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MENSAGENS PORTUGUÊS 12.º ANO SIMULADOR DE EXAMEST MANUAL CERTIFICADO FACULDADE DE LETRAS UNIVERSIDADE DE LISBOA MANUAL DO PROFESSOR Célia Cameira Ana Andrade Salomé Raposo Fernando Pinto do Amaral Rita Veloso 2 Índice geral pp. EDUCAÇÃO LITERÁRIA 20 Mensagens cruzadas 22 Contextualização histórico-literária 1.1 Fernando Pessoa – Poesia do ortónimo 30 Contextualização literária O fingimento artístico 31 Autopsicografia 33 Isto A dor de pensar 36 Ela canta, pobre ceifeira 38 Gato que brincas na rua Sonho e realidade 40 Não sei se é sonho, se realidade Toda beleza é um sonho, inda que exista A nostalgia da infância 43 Pobre velha música! 1.2 Bernardo Soares, Livro do Desassossego 50 Contextualização literária Perceção e transfiguração poética do real 52 Eu nunca fiz senão sonhar O imaginário urbano 61 Tudo é absurdo O quotidiano; Deambulação e sonho: o observador acidental 64 Quando outra virtude não haja em mim 1.3 Fernando Pessoa – Poesia dos heterónimos 80 Contextualização literária Alberto Caeiro O fingimento artístico: Alberto Caeiro, o poeta «bucólico» 84 O Guardador de Rebanhos I pp. Reflexão existencial: Alberto Caeiro, o primado das sensações 88 O Guardador de Rebanhos II Ricardo Reis O fingimento artístico: Ricardo Reis, o poeta «clássico» 94 Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio Reflexão existencial: a consciência e a encenação da mortalidade 97 Antes de nós nos mesmos arvoredos 98 Cada um cumpre o destino que lhe cumpre Álvaro de Campos O fingimento artístico: Álvaro de Campos; o poeta da modernidade 104 Afinal, a melhor maneira de viajar é sentir O imaginário épico: a exaltação do Moderno e o arrebatamento do canto 108 À dolorosa luz das grandes lâmpadas elétricas da fábrica Reflexão existencial: sujeito, consciência e tempo; nostalgia da infância 113 Aniversário 1.4 Fernando Pessoa – Mensagem 124 Contextualização literária Primeira Parte − Brasão 128 O dos Castelos 130 Ulisses 134 D. Sebastião, Rei de Portugal Segunda Parte − Mar Português 136 O Infante 140 Mar Português 141 A Última Nau Terceira Parte – O Encoberto 143 O Quinto Império 146 Nevoeiro Unidade 1 Unidade 0 pp. 10 Avaliação diagnóstica Fernando Pessoa Diagnóstico e Projeto de Leitura 3 pp. GRAMÁTICA 32 Classificação de orações. Funções sintáticas. Coesão textual 33 Classificação de orações. Deixis 34 Deixis. Classificação de orações 37 Classificação de orações. Classes e subclasses de palavras. Funções sintáticas 38 Classificação de orações. Deixis. Coesão textual 41 Funções sintáticas 55 Deixis. Coesão textual 62 Coesão textual. Valor aspetual 66 Valor temporal e aspetual. Coerência textual 86 Classificação de orações. Funções sintáticas 90 Reprodução do discurso no discurso. Coesão textual.Funções sintáticas 97 Valor temporal. Valor aspetual 99 Subordinação. Coesão textual e deixis 114 Valor aspetual 129 Deixis. Classificação de orações. Valor aspetual 131 Deixis. Classificação de orações. Valor aspetual 137 Classificação de orações. Deixis. Funções sintáticas 147 Coesão textual. Valor aspetual. Classificação de orações. pp. ORALIDADE 41 Texto de opinião: O Sono, Salvador Dalí (pintura) 62 Texto de opinião: «As Cidades», Rodrigo Leão (videoclipe) 86 Texto de opinião: Fotógrafos da Natureza (reportagem SIC) 120 Diálogo argumentativo: Eixo do Mal, sobre a atribuição do Prémio Nobel da Literatura a Bob Dylan 137 Apresentação oral: A dimensão simbólica dos heróis da Mensagem 147 Texto de opinião: Mensagem, Luís Vidal Lopes (filme) pp. ESCRITA 34 Apreciação crítica: O Poeta, Marc Chagall (pintura) 38 Texto de opinião: Estória do Gato e da Lua, Pedro Serrazina (curta-metragem) 55 Apreciação crítica: «Cinegirasol», Os Azeitonas (videoclipe) 66 Texto de opinião: Filme do Desassossego, João Botelho (filme) 90 Apreciação crítica: Sem Título, Mahboobeh Pakdel (cartoon) 99 Texto de opinião: «Para ser grande, sê inteiro: nada», Ricardo Reis (poema) 111 Exposição sobre um tema: Obras Públicas (Street Art − Graffiti) (reportagem) 131 Exposição sobre um tema: «Viriato», Mensagem, de Fernando Pessoa (poema) 144 Apreciação crítica: Paz, Jota A. (cartoon) pp. LEITURA 46 Apreciação crítica: «Um mapa para os caminhos de Fernando Pessoa», Carlos Maria Bobone, Observador 71 Diário: Diário VIII, Miguel Torga 102 Artigo de opinião: «Nascer é um bom começo. O resto é discutível», Miguel Esteves Cardoso, Público 117 Memórias: Um garoto misterioso, Retalhos da Vida de um Médico, Fernando Namora pp. 48 Síntese da subunidade 1.1: Poesia do ortónimo 73 Síntese da subunidade 1.2: Bernardo Soares, Livro do Desassossego 74 Mensagens em diálogo e em debate 75 Ficha formativa 93 Síntese da subunidade 1.3: Alberto Caeiro 103 Síntese da subunidade 1.3: Ricardo Reis 122 Síntese da subunidade 1.3: Álvaro de Campos 148 Síntese da subunidade 1.4: Mensagem 150 Mensagens em diálogo e em debate 151 Glossário 152 Ficha formativa 4 pp. 182 Síntese: «Sempre é uma companhia», Manuel da Fonseca 197 Síntese: «George», Maria Judite de Carvalho 198 Mensagens em diálogo e em debate 199 Glossário 200 Ficha formativa pp. GRAMÁTICA 169 Valor temporal 175 Sequências textuais 187 Valor modal pp. ESCRITA 175 Texto de opinião: A solidão dos tempos modernos 191 Apreciação crítica: As Três Idades da Mulher, Gustav Klimt (pintura) pp. ORALIDADE 169 Texto de opinião: E se fosse Consigo, «Violência no Namoro» (reportagem) pp. LEITURA 178 Exposição sobre um tema: A telefonia Unidade 2 pp. EDUCAÇÃO LITERÁRIA 158 Mensagens cruzadas 160 Contextualização histórico-literária 163 Contextualização literária 165 «Sempre é uma companhia», Manuel da Fonseca 166 Dias solitários 172 O grande acontecimento 183 «George», Maria Judite de Carvalho 184 Encontro com o passado 189 Encontro com o futuro Contospp. FICHAS INFORMATIVAS Unidade 1 – Fernando Pessoa 1.1 Fernando Pessoa – Poesia do ortónimo 35 FI 1 O fingimento artístico 39 FI 2 A dor de pensar 42 FI 3 Sonho e realidade 44 FI 4 A nostalgia da infância 45 FI 5 Linguagem, estilo e estrutura 1.2 Bernardo Soares, Livro do Desassossego 56 FI 1 Perceção e transfiguração poética do real 57 FI 2 Semântica I: valor temporal e valor aspetual 63 FI 3 O imaginário urbano 67 FI 4 O quotidiano 68 FI 5 Deambulação e sonho: o observador acidental 69 FI 6 Linguagem, estilo e estrutura 72 FI 7 Diário 1.3 Fernando Pessoa – Poesia dos heterónimos Alberto Caeiro 87 FI 1 O fingimento artístico: Alberto Caeiro, o poeta «bucólico» 91 FI 2 Reflexão existencial: Alberto Caeiro, o primado das sensações 92 FI 3 Linguagem, estilo e estrutura Ricardo Reis 96 FI 1 O fingimento artístico: Ricardo Reis, o poeta «clássico» 100 FI 2 Reflexão existencial: a consciência e a encenação da mortalidade 101 FI 3 Linguagem, estilo e estrutura Álvaro de Campos 107 FI 1 O fingimento artístico: Álvaro de Campos: o poeta da modernidade 112 FI 2 O imaginário épico: A exaltação do Moderno; O arrebatamento do canto 115 FI 3 Reflexão existencial: sujeito, consciência e tempo; nostalgia da infância 116 FI 4 Linguagem, estilo e estrutura 119 FI 5 Memórias 121 FI 6 Diálogo argumentativo 1.4 Fernando Pessoa – Mensagem 132 FI 1 Linguagem e estilo 135 FI 2 O imaginário épico: exaltação patriótica 138 FI 3 O imaginário épico: dimensão simbólica do herói 142 FI 4 O imaginário épico: natureza épico-lírica da obra 145 FI 5 O Sebastianismo 5 pp. Ana Luísa Amaral Figurações do poeta 228 Visitações, ou poema que se diz manso Arte poética 229 Soneto científico a fingir Tradição literária 230 As pequenas gavetas do amor Representações do contemporâneo 232 Metamorfoses Unidade 3 pp. EDUCAÇÃO LITERÁRIA 206 Mensagens cruzadas Miguel Torga Figurações do poeta 209 Livro de Horas Arte poética 211 Arte poética Tradição literária 212 Sísifo Representações do contemporâneo 213 S.Leonardo de Galafura Eugénio de Andrade Figurações do poeta 219 Agora as palavras Arte poética 220 A sílaba, Sílaba a sílaba Tradição literária 221 Green God Representações do contemporâneo 222 Adeus Poetas contemporâneos pp. FICHAS INFORMATIVAS Unidade 2 – Contos «Sempre é uma companhia», Manuel da Fonseca 170 FI 1 Caracterização das personagens. Relação entre elas Solidão e convivialidade 176 FI 2 Importância das peripécias inicial e final Linguagem e estilo. Caracterização do espaço: físico, psicológico e sociopolítico 179 FI 3 Linguística textual – sequências textuais «George», Maria Judite de Carvalho 188 FI 1 A complexidade da natureza humana. Metamorfoses da figura feminina 192 FI 2 As três idades da vida. O diálogo entre realidade, memória e imaginação 194 FI 3 Linguagem, estilo e estrutura 195 FI 4 Semântica II – valor modal pp. GRAMÁTICA 210 Deixis. Coesão textual. Funções sintáticas 214 Valor aspetual. Deixis Valor temporal. Campo semântico e campo lexical. Classes e subclasses de palavras pp. ESCRITA 214 Exposição sobre um tema: «Viagem», Miguel Torga (filme promocional) 220 Texto de opinião: O poder das palavras e a importância da sua escolha para o estabelecimento da comunicação pp. ORALIDADE 231 Debate: The Gift, Julio Pot (curta-metragem) pp. LEITURA 236 Diário: Diários de José Saramago pp. 237 Síntese 238 Mensagens em diálogo e em debate 239 Glossário 240 Ficha formativa pp. GRAMÁTICA 223 Funções sintáticas. Classificação de orações. Valor aspetual 228 Deixis 229 Classificação de orações 231 Funções sintáticas 6 pp. Representações do amor 277 Marcenda 278 Lídia 281 Ricardo Reis e Lídia 282 Ricardo Reis e Marcenda 283 Ricardo Reis e as duas Evas 284 Da indiferença à comoção Deambulação geográfica e viagem literária 286 Eu sou múltiplo 287 A cidade dezasseis anos depois 290 Primeira visita de Fernando Pessoa 291 Nova visita de Fernando Pessoa Intertextualidade: José Saramago, leitor de Luís