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Carla Bertelli – 3° Período Doenças Autoimunes Problema 7 Definição As doenças autoimunes representam um grupo heterogêneo de distúrbios que ocorrem quando o sistema imunológico do organismo não consegue diferenciar self de não self e monta resposta imunológica contra tecidos do hospedeiro. As doenças autoimunes podem afetar quase qualquer tipo de célula, tecido ou sistema orgânico. Algumas, como tireoidite de Hashimoto, são específicas para um tecido. Outras, como o LES, são sistêmicas, e afetam vários órgãos e sistemas. Tolerância Imunológica Uma característica fundamental do sistema imunológico é a sua capacidade de diferenciar entre antígenos estranhos e autoantígenos. A capacidade do sistema imunológico para diferenciar self de não self é chamada de autotolerância. O desenvolvimento de autotolerância depende de dois processos coordenados: tolerância central, que é a eliminação de linfócitos autorreativos durante o processo de maturação nos tecidos linfoides centrais, e tolerância periférica, que é a supressão de linfócitos autorreativos funcionais em tecidos periféricos que escaparam da destruição pelo timo. Autorreatividade é o processo pelo qual o organismo age contra o próprio tecido. A ativação do sistema imunológico requer a apresentação de antígenos estranhos a células B e T imunologicamente ativas. A expressão do antígeno é codificada nos genes do MHC, que determinam os HLA específicos encontrados na superfície das células. Durante o desenvolvimento das células T no timo, os linfócitos T (protimócitos) sofrem rearranjo aleatório de loci genéticos específicos, responsáveis pela codificação dos receptores de antígenos. Os protimócitos com TCR que se ligam de modo adequado ao MHC são positivamente selecionados, enquanto protimócitos com alta afinidade para o autoantígeno ou autorreatividade são destruídos. Ocorrem processos similares na eliminação de linfócitos B que apresentam elevada afinidade para autoantígenos. O objetivo principal é produzir uma população de linfócitos B e T imunologicamente não responsivos diante de autoantígenos antes de sua liberação na circulação central. Anergia é a perda completa de resposta dos linfócitos para um antígeno e pode resultar na diminuição ou falta de resposta imunológica celular e/ou humoral. Doenças Provavelmente Autoimunes Carla Bertelli – 3° Período Mecanismos das Doenças Autoimunes Embora seja claro que a doença autoimune resulta de uma perda de autotolerância, os mecanismos exatos são desconhecidos. Doenças autoimunes representam um grupo heterogêneo de distúrbios, sendo assim tem um papel significativo a combinação entre fatores genéticos e ambientais. O sexo também pode ser um fator preponderante, uma vez que muitas doenças autoimunes, como o lúpus, são predominantemente observadas em indivíduos do sexo feminino, o que sugere que os hormônios femininos, como os estrógenos, podem desempenhar um papel no desenvolvimento de determinadas doenças autoimunes. O estrogênio tem demonstrado fortes efeitos imunomoduladores, como estimulação da produção de anticorpos autorreativos de linfócitos B, aumento da adesão leucocitária às células endoteliais e aumento da produção de citocinas. Tolerância de Células B Em circunstâncias normais, os linfócitos B circulantes não produzem anticorpos contra os tecidos do hospedeiro. A produção de anticorpos de células B é normalmente mantida sob controle com a ajuda de células T auxiliares CD4+ . Além disso, os linfócitos B autorreativos podem ser eliminados por apoptose nos tecidos linfoides centrais, baço e linfonodos periféricos, ou podem ser funcionalmente inativados por processo conhecido como anergia. No entanto, em muitas doenças autoimunes, o sistema imunológico perde a capacidade de reconhecer componentes self e passa a produzir anticorpos, também conhecidos como autoanticorpos, contra os tecidos do hospedeiro. Por exemplo, na doença de Graves, a manifestação de hipertireoidismo é o resultado da hiperatividade induzida por autoanticorpos do receptor de TSH. Tolerância Natural em Linfócitos T No timo, a seleção de linfócitos T começa na cortical e completa-se na medular. Na cortical, as células epiteliais expressam alguns autoantígenos que são apresentados sem moléculas coestimuladoras a linfócitos T. Linfócitos que possuem TCR com alta afinidade para MHC – epítopo entram em apoptose por mecanismo que envolve Fas e FasL e ativação de BAD e BIM; linfócitos que têm receptores com baixa afinidade inibem a recombinação e ativam rotas de sobrevivência. Ao chegarem à medular, os linfócitos autorreatores que não foram deletados na cortical encontram autoepítopos apresentados com MHC por células epiteliais e células dendríticas da medular. De modo semelhante ao que ocorre na cortical, linfócitos com TCR de alta afinidade para autoantígenos entram em apoptose, possivelmente com participação de Fas, FasL, BIM e BAD. A capacidade das células epiteliais medulares de produzir autoepítopos e de apresentá-los junto com MHC está ligada à atividade do produto do gene AIRE (autoimmune regulator gene); mutações