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Raquel Bueno – 73 A Patologia Médica I Aspectos de normalidade • Fígado: órgão sólido localizado no hipocôndrio direito e revestido por cápsula (Glisson) • Peso normal: 1300 a 1800 g • Possui circulação dupla: veia porta e artéria hepática • Lóbulo hepático e ácino de Rappaport: Zona 1: periportal Zona 2: mediozonal Zona 3: perivenular Alterações circulatórias Fígado cardíaco • Causa: insuficiência cardíaca direita • Congestão de veias centrolobulares • Se for intenso: necrose e hemorragia centrolobular; possível hipertensão portal • Bloqueio da drenagem venosa • Hepatomegalia congestiva dolorosa • Aspecto em noz moscada • Área alterada é mais vinhosa; zona 3 perivenular Síndrome de Budd-Chiari • Trombose das veias hepáticas ou da veia cava inferior • Aumento da pressão intra-hepática • Hepatomegalia dolorosa, ascite e hipertensão portal • Causas: distúrbios trombogênicos diversos • Morfologia: igual ao fígado cardíaco, mas com congestão mais intensa em todas as zonas Síndromes hepáticas • Processo insidioso com clínica tardia • Cirrose hepática é o desfecho comum de várias doenças Distúrbios do metabolismo da bilirrubina • Função da bile: emulsificação de gordura; eliminação de bilirrubina, excesso de colesterol, xenobióticos... Icterícia • Coloração amarelo-esverdeada da pele, esclera e mucosa devido a aumento dos níveis plasmáticos de bilirrubina • Causas de produção excessiva de bilirrubina: anemias hemolíticas, reabsorção de sangue de hemorragia interna, eritropoiese ineficaz... Icterícia neonatal FISIOLÓGICA • Por imaturidade fisiológica dos sistemas de conjugação e excreção da bile • Até 2 semanas de vida • Aumento da BI • Exacerbada pela amamentação (contem enzimas que desconjugam a bilirrubina) • Tratamento: fototerapia • Luz vai ajudar na conversão de BI em BD (quebra de pontes de hidrogênio) tornando-a hidrossolúvel Síndrome de Gilbert • Deficiência na conjugação de bilirrubina • Deficiência parcial da enzima UGT-1 A1 (transforma BI em BD) • Elevação discreta da BI de forma intermitente • Caráter genético • Associada ao estresse, exercício vigoroso ou jejum • Não há consequências clínicas Colestase • Interrupção do fluxo biliar para o intestino, com refluxo de todos os componentes da bile para a corrente sanguínea • Clínica: icterícia (por aumento da BD), coluria, acolia fecal (em massa de vidraceiro); prurido e xantomas, má absorção intestinal de vitaminas lipossolúveis (A, D, E, K); aumento da fosfatase alcalina e GGT Hepatites • Conjunto de lesões necroinflamatórias que acometem difusamente o fígado, de forma heterogênea, causadas por agentes agressores e pela resposta do hospedeiro • Causas: virais, autoimune, medicamentosa, alcóolica, metabólicas Hepatites virais • Vírus em geral: mononucleose, citomegalovírus, febre amarela, adeno vírus, herpes vírus... • Vírus hepatotrópicos: A, B, C, D e E • Principais: A, B, C • D não existe sem a B; comum na Amazônia • E: muito raros Hepatite A - HAV • Hepatite A nunca evolui pra cirrose • Não causa hepatite crônica • Vírus de RNA • Doença normalmente benigna e autolimitada • Transmissão fecal-oral • Relacionada a baixos níveis socioeconômicos e de higiene • Pode ser assintomática ou sintomática aguda; raramente evolui pra hepatite fulminante • Vacina eficaz • Anticorpos IgM específicos contra o HAV aparecem com o início dos sintomas: marcador confiável de infecção aguda • A eliminação fecal do vírus termina quando o título de IgM aumenta • Anticorpos IgG anti HAV marcam imunidade e persistem por muitos anos Hepatite B - HBV • Único de DNA • Transmissão: via parenteral, sexual e vertical • Tem vacina • Formas: Assintomática (65%) Hepatite aguda (25%) podendo evoluir raramente para hepatite fulminante Hepatite crônica (5 a 10%) • Genoma