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Se liga na língua: literatura, produção de texto, linguagem
Wilton Ormundo, Cristiane Siniscalchi
Moderna
Página 1
Wilton Ormundo
Bacharel e licenciado em Letras (habilitações Português/Linguística) pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas e pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo.
Mestre em Letras (Literatura Brasileira) pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Professor de Português e diretor pedagógico em escolas de Ensino Médio em São Paulo por 19 anos.
Cristiane Siniscalchi
Bacharela e licenciada em Letras (habilitação Português) pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas e pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo.
Mestra em Letras (área de concentração: Teoria Literária e Literatura Comparada) pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.
Professora de Português e coordenadora de Língua Portuguesa em escolas de Ensino Médio em São Paulo por 23 anos. Coautora de livros didáticos e paradidáticos.
Se liga na língua
Literatura
Produção de texto
Linguagem
1
Ensino Médio
Componente curricular: língua portuguesa
MANUAL DO PROFESSOR
1ª edição São Paulo, 2016
Editora Moderna
Página 2
Coordenação editorial: Aurea Regina Kanashiro
Edição de texto: Cecília Kinker, José Paulo Brait, Sueli Campopiano
Assistência editorial: Yuri Bileski, Daniel Maduar
Preparação de texto: Silvana Cobucci Leite
Apoio didático-pedagógico: Adelma das Neves Nunes Barros Mendes, Teresa Chaves
Apoio editorial: Diego Marsalla Toscano, Vivian Tammy Tsuzuki
Gerência de design e produção gráfica: Sandra Botelho de Carvalho Homma
Coordenação de produção: Everson de Paula
Suporte administrativo editorial: Maria de Lourdes Rodrigues (coord.)
Coordenação de design e projetos visuais: Marta Cerqueira Leite
Projeto gráfico: Daniel Messias
Capa: Douglas Rodrigues José
Ilustração de capa: colagem digital de Regina Terumi Mizuno, com fotos de Mimagephotography/Shutterstock (rapaz em primeiro plano), Peshkova/Shutterstock (moldura superior), Nejron Photo/Shutterstock (amigos tirando foto), Picsfive /Shutterstock (moldura inferior), Wtamas/Shutterstock (jovens pulando), Vovan/Shutterstock (textura de papel), Sathit/Shutterstock (livros), Mama_mia/Shutterstock (tablete), Giemgiem/Shutterstock (jardim japonês na tela do tablete), Karuka/Shutterstock (livros), StudioSmart/Shutterstock (guitarra), Pikselstock/Shutterstock (garota com bicicleta), Fotofermer/Shutterstock (muda de árvore), Le Do/Shutterstock (árvore), Michal Staniewski/Shutterstock (Morro Dois Irmãos, em Fernando de Noronha), Aksana Shum/Shutterstock (estampa de fundo)
Coordenação de arte: Patricia Costa Ribeiro, Wilson Gazzonni Agostinho
Edição de arte: Rodolpho de Souza
Editoração eletrônica: Casa de Ideias, Select Editoração
Coordenação de revisão: Adriana Bairrada
Revisão: Ana Maria C. Tavares, Fernanda Marcelino,
Simone Soares Garcia, Vânia Bruno
Coordenação de pesquisa iconográfica: Luciano Baneza Gabarron
Pesquisa iconográfica: Mariana Veloso Lima, Elizete Moura Santos
Coordenação de bureau: Américo Jesus
Tratamento de imagens: Denise Feitoza Maciel, Marina M. Buzzinaro, Rubens M. Rodrigues
Pré-impressão: Alexandre Petreca, Everton L. de Oliveira, Fabio N. Precendo, Hélio P. de Souza Filho, Marcio H. Kamoto, Vitória Sousa
Coordenação de produção industrial: Viviane Pavani
Impressão e acabamento:
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Ormundo, Wilton
Se liga na língua : literatura, produção de texto, linguagem / Wilton Ormundo, Cristiane Siniscalchi. -- 1. ed. -- São Paulo : Moderna, 2016.
Obra em 3 v.
1. Linguagem e línguas (Ensino médio) 2. Literatura (Ensino médio) 3. Português (Ensino médio) 4. Textos (Ensino médio) I. Siniscalchi, Cristiane. II. Título.
15-11537 CDD-469.07
Índices para catálogo sistemático: 1. Português : Ensino médio 469.07
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Todos os direitos reservados
EDITORA MODERNA LTDA.
Rua Padre Adelino, 758 - Belenzinho
São Paulo - SP - Brasil - CEP 03303-904
Vendas e Atendimento: Tel. (0_ _11) 2602-5510
Fax (0_ _11) 2790-1501
www.moderna.com.br
2016
Impresso no Brasil
1 3 5 7 9 10 8 6 4 2
Página 3
APRESENTAÇÃO
Caro aluno,
Há muitos anos, os autores desta coleção vêm trabalhando com adolescentes que, como você, refletem criticamente sobre as coisas da vida, têm opiniões, crises, sonhos, projetos e, acima de tudo, sentem-se capazes de transformar o mundo, por mais árido que ele se apresente em alguns momentos.
Essa capacidade e essa força criadora dos jovens nos movem e nos incentivam a entrar nas salas de aula todos os anos, a pesquisar métodos de ensino-aprendizagem, a pensar em diferentes formas de dialogar com nossos alunos, a investigar novas tecnologias e a escrever obras como esta.
Embora reconheçamos que todas as áreas do conhecimento são essenciais para a formação humana, consideramos que o trabalho com a linguagem é, de certo modo, especial. Como disse o poeta mexicano Octavio Paz, “A palavra é o próprio homem. Somos feitos de palavras. Elas são nossa única realidade ou, pelo menos, o único testemunho de nossa realidade”.
Acreditamos que é a palavra que nos possibilita inventar e reinventar o mundo; é ela que, quando transformada em arte, nos convida a outros universos e permite nosso acesso ao mais secreto e íntimo de nós mesmos por meio de outros “seres humanos”, os personagens das histórias que lemos; é a palavra que nos dá direito ao grito; é ela, finalmente, que expressa e organiza tudo aquilo que sentimos e somos.
Esperamos que seu contato com os vários gêneros discursivos, seu estudo sobre o funcionamento da língua e seu mergulho nos muitos textos literários apresentados aqui constituam momentos de prazer e de – quem sabe – embate. Este livro pretende dar voz a você e não apenas ser um mero instrumento de consulta.
Um abraço.
Página 4
SUMÁRIO
LITERATURA
Uma só realidade não é o bastante
HUGO ARAÚJO
UNIDADE 1 – Afinal, pra que serve a literatura? 14
• Capítulo 1 – O texto literário 16
Pra começar: conversa com a tradição 17
Leitura: “Elogio da memória”, de José Paulo Paes 17
A literatura atribui novos sentidos às palavras 18
Leitura: “Guardar”, de Antonio Cicero 18
A linguagem literária é predominantemente conotativa 19
Movimentos literários 19
Contexto histórico e historiografia 20
Leitura: trecho de A moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo, e “Pista de dança”, de Waly Salomão 20
Intertextualidade e biblioteca cultural 23
Atividade – Leitura de texto:
“A incapacidade de ser verdadeiro”, de Carlos Drummond de Andrade 25
• Capítulo 2 – Gêneros literários (I): o épico e o dramático 26
Pra começar 27
Leitura: trecho da Odisseia, de Homero 27
A teoria clássica dos gêneros 28
Gênero épico: narrativa da grandiosidade 29
Gêneros literários modernos 29
Leitura: “No metrô vazio”, de Heloisa Seixas 30
Gênero dramático: a arte da ação 31
Tragédia: destino e purificação 31
Comédia: rir de nós mesmos 31
Atividade – Textos em conversa:
“Porto Alegre (Nos braços de Calipso)”, de Péricles Cavalcanti 32
• Capítulo 3 – Gêneros literários (II): o lírico (estudo do poema) 33
Pra começar 34
Leitura: haicai de Mario Quintana 34
Gênero lírico: expressão do “eu” 34
Poema é literatura 35
Leitura: “Amor é um fogo que arde sem se ver”, de Luís de Camões 35
Características do poema 37
Verso e estrofe 37
Leitura: “Uma voz”, de Ferreira Gullar 37
Ritmo e métrica 37
Leitura: “Amor punk”, de Nicholas Behr 38
Rima 39
Recorrências 40
Leitura: “Tudo escapa aqui dentro”, de Bruno Zeni 40
Atividade: criação de um haicai 41
• Leitura puxa leitura 42
UNIDADE 2 – A herança lusitana 44
• Capítulo 4 – Os primórdios da literatura na nossa língua 46
Pra começar: conversa com a tradição 47
Leitura: “Fez-se mar”, de Marcelo Camelo 47
Poesia lírica: o amor em três tempos 48
Trovadorismo: as cantigas medievais 49
As cantigas de amor 49
Página 5
Leitura: “Que prazer havedes, senhor”, de D. Dinis 50
Ascantigas de amigo 51
Leitura: “Ai eu coitada, como vivo em gram cuidado”, de Sancho I 51
Atividade – Textos em conversa: “Amor brando”, de Karina Buhr 52
Humanismo: a poesia palaciana 52
Leitura: “Vossa grande crueldade”, de Francisco da Silveira 53
Classicismo: a lírica de Camões 54
Leitura: “Um mover de olhos, brando e piedoso”, de Luís de Camões 56
Gil Vicente e o teatro no Humanismo 57
Leitura: trecho do Auto da barca do inferno, de Gil Vicente 58
Classicismo português: Os lusíadas 60
Episódios: diálogos intertextuais 61
Velho do Restelo 61
Leitura: trecho de Os lusíadas, de Luís de Camões 62
Gigante Adamastor 63
Atividade – Textos em conversa:
“O mostrengo que está no fim do mar”, de Fernando Pessoa, e trecho de Os lusíadas, de Luís de Camões 65
• Capítulo 5 – Quinhentismo: escritos sobre um outro mundo 67
Pra começar 68
Leitura: “A terra que se abre como flor”, de Sérgio Cohn 68
O Brasil antes e depois de Portugal 70
A Carta de Caminha 71
Leitura: trechos da Carta de Pero Vaz de Caminha 72
Outros olhares sobre o Brasil 75
Uma escrita para conversão 75
Síntese dos movimentos literários brasileiros 76
Atividade – Leitura de texto: trecho de Tratado da Terra do Brasil, de Pero de Magalhães de Gandavo, e Primeira missa no Brasil, de Victor Meirelles 78
• Expressões 80
• Leitura puxa leitura 82
UNIDADE 3 – Barroco: um movimento extravagante 84
• Capítulo 6 – Barroco: movimento dos contrastes 86
Pra começar: conversa com a tradição 87
Leitura: “Feito pra acabar”, de Marcelo Jeneci 87
O dualismo típico do Barroco 88
Leitura: “Moraliza o poeta nos ocidentes do Sol a inconstância dos bens do mundo”, de Gregório de Matos 88
Barroco: a busca por outra beleza 89
O Barroco espanhol 90
Gongorismo versus Conceptismo 91
O Barroco em terras portuguesas 91
Cartas barrocas: grandes expressões literárias 92
Alcoforado: cinco cartas de amor rasgado 92
