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363862372 Mediacao Familiar Lisa Parkinson

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Lisa Parkinson
Mediação Familiar
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Título
Lisa Parkinson - Mediação Familiar
Autoria
Gabinete para a Resolução Alternativa de Litígios | Ministério da Justiça
Editora
Agora Comunicação
Design Gráfico
AcPrint
Produção Gráfica
AcPrint
Tiragem
500 exemplares
1.ª edição
Março de 2008
Depósito Legal
____________
ISBN
978-989-8024-10-7
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Lisa Parkinson
Mediação Familiar
Ministério da Justiça
Gabinete para a Resolução Alternativa de Litígios
Março de 2008
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ÍNDICE
NOTAS DE ABERTURA............................................................................................................................................ 7
Filipe Lobo d’Avila
Director do Gabinete para a Resolução Alternativa de Litígios......................................................................... 9
Juan Carlos Vezzulla
Presidente do Conselho Científico do Instituto de Mediação e Arbitragem de Portugal ......................... 11
Capítulo I – Mediação e conflito ....................................................................................................................... 15
Capítulo II – Diferentes modelos de mediação familiar .................................................................... 39
Capítulo III – Comprometer ambas as partes na mediação........................................................... 69
Capítulo IV – Linguagem e técnicas de comunicação ....................................................................... 101
Capítulo V – Iniciar a mediação....................................................................................................................... 125
Capítulo VI – Crianças, adolescentes e mediação familiar ............................................................ 149
Capítulo VII – Gerir desequilíbrios de poder em mediação ........................................................ 183
Capítulo VIII – Estratégias para situações de impasse...................................................................... 207
Capítulo IX – O futuro da mediação familiar......................................................................................... 237
Sinopse da Mediação Familiar em Portugal .............................................................................................. 263
Bibliografia....................................................................................................................................................................... 267
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NOTAS DE ABERTURA
Filipe Lobo d’Avila
Juan Carlos Vezzulla
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Filipe Lobo d’Avila
Director do Gabinete para a Resolução Alternativa de Litígios
As primeiras linhas deste texto são dedicadas para expressar o sincero
agradecimento à autora, Lisa Parkinson, pelo consentimento prestado para a
tradução e edição desta obra em Portugal. Anteriormente, o Ministério da Justiça já
tinha beneficiado da sua prestimosa colaboração, disponibilidade e ensinamentos,
quer por ocasião da realização da IV Conferência Meios Alternativos de Litígios, quer
com a publicação do artigo A formação de mediadores familiares no Reino Unido,
na NewsletterDGAE nº4, de Dezembro de 2004. 
Lisa Parkinson é uma personalidade altamente conceituada e de reconhecido
mérito internacional na área da mediação familiar, quer como mediadora familiar quer
como formadora de mediadores familiares, com mais de 25 anos de experiência.
Esta iniciativa editorial para além de prosseguir a missão e atribuições do Gabinete
para a Resolução Alternativa de Litígios, encontra justificação na total ausência de
monografias nacionais versando a temática da mediação familiar e assume particular
relevo no momento propício em que se assume como objectivo para 2008, o
alargamento do Sistema de Mediação Familiar a todo o território nacional.
A obra que agora se publica espelha a experiência e reflexão da autora ao
longo da sua extensa prática como mediadora familiar. O livro começa por
abordar os conceitos básicos de mediação e do conflito, por apresentar diferentes
modelos de mediação familiar, para de seguida explanar diversas técnicas de
mediação familiar, como por exemplo:
1) Comprometer ambas as partes no processo de mediação familiar;
2) Gerir desequilíbrios de poder em mediação;
3) Aplicar estratégias para situações de impasse. 
A obra termina com um capítulo sobre o futuro da mediação, onde se expõe
de forma breve a situação da mediação familiar na Europa, com referência ao
recurso à mediação em situações de disputas internacionais de filhos e a diferentes
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tipos de mediação (com deficientes, em situação de cuidados com idosos e em
contendas de heranças). Menciona, ainda, redes informáticas sobre mediação e
diferentes facetas do papel do mediador.
Pelo exposto consideramos que esta obra é indispensável para qualquer
interessado na temática da mediação familiar. 
Com a perspectiva de enriquecer a presente publicação apresentamos no final
uma sinopse da mediação familiar em Portugal.
Por último, resta-nos, uma vez mais, agradecer o fantástico e generoso
contributo da Lisa.
O nosso muito obrigado.
10
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Juan Carlos Vezzulla
Presidente do Conselho Científico do Instituto de Mediação e Arbitragem de Portugal 
Quando Lisa me pediu para redigir a introdução à edição portuguesa de seu
livro tive lembranças que me ligavam a ela e a Portugal. Lembranças de trabalhos
e encontros que começam no ano 2000, na III Conferência do Fórum Mundial de
Mediação, na Sardenha, em Itália. A partir desse Congresso começámos a trabalhar
juntos no Conselho de Administração dessa entidade internacional. 
Casualmente, nesse mesmo ano fui convidado pelo Ministério da Justiça português,
através da recém criada Direcção-Geral da Administração Extrajudicial, para participar
na I Conferência RAL. Desde então Lisa, Portugal e eu continuamos unidos. 
A mediação familiar tem sido o nosso eixo de união e a nossa paixão comum.
Hoje em dia é dificil dar uma definição do que é uma família, pois as grandes
transformações sociais, psicológicas e legais vividas leva-nos a considerar questões
impensáveis até hà poucos anos a trás. Os laços de sangue, ponto de partida para
falar de família no passado, assim como a rígida distribuição de funções entre os
seus membros já não são mais indicadores fundamentais da família. Famílias
monoparentais, homossexuais e a crescente quantidade de casais que optam por
não ter filhos, dão conta de novas composições familiares. Mas fundamentalmente
a passagem do exercício absoluto do poder paternal a uma salutar e democrática
participação de todos os membros na tomada de decisões demonstra claramente
a enorme evolução e a mudança vivida em poucos anos.
Legalmente o Direito de Família passou também por transformações muito
significativas, de espaço privado, onde o pai era dono da mulher e dos filhos, à
situação actual onde mulheres, crianças e adolescentes gozam de direitos especiais
que levam a que seja exercida uma tutela pública quando esses direitos não são
atendidos. Tanto a comunidade que deve denúnciar a miníma suspeita do
desrespeito desses direitos, quanto o Estado que com a criação de espaços
especiais atende os casos de violência doméstica, na protecção dos seus membros,
cuidam do exercício desses direitos com uma tutela especial. 
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Todas estas característicasexigem logicamente uma abordagem diferente dos
conflitos familiares que acompanhe os novos direitos e o sistema relacional mais
respeitoso e cooperativo, onde as necessidades e desejos de todos são tomados
em consideração na hora de decidir.
Se o patriarcado correspondia ao sistema judicial de decisões impositivas, o
novo modelo de interacção corresponde sem dúvidas à mediação e ao seu sistema
de autodeterminação na base da cooperação, do respeito e fundamentalmente da
responsabilidade. 
Pioneira da mediação familiar em Europa, uma das fundadoras do Fórum Mundial
de Mediação e também do Fórum Europeu de Mediação Familiar, Lisa manteve
sempre uma permanente exigência por acompanhar as mudanças das famílias e assim
poder, pelo seu trabalho, oferecer mais no atendimento das demandas da sociedade. 
A publicação desta obra é sem dúvida um grande acontecimento para todos os
mediadores de Portugal e dos outros países de língua portuguesa por várias
razões:
Primeiro porque este livro resume os anos de experiência de trabalho com
famílias na Grã-Bretanha e noutros países onde Lisa desenvolveu a sua actividade
de mediadora familiar;
Segundo porque, pioneira na Europa, Lisa Parkinson soube dar à mediação
familiar a sua verdadeira dimensão e função humanas, pela abordagem que faz
dos conflitos entre os cônjuges e entre os pais e os filhos, nessa difícil, mas
misteriosamente atraente vida familiar;
Terceiro porque Lisa expressa os seus conhecimentos, experiências e técnicas
com uma grande humildade e simplicidade, como se toda essa difícil função de
ser mediador familiar fosse a sua forma natural e espontânea de auxiliar as famílias
a entenderem e resolverem os seus conflitos;
Quarto porque incorpora as contribuições das diversas escolas de mediação e
contribui ela própria com técnicas e procedimentos sem se enaltecer, nem se
colocar numa posição de possuidora da verdade que exclui outros conceitos ou
práticas. Este livro é o reflexo da sua experiência, teórica e prática, que tem
demonstrado excelentes resultados.
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Mas, o aspecto mais importante que me levou a aceitar o convite de Lisa para escre-
ver esta introdução foi ela própria: Lisa Parkinson que é uma das pessoas mais admi-
ráveis que se possa conhecer. Sensível, perceptiva, respeitosa e com uma capacidade
pedagógica ímpar, está sempre disposta a acolher, a compreender e a contribuir coope-
rativamente em todas as circunstâncias com todas as pessoas com as quais se relaciona.