codifica alguns antígenos: • Anticorpos: • O HBsAg aparece antes do início dos sintomas com pico durante a manifestação da doença • Anticorpos anti-HBs não surgem até que a doença aguda tenha acabado, concomitante com o desaparecimento de HBsAg • Os anticorpos anti-HBs podem persistir por toda a vida, conferindo proteção (base da vacinação) • HBeAg e HBV-DNA: indicam replicação viral ativa • Aparecimento de anticorpos anti-HBe implica que uma infecção aguda atingiu seu pico e está declinando • O anticorpo IgM anti-HBc se torna detectável no soro pouco tempo antes do início dos sintomas • Resposta imune do hospedeiro determina o resultado da infecção • Menor idade = maior chance de evoluir pra crônica • Tratamento por antivirais Hepatite C – HCV • Vírus de RNA: instável, múltiplos genótipos e subtipos • Não há vacina • Transmissão: parenteral, sexual, vertical • Principal causa de hepatite crônica no mundo • Formas: Assintomática Hepatite aguda (raro) Hepatite crônica (80 a 90%) podendo evoluir pra cirrose • Anticorpo anti-HCV não confere imunidade Hepatite aguda • Macro: fígado congesto, edema, depressões na superfície externa, cor esverdeada (se tiver colestase) • Micro: degeneração hidrópica, fusão de hepatócitos. Apoptose, IIMN predominantemente perivenular com necrose focal, colestase Hepatite aguda grave (fulminante) • Macro: fígado menor, retraído, cápsula enrugada e amolecido (necrose) • Micro: necrose hepatocitária evidente, reação ductular, necrose em ponte (confluência de necroses focais), necrose maciça • Causa frequente: paracetamol • Insuficiência hepática aguda Insuficiência hepática aguda • Doença hepática aguda associada com encefalopatia e coagulopatia • TGO e TGP elevadas • Encefalopatia hepática • Sinal de asterix/flapping • Síndrome hepatorrenal Hepatite crônica • Persistência da inflamação • TGP e TGO elevadas por mais de 6 meses • Aspecto histológico em vidro fosco: acúmulo de HBsAg dentro do citoplasma do hepatócito Hepatite C crônica • Esteatose hepática • Agregados linfoides • Fibrose • Cirrose Doença hepática gordurosa • Esteatose – esteatohepatite – fibrose – cirrose Tumores hepáticos • No fígado os tumores metastáticos são mais comuns que os primários Tumores hepáticos benignos Hiperplasia nodular focal • Não neoplásica • Comum em adultos jovens ou de meia idade • Segundo tumor sólido benigno mais comum do fígado • Predomina no sexo feminino • Alteração no suprimento sanguíneo hepático • Artéria anômala gerando: Hipoperfusão e fibrose Hiperperfusão e hiperplasia hepatocitária • Assintomática; o diagnóstico é acidental • Não apresenta risco de evolução maligna • É um importante diagnóstico diferencial com as neoplasias hepáticas • Morfologia: nódulo subcapsular, < 5cm, bem demarcado, mal encapsulado, mais claro que o fígado ao redor, com cicatriz estrelada central Hemangioma cavernoso • Tumor benigno neoplásico • Neoplasia de origem vascular • Tumor benigno mais comum do fígado • Assintomático; diagnóstico acidental • Se for maior que 4 cm pode causar dor abdominal (pela compressão capsular) e hemorragia (rara) • Importante diagnóstico diferencial com as neoplasias hepáticas • A biópsia é relativamente contraindicada em decorrência da alta vascularização (risco de sangramento) • Morfologia: nódulo geralmente subcapsular, macio, vermelho-azulado Adenoma hepatocelular • Neoplasia benigna desenvolvida a partir de hepatócitos • Predomínio em adultos jovens ou de meia idade • Predomínio no sexo feminino: relação com estrógeno e uso de ACO • Nos homens está relacionado ao uso de anabolizantes esteroides • Existem 3 subtipos de adenoma com patogêneses distintas • Pode ser assintomático com diagnóstico incidental• Pode causar dor abdominal pela compressão capsular pelo crescimento acelerado • Pode malignizar!!!! • Risco alto de