Atividade – Leitura de texto: “Apólogo da Morte”, de D. Francisco Manuel de Melo, e “Quinta”, de Sóror Mariana Alcoforado 93
• Capítulo 7 – O Barroco no Brasil: Gregório de Matos e Padre Vieira 96
Pra começar 97
Leitura: “Achando-se um braço perdido do Menino Deus de N. S. das Maravilhas, que desacataram infiéis na Sé da Bahia”, de Gregório de Matos 97
Gregório de Matos: um poeta completo 98
A poesia satírica 99
Leitura: “Juízo anatômico dos achaques que padecia o corpo da República, em todos os membros, e inteira definição do que em todos os tempos é a Bahia”, de Gregório de Matos 99
A poesia amorosa 100
Padre Antônio Vieira: o homem da palavra 101
Sermões: sedução e pregação 101
O estilo de Vieira: clássico e barroco 101
Barroco tardio: pinturas e igrejas 103
Atividade – Leitura de texto: trecho do “Sermão ao enterro dos ossos dos enforcados”, de Padre Antônio Vieira 104
• Leitura puxa leitura 106
Página 6
SUMÁRIO
UNIDADE 4 – Arcadismo: simplicidade, equilíbrio e razão 108
• Capítulo 8 – Arcadismo: o retorno dos clássicos 110
Pra começar: conversa com a tradição 111
Leitura: “Vilarejo”, de Marisa Monte, e tumblr, de Aldo Fabrini Assayag 111
Do Classicismo ao Neoclassicismo 112
À luz da razão 112
Enciclopédia: a bíblia iluminista 113
Arcadismo em Portugal 113
Bocage: poeta de tantas faces 116
Leitura: “Já se afastou de nós o Inverno agreste” e “Importuna Razão, não me persigas”, de Bocage 117
Atividade – Textos em conversa: “Almas, vidas, pensamentos”, de Bocage, e “A pesca”, de Affonso Romano de Sant’Anna 119
• Capítulo 9 – Arcadismo no Brasil: a poesia épica e a lírica 121
Pra começar 122
Leitura: trechos de Caramuru, de Santa Rita Durão 122
A poesia épica 124
Basílio da Gama: a defesa do nativo 124
O Uraguai 124
Leitura: trecho de O Uraguai, de Basílio da Gama 125
A poesia lírica 127
Cláudio Manuel da Costa 128
O pastor sofredor 128
Leitura: “Soneto XIV”, de Cláudio Manuel da Costa 128
Tomás Antônio Gonzaga 130
Marília de Dirceu 130
Leitura: trecho de Marília de Dirceu, de Tomás Antônio Gonzaga 131
Cartas chilenas 132
Atividade – Textos em conversa: “A uma senhora natural do Rio de Janeiro, onde se achava então o autor”, de Basílio da Gama, e “Nunca não ser ninguém nem nada”, de Paulo Henriques Britto 133
• Expressões 135
• Leitura puxa leitura 136
PRODUÇÃO DE TEXTO
Nós nos comunicamos por gêneros
HUGO ARAÚJO
UNIDADE 5 – O domínio discursivo do lazer 142
• Capítulo 10 – História em quadrinhos: gênero que muitos amam 144
Pra começar 145
Primeira leitura: HQ Quase nada, de Moon e Bá 146
Estudo do gênero 147
Segunda leitura: tira Calvin e Haroldo, de Bill Watterson, e HQ Turma da Mônica Jovem, de Mauricio de Sousa 148
Textos em relação 150
A linguagem própria das histórias em quadrinhos 150
Os elementos implícitos 151
Desafio de linguagem 151
Produza sua história em quadrinhos 152
Avaliação e reescrita: etapas fundamentais da produção textual 153
Página 7
UNIDADE 6 – O domínio discursivo jornalístico 156
• Capítulo 11 – Entrevista: uma conversa dirigida 158
Pra começar 159
Primeira leitura: Entrevista com Bruna Vieira, autora do blog “Depois dos quinze” 159
Estudo do gênero 163
Segunda leitura: Entrevista de João Alexandre Borba ao programa Nacional Jovem 164
Textos em relação 166
A oralidade em um gênero formal e público 166
O procedimento da retextualização 167
Desafio de linguagem 168
Produza sua entrevista 169
• Capítulo 12 – Notícia: atualidades em foco 171
Pra começar 172
Primeira leitura: “Escadaria de Santos vira pista para downhill” 172
Estudo do gênero 174
Segunda leitura: “Incêndio destrói parte de shopping na zona norte do Rio” 175
Textos em relação 177
A construção da credibilidade 177
A quantificação 178
Desafio de linguagem 179
Produza sua notícia 180
UNIDADE 7 – O domínio discursivo interpessoal 182
• Capítulo 13 – Carta aberta: instrumento de atuação social 184
Pra começar 185
Primeira leitura: “Carta aberta à mãe dos meus irmãos”, de Rita Lisauskas 185
Estudo do gênero 187
Segunda leitura: Carta aberta do Presidente da “Fundação Fernando Leite Couto”, Mia Couto – “Contra o genocídio dos moçambicanos na África do Sul” 187
Textos em relação 190
O efeito persuasivo 190
A interlocução explícita 191
Desafio de linguagem 191
Produza sua carta aberta 192
• Capítulo 14 – Relato de experiência: a construção da identidade coletiva ..194
Pra começar 195
Primeira leitura: História de Vinícius Campos de Oliveira 195
Estudo do gênero 198
Segunda leitura: Relato incluído no filme As canções 199
Textos em relação 200
Marcas próprias da oralidade 200
As interrupções sintáticas 201
Desafio de linguagem 201
Produza seu relato oral 202
• Expressão cidadã 204
UNIDADE 8 – O domínio discursivo ficcional 206
• Capítulo 15 – Conto: um gênero popular 208
Pra começar 209
Primeira leitura: “Curso superior”, de Marcelino Freire 209
Estudo do gênero 211
Segunda leitura: “Uma situação delicada”, de Ivan Angelo 212
Textos em relação 215
As várias vozes 215
Os tipos de discurso 216
Desafio de linguagem 218
Produza seu conto 218
• Capítulo 16 – Crônica: um gênero que rompe a rotina 221
Pra começar 222
Primeira leitura: “Embarque”, de Antonio Prata 222
Estudo do gênero 224
Segunda leitura: “Uni, duni, tê”, de Rubem Penz 225
Textos em relação 226
O tratamento apurado da linguagem 226
A linguagem figurada 227
Desafio de linguagem 228
Produza sua crônica 229
Página 8
SUMÁRIO
Linguagem
Níveis de descrição linguística
HUGO ARAÚJO
UNIDADE 9 – Linguagem: sistema de comunicação 236
• Capítulo 17 – Linguagem e língua 238
Pra começar 239
Leitura: foto de Poema suspenso para uma cidade em queda, de Luiz Fernando Marques 239
Linguagem verbal, não verbal e mista 240
Língua e variação linguística 241
Refletindo sobre a língua – Atividades 242
Adequação linguística 247
Refletindo sobre a língua – Atividades 249
Para dar mais um passo – Existem palavras proibidas? 252
Leitura: “Flatulências excessivas”, de João Pereira Coutinho 252
Você já viu isso antes – Homônimos e parônimos: equívocos comuns 254
Leitura: charge de Pancho 254
• Capítulo 18 – Língua falada e língua escrita 256
Pra começar 257
Leitura: tira Níquel Náusea, de Fernando Gonsales 257
Tempo de planejamento 258
Sistemascomplementares 259
Refletindo sobre a língua – Atividades 260
Ortografia: um acordo entre falantes 263
A classificação dos fonemas 264
Encontros vocálicos e semivogais 264
Encontros consonantais 265
Dígrafos 265
Refletindo sobre a língua – Atividades 266
Para dar mais um passo – A exploração dos sons em textos poéticos 269
Leitura: “Juçara”, de Paulo Padilha 269
Você já viu isso antes – A acentuação gráfica e os verbos 270
Leitura: linha-fina de notícia 270
• Expressão coletiva 272
UNIDADE 10 – Linguagem, comunicação e sentidos 278
• Capítulo 19 – Fatores envolvidos na comunicação 280
Pra começar 281
Leitura: capa do jornal de esportes Lance! 281
As funções da linguagem 282
Refletindo sobre a língua – Atividades 283
Outros fatores envolvidos na comunicação 286
Intertextualidade 287
Contexto 288
Intencionalidade e informações implícitas 288
Coesão e coerência textuais 289
Refletindo sobre a língua – Atividades 289
Para dar mais um passo – Um texto conversa com outro 292
Leitura: “Álvaro, me adiciona”, de Gregório Duvivier 292
Você já viu isso antes – A acentuação gráfica e os encontros vocálicos 293
Leitura: “Silêncio”, de Eugen Gomringer 293
• Capítulo 20 – Os vários sentidos de um texto 295
Pra começar 296
Página 9
Leitura: título, linha-fina e olho de reportagem 296
Relações de sentido 297
Refletindo sobre a língua – Atividades 300
Polissemia, sentido denotativo e sentido conotativo 303
Refletindo sobre a língua – Atividades 304
Para dar mais um passo – O dicionário e o sentido das palavras 307
Leitura: tira Bichinhos de Jardim, de Clara Gomes, e verbetes “perigoso”, “difícil” e “fofo”, do Dicionário Houaiss da língua portuguesa 308
Você já viu isso antes – O emprego de por que, por quê, porque e porquê 309
Leitura: tira de Benett 309
• Capítulo 21 – Figuras de linguagem 312
Pra começar 313
Leitura: “Poema”, de Mario Quintana 313
Figuras de linguagem I 314
Metáfora e comparação 314
Metonímia 315
Catacrese 316
Sinestesia 316
Refletindo sobre a língua – Atividades 317
Figuras de linguagem II 319
Eufemismo 319
Hipérbole 320
Antítese e paradoxo 320
Ironia 321
Personificação ou prosopopeia 321
Gradação 322
Refletindo sobre a língua – Atividades 323
Para dar mais um passo – As figuras de linguagem e o efeito de criatividade 326
Leitura: sinopses dos filmes Mãos talentosas – a história de Ben Carson, de Thomas Carter, As melhores coisas do mundo, de Laís Bodanzky, O vendedor de passados, de Lula Buarque de Hollanda, e Tá chovendo hambúrguer, de Chris Miller e Phil Lord 326
Você já viu isso antes – Algumas regras de grafia de substantivos abstratos 328
Leitura: títulos de reportagem 328
UNIDADE 11 – Como se formam as palavras 330
• Capítulo 22 – Morfemas e processos de formação de palavras 332
Pra começar 333
Leitura: tira Mig & Meg, de Márcia d’Haese 333
Tipos de morfema 333
Radical 334
Afixo 334
Desinência 334
Vogal temática 335
Vogal e consoante de ligação 335
Refletindo sobre a língua – Atividades 336
Processos de formação de palavras 338
Composição 339
Derivação 340
Abreviação ou redução 341
Formação de siglas (siglonimização) 342
Onomatopeia 342
Empréstimo lexical 343
Neologismo 343
Refletindo sobre a língua – Atividades 344
Para dar mais um passo – Minúcias de sentido 346
Leitura: resenha do filme Interestelar, de Christopher Nolan 347
Você já viu isso antes – Uso do hífen 348
Leitura: trecho de “A história do hífen”, de Gabriel Perissé 348
Página 10
PÁGINA EM BRANCO
Página 11
LITERATURA
DETALHE DE UMA DAS ILUSTRAÇÕES DE CHRISTIAN JACKSON, EXIBIDAS NA PÁGINA 24 DESTE VOLUME. © CHRISTIAN JACKSON/SQUARE INCH DESIGN – COLEÇÃO PARTICULAR
UNIDADE 1 Afinal, pra que serve a literatura?
