Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
@NOVAIISVITORIA VITÓRIA NOVAIS – MEDICINA UFJF 1 FARMACOLOGIA IV TRATAMENTO DO DIABETES MELLITUS: O diagnóstico de DM é obtido a partir de medidas de glicemia de jejum e glicemia pós 2 horas de carga oral de 75g de glicose. Outro parâmetro para o diagnóstico de DM é a dosagem da Hemoglobina Glicada que avalia o grau de exposição à glicose durante o tempo, ou seja, fornece a glicemia média dos últimos meses. AVALIAÇÃO DO CONTROLE GLICÊMICO: Os testes de glicemia nos mostram o nível glicêmico instantâneo no momento do teste, ou seja, fornecem o saldo atual de glicemia. Os testes de hemoglobina glicada mostram a glicemia média pregressa dos últimos 2 a 4 meses, fornecendo um saldo médio. Ambos os testes são importantes para o diagnóstico COMPLICAÇÕES DO DM: O descontrole glicêmico aumenta o risco para diversas doenças, complicações e comorbidades Retinopatia Diabética Doença Arterial Coronariana (DAC) IAM 75% dos diabéticos morrem por IAM Nefropatia Diabética Doença Vascular Periférica Doença Cérebrovascular Neuropatia Diabética Pé Diabético É importante ressaltar a relação entre a Hemoglobina Glicada com tais complicações. Isto é, altos índices de Hb Glicada aumentam a incidência dessas complicações/comorbidades MECANISMOS MOLECULARES: Como o DM atua, a nível molecular, lesando as células e órgãos supracitados? O aumento da glicose plasmática (glicemia) leva à formação de produtos finais de glicação avançada (AGE – Advanced Glucation End Products) @NOVAIISVITORIA VITÓRIA NOVAIS – MEDICINA UFJF 2 FARMACOLOGIA IV O AGEs interage com seu receptor na membrana das células e leva à formação de Espécies Reativas Oxigenadas (Radicais Livres). Com isso, ocorre aumento da transcrição de genes envolvidos no estresse oxidativo e no processo inflamatório EFEITOS VASCULARES DOS AGES: Aumento do tônus vascular Aumento da produção dematriz extracelular, levando à rigidez do vaso Ativação de vias inflamatórias Estresse oxidativo Aterogênese = formação de placas de ateromas, principalmente nas artérias PÉ DIABÉTICO: Definido como infecção, ulceração e/ou destruição de tecidos moles associadas a alterações neurológicas e vários graus de doença arterial periférica nos membros inferiores Deformidades neuropáticas = dedos em garra Pele seca Hiperceratose PREVENÇÃO: Prevenção Primária: prevenir o início do DM DM1: aleitamento materno DM2: mudanças do estilo de vida (dieta e exercícios físicos) e controle dos fatores de risco (HAS, dislipidemia e obesidade) Prevenção Secundária: prevenir as complicações agudas ou crônicas da doença Bom controle glicêmico ou metabólico para prevenir o surgimento ou retardar a progressão das complicações ou comorbidades No caso de pacientes com DM + Hipertensão, a meta pressórica passa a ser até 130/80 mmHg, já que este paciente tem maior risco para lesão renal visto que ambas as doenças causam danos renais. Dessa forma, fármacos como iECA ou BRA são indicados pois, além do controle da PA, também reduzem a lesão renal. Outros fatores de risco para eventos cardiovasculares, além do DM, são: obesidade, alimentação rica em gorduras, alcoolismo, sedentarismo, hipertensão, tabagismo e @NOVAIISVITORIA VITÓRIA NOVAIS – MEDICINA UFJF 3 FARMACOLOGIA IV dislipidemia devem ser adequadamente controlados TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO: Consiste em dieta e pratica regular de exercícios físicos, principalmente aeróbicos A alimentação deve ser variada e equilibrada desde que haja moderação Deve-se reduzir o peso corporal, a HbA1c e manter a glicemia estável Lipídeos séricos devem ser mantidos em níveis adequados, assim como a PA Plano alimentar saudável priorizando sempre alimentos de baixo índice glicêmico (IG) e fibras solúveis (ajudam no controle lipídico e glicêmico) e insolúveis (contribuem para a saciedade, controle do peso e saúde intestinal) Aumentar o consumo de alimentos ricos em ácidos graxos insaturados: Ômega 3 (reduz TG e resistência à insulina e modula a inflamação) TRATAMENTO FARMACOLÓGICO: DM 1: insulinas DM 2: hipoglicemiantes, anti-hiperglicêmicos e/ou insulina (casos mais graves) Os objetivos do tratamento do DM consistem em alcançar um bom controle do índice glicêmico e metabólico, através de