Por termos participado juntos em tarefas científicas, pedagógicas e
institucionais posso dizer que se aprende com ela tanto nas aulas quanto na vida
quotidiana, na informalidade. Ler o seu livro é como estar a ouvi-la nas suas aulas.
Em Portugal, o nosso trabalho em conjunto tem passado pela capacitação em
mediação familiar dos mediadores de conflitos e pela orientação de seminários
vocacionados para os mediadores de família, como formação complementar. 
Com toda essa experiência não tenho dúvidas de que a publicação deste livro
revela-se imprescindível para os que trabalham os conflitos familiares por ser um
dos manuais que melhor define e delimita a abordagem da mediação.
Finalmente e por tudo o aqui foi expressado considero importante destacar os
méritos do Ministério da Justiça, através do Gabinete para a Resolução Alternativa de
Litígios por terem escolhido este texto para integrar a sua colecção de publicações.
O meu reconhecimento a Lisa Parkinson por ter escrito este manual e autorizar sua
publicação em português, ao Ministério da Justiça, aos mediadores de família que com
tanto esforço trabalham, a maioria deles, desinteressadamente para oferecer à
população o melhor serviço, porque graças a vós a mediação familiar esta viva em
Portugal e pode assim receber uma obra desta importância científica e profissional.
Unindo esforços esperemos que os leitores desta obra se convençam da grande
função da mediação na abordagem dos conflitos familiares e sua transcendência
pacificadora e emancipadora nas comunidades e divulgue estes conceitos para
implantar a cultura da mediação definitivamente em Portugal. 
Por todo isso, escrever esta nota de introdução ao livro de Lisa Parkinson tem
sido para mim muito gratificante e representa uma grande honra. 
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Capítulo I
MEDIAÇÃO E CONFLITO
A necessidade urgente de encontrar meios pacíficos para resolver conflitos
e diferendos
Conflitos violentos e actos de destruição maciça constituem tremendas ameaças
para a sobrevivência da nossa sociedade e do meio em que ela se desenvolve no
século XXI. Conflitos violentos dão origem a receios profundos e causam enorme
sofrimento. E, dado que os conflitos são tão perigosos, as reacções biológicas aos
conflitos e às agressões são normais em todos os animais, incluindo os humanos.
Muitas das reacções são do tipo “lutar ou morrer”. Muitos animais evitam instintiva-
mente o conflito directo, submetendo-se ao indivíduo ou ao grupo que reconhecem
como o mais forte. As sociedades humanas elaboraram maneiras mais sofisticadas para
tentar resolver os conflitos, incluindo a negociação e a mediação, mas muitas vezes
falham na sua utilização. As reacções aos conflitos nas chamadas “sociedades desen-
volvidas” são frequentemente primitivas e as consequências geralmente desastrosas.
Acresce que o conflito em si não é nem positivo nem negativo, é uma força natural
necessária para crescer e mudar. A vida sem conflitos seria estática. O importante é ver
se, e como é o conflito gerido. Se o conflito for gerido cuidadosamente, não precisa de
ser destrutivo. Não precisa de destruir indivíduos ou comunidades, nem o
relacionamento entre eles. A energia que é produzida num conflito pode ser canalizada
construtivamente em vez de destrutivamente. Quando os conflitos são resolvidos duma
forma integradora em vez de se optar pela via da disputa, as relações podem ser
mantidas e até reforçadas. Com boa vontade por parte das facções litigiosas, as
percepções e as atitudes duns para com os outros podem ser diferentes. A atmosfera
modificada de abertura, de escuta e de cooperação pode irradiar deles para outros
membros da sua família ou comunidade. De acordo com o ensinamento Budista,
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podemos aprender que “a maior parte do nosso tempo é gasta a analisar diferenças.
Concentremo-nos agora em semelhanças, no que existe de comum entre … opositores
antagónicos …Procurem o que os une em vez do que os separa … procurem esta
relação e serão mais amáveis com cada um dos parceiros” (Juiz Christmas Humphreys,
1984, pág. 158). A mediação oferece meios positivos para resolver disputas e para gerir
conflitos. Na mediação, o mediador assume uma posição central e equilibrada entre os
participantes. A partir dessa posição central, o mediador pode ajudá-los a canalizar e a
conciliar as suas energias procurando encontrar soluções em vez de se hostilizarem,
recusando ou aceitando compromissos que deixam bastante a desejar.
Como definir mediação
A palavra “mediação” deriva do latim “medius, medium”, que significa “no meio”.
Mediação é um “processo de colaboração para a resolução de conflitos” no qual duas
ou mais partes em litígio são ajudadas por uma ou mais terceiras partes imparciais
(mediadores) com o fim de comunicarem entre elas e de chegarem à sua própria
solução, mutuamente aceite, acerca da forma como resolver os problemas em disputa.
Os mediadores ajudam as partes a explorar as opções disponíveis e, se possível, a
atingir decisões que satisfaçam os interesses de todos os envolvidos. Os participantes
são ajudados a chegar às suaspróprias decisões voluntariamente e com conhecimento
de causa, sem ameaças ou pressões uns dos outros e sem directivas por parte do
mediador. Quando a solução proposta tem consequências legais, é-lhes normalmente
recomendado obterem separadamente um parecer jurídico independente antes de se
esforçarem por formalizar o seu consenso por meio dum acordo legalmente
vinculativo. A mediação é entendida internacionalmente como o termo genérico que
cobre diversas formas de intervenção usadas para resolver disputas de múltipla
natureza – civil e comercial, vizinhança e comunidade, alojamento, divórcio e outros
tipos de disputas familiares, saúde, educação, emprego, sistema de justiça criminal e
disputas do foro internacional. A palavra mediation é usada com apenas variações
menores de ortografia e pronúncia em inglês, francês, alemão, italiano, espanhol e
português. A mediação é largamente utilizada através do mundo inteiro, desde a
Europa e América do Norte à Austrália e Nova Zelândia, China e Japão. Nos países de
língua espanhola e portuguesa, o uso da mediação desenvolveu-se rapidamente.
Multiplicam-se as trocas internacionais entre mediadores através de literatura,
relatórios de investigação, conferências e Internet.
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Mediação – origens e desenvolvimento
A mediação é vista muitas vezes como um novo processo, embora na verdade
ela tenha um longo legado em civilizações e culturas muito diferentes. Na antiga
China, Confúcio incentivou as pessoas a usar a mediação em vez de recorrer aos
tribunais. No século V a.C., Confúcio chamou a atenção para o facto do sistema
litigioso ser susceptível de deixar as partes cheias de azedume e incapazes de
colaborarem umas com as outras. Recomendou que, em vez de irem a tribunal, as
partes deviam encontrar-se com um pacificador neutro que as ajudaria a
conseguirem um entendimento. Os antropólogos, por seu lado, têm documentado
a tradição existente em muitas partes de África de convocar uma assembleia na
qual os anciãos tribais mais respeitados são solicitados para ajudarem a resolver
as disputas entre indivíduos, famílias ou aldeias. Conhecem-se muitos exemplos
de mediação desde tempos recuados em comunidades na Europa e na América
do Norte. Entre os deveres dum chefe índio Cheyenne contava-se o de actuar
como pacificador e mediador para resolver quaisquer querelas que surgissem no
acampamento. Os antigos Quakers usavam a mediação como o meio preferido
para resolver disputas conjugais e comerciais. Em Inglaterra, na década de 1860,
foram criados os primeiros Conselhos de Conciliação para ajudar a resolver
contendas em certas indústrias. Há uma longa tradição de mediação nas
comunidades judaicas. A Comunidade Judaica Americana de Nova Iorque fundou
o Conselho Judaico de Conciliação para promover a resolução consensual de
disputas. Em cada esfera de actividade a mediação tem sido utilizada de diversas
formas para facilitar a comunicação e para ajudar as partes em litígio a chegar a
decisões consensuais.
O uso da mediação tornou-se mais formal em muitos sectores – em matérias
laborais, na indústria e no comércio, na saúde e educação e no sistema de justiça
criminal, nomeadamente com a introdução de uma justiça restaurativa entre vítima
e ofensor. A mediação comunitária é usada para resolver disputas entre vizinhos
no que se refere a limites de propriedade, ruído ou utilização de bens comuns, e
problemas entre senhorios e inquilinos. A nível internacional, os mediadores
podem ser chamados para ajudar a resolver disputas entre diversos países ou
comunidades. Foram mediadores que ajudaram a conseguir o acordo negociado
entre Israel e a Palestina em Janeiro de 1997 sobre a retirada das forças de Israel
da zona ocidental da cidade de Hebron. Ainda que as esperanças de paz no Médio
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Oriente se tivessem esfumado, isso não significava que o diálogo devesse cessar
– pelo contrário, devia ser continuado com renovada energia e determinação para
encontrar soluções pacíficas. Nelson Mandela, o anterior presidente da África do
Sul, talvez tenha sido o mediador internacional mais aclamado. Em Julho de 2000,
Nelson Mandela usou as suas qualidades de mediador na ruinosa contenda que se
verificou no interior da África do Sul a propósito da causa da SIDA, mostrando aos
cientistas e aos políticos a urgência de trabalhar em conjunto numa luta contra
uma doença que estava a devastar a África. O Prémio Nobel da Paz de 2000 foi
concedido ao Presidente da Coreia do Sul, Kim Dae Jung, pelo seu infatigável
trabalho no sentido de resolver o conflito e promover a paz entre a Coreia do
Norte e a Coreia do Sul. Desde a sua eleição como Presidente, Kim Dae Jung
melhorou extraordinariamente as relações entre os dois países através da sua
política de congregar 70 milhões de coreanos.