• Capítulo 1: O texto literário
• Capítulo 2: Gêneros literários (I): o épico e o dramático
• Capítulo 3: Gêneros literários (II): o lírico (estudo do poema)
UNIDADE 2 A herança lusitana
• Capítulo 4: Os primórdios da literatura na nossa língua
• Capítulo 5: Quinhentismo: escritos sobre um outro mundo
UNIDADE 3 Barroco: um movimento extravagante
• Capítulo 6: Barroco: movimento dos contrastes
• Capítulo 7: O Barroco no Brasil: Gregório de Matos e Padre Vieira
UNIDADE 4 Arcadismo: simplicidade, equilíbrio e razão
• Capítulo 8: Arcadismo: o retorno dos clássicos
• Capítulo 9: Arcadismo no Brasil: a poesia épica e a lírica
Página 12
UMA SÓ REALIDADE NÃO É O BASTANTE
Você sabia que a criação de histórias, heróis, vilões, conflitos, versos, cantigas sempre fez parte do universo humano? Uma só realidade parece não ser o bastante para nós. Por que será que a literatura fascina tanto o homem de qualquer tempo? Por que temos necessidade de sair do nosso chão seguro e viajar no universo das palavras que criam novos mundos e personagens?
Segundo o crítico literário Antonio Candido, a literatura satisfaz uma necessidade básica do ser humano: a ficção. Ou seja, assim como ninguém fica sem sonhar, tampouco consegue viver sem criar histórias ou ter contato com elas.
A literatura é uma arte muito especial, pois pode ser apreciada onde quer que se esteja: em casa, no metrô, no parque... Compare: ouvir uma canção em uma mídia digital ou no rádio tem o mesmo impacto que escutá-la ao vivo, executada pelos músicos? Observar a foto de um quadro ou de uma escultura é o mesmo que contemplá-la em um museu nas suas dimensões, texturas e cores reais? Certamente não. No entanto, para mergulhar nos mundos criados pelos escritores, não é preciso ler diretamente dos originais escritos por eles.
O livro é sempre único. Por meio das histórias que ele traz, expandimos nosso mundo, inventamos outros e reinventamos a realidade. A literatura nos faz enxergar novas maneiras de viver e nos leva a conhecer diferentes pontos de vista. Neste volume, você iniciará seus estudos de literatura no Ensino Médio e terá a oportunidade de conhecer, por meio da linguagem verbal escrita, os muitos mundos criados pelos poetas, romancistas, contistas, dramaturgos. Além disso, poderá exercitar seu lado criador, interpretando esses mundos, relacionando-os à sua realidade e inventando seus próprios universos literários.
Aventure-se!
HUGO ARAÚJO
Página 13
FIGURA EM PÁGINA DUPLA COM A PÁGINA ANTERIOR
Página 14
UNIDADE 1 AFINAL, PRA QUE SERVE A LITERATURA?
Você faz arte? Que tipo de expressão artística mais aprecia? Que contato você tem com a arte no seu dia a dia?
Ainda que você não perceba, a arte está presente em diversos momentos de sua vida: nas imagens que ilustram seus livros didáticos, nas canções que você ouve, nos filmes, nas peças de teatro e nos espetáculos de dança a que assiste, nas exposições que visita, nos livros que lê. A arte sempre fez parte do universo humano — as pinturas e os desenhos que os homens pré-históricos deixaram impressos nas paredes das grutas (arte rupestre) são uma prova disso.
Talvez você esteja se perguntando: “Certo, a arte existe, mas ela serve para quê?”. Saiba que essa questão vem desde a Antiguidade, muitos séculos antes de Cristo. Para os gregos antigos, o papel da arte era o de imitar a natureza, ou seja, a obra de arte deveria ser uma cópia, uma representação, o mais fiel possível, da realidade. Podemos dizer que essa concepção de arte se manteve no ocidente até o final do século XIX, quando um movimento artístico chamado Impressionismo passou a priorizar não a representação fiel do objeto representado, mas a maneira como a luz, em diferentes momentos do dia, refletia sobre ele.
E no caso específico da literatura? Para o que ela serve? O crítico literário Antonio Candido defende que a função da literatura é organizar em palavras nosso caótico mundo interior. Você já não teve a sensação de ler uma história ou um poema que expressava exatamente o que você estava sentindo? Pois então... é a isso que o crítico se refere.
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JOÃO CALDAS
Cena de Alice no país das maravilhas, em montagem do grupo teatral Cia. Le Plat du Jour (2009), inspirada no clássico de Lewis Carroll, escrito em 1865. As aventuras da menina Alice viraram teatro, filme, pintura, escultura, desenho animado. O que torna uma obra literária umclássico universal, a ponto de atravessar o tempo, fascinando leitores e inspirando artistas? Uma explicação possível está na definição do autor Italo Calvino: “Um clássico é um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer”.
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CAPÍTULO 1 O TEXTO LITERÁRIO
PERCURSO DO CAPÍTULO
Textos literários e textos não literários
Denotação e conotação 
Movimentos literários
O contexto e a historiografia 
A intertextualidade
A biblioteca cultural: repertório do leitor
Milhares de sites são criados e desativados diariamente. Por essa razão, é possível que os endereços indicados neste capítulo não estejam mais disponíveis.
TORRES, Apolo. Coexistência II. 2009. Óleo, acrílica e spray sobre tela, 60 × 90 cm. Nessa tela, o pintor e ilustrador Apolo Torres mergulha um ônibus no delicado e poético universo da pintura, fundindo arte e realidade (representada pelo veículo imerso em uma das constantes enchentes das grandes cidades). A arte (incluindo a literatura) tem o poder de recriar a realidade de modo a chamar nossa atenção para coisas que antes pareceriam naturais.
COLEÇÃO PARTICULAR
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PRA COMEÇAR: CONVERSA COM A TRADIÇÃO
Leia, a seguir, o poema de José Paulo Paes (1926-1998) e observe como o poeta traduz em palavras a necessidade que temos de guardar bons momentos.
Leitura
Elogio da memória
O funil da ampulheta
apressa, retardando-a,
a queda
da areia.
Nisso imita o jogo
manhoso
de certos momentos
que se vão embora
quando mais queríamos
que ficassem.
PAES, José Paulo. Socráticas: poemas. São Paulo: Companhia das Letras, 2011. p. 49.
As respostas da parte de Literatura estão no Suplemento do professor.
5 SECOND STUDIO/SHUTTERSTOCK
Biblioteca cultural
Em <http://www.tirodeletra.com.br/biografia/JosePauloPaes.htm>, você poderá conhecer mais sobre a obra de José Paulo Paes.
Pensando Sobre o Texto
1 Ao observar a maneira como os versos estão dispostos, que imagem vem à sua cabeça?
2 Explique a relação entre a imagem que você pensou e o conteúdo do poema.
3 Na sua opinião, por que o autor deu ao poema o título “Elogio da memória”?
Agora, pense em um momento que tenha sido muito especial para você e que esteja em sua memória, junto com outras lembranças. Em geral, sentimentos e experiências estão guardados no arquivo da nossa mente de forma desorganizada e confusa.
Segundo o crítico literário Antonio Candido, por meio da literatura organizamos nossos sentimentos. Ele compara as palavras de um texto literário a tijolos de uma construção que, justapostos, organizam a visão que o homem tem sobre temas complexos, sentimentos de difícil tradução.
“A produção literária tira as palavras do nada e as dispõe como um todo articulado. [...] A organização da palavra comunica-se ao nosso espírito e o leva, primeiro, a se organizar; em seguida, a organizar o mundo.”
CANDIDO, Antonio. Vários escritos. 3. ed. rev. e ampl. São Paulo: Duas Cidades, 1995. p. 246. (Fragmento).
É o que ocorre no poema de José Paulo Paes. Nele, o poeta organizou as palavras para expressar um desejo impossível: o de eternizar os bons momentos.
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A literatura atribui novos sentidos às palavras
Leia, a seguir, diversos significados do verbo guardar.
guardar (guar.dar) v. {mod. 1} t.d. e t.d.i. 1 (prep. de) vigiar para defender, proteger <g. as fronteiras (de ataques inimigos)> 2 (prep. para, a) pôr à parte; reservar <guardei para você um pouco da comida que sobrou de ontem> 3 pôr no lugar apropriado <g. a roupa (no armário)> 4 (prep. para) manter suspenso; adiar <vamos g. esses projetos (para um momento mais oportuno)> ◻ t.d. 5 tomar conta de; zelar <g. os rebanhos> ↺ abandonar 6 acondicionar para conservar em bom estado <guarde bem esses biscoitos> 7 manter em seu poder; preservar, conservar <guarda cópias das cartas que envia> 8 reter na memória; lembrar, memorizar <nunca conseguiu g. o nome dos alunos> ↺ esquecer [...]
INSTITUTO Antônio Houaiss de Lexicografia. Pequeno dicionário Houaiss da língua portuguesa. São Paulo: Moderna, 2015. p. 500. (Fragmento).
Um dicionário, como você acabou de comprovar, apresenta uma série de significados (acepções) que uma palavra (verbete) pode ter, dependendo do contexto em que é usada. Leia, agora, como o poeta Antonio Cicero definiu em seu poema o verbo guardar.
Leitura
Guardar
Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.
Em cofre não se guarda coisa alguma.
Em cofre perde-se a coisa à vista.
Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por
admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.
Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por
ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela,
isto é, estar por ela ou ser por ela.