dietas, exercícios físicos e medicamentos. Além disso é importante tratar as condições associadas (dislipidemia, hipertensão, obesidade, retinopatia, neuropatia....) PÂNCREAS ENDÓCRINO: SECREÇÃO DE INSULINA O pâncreas endócrino é constituído pelas Ilhotas de Langerhans que possuem células α, β e Δ A Insulina é produzida e secretada pelas células β pancreáticas Após a alimentação, há o aumento da glicemia. A glicose é captada pela célula beta através do Transportador GLUT 2 e dentro da célula ela passa por metabolismos que aumentam a concentração de ATP intracelular. Esse aumento de ATP promove o fechamento dos canais de potássio sensíveis a ATP, levando então a uma redução da condutância ao potássio. Tal redução leva a uma despolarização transiente pelo influxo de sódio que leva à abertura dos canais de cálcio e influxo de cálcio na célula. O cálcio, por sua vez, mobiliza vesículas contendo insulina e promove a liberação de insulina na circulação sanguínea. No jejum, a glicose plasmática é suprida pelo fígado e os ácidos graxos pelo tecido adiposo. Isso porque, a baixa insulina plasmática leva @NOVAIISVITORIA VITÓRIA NOVAIS – MEDICINA UFJF 4 FARMACOLOGIA IV ao aumento da Glicogenólise/Gliconeogênese hepática e também ao aumento da lipólise no tecido adiposo. Já no estado prandial, a absorção de nutrientes no TGI aumenta a glicose plasmática e provoca também a liberação de incretinas; hormônios insulinotrópicos que induzem a secreção de insulina pelo pâncreas. Neste estado então, há um pico de insulina plasmática prevalecendo seus efeitos como: o captação de glicose pelos músculos esqueléticos e tecido adiposo o inibição da produção hepática de glicose através dos processos de glicogenólise e gliconeogênese o inibição da lipólise no tecido adiposo. Tais efeitos da insulina são decorrentes da ativação de seu receptor nos diferentes tecidos. Ou seja, a ativação do receptor de insulina leva a uma sinalização intracelular. No caso da imagem abaixo, a sinalização leva à translocação do transportador de glicose GLUT4 para a membrana plasmática. Isso acontece no músculo esquelético e no tecido adiposo para que estes possam captar glicose da circulação) TERAPIA COM INSULINA: realizada no DM Tipo 1 e alguns casos mais graves de DM tipo 2 Vias de adm: subcutânea e inalatória (disponível no Brasil desde 2019) 2 grupos de insulinas: o Bolus ou Pré-prandiais: regular, lispro, aspart, glulisina, inalada administradas antes das refeições o Basais: NPH, glargina e detemir INSULINAS BOLUS OU PRÉ-PRANDIAIS: Administradas antes das refeições para que tenhamos um pico de insulina no sangue O gráfico demonstra a comparação entre as insulinas mais novas, de ação ultra-rápida, com a insulina humana regular ( mais antiga, de ação rápida) As insulinas mais novas têm absorção mais rápida que a regular e atingem maior concentração plasmática. Devido a essa absorção mais rápida, essas insulinas podem ser administradas de 5 a 15 minutos antes das refeições (enquanto a insulina humana regular precisa ser administrada pelo menos 30 minutos antes) Além disso, as insulinas novas possuem uma eliminação mais rápida que a insulina regular, pois atinge pico plasmático mais rapidamente Devido a essas características, as insulinas novas têm menor risco deefeito residual entre as refeições, principalmente a Hipoglicemia Pós-prandial INSULINAS BASAIS: São utilizadas com o objetivo de manter níveis baixos e constantes de insulina ao longo do dia @NOVAIISVITORIA VITÓRIA NOVAIS – MEDICINA UFJF 5 FARMACOLOGIA IV NPH: mais antiga, duração de ação intermediária sendo necessárias 2 administrações por dia, dependendo da resposta do paciente o Atinge uma concentração plasmática maior maior risco de Hipoglicemia durante o dia Glargina e Detemir: possuem duração de ação longa e são administradas uma vez ao dia. Regular e NPH apresentam maior risco para hipoglicemia (disponibilizadas pelo SUS) Tratamento ideal: insulina bolus associada a uma insulina basal No gráfico acima há a comparação dos perfis cinéticos das insulinas e na tabela a seguir, encontramos parâmetros cinéticos das insulinas apresentadas. o A mais nova insulina inalatória aprovada pela Anvisa, Afrezza; tem ação ultra-rápida com inicio de ação em ate 15 minutos e duração de efeito de 2 a 3 horas, É do grupo das insulinas bolus (pré-prandiais). Entretanto, tem limitação de uso em pctes com doenças pulmonares. A administração subcutânea da insulina deve ser feita em regiões alternadas (Rodízio) a fim de evitar a lipodistrofia e, com isso, a redução da absorção de insulina no local. Pode ser injetada nas regiões: abdominal, coxas, posterior dos braços e glúteos. