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Ativos clareadores APRESENTAÇÃO As camadas dérmica e epidérmica que constituem a pele promovem uma barreira mecânica do organismo ao Meio Ambiente, exercendo uma importante atividade imune frente às influências exógenas, como a radiação ultravioleta, por exemplo. Alguns fatores, internos e externos, afetam a pigmentação da pele. Incluem-se os fatores genéticos, hormonais e a ação dos raios UV. A produção aumentada de melanina é uma reação defensiva da pele, podendo pode ocasionar manchas. Os ativos cosméticos clareadores atuam de diversas maneiras, mas com o objetivo comum de impedir a síntese de melanina. É fundamental conhecer a condição da pele para propor o melhor tratamento. Nesta Unidade de Aprendizagem, você verá o mecanismo de ação dos clareadores cutâneos, bem como riscos e complicações decorrentes do uso de clareadores cutâneos. Ainda, você vai entender a classificação dos cosméticos clareadores conforme os diferentes fototipos cutâneos. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Descrever o mecanismo de ação dos clareadores cutâneos.• Identificar riscos e complicações decorrentes do uso de clareadores cutâneos.• Classificar os cosméticos clareadores conforme os diferentes fototipos cutâneos.• DESAFIO Os fatores exógenos contribuem para a aceleração do envelhecimento cutâneo e, principalmente, para o aparecimento de manchas provientes da radiação solar. Aplicar técnicas específicas após a avaliação clínica do indivíduo traz excelentes resultados. Imagine que você recebeu o seguinte cliente: De posse desses dados, responda: a) Com relação à pele asiática, qual é a melhor indicação de uso: hidroquinona ou arbutin? Justifique. b) É possível afirmar que o surgimento de manchas está associado ao ambiente externo e ao uso de medicamentos? Qual é a relação entre eles? Justifique. c) É possível afirmar que a luz do computador pode contribuir para o surgimento de manchas hipercrômicas? Justifique. INFOGRÁFICO Os melanócitos encontram-se sob a camada basal, sendo responsáveis por favorecer a pigmentação da pele a partir de estímulos internos e externos. Veja, no Infográfico a seguir, o corte histológico da pele humana e a localização dos melanócitos. CONTEÚDO DO LIVRO Cada ativo clareador possui características próprias que interferem na efetividade da sua ação. Analisar a pele relacionando a origem da discromia a ser tratada e escolher o ativo clareador adequado é de fundamental importância. No capítulo Ativos clareadores, da obra Princípios ativos em Estética, você verá o mecanismo de ação dos clareadores cutâneos, bem como os riscos e complicações decorrentes de seu uso. Ainda, você verá a classificação dos cosméticos clareadores conforme os diferentes fototipos cutâneos. Boa leitura. PRINCÍPIOS ATIVOS EM ESTÉTICA Celio Takashi Higuchi Ativos clareadores Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Descrever o mecanismo de ação dos clareadores cutâneos. Identificar riscos e complicações decorrentes do uso de clareadores cutâneos. Classificar os cosméticos clareadores conforme os diferentes fototipos cutâneos. Introdução A melanogênese pode ser influenciada por fatores intrínsecos e extrín- secos e eles afetam diretamente na pigmentação da pele. Entre esses fatores, incluem-se os genéticos, os hormonais e ação dos raios UV. Os ativos clareadores podem atuar por diferentes mecanismos de ação. Eles estão envolvidos diretamente em minimizar ou bloquear a produção ou transferência de pigmentos responsáveis pela pigmentação da pele. Neste capítulo, você conhecerá o mecanismo de ação dos clareado- res cutâneos, identificará riscos e complicações decorrentes do uso de clareadores cutâneos e classificará os cosméticos clareadores conforme os diferentes fototipos cutâneos. Mecanismo de ação dos clareadores cutâneos Sabemos que as camadas epidérmica e dérmica que constituem a pele promo- vem uma barreira mecânica do organismo com o meio ambiente e exercem uma importante atividade imune sobre o organismo frente às infl uências exógenas, como radiação ultravioleta (UV), reagentes tóxicos, infecções, es- tresse mecânico entre outros (FUCHS; RAGHAVAN, 2002). Dentre as células epidérmicas, encontram-se presentes queratinócitos, melanócitos, células de Merkel e de Langerhans (SCHERER; KUMAR, 2010). Os melanócitos são células dendríticas originárias da crista neural que migram durante o desenvolvimento embrionário