Por isso, melhor se guarda o voo de um pássaro
do que um pássaro sem voos.
Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica,
por isso se declara e declama um poema:
Para guardá-lo:
Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda:
Guarde o que quer que guarda um poema:
Por isso o lance do poema:
Por guardar-se o que se quer guardar.
CICERO, Antonio. In: MORICONI, Italo (Org.). Os cem melhores poemas brasileiros do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. p. 337.
EXOPIXEL/SHUTTERSTOCK
Pensando Sobre o Texto
1 O verbo guardar é definido, no poema, como “olhar”, “fitar”, “mirar”, “admirar”, “iluminar”.
a) Essas definições coincidem com as apresentadas no verbete de dicionário?
b) Qual é a diferença entre as definições dadas no dicionário e as do poema?
c) Que exemplo o eu lírico dá para comprovar sua definição de guardar?
eu lírico: Voz que fala no poema.
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2 O eu lírico do poema explica que “se escreve”, “se diz”, “se publica”, “se declara e declama um poema” para “guardá-lo”.
a) Essa afirmação é contraditória, já que o texto passaria a ser acessível aos leitores?
b) Que sentido tem o verbo guardar no contexto do poema?
c) E para você, que sentido tem o verbo guardar?
Ao analisar o poema, você observou que o autor atribuiu novos sentidos ao verbo guardar? Notou também que no verbete reproduzido na página anterior esses significados não estão registrados? A liberdade que o poeta tem de criar novos sentidos para as palavras é uma das razões que torna a interpretação de determinados textos literários um desafio.
Biblioteca cultural
Leia uma entrevista com Antonio Cicero em <http://www2.uol.com.br/antoniocicero/> e dialogue com ele no blog <http://antonio-cicero.blogspot.com/>.
A linguagem literária é predominantemente conotativa
Quando uma palavra é empregada com o significado que normalmente consta nos dicionários, dizemos que ela está em seu sentido denotativo. Em geral, a denotação predomina nos textos não literários, pois, como eles privilegiam a clareza, buscam o sentido exato da palavra. O verbete de dicionário, assim como qualquer texto não literário, tem função utilitária (ou referencial).
Quando, por outro lado, a palavra é utilizada fora de seu sentido habitual, ou seja, de maneira figurada, dizemos que está em seu sentido conotativo. Na literatura há o predomínio da conotação, uma vez que o escritor trabalha com as várias possibilidades de expressar-se e de reinventar a própria língua. O texto de Antonio Cicero, literário, recria o mundo por meio das palavras; diz-se, por isso, que tem função estética.
Na literatura, frases podem ser invertidas; palavras, inventadas; classes gramaticais, modificadas; ditos populares podem assumir novos significados, provocando efeitos de sentido inesperados. É por isso que dizemos que a linguagem literária é multissignificativa.
Enfatize aos alunos que a linguagem literária “produz”, enquanto a não literária “tenta reproduzir”.
Movimentos literários
Além do domínio sobre a língua e a linguagem do texto, a interpretação de um conto, poema, romance etc. depende do conhecimento de outros elementos:
• contexto histórico-social e cultural em que o texto foi concebido;
• estilo do autor (cada escritor apresenta um conjunto de “marcas” particulares que o tornam singular se comparado a outros autores);
• estilo de época (cada época apresenta um conjunto de traços comuns quea diferencia das demais).
De forma semelhante ao que ocorre com as artes plásticas, o cinema, o teatro etc., as obras literárias produzidas em determinada época veiculam, em algum grau, valores ligados ao contexto histórico em que estão inseridas. Além disso, seus autores estabelecem diálogos e jogos intertextuais com obras anteriores e lançam novas tendências artísticas, que, muitas vezes, serão compreendidas apenas futuramente.
Se julgar pertinente, explique aos alunos que alguns artistas, vanguardistas, produzem obras em “descompasso” com o movimento artístico em voga em sua época.
Denominam-se movimento literário, escola literária ou estilo de época os grupos de autores e obras de um mesmo período histórico que possuem semelhanças entre si, embora apresentem particularidades de estilo.
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Sabia?
Além de veicular determinados padrões de uma época, reforçando-os, a literatura pode interferir mais diretamente na sociedade, mudando concepções e alterando a ordem estabelecida. O poema “Dentro da noite veloz”, de Ferreira Gullar, publicado em 1975, acabou inspirando e incentivando muitos brasileiros a lutar contra a ditadura que se seguiu ao golpe militar de 1964.
Investigue em
• História
• Geografia
• Sociologia
Que obras literárias (e seus autores) foram responsáveis por influenciar mudanças sociais e políticas?
Contexto histórico e historiografia
Os textos a seguir foram escritos em épocas diferentes e falam de música e dança. O texto 1 foi retirado do romance A Moreninha (1844), de Joaquim Manuel de Macedo, obra que narra a história de amor entre jovens da alta sociedade carioca. O texto 2 foi publicado originalmente em 1998, na obra Lábia, coletânea de poemas escritos pelo baiano Waly Salomão. Compare-os e veja como cada um tratou do tema.
CARLOS CAMINHA
Leitura
Texto 1
[...]
Um sarau é o bocado mais delicioso que temos, de telhado abaixo. Em um sarau todo o mundo tem que fazer. O diplomata ajusta, com um copo de champagne na mão, os mais intrincados negócios; todos murmuram e não há quem deixe de ser murmurado. O velho lembra-se dos minuetes e das cantigas do seu tempo, e o moço goza todos os regalos da sua época; as moças são no sarau como as estrelas no céu; estão no seu elemento: aqui uma, cantando suave cavatina, eleva-se vaidosa nas asas dos aplausos, por entre os quais surde, às vezes, um bravíssimo inopinado, que solta de lá da sala do jogo o parceiro que acaba de ganhar sua partida no écarté, mesmo na ocasião em que a moça se espicha completamente, desafinando um sustenido; daí a pouco vão outras, pelos braços de seus pares, se deslizando pela sala e marchando em seu passeio, mais a compasso que qualquer de nossos batalhões da Guarda Nacional, ao mesmo tempo que conversam sempre sobre objetos inocentes que movem olhaduras e risadinhas apreciáveis. [...] Ali vê-se um ataviado dândi que dirige mil finezas a uma senhora idosa, tendo os olhos pregados na sinhá, que senta-se ao lado.
Finalmente, no sarau não é essencial ter cabeça nem boca, porque, para alguns é regra, durante ele, pensar pelos pés e falar pelos olhos.
[...]
MACEDO, Joaquim Manuel de. A Moreninha. 6. ed. São Paulo: FTD, 1997. p. 107-108. (Grandes Leituras). (Fragmento).
Sarau: reunião festiva em que os convidados dançam, tocam ou recitam textos.
Minuetes: dança francesa do século XVII. 
Regalos: prazeres. 
Cavatina : tipo de música. 
Surde: surge. 
Inopinado: repentino.
Écarté: jogo de cartas de origem francesa. 
Sustenido: nota musical elevada a meio tom. 
Ataviado: enfeitado. 
Dândi: cavalheiro refinado.
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Texto 2
Pista de dança
[...]
extasiado
piso
hipnotizo
mimetizo
a dança das estrelas
debuxo sobre o celeste caderno de caligrafia das constelações
e plagio a coreografia dos pássaros e dos robôs
aqui neste point
[...]
e a toalha felpuda suja me enxuga o suor do rosto
aqui nesta rave
narro a rapsódia de uma tribo misteriosa
imito o rodopio de pião bambo
Ê Ê Ê tumbalelê
é o jongo do cateretê
é o samba
é o mambo
é o tangolomango
é o bate-estaca
é o jungle
é o tecno
é o etno
é o etno
é o tecno
é o jungle
é o bate-estaca
é o tangolomango
é o mambo
é o samba
é o jongo do cateretê
Ê Ê Ê tumbalelê
redemoinho de ilusão em ilusão
como a lua tonta, suada, e fria
que do crescente ao minguante varia
e inicia e finda
e finda e inicia
e vice-versa a pista de dança
[...]
SALOMÃO, Waly. In: FERRAZ, Eucanaã (Org. e pref.). Veneno antimonotonia. Rio de Janeiro: Objetiva, 2005. p. 172-173. (Fragmento).
Mimetizo: imito.
Debuxo: rascunho, esboço.
Rave: (inglês) festa em que geralmente se toca música eletrônica por longo período de tempo.
Rapsódia: na literatura grega, trecho de poema épico recitado pelo rapsodo.
Jongo, cateretê: nomes de danças populares brasileiras.
Mambo: tipo de música e dança cubanas.
Tangolomango: mal, feitiço.
Bate-estaca: referência popular aos gêneros de música eletrônica.
Jungle, tecno: gêneros de música eletrônica.
Etno: música étnica (também chamada de world music).
ALAN CARVALHO
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PENSANDO SOBRE OS TEXTOS
1 O romance de Joaquim Manuel de Macedo foi publicado originalmente em 1844. Que elementos do texto permitem identificá-lo como uma obra escrita no século XIX?
2 Que ações descritas no trecho de Macedo podem ser consideradas típicas dessa época?
3 Que classe social Macedo estaria descrevendo?
4 As mulheres recebem destaque na cena do sarau. De que maneira elas são caracterizadas no texto 1?
5 Levando-se em conta que o título do texto 2 é “Pista de dança”, descreva as sensações que o autor procura transmitir. Justifique sua resposta com exemplos retirados do texto.
6 Estabeleça uma relação entre o título “Pista de dança” e a forma do poema.
7 A linguagem utilizada pelo poeta em “Pista de dança” deixa evidente a época em que foi publicado o poema? Justifique sua resposta.
8 Embora o texto de Macedo seja um trecho de romance, e o de Waly Salomão, de um poema, eles se aproximam em relação ao conteúdo. Em que os eventos descritos nos textos se assemelham?
Fala aí
Releia o último parágrafo do texto 1:
“Finalmente, no sarau não é essencial ter cabeça nem boca, porque, para alguns é regra, durante ele, pensar pelos pés e falar pelos olhos.”
Segundo o narrador, o mais importante num sarau era a possibilidade da dança e do encontro amoroso, simbolizado pela troca de olhares (“falar pelos olhos”). Você considera que o parágrafo que se refere ao sarau poderia estar presente no poema “Pista de dança”?
A análise dos dois textos permite perceber que a comunicação literária se estrutura a partir de três elementos: nela, um artista (autor), influenciado por um conjunto de padrões presentes em sua época (contexto), cria sua arte (obra literária), abordando certos conteúdos — expressos de determinada forma —, e destina-a a um público (leitor).
