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TCC LAZARA AMANDA EM 10 DE ABRIL

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55
UNIVERSIDADE FEDERAL DE JATAÍ
UNIDADE ACADÊMICA ESPECIAL DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
CURSO DE DIREITO
LÁZARA AMANDA RODRIGUES OLIVEIRA
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA EM TEMPOS DE PANDEMIA
Jataí- Goiás
2021
LÁZARA AMANDA RODRIGUES OLIVEIRA
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA EM TEMPOS DE PANDEMIA
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Unidade Acadêmica Especial de Ciências Sociais da Universidade Federal de Goiás, Regional Jataí, como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito.
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Helga Maria Martins de Paula.
Jataí - Goiás
2021
LÁZARA AMANDA RODRIGUES OLIVEIRA
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA EM TEMPOS DE PANDEMIA
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Unidade Acadêmica Especial de Ciências Sociais da Universidade Federal de Goiás, Regional Jataí, como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito.
Aprovado em: _____ de _______________ de __________.
BANCA EXAMINADORA
________________________________________
Prof.ª Draª Helga Maria Martins de Paula
Orientadora
_______________________________________
Prof. ª Carla Benitez Martins
Membro interno
________________________________________
Nathália Silva Bento
Membro externo
Dedico este trabalho aos meus pais, meus amigos e minha família, por terem me dado todo o apoio e suporte necessário para que eu chegasse até aqui.
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus pela saúde, oportunidade, privilégio, sustentação e por todas as bênçãos concebidas para que eu chegasse até aqui, sem Ele nada seria possível.
A minha orientadora Profª Draª Helga Martins de Paula, por toda atenção, paciência, incentivo e auxilio, por não me deixar desistir e não ter desistido de mim, por todos os encontros e conhecimentos partilhados. 
Aos meus pais Deila e Regton, que foram essenciais em minha formação, que me ensinaram tudo de melhor e sempre me incentivaram a jamais desistir dos meus sonhos e nunca me deixaram desistir, sendo minha principal base, fizeram o possível e o impossível por mim e foram o meu porto seguro nos momentos de desespero, cansaço e dúvida. 
A minha família, que sempre esteve ao meu lado.
Aos meus amigos, que todo esse tempo estiveram comigo, que me deram suporte, colo para chorar e sempre acreditaram em mim, que perdoaram as minhas faltas e ausência e compreenderam o meu caminho, obrigada por todo apoio.
A minha amiga e irmã Lisandra, que durante toda essa jornada foi meu suporte, minha paz, o maior presente que a faculdade me deu foi estar junto com você durante todos esses anos. Agradeço por toda amizade, companheirismo e parceria, por sempre estar comigo, por todos os momentos difíceis e por todos os momentos felizes, por caminharmos juntas e crescermos juntas, por me incentivar tanto e não me deixar desistir nunca, você é parte dessa conquista.
A todos que direta ou indiretamente fizeram parte da minha formação pessoal e profissional, a minha eterna gratidão!
OLIVEIRA, Lázara Amanda Rodrigues. Violência doméstica em tempos de pandemia. 2021. 53 f. Trabalho de Conclusão de Curso. (Graduação em Direito) – Universidade Federal de Goiás/Regional Jataí, 2020.
RESUMO
O presente trabalho teve como objetivo abordar um dos maiores problemas sociais existentes, a violência doméstica contra a mulher, e relatar também a sua relação histórica e estrutural decorrente de uma cultura patriarcal e machista. Tem por objetivo também conceituar e contextualizar uma breve abordagem sobre a questão de gênero, a cultura patriarcal e estrutural existente, o movimento feminista no Brasil e suas conquistas, retratar sobre a Lei Maria da Penha, seu contexto histórico e seus efeitos, os tipos de violência existentes e sobre a violência doméstica em tempo de pandemia. 
A origem da violência doméstica vem de um sistema de dominação-subordinação, a qual tem determinado as funções de cada sexo em sociedade, partindo de representações e comportamentos pautados ao longo do tempo em discursos essencialistas. Dentro de um modelo social implicou-se violações de direitos, impondo às mulheres a condição de inferioridade com relação aos homens, sendo imposta principalmente por meio de vários tipos de violência, vindo desde a subjugação física e sexual até a efetivação da morte, que é o feminicídio. Tentando minimizar a violência contra as mulheres criou-se a Lei do Maria da Penha, que estabelece que todo o caso de violência doméstica e intrafamiliar é crime, tipifica situações de violência doméstica.
Essa questão não tem sido diferente em tempos de pandemia, principal ponto a ser abordado, mulheres do mundo inteiro se encontram mais vulneráveis em razão do isolamento social imposto pelos governos, isolamento esse que as deixam presas com seus agressores e dificulta as formas de denuncia, nessa perspectiva vivenciamos um aumento nos índices nesse período. Ao longo de décadas as mulheres passam por diversas lutas, onde se busca dignidade, valorização e igualdade, esse trabalho tem o objetivo de demonstrar lutas e conquistas vivenciadas até aqui e retratar sobre a principal luta do momento, a violência doméstica em tempos de pandemia.
Palavras-chave: Violência. Mulher. Lei Maria da Penha. 
 
OLIVEIRA, Lázara Amanda Rodrigues. Violência doméstica em tempos de pandemia. 2021. 53 f. Trabalho de Conclusão de Curso. (Graduação em Direito) – Universidade Federal de Goiás/Regional Jataí, 2020.
ABSTRACT
The present work aimed to address one of the biggest social problems in existence, domestic violence against women, and also to report its historical and structural relationship resulting from a patriarchal and sexist culture. It also aims to conceptualize and contextualize a brief approach on the issue of gender, the existing patriarchal and structural culture, the feminist movement in Brazil and its conquests, portraying the Maria da Penha Law, its historical context and its effects, the types of existing violence and domestic violence in pandemic times.
The origin of domestic violence comes from a system of domination-subordination, which has determined the functions of each sex in society, based on representations and behaviors based on essentialist discourses over time. Within a social model, violations of rights have been implicated, imposing the condition of inferiority in relation to men, being imposed mainly through various types of violence, ranging from physical and sexual subjugation to the actualization of death, which is femicide. Trying to minimize violence against women, the Maria da Penha Law was created, which establishes that any case of domestic and intrafamily violence is a crime, typifies situations of domestic violence.
This issue has not been different in times of pandemic, the main point to be addressed, women from all over the world are more vulnerable due to the social isolation imposed by governments, isolation that leaves them trapped with their aggressors and makes it difficult to denounce, in this perspective, we experienced an increase in the indexes in this period. Over decades, women go through several struggles, where dignity, valorization and equality are sought, this work aims to demonstrate struggles and achievements experienced so far and portray about the main struggle of the moment, domestic violence in times of pandemic.
Keywords: Violence. Women. Maria da Penha Law.
LISTA DE TABELA
	Tabela 1 -  População de 10 anos ou mais de idade que foi vítima de agressão física, por sexo e raça/cor do agredido, Brasil, 2009.............................
	22
	Tabela 2 - Número e porcentagem da população agredida por pessoa desconhecida, segundo região e sexo da vítima, Brasil, 2013.............
	
22
	Tabela 3 - Número e porcentagem da população agredida por pessoa conhecida, segundo região e sexo, Brasil, 2013.......................................................
	
23
	Tabela 4 - Entrevistados que afirmaram terem sido vítimas de pelo menos uma ameaça ou agressão, por sexo, raça/cor e faixa etária, nos últimos dozemeses, 2010 a 2012 (em %)...................................................................
	
23
	
	
	
	
SUMÁRIO
LISTA DE TABELA	8
INTRODUÇÃO	10
1 GÊNERO, PATRIARCADO, VIOLÊNCIA E A IMPORTÂNCIA DA LUTA DAS MULHERES NA CONSTRUÇÃO DE DIREITOS	11
1.1 VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER E SEUS DESDOBRAMENTOS: UMA PRIMEIRA APROXIMAÇÃO	17
1.2	POR QUE EXISTIR UMA LEI ESPECÍFICA PARA MULHERES?	20
1.3 CONSEQUÊNCIAS NA VIDA DAS MULHERES QUE SOFREM VIOLÊNCIA	30
2 A ORIGEM DA LEI MARIA DA PENHA	35
2.1	ENTENDENDO A LEI	38
2.1.1 Como a lei puni o agressor e resguarda a vítima	42
3	VIOLÊNCIA DOMESTICA EM TEMPOS DE PANDEMIA	44
3.1 MEDIDAS DE ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA DOMÉSTICA ADOTADAS PELO BRASIL EM TEMPOS DE PANDEMIA	47
3.2 CASOS EM GOIÁS	49
CONSIDERAÇÕES FINAIS	51
REFERENCIAS	53
INTRODUÇÃO
No presente trabalho buscou-se analisar como tem sido o enfrentamento da violência contra mulher em tempos de pandemia, pois como se tem conhecimento, esta tem atingido mulheres no mundo inteiro. Observa-se que a violência contra mulher está enraizada dentro de uma tradição cultural, na organização social, nas estruturas econômicas e nas junções de poder, e revela as desigualdades socioculturais que existem entre homens e mulheres construídos ao longo da história, na qual foi criada uma relação pautada na desigualdade, na discriminação, na subordinação e no abuso de poder.
A mulher tem sofrido de violência desde o início dos tempos, dentro de um sistema
de dominação-subordinação que determina os papéis de cada sexo em sociedade, partindo de subjetividades, representações, comportamentos, os quais precisam ser obedecidos e
que se alicerçaram, por muito tempo, em discursos essencialistas. 
Desta forma, restava as mulheres apenas a obediência em nome de um suposto equilíbrio familiar e social, que estavam internalizados e reproduzidos pelas próprias mulheres. Os óbitos de mulheres por questões de gênero, sucedida aos diferentes contextos sociais e políticos, nomeadas de feminicídio, encontram-se presentes em todas as sociedades e são oriundas de uma cultura de dominação e desequilíbrio de poder existente entre os gêneros masculino e o feminino, que, por sua vez, produz a inferiorização da condição feminina, redundando em violência extremada com a qual se ceifa a vida de muitas mulheres.