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO DM TIPO 2: @NOVAIISVITORIA VITÓRIA NOVAIS – MEDICINA UFJF 6 FARMACOLOGIA IV A primeira possibilidade, é o DM2 devido a uma redução da secreção pancreática de insulina neste caso, utilizamos os hipoglicemiantes ou Secretagogos de Insulina SECRETAGOGOS DE INSULINA: 1. Sulfoniluréias 2. Meglitinidas 3. Agonistas do receptor de GLP-1 4. Inibidores da DPP-4 São fármacos que reduzem a glicemia ao estimular a secreção de insulina pelo pâncreas SULFONILUREIAS E MEGLITINIDAS: Mecanismo de Ação: bloqueiam os canais de potássio sensíveis a ATP na célula beta pancreática e, através do mecanismo supracitado, estimulam a secreção de insulina. Então, esses fármacos bloqueiam os canais de potássio ATP, reduzindo o efluxo de potássio e, com isso, a condutância ao potássio. O que leva a uma despolarização transiente pelo influxo de sódio na célula, promovendo a abertura de Canais de Cálcio Voltagem Dependentes com consequente influxo de cálcio que, por sua vez, mobiliza vesículas contendo insulina e a libera no plasma. SULFONILUREIAS: Glibenclamida (gliburida), clorpropamida, glimepirida, glipizida, glicazida o Bloqueiam o Canal de KATP na célula beta- pancreática e estimulam a secreção de insulina o Administrados por via oral, 1 x ao dia o Efeito dura por 12-24h o Efeitos adversos: hipoglicemia e coma o Contra-indicações: uso de álcool (risco de hipoglicemia), DM Tipo 1, gravidez, lactação e para idosos (risco de hipoglicemia prolongada) MEGLITINIDAS: Repaglinida e Nateglinida o Bloqueiam o Canal de KATP na célula beta- pancreática e estimulam a secreção de insulina o Via oral, 10 minutos antes da refeição o Absorção rápida no TGI o Efeitos Adversos: hipoglicemia e coma o Nateglinida: menor risco de hipoglicemia que os outros secretagogos AGONISTAS DO RECEPTOR DE GLP-1: EXENATIDA e LIRAGLUTIDA GLP-1 é uma Incretina, um hormônio insulinotrópico, liberado pelo TGI após as refeições (hiperglicemia). Hormônios Insulinotrópicos são aqueles que estimulam o pâncreas a secretar insulina Promovem controle glicêmico, redução da hemoglobina glicada e perda de peso Ativam o receptor de GLP-1 na célula beta- pancreática estimulando a síntese e secreção de insulina Exenatida: injeção subcutânea 2x ao dia (antes da refeição Liraglutida: injeção sc 1x ao dia (antes da refeição) Efeitos Adversos: náuseas e vômitos INIBIDORES DA DPP-4: SITAGLIPTINA e SEXAGLIPTINA DPP-4 é uma enzima denominada dipeptil peptidase IV, que metaboliza inativa incretinas (GIP e GLP-1) no plasma Dessa forma, se esta classe de fármacos inibe as enzimas que inibem as incretinas, ocorre um aumento das incretinas no plasma e, com isso, o aumento da secreção de insulina. Promovem inibição completa e duradoura da DPP-4 12 horas Aumentam GIP e GLP-1 no plasma Administradas por via oral, 1x ao dia @NOVAIISVITORIA VITÓRIA NOVAIS – MEDICINA UFJF 7 FARMACOLOGIA IV A segunda possibilidade, é o DM2 devido a uma resistência à insulina neste caso, utilizamos os anti-hiperglicêmicos ANTI-HIPERGLICÊMICOS: 1. Biguanidas 2. Tiazolidinadionas São fármacos que evitam a hiperglicemia ao tratar a resistência à insulina, por isso são chamado também de Sensibilizadores de Insulina. RESISTÊNCIA INSULÍNICA OU INTOLERÂNCIA À GLICOSE: Acontece quando nossos tecidos não respondem à insulina a insulina circulante ativa seu receptor no s tecidos periféricos, mas pode haver algum problema na sinalização intracelular mais comum em obesos, sedentários e idosos uma possível causa é a presença de infiltrados inflamatórios principalmente no tecido adiposo e, com isso, o aumento de citocinas inflamatórias influenciando na sinalização intracelular da insulina no quadro de resistência à insulina temos a redução dos efeitos da insulina nos tecidos periféricos o no tecido adiposo: diminuição da captação de glicose, aumento da lipólise para