hemorragia espontânea • Risco de virar CHC • É necessário suspender o ACO (pode reduzir o tamanho do adenoma) • Morfologia: nódulo subcapsular, solitário, bem delimitado, pálido e com áreas de hemorragia • Micro: proliferação de hepatócitos sem atipias ou com atipias discretas, dispostos em arranjos trabeculares, sem tratos portais Neoplasias hepáticas malignas Hepatoblastoma • Tumor hepático mais comum no início da infância • Neoplasia maligna rara após os 3 anos de idade • Mais comum em meninos • Neoplasia maligna embrionária • Patogênese: mutações em reguladores da via WNT • Fatal em pouco tempo em casos de: Ruptura da massa neoplásica, insuficiência hepática e metástases à distância (pulmões, cérebro, coração e ossos) • Tratamento: quimioterapia e ressecção cirúrgica • Macroscopia: nódulo solitário, de 5 a 25 cm, heterogêneo (necrose, hemorragia, cistos e componentes mesenquimais: osteoide, cartilagem...) • Tipos: Epitelial: composto por pequenas células fetais poligonais ou células embrionárias Misto epitelial + mesenquimal (células estromais, fibrose, osteoide, cartilagem...) Imagem acima: tipo misto Colangiocarcinoma (CCA) • Segundo tumor maligno primário mais comum no fígado • Neoplasia maligna da árvore biliar, ocorrendo nos ductos biliares dentro e fora do fígado • Comuns em ambos os gêneros, após a quinta década de vida e em pacientes não cirróticos • Origem: epitélio dos ductos biliares • Patogênese: inflamação crônica e colestase provocando mutações no epitélio biliar • Localização: Intra-hepático (10%) Peri-hilar ou central (60%): Tumor de Klatskin Extra-hepático distal (30%) • Tumores intra-hepáticos demoram a provocar sintomas então são piores • Tumores peri-hilar e extra-hepático provocam icterícia obstrutiva precoce (colestase), o que facilita o diagnóstico • Macro: lesão branco-acinzentada, firme, infiltrativa e de tamanho variado • Micro: é um adenocarcinoma; forma glândulas; estruturas tubulares atípicas, por vezes com mucina, em meio à estroma desmoplásico abundante • Prognóstico sombrio Carcinoma hepatocelular (CHC) • Neoplasia maligna primária mais comum do fígado • Fator de risco: cirrose hepática • Origem: hepatócitos • Predomina em homens entre 40 e 70 anos • Macroscopia: lesão nodular pequena ou maciça; única ou múltiplas; bem delimitadas • Quando há infiltração difusa é mal delimitada • Microscopia: proliferação de hepatócitos atípicos em arranjos: 1. Trabecular 2. Pseudoglandular 3. Sólido • Alteração do arcabouço reticular • Tumor com alta propensão a invasão vascular • Em 90% dos casos o paciente é assintomático • Quando sintomático: dor abdominal discreta; perda ponderal; prostração; febre; icterícia; ascite... • CHC geralmente se apresenta em estágios mais avançados: prognóstico ruim • Diagnóstico: aumento da a-fetoproteína sérica (produzida mais pelos hepatócitos no período embrionário e fetal; demora a se elevar); exames de imagem e biópsia • Evolução rápida e sobrevida curta • Invade precocemente ramos da veia porta: disseminação intra-hepática precoce • Metástases para linfonodos regionais • Metástases sanguíneas tendem a ser tardias: pulmões, ossos, tubo digestivo • Tratamento geralmente cirúrgico Metástases hepáticas (neoplasias secundárias) • Mais comuns • Fontes mais comuns: cólon, mama, pulmão, estômago e pâncreas • Em geral, nódulos múltiplos, de tamanhos variados e bem delimitados → hepatomegalia volumosa • Pode haver necrose, hemorragia, destruição maciça do parênquima hepático e obstrução de ductos biliares • Clínica de insuficiência hepática e colestase Referências: Robbins & Cotran Patologia - Bases Patológicas das Doenças - 9ª edição – Elsevier; Site Anatpat – Unicamp (http://anatpat.unicamp.br/pecasdc.html); Aulas de patologia médica I da FCMMG
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