Joaquim Manuel de Macedo (autor) escreveu o romance A Moreninha (obra) enfocando, principalmente, os costumes da sociedade carioca do Segundo Reinado (contexto). Por retratarem um cotidiano bastante conhecido dos leitores burgueses da época (público), sobretudo situações amorosas vividas e idealizadas, esses romances eram muito populares. O autor fluminense é um típico escritor do Romantismo brasileiro, movimento literário que marcou grande parte do século XIX. Além dele, outros autores românticos, guardadas suas diferenças de estilo, abordaram temas comuns, destinados a um público burguês que se formava no Brasil no contexto da Independência.
Nesta coleção, trabalharemos com a historiografia literária, isto é, com os movimentos literários inseridos em seus contextos históricos. Apresentaremos uma seleção de fatos sociais e culturais importantes em cada época, as características dos movimentos literários, autores, obras, textos para análise etc. Em cada uma das escolas literárias serão destacados apenas alguns escritores e obras considerados canônicos, isto é, representativos de uma época, embora você possa pesquisar outros autores que não alcançaram tanto êxito crítico e editorial em cada período estudado.
canônicos: Essa classificação, apesar de válida emalguns contextos, pode cometer injustiças. Grandes artistas já foram (e têm sido) excluídos do cânone literário.
Cânone literário é um conjunto de obras e de autores considerados representativos de uma época.
Ao tratarmos da “tríade indissolúvel” obra/ autor/público, baseamo-nos no ponto de vista sociológico de Antonio Candido.
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Intertextualidade e biblioteca cultural
Quando um escritor cria um texto, ele estabelece “diálogos” intertextuais — diretos ou indiretos — com outros livros, pinturas, esculturas, filmes, peças de teatro, textos não literários; enfim, aciona seu repertório cultural, construído ao longo da vida. Um texto é formado, portanto, de muitas vozes que dialogam com ele. Por isso, para que se possa interpretá-lo, é necessário que se investigue a “memória literária” que esse texto traz, a qual é composta de outros textos anteriores a ele.
À relação entre os textos, em que um faz uso do outro, dá-se o nome de intertextualidade. 
O estudo da intertextualidade investiga de que modo os hipotextos (textos de partida) são utilizados nos intertextos (“colagens” de outros textos).
A intertextualidade está bastante presente na literatura e pode ser intencional ou não. Algumas vezes, mesmo sem perceber, um escritor pode transformar suas referências literárias em “matéria-prima” para sua criação.
As imagens a seguir foram criadas pelo designer estadunidense Christian Jackson para ilustrar algumas histórias populares que talvez você já conheça. Observe-as com atenção e procure associar os pôsteres às histórias a que se referem.
Leitura
1
FOTOS: CHRISTIAN JACKSON/SQUARE INCH DESIGN – COLEÇÃO PARTICULAR
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8
FOTOS: CHRISTIAN JACKSON/SQUARE INCH DESIGN – COLEÇÃO PARTICULAR
Disponível em: <http://www.squareinchdesign.com/category/childrens-story-posters/>. Acesso em: 12 jan. 2016.
Biblioteca cultural
Acesse o site de Christian Jackson e conheça outros trabalhos do artista: <http://www.sinch.us/>.
Você conseguiu reconhecer algumas histórias nessas imagens feitas com tão poucos traços? Sabe o que possibilitou isso? Sua biblioteca cultural! Se na sua biblioteca interna não existissem “exemplares” dessas narrativas, você não teria conseguido ler os cartazes.
O conceito de biblioteca cultural está em GOUMELOT, Jean Marie. Da leitura como produção de sentidos. In: Paire Alain (Dir.). Práticas da leitura. 4. ed. São Paulo: Estação Liberdade, 2009. p. 113.
Assim como os autores podem recorrer a outros textos para compor suas obras (intertextualidade), você também recorre à sua bagagem cultural quando lê. Você só foi capaz de identificar, por exemplo, que uma das imagens criada por Jackson refere-se ao conto de fadas “Chapeuzinho Vermelho” porque conhece a história. Uma leitura puxa outra, e o sentido do texto vai sendo construído a partir de vários elementos: daqueles que estão no próprio texto, dos diálogos que o autor daquele texto faz com outros autores e do diálogo que você, leitor, faz com a sua própria biblioteca cultural.
A leitura é como um jogo de espelhos em que acessamos novos dados e reencontramos outros que já conhecíamos. Assim, cada nova leitura passa a ser um novo exemplar a ser depositado na nossa biblioteca cultural. Quanto maior e melhor for essa biblioteca, mais ricas serão nossas leituras.
OS TRÊS PORQUINHOS (1), PINÓQUIO (2), RAPUNZEL (3), BRANCA DE NEVE (4), CHAPEUZINHO VERMELHO (5), O PATINHO FEIO (6), ROBIN HOOD (7) E ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS (8).
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Atividade
Leitura de texto
O conto a seguir é de um dos escritores mais importantes da língua portuguesa, o mineiro Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), e foi publicado em uma coletânea para jovens leitores como você. Conheça a história de Paulo, um menino que, com sua imaginação, mergulhou numa realidade paralela e reinventou um mundo que era só dele. Esse universo onde tudo pode acontecer é o da literatura.
A incapacidade de ser verdadeiro
Paulo tinha fama de mentiroso. Um dia chegou em casa dizendo que vira no campo dois dragões da independência cuspindo fogo e lendo fotonovelas. A mãe botou-o de castigo, mas na semana seguinte ele veio contando que caíra no pátio da escola um pedaço de lua, todo cheio de buraquinhos, feito queijo, e ele provou e tinha gosto de queijo. Desta vez Paulo não só ficou sem sobremesa como foi proibido de jogar futebol durante quinze dias.
Quando o menino voltou falando que todas as borboletas da Terra passaram pela chácara de Siá Elpídia e queriam formar um tapete voador para transportá-lo ao sétimo céu, a mãe decidiu levá-lo ao médico. Após o exame, o Dr. Epaminondas abanou a cabeça:
-- Não há nada a fazer, Dona Coló. Este menino é mesmo um caso de poesia.
ANDRADE, Carlos Drummond de. O sorvete e outras histórias. São Paulo: Ática, 1993. p. 40. (Série Rosa dos Ventos). Carlos Drummond de Andrade © Graña Drummond — www.carlosdrummond.com.br.
Fotonovela: história em quadrinhos na qual os desenhos são substituídos por fotografias.
Sétimo céu: expressão que sugere um estado de felicidade suprema.
KIKUJUNGBOY/SHUTTERSTOCK
DRAGONSKYDRIVE/SHUTTERSTOCK
1 Paulo parece viver em dois planos, o da fantasia e o da realidade.
a) Que elementos do texto sugerem que a vida do menino era povoada pela fantasia?
b) O que, no texto, nos permite saber que Paulo também vivia em um plano real?
2 De acordo com sua compreensão do texto, o que seria esse “caso de poesia”, referido pelo Dr. Epaminondas?
Fala aí
As histórias que Paulo contava para a mãe eram bem difíceis de acreditar. Na sua opinião, ele pode, por isso, ser avaliado como mentiroso? Por quê? Para você, mentira e imaginação podem ser consideradas a mesma coisa? Justifique sua resposta.
Se julgar necessário, explique aos alunos que os Dragões da Independência são uma unidade do exército brasileiro criada, em 1808, pelo príncipe regente D. João de Bragança, quando a corte portuguesa transferiu-se para o Brasil.
Biblioteca cultural
Veja o texto, interpretado por Antônio Abujamra, em: <http://tvcultura.cmais.com.br/provocacoes/paulo-tinha-fama-de-mentiroso>.
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CAPÍTULO 2 GÊNEROS LITERÁRIOS (I): O ÉPICO E O DRAMÁTICO
Milhares de sites são criados e desativados diariamente. Por essa razão, é possível que os endereços indicados neste capítulo não estejam mais disponíveis.
PERCURSO DO CAPÍTULO
Gêneros literários: visão clássica
Gênero épico (epopeia e gênero narrativo moderno)
Gênero dramático (tragédia e comédia)
G. DAGLI ORTI/BRIDGEMAN IMAGES/KEYSTONE BRASIL - MUSEU DO BARDO, TUNÍS
Mosaico do século III d.C., localizado na Tunísia, representando o personagem Ulisses amarrado ao mastro da embarcação para não sucumbir ao canto das sereias. Esse episódio faz parte da Odisseia, epopeia atribuída a Homero. Épico e dramático (teatro) compõem os chamados gêneros clássicos.
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PRA COMEÇAR
Você já ouviu falar nas obras Ilíada e Odisseia? Segundo a tradição, essas epopeias teriam sido criadas por Homero a partir de referências populares gregas. Na primeira, ele narra os episódios da Guerra de Troia; na segunda, conta as aventuras de Ulisses (também personagem da Ilíada), que, depois do conflito, ruma para Ítaca, ilha em que residem a esposa Penélope e o filho Telêmaco, os quais o herói não vê há vinte anos, desde sua partida para Troia.
No texto a seguir, fragmento da Odisseia, Ulisses expõe-se ao sedutor e mortal canto das sereias.
Se julgar necessário, explique aos alunos que a Odisseia é formada por 24 cantos e narrada em 3ª e em 1ª pessoa. A narração em 3ª pessoa ocorre até o momento em que Ulisses chega à cidade dos feácios. Nela, o herói se apresenta ao rei Alcino e narra, em 1ª pessoa, suas aventuras. No canto 13, entretanto, a narrativa volta a ser feita em 3ª pessoa e assim permanece até o desfecho.
EDUARDO FRANCISCO
Leitura
[...]
À ilha, entrementes, a nau bem construída chegara depressa, onde as Sereias demoram, que um vento propício a impelia. 
[...] 
Uma rodela de cera cortei com meu bronze afiado, em pedacinhos, e pus-me a amassá-los nos dedos possantes.
[...]
Sem exceção, depois disso,tapei os ouvidos dos sócios; as mãos e os pés, por sua vez, me amarraram na célere nave, em torno ao mastro, de pé, com possantes calabres seguro. Sentam-se logo, batendo com o remo nas ondas grisalhas. 
Mas, ao chegar à distância somente de grito da praia, com toda a força a remar, não passou nosso barco ligeiro despercebido às Sereias, de perto, que entoam sonoras: 
“Vem para perto, famoso Odisseu, dos Aquivos orgulho, traz para cá teu navio, que possas o canto escutar-nos”.
[...]
Entrementes: enquanto isso.
Nau: embarcação.
Impelia: empurrava.
Célere nave: rápida nau.
Calabres: cordas grossas.
Odisseu: do grego, Ulisses.
Aquivos: gregos da Tessália ou do Peloponeso.
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Dessa maneira cantavam, belíssima. Mui desejoso de as escutar, fiz sinal com os olhos aos sócios que as cordas me relaxassem; mas eles remaram bem mais ardorosos.
Alçam-se, então, Perimedes e Euríloco e deitam-me logo novos calabres, e os laços e as voltas mais firmes apertam.