para a epiderme. São res- ponsáveis pela produção de melanina (COSTIN; HEARING, 2007) e exibem a capacidade de responder a estímulos parácrinos, endócrinos ou por meio externo, como a radiação ultravioleta (UV) (LIN; FISHER, 2007). Os queratinócitos, em resposta à radiação UV, estimulam os melanossomos, organelas exclusivas dos melanócitos, a produzirem melanina por meio de um processo pigmentário da pele chamado de melanogênese. Os melanócitos são encontrados na camada basal da epiderme e formam longos processos dendríticos que se ramificam entre os queratinócitos vizinhos, onde cada melanócito faz contato com cerca de 30 a 40 queratinócitos (MIOT et al., 2009; GRAY-SCHOPFER; WELLBROCK; MARAIS, 2007). A melanogênese pode ser influenciada por fatores intrínsecos (liberados por queratinócitos, fibroblastos, células endócrinas, inflamatórias e neuro- nais) e extrínsecos (radiação ultravioleta e fármacos) (VIDEIRA; MOURA; MAGINA, 2013). A melanina é sintetizada em organelas celulares denominadas melanosso- mos a partir de um precursor comum, a tirosina. Ela sofre atuação química da tirosinase, complexo enzimático cúprico-proteico, sintetizada nos ribossomos e transferida, através do retículo endoplasmático, para o aparelho de Golgi, sendo aglomerada em unidades envoltas por membrana, ou seja, os melanossomas (JIMBOW et al., 1999). Em presença de oxigênio molecular, a tirosinase oxida a tirosina em dopa (dioxifenilalanina) e, depois, em dopaquinona. A partir desse momento, a presença ou a ausência de cisteína determina o rumo da reação para sín- tese de eumelanina ou feomelanina. Na ausência de cisteína (glutationa), a dopaquinona é convertida em ciclodopa (leucodopacromo) e esta em do- pacromo. Há duas vias de degradação de dopacromo: uma que forma DHI (dopa, 5, 6 diidroxiindol) em maior proporção; e outra que forma DHICA (5, 6 diidroxiindol-2-ácido carboxílico) em menor quantidade. Este processo é catalisado pela dopacromo tautomerase. Finalmente, estes diidroxiindóis são oxidados à melanina. A tirosinase relacionada à proteína 1 (Tyrp1) parece estar envolvida na ca- talisação da oxidação da DHICA à eumelanina. Por outro lado, na presença de cisteína, dopaquinona rapidamente reage com tal substância para gerar 5-S-cisteinildopa, e, em menor proporção, a 2-S-cisteinildopa. Logo, as cis- teinildopas são oxidadas em intermediários benzotiazínicos e, finalmente, produzem feomelanina (Figura 1) (MIOT et al., 2009, documento on-line). Ativos clareadores2 Figura 1. Apresentação da esquema bioquímico da síntese de melanina (eumelanina e feomelanina). Legenda: TYR = tirosinase. Fonte: Adaptada de Sulaimon e Kitchell (2003). Além dessas enzimas, fatores não enzimáticos interferem na síntese do pigmento, tais como pH, concentrações íons metálicos ou oligoelementos como o Ca2+ (NOGUEIRA, 2002; OLIVEIRA; ALMEIDA JUNIOR, 2003). Entre as regiões protegidas da radiação UV pela melanina, incluem-se a pele e os olhos (SLOMINSKI et al., 2004). Dentre os fatores que afetam a pigmentação da pele, incluem-se os genéticos, hormonais e a ação dos raios UV. Todos os estágios da melanogênese estão sob controle genético. As características dos melanossomas são codificadas pelos genes de pigmentação. A gravidez e o uso de anticoncepcionais, por exemplo, podem acarretar mudança na coloração epidérmica. O hormônio hipofisário MSH (Melanocyte Stimulating Hormone) é oque favorece o estímulo da melanogênese. Os estrógenos e a progesterona provocam a hiperpigmentação do rosto e da epiderme genital e, por fim, com relação à ação dos raios UV, é válido salientar que a ação dos raios UVB multiplica os melanócitos ativos e estimula a atividade da tirosinase. A produção aumentada de melanina é uma reação defensiva da pele, promovendo a formação do eritema actínico (THIBODEANS, 2004; OLIVEIRA; ALMEIDA JUNIOR, 2003). 