nesse gene causam inúmeras doenças autoimunes, com autoagressão em diversos órgãos. Fatores: • Genética; • Sexo Feminino; • Ambientais – infecções virais, falta de exposição a anticorpos maternos, exposição a produtos químicos perigosos. Quebra na Anergia das Células T Anergia é um estado de função reduzida, em que um antígeno específico de células T imunocompetente é incapaz de responder a um estímulo apropriado. Pode se desenvolver anergia se ocorre perda de fatores coestimulantes normais em face da ativação normal de células T, ou a partir de estimulação Carla Bertelli – 3° Período TCR alterada/ crônica. A anergia primária de células T CD4+ e CD8+ é caracterizada pela produção defeituosa de IFN-γ e TNF-α. Além disso, as células T reguladoras controlam a ativação das células T deixando de expressar citocinas inflamatórias estimulantes de células T. A maioria dos tecidos normais não expressa moléculas coestimulantes e, sendo assim, está protegida da ação de células T autorreativas encontradas na circulação. No entanto, se células normais são induzidas a expressar fatores coestimulantes, então a anergia normal é inibida e pode se desenvolver autoimunidade. Isso é possível após infecção ou em situações em que haja a necrose de tecido e inflamação local. Liberação de Antígenos Sequestrados Em circunstâncias normais, o organismo não produz anticorpos contra antígenos próprios. Se os autoantígenos foram completamente sequestrados durante o desenvolvimento das células T e reintroduzidos no sistema imunológico, existe a possibilidade de que sejam tratados como antígenos estranhos. Isto foi documentado em casos de uveíte e orquite pós-traumática após a liberação sistêmica de antígenos de espermatozoides e oculares. Outras vezes, os autoantígenos podem alterar sua estrutura e, quando entram em contato com as células T, não são reconhecidos como inatos pelo hospedeiro. Uma vez iniciado o processo autoimune, ele tende a se amplificar e progredir, às vezes com recaídas esporádicas e remissões. Isto ocorre porque o processo inflamatório inicial libera estes autoantígenos alterados, em que entram em contato com as células do sistema imunológico. O resultado é a ativação contínua de novos linfócitos que reconhecem os epítopos anteriormente ocultos. Mimetismo Molecular Sabe-se que as infecções virais podem servir como gatilhos em muitos processos autoimunes, mas o mecanismo pelo qual isto ocorre não é totalmente compreendido. Mimetismo molecular é uma teoria que tem sido postulada para descrever os mecanismospelos quais os agentes infecciosos ou outras substâncias estranhas desencadeiam resposta imune contra os autoantígenos. Se um hospedeiro suscetível é exposto a um antígeno estranho imunologicamente semelhante aos seus próprios autoantígenos (compartilham epítopos), mas que difere suficientemente para provocar resposta imune, pode ocorrer reatividade cruzada entre os dois antígenos e danos aos tecidos do hospedeiro. O mimetismo molecular tem sido utilizado para explicar o dano cardíaco associado a febre reumática aguda após infecção por estreptococos do grupo A β-hemolítico e a lesão desmielinizante em casos de esclerose múltipla. Pessoas com febre reumática apresentam altos níveis de anticorpos circulantes contra a proteína M estreptocócica do tipo 5, um antígeno encontrado na membrana da célula microbiana que demonstra reatividade cruzada com a miosina cardíaca. Diversos vírus destruídos pelas células T citotóxicas (CD8+) partilham epítopos comuns com as proteínas básicas da mielina, que são o alvo em pessoas com esclerose múltipla. No entanto, nem todos os indivíduos expostos a esses microrganismos passam a desenvolver autoimunidade. Isto pode ser devido a diferenças na expressão de HLA. O tipo de HLA expresso pela célula determina exatamente quais fragmentos de um agente patogênico são exibidos na superfície das CAA para apresentação às células T. Alguns fragmentos podem apresentar reação cruzada e outros não. Em casos de espondiloartropatias, ocorre reatividade cruzada entre os linfócitos B e os peptídios de membranas bacterianas gram-negativas; antígenos HLA-B27 hospedeiros específicos foram implicados no desenvolvimento do distúrbio. Carla Bertelli – 3° Período Superantígenos Superantígenos são uma família de substâncias relacionadas, incluindo exotoxinas de estafilococos e estreptococos, que induzem a proliferação e a ativação descontrolada de linfócitos T, causando febre, choque e morte. Ao contrário dos antígenos, os superantígenos se ligam como moléculas intactas a uma gama de moléculas MHC classe II nas CAA e, em seguida, ao TCR em regiões variáveis da cadeia β (TCR Vβ). Cada superantígeno é capaz de se ligar a um grande subconjunto de domínios de TCR Vβ, e o resultado é a ativação de até 20% de todas as células T. Isto pode ser tão elevado quanto 20%, em comparação com apenas 1 em 10 a 10 células T naïve que respondem a antígenos de peptídios convencionais. Os superantígenos estão envolvidos em várias condições patológicas, como intoxicação alimentar e síndrome do choque tóxico
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