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VULVOVAGINITES E VAGINOSES MEDCURSO + TRATADO DE GINECOLOGIA FEBRASGO LOUISE CANDIOTTO 1 INTRODUÇÃO VULVOVAGINITE Processo inflamatório, com aumento da quantidade de polimorfonucleares, que acomete o trato genital inferior Envolve a vulva, as paredes vaginais e o epitélio escamoso estratificado do colo uterino (ectocérvice). OBS: As vulvovaginites também podem ser denominadas Colpites. VAGINOSE Define a ausência de resposta inflamatória vaginal. ECOSSISTEMA VAGINAL O ecossistema vaginal é um meio complexo que consiste na inter-relação entre a microflora endógena, produtos do metabolismo desta microflora e do hospedeiro, estrogênio e nível do PH. CONTEÚDO VAGINAL FIS IOLÓGICO O meio vaginal é composto pelo resíduo vaginal, pelos restos celulares e microrganismos. RESÍDUO VAGINAL: Composto por: Muco cervical Células vaginais e cervicais esfoliadas Secreção das glândulas de Bartholin e Skene Transudato vaginal Proteínas Glicoproteínas Ácidos graxos orgânicos Carboidratos Pequena quantidade de leucócitos Microrganismos da flora vaginal Possui cor branca ou transparente PH vaginal Em torno de 3,8-4,2 , sendo menor do que 4,5 OBS: A manutenção do PH vaginal é vital para a estabilização do ecossistema vaginal. Os lactobacillus acidophilus, que representam cerca de 90% das bactérias presentes na flora normal, que produzem ácido lático, são os grandes responsáveis pela acidez do PH da vagina. OBS2: O volume varia de acordo com vários fatores, como Fase do ciclo menstrual, uso de hormônios, gravidez, condições orgânicas e psíquicas. OBS3: Nem todo fluxo vaginal representa uma doença e, quando representa, nem toda doença é infecciosa. FLORA VAGINAL NORMAL A composição e a densidade populacional dos microrganismos da flora vaginal normal podem variar de mulher para mulher, variar de acordo com as suas ações (como uso de medicações, duchas, etc.) e durante as diferentes fases do ciclo menstrual. Ela também sofre variações em sua composição na dependência de fatores endógenos ou exógenos. COMPOSIÇÃO HABITUAL: Presença de aeróbios Gram-positivos e Gram- negativos Gram + Lactobacillus acidophilus Anaeróbios facultativos Anaeróbios estritos ou obrigatórios Fungos Candida spp. MECANISMOS DE DEFESA DA REGIÃO GENITAL CONTRA AGRESSÕES EXTERNAS A manutenção da homeostase da mucosa no trato genital feminino é fundamental para impedir a proliferação de microrganismos patogênicos. A mucosa vaginal é a primeira barreira de entrada de patógenos. O muco cervical forma uma trama que dificulta a passagem de patógenos para o trato genital superior, além de possuir substâncias bactericidas. A microbiota vaginal também atua na defesa, pois seus organismo além de produzirem certas substancias (peróxido de hidrogênio, ácido láctico), competem com os patógenos por nutrientes e receptores. Além de todos esses fatores, ainda há a participação de linfócitos T CD4 e CD8 e imunoglobulinas IgA, IgM e IgG. Na fase reprodutiva o estrógeno promove a maturação e diferenciação do epitélio vaginal em células superficiais maduras e ricas em glicogênio, que será metabolizado em ácido lático, pelos lactobacilos, conferindo um pH ácido a vagina. Já na fase pré-púberes e pós-menopausa, ocorre um hipoestrogenismo, acarretando em um aumento do PH vaginal. OBS: Diversos microrganismos podem romper esses mecanismos de proteção e causar uma reação inflamatória na vulva e na vagina, sendo as principais causas