O trabalho foi divido em três capítulos, sendo que o primeiro buscou-se falar um pouco sobre a história que envolve os direitos da mulher. No segundo fez um breve apanhado sobre a Lei da Maria da Penha e por fim no terceiro procurou-se demonstrar um pouco sobre a violência doméstica em tempos de Pandemia. 
1 GÊNERO, PATRIARCADO, VIOLÊNCIA E A IMPORTÂNCIA DA LUTA DAS MULHERES NA CONSTRUÇÃO DE DIREITOS
O presente trabalho teve por objetivo relatar a luta das mulheres contra a violência doméstica, mencionar o seu contexto histórico e os principais passos dessa luta até uma de suas principais conquistas – a Lei Maria da Penha. Discorrer sobre os ciclos e tipos de violência, enfatizar sobre como é importante essa luta histórica e o quanto as mulheres sofrem por conta do patriarcado e do machismo instaurado na nossa sociedade há séculos. Também trazer a atualidade do debate da temática neste momento no qual nos encontramos em meio a uma pandemia e os desdobramentos da crise profunda para as mulheres.
Faz-se necessário trazer algumas categorias que servem de base para a análise, como, por exemplo, a chave de leitura gênero/violência/patriarcado e sua importância para a identificação do reconhecimento da luta e da conquista histórica das mulheres referente a uma legislação especifica para tratar de violência contra as mulheres. 
Violência de gênero é conceito mais amplo, abrangendo vítimas como mulheres, crianças e adolescentes de ambos os sexos. É importante trazer a definição de gênero para que haja essa diferenciação entre os tipos de violência que acontecem no nosso dia a dia.
O termo gênero é bastante complexo, e já foi definido e redefinido diversas vezes, ele abrange as características psicológicas, sociais e culturais que são fortemente associadas com as categorias biológicas de homens e mulheres (PRAUN, 2011).
De acordo com Scott (1995), a utilização da palavra gênero está, igualmente, para além da questão biológica. Sendo uma maneira de se referir as origens exclusivamente sociais das identidades subjetivas dos homens e das mulheres, o uso de gênero dá ênfase a todo um sistema de relações que pode incluir o sexo, mas ele não é diretamente determinado por ele, nem determina diretamente a sexualidade. 
Mas, pessoas podem se identificar com gêneros diferentes daqueles biológicos aos quais lhes foram atribuídos no momento de seu nascimento, o que é conhecido como identidade de gênero. Porém, o sexo é definido pelas características biológicas congênitas que diferenciam homens e mulheres, e a sexualidade corresponde a como o indivíduo pode, ou não, ser atraído de maneira sexual, e interpessoal pelos gêneros (SCOTT, 1995).
Da mesma forma, a violência de gênero abarca a violência doméstica e a violência contra a mulher, que é cometida por familiares, companheiros ou ex-companheiros que vivam ou não no mesmo ambiente.
A definição de violência doméstica contra a mulher deve ser entendida como uma relação de poder de dominação do homem e de submissão da mulher. Ela demonstra que os papéis impostos às mulheres e aos homens, consolidados ao longo da história e reforçado pelo patriarcado e sua ideologia, induzem relações violentas entre os sexos e indica que a prática desse tipo de violência não é fruto da natureza, mas sim do processo de socialização das pessoas. Ou seja, não é a natureza a responsável pelos padrões e limites sociais que determinam comportamentos agressivos aos homens e dóceis submissos as mulheres. Os costumes, a educação e os meios de comunicação tratam de criar e preservar estereótipos que reforçam a ideia de que o sexo masculino tem o poder de controlar os desejos, as opiniões e a liberdade de ir vir das mulheres. No mundo, a violência contra a mulher acontece por uma questão estrutural, onde existe uma relação de domínio, repressão e discriminação do homem sobre a mulher e a mulher se encontra em estado de vulnerabilidade decorrente desse contexto histórico. 
De acordo com Bandeira (2009) a violência doméstica contra a mulher se encontra enraizada em uma cultura sexista, machista, que permanece infiltrada na nossa sociedade, permeada sobre as estruturas sociais mais amplas, passando de geração para geração e atingindo mulheres do mundo inteiro, em todas as idades, raça, etnia e classe social. 
Por este motivo é importante fazer um recorte histórico para relembrar que todo esse contexto no qual vivemos da maneira como a mulher é tratada e de certa forma anulada.
Conforme relata Salvatti (2016, p. 01) 
Na época do Brasil Colônia entre 1500 e 1822, as mulheres eram tratadas como propriedade de seus pais, maridos, irmão ou quaisquer que fossem os chefes de família, as primeiras lutas das mulheres eram direcionadas à liberdade de expressão, direito a vida política, educação, ao acesso ao mercado de trabalho. Já entre os anos de 1822 a 1889, a primeira conquista das mulheres foi o direito a educação. No mercado de trabalho algumas mudanças começam a ocorrer em meados de 1907 e 1917 com as greves realizadas. No início do século XX é fundada a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, onde os principais objetivos eram a batalha pelo voto e livre acesso das mulheres ao campo de trabalho. Em 1928 é autorizado o primeiro voto feminino (Celina Guimarães Viana, Mossoró-RN), no mesmo ano em que é eleita a primeira prefeita no país (Alzira Soriano de Souza-RN), porém ambos atos foram anulados pois abriram um grande precedente para a discussão sobre o direito à cidadania das mulheres. O direito ao voto e a candidatura das mulheres só se tornou plena na Constituição de 1946, a primeira deputada federal eleita foi Carlota Pereira de Queiróz. Entre os dois períodos ditatoriais o movimento feminista perdeu muitaforça, mas algumas conquistas ainda aconteceram. Já a partir da década de 60 as questões levantadas pelo movimento necessitam de melhoramento até os dias de hoje, como o acesso a métodos contraceptivos, equiparação salarial, apoio em casos de assédio e a proteção a mulher contra a violência doméstica. 
A violência nas relações entre homem e mulher revela muito sobre a presença de relações de subordinação e de dominação, isso tudo devido a um contexto histórico que instaurou uma cultura totalmente patriarcal, deixando marcas difíceis de reparar como essa. Uma sociedade no qual muitos acreditam que a violência acontece por merecimento da mulher, revelando-se uma cultura machista, na qual foi-se tendo a mulher como frágil e dependente do homem (BANDEIRA, 2009).
O combate a violência doméstica contra a mulher é um grande marco na história de lutas e da reivindicação de tantas mulheres, que, inconformadas com a disseminação de violência e com as práticas de controle opressivas, sendo vítimas, como também presenciando outras mulheres sendo vítimas. A resistência feminista acarretou grandes mudanças nos processos legislativos, institucionais e jurídicos, um dos seus frutos é a lei Maria da Penha, lei essa que tem grande impacto na luta contra a violência doméstica. (BANDEIRA, 2009).
Há algumas décadas, o Estado interferia de forma bem sútil nas relações privadas no âmbito doméstico, mesmo que nele ocorresse violência, seja ela física ou psicológica, em que as mulheres eram colocadas como submissas aos homens e, a partir dessa submissão, os homens se sentiam no direito de agredi-las. Ainda hoje, muitos homens se sentem nesse direito, pois, por mais que já se tenha um avanço legislativo e no processo de conscientização sobre as determinantes da violência patriarcal em nossa sociabilidade, ainda é grande a quantidade de casos em que acontece esse tipo de violência (BANDEIRA, 2009).
Conforme Bandeira (2009) coloca a lógica utilizada para que o Estado permaneça “neutro” nessas relações, é que a ideia de interferir na vida privada e na intimidade das pessoas não seria parte da função judicial, mantendo uma racionalidade “familista”, em que queriam “preservar” a harmonia familiar. Família também definida historicamente como reforçadora da propriedade privada e dos papeis impostos pela divisão sexual e social do trabalho entre mulheres e homens, com o controle, inclusive dos corpos e desejos que restam submetidos a uma lógica heteronormativa, patriarcal, eurocêntrica e individualista. 
Ressalta-se que, a cultura machista também deixou uma percepção social de que a diferença entre os gêneros alia a razão ao masculino e a fragilidade ao feminino (binarismo de gênero), reforçando vários aspectos que neutralizam a violência contra as mulheres, que, nesta percepção, deveria ser submissa ao homem. Porém, esse pensamento vem sendo enfraquecido em virtude de significativas mudanças na compreensão dos papeis sociais das mulheres, que atualmente estão no mercado de trabalho e no campo político, rompendo estigmas e conquistando espaço na sociedade. (CAMPOS, 2010).
 Na sociedade patriarcal hegemônica tem se uma família na qual o pai (homem), é o eixo e todos os demais são submissos a ele, assim os meninos crescem com a ideia de que se tornarão os “chefes” de suas famílias, e as mulheres suas submissas, sem expressão e sem poder para manifestarem suas vontades, tendo assim uma vida de submissão, primeiro aos seus pais e depois aos seus companheiros (CAMPOS, 2010). 
A partir desse contexto percebe-se que não existia e ainda não existe igualdade entre homens e mulheres, mas o problema é ainda maior. A própria constituição federal preza pela igualdade de homens e mulheres, porém essa igualdade é apenas formal. O princípio constitucional da igualdade pressupõe que as pessoas colocadas em situações diferentes sejam tratadas de forma desigual.  Importante ressaltar também que toda essa desigualdade construída acaba influenciando na criação e educação de crianças.