Mas, quando essa ilha, na viagem, deixamos ficar bem distante, sem mais ouvirmos a voz das Sereias e o canto mavioso, meus companheiros queridos tiraram depressa do ouvido a cera ali por mim posta e dos laços, por fim, me livraram. 
[...]
HOMERO. Odisseia. Trad. Carlos Alberto Nunes. São Paulo: Hedra, 2011. p. 207-208. (Fragmento).
Alçam-se: levantam-se.
Mavioso: melodioso.
Pensando Sobre o Texto
1 Além da voz de Ulisses, que outras vozes estão presentes no texto?
2 Um autor pode alterar a ordem mais comum de uma frase, como se vê a seguir.
“À ilha, entrementes, a nau bem construída chegara depressa, onde as Sereias demoram, que um vento propício a impelia.”
a) Reescreva o trecho no caderno, iniciando por: “Entrementes, a nau bem construída...”.
b) Arrisque uma hipótese: Por que o autor optou pela ordem “indireta”?
3 Ulisses elabora uma estratégia para poder ouvir o canto das sereias de forma segura.
a) Descreva o que ele faz para conseguir seu objetivo.
b) O que essa estratégia revela sobre a personalidade de Ulisses?
O texto que você leu pertence ao gênero épico. Neste capítulo, você conhecerá a classificação dos textos literários a partir de uma teoria que, apesar de ter sofrido alterações, permanece desde a Antiguidade.
Yves Stalloni (Universidade de Toulon, França) diz que “foram os sucessores de Platão e de Aristóteles que, por meio de uma leitura `moderna’ dos escritos antigos, contribuíram para o estabelecimento de uma distribuição ternária dos gêneros. Tripartição cômoda que passou a ser depois disso tradicionalmente retomada pelos teóricos da época clássica [...]”. Segundo ele, como o texto em prosa era relativamente raro na Antiguidade, “seria quase lícito dizer que, para os antigos, toda forma literária é poética”.
STALLONI, Yves. Os gêneros literários. Trad. e notas Flávia Nascimento. 3. ed. Rio de Janeiro: Difel, 2007. p. 23; 130. (Col. Enfoques. Letras).
A teoria clássica dos gêneros
Baseado na literatura da época, o filósofo grego Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.) defende, em sua obra clássica, a Poética, que há dois gêneros literários, o épico (narrativo) e o dramático (teatral), que se diferenciam pela maneira como o artista “imita” (representa) a realidade. No primeiro, um narrador (voz épica) conta, em versos, a ação dos personagens; no segundo, os personagens são representados diretamente por atores e têm voz. Cada qual com suas características (em relação ao tema e ao tipo de verso, por exemplo), épico e dramático não se misturavam. Essa teoria clássica dos gêneros, diferentemente do que ocorre hoje, estabelecia para os artistas e criadores normas rígidas, que não podiam ser rompidas.
Até o século XVIII, a Poética de Aristóteles foi a principal fonte dos chamados autores “clássicos” para o estudo dos gêneros literários. Mais tarde, relendo os escritos de Platão (427 a.C.-347 a.C.) e de Aristóteles, alguns pesquisadores incluíram na teoria clássica um terceiro gênero literário, o lírico, em que o poeta faz uso de um eu poemático para expressar subjetivamente seu mundo interior.
Platão, um dos maiores pensadores gregos, foi mestre de Aristóteles.
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Conheça a Poética de Aristóteles em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cv000005.pdf>.
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Conheça agora aspectos dos gêneros épico e dramático. No próximo capítulo, você estudará o gênero lírico.
Gênero épico: narrativa da grandiosidade
Você conhece a lenda do cavalo de Troia? Sabe o que significa a expressão “calcanhar de aquiles”? Já havia ouvido, antes de começarmos este capítulo, a narrativa em que Ulisses pede que o amarrem ao mastro de um barco para ouvir, em segurança, o canto da sereia, o mais belo a que um mortal poderia ter acesso?
As histórias ligadas a essas perguntas são muito antigas, mas permanecem em nossa memória graças ao conhecimento que temos das epopeias greco-latinas, poemas épicos que misturam elementos históricos a mitos e lendas. Os modelos mais conhecidos desse gênero literário são a Ilíada e a Odisseia, atribuídas ao grego Homero, a Eneida, do poeta latino Virgílio, e Os lusíadas, obra escrita pelo poeta português Camões. No Brasil, um exemplo de poema épico é Caramuru (1781), de Santa Rita Durão, que estudaremos no capítulo 9.
No gênero épico, diferentemente do gênero lírico, em que o poeta se expressa subjetiva e individualmente por meio de um “eu”, os fatos grandiosos de um povo são narrados por uma voz épica. Dessa forma, o poeta transforma-se numa espécie de porta-voz de sua gente.
Réplica do cavalo de Troia criada para o filme Troia, dirigido por Wolfgang Petersen (EUA, 2004). A expressão pejorativa “presente de grego” está relacionada ao episódio da Ilíada, no qual os gregos, em guerra com os troianos, presentearam o inimigo com um cavalo de madeira, dentro do qual estavam os soldados que invadiram e destruíram a cidade de Troia.
JUSTIN KASE ZNINEZ/ALAMY/GLOW IMAGES
Biblioteca cultural
Acesse o site <www.dominiopublico.gov.br> e leia a Ilíada e a Odisseia.
• Gêneros literários modernos
Alguns elementos das epopeias, descritos por Platão e Aristóteles, influenciaram os chamados “gêneros literários modernos” em prosa. Com o passar dos séculos, o herói representativo de uma coletividade (enaltecido no gênero épico) foi cedendo lugar ao indivíduo problemático comum. Estavam criadas as condições para o surgimento de gêneros como o romance, por exemplo, focado no herói individualista.
Até o século XVII, a poesia — lírica, épica e dramática — era o foco principal dos teóricos da literatura. Somente no século seguinte é que a prosa passou a interessar aos estudiosos. Com o advento do Romantismo e a consolidação do gênero romance, a discussão acerca do gênero narrativo em prosa ganhou peso.
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Leia a seguir um exemplo de gênero literário moderno, o miniconto escrito por Heloisa Seixas.
Leitura
No metrô vazio
Entrou no metrô e sentou-se junto à janela. Detestava metrô. O silêncio constrangido, as pessoas frente a frente, sem saber o que fazer com as mãos. Era como nos elevadores, só que pior — pois demorava mais tempo. Por isso ia na janela. Fixou os olhos na escuridão lá fora. Estava inquieta. Talvez por causa do metrô vazio. Ou talvez por culpa da jovem de preto que se sentara ali adiante, num banco de frente para o seu. Podia sentir o olhar dela. Resistiu por um tempo, mas acabou encarando-a. E sentiu que o horror a percorria: no fundo amarelo, as pupilas da moça eram um traço. Tinha olhos de gato.
SEIXAS, Heloisa. Contos mais que mínimos. Rio de Janeiro: Tinta Negra Bazar, 2010. p. 72.
CARLOS CAMINHA
Pensando Sobre o Texto 
1 Quem narra os acontecimentos no miniconto?
2 Em que espaço acontece a história?
3 Considerando que personagem é um ser fictício, criado por um autor a partir de uma caracterização física e psicológica, reflita:
a) Como você caracterizaria as personagens do conto lido?
b) Elas têm o mesmo peso na história? Por quê?
4 O que assinala a passagem do tempo na narrativa?
5 Qual é o enredo (conjunto de ações) do miniconto “No metrô vazio”?
As ações que compõem o enredo podem ser externas(representadas no conto lido pela moça que entra no vagão, senta-se à janela, olha para a outra passageira) ou internas (evidenciadas pela inquietação da personagem e seu sentimento de horror, por exemplo).
Observe que as ações externas se desenrolam num período de tempo físico (cronológico): a passageira certamente demorou-se alguns momentos para entrar no vagão, sentar-se, olhar para a frente etc. Já as emoções da personagem aconteceram dentro de um tempo interno (psicológico).
Em “No metrô vazio”, o narrador não participa da história, e os verbos e pronomes estão na 3ª pessoa. O emprego da 3ª pessoa caracteriza o foco narrativo (ponto de vista) do narrador-observador ou narrador-onisciente, que está exemplificado no miniconto analisado.
Baseamo-nos em estudos da professora Cândida Vilares Gancho, em Como analisar narrativas (1991), da série Princípios (São Paulo: Ática. Direção de Samira Youssef e Benjamin Abdala Jr.), para diferenciar os narradores. Os elementos constitutivos das narrativas serão explorados ao longo desta coleção de maneira mais detalhada.
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Supondo-se que a narrativa estivesse na 1ª pessoa (“Entrei no trem e sentei-me junto à janela. Detesto metrô”), o foco narrativo seria o do narrador-personagem, que é aquele que participa da ação. O emprego da 1ª pessoa ocorre quando o personagem principal conta sua história ou quando um personagem secundário relata a história do personagem principal.
Assim como o miniconto “No metrô vazio”, o romance, a novela, a crônica, ou mesmo a mescla deles, são exemplos de gêneros literários modernos com os quais você terá contato ao longo do Ensino Médio.
Gênero dramático: a arte da ação
Como a arte teatral não está ligada somente ao ato da leitura, mas também à encenação, alguns críticos questionam sua classificação como gênero literário.
Imagine que você fosse transformar o conto de Heloisa Seixas em uma peça de teatro. Que ações as personagens teriam de realizar para substituir a figura do narrador? Que nomes teriam as passageiras do metrô? O que elas falariam? Como seria o cenário? E a luz da encenação? Como você trabalharia com os figurinos (roupas) das personagens? Que trilha sonora você inseriria para dar um clima de suspense e terror à peça?
São muitos os aspectos envolvidos na transposição do gênero, não é mesmo?
Para Aristóteles, o gênero dramático caracteriza-se pela presença de personagens que se expressam diretamente e imitam a ação, em vez de precisarem de um narrador (caso do miniconto de Heloisa Seixas). Ainda segundo o filósofo, esse poder de mimese, ou seja, de “imitação direta”, faz do teatro (principalmente a tragédia) o principal gênero literário.
Resumindo, podemos citar as seguintes características do gênero dramático:
1. O teatro, em oposição à narração (que está ligada ao ato de contar), trabalha, em geral, com a enunciação na 1ª pessoa, ou seja, os personagens tomam a palavra e falam por si mesmos.
2. No teatro, convivem o tempo dramático (vivido pelos personagens da peça) e o tempo cênico (vivido pelos espectadores da peça). Assim, uma peça pode abarcar décadas ou mesmo séculos, mas esse período pode ser representado em poucos minutos no palco.
3. A linguagem dramática apresenta duas facetas: a fala (diálogo ou monólogo), que será dita pelos atores, e os efeitos de direção (indicações do que os atores deverão fazer).