Nalguns países, a mediação é o caminho normal para resolver disputas,
chegando mesmo a ser obrigatório. A moderna China, com mais de um bilião de
habitantes, tem cerca de um milhão de mediadores. Existem mediadores
praticamente em toda a parte, e as disputas no seio das famílias, das comunidades
ou nos locais de trabalho são normalmente resolvidas por mediação (Cloke, 1987).
Os mediadores chineses e japoneses possuem autoridade, e espera-se que
defendam os valores morais, que reprovem a maldade e a injustiça duma das
partes e que louvem a outra por agir correctamente. As partes em litígio devem,
supostamente, resolver as suas diferenças duma maneira responsável e pacífica
para o bem da família e da sociedade como um todo. Esta abordagem paternalista
é aceite tanto na China como no Japão, países em que a ênfase posta em preceitos
e persuasão morais parece funcionar bem. Em contrapartida, a mediação é vista
noutros países como um meio de capacitar as partes para tomarem as suas
próprias decisões e estabelecer os seus próprios acordos. Muitos países criaram
legislação e procedimentos que autorizam os tribunais a remeter processos para
mediação e que encorajam as decisões pré-judiciais. A Austrália foi um dos
primeiros países a elaborar uma legislação no sentido de usar a mediação em
disputas de âmbito familiar (Family Law Act of Australia, 1975). A legislação na
Austrália é anterior à formulação dos serviços de mediação para famílias. Na
Inglaterra e no País de Gales, a Lei da Família de 1996 foi baseada em vinte anos
de iniciativas locais voluntárias para assegurar serviços de mediação familiar.
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Benefícios da mediação versus processos litigiosos
A comparação entre mediação e processos litigiosos tem tendência a
apresentar a mediação como a “boa” solução e os processos litigiosos como “os
maus da fita”. Este julgamento simplista não é justo para nenhum dos sistemas. A
mediação nem sempre é adequada nem possível, e mesmo que o seja, não é
seguro que conduza a um acordo. A mediação tem limitações e os resultados
finais variam de caso para caso. Há muitos casos em que a via judicial deve ser
usada em vez de (ou em conjunto com) a mediação. Muitos tribunais actuam nos
dias de hoje segundo processos orientados para conseguir um acordo. Contudo,
as partes em disputa, que se arriscam a ser envolvidas em procedimentos judiciais
demorados e adversos têm o direito de saber as diferenças entre processos
litigiosos e mediação, de modo a poderem fazer uma escolha com conhecimento
de causa e estando cientes de que os processos litigiosos envolvem custos
emocionais e financeiros.
Processos litigiosos Mediação
As partes são tratadas como adversários As partes são estimuladas a procura interesses 
mútuos
As questões são definidas pelos advogados As partes explicam as questões pelas suasrecorrendo a termos legais próprias palavras
Os advogados actuam como defensores Os participantes falam e escutam-se um ao outro
do seu cliente
As posições radicalizam-se, afastando As diferenças são reduzidas, estabelecem-se pontes
ainda mais os casais
Os processos estão sujeitos a regras legais formais Os processos são informais, confidenciais e flexíveis
Os processos duram normalmente muito Os acordos podem ser atingidos rapidamente
tempo e sofrem atrasos 
As partes confiam nos seus advogados Os participantes explicam as suas necessidades
A atenção está centrada em danos A atenção está centrada na procura de soluções 
e ofensas do passado futuras
Os estados de conflito e de tensão O conflito resolvido e a tensão diminui
são prolongados
Dificuldade em considerar diferentes alternativas Pondera todas as opções disponíveis
Os custos são elevados para os litigantes Os custos legais podem ser reduzidos ou evitados
e para o Estado
As decisões são impostas pela autoridade judicial A tomada de decisão é participada
As decisões impostas têm menos probabilidades As decisões consensuais têm maiores 
de subsistirem probabilidades de perdurarem
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RAD – Resolução Adequada de Disputas1
A mediação é um dos processos do grupo – que inclui ainda a negociação e
a arbitragem –, em que se procura chegar a um acordo. Estes processos
encontram-se genericamente agrupados sob o título de Resolução Alternativa de
Disputas (RAD). Neste contexto, entende-se Alternativa como uma opção aos
processos judiciais. Mas parece mais correcto designá-los por Resolução
Adequada de Disputas do que por Alternativa, uma vez que negociação e
mediação são frequentemente usadas em conjugação com processos judiciais,
muito mais do que como um substituto. 
Negociação, arbitragem, conciliação e mediação – o que os diferencia?
A negociação directa é um processo bilateral no qual as partes negoceiam
directamente entre si, sem pedirem a outras pessoas para conduzir ou acompanhar as
suas negociações. Em casos de separação ou de divórcio, muitos casais elaboram eles
próprios grande parte do acordo, embora possam eventualmente precisar de ratificar
essas resoluções por um tribunal ou por uma autoridade administrativa.
NEGOCIAÇÃO DIRECTA
Negociação indirecta através de representantes: 
É muitas vezes difícil para as partes negociarem directamente quando o seu
relacionamento foi fragmentado. De modo idêntico, também a comunicação fica
muitas vezes afectada. A tendência consiste em utilizar o serviço de advogados.
Um grande número de acordos é obtido por negociação através de representantes
legais. Os advogados experientes com conhecimento em negociação resolvem a
maior parte dos seus casos por esse método, e só raramente recorrem à via
20
1 ADR – Appropriate Dispute Resolution
João Susana
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judicial. Se, porém, as negociações falharem, há sempre a possibilidade de nomear
advogados para representar cada uma das partes em tribunal.
NEGOCIAÇÃO ATRAVÉS DE ADVOGADOS
Arbitragem: Quando as partes envolvidas numa disputa decidem recorrer à
arbitragem, pedem a um especialista independente ou a um painel de especialistas
independentes para tomar ou recomendar uma decisão. A decisão do árbitro tem
força executiva, mas pode acontecer que seja apenas dada a título de recomen-
dação. A audição é privada e as partes podem decidir aspectos formais, como por
exemplo, a gravação dos debates. As partes têm normalmente representação legal
na audição. 
Mediação familiar 
O termo mediação familiar é usado na Europa preferencialmente ao termo
mediação de divórcio, que é correntemente utilizado nos Estados Unidos. A
mediação de divórcio não é relevante para o enorme número de casais que vivem
juntos sem estarem casados. Além disso, só dá uma mensagem unilateral, por se
apresentar como a favor do divórcio e do lado do parceiro que inicia o divórcio.
A ênfase sobre a palavra família é muito importante por outras razões. Há muitos
tipos de litígios envolvendo famílias – por exemplo disputas pais-filhos, adopção,
cuidado dos idosos, questões de heranças – que não implicam soluções de
separação ou divórcio. A mediação pode ser utilizada entre os pais e um
adolescente que tenha saído de casa, entre irmãos que podem não concordar se
um dos pais idosos deve ir para um lar, ou entre a primeira e a segunda esposa
e os possíveis filhos de ambos os matrimónios envolvidos numa disputa de
herança. A utilização mais corrente da mediação familiar verifica-se em casos de
separação ou de divórcio, em que os pais são ajudados a manter o seu papel de
pais, e ao mesmo tempo a separarem as suas preocupações conjuntas como pais,
da raiva e tristeza de terminarem o seu relacionamento enquanto casal. Os pais
21
João
Advogado
do João
SusanaAdvogado
da Susana
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são ajudados a concentrarem-se nas necessidades e sentimentos individuais dos
seus filhos, e a construírem planos para os mesmos. Desde que haja acordo entre
os pais, outros membros da família, como padrastos/madrastas, avós ou filhos
podem ser incluídos no processo de mediação. Trata-se dum processo para
famílias em transição duma estrutura familiar para outra: os seus objectivos
consistem em facilitar a comunicação, tomar decisões cooperativos e renegociar o
relacionamento.
A mediação familiar tem sido definido como “um processo no qual uma
terceira pessoa imparcial ajuda os que estão envolvidos numa ruptura familiar, e
em especial, casais em vias de separação ou de divórcio, a comunicar melhor entre
eles e a atingir de comum acordo e com base em informação adequada as suas
próprias decisões sobre alguma ou todas as questões relativas a separação,
divórcio, filhos, finanças ou propriedades (Colégio de Mediadores Familiares do
Reino Unido, Código de Procedimentos, 1995)
MEDIAÇÃO
Os princípios fundamentais da mediação familiar
Os princípios e limites da mediação são determinados para definir a sua
identidade única, para preservar a sua integridade e para salvaguardar aqueles que
a utilizam. Esses princípios e fronteiras diferenciam a mediação conduzida por
mediadores qualificados de práticas informais de mediação que são muitas vezes
prestadas por um amigo comum ou por um parente de confiança.