liberação de ácidos graxos e triglicerídeos, aumento de citocinas inflamatórias e a diminuição da produção de adiponectina ( uma substância produzida pelo tecido adiposo, com efeitos como proteção contra a disfunção endotelial, perda de peso e aumento da sensibilidade do tecido à insulina) o no músculo esquelético: redução da captação de glicose, redução das reservas de glicogênio e aumento dos lipídeos (principalmente os lipídeos provenientes do Tec. Adiposo) o no Fígado: ocorre o aumento da lipogênese, aumento da gliconeogênese e da gligogenólise, diminuição das reservas de glicogênio e aumento dos lipídeos (tanto os lipídeos produzidos no próprio fígado quanto os provenientes do tecido adiposo) o quadro de esteatose hepátita e dislipidemia BIGUANIDAS: METFORMINA (Glifage®) Fármaco mais utilizado para tratamento do DM 2 com resistência insulínica Único aprovado para crianças com DM2 Atua aumentando a atividade da enzima AMPK AMPK é uma enzima quinase, intracelular, que participa da sinalização intracelular da insulina e, com isso, melhora o quadro de resistência insulínica. Ou seja, aumenta a sensibilidade à insulina evitando episódios de hiperglicemia (por isso é um antihiperglicêmico) NÃO afeta a glicemia normal Raramente causa hipoglicemia Formas de administração: o Via oral 2x ao dia (nas refeições) – inicio com doses baixas o Formulação de liberação prolongada – 1x ao dia Não causa ganho de peso Efeitos Adversos: náusea, indigestão, dor abdominal, diarreia EFEITOS DA BIGUANIDAS – METFORMINA: Os efeitos da metformina consistem em melhorar o quadro de resistência insulínica, ou seja, aumentar a sensibilidade dos tecidos periféricos à insulina. Dessa forma: No Fígado: reduz a lipogênese, gliconeogênese e glicogenólise No Tecido Adiposo: reduz a lipólise e a síntese de AG e TG, além de aumentar a captação de glicose No Músculo Esquelético: aumenta a captação de glicose e as reservas de glicogênio TIAZOLIDINADIONAS: PIOGLITAZONA e ROSIGLITAZONA Atualmente, no Brasil, temos 8 formulações de Pioglitazona e 2 de Rosiglitazona Troglitazona: retirada do mercado devido à hepatotoxicidade Atuam como agonistas do receptor nuclear PPARγ @NOVAIISVITORIA VITÓRIA NOVAIS – MEDICINA UFJF 8 FARMACOLOGIAIV PPARγ é um receptor que ao ter sua ativação aumentada, modulam a transcrição gênica melhorando o quadro de resistência à insulina Ações parecidas com as da metformina, atuando como sensibilizadores à insulina Efeitos Adversos: o ganho de peso (retenção hídrica e aumento do tecido adiposo subcutâneo) o distúrbios visuais o expansão de volume e ICC (contraindicados para pacientes com risco para insuficiência cardíaca) o redução das transaminases INIBIDORES DO SGLT2: Grupo mais recentemente utilizado para o tratamento de DM 2. Geralmente associado a outros fármacos. DAPAGLIFLOZINA, EMPAGLIFLOZINA e CANAGLIFLOZINA SGLT2: é um co-transportador de sódio-glicose nos rins Reduzem a glicemia através do aumento da excreção de glicose pela urina Reduzem também eventos cardiovasculares e renais e, consequentemente, a mortalidade Reduzem a HbA1c (Hb glicada), o peso e a esteatose hepática Podem ser usados em monoterapia, mas são mais comuns em associações TRATAMENTO DO DM 2: Atualmente, o tratamento do DM 2 é iniciado com orientações ao paciente acerca de sua alimentação e atividades físicas associadas ao tratamento com metformina. Deve ser feito também um screening das complicações já discutidas, além do tratamento das comorbidades/doenças associadas. Após reavaliação periódica, principalmente da HbA1c, pode ser necessário associar um segundo (ou mais) medicamento à metformina. Dependendo do paciente, principalmente em casos mais graves, pode ser necessário o uso de insulina. O gráfico abaixo mostra a evolução do DM 2 ao longo do tempo, de acordo com a função da célula beta-pancreática. Observe que, ao longo do tempo, a função da célula beta em produzir insulina tende a diminuir, e a partir da etapa 3, passa a ser necessária a associação de insulina noturna aos medicamentos antidiabéticos. Na quarta etapa, o paciente pode apresentar um quadro em que é necessária a insulinização plena devido ao esgotamento de produção da insulina endógena. Neste caso é opcional o uso de sensibilizador de insulina.
Compartilhar