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Bruna Lago Santos VULVOVAGINITES E VAGINOSES NÃO INFECCIOSAS • VULVOVAGINITES NÃO ESPECÍFICAS As vulvovaginites representam o motivo de consulta ginecológica mais frequente na população infantojuvenil, compreendendo aproximadamente 70% das queixas ginecológicas no grupo etário. Aproximadamente 25 a 75% das vulvovaginites nas pré-púberes são inespecíficas. Quando este termo é empregado, nos referimos simplesmente à inflamação dos tecidos da vulva e da vagina, onde NÃO se identifica um agente principal. É importante ressaltar que na criança é mais comum se encontrar uma vulvite sem o comprometimento da mucosa vaginal. A vulvite caracteriza-se pela inflamação da mucosa vulvar, sem descarga vaginal. Pode ser desencadeada pelos germes da pele circundante ou ser secundária a uma reação de contato (substâncias químicas, materiais sintéticos) ou alérgica. Já a vaginite compreende a inflamação da mucosa vaginal associada ao corrimento, que pode ser acompanhada ou não da vulvite. ➢ FATORES DE RISCO A pré-púbere apresenta alguns fatores de risco para sua ocorrência: a) Fatores anatômicos: ● Proximidade uretra – vagina – ânus; ● Menor coaptação das formações labiais; ● Tecido adiposo e pelos da região púbica pouco desenvolvidos. b) Fatores fisiológicos: ● Epitélio vaginal delgado; ● pH alcalino (6,5 a 7,5). c) Hábitos/costumes: ● Higiene pobre ou inadequada; ● Uso de roupas apertadas e de material sintético (não permitem a evaporação do suor e de outras secreções); ● Uso de irritantes químicos: sabonetes, loções; ● Uso de fraldas; ● Traumatismos: abuso sexual, masturbação; ● Corpo estranho; ● Fatores socioeconômicos e culturais. d) Comorbidades/medicações: ● Doenças sistêmicas: obesidade, diabetes, infecção das vias aéreas superiores; ● Parasitoses intestinais; ● Doenças dermatológicas (líquen escleroso, líquen plano, psoríase, dermatite atópica, dermatite de contato, dermatite das fraldas); ● Uso de antibióticos de amplo espectro. ➢ AGENTES ETIOLÓGICOS As vulvovaginites são provocadas por germes saprófitas. Eles se tornam agressivos frente à falta de integridade da mucosa ou por algum agente físico-químico que rompe o equilíbrio ecológico entre os germes. Grande parte dos casos resulta de uma higiene perineal deficitária. Os micro-organismos mais comumente associados às vulvovaginites inespecíficas são: Escherichia coli, Staphylococcus epidermidis, bacterioides, enterococos, entre outros. ➢ QUADRO CLÍNICO ● Leucorreia: aspecto variável; ● Prurido vulvar; ● Ardência vulvar; ● Escoriação, hiperemia e edema de vulva; ● Disúria e polaciúria; ● Sinais de má higiene. ➢ DIAGNÓSTICO A anamnese cuidadosa levanta a suspeita diagnóstica. Antes de sua realização, o exame ginecológico deve ser explicado para a paciente e seu responsável. Deve-se tranquilizá-los de que o orifício himenal não será alterado pelo exame. A investigação se inicia pela coleta de material da vagina, através de sonda de nelaton acoplada a uma seringa, para realização de exame a fresco com SF a 0,9% e teste com hidróxido de potássio a 10% (1 gota da secreção vaginal + 1 gota de KOH) e bacterioscópico (Gram). Bruna Lago Santos Na suspeita da presença de corpos estranhos, o toque retal pode ser realizado. Está indicada também a solicitação de exame parasitológico de fezes com pesquisa de oxiúros e exame qualitativo de urina e urinocultura. A citologia não é necessária. A cultura fica reservada para os casos em que o manejo inicial foi insuficiente para a resolução do problema ou em caso de suspeita de abuso sexual. Nestas situações, deve-se solicitar cultura com meios seletivos para gonococo, micoplasma e ureaplasma; imunofluorescência direta e indireta para clamídia; VDRL e