Para Romani (1982, p. 67), 
O processo de socialização que leva à internalizarão dos espaços que circunscrevem o masculino e o feminino tem início na infância onde, como diz Simone de Beauvoir2, os meninos tornam-se crianças e as meninas mulherzinhas. De fato, a entrada do menino no mundo adulto, onde desempenhará atividades no âmbito doméstico, tem fronteiras bem mais demarcadas do que a entrada da menina. Esta desde pequena, aprende a ser o que "será" quando crescer, aprende a ser mulherzinha, a fazer comidinha, a trocar a fralda da boneca e é, de fato requisitada a ajudar a mãe nestas tarefas, a diferença do menino. Os brinquedos infantis expressam claramente as esferas assignadas a cada sexo. Fogões, vassouras e panelinhas se opõem a carros, aviões, pipas, revolveres.
A educação recebida durante a infância influencia muito na forma em como o homem vai lidar com a mulher e vice-versa, pois é nela que são construídos os papéis sociais dos indivíduos e a forma de lidar com certas situações. É muito comum ver que o homem é ensinado a ser forte, a não chorar, a ser valente e a menina é ensinada a ser delicada, sensível, frágil e dependente (ROMANI, 1982).
Esses papeis sociais/desigualdades desencadeiam violências, dentre elas a violência contra a mulher e a violência de gênero, pois eles contribuem para que homens e mulheres reproduzam aquilo que foram ensinados.
A mulher sempre foi vista como submissão dentro de uma sociedade patriarcal, isso vem desde a antiguidade, em que a elas eram dados poucos direitos e seus deveres eram estar sempre ao lado do seu protetor que poderia ser o pai, o irmão ou marido. A mulher era portadora da honra e caso fosse desonrada, mesmo que estuprada, poderia ser morta para preservar a posição social de seu suposto protetor, uma violência absurda e discriminatória que, infelizmente, ainda persiste em algumas partes do mundo (ROMANI, 1982)
Assim, dentro da sociedade a morte de mulheres por ciúmes, traição ou qualquer outra forma de rejeição à relação recebiam o nome de crimes passionais, crimes cruéis, muitas vezes, aceitos pela sociedade como legítima defesa da honra. Ao homem ficava estipulado o papel de bom, trabalhador, que em determinado momento poderia ficar nervoso estressado ou mesmo por ter sido traído, rejeitado, contrariado ou por não aceitar uma separação ou padrão diverso de comportamento da mulher cometia o crime, neste contexto, nem era punido pelo Estado ou tinha uma pena mais branda, como se a vítima fosse o homem e a mulher a culpada por todo contexto do desfecho violento, uma violação imensurável dos direitos humanos, da dignidade da pessoa humana, ferindo o art. 5° da Constituição Brasileira - direito a vida, a liberdade e a igualdade.
Assim é necessário tratar sobre a complexidade e a relevância da luta contra a violência doméstica, sobre a significante quantidade de mulheres que acabam perdendo suas vidas, mulheres que entram no ciclo da violência, e não conseguem sair por ser este ciclo vicioso. Para amparar as mulheres que sofreram violência doméstica, o Estado deu vários passos importantes para o arcabouço de políticas públicas de combate à violência e às opressões (BANDEIRA, 2009). 
Conforme bem aduz a autora, a luta contra a violência doméstica começou há algum tempo, quando um grupo de mulheres decidiu de forma organizada a não aceitar mais a violência neutralizada nos espaços privados, portanto, em busca de uma maneira de se proteger e para que hoje se tenha tantos avanços e lei específica, se fez necessário que a violência contra a mulher rompesse a barreira do silêncio e da invisibilidade consentida da sociedade patriarcal, por meio das vozes de várias mulheres que foram vítimas da violência, e em casos mais graves muitas delas até perderam a vida (BANDEIRA, 2009).
Na década de 1980 inúmeras campanhas lideradas pelo movimento feminista trouxeram ao público a trágica situação de milhares de mulheres mortas em nome da “honra”, da “submissão” e do “amor” por seus maridos e companheiros. As mulheres foram às ruasreivindicar com o slogan “quem ama não mata” e “denuncie a violência contra a mulher”, pedindo para que não ocorresse a absolvição de maridos que matassem suas esposas, alegando “legitima defesa da honra” (BANDEIRA, 2009, p. 412).
O movimento feminista promoveu lutas constantes acerca de direitos sociais e políticos, quando um pequeno grupo de mulheres resolveu mostrar a sua insatisfação com tudo o que ocorria na época, e começaram a lutar por igualdade, pedindo pelo fim da dominação masculina (SILVA, Teresa Cristina; MATA, Luana da; SILVA, Vânia Nascimento). No Brasil, a luta ganhou intensidade e visibilidade no século XX, quando se iniciou a luta pelo direito ao voto, esse direito só foi garantido em 1932. Essa conquista representou um grande avanço nas lutas feministas. (SAPORETI, 1985).	Comment by Helga: Corrigir a referência. Apenas o sobrenome e o ano da obra
Para melhor entender como foi essa evolução, uma linha do tempo será exposta agora mostrando os avanços mais importantes da luta contra a violência de gênero extraídos da cartilha: “Lei Maria da Penha: do papel para a vida”
Nos anos 80 teve-se um avanço significativo com a criação do SOS Mulher, o qual foi criado especialmente para atender mulheres vítimas de violência doméstica. Este foi criado e mantido por mulheres, sendo iniciado nas cidades de São Paulo, Campinas, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Em 1984 o Brasil teve a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher – CEDAW, assinado, esta foi aprovada pela ONU em 1979. A Convenção foi o primeiro instrumento internacional de direitos humanos voltados totalmente para as mulheres. Seu objetivo foi de promover igualdades entre os gêneros e não discriminação de mulheres.
Em 1980, um dos principais avanços alcançado foi a criação do SOS mulher, criado especificamente para atender mulheres vítimas de violência doméstica. Servido idealizado e mantido por mulheres, e deu início nas cidades de São Paulo, Campinas, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.
Em 1984 o Brasil assinou a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher (CEDAW), aprovada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1979. A convenção é o primeiro instrumento internacional de direitos humanos voltado exclusivamente para as mulheres. Tem por objetivo promover a igualdade entre os gêneros e a não discriminação das mulheres. O artigo 1° considera discriminação contra a mulher “toda a distinção, exclusão ou restrição baseada no sexo e que tenha por objeto ou resultado prejudicar ou anular o reconhecimento, gozo ou exercício pela mulher, independentemente de seu estado civil, com base na igualdade do homem e da mulher, dos direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos político, econômico, social, cultural e civil ou em qualquer outro campo.
Em 1985 ocorreu a criação do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM) e das delegacias especializadas no atendimento às vítimas de violência (DEAMs), que foi a primeira resposta do estado Brasileiro, e seus impactos repercutiram, positivamente, nos segmentos menos privilegiados da sociedade. (Bandeira, pg 402).
Em 1994 a assinatura pelo Brasil da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a violência contra a mulher (convenção de Belém do Pará), ratificada em 1995, que define a violência contra a mulher como “qualquer ação ou conduta baseada no gênero, que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico a mulher, tanto no âmbito público como no privado”.
Em 2004 foi aprovada a Lei N° 10.886, que alterou o crime de lesão corporal leve para criar a modalidade de violência doméstica. Porém, a situação pouco mudou, pois, os casos de violência doméstica contra as mulheres continuaram sendo julgados sob o manto da lei 9.099/1995 e as medidas de prevenção e proteção não foram previstas.
Este cenário, aliado aos compromissos internacionais assumidos pelo Estado Brasileiro e as determinações da Constituição Federal, evidenciava a urgência da criação de uma lei integral de enfrentamento à violência doméstica e familiar contra as mulheres.
Em 7 de agosto de 2006 o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assina a Lei 11.340/2006, Lei Maria da Penha, que entrou em vigor no dia 22 de setembro, escrevendo assim um novo capítulo na luta pelo fim da violência contra as mulheres. Ainda em 2006 foram criados os primeiros juizados de violência doméstica e familiar (BRASIL, 2009, p. 13-15).
A superação da situação de violência depende também da criação de políticas públicas, e é de extrema importância a luta das mulheres na construção dessas políticas públicas de combate à violência e à desigualdade, pois foi por meio dessas lutas que se obteve diversas conquistas até o presente.
1.1 VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER E SEUS DESDOBRAMENTOS: UMA PRIMEIRA APROXIMAÇÃO
Importante ressaltar que a violência doméstica, diferente do que muitos entendem, não acontece somente com agressões físicas, ela pode acontecer em diversas variações, o artigo 5º da Lei 11.340/2006 (Lei Maria da Penha) exemplifica tais formas. Pode-se destacar, entre elas, a violência intrafamiliar, física, sexual, psicológica, moral e patrimonial; todas possuem um grande impacto na vida da mulher que a sofre, não sendo nenhuma delas menos importante que a outra.
Conforme relata Nucci (2014, p. 01),	Comment by Helga: Eu pedi tanto Lázara...para que não traga referência de manual, mas, se optou por deixar, tudo certo. Caso haja qualquer questionamento, creio que você está bem segura de suas referências, então, sigamos.
[...] alcoolismo, drogas e questões financeiras são fatores exacerbadores, mas é o machismo revelado no sentimento cotidiano de posse que determina a maioria absoluta de coisas do tipo: ela estava de saia curta, chegou em casa fora do horário combinado ou não havia feito a comida na hora certa. Estas são principais afirmações dos agressores que veem as mulheres como objetos de sua propriedade, e ainda tentam culpá-las pelo ocorrido. 
Neste sentido, como relata o autor, os homens têm suas esposas como uma propriedade deles, em que só eles mandavam e elas obedeciam, caso não fizessem seriam punidas com agressões. Mas isso mudou, conforme está descrito no art. 5º da Lei Maria da Penha, 
Art. 5° Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial:       
I - No âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas;
II - No âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa;
III - Em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação.
Parágrafo único.  As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação sexual (BRASIL, 2006).