de Camões, Cesário Verde e Fernando Pessoa 293 Ricardo Reis e Cesário 294 Ricardo Reis, Pessoa e Camões 295 A derradeira viagem Memorial do Convento 302 Contextualização literária O título e as linhas de ação 305 O título e as linhas de ação Linha de ação: construção do convento, a epopeia do trabalho 306 A promessa do rei 311 D. João V: o «Magnânimo» 313 D. Maria Ana Josefa Visão crítica I 315 Recrutamento à força 317 Epopeia da pedra – os verdadeiros heróis de A a Z 318 Epopeia trágica 319 Vida miserável Linha de ação: Baltasar e Blimunda, a sublimação do amor 322 Baltasar Sete-Sóis 323 Do auto da fé ao amor 325 A união de Blimunda e Baltasar 327 Blimunda Sete-Luas 328 Um homem e uma mulher Linha de ação: a construção da passarola, o elogio do Sonho 331 O sonho de voar pp. EDUCAÇÃO LITERÁRIA 246 Mensagens cruzadas 248 Contextualização histórico-literária O Ano da Morte de Ricardo Reis 251 Contextualização literária Representações do século XX – O espaço da cidade 253 Regresso à pátria 258 Lisboa real 259 Lisboa: o vergonhoso espetáculo do mundo Lisboa anunciada 260 Lisboa profunda: rixas e funerais 261 Festividades na cidade Representações do século XX – O tempo histórico e os acontecimentos políticos 264 A morte de Fernando Pessoa 266 O discurso do poder: a alienação e a indiferença 269 A repressão e a ordem: a PVDE 270 Movimentos contra o regime: a Revolta dos Marinheiros 271 Ventos de Espanha: o massacre de Badajoz 272 A Europa unida: comício contra o comunismo Unidade 4 José Saramago pp. FICHAS INFORMATIVAS Unidade 3 – Poetas contemporâneos Miguel Torga 215 FI 1 Figurações do poeta Arte poética Tradição literária Representações do contemporâneo 217 FI 2 Linguagem, estilo e estrutura Eugénio de Andrade 224 FI 1 Figurações do poeta Arte poética Tradição literária Representações do contemporâneo 226 FI 2 Linguagem, estilo e estrutura Ana Luísa Amaral 233 FI 1 Figurações do poeta Arte poética Tradição literária Representações do contemporâneo 235 FI 2 Linguagem, estilo e estrutura 7 pp. Dimensão simbólica 334 Sete-Sóis e Sete-Luas Os três Bês – a «trindade terrestre» As vontades 335 O poder da música 339 Voo e queda da passarola Dimensão simbólica – A perpetuação do amor 343 A procura de Blimunda pp. GRAMÁTICA 265 Coesão textual. Valor temporal 267 Valor aspetual 283 Valor modal 294 Intertextualidade 296 Classificação de orações. Funções sintáticas. Coesão textual. Valor aspetual 308 Valor modal 314 Funções sintáticas. Deixis. Classificação de orações 315 Intertextualidade 324 Coesão textual 326 Valor temporal 333 Sequências textuais. Valor aspetual 336 Sequências textuais 345 Valor aspetual pp. ORALIDADE 262 Apresentação oral: «Inquietação», A Naifa (canção) 289 Texto de opinião: A importância do fado 319 Texto de opinião: «Quem construiu Tebas, a de sete portas?», Bertolt Brecht (poema) 329 Apresentação oral: Perfeito, Mauricio Bartok (curta-metragem) pp. 301 Síntese: O Ano da Morte de Ricardo Reis 351 Síntese: Memorial do Convento 352 Mensagens em diálogo e em debate 353 Glossário 354 Ficha formativa pp. ESCRITA 273 Apreciação crítica: Salazar (documentário) 385 Apreciação crítica: Viver depois de ti (trailer) 296 Exposição sobre um tema: The Maze Runner: Correr ou Morrer, Wes Ball (trailer) 312 Apreciação crítica: Toda a Luz Tem a sua Sombra, Luc Vernimmen (cartoon) 340 Apreciação crítica: O Primeiro Voo, DreamWorks (curta-metragem) 345 Exposição sobre um tema: Intenção da fusão entre a História e a ficção em Memorial do Convento pp. LEITURA 348 Artigo de opinião: «Na morte de José Saramago», Vasco Graça Moura (Diário de Notícias) pp. FICHAS INFORMATIVAS Unidade 4 – José Saramago O Ano da Morte de Ricardo Reis 256 FI 1 Linguagem e estilo 263 FI 2 Representações do século XX – O espaço da cidade 268 FI 3 Texto e textualidade: intertextualidade 274 FI 4 Representações do século XX – O tempo histórico e os acontecimentos políticos 280 FI 5 Representações do amor 297 FI 6 Intertextualidade: José Saramago, leitor de Luís de Camões, Cesário Verde e Fernando Pessoa 298 FI 7 Deambulação geográfica e viagem literária Memorial do Convento 309 FI 1 Linguagem e estilo 316 FI 2 Texto e textualidade: intertextualidade 320 FI 3 Linha de ação: construção do convento, a epopeia do trabalho 321 FI 4 Visão crítica I 330 FI 5 Linha de ação: Baltasar e Blimunda, a sublimação do amor 337 FI 6 Tempo histórico e tempo da narrativa 341 FI 7 Linha de ação: a construção da passarola, o elogio do Sonho 342 FI 8 Visão crítica II 346 FI 9 Dimensão simbólica 349 FI 10 Caracterização das personagens. Relação entre elas O DIAGNÓSTICO E PROJETO DE LEITURA AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA PROJETO DE LEITURA Que livros ler? O que fazer? • Escrita • Oralidade Como divulgar? Henri Lebasque, Rapariga à Janela, s.d. 10 Unidade 0 // DIAGNÓSTICO E PROJETO DE LEITURA AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA COTAÇÕES Grupo I A 1. 10 pontos 2. 10 pontos 3. 10 pontos B 4. 10 pontos 5. 10 pontos 50 pontos 5 10 1 Galeões: naus de guerra. Grupo I A Lê atentamente o seguinte poema. Já foste rico e forte e soberano, Já deste leis a mundos e nações, Heroico Portugal, que o gram Camões Cantou, como o não pôde um ser humano! Zombando do furor do mar insano, Os teus nautas, em fracos galeões1, Descobriram longínquas regiões, Perdidas na amplidão do vasto oceano. Hoje vejo-te triste e abatido, E quem sabe se choras, ou então, Relembras com saudade o tempo ido? Mas a queda fatal não temas, não. Porque o teu povo, outrora tão temido, Ainda tem ardor no coração. Saúl Dias, in Luís Adriano Carlos (ed.), Saúl Dias – Obra Poética, «Obras Clássicas da Literatura Portuguesa», 3.ª ed., Porto, Campo das Letras, 2001. 1. Refere o recurso expressivo presente nos versos 5 e 6 e explicitao modo como con- corre para a glorificação do povo português. 2. Relaciona o conteúdo da última estrofe com os três tempos de Portugal representados no poema – o passado, o presente e o futuro –, fundamentando a tua resposta com elementos textuais. 3. Identifica a composição poética e caracteriza-a quanto à estrofe, ao metro e à rima. Júlio Pomar, Camões, 1990. CD 1 Faixa n.0 1 PROFESSOR Educação Literária 14.3; 14.4; 14.7; 14.8; 15.1; 14.2 (12.o Ano). Leitura 7.1; 7.2; 7.4; 7.7. (MC – 11.o Ano). MC A 1. A antítese presente nos versos 5 e 6 coloca em contraste a fragilidade das embarcações e os tempestuosos mares com as quais os enfrentaram. Este contraste concorre para a glorifi- cação deste povo ao realçar a sua cora- gem e a sua ousadia («Zombando»), por ter enfrentado a fúria dos mares para alcançar o seu desígnio («Descobriram longínquas regiões / Perdidas na vasti- dão do vasto oceano.»). 2. A estrofe 4 aponta para os três tem- pos de Portugal: o passado, glorioso e heroico do seu «povo, outrora tão temi- do», expresso na 1.a e 2. a estrofes («Já foste rico e forte e soberano, / Já deste leis a mundos e nações»), («Zombando […], / Descobriram longínquas regiões, / Perdidas na amplidão do vasto ocea- no.»); o presente, de abatimento, de tristeza, visível na 3.a estrofe («Hoje vejo-te triste e abatido.»), de saudade desse passado glorioso («Relembras com saudade o tempo ido?»), atitude que pode conduzir à decadência; e o futuro, que, apesar do pessimismo e desânimo, se afigura bonançoso, pois o sujeito poético crê no entusiamo e na paixão do seu povo («Ainda tem ar- dor no coração.»), essenciais à mudan- ça, asseverando a sua esperança para Portugal (Mas a queda fatal não temas, não.»). 11Avaliação diagnóstica B Lê atentamente o seguinte texto. Que seria do mundo sem os portugueses Que seria do mundo do futebol e de outros desportos sem os portugueses? E da arquitetura? E da ciência? E da litera- tura? E da engenharia espacial, mas tam- bém de prédios, museus e pontes? E das artes, da música, da academia, da investi- gação e tecnologia, do vinho, do turismo, da gastronomia […]. Isto, claro, para não falar dos portugueses de quinhentos que nos hão de inspirar para sempre por terem dado novos mundos ao mundo. Passamos a vida a identificar boas prá- ticas e boas notícias de gente de fora. […] Esquecemo-nos de que nós, os portugue- ses, estamos sempre a fazer história. Não é só o Ronaldo que faz o mundo vibrar quando marca um golo. O Vhils também humaniza a paisagem aqui como na China; a Maria João Pires para tudo com a sua música; o António Horta Osório fala e é igualmente tido em conta dum canto ao outro neste universo macro e microeco- nomicista; o Siza e o Souto Moura rasgam a paisagem e abrem horizontes amplos; a Paula Rego redesenha a pintura; Pessoa, Sophia e Saramago serão lidos ao longo de séculos, e por aí adiante. Milhões de portugueses vivos e mor- tos, conhecidos e anónimos, falam a mesma língua há oito séculos e deixam vestígios pelo mundo. Todo o mundo. […] Sei de apps criadas por portugueses que mudaram o mundo a meio mundo. E conheço autores e programadores que transformaram a outra metade deste mundo. Falo, por exemplo, da Color ADD, a melhor app inclusiva premiada pelas Nações Unidas, que permite a 350 milhões de daltónicos identificarem e verem as cores. Também sei de robots e invenções portuguesas fabulosas como a bússola que foi lançada para o espaço e permite medir o campo magnético de forma a saber a orientação dos satéli- tes (e o que seria do mundo e da vida de cada um de nós sem os satélites!), mais os óculos de realidade aumentada a que um português adicionou equipamento de vídeo que permite ver para onde o olho está a olhar, e cuja câmara filma o olho, para através de um teclado virtual poder escrever apenas com os olhos. Se estes portugueses não salvam a humanidade, não sei quem a pode salvar, pois inven- tam tecnologia sofisticadíssima que cria acessibilidades e inclusão, salvando pelo menos parte da humanidade doente. […] Todos eles terão como ponto de par- tida e de chegada uma interrogação: que seria do mundo sem os portugueses? Confesso que a mim me soa mais como certeza e, daí, ter começado por retirar a interrogação do título. Laurinda Alves, «Que seria do mundo sem os portugueses», in Observador, 24 de maio de 2016 (disponível em www.observador.pt, consultado em junho de 2016, texto adaptado). 