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João
Susana
Mediador
Discussão
à volta
da mesa
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De forma sumária os princípios fundamentais são:
1. Participação voluntária (obrigatória nalguns países)
2. Imparcialidade do mediador (designada por vezes por “neutralidade”)
3. Denúncia, por parte do mediador, de qualquer conflito de interesses 
4. Capacitar as partes para tomarem as suas próprias decisões mediante
esclarecimentos 
5. Respeito pelos indivíduos e pela diversidade cultural
6. Segurança pessoal – protecção contra riscos 
7. Confidencialidade, sujeita a certas limitações
8. Privilégios legais
9. Atenção focada no futuro, e não no passado
10. Maior ênfase nos interesses comuns do que nos individuais
11. Ter em consideração os interesses de todos os envolvidos, incluindo os
filhos
12. Competência do mediador
1. Participação voluntária
O termo “mediação compulsiva” é geralmente encarado como uma expressão
contraditória. Há uma diferença importante entre propor a participação numa
reunião de esclarecimento e uma mediação compulsiva. Na reunião preliminar de
informação o mediador explica as vantagens da mediação familiar como um
processo voluntário: os que nela tomam parte precisam de participar livremente,
sem serem forçados e sem terem medo. Devem ter a liberdade de abandonar a
mediação em qualquer fase da mesma. Por seu lado, o mediador podetambém
dar por terminada a mediação se a mesma deixar de ser útil ou não se vislumbrar
qualquer possibilidade de progresso.
2. Neutralidade e imparcialidade
Um mediador é muitas vezes referido como uma terceira parte neutra. Mas o
termo “neutralidade” é susceptível de assumir sentidos diversos. Por exemplo,
significa “imparcialidade” na medida em que o mediador não é parte interessada.
Em segundo lugar, neutralidade pode querer dizer que o mediador não tem
qualquer interesse material ou pessoal no resultado do processo de mediação.
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Imparcialidade pode também envolver o conceito de “equidistância”, significando
que o mediador presta igual atenção a todos os participantes e gere o processo
duma maneira equilibrada e imparcial. Muitos mediadores consideram-se
imparciais, mas reconhecem que não conseguem ser neutros. Os mediadores não
podem ser neutros se a neutralidade significar que eles não trazem valores e não
exercem qualquer influência no processo de mediação. Qualquer terceira parte está
obrigada moralmente a influenciar não apenas a maneira como as partes negoceiam,
mas também o próprio conteúdo das suas negociações. Os mediadores intervêm
selectivamente com formas que podem sugerir ou reforçar certos valores. Há uma
continuidade entre a facilitação “pura”, não dirigida pelos mediadores, e as
intervenções pró-activas. Os mediadores poderão encontrar-se em diferentes estados
evolutivos neste percurso contínuo, mas todos se consideram como mediadores.
A formação profissional dos mediadores pode influenciar o seu entendimento do
que significa na prática neutralidade e imparcialidade. Mediadores com uma
experiência jurídica podem ver a neutralidade e a imparcialidade em termos de
princípios legais e em estrita conformidade com a lei. Mediadores treinados em
disciplinas de saúde mental estarão menos inclinados a considerar-se neutros e mais
dispostos a definir imparcialidade em termos de manutenção de equidistâncias.
Mediadores treinados em ciências humanas podem estar também mais conscientes
da influência potencial dos seus valores pessoais e profissionais e dos seus próprios
condicionalismos. Existe igualmente alguma controvérsia sobre se os mediadores
desempenham algum papel como educadores, para explicarem aos pais o que os
filhos precisam em processos de separação e de divórcio (ver capítulo 6). Os
mediadores que pensam que sabem melhor do que os pais o que é melhor para os
seus filhos – ou que aconselham as partes sobre o que seria uma solução financeira
correcta – estão nitidamente a ultrapassar as fronteiras do papel do mediador. 
3. Denúncia, por parte do mediador, de qualquer conflito de interesses 
Os Códigos Profissionais de Conduta para mediação podem indicar que, nos
casos em que o mediador tem um conhecimento prévio e/ou uma relação prévia
profissional ou social com alguma ou com ambas as partes, não deve aceitar a
mediação. Deve ser nomeado outro mediador, mesmo que as partes não tenham
nenhuma objecção contra o primeiro nome, pois podem não fazer ideia da
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influência potencial do conhecimento prévio do mediador ou da relação com um
deles. O envolvimento prévio como um consultor jurídico é incompatível com a
imparcialidade que se exige a um mediador, que não pode ser influenciado por
quaisquer conhecimentos ou impressões prévias. Em muitas situações, a regra do
conflito de interesses é evidente. Deveria ser óbvio que um advogado que esteja
a trabalhar presentemente para uma das partes não pode actuar como um
mediador imparcial. Deveria ser, também, óbvio que um advogado que defendeu
uma das partes num divórcio anterior não deveria assumir o papel de mediador,
porque inevitavelmente essa situação seria influente na mediação. A Law Society
of England and Wales publicou um Código de Procedimentos para a Mediação
Familiar (1999) no qual se indica que a mediação não se deveria realizar “se o
mediador ou um membro da sua empresa tiver trabalhado para qualquer das
partes mesmo em questões não relacionadas com a mediação, salvo se tal tiver sido
comunicado às partes, e que estas consintam” (s.3.4.3).
4. Capacitação dos participantes na tomada esclarecida de decisões 
A capacitação é um princípio fundamental da mediação. Tal como a neutralidade,
a capacitação tem um certo número de significados. Por um lado, há capacitação por
partilha de conhecimento. Os mediadores ajudam as partes a tomarem as suas
próprias decisões, baseadas em informação e ponderação. Os mediadores explicam
que o pleno conhecimento da situação financeira é indispensável em mediação, em
todas as suas vertentes, e encorajam o fornecimento completo da informação e
documentação, de maneira a que os debates e as decisões sejam baseadas no facto
de que ambas as partes tenham recebido e tomado em consideração toda a
informação pertinente. É pedido aos participantes que assinem um Termo de
Consentimento da Mediação2, no qual se comprometem a fornecer diversas
informações, entre as quais informação financeira. O mediador ajuda-os a obter a
informação e os documentos que lhes permitirão chegar a um acordo com pleno
conhecimento de causa. Eles podem ser aconselhados a esclarecerem com os seus
consultores jurídicos sobre as revelações feitas pela outra parte e a obterem conselho
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2 Nota do editor – O Termo de Consentimento da Mediação é um documento em que as partes assumem
voluntariamente um processo de mediação e aceitam as regras estipuladas. Em Portugal este documento é assinado
pelas partes e pelo mediador.
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sobre se é necessário realizar mais averiguações desse foro. A mediação deve cessar
se uma das partes se recusar a fornecer informações ou se fornecer informações que
se verifiquem ser deliberadamente incompletas ou falsas. Ao colectar e partilhar
informação, e ao explorar diversas opções, os mediadores dão também informações
e possibilitam aos participantes o alargamento do seu leque de opções. As
informações prestadas pelo mediador podem eventualmente abrir novas
possibilidades de que o casal desconhecia anteriormente. A informação deve ser
verificável e prestada duma forma equilibrada.
Outro aspecto da capacitação deve ser a protecção contra pressões. Os
mediadores não devem permitir que um dos participantes pressionasse o outro,
nem o mediador deve dar conselhos ou orientar os participantes num
determinado sentido, por exemplo, sugestionar a decisão que o tribunal poderia
tomar. No Termo de Consentimento da Mediação é explícito que o resultado da
mediação não é vinculativo para os participantes. Se houver consequências legais
ou financeiras, as partes devem ter uma oportunidade para serem aconselhadas
separada e independentemente, antes de se comprometerem com o acordo que
eles consideram legalmente vinculativo. Os mediadores podem até alertar para os
perigos dum acordo prematuro que poderia prejudicar uma ou ambas as partes
em relação ao acordo final. Se, pelo contrário, se atingir um acordo numa matéria
cuja natureza não requer nenhum parecer legal independente ou não precisa de
mais nenhum outro parecer, os participantes poderão decidir chegar a acordo, na
condição de que compreendam perfeitamente os seus termos e consequências.
5. Respeito pelos indivíduos e pela diversidade cultural
Os mediadores procuram assegurar que todos os participantes sejam tratados
com respeito e que pessoas de quaisquer raças ou culturas sejam tratadas com
idêntico respeito. Os mediadores precisam de treino e de recursos adicionais para
mediação com culturas diferentes. A mediação deve estar disponível para todos os
casais, casados ou solteiros, em qualquer fase de separação ou de divórcioe para
parentes noutros tipos de litígios. Deve ser acessível a todas as famílias de acordo
com uma política de oportunidades idênticas. Devem ser atendidas necessidades
especiais, tais como o acesso para deficientes motores e o atendimento apropriado
para quem tenha problemas auditivos.