Violência física se trata de qualquer comportamento contra a integridade ou saúde corporal. Como por exemplo: espancamento com a mão ou objetos, tentativas de estrangulamento, arremesso de objetos contra a mulher, socos, pontapés entre outros. Podendo chegar a assassinatos.
Sendo que este é um dos tipos de violência mais recorrentes, e que possui maior número de denúncias nas delegacias, pode se dar por meio de empurrões, queimaduras, mordidas, chutes, socos, atirar objetos, sacudir, empurrar, pelo uso de armas brancas ou de fogo, entre outros. (GUEDES; GOMES, 2014)
A violência psicológica é descrita como sendo uma das mais devastadoras e consiste em qualquer conduta que cause danos emocionais, diminuição da autoestima ou desqualifique suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, gritos, imposição de medo, constrangimento, humilhação, isolamento entre outros. Tudo que cause limitação do direito de ir e virou qualquer outro meio que cause prejuízo à saúde psicológica e autodeterminação (GUEDES; GOMES, 2014).
Esse tipo de violência encontra uma grande dificuldade em ser caracterizada como tal pelas instituições, pois ela não é fácil de ser detectada nem pelas vítimas nem por quem está de fora da situação, pois a vítima acredita sempre que aquilo que ela passa não é um meio de violência e acredita naquilo que seu parceiro diz como forma de tentar amenizar a situação. 
Sobre a violência sexual trata-se de qualquer conduta que a constranja a presenciar, manter ou participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que induza a comercializar ou utilizar de qualquer modo de contraceptivo ou force ao matrimônio, a gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule os seus direitos sexuais reprodutivos (GUEDES; GOMES, 2014).
Muitas vezes esse tipo de violência é confundido com o estupro, mas ele é muito mais amplo e abrange uma série de situações que as mulheres sofrem atualmente, seja com desconhecidos, parentes, namorados ou companheiros. Nesse caso o pensamento de posse consiste sobre o corpo da mulher, que tem que estar sempre pronta para ter relação sexual com o seu companheiro, que não consegue ouvir um “não” como resposta, e tem sua companheira como objeto sexual.
Já a violência patrimonial é a conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de objetos ou instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer necessidades.
Como por exemplo, quando o homem quebra o celular da mulher por achar que ela esteja o traindo ou pra ela não pedir socorro pra alguém. O fato é que as mulheres geralmente estão envolvidas emocionalmente com seus parceiros e dependem financeiramente ou emocionalmente deles, o que acaba resultando em sua submissão. Isso ocorre em qualquer esfera social independentemente do grupo econômico, religioso, social ou cultural (GUEDES; GOMES, 2014).
A violência moral é a ação que configure calúnia, difamação ou injúria. Ocorre quando o agressor afirma falsamente que a mulher praticou crime que ela não cometeu, difamação, ocorre quando o agressor atribui à mulher fatos que maculem a sua reputação, ou injúria, ocorre quando o agressor ofende a dignidade da mulher. (Exemplos: Dar opinião contra a reputação moral, críticas mentirosas e xingamentos). Esse tipo de violência pode ocorrer também pela internet (GUEDES; GOMES, 2014).
A justiça ainda enfrenta uma grande dificuldade para identificar as violências moral e psicológica no dia a dia: por ser silenciosa ela deixa marcas invisíveis aos olhos e às vezes a mulher que sofre também não consegue perceber que está sofrendo, devido à atitude vir mascarada de ciúme, cuidado e proteção.
De acordo com Fonseca et al (2012) a violência psicológica ou emocional e a violência física são as mais frequentes, esses tipos de violência ocorrem primariamente, e perduram durante todo o ciclo de violência, porém a violência psicológica é uma das mais frequentes, o homem utiliza esse tipo de violência para diminuir a mulher, menosprezar, e fazê-la acreditar que ela merece tudo o que está acontecendo e que ela não consegue arrumar coisa melhor.
1.2 POR QUE EXISTIR UMA LEI ESPECÍFICA PARA MULHERES?
A existência de uma lei específica para mulheres vítimas de violência é importante por diversos fatores, em análise ao contexto histórico, se verificarmos o código Civil de 1916 iremos nos deparar com um texto que definia que mulheres casadas eram relativamente incapazes, ou seja, não tinham nenhuma capacidade civil para realizar um ato civil, para que isso acontecesse era necessária uma autorização expressa do marido. O homem tinha poderes de direção sobre a família e a mulher era submissa as suas decisões.
Antes da promulgação da Constituição de 1988, foi publicado o Estatuto da Mulher Casada, em 1962, que garantia entre muitas outras coisas, que a mulher não precisaria mais pedir autorização ao marido para trabalhar, receber herança e no caso de separação poderia solicitar a guarda dos filhos. 
Este documento legislativo foi uma conquista do feminismo brasileiro, pois até então as mulheres não tinham direito a praticamente nada.
É importante ressaltar também que além de ser tratada como incapaz, quando as mulheres começaram a ter voz ativa a violência doméstica ainda era tratada como inofensiva, de baixa potencial de gravidade.
Antes de a Lei Maria da Penha entrar em vigor, a violência doméstica e familiar contra a mulher era tratada como crime de menor potencial ofensivo e enquadrada na Lei n. 9.099/1995. Na prática, isso significava que a violência de gênero era banalizada e as penas geralmente se reduziam ao pagamento de cestas básicas ou trabalhos comunitários. Em outras palavras, não havia dispositivo legal para punir, com mais rigor, o homem autor de violência (BRASIL, 2006).
Para se ter uma ideia do que acontecia, após denunciar o agressor, a vítima ainda tinha que levar a intimação para que ele comparecesse perante o delegado. Isso mostra o descaso e a falta de sensibilidade com que esse problema era tratado (BRASIL, 2006). 
Por isso, para o Consórcio de ONGs que participou da criação da Lei Maria da Penha, era fundamental desvincular a nova lei da Lei n. 9.099/1995. Havia a necessidade de mudar esse cenário e, após pouco mais de quatro anos de muito debate com o Executivo, o Legislativo e a sociedade civil, a Lei Maria da Penha foi sancionada em 7 de agosto de 2006 (BRASIL, 2006). 
É comum se ouvir a perguntas do tipo: “Porque é necessário ter uma lei específica para mulheres em situação de violência, se já existe no nosso ordenamento jurídico uma lei que abarca todos os gêneros?”
Primeiramente é preciso entender que essa variação não se deu pelo simples fato de ser mulher, pois certas formas de violências acontecem em qualquer ambiente e com qualquer gênero, mas quando se trata de mulheres os dados são completamente alarmantes, e é preciso entender também que todo esse contexto histórico fez com que fosse necessária a criação de uma lei específica. 
Além disso, essa pergunta começaria sendo fácil de responder se fossemos aos dados reais sobre as violências sofridas por mulheres. Os dados de pesquisas nacionais e internacionais indicam que as mulheres são as maiores vítimas de violência dentro da própria casa.
Conforme descrito por Bueno et al (2019) foi analisado que:
– 536 mulheres foram vítimas de agressão física a cada hora em 2018;
– 21,8% (12,5 milhões) foram vítimas de ofensa verbal, como insulto, humilhação ou xingamento;
– 8,9% (4,6 milhões) foram tocadas ou agredidas fisicamente por motivos sexuais, o que representa 9 por minuto em 2018;
– 3,9% (1,7 milhão) foram ameaçadas com faca ou arma de fogo;
– 3,6% (1,6 milhão) sofreram espancamento ou tentativa de estrangulamento, ou seja, 3 por minuto;
– Jovens de 16 a 24 anos (42,6%) e negras (28,45) são as principais vítimas de violência.
Segundo pesquisas do IPEA no Brasil estima-se que em 2009, 2.530.410 pessoas sofreram agressão, totalizando homens, mulheres, negros e brancos, conforme tabela abaixo, homens e mulheres negras são os mais vulneráveis.
Tabela 1 -  População de 10 anos ou mais de idade que foi vítima de agressão física, por sexo e raça/cor do agredido, Brasil, 2009
	
	Total
	Brancos/as
	Negros/as
	Total
	2.530.410
	1.041.719
	1.488.691
	Homens agredidos
	1.447.694
	567.473
	880.221
	Mulheres agredidas
	1.082.716
	474.246
	608.470
 Fonte: IBGE/Pnad – Suplemento Vitimização e Justiça – disponíveis em Ipea/ Retrato das desigualdades de gênero e raça
Ainda, segundo pesquisa da Ipea, tabelas disponibilizadas pelo PNS 2013, Mapa da Violência 2015 indicam que a incidência de agressão cometida por desconhecidos foi de 2,7% para mulheres e 3,7 para homens, enquanto que a incidência cometida por conhecidos é maior entre as mulheres (3,1%) que entre os homens (1,8%), conforme mostramas tabelas a seguir. 
Tabela 2 - Número e porcentagem da população agredida por pessoa desconhecida, segundo região e sexo da vítima, Brasil, 2013
	Número
	% população
	UF / Região
	Masc
	Fem
	Total
	Masc
	Fem
	Total
	Norte
	313.878
	226.932
	540.810
	5,9
	4,1
	5
	Nordeste
	731.381
	513.403
	1.244.784
	4
	2,5
	3,2
	Sudeste
	1.026.852
	908.804
	1.935.656
	3,4
	2,7
	3
	Sul
	290.459
	226.932
	517.391
	2,8
	2
	2,4
	Centro-Oeste
	188.304
	177.050
	365.354
	3,7
	3,1
	3,4
	Brasil
	2.550.874
	2.053.121
	4.603.995
	3,7
	2,7
	3,1
Fonte: PNS 2013.Elaboração: Mapa da Violência 2015.