4. Identifica o género do texto que acabaste de ler, fundamentando a tua opção com três marcas características do mesmo. 5. Relaciona os textos A e B do Grupo I, apresentando dois aspetos comuns. 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 PROFESSOR 3. O poema é um soneto, composto por duas quadras e dois tercetos, sendo os versos decassilábicos: Já / fos / te / ri / co e / for / te e / so / be / ra / no. A rima é interpolada e empare- lhada nas quadras e cruzada nos ter- cetos, segundo o esquema rimático abba / abba / cdc / dcd. B 4. Estamos perante um artigo de opinião. Três marcas características são, por exemplo, explicitação de um ponto de vista: «Passamos a vida a identificar boas práticas e boas notí- cias de gente de fora. […] Esquece- mo-nos de que nós, os portugueses, estamos sempre a fazer história.» (ll. 12-15); desenvolvimento de argu- mentos: «Milhões de portugueses vivos e mortos, conhecidos e anóni- mos, falam a mesma língua há oito séculos e deixam vestígios pelo mundo.» (ll. 28-31), e respetivos exemplos: «Sei de apps criadas por portugueses que mudaram o mundo a meio mundo.» (ll. 32-33); presença de discurso valorativo, neste caso, apreciativo, com a utilização de adje- tivos como «boas» (l. 12), «fabulosas» (l. 41) e «sofisticadíssima» (l. 55). Também os recursos expressivos reforçam o juízo de valor apresen- tado, como, por exemplo, a hipérbole – «a Maria João Pires para tudo com a sua música» (ll. 19-20); a metáfora – «o Siza e o Souto Moura rasgam a pai- sagem e abrem horizontes amplos» (ll. 23-24), entre outros. 5. Os dois textos relacionam-se ao nível da temática. Em ambos se reflete sobre a situação de Portugal e dos portugueses e se expõe aspe- tos negativos e positivos acerca do nosso país. No texto A, o estado deca- dente do país contrasta com a espe- rança de um futuro melhor («Porque o teu povo, outrora tão temido, / Ainda tem ardor no coração.», vv. 13-14); no texto B, a tendência para menosprezarmos o que é nacional («Passamos a vida a identificar boas práticas e boas notícias de gente de fora. […] Esquecemo-nos de que nós, os portugueses, estamos sempre a fazer história.», ll. 12-15) é revertida através de vários exemplos de feitos atuais dos portugueses («Se estes portugueses não salvam a huma- nidade, não sei quem a pode salvar, pois inventam tecnologia sofistica- díssima que cria acessibilidades e inclusão, salvando pelo menos parte da humanidade doente.», ll. 52-57). 12 Unidade 0 // DIAGNÓSTICO E PROJETO DE LEITURA Grupo II Caros cidadãos de Portugal, Estive há dias no vosso país (acho eu) e parece que cometi um erro. Disse que Cristóvão Colombo era vosso compatriota quando, ao que parece, ele nasceu em Génova. O que significa que era grego, ou assim. Enfim, os povos do sul da Europa acabam por ser todos muito parecidos. Também tenho dificuldade em distin- guir africanos e chineses. Sendo oriundo de uma potência como o Luxemburgo, estive muito ocupado a estudar a longa história do meu país, e a conhecer a sua vasta geografia. Por isso, faltou-me dis- ponibilidade para me dedicar à história de países mais pequenos, como o vosso. Além disso, no Luxemburgo temos pou- quíssimo contacto com portugueses, pelo que a minha ignorância está des- culpada, creio eu. Vamos ao essencial. O meu obje- tivo era comparar o socialismocom um período negro da história mundial. Por isso, escolhi inteligentemente uma época que os portugueses abominam: os Descobrimentos. Cristóvão Colombo era, na verdade, um socialista: ia sem saber para onde à custa dos contribuintes – e com que resultados? Nenhuns. Não admira que tenha sido esquecido pela história e que, hoje, alguns altos digni- tários europeus nem saibam exatamente quem ele foi e onde nasceu. Diz-se que Cristóvão Colombo descobriu a América. Pois bem, eu já estive na América, e é enorme. Imaginem as vossas cidades de Málaga e Bordéus juntas. A América é ainda maior. Não é nada difícil de des- cobrir. Vê-se do espaço. Perguntem ao vosso compatriota Neil Armstrong. Ele foi a Júpiter, e sabe do que fala. Portugal é, sinceramente, a minha parte favorita de Angola, e tive o privi- légio de poder confidenciar isto mesmo a Nelson Mandela, quando ele ainda jogava no Benfica. Nessa medida, […] o vosso país tem em mim um amigo. Creio que o desconhecimento mútuo é o melhor aliado da amizade. Quanto mais se conhece o outro, mais característi- cas desagradáveis lhe descobrimos. E eu já demonstrei que não faço a mínima ideia de quem vocês são e do que fize- ram. Terei todo o prazer em defender, na Comissão Europeia, os vossos interesses, mal descubra quais são. Como dizia o vosso Cervantes: «Ser ou não ser, eis a questão.» Portugal tem de optar entre ser socialista, como Cristóvão Colombo, ou ser sábio e ajui- zado, como eu. Avaliem a dimensão de ambas as figuras na história da Europa e do Mundo e decidam em conformidade. Gracias e hasta luego, como se diz aí. Cordialmente, Jean-Claude Juncker Ricardo Araújo Pereira, «Boca do Inferno», in Visão, 29 de maio de 2014 (disponível em www.visao.sapo.pt, consultado em junho de 2016). 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 COTAÇÕES Grupo II 1.1 5 pontos 1.2 5 pontos 1.3 5 pontos 1.4 5 pontos 1.5 5 pontos 2. 5 pontos 3. 10 pontos 4. 10 pontos 50 pontos PROFESSOR Gramática 17.1; 18.1; 18.2; 20.1. (MC – 11.o Ano). MC 13Avaliação diagnóstica 1. Para responderes a cada um dos itens de 1.1 a 1.5, seleciona a opção que te permite obter uma afirmação correta. 1.1 As funções sintáticas desempenhadas pelos segmentos sublinhados em «Estive há dias no vosso país […]» (l. 1) são, respetivamente, (A) modificador e complemento oblíquo. (B) complemento oblíquo e modificador. (C) predicativo do sujeito e modificador. (D) modificador e predicativo do sujeito. 1.2 No contexto em que ocorre, a palavra destacada em «Enfim, os povos do sul da Europa acabam por ser todos muito parecidos» (ll. 6-8) contribui para a coesão (A) lexical. (B) frásica. (C) interfrásica. (D) referencial. 1.3 O segmento destacado em «Sendo oriundo de uma potência como o Luxem- burgo […]» (ll. 9-10) desempenha a função sintática de (A) complemento do nome. (B) complemento do adjetivo. (C) modificador do nome restritivo. (D) complemento oblíquo. 1.4 As orações destacadas em «Ele foi a Júpiter e sabe do que fala» (ll. 39-40) são, respetivamente, (A) coordenada e subordinada substantiva completiva. (B) coordenada e subordinada substantiva relativa sem antecedente. (C) subordinante e subordinada substantiva relativa sem antecedente. (D) coordenada e subordinada adjetiva relativa restritiva. 1.5 A expressão destacada em «[…] o vosso país tem em mim um amigo» (l. 46) desempenha a função sintática de (A) modificador. (B) complemento oblíquo. (C) predicativo do complemento direto. (D) complemento indireto. 2. Classifica os deíticos «vosso» (l. 15), «hoje» (l. 30) e «aí» (l. 64). 3. Indica a função sintática do segmento destacado em «Avaliem a dimensão de ambas as figuras na história da Europa […]» (ll. 61-62). 4. Comprova que o texto respeita os princípios da coerência, apesar de apresentar dados incompatíveis com o nosso conhecimento do mundo. PROFESSOR Grupo II 1.1. (D). 1.2. (C). 1.3. (B). 1.4. (B). 1.5. (A). 2. «vosso» – deítico pessoal; «hoje» – deítico temporal; «aí» – deítico espacial. 3. Complemento do nome. 4. O texto respeita todos os princí- pios de coerência, embora apresente informações opostas ao conhe- cimento que temos do mundo: a dimensão do Luxemburgo, apre- sentado como uma «potência»; os Descobrimentos como «um período negro da história mundial», abo- minado pelos portugueses; Neil Armstrong ser português e ter ido a Júpiter; Cervantes ser português e ter escrito uma expressão da autoria de Shakespeare, entre outras. A ironia que percorre todo o texto está ao serviço de uma crítica, não compremetendo a sua estrutura, sentido ou eficácia comunicativa. 14 Unidade 0 // DIAGNÓSTICO E PROJETO DE LEITURA Grupo III 1. Lê a afirmação de Roger Crowley, retirada de uma notícia. «[Os Descobrimentos] têm de ser vistos como um todo: uma revolução na navega- ção e na cartografia, que permitiu descobrir como unir o mundo fisicamente através de barcos, e ao mesmo tempo uma mudança radical no comércio. Em resumo, com os portugueses o mundo tornou-se global.» João Céu e Silva, «Lisboa foi a Silicon Valley do fim do século XV», in Diário de Notícias, 29 de março de 2016 (disponível em http://dn.pt, consultado em junho de 2016). 