infecciosas (transmitidas ou não pelo coito). LOUISE CANDIOTTO 2 VULVOVAGINITES E VAGINOSES QUADRO CLÍNICO PRINCIPAIS QUEIXAS: Conteúdo vaginal aumentado Prurido Irritação QUEIXAS ASSOCIADAS: Odor desagradável Ardência Intenso desconforto NEM TODA A DESCARGA VAGINAL REPRESENTA DOENÇA!!! Mucorreia: Secreção vaginal fisiológica acima do normal O exame especular nesses casos é bastante útil Mostra a ausência de inflamação vaginal, mucosa vaginal de coloração rosa pálido e a presença de muco claro e límpido O tratamento consiste em explicar a paciente que ela está normal Corrimento: Anormalidade na quantidade ou no aspecto físico do conteúdo vaginal Exterioriza-se pelos órgãos genitais externos Precisa fazer a investigação AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA DETERMINAÇÃO DO PH VAGINAL: Pode ser realizada por meio de fitas medidoras de pH A amostra deverá ser obtida do terço médio para o distal da parede lateral, com cuidado para não haver contaminação com muco cervical cujo pH é alcalino (7) EXAME A FRESCO: Colhe-se o conteúdo vaginal e cola em uma lâmina, onde irá se adicionar uma gota de solução salina e seguir com os procedimentos para realização da microscopia direta BACTERIOSCOPIA POR COLORAÇÃO DE GRAM: A presença de clue cells é típica de vaginose bacterina Células epiteliais escamosas de aspecto granular pontilhado e bordas indefinidas cobertas por pequenos e numerosos cocobacilos TESTE DAS AMINAS/ TESTE DE WHIFF: Colhe-se material da vagina que é posto em uma lâmina Adiciona uma gota de hidróxido de potássio (KOH) a 10% Cheira a lâmina LOUISE CANDIOTTO 3 A adição de hidróxido de potássio alcaliniza o conteúdo vaginal e isto permite que determinadas substâncias volatilizem e levem a odores característicos Positivo: Definido pela presença de odor de peixe Nessa situação é válido fazer a análise do PH vaginal Candidíase <4,5 Vaginose bacteriana e na tricomoníase >4,5 FLUXOGRAMA PARA O MANEJO DE CORRIMENTO VAGINAL ABORDAGEM ETIOLÓGICA DAS VULVOVAGINITES Dependendo do agente etiológico envolvido na gênese das vulvovainites, estas podem ser classificadas em vaginites e vaginoses infecciosas e não infecciosas. PRINCIPAIS CAUSAS DE VULVOVAGINITES INFECCIOSAS: Vaginose bacteriana (VB) 46% Candidíase vulvovaginal 23% Tricomaníase 20% Vaginite descamativa VAGINITES E VAGINOSES NÃO INFECCIOSAS: Vaginose citolítica Vaginite atrófica Vulvovaginites inespecíficas Outras causas Fatores físicos, químicos, hormonais, anatômicos e orgânicos LOUISE CANDIOTTO 4 VAGINOSE BACTERIANA (VB) Vulvovaginite infecciosa. É um conjunto de sinais e sintomas resultante de um desequilíbrio da flora vaginal, com aumento da concentração de bactérias anaeróbias em substituição aos lactobacilos. Culmina com uma diminuição dos lactobacilos e um crescimento polimicrobiano de bactérias anaeróbias estritas e de anaeróbias facultativas (Gardnerella vaginalis) cujo fator desencadeante é desconhecido. OBS: Todos os fatores que fazem diminuir a quantidade de oxigênio nos tecidos e, portanto, o seu potencial de oxirredução, favorecem a infecção por anaeróbios estritos. OBS2: A Gardnerella vaginalis predomina na VB. OBS3: Chamamos de vaginose e não de vaginite pois os sintomas inflamatórios são muito discretos ou até mesmo inexistente, além de que múltiplos agentes causais estão envolvidos. EPIDEMIOLOGIA É a principal causa de corrimento vaginal. Incide em aproximadamente 46% das mulheres. A VB tem sido observada em 15 a 20% das