Tabela 3 - Número e porcentagem da população agredida por pessoa conhecida, segundo região e sexo, Brasil, 2013
	Número
	% população
	UF / Região
	Masc
	Fem
	Total
	Masc
	Fem
	Total
	Norte 
	124.546
	220.591
	345.137
	2,3
	3,9
	3,2
	Nordeste 
	420.974
	748.965
	1.169.939
	2,3
	3,6
	3
	Sudeste
	415.148
	854.882
	1.270.030
	1,4
	2,5
	2
	Sul
	217.935
	423.537
	641.472
	2,1
	3,7
	3
	Centro-Oeste
	91.267
	185.892
	277.159
	1,8
	3,3
	2,6
	Brasil
	1.269.870
	2.433.867
	3.703.737
	1,8
	3,1
	2,5
Fonte: PNS 2013.Elaboração: Mapa da Violência 2015.
Nota-se que a vitimização de mulheres se torna ainda mais alta no Brasil quando se trata violência cometida por pessoas conhecidas.  Ademais, é importante ressaltar também sobre a violência cometida contra mulheres negras, que conforme confirmado em todos os bancos de pesquisa analisados pelo IPEA tem o maior índice encontrado.
Tabela 4 - Entrevistados que afirmaram terem sido vítimas de pelo menos uma ameaça ou agressão, por sexo, raça/cor e faixa etária, nos últimos doze meses, 2010 a 2012 (em %)
	Masculino
	Feminino
	Idade
	Branca
	Negra
	Branca
	Negra
	16 a 24 anos
	18,13
	20,74
	17,06
	22,02
	25 a 34 anos
	14,52
	18,44
	14,46
	18,06
	35 a 44 anos
	11,96
	13,69
	13,39
	15,20
	45 a 59 anos
	9,57
	10,39
	10,39
	12,18
	60 anos ou mais
	5,15
	6,39
	6,24
	7,07
Fonte: Pesquisa Nacional de Vitimização 2010; 2011 e 2012. Elaboração própria, 2016.
Observa-se que o índice de violência sofrido pela mulher negra é maior em todas as idades. Uma determinada forma de misoginia articulada com o racismo faz com que mulheres negras sejam mais vulneráveis a todos os tipos de violência. Além da raça/cor, outros fatores parecem vulnerabilizar as mulheres brasileiras, sendo a faixa etária um deles. As mulheres jovens são mais vulneráveis a todos os tipos de violência, perpetrada por conhecidos ou desconhecidos. 
Em sociedades multirraciais de origem colonial, é fundamental considerarmos raça/cor/etnia e classe social como variáveis que impactam significativamente na estruturação das relações de hegemonia entre os gêneros/sexos. A violência e a discriminação contra as mulheres, sua naturalização e legitimação em diferentes âmbitos pessoais e sociais, no Brasil, precisam ser analisadas em sua associação, sobretudo, com o racismo se quisermos entender o lugar de subalternização de grupos de mulheres que tem sido sujeitas a múltiplas opressões, de modo simultâneo e entrecruzado, como as mulheres negras, mulheres indígenas e mulheres migrantes pobres. 
Em tais situações, a leitura do Direito em uma perspectiva de gênero exige dos agentes responsáveis pela realização da justiça a compreensão de que estão obrigados a construir respostas mais complexas que, pela gramática da Lei Maria da Penha, podemos nomear de integrais (prevenção, investigação, reparação e punição) e em rede (articulada com outros sistemas, como saúde, educação e segurança). É preciso, também considerar, mesmo nos casos de violência e discriminação ocorridos no âmbito das relações privadas, as múltiplas formas de vitimização contra as mulheres praticadas e perpetradas pelo próprio Estado (SEVERI, 2016, p. 598).
As mulheres negras se mostram mais vulneráveis, nas pesquisas os números de violência contra elas são maiores do que contra mulheres brancas, o feminicídio está crescendo entre as mulheres negras, ao passo de que está diminuindo entre as mulheres brancas, dado esse que precisa de um pouco mais de atenção.
Entre 2003 e 2013, houve uma queda de 9,8% no total de homicídios de mulheres brancas, enquanto os homicídios de negras aumentaram 54,2%. No Brasil, raça e etnia são elementos fundamentais para a compreensão e enfrentamento ao processo de violação de direitos das mulheres, dentro e fora de casa.
Além do fator gênero, a análise desse fenômeno deve incorporar questões chaves como etnia/raça, sexualidade, religião e condição econômica, além da posição social das mulheres na sociedade, na comunidade, na família e nas relações íntimas. 
Os dados e resultados de pesquisas acima demonstram que a violência doméstica contra as mulheres é a tradução real do poder e da força física masculina e da história de desigualdades entre homens e mulheres. As agressões são similares e recorrentes e estão presentes em famílias, independente da raça, classe social, idade ou da orientação sexual de seus componentes. No entanto o impacto maior desta violência atinge as mulheres negras e pobres. (BRASIL, 2006). 
Assim, de acordo com os dados, e com a quantidade de mulheres que sofrem violência, e relembrando o princípio constitucional de igualdade, podemos perceber que não se deve tratar mulheres e homens de forma igual, mas sim na exata medida de suas desigualdades, pois, mesmo com tanta luta ainda não foi possível extrair totalmente essa cultura patriarcal, que é a raiz de muitos dos problemas que tem como uma de suas principais consequências a violência doméstica.
Mesmo com a criação de delegacias, juizados e lei especifica para que melhore a condição de mulheres que sofrem violência doméstica, os dados apresentados nos mostram a quantidade exorbitante de mulheres que não tem coragem de denunciar seu parceiro, ou mesmo mulheres que denunciam, mas, não possuem o amparo necessário após a denúncia, fato esse que acaba refletindo na vida de outras mulheres, que ao serem agredidas não denunciam por medo do que pode acontecer depois. Nesses casos é comum encontrar principalmente relatos de violência psicológica, onde o agressor faz com que elas acreditem que caso denunciem algo pior pode acontecer depois, ameaçando família, filhos, e entes queridos da mulher.
Foram muitas as conquistas das mulheres até o presente, como estudar, se inserir no mercado de trabalho, o direito ao voto e a vida política, porém ainda é visível uma lacuna existente entre o homem e a mulher na sociedade. A mulher ainda não foi inserida completamente, como deveria ser, ainda existe uma diferença salarial, um certo preconceito com mulheres em algumas áreas de trabalho e tantas outras lacunas encontradas que fazem com que seja necessário um tratamento diferencial, até que se encontre uma verdadeira igualdade.
Segundo Montenegro et al (2018) em uma pesquisa de campo com 75 mulheres vítimas de Violência Doméstica, que já se encontravam com o processo em andamento, algumas com medidas protetivas, em um caso especifico o uso de tornozeleira eletrônica e muitas delas com acompanhamento de equipe multidisciplinar, foi possível perceber nas entrevistas que as mulheres na maioria das vezes não se sentem amparadas como deveriam se sentir. Foi relatado pela maioria delas que os profissionais não têm experiência e certa sensibilidade para lidar com a situação de uma mulher ferida psicologicamente e fisicamente, outra queixa frequente é de que elas não conseguem entender o trâmite do processo, o que acaba dificultando os casos, e acaba fazendo com que elas desistam muitas vezes por acreditarem que nada está sendo feito por elas.
É triste ver o desespero e o medo, na maioria dos casos, em que essas mulheres se encontram, muitas delas acabam se sentindo culpadas, por não terem o apoio que deveriam ter. Em particular um caso de uma entrevistada me chamou bastante atenção, ele retrata muito bem o que acontece muitas vezes nas delegacias, ela se sentiu totalmente desamparada e sentiu que o agressor foi mais bem atendido que ela.
Neste sentido, observa-se as entrevistas que foramfeitas por Montenegro et al (2018, p. 179) nas quais ela relata que:
“Entrevistadora: [...] A senhora tinha outras expectativas antes da audiência? Elas se confirmaram?
Entrevistada: Não entendi.
Entrevistadora: Antes da audiência, a senhora esperava algo diferente do que [aconteceu]?
Entrevistada: Esperava.
Entrevistadora: A senhora esperava o que de diferente?
Entrevistada: Ser ouvido, ele e eu.
Seria teoricamente a primeira [audiência] ainda, se ele vier, né... E aí eu só fico meio perdida, porque na primeira ele não veio, aí teve de ligar pra ele e ele disse que ia vir... Será que ele vai vir? E se ele não vir, como que vou ser tratada? Será que todo meu pedido, de tudo que tá acontecendo... O processo é desde janeiro, e já tamo em setembro, e eu me vejo assim, tipo, desamparada, porque não tem ninguém pra conversar com você, pra te auxiliar, e em nenhum momento você falou “eu não fui ouvida”, entendeu? Então, ou seja, tudo que eu tenho pra falar foi simplesmente anotado numa folha de papel e tá lá. O que simplesmente eu acredito que o juiz só passe o olho, entendeu? Não vai realmente... tomar o caso de cada um.
(Vítima_BSB1)
Montenegro et al (2018) coloca que a dificuldade de se ouvir a vítima quando o agressor pertence a outra classe social, conforme pode-se observar na entrevista abaixo:	Comment by Helga: Precisa alterar a fonte para a do texto corrido
Entrevistadora: Ele, seu esposo?