1.1 Redige um texto de opinião sobre a importância de Portugal e dos portugueses na globalização do mundo, no passado e no presente. Grupo IV Observa, atentamente, o seguinte cartoon. Cartoon de Lopes, o repórter pós-moderno Luís Afonso, «País flutua» (disponível em http://www.sabado.pt/multimedia/ilustracoes.html). A partir da leitura do cartoon, elabora um texto de opinião, de quatro a seis minutos, em que reflitas sobre o papel dos jovens enquanto agentes de mudança na sociedade. A tua exposição oral deve contemplar os seguintes tópicos: • leitura do cartoon, relacionando-o com o tema a abordar; • a importância da juventude na sociedade; • áreas potenciais de transformação; • ações de dinamização junto dos jovens. COTAÇÕES Grupo III 40 pontos Grupo IV 30 pontos PROFESSOR Escrita 10.1; 11.1; 12.1; 12.2; 12.3; 12.4; 13.1. Oralidade 5.1; 5.2; 5.3; 5.4; 6.1; 6.2; 6.3. (MC – 11.o Ano). MC Grupo III Sugestão de resposta: • O fenómeno da globalização teve início no séc. XV, com os Descobri- mentos portugueses: o avanço das técnicas de navegação e da cartogra- fia permitiu a união física dos mares; desenvolvimento e mundialização do comércio, através da troca de mer- cadorias; movimentação de recursos materiais e humanos (emigração); aproximação de culturas; desenvol- vimento da economia da Europa Oci- dental; … • Do séc. XV à atualidade: fenómeno da colonização; fenómeno da emi- gração para diversos pontos do globo e consequente influência e partici- pação dos portugueses em diversas áreas (cultura, ciência, política, eco- nomia,…). Grupo IV Sugestão de resposta: • O cartoon de Luís Afonso apresenta Portugal como um colchão insuflá- vel, no meio do oceano, e o comen- tário por parte de um jornalista, dizendo que «ainda flutua»; isto é, ainda há esperança, muito provavel- mente, os jovens terão um papel cru- cial no «salvamento» do país: • a importância da juventude na sociedade – os jovens são bastante importantes na sociedade, pelo seu espírito inovador, capacidade de mover os seus pares e os adultos e, sobretudo, pela sua índole sonha- dora e vontade de transformar a sociedade; • áreas potenciais de transformação – mudança de mentalidades na sua família, no meio escolar e comunitá- rio em que se inserem. 15Avaliação diagnóstica COTAÇÕES Grupo V 1. 6 pontos 2. 6 pontos 3. 6 pontos 4. 6 pontos 5. 6 pontos 30 pontos Grupo V Escuta atentamente a canção «A gente vai continuar», de Jorge Palma, do álbum No Tempo dos Assassinos (2002). Seleciona, para cada uma das questões abaixo apresenta- das, a resposta que considerares mais correta, de acordo com o sentidoda letra. 1. Inicialmente, o sujeito lírico incita (A) à continuação do estado reflexivo. (B) a uma mudança da postura corporal. (C) à continuação da postura corporal. (D) a uma mudança de comportamento. 2. Simbolicamente, o vocábulo «estrada» pode ter como sinónimo (A) esperança. (B) desespero. (C) dinheiro. (D) saudade. 3. A expressão «ventos e mar» evoca (A) o clima português. (B) um passado de glória. (C) a posição geográfica portuguesa. (D) os obstáculos à estrada. 4. Considerando as temáticas abordadas, não é contemplada a (A) do consumismo. (B) das dependências. (C) da desistência. (D) da liberdade. 5. A mensagem global da canção é a de que devemos (A) saber desistir dos nossos sonhos quando perdemos. (B) esperar por ventos e mar favoráveis aos nossos sonhos. (C) perseguir os sonhos dos nossos antecessores. (D) perseguir os nossos sonhos enquanto houver esperança. Fotografia de Rita Carmo, Jorge Palma no CCB, 2016. PROFESSOR Grupo IV (cont.) • ações de dinamização junto dos jovens – é urgente fomentar ações deste tipo, de modo a consciencializá- -los da sua influência na sociedade e da necessidade de mudança de men- talidades, aproximando-os de causas públicas e da política; por outro lado, é urgente criarmos condições para que os jovens não tenham de emigrar, podendo efetivamente transformar a sua pátria. Grupo V Oralidade 1.1; 1.3; 1.4; 1.5. (MC – 11.o Ano). MC 1. (D). 2. (A). 3. (B). 4. (C). 5. (D). ▪ Link «A gente vai continuar», Jorge Palma ▪ Documento Letra da canção «A gente vai continuar» ▪ Ficha formativa Soluções para projeção 16 PROJETO DE LEITURA LITERATURA PORTUGUESA DIONÍSIO, Mário, O Dia Cinzento e Outros Contos FERREIRA, José Gomes, Calçada do Sol: Diário Des- grenhado de um Qualquer Nascido no Princípio do Século XX GERSÃO, Teolinda, A Árvore das Palavras KNOPFLI, Rui, Obra Poética (poemas escolhidos) MOURÃO-FERREIRA, David, Obra Poética (poemas escolhidos) NAMORA, Fernando, Retalhos da Vida de um Médico NEGREIROS, Almada, Nome de Guerra PESSANHA, Camilo, Clepsydra PINA, Manuel António, Como se Desenha uma Casa RÉGIO, José, Poemas de Deus e do Diabo SÁ-CARNEIRO, Mário de, Indícios de Oiro LITERATURA DE EXPRESSÃO PORTUGUESA AGUALUSA, José Eduardo, O Vendedor de Passados ALMEIDA, Germano, Estórias de dentro de Casa ANDRADE, Carlos Drummond de, Antologia Poética (poemas escolhidos) ASSIS, Machado de, Memórias Póstumas de Brás Cubas HONWANA, Luís Bernardo, Nós Matámos o Cão-Tinhoso PATRAQUIM, Luís Carlos, O Osso Côncavo e Outros Poe- mas (poemas escolhidos) TAVARES, Paula, Como Veias Finas da Terra LITERATURA UNIVERSAL Anónimo, As Mil e uma Noites (excertos escolhidos) BORGES, Jorge Luís, Ficções CENDRARS, Blaise, Poesia em Viagem (poemas escolhidos) BELLOW, Saul, Jerusalém – Ida e Volta GARCÍA LORCA, Federico, Antologia Poética (poemas escolhidos) GARCÍA MÁRQUEZ, Gabriel, Cem Anos de Solidão GOGOL, Nikolai, Contos de São Petersburgo KAFKA, Franz, Contos KAVAFIS, Konstandinos, Poemas e Prosas (poemas escolhidos) LEVI, Primo, Se Isto é um Homem MÁRAI, Sándor, As Velas Ardem até ao Fim MURAKAMI, Haruki, Auto-retrato do Escritor enquanto Corredor de Fundo NERUDA, Pablo, Vinte Poemas de Amor e uma Canção Desesperada ORWELL, George, 1984 PAMUK, Orhan, Istambul PAZ, Octavio, Antologia Poética (poemas escolhidos) PROUST, Marcel, Em Busca do Tempo Perdido. Vol. 1: Do Lado de Swann STRINDBERG, August, Menina Júlia TABUCCHI, Antonio, O Tempo Envelhece Depressa WHITMAN, Walt, Folhas de Erva (poemas escolhidos) WOOLF, Virginia, A Casa Assombrada e Outros Contos XINGJIAN, Gao, Uma Cana de Pesca para o meu Avô Que livros ler? A lista de livros apresenta vários títulos, dos quais terás de escolher um ou dois, de acordo com as indicações do teu professor, para desenvolveres um trabalho no âmbito do Projeto de Leitura. 17 O que fazer? A partir da obra que selecionaste, desenvolve uma das seguintes atividades propostas. 1. Exposição Prepara uma exposição, escrita (130 a 170 palavras) ou oral (5 a 7 minutos), de acordo com os seguintes tópicos: Introdução • informação sobre o autor e a obra. Desenvolvimento • apresentação do conteúdo global da obra (tema, organização); • semelhanças e diferenças em relação ao que estudaste em determinada unidade, apoiadas em exemplos. Conclusão • síntese dos aspetos mais relevantes da obra. 2. Apreciação crítica Faz uma apreciação crítica, escrita (200 a 300 palavras) ou oral (2 a 4 minutos), em que apresentes os seguintes tópicos: Introdução • informação sucinta sobre o autor e a obra, seguida de uma breve descrição do seu conteúdo. Desenvolvimento • comentário crítico da obra, fundamentado em argumentos suportados por excertos ilustrativos; • semelhanças e diferenças com o que estudaste em determinada unidade, apoiadas em exemplos. Conclusão • informação sobre a importância da divulgação e do conhecimento da obra; • recomendação da sua leitura. 3. Texto de opinião Elabora um texto de opinião, escrito (200 a 300 palavras) ou oral (4 a 6 minutos), em que apresentes os seguintes aspetos: Introdução • informação sucinta sobre o autor e a obra. Desenvolvimento • explicitação do teu ponto de vista sobre a obra, adotando uma perspetiva clara e pertinente, fundamentada em argumentos, suportados por excertos ilustrativos; • utilização de um discurso valorativo (juízo de valor explícito ou implícito) sobre a obra; • semelhanças e diferenças com o que estudaste em determinada unidade, apoiadas em exemplos. Conclusão • informação sobre a importância da divulgação e do conhecimento da obra; • recomendação da sua leitura. Como divulgar? Partilha o teu texto escrito • no jornal da escola; • no blogue da biblioteca da tua escola; • no site de uma livraria online ou num site sobre livros que permita adicionar comentários de utilizadores. Partilha o teu texto oral • sob a forma de apresentação oral à turma; • num programa da rádio da tua escola (acompanhando-o de músicas sugestivas); • sob a forma de vídeo/vlogue no YouTube, Facebook ou ou- tro site de partilha de vídeos. 1 FERNANDO PESSOA EDUCAÇÃO LITERÁRIA Contextualização histórico-literária Almada Negreiros, Retrato de Fernando Pessoa (pormenor), 1964. Inês Pedrosa É escritora e colabora em programas de rádio (A Páginas Tantas, Antena 1) e televisão (O Último Apaga a Luz, RTP3). Foi diretora da Casa Fernando Pessoa entre 2008 e 2014. Além de contos, crónicas e biografias, publicou sete romances: A Instrução dos Amantes (1992), Nas Tuas Mãos (1997, Prémio Máxima de Literatura), Fazes-me Falta (2002), A Eternidade e o Desejo (2007), Os Íntimos (2010, Prémio Máxima de Literatura), Dentro de Ti Ver o Mar (2012) e Desamparo (2015). Os seus livros estão publicados na Alemanha, no Brasil, na Croácia, em Espanha e em Itália. 