SHARPNER/SHUTTERSTOCK
• Tragédia: destino e purificação
Você já se emocionou, ao assistir a um filme ou a uma peça de teatro, diante da dor de um personagem, como se estivesse vivendo esse sentimento? As tragédias gregas clássicas buscavam esse tipo de identificação com seu público.
Tragédia é um texto teatral que representa uma ação humana dolorosa, determinada por um destino (fatum) que conduz um herói de condição elevada (rei, príncipe, herói mitológico etc.), contra sua vontade, à infelicidade ou à morte.
• Comédia: rir de nós mesmos
Segundo Aristóteles, a comédia deveria retratar a vida cotidiana de gente comum e não de pessoas advindas de “classes elevadas” (como nas tragédias). Em sua Poética, ele explica também que a comédia deveria imitar os piores homens, tratar de assuntos inferiores e manter sua força cômica pela deformidade dos personagens (defeito ou feiura) e pela linguagem (brincadeira com nomes, associações engraçadas etc.).
Sabia?
Não há como precisar se o teatro surgiu no Oriente ou no Ocidente. A relação direta que normalmente se faz entre o gênero dramático e sua possível origem ocidental surge do fato de termos acesso, hoje, a textos completos das tragédias e comédias gregas.
Biblioteca cultural
Assista a trechos das tragédias Medeia (2001), de Eurípides, Antígona (2005), de Sófocles, e Fragmentos troianos (1999), baseada em Eurípides. Todas as montagens foram dirigidas por Antunes Filho e estão disponíveis em <http://www.sescsp.org.br/sesc/hotsites/cpt_novo/areas.cfm?cod=4&esp=15>.
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Atividade
Textos em conversa
O texto a seguir, que é letra de uma canção de Péricles Cavalcanti, faz referência a outro episódio envolvendo Ulisses. Na história original, atribuída a Homero, a ninfa Calipso ama Ulisses e o mantém em sua ilha por sete anos. Ele, porém, recusa a possibilidade de ser imortal, caso se unisse a Calipso, e prefere retornar, na condição humana, para os braços da esposa e do filho.
Se possível, ouça com os alunos o samba-enredo intitulado “A lenda das sereias, rainhas do mar”, composto por Vicente Mattos, Dinoel e Arlindo Velloso para a escola de samba Império Serrano, em 1976. A cantora e compositora Marisa Monte, em seu álbum Mais, de 1991, gravou essa canção, cuja letra promove um sincretismo entre tradições europeias e africanas.
Porto Alegre (Nos braços de Calipso)
amarrado num mastro
tapando as orelhas
eu resisti
ao encanto das sereias
eu não ouvi
o canto das sereias
eu resisti
mas chegando à praia
não fiz nada disso
então caí
nos braços de Calipso
eu sucumbi
ao encanto de Calipso
não resisti
desde então eu não tive
nenhum outro vício
senão dançar
ao ritmo de Calipso
pois eu caí
nas graças de Calipso
não resisti
ao encanto de Calipso
só sei dançar
ao ritmo de Calipso
CAVALCANTI, Péricles. Intérprete: Adriana Calcanhotto. CD Maré. Rio de Janeiro: Sony Music, 2008. Faixa 4.
HUGO ARAÚJO
1 Compare o episódio original atribuído a Homero, que você leu no início deste capítulo, na seção “Pra começar”, com o intertexto de Péricles Cavalcanti.
2 Com o auxílio de um dicionário, ou da internet, explique o jogo que o compositor faz com o nome Calipso.
3 Na sua opinião, por que o compositor repete seis vezes o nome Calipso?
4 Na visão clássica, o Ulisses de Péricles Cavalcanti pode ser considerado menos heroico do que o de Homero? Justifique sua resposta.
5 Com a ajuda dos colegas e do professor, acessem o site de Adriana Calcanhotto (www.adrianacalcanhotto.com.br), ouçam a canção “Porto Alegre” e, se possível, criem em conjunto uma pequena encenação da letra, mostrando como o personagem Ulisses encontrou-se com Calipso. A turma pode ajudar os atores que interpretarão as sereias, os marinheiros, Ulisses e Calipso fazendo um coro da canção.
Seria interessante fazer uma apresentação para as demais turmas.
Biblioteca cultural
Conheça o trabalho de Péricles Cavalcanti em: <http://www2.uol.com.br/periclescavalcanti/biografia.htm>.
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CAPÍTULO 3 GÊNEROS LITERÁRIOS (II): O LÍRICO (ESTUDO DO POEMA)
Milhares de sites são criados e desativados diariamente. Por essa razão, é possível que os endereços indicados neste capítulo não estejam mais disponíveis.
PERCURSO DO CAPÍTULO
Gênero lírico (o poema)
Verso e estrofe
Ritmo e métrica
Rima
Recorrências
Criação de um haicai
CEDOC/TV GLOBO/CONTEÚDO GLOBO
Cena da minissérie Capitu, de Luiz Fernando Carvalho, baseada na obra Dom Casmurro, de Machado de Assis, veiculada pela Rede Globo em 2008. O momento em que Bentinho descobre seu amor por Capitu (personagens do romance representados na foto) é considerado um dos mais poéticos da literatura brasileira. Embora possa haver poesia em um romance, em uma canção, em um filme,é no gênero poema que ela se manifesta em sua plenitude.
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Pra começar
Você gosta de poemas? Já escreveu algum? Os poetas combinam palavras e exploram sons, imagens, ideias e sensações para expressar sentimentos.
O texto a seguir é uma forma de composição poética que tem origem japonesa e é chamada haicai. Foi escrito pelo poeta gaúcho Mario Quintana.
Leitura
Silenciosamente
sem um cacarejo
a noite põe o ovo da lua...
QUINTANA, Mario. Haikai. In: CARVALHAL, Tania Franco (Org.). Mario Quintana: poesia completa; a cor do invisível. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2005. p. 861.
Embora Mario Quintana não siga o padrão do haicai japonês (terceto composto de dezessete sílabas, em que o primeiro verso tem cinco sílabas; o segundo, sete; e o terceiro, cinco), os versos singelos e o apreço pela linguagem do dia a dia, entre outras características, aproximam seus tercetos do tradicional poema japonês.
EDUARDO FRANCISCO
Se achar conveniente, consulte com a classe “os dez mandamentos do haicai” em: <http://www.kakinet.com/caqui/dezmand.shtml>. Eles foram estabelecidos por Goga Masuda (1911-2008), um dos mais importantes divulgadores e estudiosos dessa arte no Brasil.
Pensando Sobre o Texto
1 Segundo o escritor francês Paul Louis Bouchard, o haicai é “um simples quadro em três pinceladas”. Em sua opinião, o poema de Mario Quintana está de acordo com essa definição? Justifique.
Sugerimos que as questões sejam respondidas oralmente.
2 Pelo fato de o poema ser bem curto, o leitor fica com a sensação de que “falta algo” nele? Justifique sua resposta com base no texto.
O poema de Quintana, embora sucinto, forma um todo coeso. Além dessa unidade de sentido (conteúdo), ele mantém unidade de forma: a sonoridade, a disposição e a extensão dos versos, a pontuação — todos esses recursos foram explorados de modo a provocar uma impressão única no leitor e a expressar emotivamente a percepção de um “eu” sobre o nascer da lua.
Neste capítulo, estudaremos o gênero literário lírico, que completa a tríade dos chamados gêneros clássicos.
Gênero lírico: expressão do “eu”
Em sua Poética, Aristóteles não trata em profundidade daquilo que, modernamente, chamamos de poesia. Na Grécia antiga — contexto do tratado aristotélico sobre os gêneros literários —, poesia eram os textos que tinham como objetivo “imitar” os homens e a natureza, abrigando apenas duas formas de expressão: a épica e a dramática, escritas, em geral, em versos, como você já estudou.
Na poesia lírica não existe a figura do narrador. O poeta expressa seu mundo interior (sua subjetividade) falando em primeira pessoa, por meio de um “eu”. Esse “eu”, que não deve ser confundido com a pessoa do poeta, pode ter várias denominações: eu lírico, eu poético, sujeito poemático, eu poemático ou eu fictício.
O gênero lírico é uma categoria de textos literários em que o “eu” parte de seu mundo interior para expressar sentimentos de toda natureza (amor, dor, ódio, horror, saudade etc.).
BAPTISTÃO
Mario Quintana nasceu em 1906, em Alegrete (RS). Foi jornalista, escritor e poeta. Traduziu obras de Proust e Virginia Woolf, entre outros grandes autores. Seu primeiro livro de poemas, A rua dos cataventos, foi publicado em 1940. Morreu em 1994, aos 87 anos. Em Porto Alegre, o hotel onde residiu de 1968 a 1980 foi transformado na Casa de Cultura Mario Quintana.
O livro Os melhores poemas de Mario Quintana faz parte do acervo do PNBE 2013.
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Sabia?
Na Antiguidade, os poetas recitavam e cantavam suas produções ao som de um instrumento musical, a lira, daí a origem da palavra lírico.
Poema e poesia são a mesma coisa?
Você já notou que, quando falamos em poesia, pensamos em poema e vice-versa? Isso ocorre porque estamos habituados a associar automaticamente a poesia ao gênero textual poema (principalmente aos poemas estruturados em versos). Entretanto, nem todo texto construído em versos contém poesia. Dividir em versos as instruções contidas em um manual de computador não faz dele um texto poético. Da mesma forma, a poesia pode estar presente também em outros gêneros — literários ou não —, como nos romances, nos filmes, na música, em uma pintura.
REPRODUÇÃO
No filme sul-coreano Poesia (2010), de Chang-Dong Lee, uma mulher idosa vê sua vida mudar quando começa a ter contato com a poesia.
Fala aí
Pense em sua biblioteca cultural e faça um levantamento de cenas de filmes, peças de teatro, letras de canção etc. que possam ser consideradas poéticas.
Os livros de poemas Poesia é não (de Estrela Ruiz Leminski) e Poesia faz pensar (vários autores) fazem parte do acervo do PNBE 2013.
Poema é literatura
O que é o amor? Os versos a seguir foram escritos no século XVI por Camões (1525?-1580), poeta português que será estudado ainda neste volume, e são uma tentativa de responder a essa pergunta bastante complexa. Leia-o, se possível, em voz alta.
Leitura
Para essa leitura, sugerimos duas estratégias: 1) Organize os alunos em duplas e peça que fiquem um de frente para o outro. Desse modo, um colega pode ler para o outro, ouvir e ser ouvido. 2) Dois ou três alunos se candidatam para fazer uma leitura do poema para a classe.
Amor é um fogo que arde sem se ver; 
É ferida que dói e não se sente; 
É um contentamento descontente; 
É dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer; 
É um andar solitário por entre a gente; 
É nunca contentar-se de contente; 
É um cuidar que se ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade; 
É servir a quem vence, o vencedor; 
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor 
Nos corações humanos amizade 
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?