Entrevistada: É. Ele meu esposo se veste muito bem, fala muito bem e tem uma boa aparência física. Então ele usa tudo isso como subterfúgio pra ele, de maneira positiva pra ele e consegue, ele consegue. E lá, aí ele queria ficar falando; eu disse que eu não ia ficar porque quando você chega na sala de recepção pra você prestar boletim de ocorrência é um ambiente, sendo que se você, se você voltar, se você tá na delegacia o primeiro ambiente que tem é o psicossocial, então eu disse: eu não vou ficar no mesmo ambiente que você. Eu me retirei e fui pra primeira sala, primeiro ambiente. Eu fiquei lá,só que lá tem as portas de vidro né? Que ganham o corredor e eu vi, num dado momento, alguém conversando com ele e ele se expressando pra essa pessoa, era a delegada. E ela atendeu ele muito bem, ela não foi lá falar comigo que era a vítima, e aí a... uma outra funcionária, uma investigadora, não sei, uma escrivã, me atendeu e também ficou conversando comigo; e eu tava falando com a assistente social que é [inaudível] que no primeiro momento ele já foi atendido, ouviram a fala dele e eu estava lá, falando: não gente, eu não aguento mais vir nesse ambiente porque isso é repetitivamente, né?! E aí quando eu olhei o reflexo era ele saindo com um copo de água descartável na mão, eu falei pra ela: ele vai sair daqui agora? Aí eu me desesperei na delegacia. Aí eu andei rápido, eu falei para o escrivão, não sei quem... policial, eu falei: ele tá saindo da delegacia? Ele foi ouvido e eu não? Eu consigo trazer ele em flagrante pra cá e não vai ser feito nada? Aí ela disse: olhe, fale com aquela outra moça naquela sala; aí eu falei: moça, a moça mandou eu vim falar com você porque ele saiu agora daqui, eu não consegui... eu não vou conseguir ter êxito nenhum aqui. Aí ela falou: olhe, aguarde a sua vez. Eu falei: não, eu não quero aguardar a minha vez, eu quero a minha identidade que eu quero sair daqui AGORA; ela disse: sua identidade tá na sala da delegada [inaudível] aí eu já fui chorando, subindo a escada correndo e quando eu cheguei lá, a moça veio atrás de mim, a primeira que eu falei, e disse: dona [nome da vítima] pare, na escada, a senhora por favor pare, a senhora não pode entrar; eu falei pra parar onde? Aqui? Ela falou: é. Tá bom, vou sentar aqui. Quando ela desceu a escala eu entrei na sala. Eu bati na porta e entrei, só bati e entrei, não esperei ela me dá a licença; e eu falei pra ela: eu quero só, apenas a minha identidade porque eu estou no ambiente errado, como sempre estou vindo no ambiente errado, porque a senhora atendeu o agressor, a senhora conversou com ele lá embaixo, eu ouvi a sua voz, mas a senhora não falou comigo e ele saiu daqui. Ah, ele saiu? [imitando a delegada falando] Eu disse: saiu. E eu quero a minha identidade AGORA porque eu vou no Ministério Público agora. Eu creio que era uma delegada, acho que era do plantão, que estava conversando com ela, não sei lhe dizer, eu só sei que foi a delegada [nome de uma delegada] com quem eu falei, com quem ele falou, e... ela tentou me acalmar, disse: não dona, se acalme, se acalme, olhe, nós vamos resolver; eu disse: vocês não vão resolver, vocês nunca resolvem nada. Vocês nunca resolveram nada aqui. A única coisa que acontece comigo nesse ambiente é que eu e as demais mulheres somos hostilizadas.
(Vítima_Belém2) (MONTENEGRO et al, 2018, p. 180).
Ressalta-se que o relato acima trata-se apenas um dos relatos de histórias tão tristes que acontecem nosso país, que ainda é um dos recordistas da violência doméstica.
Conforme estudo feito ao Programa de Pós-Graduação, Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, em agosto de 2007, em uma pesquisa feita entre casais, foram feitas perguntasem que se perguntaram sobre supostos motivos para que a violência fosse praticada, e na maioria exorbitante das respostas, os homens buscaram respostas que culpassem as mulheres pela violência, sendo que, dentre elas estava a afirmação derelataram que eles entenderam errado algumas ações por elas praticadas, e, assim segundo eles, disso há a derivação de que a maioria das brigas se dá por ciúme, por ser contrariado ou por ingestão de álcool, o excessiva que os tornam mais agressivos. E, na mesma pesquisa, uma quantidade bem maior de mulheres diz que já foi agredida, enquanto uma quantidade pequena de homens assume a agressão. É comum que os agressores e as mulheres vítimas de violência não considerem agressão verbal, moral ou psicológica como uma agressão propriamente dita, pois entendem que violência é somente aquela que deixa marcas visíísiveis (BANDEIRA 2009).	Comment by Helga: Eu havia pedido na correção anterior que você fizesse com que esse parágrafo ficasse menos confuso e você não o fez...enfim, eu acabei de sugerir algumas sugestões para garantia de manutenção do texto.
É possível também citar vários casos de mulheres que acabaram com enormes sequelas ou que foram mortas por seus maridos, como por exemplo o caso da dona Shirlene Cavalcantti, casada há 15 anos e mãe de três filhos, foi brutalmente espancada e esfaqueada pelo seu marido, José Adécio da Silva, agricultor, apenas porque cortou e fez luzes no cabelo, sem autorização do marido. Shirlene faleceu após 23 dias. Como também o caso de Roseni, quando seu ex companheiro atirou contra ela e seu professor no estacionamento, e matou os dois, e o seu advogado alegou no júri que foi por “legitima defesa de honra” 
 Esses são só dois dos tantos casos que acontecem todos os dias, e que deixam marcas pra uma vida inteira, e dá pra entender como acontece por motivos fúteis, de puro domínio que o homem sente pela mulher (BANDEIRA 2009).
As mulheres ainda são vistas pelos homens como parte integrante de um cenário dessimétrico e tradicional, com ausência de direitos individuais e subjetivos, restritas e inferiorizadas nos espaços e sistemas legais, assim como nas discursividades sociais. Por exemplo, há quem ache que a violência doméstica é legitima e viável em algumas situações, onde eles veem a violência como algo natural e sinônimo de masculinidade.  Três décadas de resistência feminista contra o sexismo e a violência feminina no Brasil: 1976 a 2006) (BANDEIRA 2009).
Existe também como conduta do homem se sentir possuidor da mulher e com direitos sobre ela, tendo assim uma certa dificuldade em aceitar fins de relacionamento quando essa vontade parte da mulher, e nesses casos muitas vezes o homem acaba praticando o assassinato da mulher, com o pensamento de que “não vai viver comigo, não vai viver com ninguém” que acaba por confirmar o seu pensamento de posse.    (BANDEIRA, 2009).
Orompimento com a relação do casal pela mulher é visto como desobediência ao marido/companheiro e ruptura com a ordem social e com o contrato familiar (BANDEIRA, 2009.
Fragmentos de depoimentos colhidos nas pesquisas etnográficas, ilustram os argumentos usados pelos agressores-assassinos e seus advogados-defensores: “matei por amor, por zelo”; “matei porque a queria demais...” “matei porque estava fora de mim...” “fiquei louco de ciúmes, não sabia o que estava fazendo”. “ela era minha mulher” “ela queria me deixar” “ela me pertence”. (BANDEIRA, 2009, p. 406).
Em 30 segundos, Alexandre matou a sua companheira, Daniela, com 29 facadas. Desferiu uma facada por segundo, sendo que a última deixou cravada no peito de Daniela. Motivo confessado: tinha ciúmes e não aceitava o fim do relacionamento. (BANDEIRA, 2009, p. 407).
Outro caso exposto na pesquisa foi o dessa mulher que engravidou, e o namorado não queria o filho e por esse motivo a agrediu. Como relata abaixo Montenegro et al(2018, p. 190-191).
“Entrevistadora: Ele é seu companheiro/marido?
Entrevistada: Não, não, não. Nós num (...) nós só namorávamos, não chegamos a ficar a morar juntos não. A gente namorava, era um relacionamento extraconjugal, e eu engravidei. Aí o problema foi esse. [...] É, o problema foi esse, porque eu engravidei dele e ele ficou desnorteado, não sei o que deu na cabeça dele e ele simplesmente queria que eu abortasse. A pressão dele inicial foi pra que eu abortasse, né? Ele queria me levar pra uma clínica, uma clínica boa, né? Porque ele tem condições, né? E tal.... Então, como eu não aceitei, essa, essa pressão dele, né? Gerou todo o resto do conflito, aí foi ficando pior, né?
Entrevistadora: Como é que você descreveria essa pessoa
Entrevistada: Rapaz, ele é um homem muito educado, ele é um homem calmo, tranquilo, é um homem bom, pra mim, assim, até o dia em que eu disse as fatídicas palavras “estou grávida”, né? Ele era maravilhoso, ele era um príncipe. E fazia tudo o que eu queria, fazia tudo por mim, tinha um relacionamento intenso, não era assim uma vez por outra, esporádica não, ele ia na minha casa, ele comia na minha casa, ele fazia a feira, ele pagava meu aluguel, ele dava presentes pra minha filha, ele sustentava a gente como se fosse o homem da casa mesmo, sabe? Bancava de tudo, de roupa, de sapato, de perfume, de presente, de comida, de tudo, tudo, tudo. É, e quando eu disse que tava grávida ele já, automaticamente...
(Vítima_Recife4).
   
 Este depoimento é de extrema importância para relatar sobre os termos “homem educado”, “bom”, “calmo”, “tranquilo”, pois perdura no imaginário brasileiro a representação desse homem cordial, ordeiro e não violento, e se, por alguma “eventualidade”, agride a mulher, ele age imbuído de seu papel de disciplinador, com a finalidade de corrigir atos que ele não acha correto em sua mulher, nesse caso ele não acha correto que ela queira continuar com a gravidez (MONENEGRO et al, 2018).
São reveladas nas falas dos agressores o controle e a posse existentes sobre o corpo feminino, tomada como um instrumento de controle viril, que abriga situações diversas: abusos verbais, físicos e emocionais, agressões e torturas, assédios e abuso sexual, estupro, privação de liberdade, escravidão sexual, incesto, maternidade imposta, abortamentos, mutilações físicas, assassinatos, entre outros crimes passionais e de honra que são fortalecidos por meio de chantagens, emoções e constrangimentos (MONTENEGRO et al, 2018).  