20 5 10 15 20 25 30 35 40 45 Escrever para desassossegar «Nunca conheci quem tivesse levado porrada/ Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.» A minha paixão por Fernando Pessoa nas- ceu neste Poema em Linha Recta, assinado por Álvaro de Campos, que descobri aos 13 anos. Trinta e três anos depois, em 2008, tive a alegria de organizar um concerto no Terreiro do Paço, em Lisboa, com rappers e grupos de hip-hop cantando a poesia de Pessoa e dos seus heterónimos. Mas Pessoa vive além da máquina da heteronímia; é o coração febril do tímido e arguto Fernando que bomba o san- gue dos outros, distintos e iguais a ele. Criar perso- nagens faz parte da natureza humana, todos somos vários, a não ser que escolhamos ser apenas sombras movidas por uma ambição qualquer, que sempre é nada. O engenheiro Campos é a figura pessoana que prefiro – navio iluminado ateando ondas na noite da língua e do pensamento. O génio de Pessoa consistiu em transformar em texto as experiências-limite da existência. O seu projeto não era o decriar novidades ou sensações literárias, mas de, escrevendo, sangrar a vida e com- preender as paixões que a compõem. Foi um filósofo valente. O autor desse romance sem história onde todos os romances estão contidos, o Livro do Desas- sossego que nunca me canso de reler, e que é um ven- daval de ideias e de intuições fulgurantes, usou todos os métodos, processos e correntes literárias, desfi- brando-os, subvertendo-os, estoirando-os: depois dele, o belo e o bom nunca mais foram os mesmos – e, sobretudo, nunca mais foram absolutos. Pessoa é a velocidade supersónica e a imobilidade estelar; a máxima dispersão e o extremo rigor. Nos seus diários de juventude (Prosa Íntima e de Autoconhecimento, edição de Richard Zenith, Assírio & Alvim) escreve: «Sinto-me viver vidas alheias, em mim, incompleta- mente, como se o meu ser participasse de todos os homens, […] Com os meus passos treme a luz das estrelas. […] Pareceu-me sempre que ser era ousar; que querer era aventurar-se.» A aventura pessoana de explorar as múltiplas variantes do ser, na sua autenti- cidade radical, acompanha-nos para lá do tempo. Fer- nando Pessoa atreveu-se a escavar destemidamente a verdade da condição humana – é para isso que serve a literatura. Inês Pedrosa (texto inédito, 2017) mensaGens CrUzadaS 21 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 Pessoa(s) sem fim Sou a mais nova de uma família grande e, como lá em casa cada um falava para seu lado e geral- mente muito alto, tive de lutar bastante por aten- ção e tempo de antena. Consegui-os aos seis anos com umas quadras que, embora não tão boas como as de Fernando Pessoa, impressionaram os adultos. Mas em boa verdade a poesia estava dentro de mim desde sempre e é provável que tenha ouvido os primeiros poe- mas de Pessoa ainda na barriga da minha mãe: é que os meus pais cantavam ambos muito mal e preferiam recitar-nos versos a embalar-nos com canções desafina- das... Fizeram bem, porque a poesia é o género literário que consegue dizer mais coisas com menos palavras e, ainda por cima, goza da vantagem de ter música. E, se é certo que não temos de gostar todos dos mesmos poetas, com Fernando Pessoa podemos ficar descansa- dos, porque ele, sozinho, é um monte de escritores para todos os gostos. Talvez seja por isso que o meu “Pes- soa & heterónimos” favorito foi mudando ao longo do tempo. Até à adolescência, eu gostava mesmo era da Mensagem e de ver desfilar nas suas páginas a história e as figuras de um Portugal heróico que se atrevera ao mar das Descobertas e nos enchia de orgulho; lembro- -me até de, numa festa da escola, recitar empoleirada numa cadeira, o «Mar Português» e, tantos anos decor- ridos, continuo a sabê-lo de cor. Depois, naquela idade em que os nossos sentidos parecem sobrepor-se à razão, agarrei-me com unhas e dentes ao Guardador de Reba- nhos de Alberto Caeiro, no qual li que podíamos pensar com os olhos e os ouvidos, as mãos e os pés, o nariz e a boca, e que «pensar uma flor é vê-la e cheirá-la». Ele é que me entendia... Logo a seguir vieram os primei- ros desgostos de amor (acontece a todos e faz parte da dolorosa maravilha que é crescer) e então foi a vez de Álvaro de Campos se tornar o meu poeta de eleição; nem precisava de ir ao volante de um Chevrolet pela Estrada de Sintra e olhar o modesto casebre na paisa- gem para perceber que, como ele escrevera, «A vida ali deve ser feliz, só porque não é a minha.» As paixonetas que chorava nessa altura felizmente passaram, mas dura até hoje a minha paixão pelos poemas do senhor enge- nheiro... Que tem, mesmo assim, um rival: já eu estava na faculdade, surgiu o Livro do Desassossego, assinado por Bernardo Soares, um maravilhoso texto em prosa feito de mil bocadinhos arrumados como as peças de um puzzle. Enquanto não o li, foi um desassossego. E depois de o ler também: como era possível um livro que não tinha sequer uma história ser tudo menos enfado- nho? Confesso que com Ricardo Reis, que é o preferido da minha melhor amiga, não me lembro de sentir uma empatia por aí além; mas, enfim, nos anos que me res- tam sabe-se lá se ele não acaba por me conquistar. Maria do Rosário Pedreira (texto inédito, 2017) Maria do Rosário Pedreira Licenciou-se em Línguas e Literaturas Modernas e foi professora durante cinco anos, o que a influenciou a escrever para jovens. Ingressou na carreira editorial em 1987, sendo atualmente responsável pelo lançamento de novos autores portugueses. Escreve poesia, ficção e literatura juvenil, tendo ainda um blogue dedicado aos livros. 22 Unidade 1 // FERNANDO PESSOA Contextualização histórico-literária Datas e acontecimentos 1888 Nascimento de Fernando Pessoa, em Lisboa. 1890 Ultimatum Britânico: a Grã-Bretanha exige a retirada imediata das tropas portuguesas dos territórios entre Angola e Moçambique. O governo português cede e inicia-se uma mobilização patriótica a nível nacional. 1891 Revolta republicana a 31 de janeiro, no Porto, na tentativa de derrube da monarquia e de implantação da República. 1892 Crise financeira e bancarrota. 1908 Regicídio de D. Carlos e assassínio do seu herdeiro, D. Luís Filipe. Ascensão ao trono de D. Manuel II, segundo filho de D. Carlos. Avanço da causa republicana. 1910 Revolução republicana de 5 de outubro e Implantação da República. Constituição de um governo provisório, presidido por Teófilo Braga, e preparação de eleições. Início de um conturbado período político (até 1926, tomam posse 8 presidentes e são constituídos 45 governos). 1911 Aprovação da Constituição da I República e eleição de Manuel de Arriaga para Presidente da República. 1914-1918 I Guerra Mundial. Participação de Portugal na Guerra. 1917 Sidónio Pais é eleito Presidente da República, sendo assassinado no ano seguinte. 1926 Início do período de Ditadura Militar, com o general Gomes da Costa. Textos e obras 1910-1932 Revista A Águia* (5 séries). 1911 Marânus, Teixeira de Pascoaes. 1914 A Confissão de Lúcio e Dispersão, Mário de Sá-Carneiro. 1915 Revista Orpheu* (2 n.os). 1916 Manifesto Anti-Dantas, Almada-Negreiros. Revistas Centauro (1 n.o) e Exílio (1 n.o). 1917 Revista Portugal Futurista* (1 n.º). 1922-1926 Revista Contemporânea* (3 séries, 13 n.os). 1924-1925 Revista Athena* (1 série, 5 n.os). 1927-1940 Revista Presença (54 n.os). 1934 Mensagem, Fernando Pessoa. 1928 O General Carmona é eleito Presidente da República. António de Oliveira Salazar assume a pasta das Finanças no governo. 1932 Salazar ascende a chefe de governo. 1933 Início do Estado Novo. 1935 Morte de Fernando Pessoa, no Hospital de São Luís dos Franceses, em Lisboa. * Algumas das revistas em que Pessoa publicou textos diversos. 23Contextualização histórico-literária 1. Pessoa e a sua época [E]m 1915, Pessoa declara duas coisas importantes em carta a Côrtes-Rodrigues: a primeira é a sua consciência de que «ter uma ação sobre a humanidade, contribuir com todo o poder do meu esforço para a civilização» se tornaram os «graves e pesados fins» da sua vida; a segunda é a sua fundamental «ideia patriótica», que ele apresenta como «uma consequência de encarar a sério a arte e a vida». […] É em torno dos anos 20 que Pessoa tem maior atividade política. É um período de transição na vida nacional que sucede à agitada presidência de Sidónio Pais em 1918. A aura messiânica desta figura desperta um grande entusiasmo popular, mas num quadro de confusão e violência que culmina com o seu assassinato. É também, de novo, um tempo de paz depois do Armistício da Pri- meira Grande Guerra. Pode dizer-se que Pessoa vive o apogeu da afirmação nacionalista, movi- mento e ideologia nascido no século XVIII na Europa Ocidental e na América, que vai crescendo ao longo do século XIX e conduz à violência extrema das guerras no século XX. No contexto português, e na sequência dos traumas políticosdo Ulti- matum e do Regicídio, desde a Geração de 70 até à Renascença Portuguesa de 1910, a ideia de regeneração nacionalista adquire um tom de urgência que mobiliza todas as correntes ideológicas e atravessa todas as práticas culturais. Por outro lado, a história de Pessoa é de alguém cuja educação se faz em duas culturas nacionais, e para sempre fica dividido entre duas línguas e dois mundos. É, nisso, uma personagem atípica no drama do nacionalismo português, que tem em Antero e Pascoaes dois protagonistas. […] Poder-se-ia, então, descrever Pessoa como um republicano sebastianista, ou, tal- vez melhor, como um nacionalista liberal, mas com variações que podem ir, nada menos, que do anarquista ao monárquico. Ou seja, que podem abarcar polos opos- tos do espectro ideológico. E avulta na sua atuação pública, também, uma vontade fundamental de defesa da liberdade de expressão, quer nos manifestos de 1923 quer, mais tarde, como a sua violenta recusa de Salazar. Fernando Cabral Martins, Introdução ao Estudo de Fernando Pessoa, Lisboa, Assírio & Alvim, 2014, pp. 154-166. 5 10 15 20 25 30 Ilustração do Regicídio de 1 de fevereiro de 1908, no Terreiro do Paço, em Lisboa (autor desconhecido). Joshua Benoliel, Proclamação da República, Câmara Municipal de Lisboa, 5 de outubro de 1910. PROFESSOR Leitura 7.1; 7.3; 7.4; 8.1; 8.2. Educação Literária 16.1. MC ▪ Apresentação em PowerPoint Contextualização histórico-literária 24 Unidade 1 // FERNANDO PESSOA 2. O Modernismo Pela sua abrangência cronológica, pela sua dispersão geocultural e até pelas suas contradições internas, o Modernismo constitui, antes de mais, um conceito difuso. [...] Numa perspetiva de largo alcance, pode dizer-se que o Modernismo se estende desde os finais do século XIX (cerca de 1890, segundo alguns auto- res), até depois da 2.