3Ativos clareadores A combinação perigosa de alguns medicamentos, como os anticoncepcionais orais, antibióticos e hormônio da gravidez pode deixar a pele mais sensível à luz solar e provocar, dessa forma, uma produção descontrolada de melanina. Com isso, podem aparecer manchas acastanhadas, de contorno indefinido, no rosto, principalmente, nas maçãs do rosto, na testa, no queixo e na região do buço (FIGUEIREDO, 2008). A deficiência na melanogênese possui um impacto fisiológico em vários órgãos e contribui para a etiologia de distúrbios pigmentares adquiridos, como vitiligo e melasma. Essas alterações pigmentares causam um importante impacto na qualidade de vida do paciente, de modo que estratégias voltadas para a nor- malização da pigmentação podem trazer benefícios diretamente (EL-MOFTY; ESMAT; ALDEL-HALIM , 2007). O tratamento de alterações hiperpigmentadas pode ser feito com base em ativos cosméticos clareadores, que auxiliam a reduzir a hiperpigmentação da pele de acordo com cada caso. Eles atuam em regiões específicas do corpo, por mecanismos distintos, sendo apresentados sob diversas apresentações cosméticas (GONCHOROSKI; CÔRREA, 2005). Os ativos clareadores podem atuar por diferentes mecanismos de ação. Contudo, todos eles estão ligados à produção ou à transferência de pigmentos. Cada ativo clareador tem características próprias, que interferem na efetividade da sua ação. Características físicas, químicas, físico-químicas, terapêuticas, microbiológicas e toxicológicas devem ser observadas no momento da escolha de um ativo clareador, bem como a origem da discromia a ser tratada (VASHI; KUNDU, 2013). A seguir, confira exemplos de ativos clareadores, divididos em inibidores da tirosinase, redutores da formação de radicais livres e inibidores da transferência de melanossomos. Inibidores da tirosinase ■ Ácido kójico: inibe a ação da tirosinase como quelante de íons. Quela o íon presente nessa enzima e bloqueia todo o mecanismo de produção da melanina, promovendo a diminuição da formação de pigmento (RENDON; GAVIRIA, 2005). ■ Hidroquinona: inibe a tirosinase, reduzindo a conversão de dopa em melanina. Também pode destruir melanócitos, degradar melanossomos e inibir a síntese de DNA e RNA. É indicada no clareamento gradual Ativos clareadores4 de melasmas ou cloasmas, sardas, melanose solar e em condições nas quais ocorre hiperpigmentação cutânea por produção excessiva de melanina (NORDLUND et al., 2006; DRAELOS, 2007). ■ Ácido azelaico: inibe a ativação da oxirredutase mitocondrial e a síntese de DNA, bem como a tirosinase. Apresenta um efeito mínimo sobre pigmento normal e maior efeito em melanócitos pigmentados (SARKAR; BHALLA; KANWAR, 2002). Tem ação como despig- mentante cutâneo, inibe a síntese de melanina no melanócito anormal ou hiperativo e é indicado para lentigo maligno, hipercromia pós- -inflamatória e hiperpigmentação fotoquímica (AGÊNCIA..., 2005). ■ Arbutin (Uva ursi): inibe a estrutura melanossômica durante a síntese de melanina. Uma redução da atividade dose-dependente da tirosinase e conteúdo de melanina em melanócitos tem sido demonstrada (LEI et al., 2002). Arbutin (hidroquinona-D-glucopiranósido) e metilarbutin são glicosídeos com efeito clareador da pele encontrados na espécie Arctostaphylos uva ursi (HALDER; RICHARDS, 2004). ■ Licorice (Glycyrrhiza glabra): em pesquisas realizadas em cultura de células de camundongo, verificou-se que o principal componente do extrato de licorice, a glabridina, é capaz de inibir a tirosinase sem afetar a síntese de DNA e, além disso, outro componente presente, a liquiritina, favorece a dispersão da melanina, contribuindo no clare- amento cutâneo (COSTA et al., 2010; DRAELOS; ELSTON, 2011). ■ Emblica (Phyllanthus emblica): em função da presença de polifenóis em sua composição, inibe moderadamente a peroxidase e fortemente a reação do Fe com o peróxido. Tem a capacidade de inibir a tirosinase, pois é quelante de íon (COSTA et al., 2010). ■ Ácido retinóico: seu mecanismo de ação se caracteriza pelo afi- namento e pela compressão do extrato córneo, reversão de atipias em células epidérmicas, dispersão da melanina na epiderme, esti- mulação da deposição dérmica do colágeno, aumento da deposição de glicosaminoglicanos e aumento da neovascularização da derme (DRÉNO et al., 2011). Como o ácido retinóico apresenta um fator de gene transcriptor específico, é considerado um hormônio (KEDE; SABATOVICH, 2015). Indica-se nos casos de fotoenvelhecimento leve a moderado, melasma, acne, cicatrizes superficiais e hiperpigmentação pós-inflamatória (FAGHIHI; SHAHINGOHAR; SIADAT, 2011). Redutores de formação de radicais livres ■ Vitamina C: interfere na síntese pigmentária, pois interage com íons cobre durante a atividade da tirosinase, reduzindo a síntese da dopa- 5Ativos clareadores quinona. Para o ácido L-ascórbico de magnésio-2-fosfato (MAP), um derivado estável da vitamina C tem sido demonstrado um potente efeito inibitório da pigmentação (RENDON; BENITEZ; GAVIRIA, 2004). ■ Ácido ferúlico: protege a vitamina C em 