Mulheres que se encontram em situação de violência deixam de ser tidas como autônomas cidadãs, perdem ainda a liberdade de escolha e muitas não têm o explicito direito de existir fora de sua pertença contratual, a um dono-marido-patrão-masculino. A violência doméstica pode causar diversos danos na vida das mulheres que a sofrem, que vão muito alem de danos na saúde física, abarcando também a saúde mental, autoestima, desenvolve quadros de ansiedade, depressão, entre outros (MONENEGRO et al, 2018).  
1.3 CONSEQUÊNCIAS NA VIDA DAS MULHERES QUE SOFREM VIOLÊNCIA 
São inúmeras as consequências causadas na vida de mulheres que sofrem violência doméstica, conforme Montenegro et al (2019, p. 01), 
A violência doméstica provoca sérias e diversas consequências psicológicas nas vítimas. Mulheres que sofreram abusos contínuos podem desenvolver quadros de ansiedade e depressão. O medo de uma agressão física ou de uma situação de confronto costuma deixá-las em um estado de estresse constante ou em uma permanente apatia.
A violência física acontece na maioria das vezes acompanhada de uma violência psicológica, violência essa que pode ocasionar um adoecimento mental, uma serie de inseguranças, depressão, quadros elevados de ansiedade, distúrbios, e diversas outras doenças.
  Muitas mulheres, após sofrerem violência, tendem a se diminuir, a se esconder, a terem vergonha. Mulheres violentadas possuem um risco muito maior de desenvolverem problemas psicológicos relacionados a “depressão; tentativas de suicídio; síndromes de dor crônica; distúrbios psicossomáticos” (KRUG et al, 2002, p. 102), os quais afetam o seu desenvolvimento social, profissional e como pessoa. Os problemas de saúde física também podem prejudicar a vida da mulher, como o desenvolvimento de problemas relacionados à reprodução.
E por que as mulheres agredidas geralmente continuam no relacionamento ou se quer tem coragem de denunciar seus parceiros?
Isso acontece por conta de uma dependência emocional, física, ou financeira, onde a maioria delas acredita que não vai conseguir sustentar a família sozinha, que os filhos precisam do pai por perto durante o crescimento, além de que, certa quantidade de mulheres, não abandona o relacionamento por medo do que pode acontecer depois, medo de serem assassinadas, medo de expor sua família ao risco, e medo de que seus filhos acabem sofrendo com a violência também.
 Segundo Miller (1999), por mais que a sociedade veja um homem agressivo com certo estereotipo, é importante entender que não existe perfil único para esses homens. Assim, um homem que em sociedade pode parecer acima de qualquer suspeita, pode, muito bem, ser um agressor na relação conjugal.
Miller (1999) cita ainda a lista de características que os distinguem, elaborada por Boyd e Klingbeil, que incluem, dentre outras, pessoas com fraco controle do impulso, apresentando necessidade de satisfação imediata e insaciáveis necessidades do ego; dependência emocional; frequentes quadros de estresse, mas, geralmente, bem dissimulados; baixa autoestima; ciúmes excessivos, que os levam a uma vigilância demasiada da parceira e repetidas promessas de mudança.
É possível ver muitas dessas reações nos casos relatados diariamente pelas mulheres, elas se queixam de crises de ciúmes, de vivenciar uma relação de posse, onde elas não podem cortar o cabelo, não podem vestir roupa curta, muito menos conversar ou manter amizade com homens, se pararmos para analisar caso por caso vamos encontrar diversos discursos como esse.
       Estas constantes promessas de mudança dão à violência um caráter cíclico, traduzido por momentos intercalados de agressões ou não, fato que contribui para que a mulher permaneça durante anos vivenciando uma relação violenta. Por esta razão, é importante que a mulher conheça as especificidades do ciclo em que está envolvida, a fim de encontrar meios para sair dessa situação (MILLER, 1999).
  Além disso, a sociedade é também um fator importante na manutenção de uma relação abusiva. Ficar sem um companheiro ou ser estigmatizada como mãe solteira pela comunidade é um aspecto mais relevante que o medo de se manter em uma relação abusiva ou de futuras agressões (CAMPOS, 2006).
Em pesquisas ao Instituto Maria da Penha, onde existem espaços para as mulheres pedirem ajuda, se informarem e terem apoio, contém várias informações sobre como a lei Maria da Penha funciona e como ela interfere na vida dessas mulheres, existe também um campo em que é explicado sobre o ciclo da violência.
Esse ciclo foi criado pela norte-americana LenoreWalker, psicóloga, que é utilizado como meio para entender e identificar a violência doméstica contra a mulher. Ela identificou que as agressões cometidas em um contexto conjugal podem ser percebidas por um ciclo vicioso. Existe também o chamado "ciclo do abuso" que é usado por psicólogos, promotores e defensores públicos que atendem vítimas de violência doméstica, esse ciclo possui três fases. Tendo como consequência mais drástica o feminicídio.
Segundo o ciclo da violência de L. Walker, uma das teorias mais difundidas sobre as fases que a violência de gênero atravessa[footnoteRef:1]. [1: https://amenteemaravilhosa.com.br/ciclo-da-violencia-lenore-walker] 
Fase do acúmulo de tensão: Nesta fase há uma escalada gradual de tensão que é caracterizada pela frequência de brigas contínuas e atos violentos. É uma etapa sem duração específica, pode ser uma questão de semanas, meses ou anos. Ocorrem incidentes de ciúmes, gritos ou pequenas brigas.
Os insultos ou a violência verbal são interpretados pela vítima como casos isolados que podem ser controlados. O agressor experimenta mudanças bruscas de humor, fica irritado com coisas insignificantes e se mostra muito tenso.
A vítima tenta realizar comportamentos que não alterem o parceiro, tenta acalmá-lo acreditando que isso acabará com os conflitos. Tende a se culpar justificando o comportamento mostrado pelo agressor. Toda vez que há um incidente de menor agressão, há efeitos residuais de aumento da tensão por parte do agressor que, incitado pela aparente passividade da vítima, não tenta se controlar.
Fase de agressão: É a mais curta das três fases. Aqui a violência irrompe. Há uma falta de controle absoluto e ocorrem as agressões físicas, psicológicas e/ou sexuais. A vítima experimenta descrença, ansiedade, tende a se isolar e se sente impotente diante do que aconteceu. Costumam se passar vários dias antes de pedir ajuda.
Fase de reconciliação: Nesta fase, o agressor geralmente pede perdão e promete à vítima que esse comportamento não acontecerá novamente. Usa estratégias de manipulação afetiva para tentar fazer com que o relacionamento não termine.
A aceitação de presentes, convites ou promessas não faz mais do que reforçar o comportamento violento. A tensão acumulada durante a fase de acumulação da tensão e a fase de agressão desapareceram.
Nessa fase, é difícil para as mulheres denunciarem a situação pela qual estão passando: a mudança de atitude do casal as leva a pensar que foi um evento específico e que isso não acontecerá novamente. A vítima quer acreditar que nunca sofrerá abusos novamente. A moderação do agressor sustenta a crença de que ele pode mudar, devido ao seu comportamento amoroso durante essa fase. Esta fase de conciliação termina quando a calma acaba e recomeçam os pequenos incidentes e as humilhações.
Romper este ciclo não é tarefa fácil, é necessário que a vítima esteja ciente da sua decisão e que tenha ajuda emocional e profissional.
        Surgem questionamentos sobre o porquê muitas mulheres se submetem a situações de violência praticadas por seus parceiros conjugais durante muito tempo. Entretanto existe também na nossa sociedade uma certa “colaboração” com esse tipo de violência, é comum vermos casos em que muitas pessoas escutam o que se passa na casa de seus vizinhos, sabem o que se passa na casa de seus familiares e simplesmente não denunciam, não oferecem ajuda, isso porque nos moldes tradicionais a violência não causa estranheza e é tolerada muitas vezes, com o discurso de que se a mulher está apanhando é porque ela assim aceitou, ou porque ela fez algo para merecer, com o velho ditado de que “em briga de marido e mulher, não se mete a colher!”, se tornando assim, cúmplices de toda a violência que acontece.
O que muitas pessoas geralmente não conseguem entender é que a maioria das vítimas passam por esse ciclo, e que quando a mulher está em situação de violência ela acaba sendo “enganada” por seu companheiro, que faz promessas de mudanças e de melhorias, e acaba a fazendo acreditar que isso se tornará realidade, porque foi a primeira vez que aconteceu, ou porque ela não quer acreditar que o seu companheiro, a pessoa que ela tanto ama, é na verdade uma pessoa agressiva, se tornando assim refém da violência.
Muitas mulheres não conseguem sair desse ciclo sozinhas, e na esperança de mudança de comportamentos, acabam sendo vítimas de agressões por muito tempo. Por isso é dever da sociedade tentar acabar com esse estigma e com essa cultura machista, devemos denunciar, devemos ajudar, dar voz para todas essas mulheres que estão com sua vida em jogo, e finalmente compreender que a culpa nunca é da vítima e sim do agressor.
2 A ORIGEM DA LEI MARIA DA PENHA
Essa lei recebeu este nome devido à luta da biofarmacêutica Maria da Penha!  Maria da Penha Maia Fernandes, transformou sua dor e revolta em forças para lutar. Ao sofrer algumas violências decidiu que não queria apenas ver seu agressor preso, mas queria também ajudar tantas outras mulheres que passavam pela mesma situação, e assim combater o descaso do governo e da Justiça em relação a casos de violência contra a mulher.
As tantas violências sofridas reverberaram em uma situação extrema no dia 29 de maio de 1983, quando a biofarmacêutica Maria da Penha Maia Fernandes foi atingida por um tiro enquanto dormia, sendo que tal conduta partira de seu marido, o economista e professor universitário Marcos Antônio Heredia Viveiros. Em razão desse tiro Maria da Penha acabara ficando paraplégica. 
Passado algum tempo após este episódio horrível, Maria da Penha volta para casa para se recuperar e acaba sendo agredida de novo, dessa vez quando tomava banho, e recebeu uma forte descarga elétrica, o autor da agressão era novamente o seu marido.