ª Guerra Mundial, mesmo até ao final dos anos 50, quando vão aflorando teorias e práticas culturais classificadas como pós-mo- dernistas; numa perspetiva mais restrita, o Modernismo estende-se das véspe- ras da Primeira Guerra Mundial até à segunda guerra mundial, sendo que os anos 20 e 30 são o seu tempo mais fecundo. Em Portugal, o aparecimento e a maturação do Modernismo relacionam-se com a relevância cultural assumida por algumas revistas e naturalmente pelos autores que nelas colaboram; os marcos decisivos da afirmação modernista são constituídos, em 1915, pelos dois números da revista Orpheu1 (um terceiro, já em provas, acabou por não vir a público). A par desta, outras revistas servem de lugar de manifestação literária e doutrinária do Modernismo português: Centauro e Exílio (1916), Contemporânea (1922-1926) e Athena (1924-1925); entre 1927 e 1940 publica-se a revista Presença, que não só faz ecoar o legado cultural da chamada Geração de Orpheu como, segundo alguns autores, pode ser considerada o órgão cultural de um segundo Modernismo português. Um outro aspeto problemático da caracterização genérica do Modernismo tem que ver com a confluência, nesse tempo histórico-cultural, de múltiplos movimentos de uma forma ou de outra envolvidos na dinâmica modernista. Deparamos aqui com um importante componente da herança finissecular2 que se prolonga no Modernismo; com efeito, se no final do século XIX se multiplicam os «ismos» – uma multiplicação que é evidência de grande efervescência cultural e, simultaneamente, de uma certa crise ideológica –, no tempo do Modernismo essa tendência chega a assumir contornos de paroxismo3 ou então de provocação deliberada. O Ultraísmo4, o Criacionismo5, o Imagismo6, o Vorticismo7, o Construtivismo*, o Expressionismo*, o Cubismo* e ainda (no contexto do Modernismo português) o Sensacionismo*, o Intersecionismo*, um incipiente Paúlismo*, o Neopaganismo* e o Futurismo* [...] são alguns desses «ismos». Deles ficou, nalguns casos, testemunho notório da vocação inovadora e experimental do Modernismo; noutros casos, eles patenteiam [...] a necessidade de aprofundar e especializar facetas específicas da poética do Modernismo. [...] Do ponto de vista ideológico, o Modernismo incorpora e potencia valores que estimulam a reinterpretação da pessoa feita personagem, tendo em atenção um está- dio civilizacional exteriormente pujante e eufórico, mas atravessado, no seu inte- rior, por tensões e excessos de muito problemática harmonização. Noutros termos, dir-se-á que o tempo histórico-civilizacional do Modernismo é o de uma época de acentuada industrialização e de intenso desenvolvimento das comunicações que anulam distâncias, tudo congraçado8 num conceito quase obsessivo, traduzido na palavra mágica que na época se impõe: a Modernização, semanticamente relacio- nada com o termo-conceito Modernismo. Carlos Reis, O Conhecimento da Literatura, Coimbra, Edições Almedina, 2008, pp. 453-461. 1 Orpheu: retoma do nome de uma per- sonagem da mitologia grega. Conhe- cido pelas suas qualidades musicais, é representado na literatura acompa- nhado da sua lira e como símbolo da música, da poesia e da arte. 2 Finissecular: de fim de século. 3 Paroxismo: excesso, exagero. 4 Ultraísmo: movimento surgido em Madrid, em 1918, cujo principal objetivo era sintetizar todas as ten- dências da vanguarda mundial. 5 Criacionismo: filosofia da liber- dade, radicado nas infinitas capacidades criadoras do pensa- mento, que dinamicamente se liberta dos determinismos natu- rais e sociais. 6 Imagismo: movimento literário modernista que teve no poeta norte-americano Ezra Pound (1885-1972) o seu maior impul- sionador. Caracteriza-se pela produção de poemas breves, que recriam sensações visuais. 7 Vorticismo: corrente vanguar- dista britânica, desenvolvida pelo pintor inglês Wyndham Lewis (1882-1957), que pro- curou conceber uma linguagem inovadora, capaz de representar as sensações de atividade e movi- mento próprias da civilização industrial, através do abstracio- nismo e da disposição concên- trica das figuras representadas. 8 Congraçado: harmonizado, in- cluído. * Consultar Glossário no final da Unidade 1, p. 151. 5 10 15 20 25 30 35 40 O Notícias Ilustrado, 1929. 25Contextualização histórico-literária 3. A Geração de Orpheu Por inícios da guerra de 1914-18 reuniram-se os fatores de um movimento esté- tico pós-simbolista em Lisboa. Aí se conheceram, entre outros, Fernando Pessoa, cuja adolescência se formara na África do Sul, dentro da cultura inglesa, Mário de Sá-Car- neiro, que entre 1913-16 passou grande parte do tempo em Paris, Almada-Negreiros e Santa-Rita Pintor, que traziam de Paris as novidades literárias e sobretudo plásti- cas de futurismo e correntes afins. A estas e outras personalidades do grupo atribui a opinião pública sinais de degenerescência9, mas hoje é fácil reconhecer que eles produzem, em conjunto, a maior renovação poética portuguesa deste século. Parti- cularidades de formação e temperamento relacionáveis com uma maior instabilidade social, e com influências cosmopolitas mais ou menos diretas, haviam-nos alheado tanto dos republicanos jacobinos como de um tradicionalismo mais ou menos novir- romântico. Alguns manifestos como o Ultimatum de Almada-Negreiros e o de Álvaro de Campos, no Portugal Futurista, exprimem até o repúdio de todas as formas de idealismo romântico da pequena burguesia e também de todas as formas culturais que assumiam no tempo, quer esse idealismo, quer as suas mistificações. Pessoa colabo- rou em A Águia, mas dando do saudosismo uma versão extremista e provocatória, e rompendo as últimas amarras que o poderiam, dubiamente, prender ao senso comum do tempo. Neste grupo, e afins, cujos órgãos principais foram Orpheu (2 números, 1915), Eh real!/ (1 n.o, 1915), Centauro (1 n.o, 1916), Exílio (1 n.o, 1916), Ícaro (3 n.os, 1916), Portugal Futurista (1 n.o 1917), Contemporânea (1922-26, 3 séries, 13 n.os), Athena (1 série, 1924-25, 5 n.os), Revista Portuguesa (1923)e Sudoeste (S.W., 3 vols., 1935), nada há de definidamente programático: com a irreverência iconoclástica10, que uti- liza todas as formas possíveis de publicidade, mesmo as mais cabotinas11, alternam apenas da metapsíquica12, da astrologia e uma religiosidade heterodoxa13 e esotérica14. Em vez do escândalo político à Gomes Leal, é o escândalo dos costumes e do senso comum que traz a notoriedade. António José Saraiva & Óscar Lopes, «Geração de “Orpheu”» in História da Literatura Portuguesa, 16.ª ed., Porto, Porto Editora, 2010, pp. 1039-1040. 5 10 15 20 25 José de Almada-Negreiros, Poetas do Orpheu, 1954. 9 Degenerescência: declínio, degra- dação. 10 Iconoclástica: que rejeita os mo- delos literários do passado e qual- quer inscrição social ou religiosa. 11 Cabotinas: que se acham impor- tantes, pretensiosas. 12 Metapsíquica: ciência que estuda os fenómenos paranormais. 13 Heterodoxa: que abule qualquer religião. 14 Esotérica: que é relativa ao oculto ou ao sobrenatural. Frontispício do número 1 da revista Orpheu, 1915. 26 Unidade 1 // FERNANDO PESSOA 4. Algumas temáticas modernistas • A euforia do moderno e da tecnologia. • A relação poeto-dramática da heteronímia. • O tédio, a dissolução do sujeito, a morte. • A crise existencial (a máscara, o retrato, o espelho). • A exploração da psique (mente) humana. • A fragmentação, a despersonalização. • A sinceridade e o fingimento. • … Fonte: Carlos Reis, O Conhecimento da Literatura, Coimbra, Edições Almedina, 2008, pp. 462-468. CONSOLIDA 1. Elabora tópicos que sistematizem as ideias-chave dos textos 1, 2 e 3, organizando-os sequencialmente. Guilherme de Santa-Rita, Perspetiva dinâmica de um quarto ao acordar, 1912. Pablo Picasso, Menina com Bandolim, 1910. Paul Klee, Caminhos principais e caminhos secundários, 1929. Amadeo de Souza-Cardoso, Retrato de Médico, 1917. PROFESSOR Consolida 1. Sugestão de tópicos Texto 1 • Desejo de Fernando Pessoa de agir sobre a humanidade, contribuindo com a sua arte para a civilização. • A ideia de patriotismo advém da sua forma de encarar a arte e a vida. • Anos 20: maior intervenção política de Pessoa. • Influência do presidente Sidónio Pais: misto de espírito messiânico, entusiasmo popular, mas também violência, que culminará com o assas- sinato presidencial. Texto 2 • Modernismo: conceito difuso. • Balizas temporais: latamente, entre finais do século XIX até depois da 2.a Guerra Mundial (anos 50); restrita- mente, das vésperas da 1.a Guerra Mundial até à 2.a Guerra Mundial. • Período mais fecundo: anos 20 e 30. • Em Portugal, os marcos do Moder- nismo constituem-se em 1915 com os dois números da revista Orpheu. • Várias revistas são lugares de mani- festação literária e doutrinária do Modernismo. • O Modernismo é confluência de múltiplos movimentos – herança finissecular mas também conse- quência quer da grande efervescên- cia cultural, quer de uma certa crise ideológica. • Alguns «ismos» portugueses: Futu- rismo, Sensacionismo, Intersecio- nismo, … • O Modernismo potencia a reinter- pretação da pessoa feita persona- gem, num contexto pujante e eufórico exterior, contudo atravessado por tensões e excessos interiores. • O seu tempo histórico-civilizacional pauta-se pelo conceito de Moderni- zação – acentuada industrialização e intenso desenvolvimento das comu- nicações. Texto 3 • O encontro de personalidades com percursos pelo estrangeiro (Fer- nando Pessoa – África do Sul; Mário de Sá-Carneiro, Almada-Negreiros e Santa-Rita Pintor – Paris) conduziu ao nascimento do movimento estético pós-simbolista. • Na altura, tiveram péssima aceita- ção por parte do público; atualmente, é incontornável o seu contributo na maior renovação poética portuguesa do século XX. • Constituem um grupo avesso ao tradicionalismo, ao novirromantismo burguês, que repudiam em alguns manifestos. • Órgãos principais deste grupo foram, por exemplo, Orpheu, Cen- tauro, Exílio, … que escandalizam os costumes da época. 