reduz pela metade a taxa de infusão. o Desligar a bomba quando 2 dos 3 critérios presentes: ▪ PH > 7,3 ▪ AG ≤ 12 ▪ HCO3 ≥ 15 o Desligar a bomba, esperar 1 hora da primeira dose da insulina regular SC e posterior SC de acordo com glicemia capilar de 4/4 horas. ▪ 200-250 – 4 UI ▪ 250-300 – 6 UI ▪ 300-350 – 8 UI ▪ Acima de 350 – 8 ou 10 UI o Após, insulina NPH SC 0,6 U/Kg (2/3 e 1/3). Se hipocalemia, corrige primeiro potássio e depois administra insulina. Insulina tem efeito polarizante, se houver hipocalemia e administrar insulina pode precipitar arritmia. NÃO OFERTAR INSULINA ENQUANTO NÃO TIVER DOSAGEM DE POTÁSSIO. RLVS – G4b T2 *****Medir glicemia a cada hora e AG a cada 2h. • Reposição de potássio: o K 5 mEq/l – pode fazer insulina e acompanhar • Reposição de bicarbonato: o pHCOMPLICAÇÕES MICROVASCULARES DO DM: • Retinopatia diabética • Neuropatia diabética • Nefropatia diabética Retinopatia diabética – RD: Uma das principais causas de cegueira. Classificação: 1- RD não proliferativa – isquemia de vasos retinianos (exsudatos duros, algodonosos) 2- RD proliferativa – formação de neovasos, comum hemorragias vítreas associadas, isquemia crônica 3- Mácula diabética – comprometimento da macula; causa cegueira Fatores de risco: controle glicêmico inadequado, HAS, tempo de DM (> 10 anos), insulinoterapia, nefropatia, gravidez (progesterona e cortisol – alteração hormonal), dislipidemia, puberdade (alteração hormonal) RLVS – G4b T2 ➔ RD não proliferativa (+ comum): microaneurismas, exsudato duro (extravasamento de conteúdo intravascular, proteínas). Evolução para hemorragias intrarretinianas (vela) e isquemia (manchas algodonosas). Veias em rosário (vv. dilatadas, tortuosas) ➔ RD proliferativa: angiogênese associada - descolamento de retina e hemorragia vítrea ➔ Maculopatia diabética: edema macular reversível - perda da visão Triagem: Fundo de olho em DM1 5 anos após o diagnóstico; DM2 no momento do diagnóstico (anualmente sem retinopatia e semestralmente em retinopatia) Tratamento: controle fatores de risco. • RD não proliferativa: seguimento. • RD proliferativa / Maculopatia diabética: fotocoagulação a laser (p/ queimar os neovasos). Considerar anticorpos monoclonais anti-VEGF (bevacizumab, ranibizumab) o Anti-VEGF – impede o crescimento de novos vasos • Vitrectomia: hemorragia vítrea RLVS – G4b T2 Neuropatia diabética: Fatores de risco: idade, duração do DM, genética, inflamação e estresse oxidativo Fisiopatologia: efeito metabólico (hiperglicemia, glicação não enzimática – não utilização da glicemia, gera inflamação ao redor com estresse oxidativo) – acúmulo de sorbitol nos axônios, gerando edema, progredindo com isquemia endoneural. Classificação: • Polineuropatia simétrica distal: lesão fibras A (sensibilidade vibratória e propioceptiva) e fibras C (sensibilidade térmica, dolorosa e tátil). Cursa com parestesias, hiperalgesia, alodínea. Teste de monofilamento. Tratamento: cuidados com o pé, antidepressivos tricíclicos (nortriptilina, amitriptilina), ISRSN, anticonvulsivantes (topiramato, gabapentina), creme de capsaicina, ácido alfalipóico, opioides (tramadol, codeína). o Triciclicos e ISRSN – são moduladores de dor crônica. • Polineuropatia sensitiva aguda: início agudo, devido mau controle metabólico, após melhora brusca no controle. Dor importante em agulhada, exarcebação noturna • Neuropatia autonômica: o Disautonomia cardiovascular: hipotensão postural (TTO: levantar-se devagar, elevar cabeceira, cruzar as pernas ao levantar, ingestão sal, fludrocortisona); SPOT (TTO: atenolol) o Disautonomia gastrointestinal: gastroparesia e enteropatia diabética (TTO: com procinéticos - metoclopramida, bromoprida, eritromicina) o Disautonomia geniturinária: bexiga neurogênica (parecido com incontinência urinária), disfunção erétil (TTO: tadalafila, sildenafila, papaverina peniana, prótese), dispareunia, ejaculação retrograda o Disautonomia periférica: edema, hiperidrose (aumento de transpiração ou ressecamento cutâneo). Nefropatia diabética: • Acometimento glomerular (glomeruloesclerose difusa ou focal). • Diagnóstico: EAS, microalbuminúria (30 a 300 mg albumina), proteinúria de 24 horas (> 3,5 g/24 horas), relação albumina/creatinina urinária (> 30 mcg/mg) RLVS – G4b T2 • Fisiopatologia: Hipertrofia e hiperfiltração renal (aumento do rim) → espessamento da membrana basal e expansão mesangial → microalbuminúria, → nefropatia → proteinúria franca – síndrome nefrótica → insuficiência renal- síndrome urêmica • Rastreio: relação albumina/creatinina urinária anual. DM1 após 5 anos do diagnóstico e DM2 no momento do diagnóstico. • Tratamento: o Controle glicêmico rígido / dislipidêmico o Controle da HAS – manter PA 250 mg/dl, pH arterial 12 (AG = 19). o 1000 a 1500 ml NaCl 0,9% EV em 1h; depois fazer 250-500ml/h. o Como K está 3,3, iniciar a administração de insulina regular 0,1 UI/kg EV em bólus. Depois manter 0,1UI/kg/h EV em bomba de infusão contínua (sendo 1 UI de insulina/ml de SF 0,9%). o Se queda 70 mg/dl/h, diminuir a taxa de infusão pela metade. o Quando glicemia atingir 250 – 300 mg/dl → hidratação SG 5% + NaCl 0,45% (1 litro de SG 5% + 20 ml NaCl 20%) EV 250-500 ml/h o Como o pH não está