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6. Segurança pessoal e protecção contra riscos
É indispensável realizar uma triagem prévia com cada um dos participantes.
Nos casos em que houver receios ou perigos de violência ou dano, os mediadores
devem considerar seriamente se a mediação deve ir avante, e, no caso positivo,
em que circunstâncias e condições. Os mediadores devem assegurar-se de que
cada participante toma parte na mediação de livre vontade, sem receios de
violência ou intimidação. Quando a mediação estiver em curso devem ser tomadas
medidas apropriadas para garantir a existência de áreas de espera separadas e, se
aconselhável, realizar reuniões separadas com cada parte. Se uma das partes
recear violência ou dano durante uma reunião, ele ou ela deve ter a liberdade de
abandonar a sala de mediação e o edifício antes da saída da outra parte, a fim de
reduzir qualquer receio ou risco de ser atacado ou seguido.
Os mediadores devem ser capazes de reconhecer diferentes desequilíbrios de
poder que afectem o processo de mediação, e de tomar medidas apropriadas para
gerir esses desequilíbrios, tais como o estabelecimento das regras de jogo, a
partilha de informação e a identificação da necessidade de aconselhamento
jurídico ou outro (ver capítulo 7). Se não for possível gerir adequadamente esses
desequilíbrios, ou se houver intimidação, linguagem ou comportamento abusivo,
o mediador deverá explicar que a mediação terá de ser cancelada se os
participantes não forem capazes de cumprir as regras básicas acordadas no Termo
de Consentimento da Mediação. Se os participantes continuarem a tratar-se sem
respeito, o mediador deve suspender ou terminar a mediação.
Crianças em risco
Quando uma criança ou qualquer outra pessoa estiver em risco dum dano
significativo, o mediador deve, na medida do possível, analisar com as partes os
procedimentos que devem ser tomados. Se uma criança estiver a sofrer ou em
risco de sofrer um dano grave, os pais ou outros responsáveis devem ser alertados
para procurar ajuda adequada. No Termo de Consentimento da Mediação
explicita-se claramente que em tais circunstâncias a confidencialidade deve ser
quebrada e que o mediador deve entrar em contacto com o profissional que preste
essa ajuda adequada e tomar as medidas que sejam necessárias para proteger a
criança ou a outra pessoa que se encontra ou que se julga encontrar em risco. 
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7. Confidencialidade
Os mediadores comprometem-se a não divulgar informação a nenhuma outra
pessoa ou órgão sem obter o consentimento por escrito de todos os participantes,
excepto quando a lei e/ou o seu Código Processual impuserem uma obrigação
derrogatória de revelação. Os participantes devem ser esclarecidos, verbalmente
ou por escrito, que a confidencialidade da mediação não é absoluta.
8. O privilégio legal próprio da mediação 
Os tribunais ingleses apoiaram durante muito tempo a existência dum
privilégio legal relacionado com declarações e comunicações em que as partes
estão a negociar com a finalidade de conseguir uma reconciliação. Este
privilégio está baseado no princípio de que há um interesse público em permitir
que as possibilidades de reconciliação sejam exploradas, sem risco de que
nenhuma das partes seja prejudicada em procedimentos judiciais subsequentes,
em resultado de ter havido uma tentativa de reconciliação. O privilégio legal
relacionado com tentativas para facilitar a reconciliação foi ampliado para
abranger também o processo de mediação, em que o mediador ajuda as partes
a solucionar um conflito. A única excepção, feita pelos tribunais ingleses,
verifica-se nos casos em que as declarações produzidas no processo de
mediação indicam que uma criança se pode encontrar num risco de gravidade
significativo. Nessas circunstâncias, o tribunal pode derrogar o privilégio legal
relacionado com a mediação.
9. Focalização no futuro
O litígio tem tendência a centrar-se sobre os erros e ofensas passadas. A
mediação foca o presente e o futuro, muitas vezes sem se deter na história
passada. Muitos participantes encontram um enorme alívio em ser ajudados a
olhar para a frente, em vez de olhar para trás. Informação sobre o passado poderá
ser necessária quando for directamente relevante para as decisões correntes e para
o planeamento futuro.
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10. Maior ênfase em interesses mútuos do que nos individuais
Os mediadores ajudam as partes a reconhecer os seus interesses e
preocupações mútuas e a chegarem a decisões que incorporam essas
preocupações partilhadas, em vez de insistirem em argumentos baseados nos seus
direitos. Em linguagem de mediação, as partes são ajudadas a chegar a soluções
de “ganha-ganha”, em que todos ganham, e não de “ganha-perde”, em que um
perde para o outro.
11. Tomada em consideração das necessidades de todos os interessados,
incluindo os filhos
Os mediadores ajudam os pais a ter em consideração as necessidades e os
sentimentos dos seus filhos, bem como, os seus próprios. Não está no papel do
mediador aconselhar os pais sobre os melhores interesses dum filho em particular.
Os mediadores ajudam os pais a considerar a posição, as necessidades e os
sentimentos de cada um dos filhos, ao procurarem soluções para eles que sirvam
também para todos os que estão envolvidos (capítulo 6).
12. Competência do mediador
Os mediadores deveriam mediar em assuntos em que estejam treinados e
sejam competentes para mediar. Eles precisam de ter em consideração a
complexidade dos casos e se os mesmos se enquadram na sua competência de
mediadores. Se o mediador não tiver a experiência e o conhecimento necessário
para os assuntos em causa, a mediação deveria ser passada para um mediador
devidamente qualificado. Na Inglaterra e no País de Gales, os mediadores
registados oficialmente devem passar com aprovação a uma Avaliação de
Competência baseada num conjunto de casos concretos de mediações anteriores,
antes de poderem realizar mediações familiares subsidiadas por fundos públicos
(capítulo 9).
Em que se distingue a mediação familiar do aconselhamento e da terapia?
Os mediadores familiares são muitas vezes treinados e experientes como
conselheiros, psicólogos, assistentes sociais e terapeutas familiares. O conhecimento
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e a experiência adquiridos na sua profissão de origem são extremamente válidos. É,
contudo, essencial distinguir entre o papel do mediador familiar e outras funções
com que poderia ser confundido. Os clientes da mediação têm o direito de que não
lhes sejam dados nem aconselhamento nem terapia que eles não pediram e que,
eventualmente, não necessitam. Um mediador familiar não é nem um conselheiro
nem um terapeuta familiar. A comparação que se segue pode ajudar a identificar as
diferenças.
Diferenças entre conselheiros familiares e mediadores familiares
Conselheiros familiares Mediadores familiares
Podem aconselhar apenas uma das partes Comprometem ambas as partes desde o início
A reconciliação pode ser um objectivo Separam os factos das especulações
O processo não tem ligação ao processo legal O processo complementa o processo legal 
O processo muitas vezes é iniciado O processo normalmente é iniciado com um
sem contrato escrito contrato escrito
O processo pode ser a longo prazo O processo normalmente é a curto prazo
Concentram-se na história pessoal e familiarConcentram-se mais no presente e no futuro 
e nas experiências passadas como uma do que no passado
chave para o presente
Concentram-se em sentimentos e nos aspectos Concentram-se em aspectos práticos e 
complicadas das relações na tomada de decisões
As perspectivas e as necessidades dos adultos As relações pais-filhos constituem a 
constituem a principal preocupação principal preocupação
Proporcionam informação sobre o aconselhamento Proporcionam informação sobre a mediação
Procuram aumentar o esclarecimento pessoal Procuram ajudar as partes a atingir um acordo
Podem usar teorias psicanalíticas Recorrem às teorias do conflito e da mediação 
Procuram sobretudo auxiliar Podem ter uma postura mais intervencionista 
A relação entre cliente e conselheiro pode Procuram capacitar as partes e aumentar a 
envolver alguma dependência durante sua autonomia
algum tempo
O processo termina muitas vezes sem Prepara um Memorando de Entendimento /
um acordo escrito Acordo
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Diferenças entre terapeutas familiares e mediadores familiares
Terapeutas familiares Mediadores familiares
Orientados para o tratamento Não orientados para o tratamento
Trabalham frequentemente com Trabalham em processos de separação e 
“famílias intactas” divórcio
Incluem crianças desde o início Raramente há crianças implicadas desde o início
Trabalham normalmente sem qualquer Iniciam o processo com a assinatura do 
contrato escrito Termo de Consentimento
Não tem nenhuma ligação com o processo legal Tem ligação ao processo legal 
A comunicação não está estruturada, Facilitam a comunicação duma forma 
observam como comunicam estruturada para garantir uma 
os membros da família participação equilibrada
Acento tónico nos processos familiares Dão relevo às questões inter-pessoais
Têm em consideração os problemas subjacentes Dão relevo a questões manifestas e situações 
por resolver
Transmitem mensagens em vez de informações Dão informações “neutras”
Desenvolvem hipóteses para explicar Ajudam as partes a negociar eficazmente face
o funcionamento familiar ao surgimento de várias hipóteses
Em sala com ecrã de visão unidireccional o Trabalham em conjunto e a comunicação
diálogo entre os terapeutas não é ouvido é aberta em situação de co-mediação
pela família 
Podem dar instruções paradoxais sem explicar Analisam e combinam tarefas com as partes
as razões
Trabalham estrategicamente em matérias que Ajudam fundamentalmente pais a concordarem
envolvem membros da família sobre como falar e como consultar os seus filhos
Terminam muitas vezes sem um acordo escrito Preparam um Memorando de Entendimento 
Muitos advogados de família na Grã-Bretanha e nalguns outros países
europeus, como a Dinamarca, a Alemanha e a Holanda, especializaram-se em
mediação. Muitas vezes a formação é multidisciplinar e pode usar um modelo
de co-mediação. Contudo, um único advogado mediador pode encontrar
dificuldades em passar de funções inerentes a um consultor jurídico para
funções inerentes a um mediador, especialmente se têm o hábito de aconselhar.