27Contextualização histórico-literária [NOTA BIOGRÁFICA] DE 30 DE MARÇO DE 1935 Nome completo: Fernando António Nogueira Pessoa. Idade e naturalidade: Nasceu em Lisboa, freguesia dos Mártires, no prédio n.º 4 do Largo de S. Carlos (hoje do Diretório) em 13 de junho de 1888. Filiação: Filho legítimo de Joaquim de Seabra Pessoa e de D. Maria Madalena Pinheiro Nogueira. Neto paterno do general Joaquim António de Araújo Pessoa, combatente das campanhas liberais, e de D. Dio- nísia Seabra; neto materno do conselheiro Luís António Nogueira, jurisconsulto e que foi Diretor-Geral do Ministério do Reino, e de D. Madalena Xavier Pinheiro. Ascendência geral: misto de fidalgos e judeus. Estado: Solteiro. Richard Zenith (ed.), «[Nota Biográfica] de 30 de março de 1935», in Escritos Autobiográficos, Automáticos e de Reflexão Pessoal, Lisboa, Assírio & Alvim, 2003, pp. 203-206. 5. Eu… Fernando Pessoa CONSOLIDA 1. Procede a uma audição atenta da Nota Biográfica completa, escrita pelo próprio Fer- nando Pessoa. Redige uma ideia-chave para cada um dos tópicos apresentados. Tópicos a) Ideologia política: b) Posição religiosa: c) Posição patriótica: d) Posição social: 1.1 Depois de uma segunda audição do texto, verifica as tuas respostas. Bilhete de Identidade de Fernando Pessoa. g , j q a. CD 1 Faixa n.0 2 PROFESSOR Oralidade 2.1. Educação Literária 16.1. MC ▪ Link Grandes Portugueses – Fernando Pessoa ▪ Link Fernando Pessoas – Um texto sobre Pessoa de José Saramago ▪ Áudio [Nota Biográfica] de 30 de março de 1935, de Fernando Pessoa Consolida 1. a) defensor do sistema monárquico, mas, sendo inviável em Portugal, vota- ria pela República; b) cristão gnóstico; c) partidário de um nacionalismo rústico e defensor de um novo Sebas- tianismo; d) anticomunista e antisso- cialista. 28 Unidade 1 // FERNANDO PESSOA 6. Ele… Fernando Pessoa Nasceu em Lisboa no dia 13 de junho de 1888. Após a morte do pai, em 1893, a mãe casa com o cônsul de Portugal em Durban, África do Sul. Vive e estuda em Durban até 1905; neste ano regressa a Portugal, instalando-se em Lisboa onde viverá, até à sua morte, em casa de familiares ou em quartos alugados. Trabalha como correspondente comercial em firmas diversas, na área da Baixa de Lisboa, junto ao Tejo. Publica em revistas e jornais textos poéticos e de estética ou filosofia que assina com o seu nome, o ortónimo Fernando Pessoa, ou com os nomes de Alberto Caeiro, Álvaro de Campos e Ricardo Reis, a quem ele atribui biografia e personalidade distintas da sua, procurando impô-los como seres reais: os heterónimos. Nunca se preocupou em fazer uma carreira literária, e era praticamente ignorado pelo público à data da sua morte em 1935. Só em 1942, sob a direção de João Gaspar Simões e Luís de Montalvor, a sua obra poética começa a sair em volume. Para Octavio Paz1, o seu segredo está escrito no seu nome: Pessoa quer dizer pessoa em português e origina-se de persona, máscara dos atores romanos. Roman Jakobson2 considera-o um dos grandes artistas mundiais nascidos durante a penúltima década do século [XIX] […]. Para Alain Bosquet3, ele é um dos temperamentos líri- cos mais consideráveis da nossa época […]. Antonio Tabucchi4 atribui-lhe um radica- lismo intelectivo […]. Para Álvaro de Campos, Fernando Pessoa é o mais puramente intelectual da sua geração: «a sua força reside na análise intelectual do sentimento e da emoção, por ele levada a uma perfeição que quase nos deixa com a respiração suspensa.» Nuno Júdice, PESSOA, ETC…, Lisboa, Instituto Português do Livro, Ministério da Cultura, 1985, pp. 11-12. CONSOLIDA 1. Com base no texto, classifica as afirmações como verdadeiras (V) ou falsas (F). Corrige as afirmações falsas. a) Fernando Pessoa estudou na África do Sul e, após o seu regresso a Portugal, vive em Lisboa, cidade onde nasceu, até à data da sua morte, em 1935. b) Pessoa dedicou-se à escrita, publicandonumerosos livros ao longo da sua vida. c) As suas publicações, em jornais e revistas, foram assinadas com o seu nome ou com os nomes dos seus heterónimos, seres reais, com biografia e personalidade próprias. d) Pessoa é considerado um grande escritor por individualidades de renome mundial da literatura. 1 Octavio Paz: Octavio Paz Lozano (1914-1998), poeta, ensaísta, tradutor e diplomata mexicano. Recebeu o Nobel de Literatura de 1990. 2 Roman Jakobson: pensador russo (1896-1982), que se tor- nou num dos maiores linguistas do século XX e pioneiro da aná- lise estrutural da linguagem. 3 Alain Bosquet: jornalista, poeta, ensaísta e romancista francês de origem russa (1919-1998). 4 Antonio Tabucchi: escritor ita- liano (1943-2012), professor de Língua e Literatura Por- tuguesa na Universidade de Siena. Dedicado ao estudo da figura de Fernando Pessoa, produziu ensaios sobre o autor e traduziu obras suas. 5 10 15 20 PROFESSOR Consolida 1. a) V. b) F. Pessoa publicou textos poéticos e de estética ou filosofia em revistas e jornais; somente em 1942 a sua obra poética começa a sair em volume. c) F. [...] seres que procurou impor como reais [...]. d) V. 29Poesia do ortónimo 1•1 FERNANDO PESSOA POESIA DO ORTÓNIMO EDUCAÇÃO LITERÁRIA Poesia do ortónimo • O fingimento artístico • A dor de pensar • Sonho e realidade • A nostalgia da infância • Linguagem, estilo e estrutura – recursos expressivos: a anáfora, a antítese, a apóstrofe, a enumeração, a gradação, a metáfora e a personificação LEITURA Textos informativos Apreciação crítica COMPREENSÃO DO ORAL Registos áudio e audiovisuais EXPRESSÃO ORAL Texto de opinião ESCRITA Apreciação crítica Texto de opinião GRAMÁTICA Classes e subclasses de palavras Sintaxe – funções sintáticas – classificação de orações Discurso, pragmática e linguística textual – coesão textual – deixis Júlio Pomar, Fernando Pessoa, 1988. 30 Unidade 1 // FERNANDO PESSOA Contextualização literária 1. Fernando Pessoa ortónimo Pessoa ortónimo distingue-se por traços peculiares: avesso ao sentimentalismo, as suas finas emoções são pensadas, ou são já vibrações da inteligência, vivências de estados imaginários: «Eu simplesmente sinto / Com a imaginação. / Não uso o cora- ção.» Com musical suavidade, em breves poesias de metro geralmente curto, e através de símbolos consagrados (a noite, o rio, o mar, a brisa, a fonte, as rosas, o azul), mais raro de cunho moderno (o andaime, o cais), fiel à tradição poética «lusitana» e não longe, por vezes, da quadra popular, Pessoa exprime ou insinua a solidão interior, a inquietação perante o enigma indecifrável do mundo, o tédio, a falta de impulsos afetivos de quem, minado pelo demónio da análise, já nada espera da vida – ou então os vagos acenos do inefável, o breve acordar da infância, a magia da voz que se cala, mal o poeta se põe a escutar. Jacinto do Prado Coelho, «Pessoa», in Dicionário de Literatura: Literatura Portuguesa, Literatura Brasi- leira, Literatura Galega, Estilística Literária, 4.ª ed., vol. 3, Porto, Figueirinhas, 1989, pp. 821-822. 2. Pessoa: entre esta vida e a outra Em Fernando Pessoa há a expressão musical e subtil do frio, do tédio e dos anseios da alma, de estados quase inefáveis em que se vislumbra por instantes «uma coisa linda», nostalgias de um bem perdido que não se sabe bem qual foi, oscilações quase impercetíveis de uma inteligência extremamente sensível, e até vivências tão profun- das que não vêm «à flor das frases e dos dias» mas se insinuam pela eufonia dos versos, pelas reticências de uma linguagem finíssima. Lirismo puro (se impura, no dizer do poeta, é a humanidade em que se enraíza), voz de anima1 que se confessa baixinho, num tom menor, melancólico de uma resignação dorida, agravada, de quem sofre a vida incapaz de a viver. [...] Quando lhe chega aos ouvidos uma vaga música desconhecida que não parece ser deste mundo, agradece e sorri, embora com tristeza, porque essa música vem sempre do outro lado do muro intransponível [...]. Existiu ou foi imaginada? Não sabe responder. Hesita entre uma fé ocultista [...] e a suspeita de que tudo é sonho ou aparência sem fundo, esta vida e a outra que pressentiu. Jacinto do Prado Coelho, Unidade e Diversidade em Fernando Pessoa, 8.ª ed., Lisboa, Editorial Verbo, 1985, pp. 41-42. CONSOLIDA 1. Explicita as características pessoanas que os textos evidenciam. 1 Anima: (latim) alma. 5 10 5 10 Fernando Pessoa na Baixa de Lisboa. PROFESSOR Leitura 7.1; 7.2; 8.1. MC Consolida 1. O primeiro texto enfatiza a questão do fingimento artístico, em que as emoções são transfiguradas, inte- lectualizadas. É desta forma que exprime as suas permanentes inquie- tações sobre o mundo. O segundo texto remete para a demanda permanente de Pessoa – a ânsia de alcançar «esta vida e a outra que pressentiu». Entre a sensação (da «música») e o que está «do outro lado» há um «muro intransponível»; esta constante inquietação resulta em insatisfação e tristeza. ▪ Apresentação em PowerPoint Contextualização Literária 31 O fingimento artístico PONTO DE PARTIDA 1. Partindo do título do poema – «Autopsicografia» –, analisa os constituintes da palavra e esclarece o seu significado global. EDUCAÇÃO LITERÁRIA Autopsicografia O poeta é um fingidor.1 Finge tão completamente Que chega a fingir que é dor A dor que deveras sente. E os que leem o que escreve, Na dor lida sentem bem, Não as duas que ele teve, Mas só a que eles não têm. E assim nas calhas de roda Gira, a entreter a razão, Esse comboio de corda Que se chama coração. Fernando Pessoa, Poesia do Eu – Obra Essencial de Fernando Pessoa (ed. Richard Zenith), 3.ª ed., Lisboa, Assírio & Alvim, 2014, p. 241. 1. Identifica a proposição presente no primeiro verso do poema, justificando o uso da ter- ceira pessoa do singular. 2. Explica como se processa o ato de «fingir», tendo em conta os três últimos versos da primeira estrofe. 