HIV. ➢ TRATAMENTO O tratamento inclui: ● Boas medidas higiênicas com água abundante e sabão neutro; ● Prevenir contato com irritantes; ● Evitar roupas sintéticas; ● Banhos de assento com antissépticos; ● Tratamen to sistêmico de infecção urinária, se presente; ● Tratamento de parasitoses intestinais, se confirmada; ● Antibioticoterapia tópica, em caso de identificação do agente. Cabe aqui a ressalva de que o uso rotineiro dos sabonetes para higiene íntima feminina não é preconizado, pois de acordo com evidências científicas não há benefícios na sua utilização regular. • VAGINOSE CITOLÍTICA Corrimento vaginal caracterizado por aumento excessivo de lactobacilos, citólise importante e escassez de leucócitos. A vaginose citolítica tem sintomas semelhantes à CVV, relacionando-se mais frequentemente às condições que propiciam um maior desenvolvimento de lactobacilos, a saber: ● Fase lútea; ● Gravidez; ● Diabetes mellitus. O aumento excessivo da flora lactobacilar desencadeia um processo de citólise das células intermediárias do epitélio vaginal, com consequente liberação de substâncias irritativas provocando o corrimento e a ardência vulvovaginal. ➢ QUADRO CLÍNICO ● Prurido. ● Leucorreia. ● Disúria. ● Dispareunia. ➢ DIAGNÓSTICO ● pH vaginal entre 3,5 e 4,5. ● Microscopia com solução salina: a) Ausência de micro-organismos não pertencentes à microbiota vaginal normal; b) Raros leucócitos; c) Citólise (núcleos desnudos); d) Aumento significativo de lactobacilos ➢ TRATAMENTO Consiste na alcalinização do meio vaginal (aumento do pH vaginal) com duchas vaginais com 30 a 60 g de bicarbonato de sódio diluído em um litro de água morna. Deve-se usar de duas a três vezes por semana até a remissão do quadro clínico. • VAGINITE ATRÓFICA Vaginite que surge em consequência da deficiência de estrogênio. Após a menopausa, seja ela natural ou cirúrgica (remoção dos ovários), os níveis circulantes de estrogênio (principalmente estradiol), são drasticamente reduzidos. O epitélio vaginal e uretral são estrogêniodependentes. Bruna Lago Santos Estão entre os fatores que aumentam o risco de desenvolver vaginite atrófica: ● Menopausa; ● Radioterapia; ● Quimioterapia; ● Ooforectomia; ● Pós-parto; ● Medicamentos: tamoxifeno, danazol, medroxiprogesterona, leuprolide, nafarelina. ➢ QUADRO CLÍNICO Estão presentes sintomas geniturinários. Entre os genitais, destacam-se: ● Prurido vulvar intenso; ● Ardência; ● Dispareunia; ● Conteúdo vaginal amarelo-esverdeado. Já entre os urinários incluem-se: ● Disúria; ● Hematúria; ● Frequência urinária aumentada; ● Infecção urinária; ● Incontinência urinária. Estão presentes sinais genitais e uretrais. Entre os genitais, destacam-se: ● Epitélio vaginal pálido, liso e brilhante; ● Perda de elasticidade e turgor da pele; ● Ressecamento dos grandes e pequenos lábios; ● Estenose de introito vaginal; ● Eritema vulvar; ● Petéquias no epitélio. Já entre os uretrais incluem-se: ● Eversão da mucosa uretral; ● Pólipo uretral; ● Equimoses. ➢ DIAGNÓSTICO ● pH vaginal > 5. ● Microscopia com solução salina: a) Ausência de parasitas; b) Grande quantidade de polimorfonucleares; c) Presença maciça de células basais e para-basais. ➢ DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL ● Candidíase vulvovaginal. ● Vaginose bacteriana. ● Tricomoníase. ● Reação de contato: perfumes, desodorantes, forros das roupas íntimas feitas com material sintético, sabonetes, espermicidas, lubrificantes. ➢ TRATAMENTO Na maioria dos casos, há melhora com a reposição estrogênica local (estrogênio de uso tópico). No entanto, a quantidade e a duração necessárias para eliminar os sintomas dependem muito do grau de atrofia vaginal e variam entre as pacientes.
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