CAMÕES, Luís de. In: SALGADO JÚNIOR, Antônio (Org.). Luís de Camões: obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2008. p. 270.
EDUARDO FRANCISCO
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Pensando Sobre o Texto
1 No poema, o eu lírico tenta definir o amor. Qual é a principal característica desse sentimento, de acordo com a definição apresentada?
2 Em grande parte dos versos, repete-se a forma verbal “É”. Que efeito tem essa repetição no sentido do poema?
O recurso estilístico da repetição chama-se anáfora, figura de linguagem que consiste na repetição de uma palavra ou construção no início de frases ou versos, com a intenção de enfatizar uma ideia e provocar outros efeitos estilísticos.
3 Para definir o amor, Camões usou uma figura de linguagem que consiste em associar palavras ou expressões de significados contraditórios.
a) Relembre: que figura de linguagem é essa? Retire exemplos do poema.
b) Qual é a importância do uso dessa figura para a construção dos sentidos do poema?
4 E para você: o que é o amor? Arrisque uma definição poética para esse sentimento. Lembre-se: não há certo ou errado aqui.
Em um poema, as palavras podem ser empregadas:
• na sua acepção usual, mais conhecida;
• no sentido figurado, mas ainda assim familiar para parte dos leitores;
• ou assumindo significados nada convencionais, criados pelos autores.
É comum que os autores de textos literários explorem as muitas possibilidades de construção de sentido que as palavras oferecem. No gênero poema, entretanto, como podemos observar em “Amor é um fogo que arde sem se ver”, esse trabalho apresenta algumas especificidades que se traduzem em: sonoridade em primeiro plano (rimas, repetições de palavras), associações entre elementos distintos (“ferida que dói e não se sente”), construções frasais diferentes das usuais (“É um cuidar que se ganha em se perder”) e, principalmente, na presença de imagens concretas traduzindo significados abstratos (“é um fogo que arde sem se ver”).
Expressar-se sobre o amor dizendo “É querer estar preso por vontade” é muito diferente de escrever “É querer estar constantemente na companhia da pessoa amada”; a imagem de uma prisão voluntária é mais original e expressiva do que uma simples explicação. O mesmo ocorre com o primeiro verso desse soneto, em que o poeta associa dois elementos de naturezas diferentes (amor e fogo): em lugar de explicar que o sentimento amoroso pode ser de intensidade mortal, o poeta opta pelametáfora “Amor é fogo”, que cria uma imagem tão poderosa quanto seu significado. 
Os poemas podem ser compostos de dois modos:
• em versos — há vários tipos fixos de poemas líricos estruturados em versos: sonetos, haicais, elegias, odes, églogas, acrósticos, rondéis, poemas bucólicos, madrigais, rondós, baladas, parlendas, trovas etc.;
• em linhas contínuas, sem interrupção, que ocupam todo o espaço da página — trata-se dos chamados poemas em prosa (nos quais também há a expressão de um eu lírico e um cuidado especial com a sonoridade, as construções frasais etc.).
Lembra?
Metáfora: figura de linguagem que consiste na relação de semelhança entre elementos de universos diferentes.
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Características do poema
Não existe receita para criar um poema. No entanto, convém conhecer alguns elementos desse gênero textual utilizados pelos poetas.
No capítulo 15, que trata do gênero textual conto, e em outros pontos do volume, revisamos os elementos básicos da narrativa. Optamos por detalhar a apresentação dos elementos do poema para favorecer a apropriação de um conteúdo que não é tão familiar aos alunos.
• Verso e estrofe
Verso é cada uma das linhas melódicas interrompidas que constituem um poema, quando este não está escrito em prosa. Um conjunto de versos forma uma estrofe ou estância. Na poesia moderna, não há uma regra fixa para a divisão de uma estrofe – em geral, os versos que a compõem partilham relações de sentido e estão organizados em torno de uma ideia. É o que podemos perceber no poema a seguir, de Ferreira Gullar.
Estância é o conjunto de versos dispostos de maneira regular em composições que seguem os cânones de versificação clássica. Por exemplo: a obra Os lusíadas, de Camões, tem 1.102 estâncias (uniformes — oitava-rima). Na Antiguidade, o termo estrofe era utilizado para designar a parte coral do teatro grego. A estrofe era cantada por um coro.
Leitura
Uma voz
Sua voz quando ela canta
me lembra um pássaro mas
não um pássaro cantando:
lembra um pássaro voando.
GULLAR, Ferreira. Toda poesia (1950-1999). 18. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2009. p. 179.
EDUARDO FRANCISCO
Pensando Sobre o Texto
Esta atividade poderá ser feita oralmente.
1 Quantos versos formam a estrofe do poema apresentado?
2 Observe que eles formam uma unidade que se desenvolve em torno de uma ideia. Que ideia é apresentada na estrofe?
No poema de Gullar, o eu lírico se declara para uma mulher utilizando uma metáfora inesperada, que surpreende o leitor, ao associar a voz da amada não ao canto, mas ao voo de um pássaro.
3 Imite o poeta: crie um pequeno poema-declaração de amor, surpreendendo o leitor (ou a pessoa que você ama) com uma comparação inusitada.
• Ritmo e métrica
Releia em voz alta os poemas apresentados até agora neste capítulo e, em seguida, responda oralmente às questões.
1 Em relação à sonoridade, qual dos poemas lidos você prefere: o de Mario Quintana, o de Camões ou o de Ferreira Gullar?
Durante a leitura dos poemas, você talvez tenha notado que eles são formados por uma combinação de sons que obedecem a uma certa regularidade. O efeito resultante da distribuição alternada de sílabas fracas (átonas) e fortes (tônicas) que compõem os versos de um poema denomina-se ritmo. Curtos ou longos, não há poemas sem ritmo.
O ritmo é tão importante para os versos que o professor Antonio Candido afirma que ele é a “alma” do poema.
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Por muitos séculos, a arte de fazer poemas consistia em escrevê-los dentro de certas normas, como, por exemplo, com versos de mesma medida. A medida de um verso corresponde ao número de sílabas métricas ou poéticas que ele apresenta.
Chama-se escansão a técnica de decompor um verso em sílabas métricas.
Veja um exemplo de escansão.
A/ mor/ é um/ fo/ go/ que ar/ de/ sem/ se/ ver,
é/ fe/ ri/ da/ que/ dói,/ e/ não/ se/ sen/ te;
é/ um/ con/ ten/ ta/ men/ to/ des/ con/ten/ te,
é/ dor/ que/ de/ sa/ ti/ na/ sem/ do/er.
Se achar conveniente, mostre aos alunos que em todos os versos da estrofe a sexta e a décima sílabas poéticas são as mais fortes, para que observem a regularidade rítmica.
2 Quanto à tonicidade, o que as sílabas destacadas têm em comum?
3 Conte as sílabas de cada verso, desconsiderando as que aparecem após as destacadas. Quantas sílabas métricas há em cada verso?
Releia a estrofe em voz alta. Observe que a palavra é, no primeiro verso, está “fundida” ao monossílabo um, e a palavra que, à sílaba gramatical ar, de arde, formando, nos dois casos, apenas uma sílaba métrica. Houve uma fusão sonora (elisão) entre as sílabas.
Leia o verso em voz alta várias vezes (ou peça a alguns alunos que o leiam), para que a classe perceba mais claramente a fusão.
Todos os versos da estrofe do poema de Camões apresentam o mesmo número de sílabas métricas. Para observar essa regularidade:
• foi feita a contagem das sílabas métricas somente até a última sílaba tônica (forte);
• fez-se a fusão sonora de vogais, quando pronunciadas como uma única sílaba (única emissão de voz), no encontro de duas palavras: em é + um e que + ar (elisão ou sinalefa).
Os versos em que a métrica mantém regularidade, como no soneto de Camões, recebem o nome de versos regulares. Já os versos de tamanhos variados são denominados versos livres.
Há uma série de outras regras ligadas à escansão, mas consideramos desnecessário seu conhecimento por parte de um estudante do Ensino Médio. Caso queira, você pode acessar o Tratado de versificação, de Olavo Bilac e Guimarães Passos, disponível em <http://www.literaturabrasileira.ufsc.br/_documents/0042-01168.html>, ou ler a obra contemporânea Tratado de versificação, de Glauco Mattoso (São Paulo: Annablume, 2010).
4 Faça no caderno a escansão do poema “Uma voz”, de Ferreira Gullar (página 37). Observe:
Saber se um verso é regular ou irregular não é o mais importante no estudo do poema, mas os alunos precisam perceber que esses recursos existem e são utilizados pelos poetas.
a) Os versos são livres ou regulares?
b) Ao escandir, houve elisão?
c) Na sua opinião, por que o poeta optou por essa forma e não por outra?
Agora, leia a quadra a seguir, escrita por Nicolas Behr.
Leitura
Amor punk
pra Noca
aquele beijo na boca
que você me deu
semana passada
tá doendo até hoje
BEHR, Nicolas et al. Boa companhia: poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2003. p. 143.
Biblioteca cultural
Você pode ler outros poemas do cuiabano Nicolas Behr acessando <http://www.nicolasbehr.com.br>.
Página 39
Pensando Sobre o Texto
Sugere-se que a atividade seja feita oralmente.
1 Com base em sua compreensão do texto, na leitura do boxe a seguir e em seus conhecimentos de mundo, arrisque uma interpretação do título do poema.
O movimento punk
O movimento punk surgiu na Inglaterra em meados dos anos 1970. Fugindo dos padrões que a sociedade impunha e mostrando sua revolta por meio de um visual agressivo (cabelos espetados e coloridos, roupas velhas, jaquetas, tachas, alfinetes etc.) e de suas músicas, os punks protestavam contra o capitalismo, o consumismo desenfreado e o Estado, visto como elemento de repressão. A banda inglesa Sex Pistols e o grupo estadunidense Ramones foram, na música, os principais representantes do movimento, que também esteve presente em outras manifestações culturais como a moda, a literatura, as artes plásticas. No Brasil, as bandas Restos do Nada, Cólera e Garotos Podres, entre outras, fizeram parte do movimento.
MAR PHOTOGRAPHICS/ALAMY/GLOW IMAGES
Representantes do movimento punk em Lancashire, Inglaterra (2015).
2 Leia o poema em voz alta e tente perceber o ritmo resultante da alternância de sonoridades mais fracas (sílabas menos acentuadas) e mais fortes (sílabas mais acentuadas). Brinque com o poema “Amor punk”, compondo uma pequena canção para ele.
Fala aí
Se você fosse relacionar uma lembrança pessoal (primeiro beijo, uma viagem, amor à primeira vista etc.) a um gênero musical (rock, samba, rap, hip hop, entre outros), qual seria ele? Transforme essa associação em uma quadra, como fez o poeta Nicolas Behr.
• Rima
1 Transcreva no caderno as palavras que apresentaram

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