Quando criou coragem para denunciar seu agressor, Maria da Penha se deparou com uma situação que muitas mulheres enfrentavam neste caso: incredulidade por parte da Justiça brasileira.
O Ministério Público denunciou o acusado, a sentença foi prolatada e o réu foi a julgamento e condenado a 15 anos de reclusão. Porém a defesa apelou da sentença condenatória alegando falha na formulação das perguntas que o Juiz faz ao júri popular. Acolhido o recurso da defesa o acusado vai a novo julgamento em 15 de março de 1996, onde novamente foi condenado, recebendo uma pena de dez anos e seis meses de prisão. Novamente a defesa insatisfeita com o resultado, faz novo apelo desta decisão, dirigindo recursos aos Tribunais Superiores.
Após toda tramitação dos recursos feitos pela defesa em favor do réu, em setembro de 2002, quase vinte anos após o cometimento do delito, o acusado finalmente foi preso quando dava aula numa Universidade no Estado do Rio Grande do Norte. 
O caso chegou ao conhecimento da Comissão Interamericana de Direitos Humanos – órgão da OEA – Organização dos Estados Americanos, cuja principal tarefa consiste em analisar as petições apresentadas aquele órgão denunciando violações aos direitos humanos, assim considerados aqueles relacionados na Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem.
A própria Maria da Penha se encarregou de apresentar a denúncia à Comissão Internacional de Direitos Humanos e assim procedeu juntamente com o Centro pela Justiça e o Direito Internacional – CEJIL, entidade não governamental existente no Brasil desde 1994 que tem por objetivo a defesa e promoção dos direitos humanos junto aos estados membros da OEA, bem como ainda pelo Comitê Latino Americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher – CLADEM, entidade que possui sede no Brasil no Estado do Rio Grande do Sul, constituído por um grupo de mulheres empenhadas na defesa dos direitos da mulher da América Latina e do Caribe.
 Em virtude desses fatos a Comissão Interamericana de Direitos Humanos publicou, em 16 de abril de 2001, o relatório 54/2001. Esse relatório é um documento de suma importância para o entendimento da violência contra a mulher no Brasil, e serve de base para a promoção das discussões acerca do tema, haja vista a grande repercussãodo referido relatório, inclusive, internacionalmente, o que provocou grandes debates que culminaram, com o advento da Lei nº. 11.340/06, popularmente conhecida como Lei Maria da Penha. 
 No mencionado relatório são apontadas às falhas cometidas pelo Estado brasileiro no caso de Maria da Penha Maia Fernandes, pois na Convenção Americana (ratificada pelo Brasil em 25 de setembro de 1992) e Convenção de Belém do Pará (ratificada em 27 de novembro de 2005), o Brasil assumiu perante a comunidade internacional, o compromisso de implantar e cumprir os dispositivos desses tratados. 
Diante desses fatos a Comissão Internamericana de Direitos Humanos concluiu que: “A ineficácia judicial, a impunidade e a impossibilidade de a vítima obter uma reparação mostram a falta de cumprimento de compromisso de reagir adequadamente ante a violência doméstica”. 
Ainda na análise do caso Maria da Penha a Comissão Interamericana de Direitos Humanos se manifestou da seguinte forma: 
A Comissão recomenda ao Estado que proceda a uma investigação séria, imparcial e exaustiva, para determinar a responsabilidade penal do autor do delito de tentativa de homicídio em prejuízo da Sra. Fernandes e para determinar se há outros fatos e ações de agentes estatais que tenham impedido o processamento rápido e efetivo do responsável; também recomenda a reparação efetiva e pronta da vítima e a adoção de medidas no âmbito nacional para eliminar essa tolerância do Estado ante a violência doméstica contra mulher (CIDH, 2001, p. 2)
Mesmo assim o Brasil permaneceu inerte a tudo, haja vista o fato de que por três vezes se omitiu a responder as indagações formuladas pela Comissão Interamericana dos Direitos Humanos, nas seguintes datas: 
19 de outubro de 1998 – primeira solicitação; 
04 de outubro de 1999 – reiteração do pedido anterior sem resposta;
07 de agosto de 2000 – terceira solicitação sem qualquer esclarecimento.
Diante do total descaso do Estado brasileiro foi aplicado ao mesmo o art. 39 do regulamento da Comissão Interamericana dos Direitos Humanos, com o propósito de que se presumisse serem verdadeiros os fatos relatados na denúncia, uma vez que haviam decorrido 22 mais de 250 dias desde a transmissão da petição ao Brasil e este não apresentou qualquer observação sobre o caso, razão pela qual a Comissão Interamericana decidiu tornar público o teor do relatório nº. 54, o qual estabeleceu recomendações ao Brasil no caso Maria da Penha Maia Fernandes por flagrante violação aos direitos humanos.
Finalmente, a comissão concluiu que o Estado brasileiro, em uma total falta de compromisso, deixou de cumprir o previsto no Art. 7º da Convenção de Belém do Pará e nos artigos 1º, 8º e 25 do Pacto de São José da Costa Rica, já que deixou transcorrer quase vinte anos sem que o autor do crime de tentativa de homicídio contra a Sra. Maria da Penha fosse julgado. 
Daí em diante as Organizações Não Governamentais brasileiras e estrangeiras juntamente com representantes da Secretaria de Políticas para as mulheres, iniciam uma discussão no sentido de que fosse elaborado um projeto de lei que incluísse no ordenamento jurídico brasileiro políticas públicas de medidas de proteção para as mulheres vítimas de violência doméstica. 
 No final de 2004 o próprio Poder Executivo apresentou ao Congresso Nacional o Projeto de Lei nº. 4.559, o qual foi encaminhado e aprovado na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, criando desta forma mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher no Brasil, cumprindo assim o que preceitua o parágrafo 8º do Art. 226 da Constituição Federal: 
Art. 226 A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. [...] §8º O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência contra a mulher na forma da lei específica (BRASIL, 1988).
 Anteriormente ao surgimento da lei 11.340/06, não existia no Brasil lei específica para julgar os casos de violência doméstica contra mulher, sendo que alguns casos eram processados e julgados nos Juizados Especiais Criminais, de acordo com a previsão da Lei 9.099/95, que criou e regulamentou os citados Juizados. Segundo este diploma legal, as penas não ultrapassariam dois anos, ou seja, é uma lei aplicável aos crimes considerados de “menor potencial ofensivo”. As penas aplicadas aos agressores muitas vezes eram pecuniárias, resumindo-se basicamente ao pagamento de multas ou cestas básicas.
A Lei 11.340/2006, Lei Maria da Penha, entrou em vigor em 22 de setembro de 2006. Trata-se de uma legislação especial cujo objetivo é “criar mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e Familiar contra a mulher...” (artigo 1º). A legislação está adequada à Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher (Convenção de Belém de Pará, OEA, 1994), a Convenção sobre a Eliminação de Todas as formas de Discriminação contra as Mulheres (CEDAW, ONU, de 1979) e a Constituição Federal (Brasil, 1988). Pode-se dizer que a nova legislação tem como paradigma o reconhecimento da violência contra as mulheres como uma violação dos direitos humanos (artigo 6º da Lei 11.340/2006) (BRASIL, 2006).
O texto legislativo reflete as ideias feministas e as lutas pela conquista dos direitos para as mulheres. Reflete também a preocupação de uma abordagem integral para o enfrentamento à violência contra as mulheres com as medidas nas três dimensões de enfrentamento: o combate, a proteção e a prevenção.
          A Lei Maria da Penha é uma grande conquista a respeito da violência doméstica contra a mulher, no entanto a sua eficácia ainda é algo a ser discutido, pois a lei não é executada da forma que deveria ser, na forma da lei existem questões que não são executadas pelo judiciário e a polícia.
2.1 ENTENDENDO A LEI 
Para melhor explicar a lei 11.340/2006, primeiro é preciso dividi-la em 3 eixos:
O primeiro eixo trata das medidas criminais, para a punição da violência. Nele estão procedimentos como a retomada do inquérito policial, a prisão em flagrante, preventiva ou decorrente de pena condenatória; a restrição da representação criminal para determinados crimes e o veto para a aplicação da lei 9099/95 a qualquer crime que se configure como violência doméstica e familiar contra a mulher (PASINATO, 2010).
 No segundo eixo encontram-se as medidas de proteção da integridade física e dos direitos da mulher que se executam através de um conjunto de medidas protetivas com caráter de urgência para a mulher aliado a um conjunto de medidas que se voltam ao seu agressor. Integra também esse eixo as medidas de assistência, o que faz com que a atenção à mulher em situação de violência se dê de forma integral, contemplando o atendimento psicológico, jurídico e social (PASINATO, 2010).
Finalmente, no terceiro eixo, estão as medidas de prevenção e de educação, compreendidas como estratégias possíveis e necessárias para coibir a reprodução social da violência e da discriminação baseadas no gênero. A articulação destes três eixos depende, em certa medida, da criação dos Juizados de Violência Doméstica e familiar que devem se organizar para que as medidas previstas na legislação sejam operacionalizadas de forma integrada, proporcionando às mulheres acesso aos direitos e autonomia para superar a situação de violência em que se encontram. Mas não é apenas o Judiciário que precisa se reorganizar para a aplicação da lei. A correta implementação da lei exige a formulação políticas públicas de gênero direcionadas à integração entre a polícia, o judiciário e os diferentes serviços nas áreas de segurança, saúde, assistência jurídica, médica, psicológica, entre outras, que prestam atendimento a mulheres em situação de violência (PASINATO, 2010).
Como anteriormente era a lei que 9.099/1995 que protegia as mulheres em situação de violência, se fez necessário que o movimento feminista levantasse uma questão para que fosse entendido se a lei vigente levava em consideração o real interesse das mulheres, e a resposta disso

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