gestantes e em cerca de 30% das mulheres com infertilidade. Ocorre com maior frequência em mulheres com vida sexual ativa. Entretanto, pode acometer de forma esporádica crianças e mulheres celibatárias, o que sugere a existência de outras formas de transmissão além da sexual. FATORES PREDISPONENTES FATORES DE RISCO: Mulheres não brancas Gravidez prévia Múltiplos e novos parceiros Tanto mulheres como homens Mulheres que tem parceiras sexuais mulheres possuem alta prevalência de VB Usode DIU Uso de duchas vaginais Tabagismo Não utilização de camisinha OBS: A VB pode ocorrer em mulheres que nunca tiveram um intercurso sexual. QUADRO CLÍNICO Cerca de metade das mulheres com vaginose bacteriana são assintomáticas. SINTOMA TÍPICO Odor fétido, semelhante a “peixe podre”, que se agrava durante a menstruação e coito. MAS POR QUE SE AGRAVA NESSAS SITUAÇÕES? Em ambas as situações, o pH se torna mais alcalino, o que facilita a volatização das aminas produzidas pelos patógenos ASPECTO DO CORRIMENTO VAGINAL: Fluido Homogêneo Branco acinzentado (mais comum) ou amarelado (raro) Normalmente em pequena quantidade Não aderente Divergência na literatura Há algumas que colocam como aderente as paredes vaginais ou colo, mas com fácil remoção Pode formar microbolhas OBS: A presença de sintomas inflamatórios, como dispareunia, irritação vulvar e disúria, é exceção. DIAGNÓSTICO A VB pode ser diagnosticada pelo uso de CRITÉRIOS CLÍNICOS (critérios de Amsel) ou pela COLORAÇÃO GRAM. A VB NÃO É UMA IST A VB é um desequilíbrio da flora vaginal. O coito frequente pode ser um fator desencadeador desse desequilíbrio, na medida que torna o meio mais alcalino. A VB não possui como causa clássica a transmissão sexual. Aspecto que tem que ser esclarecido nas mulheres com VB. LOUISE CANDIOTTO 5 CRITÉRIOS DE AMSEL Presença de 3 dos 4 critérios Critérios: Corrimento branco acinzentado, homogêneo, fino pH vaginal >4,5 Teste das aminas positivo (Whiff test) Visualização de clue-cells/ células guia (entre outros nomes) no exame microscópico a fresco da secreção vaginal EXAME MICROSCÓPICO Pode ser feito a fresco ou corado pelos métodos Gram, Papanicolau, azul cresil brilhante a 1%, entre outros Evidenciam-se escassez de lactobacilos e leucócitos e presença de células chave Coloração Gram Padrão ouro TRATAMENTO INDICAÇÕES Todas as mulheres sintomáticas devem ser tratadas, incluindo as gestantes. OBS: As gestantes assintomáticas de alto risco para resultados perinatais adversos também devem ser tratadas. BENEFÍCIOS DA TERAPIA: Alívio das alterações vaginais Redução das complicações infecciosas após procedimentos cirúrgicos ou após abortamento OBS: O consumo de álcool deve ser evitado durante o tratamento do Metronidazol e por 24 horas após o término. OBS2: O creme de clindamicina tem base oleosa e pode enfraquecer preservativos e diafragmas até 5 dias após o uso. OUTRAS CONSIDERAÇÕES TERAPÊUTICAS MANEJO DOS PARCEIROS Não é recomendada de rotina O tratamento do parceiro não aumenta as taxas de cura ou diminui as taxas de recorrência CLUE CELLS OU CÉLULAS GUIA... Correspondem a células epiteliais vaginais com sua membrana recoberta por bactérias que se aderem à membrana celular e tornam o seu contorno granuloso e impreciso. A Gardnerella vaginallis é a bactéria mais comumente aderida à superfície das células. A identificação de clue cells no exame a fresco é muito sugestiva de VB, mas somente a sua presença não “fecha” o diagnóstico. Apesar de ser um achado