3. Indica o recurso expressivo que introduz uma nova entidade no poema, esclarecendo a sua relevância para o processo literário. 4. Explicita como se processa a fruição artística por parte desta nova entidade. 1 Fingidor (do latim): aquele que modela, forma, representa, esculpe. SIGA Recursos expressivos p. 383 5 10 auto psico grafia René Magritte, A Arte da Conversação, 1963. Poesia do ortónimo – O fingimento artístico CD 1 Faixa n.0 3 PROFESSOR O fingimento artístico Leitura 8.1; 8.2. Educação Literária 14.1; 14.2; 14.3; 14.4; 14.8; 14.9; 15.3. Gramática 17.1. MC ▪ Apresentação em PowerPoint Texto poético (características) Ponto de Partida 1. Os radicais AUTO- (próprio); PSICO- (espírito) e -GRAFIA (escrita, descrição) sugerem as várias partes envolvidas no processo de escrita e que são indissociáveis. Educação Literária 1. A proposição que se expõe é a de que o poeta é um «fingidor», no sen- tido de construtor de imagens poé- ticas. O uso da terceira pessoa do singular torna a proposição univer- sal, válida para todos os poetas. 2. O ato de fingir, a dor sentida, em imagens poéticas, atinge um grau de perfeição estética de tal ordem («finge tão completamente»), que a «dor fingida» (a da escrita) se afigura mais real ao eu lírico do que a que sentiu (na realidade) e intelectuali- zou. 3. O recurso expressivo é a perífrase («os que leem o que escreve», v. 5), introduzindo os leitores como elementos fundamentais para o processo literário. A poesia só faz sentido se for lida e interpretada pelos leitores. 4. A fruição da obra de arte dá-se pela intelectualização da dor fingida do poeta, isto é, a «dor lida», cuja intensidade é expressa pelo advérbio «bem», é fruto da interpretação do leitor. 32 Unidade 1 // FERNANDO PESSOA 5. Considerando as «dores» referidas nas duas primeiras estrofes, estabelece as corres- pondências adequadas,relativamente ao processo de criação artística. Dores Processo de criação artística a) dor sentida 1. interpretação/fruição subjetiva. b) dor fingida 2. experiência emocional, imprescindível à criação literária. c) «dor lida» (v. 6) 3. intelectualização da experiência, filtragem da emoção espontânea. 6. Expõe, por palavras tuas, o processo de criação poética, na pers- petiva de Fernando Pessoa. 7. Explicita o sentido da última estrofe enquanto conclusão do poema. GRAMÁTICA 1. Classifica as orações destacadas nos seguintes versos: a) «Não as duas que ele teve» (v. 7). b) «Mas só a que eles não têm» (v. 8). c) «Que chega a fingir que é dor» (v. 3). 2. Identifica a função sintática dos elementos destacados. a) «O poeta é um fingidor» (v. 1) b) «Na dor lida sentem bem» (v. 6) c) «E assim nas calhas de roda» (v. 9) d) «Esse comboio de corda» (v. 11) 3. Estabelece as correspondências corretas entre os exemplos textuais da coluna A e os mecanismos de construção da coesão textual aciona- dos na coluna B. A a) «Que chega a fingir que é dor / A dor que deveras sente» (vv. 3-4) b) «E os que leem o que escreve» (v. 5) c) «Mas só a que eles não têm» (v. 8) FI O fingimento artístico p. 35 SIGA Funções sintáticas pp. 372-373 SIGA Coesão textual pp. 377-378 SIGA Coordenação e subordinação pp. 373-374 B 1. Coesão gramatical: interfrásica. 2. Coesão gramatical: referencial. 3. Coesão gramatical: frásica. 4. Coesão lexical: reiteração. 5. Coesão lexical: substituição. PROFESSOR 5. a) – 2; b) – 3; c) – 1. 6. O ato de fingimento, de intelec- tualização, é de tal modo intenso e completo que a primeira dor (a dor sentida) deixa de o ser para se trans- formar numa dor elaborada intelec- tualmente (a dor fingida). Em suma, o poeta transmuta as emoções e experiências vividas no real para o plano do intelecto e das ideias, trans- formando-as em imagens poéticas, disponibilizadas para a fruição e inter- pretação dos leitores. 7. O conector adverbial «assim» apre- senta um valor inferencial, conclu- sivo, procedendo-se, nesta estrofe, à sistematização da teoria da criação poética, a partir de uma sucessão de metáforas. O «coração», ligado à emoção, é «um comboio de corda», um brinquedo sem autonomia, que alimenta a razão, fornecendo-lhe matéria-prima para a criação. A razão condiciona o movimento desse «comboio», mantendo-o entretido e, ao mesmo tempo, disciplinado «nas calhas de roda». Deste modo, o fingi- mento poético, a criação artística, é a transformação intelectual da emo- ção, a matéria-prima do intelecto, em imagens poéticas, sendo o poema um produto da intelectualização. Gramática 1. a) Oração subordinada adjetiva rela- tiva restritiva; b) Oração subordinada adjetiva relativa restritiva; c) Oração subordinada adverbial consecutiva. 2. a) Predicativo do sujeito; b) Modi- ficador; c) Modificador restritivo do nome; d) Sujeito. 3. a) – 4; b) – 1; c) – 2. 33Poesia do ortónimo – O fingimento artístico EDUCAÇÃO LITERÁRIA Isto Dizem que finjo ou minto Tudo que escrevo. Não. Eu simplesmente sinto Com a imaginação. Não uso o coração. Tudo o que sonho ou passo, O que me falha ou finda, É como que um terraço Sobre outra cousa ainda. Essa cousa é que é linda. Por isso escrevo em meio Do que não está ao pé, Livre do meu enleio, Sério1 do que não é. Sentir? Sinta quem lê! Fernando Pessoa, op. cit., p. 262. 1. O poema parece ser uma resposta a possíveis reações à teoria da criação poética expressa em «Autopsicografia». 1.1 Confirma esta hipótese com elementos textuais. 2. Explicita a dicotomia imaginação/emoção presente nos três últimos versos da primeira estrofe. 3. Comprova que o sujeito poético, na segunda estrofe, utiliza um recurso expressivo para desenvolver esta dicotomia e reforçar a sua teoria. 4. Atenta nos quatro primeiros versos da última estrofe e explica como se processa o ato de criação artística. 5. Relaciona o sentido do último verso do poema com os papéis do poeta e do leitor. 6. Refere a relação estabelecida entre o título do poema e o seu conteúdo. 7. Caracteriza o texto poético quanto à estrofe, métrica e rima. SIGA Recursos expressivos p. 383 1 Sério: certo. Norberto Nunes, Dizem que finjo ou minto, 2011. 5 10 15 CD 1 Faixa n.0 4 PROFESSOR Educação Literária 14.2; 14.3; 14.4; 14.8; 14.9; 15.2; 15.3. Gramática 17.1. Esrita 10.1; 11.1; 12.1; 12.2; 12.3; 12.4; 12.6; 13.1. MC Educação Literária 1.1 Os dois primeiros versos confirmam esta hipótese – «Dizem que finjo ou minto / Tudo que escrevo»: o sujeito indeterminado («Dizem») sugere que houve reações (erróneas e negativas) à sua teoria poética apresentada em «Autopsicografia». A essas «críticas» responde com um incisivo «Não», pas- sando, seguidamente, a esclarecer o motivo por que «fingir», no seu enqua- dramento teórico, não é «mentir». 2. O sujeito poético refuta a acusação de que é alvo, afirmando a sinceridade e espontaneidade do ato de criação poética («simplesmente»), ao sentir «com a imaginação», não usando «o coração». Reforça a ideia de que a cria- ção poética implica, apenas, a emoção intelectualizada, a que foi filtrada pela inteligência, ou seja, as sensações/ emoções são somente matéria poética «em bruto», que devem ser, primeiro, ficcionadas/imaginadas e só poste- riormente materializadas em poesia. 3. O sujeito poético compara as suas emoções (os seus anseios, vivências, insucessos, isto é, a realidade que vive e experiencia) a «um terraço», uma espé- cie de capa («Sobre outra cousa ainda»), sobre aquilo que considera ser perfeito e que o fascina: a poesia, o produto da intelectualização dessas emoções . 4. O sujeito poético conclui, argumen- tando que, ao escrever, se distancia da realidade, liberta-se «[d]o que […] está ao pé» (o mundo material, o «coração», as aparências, o «terraço»), pois está ciente de que a criação da obra de arte, aquilo que é realmente verdadeiro e belo, só se pode concretizar através deste distanciamento. 5. Através da interrogação retórica «Sentir?» e da exclamação «Sinta quem lê!», ambas de clara intenção irónica, o sujeito poético vem, uma vez mais, reforçar a sua teoria: o distanciamento do poeta do «coração» no ato de criação, pela intelectualização das sensações, introduzindo um novo interveniente, o leitor, a quem reserva as emoções sus- citadas pela leitura do poema. 34 Unidade 1 // FERNANDO PESSOA GRAMÁTICA 1. Identifica os deíticos presentes no poema e indica o respetivo referente. 2. Classifica as orações subordinadas presentes na frase «Dizem que finjo ou minto / tudo que escrevo.» (vv. 1-2). ESCRITA Apreciação crítica 1. Observa com atenção a pintura. 1.1 Prepara uma apreciação crítica, tendo em conta os seguintes tópicos: • descrição sucinta; • descrição simbólica; • relação com os poemas de Pessoa estudados; • comentário crítico. No final, faz a revisão do teu texto. Verifica a construção das frases, a clareza do discurso, as repetições desnecessárias e a utilização dos conectores. SIGA Apreciação crítica pp. 362-363 SIGA Deixis p. 378 SIGA Coordenação e subordinação pp. 373-374 Marc Chagall, O Poeta, 1911. PROFESSOR 6. A teoria poética que apresenta, tudo aquilo que escreve e como escreve, pode resumir-se no pronome demons- trativo «Isto», que intitula o poema. 7. A composição poética é constituída por três quintilhas, apresenta versos hexassilábicos («Di/zem/ que/ fin/jo ou/ min/to»), com rima cruzada e empare- lhada, segundo o esquema ababb. Gramática 1. Deíticos pessoais e temporais: «finjo», «minto», «escrevo», «sinto», «uso», «sonho», «passo», «escrevo» (referente: o momento do ato enun- ciativo); deíticos pessoais: os prono- mes «eu» e «me» e o determinante possessivo «meu» (referente: sujeito poético). 2. Subordinada substantiva comple- tiva e subordinada adjetiva relativa restritiva . Escrita Sugestão de resposta: 1.1 Podemos observar,
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