Como mediador, o advogado tem de aprender a facilitar a tomada de decisões
pelas partes e de aprender como prestar informações importantes duma maneira
neutra e não-impositiva. Dar informações em mediação exige um jeito especial.
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Corre-se o risco de se desviar do papel de mediador por se tornar – ou parecer
que se torna – mais apoiante duma das partes do que da outra. A informação
que é prestada em mediação é fornecida duma maneira diferente e para um fim
diferente da informação que os advogados dão aos seus clientes. Um experiente
advogado familiar e mediador na Escócia explica esta nuance da seguinte forma:
“Como jurista você pode ser mais directivo, partidário e táctico, ao passo que
como advogado mediador a prestação de informação é feita dum modo neutro,
imparcial e o processo é baseado em total abertura em vez de preocupações
estratégicas” (Dick, 1996, at p.4). 
Diferenças entre consultores jurídicos e mediadores familiares 
Consultores jurídicos Mediadores familiares
Trabalham dentro da disciplina da lei Multidisciplinares 
Aconselham o seu cliente individualmente Imparciais, sem tomar partido, ajuda equilibrada
O processo inicia-se frequentemente com As partes são convidadas a indicar as suas 
uma história do litígio necessidades
Aconselham no quadro dos direitos legais Concentram-se em interesses e preocupações mútuas
A informação financeira é coligida e permutada A informação financeira obtida é partilhada no 
formalmente entre advogados interior do processo de mediação
Usam terminologia jurídica Usam linguagem corrente
Ocupam-se das ofensas aos seus clientes Concentram-se nas soluções presentes e futuras
Sem formação na gestão de processos psicológicos Com formação gestão de conflitos
Baseiam-se no relato dos acontecimentos feito Analisam em conjunto, com ambos os pais, a 
pelos seus clientes e nas suas ideias acerca situação dos seus filhos. Os filhos podem 
das questões relacionadas com os filhos participar
Aconselham os clientes sobre o melhor Exploram opções, não-directivas
caminho a seguir 
Negoceiam com “o outro lado” por Os participantes negoceiam em reuniões e
correspondência frente-a-frente
Redigem requerimentos ao tribunal Normalmente não redigem documentos legais 
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A Estrutura da Mediação Familiar
A teoria da mediação
Os mediadores precisam duma teoria para fornecer uma explicação e um quadro
de trabalho coerente para a sua actividade. A teoria contém os valores básicos da
mediação. A prática da mediação está alicerçada em crenças e valores sobre pessoas
e conflitos. Os valores e as crenças moldam as nossas respostas aos clientes de
33
Funções de gestão:
– processo e estrutura
– desequilibrios de poderes
– partilha de informação
Define soluções
Recolhe informação
Explora opções
Minuta propostas
Conhecimentos de base necessários para:
– fazer perguntas relevantes
– prestar informação adequada
– analisar os dados financeiros
– saber quando deve consultar especialistas
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mediação, influenciando o que fazemos e o que dizemos. Em 1973, um psicólogo
social, Morton Deutsch, publicou a sua teoria sobre a natureza dos conflitos
humanos e o uso construtivo duma terceira parte na resolução de conflitos
(Deutsch, 1973). Estas teorias positivas são extremamente importantes, mas têm
limitações na prática. Durante a separação ou o divórcio, algumas pessoas
conseguem manter-se calmas, racionais e razoáveis. Mas há muitas que sentem
emoções tão intensas que durante um período de tempo podem ficar impedidas de
falar ou de actuar razoavelmente. Uma teoria de mediação baseada em negociaçãoe resolução de problemas por via cooperativa causa uma dicotomia entre conflito e
cooperação que é demasiado simplista. Em casos em que a mediação não conduz
a um acordo, não significa que a mediação foi necessariamente um falhanço: talvez
tenha aberto uma porta que permita comunicar, o que pode ser mais importante
para um casal do que concluir um acordo.
A finalidade da mediação – decidir disputas ou resolver conflitos?
Os mediadores familiares têm experiências profissionais variadas, particularmente
nos ramos de ciências jurídicas e humanas. A sua conceptualização da mediação
depende em grande parte de quem faz a mediação e de como definem o seu papel.
Os mediadores com uma experiência jurídica têm tendência a definir a mediação
como um processo contratual e não-terapêutico. Os mediadores com uma experiência
nas áreas da psicologia ou da terapia estão mais inclinados a defini-la como um
processo de gestão de conflitos e põem grande ênfase na melhoria da comunicação.
As palavras disputa e conflito são normalmente consideradas como sinónimas, mas na
verdade não o são. As Disputas são explícitas, e ao decidir a sua disputa, os litigantes
podem aceitar condições que envolvem um compromisso ou uma concessão. Poder-
se-á conseguir um acordo porque ambas as partes reconhecem que ele é necessário,
mas as suas atitudes, uma em relação à outra, podem continuar a ser hostis e pode
acontecer que não voltem a comunicar. O Conflito, por outro lado, pode ser manifesto
ou escondido. Não se procura necessariamente atingir um acordo. A mediação
procura ajudar as partes a conseguir decisões consensuais e a resolver disputas.
Poderá também ajudá-las a resolver os seus conflitos. Mas é irrealista esperar que um
breve processo resolva a profunda raiva e dor duma relação destroçada. Um parceiro
que se sinta abandonado e traído pode levar anos até que, emocionalmente, se sinta
em condições de tratar dum divórcio ou duma separação. Alguns nunca conseguem.
A mediação não oferece nem aconselhamento nem psicoterapia. Apesar disso o
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processo de trabalhar tendo em vista uma decisão em certas matérias permite a alguns
casais ouvirem-se um ao outro, talvez pela primeira vez. Ao fazerem-no percebem que
as suas percepções e atitudes se alteram radicalmente. Numa das extremidades deste
espectro, é possível conseguir um acordo sem modificar atitudes e sem apagar o ódio;
na outra extremidade, alguns casais parecem experimentar uma espécie de catarse em
que passam de violentas recriminações a um relacionamento diferente, construído em
cooperação e verdade. Portanto, uma das diferenças entre mediadores familiares e as
teorias que seguem é saber se pretendem resolver disputas por meio dum acordo
concreto, ou se procuram ajudar os participantes a resolver os conflitos psicológicos
e emocionais que estão subjacentes às suas disputas.
Entre essas duas possibilidades, a prática é substancialmente diferente, ainda que
os vários objectivos não sejam necessariamente incompatíveis. Muitos mediadores
acabam por os misturar de alguma maneira (capítulo 2).
Turbulência, gestão da mudança e mediação com famílias em mudança
A teoria da mediação precisa de explicar a dinâmica do processo, qualquer que
seja a conclusão. Precisamos duma teoria para explicar como é que de facto a
mediação funciona, em oposição a como devia funcionar. A turbulência e a
dinâmica dos fluidos oferecem uma metáfora e uma teoria para o processo de
mediação familiar, independentemente do seu resultado final. Há uma história
acerca do teórico de Física Quântica, Werner Heisenberg3, no seu leito de morte.
Heisenberg disse que teria duas perguntas para pôr a Deus: porquê a relatividade
e porquê a turbulência. Aparentemente, acrescentou: “Sinceramente, eu penso que
Ele talvez tenha uma resposta para a primeira pergunta”. (Gleick, 1987, p. 121).