característico de VB, as células guias podem estar ausentes em até 40% dos casos. Nesses casos, é necessário que sejam positivos os outros 3 critérios de Amsel. LOUISE CANDIOTTO 6 ABSTINÊNCIA SEXUAL E USO DE CAMISINHA NA VIGÊNCIA DO TRATAMENTO Mulheres devem ser avisadas de praticar abstinência sexual ou usar preservativos correta e consistentemente na vigência do tratamento da VB ABSTINÊNCIA ALCOÓLICA NO TRATAMENTO DA VB O consumo de álcool deve ser evitado durante o tratamento com nitroimidazólicos Para reduzir a possibilidade da reação dissulfiram-like, a abstinência alcoólica deve se estender por 24 horas após o termino do tratamento com o metronidazol e por 72h após o termino do tratamento com o tinidazol USO DE DUCHAS VAGINAIS Seu uso pode aumentar o risco de recidiva USO DE FORMULAÇÕES INTRAVAGINAIS DE LACTOBACILOS Ainda estão sendo feitos estudos a respeito desse tipo de tratamento SEGUIMENTO DAS PACIENTES Totalmente desnecessário se os sintomas se resolvem Só está indicado nas mulheres com múltiplas recorrências Como a VB persistente ou recorrente é comum, mulheres devem ser advertidas a retornar para avaliação em caso de recorrência dos sintomas MANEJO TERAPÊUTICO EM SITUAÇÕES ESPECIAIS ALERGIA, INTOLERÂNCIA OU REAÇÕES ADVERSAS Os óvulos de clindamicina intravaginal são preferíveis nos casos de alergia ou intolerância ao metronidazol ou tinidazol O gel de metronidazol intravaginal pode ser considerado em mulheres não alérgicas com intolerância ao metronidazol oral INFECÇÃO EM HIV POSITIVAS Parece ocorrer com maior frequência em pacientes HIV positivas O tratamento é exatamente o mesmo INFECÇÃO EM GRÁVIDAS Todas as gestantes com doença sintomática devem ser tratadas para diminuição dos efeitos adversos perinatais Preferencialmente o tratamento deve ser feito de forma sistêmica O uso de metronidazol é seguro na gestação Mas alguns profissionais ainda evitam o seu uso no primeiro trimestre da gestação COMPLICAÇÕES EM OBSTETRÍCIA Abortamento Parto prematuro Rotura prematura de membranas ovulares Corioamnionite Infecção placentária Infecção pós-cesariana Colonização do recém-nato EM GINECOLOGIA A VB está relacionada a um grande número de infecções em ginecologia, de alta morbidade, tais como: Endometrite Salpingite Pelveritonite Celulite de cúpula vaginal DIP Infecções pós-operatórias Infecções pelo HIV LOUISE CANDIOTTO 7 CANDIDÍASE VULVOVAGINAL (CVV) Candidíase vulvovaginal é uma infecção da vulva e vagina causada por um fungo do gênero Candida. FUNGO CANDIDA: Gram + Dismorfo Saprófita do trato genital e gastrointestinal Virulência limitada É capaz de se proliferar em ambiente ácido, apesar dos lactobacilos 85% Candida albicans 10-15% Outras espécies não albicans A via sexual não constitui a principal forma de transmissão, pois este fungo Gram-positivo é encontrado na vagina em cerca de 20-30% das mulheres sadias e assintomáticas. EPIDEMIOLOGIA A CVV é a segunda causa mais comum de corrimento vaginal 23% dos casos de vulvovaginites. Afecção rara antes da menarca e após a menopausa. Estima-se que 75% das mulheres irão desenvolver pelo menos um episódio de CVV durante suas vidas. Dessas, 5% cursarão com episódios de recorrência. FATORES DE RISCO Episódios esporádicos de CVV geralmente ocorrem sem fator desencadeante identificado. SITUAÇÕES PREDISPONENTES: Gravidez Uso de contraceptivos orais com alta dosagem de estrogênio Terapia de reposição hormonal somente com estrogênio Diabetes mellitus (descompensada) Uso de DIU Tireoidopatias Obesidade Uso de antibióticos, corticoides ou imunossupressores Hábitos de higiene e vestuário inadequados Diminuem a ventilação e aumentam a umidade e calor local Contato com substancias alérgenas e/ou irritantes Talco, perfume, desodorante Alterações na resposta imunológica Essas situações propiciam o aumento do glicogênio vaginal, com consequente acidificação do meio e proliferação de levedura. QUADRO CLÍNICO Depende do grau de infecção e da localização do tecido inflamado. SINAIS E SINTOMAS: Prurido vulvovaginal Principal sintoma Intensidade variável Leve a insuportável Piora a noite Exacerbado pelo calor local Queimação vulvovaginal Disúria Dor a micção Dispareunia Dor genital associada a relação sexual Corrimento Branco Grumoso Inodoro Com aspecto caseoso (“leite coalhado”) Hiperemiae edema vulvar Escoriações de coçadura Fissuras e maceração da vulva Vagina e colo recobertos por placas brancas ou branco acinzentadas, aderidas à mucosa OBS: Os sinais e sintomas listados podem se apresentar isolados ou associados. LOUISE CANDIOTTO 8 O início do quadro é súbito. Os sintomas podem ser decorrentes de reação alérgica à toxina produzida pelo fungo, a canditina, e tendem a se manifestar ou se exacerbar na semana antes da menstruação, quando a acidez vaginal é máxima. Há a melhora dos sintomas durante a menstruação e no período pós-menstrual. OBS: O parceiro sexual pode apresentar irritação e hiperemia do pênis ou balanoposite. FORMAS CLÍNICAS DIAGNÓSTICO Na maioria dos casos, o quadro clínico e o exame microscópio a fresco são suficientes para o diagnóstico. Na CVV recorrente a realização de cultura pode ser útil para avaliar a presença de espécies não albicans. No exame microscópio a fresco observa-se a presença de pseudo-hifas, em cerca de 70% dos casos. OBS: Na avaliação do corrimento vaginal o pH na CVV se encontrará <4,5. TRATAMENTO Existem várias drogas antifúngicas disponíveis para o tratamento da candidíase vulvovaginal. Independente da opção terapêutica escolhida, recomenda- se, sempre que for possível, a escolha por esquema posológico mais curto para aumentar a adesão ao tratamento. OBS: O tratamento tópico possui como efeitos colaterais ardência e irritação locais. OBS2: O tratamento oral pode produzir cefaleia, náuseas, dor abdominal e, em raros casos, elevação transitória das transaminases hepáticas. LOUISE CANDIOTTO 9 OUTRAS CONSIDERAÇÕES TERAPÊUTICAS MANEJO DOS PARCEIROS As parcerias sexuais não precisam ser tratadas, exceto os sintomáticos Minoria dos parceiros sexuais masculinos que podem apresentar balanite e/ou balanopostite, caracterizada por áreas eritematosas na glande do pênis, prurido ou irritação , tem indicação de tratamento com agentes tópicos SEGUIMENTO DA PACIENTE Desnecessário caso os sintomas forem resolvidos Indicado em pacientes com persistência dos sintomas ou recorrência nos dois primeiros meses após o seu aparecimento inicial MANEJO DA CANDIDÍASE COMPLICADA As drogas orais são preferíveis as tópicas no tratamento da infecção complicada MANEJO TERAPÊUTICO EM SITUAÇÕES ESPECIAIS HOSPEDEIROS IMUNOCOMPROMETIDOS Indicada terapia antimicótica de longa duração 7-14 dias MANEJO NA GRAVIDEZ Somente os derivados azólicos de uso tópico estão indicados Por pelo menos 7 dias ABORDAGEM DE PACIENTES HIV POSITIVAS Maior incidência de casos O tratamento não difere das soronegativas TRICOOANÍASE Infecção causada por um protozoário flagelado denominado Trichomonas