Os mediadores que vêem os efeitos destrutivos dos conflitos maritais e conjugais
talvez estejam também inclinados a perguntar “Porquê o conflito?”. Conflito, em
separação e divórcio, encaixa-se perfeitamente na definição científica de turbulência:
“O que é turbulência? É uma confusão de desordem a todos os escalões, pequenos
redemoinhos no interior de grandes redemoinhos. É instável. É altamente dissipador,
significando que a turbulência escoa energia e cria lentidão de reacções” (Gleick, p
122). O conflito em processo de divórcio dissipa energias e cria arrastamentos,
35
3 Nota do editor: Werner Heisenberg é um reputado físico do século XX, que se dedicou à física quântica.
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exactamente como uma corrente de ar turbulenta por cima da asa dum avião cria uma
travagem e anula o impulso ascensional. O conflito em si não é necessariamente
destrutivo. Pode produzir uma mudança positiva e crescimento. Mas, falando em
termos científicos, uma superfície rugosa gasta imensa energia. Separar casais que se
batem por uma mudança ou que tentam manter o status quo contra a ameaça de
mudança, representa um enorme consumo de energia. Mas a energia é gasta muitas
vezes em puro desperdício e duma forma contraproducente: para atacar, para meter
medo ou para conflituar um com o outro. Os mediadores têm de ajudar os casais a
conservar o máximo da sua energia quanto possível, de modo a que eles consigam
caminhar para a frente e “subir”. Em vez de dissipar as suas reservas de energia, os
casais em vias de separação devem ter a preocupação de encontrar meios que lhes
permitam conjugar esforços nalgumas áreas embora isso não se verifique noutras. Não
se trata de modo nenhum duma tarefa fácil. Como os que trabalham com casais em
vias de divórcio bem sabem, o movimento é nitidamente flutuante, para cima e para
baixo, para trás e para a frente, por vezes com um fim em vista, mas na maior parte
dos casos caótico. Esta realidade dum movimento irregular em vez dum movimento
suave, com pontas e depressões repentinas, é familiar à maioria dos mediadores.
A turbulência é causada por forças estáveis interagindo com forças instáveis. Na
turbulência que se verifica quando as relações no interior dum casal são quebradas,
há muitas vezes uma luta, uma vez que a tentativa de aumentar a instabilidade se
sobrepõe aos esforços para manter alguma estabilidade. Nessa luta, a energia pode ser
usada para gerar ainda mais turbulência, ou pode ser orientada com o fim de controlar
a turbulência. Os mediadores procuram ajudar os casais a usar a sua energia
construtivamente em vez de destrutivamente, para gerir as dinâmicas da mudança.
Quando a turbulência assenta no fundo, volta-se a ganhar a estabilidade. Outra
característica da turbulência que é altamente relevante para a mediação consiste no
facto da turbulência produzir resultados imprevisíveis e altamente variáveis
designados pelos cientistas como “efeitos de tensão superficial”. Os efeitos de tensão
superficial são tipicamente minúsculos, “micro” efeitos (pensar nos flocos de neve,
todos diferentes uns dos outros), que os cientistas julgaram serem demasiadamente
pequenos para serem significativos. Contudo, as novas ideias sobre a teoria do caos
levou-os a olhar de novo para os efeitos de tensão superficial e para a maneira como
acontecem. Para sua surpresa, os cientistas descobriram que pequenas modificações
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nos efeitos de tensão superficial “provaram ser infinitamente sensíveis à estrutura
molecular duma substância em vias de solidificação” (Gleick, p 311). O significado
desta descoberta para a mediação consiste no convencimento de que mesmo
pequenas modificações nos efeitos da tensão superficial podem influenciar o
desenvolvimento de novos modelos e estruturas familiares mais profundamente doque aquilo que seria previsível. A nova estrutura duma família em vias de divórcio
pode ser ainda maleável e as relações podem ser ainda ambivalentes e flexíveis:
ainda não solidificaram. Uma crise familiar, quando forças instáveis interagem com
maior poder do que forças estáveis, cria oportunidades únicas para mudança e
crescimento. O tempo certo da intervenção é importante: a fase em que os
mediadores são envolvidos afecta o nível e a gestão da turbulência. As intervenções
numa fase inicial são normalmente mais influentes do que as mais tardias, quando
os modelos ou estruturas disfuncionais talvez já tenham sido adoptados e resistam
a alterações.
A teoria do caos
A teoria do caos oferece alguns conhecimentos a mediadores familiares que se
perguntam porque é que seguindo os mesmos passos e procedimentos quando
trabalham com casais em vias de separação os resultados são tão diferentes. A
teoria do caos é uma ciência da natureza global dos sistemas. Conseguiu agrupar
pensadores de origens diversas que anteriormente tinham estado totalmente
separados. Os primeiros cientistas do caos reconheciam amostras, especialmente
amostras que aparecessem em diferentes escalas ao mesmo tempo. Nos anos 70,
cientistas dos Estados Unidos e da Europa começaram em número crescente a
chegar à conclusão de que, ainda que os físicos tivessem estabelecido alguns
princípios para explicar as leis da natureza, eles ainda não dominavam as forças
que produzem modelos desordenados do tempo, turbulência na água e oscilações
no coração e no cérebro. A face irregular da natureza, a sua face descontínua e
errática, continua a ser profundamente enigmática. Mas na década de 1970 alguns
cientistas começaram a procurar ligações entre ordem e desordem. Edward
Lorenz, um cientista do Instituto de Tecnologia da Massachusetts, encontrou no
seu estudo de modelos de tempo que existiam modelos vulgares sobre tempo,
subida e descida de pressão, correntes de ar mudando de norte e de sul. Mas a
repetição nunca era idêntica. Os modelos mostravam grandes e imprevisíveis
variações. Utilizando praticamente o mesmo ponto de partida, dois modelos
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semelhantes de tempo podiam crescer cada vez mais de formas diferentes até que
desaparecesse qualquer semelhança. O que é que causaria as diferenças?
Partia-se do princípio de que se conheciam bem objectos como os fluidos que
podiam ser mais facilmente medidos do que a atmosfera. Contudo, não era bem
assim. Gleick (1987) tomou o exemplo de dois pedaços de espuma a cair sobre
uma queda de água e assentando no fundo lado a lado. “O que pode pensar sobre
a distância a que se encontravam um do outro à superfície? Nada. No que se refere
à física corrente, Deus pode muito bem ter tomado todas essas moléculas de água
… e tê-las misturado pessoalmente” (pág 8). Casais à beira do divórcio podem
estar profundamente separados, ou podem estar muito perto um do outro. Mesmo
que fosse possível medir a variação da distância entre eles, essa medida não
constituiria uma previsão segura da distância que iria verificar-se entre eles no fim
do processo de mediação. Há muitas correntes durante o caminho que podem
alterar o rumo de cada um dos parceiros.
Os cientistas que estudam variações imprevisíveis perceberam gradualmente que
variações muito pequenas dos factores iniciais podem conduzir a uma enorme
diferença na forma final das coisas. Em sistemas meteorológicos, Lorenz traduz esta
ideia no que é conhecido pela forma semi-jocosa de Efeito Borboleta: a noção de que
uma borboleta batendo as asas hoje em Pequim poderia ter como consequência
tempestades em Nova Iorque no próximo mês. Se Lorenz se tivesse limitado ao Efeito
Borboleta – uma imagem dum movimento minúsculo, frágil, capaz de ter conse-
quências a grande distância mas inteiramente ao acaso – ele não nos teria ajudado
muito. Mas o seu trabalho mostrou que uma cadeia de acontecimentos tem pontos
críticos de viragem, em que pequenas intervenções podem exercer grande influência.
Esta nova ciência da teoria do caos evoluiu como “uma ciência de processos mais do
que de estados, do “tornando-se” mais do que do “sendo” (Gleick, 1987, p.5).
Também a mediação é uma ciência de processos mais do que de estados, do
“tornando-se” mais do que do”sendo”.
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Capítulo II
DIFERENTES MODELOS DE MEDIAÇÃO FAMILIAR
Muitos mediadores familiares foram treinados segundo um modelo particular
de mediação e podem não estar familiarizados com outras abordagens. Um dos
mais conhecidos é o modelo de resolução de problemas ou modelo orientado
para acordos, baseado no sistema de Negociação de Princípios elaborado por
Fisher e Ury (1981).
1. Mediação orientada para o acordo
Uma das principais características da mediação orientada para o acordo é a sua
focagem em interesses mais do que em posições. Uma posição é uma declaração
duma solução preferida por uma das partes. O anúncio duma posição implica
normalmente elementos estratégicos, tais como acusação, exagero, insistência nos
seus direitos e recusa de que a outra parte tem os mesmos direitos. Em
contrapartida, um interesse é uma necessidade ou objectivo fundamental que é
preciso atingir. Pedir uma proporção fixa de activos de capital é um exemplo
duma posição, ao passo que a necessidade de dinheiro suficiente para
proporcionar alojamento conveniente é um exemplo dum interesse. Por exemplo,
um casal pode estar em desacordo sobre a quantia que cada um deles deve
receber. Como pais, eles podem ter um interesse comum em assegurar
estabilidade para as suas crianças e evitar que mudem de escola, se possível.