vaginalis. EPIDEMIOLOGIA É a terceira causa mais comum de corrimento vaginal, correspondendo a 20% dos casos. Ela é encontrada em cerca de 30-40% dos parceiros sexuais de mulheres infectadas. Na maioria dos casos, a tricomoníase encontra-se associada a outras doenças de transmissão sexual, além de facilitar a transmissão do HIV. As mulheres são, em sua maioria, sintomáticas. A forma assintomática pode cursar em alguns casos como em mulheres na menopausa ou nos homens. A TRICOMONÍASE É UMA IST, E A SUA VIA DE TRANSMISSÃO É QUASE UNICAMENTE SEXUAL!!! FATORES DE RISCO A tricomoníase somente se relaciona com a prática de atividade sexual desprotegida!!! Não há ligação com a idade da mulher, fase do ciclo menstrual, uso de anovulatórios, uso frequente de atb ou frequência de intercursos sexuais. A MELHOR FORMA DE PROTEÇÃO CONTRA A TRICOMONÍASE É O USO DE PRESERVATIVOS (CAMISINHA)!!! QUADRO CLÍNICO Os homens são geralmente portadores assintomáticos e, em linhas gerais, se comportam como vetores. Entretanto, em alguns casos, os homens podem desenvolver um quadro de uretrite não gonocócica, epididimite ou prostatite. As mulheres também podem ser assintomáticas, especialmente pós-menopausa. SINAIS E SINTOMAS: Corrimento vaginal 35% dos casos Queixa mais comum Normalmente abundante Amarelo ou amarelo-esverdeado (mais comum) Malcheiroso Bolhoso pH vaginal >5,0 Geralmente entre 5-6 70% dos casos Sinais inflamatórios da vagina Ardência Hiperemia Edema LOUISE CANDIOTTO 10 Dispareunia superficial Prurido vulvar ocasional OBS: O eritema vulvar ou escoriação não são comuns. OBS2: De forma bem menos corriqueira, pode ainda acometer a uretra e a bexiga, e desencadear disúria, polaciúria e dor suprapúbica. ACHADOS: Colpite focal ou difusa caracterizada por um “colo em framboesa” ou “colo em morango” Achado altamente específico Ocorre devido à dilatação capilar e hemorragias puntiformes Evidenciada em até 90% das colposcopias Teste de Schiller Intensa colpite focal e difusa OBS: A associação entre tricomoníase e outras infecções como gonococcia e VB é observada com certa frequência. OBS2: Em muitas mulheres os sintomas podem ser discretos ou, até mesmo, ausentes. DIAGNÓSTICO REALIZADO COM BASE EM: Anamnese Achados do exame físico Medida do pH vaginal Igual ou superior a 5 (entre 5-6) Teste de Whiff Positivo, mesmo que fracamente Microscopia a fresco do fluido vaginal Revela o protozoário, móvel com seus quatros flagelos anteriores característicos Leucócitos aumentados Altamente específico TRATAMENTO Deve ser sistêmico, pois o tratamento tópico não atinge níveis terapêuticos nas glândulas vaginais e uretra. OBS: Deve-se fazer abstinência alcoólica até 24 horas depois do termino do tratamento com o metronidazol e por até 72 horas após o termino do tratamento com o tinidazol. Evitar o efeito antabuse Interação do álcool e derivados imidazólicos Náuseas, mal-estar, gosto metálico na boca. OUTRAS CONSIDERAÇÕES TERAPÊUTICAS MANEJO DOS PARCEIROS O tratamento dos parceiros e a abstinência sexual durante o tratamento são obrigatórios SEGUIMENTO DAS PACIENTES Desnecessário se os sintomas se resolvem Só está indicado nos pacientes com múltiplas recorrências LOUISE CANDIOTTO 11 MANEJO TERAPÊUTICO EM SITUAÇÕES ESPECIAIS ABORDAGEM NAS PACIENTES HIV POSITIVAS O mesmo das soronegativas É recomendado o a seguir ALERGIA OU INTOLERÂNCIA A TERAPIA RECOMENDADA A dessensibilização ao metronidazol é a conduta preconizada GRAVIDEZ E LACTAÇÃO O metronidazol (categoria B) 2g, VO, dose única é o regime de escolha na gestação Trinidazol (categoria C) não possui segurança bem avaliada e estabelecida Na lactação, ambas as drogas podem ser empregadas Metronidazol Suspende o aleitamento por 12-24 horas Trinidazol Suspende o aleitamento por 72 horas COMPLICAÇÕES A tricomoníase foi associada a resultados gestacionais e puerperais adversos, particularmente: Rotura prematura de membranas ovulares Parto prematuro Baixo peso ao nascer Infecção puerperal VAGINITE DESCAMATIVA Vaginite purulenta, crônica, que ocorre na ausência de processo inflamatório cervical ou do trato genital superior. EPIDEMIOLOGIA A etiologia é desconhecida. Prevalência aumentada na perimenopausa. Cerca de 70% das culturas revelam a presença de estreptococos beta-hemolítico. CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS INCLUEM-SE: Conteúdo vaginal purulento em grande quantidade pH vaginal alcalino Microscopia: Processo descamativo vaginal intenso, com predomínio das células profundas (basais e parabasais) Flora vaginal do tipo 3 (ausência de lactobacilos) Substituição da flora lactobacilar por cocos Gram-positivos Número elevado de polimorfonucleares TRATAMENTO Clindamicida creme 2%, 5g via vaginal por 7 dias. Nas pacientes menopausadasrecomenda-se, também, o uso tópico de estrogênio com uma aplicação vaginal diária por umas 2 semanas, com dose de manutenção de uma vez por semana. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Líquen plano erosivo vaginal Tricomoníase Vaginite atrófica complicada Vaginite por estreptococos do grupo A Vaginite por corpo estranho (tampão vaginal) Úlceras idiopáticas em mulheres HIV positivas Síndromes penfigoides VULVOVAGINITES INESPECÍFICAS Vulvovaginite não infecciosa Aproximadamente 25-75% das vulvovaginites nas pré- puberes são inespecíficas. Inflamação dos tecidos da vulva e da vagina, onde não se identifica um agente principal. OBS: Na criança é mais comum encontrar uma vulvite sem comprometimento da mucosa vaginal. A vulvite caracteriza-se pela inflamação da mucosa vulvar, sem descarga vaginal Ela pode ser desencadeada pelos germes da pele circundante ou ser secundária a uma reação de contato (substancias químicas, materiais sintéticos) ou alergia. A vaginite compreende a inflamação da mucosa vaginal associada ao corrimento, que pode acompanhar ou não da vulvite. LOUISE CANDIOTTO 12 FATORES DE RISCO AGENTES ETIOLÓGICOS Os microrganismos mais comuns associados as vulvovaginites inespecíficas são Escherichia coli, Staphylococcus epidermidis, bacterioides, enterococos, entre outros. QUADRO CLÍNICO OS PRINCIPAIS SINAIS E SINTOMAS SÃO: Leucorreia: aspecto vaiável Prurido vulvar Ardência vulvar Escoriação, hiperemia e edema de vulva Disúria e polaciúria Sinais de má higiene DIAGNÓSTICO A anamnese cuidadosa levanta suspeita de diagnóstico. REALIZA: Exame a fresco Teste de Whiff Bacterioscopia OBS: Pode-se solicitar um parasitológico de fezes e exame qualitativo de urina e urocultura. OBS2: A citologia não é necessária. OBS3: A cultura fica reservada para os casos em que o manejo inicial foi insuficiente para a resolução do problema ou em casos de suspeita de abuso sexual. TRATAMENTO Boas medidas higiênicas com água abundante e sabão neutro Prevenir contato com irritantes Evitar roupas sintéticas Banhos de assento com antissépticos Tratamento sistêmico de infecção urinária, se presente Tratamento de parasitoses intestinais, se confirmada