Em mediação orientada para acordo, as partes são primeiramente convidadas
a apresentar as suas respectivas posições. O mediador procura identificar e
perceber os interesses que servem de suporte a estas posições e ajudar as partes
a reconhecer que talvez tenham interesses e necessidades comuns, apesar de
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estarem em conflito. Os interesses mútuos muitas vezes não só são concretos,
como por exemplo a necessidade de alojamento, mas são também necessidades
psicológicas, como por exemplo a manutenção do respeito e do amor-próprio. O
mediador ajuda as partes a procurar soluções integradoras, em que ambos
ganhem, que vão ao encontro de tantas necessidades comuns quanto possível
seguindo a conhecida expressão: o mediador é “brando com as pessoas e duro
com o problema”. Comprometer as partes numa via de resolução do problema
permite-lhes trabalhar em conjunto no sentido do acordo, em vez de perderem
tempo e energias numa competição destrutiva. Esta via de resolução do problema
está fortemente alicerçada em técnicas de negociação e de discussão. 
É provável que o mediador utilize raciocínios a partir do lado esquerdo do
cérebro, caracterizado como sendo linear, lógico, analítico, racional e orientado
para realizar tarefas. 
Ao usar as técnicas da negociação de princípios, o mediador procura:
• Separar as pessoas do problema
• Focalizar as pessoas nos seus interesses mais do que nas posições
• Criar opções de ganhos mútuos
A mediação orientada para um acordo inclui uma série de fases. Um modelo
simples de quatro fases seria o seguinte:
1. Definição das questões Os participantes explicam as suas posições
2. Pesquisa dos factos Recolha e partilha de informação 
3. Exploração das opções Análise das necessidades, das preocupações e
das consequências
4. Obtenção de acordos Negociação para um resultado mutuamente
aceitável
O conceito de MAAN – a Melhor Alternativa para um Acordo Negociado – e do
seu oposto PAAN – a Pior Alternativa para um Acordo Negociado – são usados
como balizas que servempara medir o acordo proposto. Haynes, uma conhecida
autoridade em mediação orientada para o acordo, definiu a fase final da negociação
como a fase em que “são feitas propostas e contrapropostas, são sugeridas
negociações, são mudadas posições e se conquista um acordo” (Haynes, 1981 p.4).
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Quando a tónica é posta no interesse e não em posições, podem-se explorar
variados caminhos para encontrar esses interesses e podem surgir áreas de
entendimento. O processo pode correr muito bem quando houver interesses
mútuos e/ou motivações para resolver os problemas. Deve-se contudo ter presente
que as mediações em que se procura o acordo se apoiam num certo número de
suposições. Parte-se do princípio que os participantes estão:
* Motivados para chegar a um acordo
* Capazes de pensar racionalmente
* Razoavelmente esclarecidos sobre os diferendos que é preciso resolver
* Capazes de explicar e defender as suas posições
* Capazes de negociar
* Capazes de reconhecer ou aceitar uma solução aceitável
Muitos advogados mediadores preferem mediações orientadas para o acordo a
outros modelos porque as soluções são medidas em termos de resultados
concretos e porque os advogados têm tendência a sentirem-se mais à vontade
num papel activo ou mesmo de orientação. Na mediação orientada para o acordo,
o mediador pode exercer um poder considerável. Corre-se o risco de retirar poder
a uma ou a ambas as partes em vez de lhes conferir poder, e o mediador pode
ver-se confrontado com dilemas para resolver questões de se e como conferir
poder à parte mais fraca. Há também riscos que os mediadores que estão muito
ansiosos por chegar a resultados correm, em exercer acção junto das partes para
a sua solução preferencial, em vez de utilizarem o tempo para construir um acordo
mutuamente satisfatório com as duas partes (ver capítulo 8 sobre o uso de poder
pelo mediador). A tónica está normalmente em conseguir resultados concretos e
soluções práticas. As partes podem ser convidadas a expressar os seus sentimentos
no início, mas espera-se que os mesmos sejam postos de lado depois disso. Ora
tal não é possível para muita gente, especialmente em separações e divórcios.
A mediação orientada para o acordo não foi concebida para famílias. Foi
adaptada a partir da mediação comercial e civil. Se os sentimentos não forem
suficientemente reconhecidos e se não se conceder tempo suficiente para
considerar e renegociar as relações familiares, pode bem acontecer que se chegue
a um acordo sem os pais terem trabalhado as decisões nem as disposições que
têm em conta tanto as necessidades dos filhos como as suas próprias.
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2. Mediação transformativa 
A mediação orientada para o acordo é apropriada para certos tipos de conflitos.
Contudo, em separação e divórcio, muitas pessoas não estão preparadas nem são
capazes de negociar duma maneira calma e racional. Estão muitas vezes tão
oprimidas por emoções fortes que não conseguem pensar com clareza. Muitos
mediadores familiares, especialmente os de formação em aconselhamento e terapia,
acham que a mediação orientada para o acordo leva os mediadores a tomarem
demasiado controlo do processo e a envolverem-se na resolução dos problemas
para além do razoável. A metodologia desenvolvida por Bush e Folger (1994), que
eles designaram por mediação transformativa, deixa a condução aos participantes
enquanto o mediador se limita a seguir, em vez de limitar os participantes a
seguirem a orientação do mediador. Concentra-se em falar e ouvir, e encoraja uma
visão refrescante – literal e metaforicamente. Quando há uma visão refrescante e
compreensão com o coração, o quadro pode ser completamente alterado. Ouvir e
escutar são componentes fundamentais – escuta atenta pelo mediador e
possibilidade das partes se ouvirem e se compreenderem uma à outra.
A primeira premissa desta abordagem consiste em que a mediação tem a
potencialidade de gerar efeitos transformativos que são altamente benéficos para as
partes e para a sociedade. A segunda premissa é que a mediação só tem potencial
para gerar estes efeitos transformativos na medida em que o mediador introduz um
sistema mental e métodos práticos conducentes à realização dos dois objectivos-
chave: capacitação e sensibilização. A capacitação incita à autodeterminação e
autonomia, aumentando a capacidade das pessoas de verem com clareza a sua
situação e de tomarem decisões por si próprias. A sensibilização envolve a capacidade
dos participantes reconhecerem os sentimentos e perspectivas recíprocos e serem
mais sensíveis às necessidades da outra parte. Os mediadores transformativos ajudam-
nos a melhorar o entendimento mútuo, de maneira que é possível reconhecer as
necessidades de cada um com mais empatia do que anteriormente.
Folger e Bush (1996) identificaram dez pontos fundamentais da mediação
transformativa:
1. Compromisso para a capacitação e sensibilização como o principal obje-
ctivo do processo e os aspectos mais importantes do papel do mediador.
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2. Deixar a responsabilidade do resultado para as partes – “é a sua decisão”.
3. Recusar conscientemente criticar as apreciações e decisões das partes –
“as partes sabem melhor”.
4. Ter um olhar optimista sobre a competência e a motivação das partes. Os
mediadores transformativos têm uma atitude positiva sobre a boa-fé e a
decência, quaisquer que sejam as aparências. Em vez de rotular as
pessoas como intrinsecamente desleixadas, fracas ou manipuláveis, o
mediador vê as partes, mesmo nos seus piores momentos, como
temporariamente enfraquecidas, na defensiva ou absortas.
5. Permitir e responder às manifestações de emoção, não deixando às partes
apenas alguns momentos para tornarem conhecidos os seus sentimentos,
de modo a que estes sejam deixados de lado e seja possível centrarem-se
nas questões essenciais. Os mediadores transformativos estimulam as
partes a descreverem as suas emoções e os acontecimentos que as
causaram, a fim de promover o entendimento e a partilha de perspectivas.
6. Permitir e explorar a incerteza das partes: a sua falta de clareza deveria
ser vista como positiva e não como negativa. Se os mediadores
assumirem que compreendem a situação e as necessidades de cada parte
numa fase inicial da mediação, eles arriscam-se a bloquear uma fase
importante de fluidez e de ambivalência. Mais do que desenvolver uma
hipótese que orienta num certo sentido, é preferível que os mediadores
mantenham um saudável sentido de incerteza, de modo que eles
continuem a formular perguntas em vez de estabelecer conclusões.
7. Manter-se centrado no aqui e agora da interacção conflitual: “a acção está
na sala”. Em vez de tentar resolver problemas, o mediador concentra-se
em afirmações específicas à medida que forem feitas, tentando descobrir
os pontos precisos em que as partes estão confusas, não se sentem
compreendidas, ou não se entenderam uma à outra. Quando os
mediadores se dão conta deste tipo de problemas, eles moderam a
discussão e usam o tempo para esclarecer, comunicar e reconhecer.
8. Reagir às declarações das partes sobre acontecimentos passados: “discutir o
passado tem valor para o presente”. Normalmente os mediadores incitam as
partes a concentrarem-se no futuro, não no passado. Mas Folger e Bush, pelo
contrário, sustentam que se a história do conflito for encarada como um mal
que deve ser esquecido, perder-se-ão oportunidades importantes para
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conferir capacitação e sensibilização. A revisão do passado pode revelar
escolhas que foram feitas, opções que foi possível tomar e pontos-chave de
inflexão. Rever o

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