Antibioticoterapia tópica, em caso de identificação do agente OBS: Cabe aqui a ressalva de que o uso rotineiro dos sabonetes para higiene íntima feminina não é preconizado, pois de acordo com evidências científicas não há benefícios na sua utilização regular. VAGINOSE CITOLÍTICA Vaginose não infecciosa. Corrimento vaginal caracterizado por aumento excessivo de lactobacilos, citólise importante e escassez de leucócitos. FISIOPATOLOGIA A vaginose citolítica tem sintomas semelhantes à CVV, relacionando-se mais frequentemente às condições que propiciam um maior desenvolvimento de lactobacilos, a saber: Fase lútea Gravidez Diabetes mellitus O aumento excessivo da flora lactobacilar desencadeia um processo de citólise das células intermediárias do epitélio vaginal, com consequente liberação de substâncias irritativas provocando o corrimento e a ardência vulvovaginal. QUADRO CLÍNICO Prurido Leucorreia Corrimento esbranquiçado e abundante Disúria Dispareunia Sensação de queimação Desconforto LOUISE CANDIOTTO 13 Conteúdo vaginal geralmente aumentado, de aspecto flocular, fluido ou em grumos, aderente ou não as paredes vaginais Podem estar presentes sinais inflamatórios CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS Microscopia com solução salina: Ausência de microrganismos não pertencentes a microbiota vaginal normal Raros leucócitos Citólise (núcleos desnudados) Aumento significativo de lactobacilos Não é necessário realizar o teste das aminas pH vaginal entre 3,5-4,5 TRATAMENTO Não existe um tratamento específico para essa afecção, já que a etiopatologia não é conhecida. Alcalinização do meio vaginal (aumento do pH) com duchas vaginais com 30-60g de bicarbonato de sódio diluído em um litro de água morna. Deve-se usar 2/3 vezes por semana até a remissão do quadro clínico. VAGINITE ATRÓFICA Vaginite não infecciosa. Vaginite que surge em consequência da deficiência de estrogênio. Após a menopausa, os níveis circulantes de estrogênio são drasticamente reduzidos. FATORES DE RISCO Menopausa Radioterapia Quimioterapia Ooferectomia Remoção de um ou dos dois ovários Pós-parto Medicamentos QUADRO CLÍNICO Estão presentes sintomas geniturinários. Estão presentes sinais genitais e uretrais. SINTOMAS: Genitais: Prurido vulvar intenso Ardência Dispareunia Conteúdo vaginal amarelo-esverdeado Urinários: Disúria Hematúria Frequência urinária aumentada Infecção urinária Incontinência urinária SINAIS: Genitais: Epitélio vaginal pálido, liso e brilhante Perda de elasticidade e turgor da pele Ressecamento dos grandes e pequenos lábios Estenose de introito vaginal Eritema vulvar Petéquias no epitélio Uretrais: Eversão da mucosa uretral Pólipo uretral Equimoses DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Candidíase vulvovaginal Vaginose bacteriana Tricomoníase Reação de contato Perfumes, desodorantes, forros das roupas íntimas feitas com material sintético, sabonetes, espermicidas, lubrificantes CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS pH vaginal > 5 Microscopia com solução salina: Ausência de parasitas Grande quantidade de polimorfonucleares Presença maciça de células basais e parabasais TRATAMENTO Na maioria dos casos, há melhora com a reposição estrogênica local (estrogênio de uso tópico). No entanto, a quantidade e a duração necessárias para eliminar os sintomas dependem muito do grau de atrofia vaginal e variam entre as pacientes. LOUISE CANDIOTTO 14
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