90% e a vitamina E em 100%, reduz a formação de dímeros de timina gerados e apoptose dos queratinócitos induzida pela radiação UV. O ácido age sinergicamente com outros antioxidantes e fornece hidrogênio para a neutralização dos radicais livres, como os superóxidos, óxido nítrico e radicais hidroxilas, compostos relacionados com o envelhecimento celular (SAIJA et al., 2000). Topicamente, inibe os danos oxidativos oriundos da radiação UV e protege a pele contra eritema e apoptose associados a dano celular. Em função de sua estrutura molecular, permite interação com a bicamada lipídica da membrana plasmática, o que ocasiona a proteção contra a peroxidação lipídica e inibe as enzimas citostáticas associadas à inflamação (MURRAY et al., 2008). ■ Resveratrol: Park e Boo (2013) e Yanagihara et al. (2012) obtiveram resultados positivos para o resveratrol como inibidor da tirosinase em análises in vitro e com medições espectrofotométricas. Esse ativo foi sugerido como um potente inibidor seletivo e também foi demonstrado, comparativamente, que, com o aumento da concentração do resveratrol no meio, tem-se a diminuição da síntese de melanina. ■ Margarida (Bellis perennis): ativo que, comprovadamente, inibe a ET-1; além disso, promove redução da ligação do alfa-MSH (hormônio melanotrófico-alfa) aos seus receptores, com consequente diminuição da produção de eumelanina. Promove a redução da formação de radicais livres e, após a formação de melanina, exerce papel direto no clareamento cutâneo, reduzindo a transferência dos melanossomos formados no melanócito para as células epidérmicas, diminuindo, assim, a pigmentação cutânea (COSTA et al., 2010). Inibidores da transferência de melanossomos ■ Niacinamida: em ensaios in vitro, culturas de melanócitos foram tratadas com 1,0 mmol/L de niacinamida durante 12 dias. A niacina- mida não afeta a quantidade de melanina sintetizada e não tem efeito inibitório sobre atividade da tirosinase melanocítica em coculturas de melanócitos e queratinócitos incubados. Houve uma inibição signifi- cativa da transferência de melanossomos e, portanto, o efeito clareador da niacinamida parece ser bastante mais baseado na supressão de Ativos clareadores6 pigmento espalhando-se do que na inibição direta da produção de melanina. O uso tópico de nicotinamida pode efetivamente reduzir a pigmentação cutânea (Figura 2) (HAKOZAKI et al., 2002). Pesqui- sadorespropuseram que a niacinamida é uma alternativa terapêutica efetiva e integral para o tratamento do melasma e, além de reduzir a pigmentação e a inflamação, reduz as alterações degenerativas causadas pelo sol com o mínimo de efeitos adversos (NAVARRET- -SOLÍS, 2011). Figura 2. Mecanismo da pigmentação da pele influenciado pela radiação UV. Fonte: Barks / Shutterstock.com. De acordo com Kim et al. (2003), com base em estudos realizados em cultura de células Mel-Ab, cultura de melanócitos humanos e de ensaios de atividade da tirosinase in vitro, quando essas células foram submetidas a variações de temperatura de incubação por períodos determinados de tempo, verificou-se variações na atividade da tirosinase. Mudanças ambientais, como a variação de temperatura, influenciam a morfologia de melanócitos, o grau de atividade enzimática da tirosinase e a síntese de melanina; em temperaturas de 27°C a 31°C, a atividade enzimática é reduzida de maneira temperatura- -dependente e, portanto, diminui a síntese de melanina. 7Ativos clareadores Riscos e complicações decorrentes do uso de clareadores cutâneos Não é fácil tratar a pele hiperpigmentada, já que muitos dos compostos efetivos para esse tratamento podem ser substâncias irritantes e promover a desca- mação. Além disso, nem sempre o resultado é imediato, mas, sim, gradual. Dependendo dos tipos, é possível fazer com que as manchas desapareçam ou, pelo menos, sejam atenuadas. Quanto mais cedo for adotado um mecanismo contra o seu surgimento, melhores serão os resultados obtidos — por isso, a prevenção é fundamental (VASHI; KUNDU, 2013). É importante destacar que todos os ativos podem, oportunamente, ser acompanhados de alguns riscos e complicações decorrentes de seu uso e, portanto, a finalidade de uso, o modo de aplicação, a quantidade de produto por aplicação, a frequência de uso, o tempo de contato, a superfície de aplicação e o consumidor-alvo são fundamentais e devem ser respeitados para minimizá-los. Inibidores da tirosinase ■ Ácido kójico: pode causar alergias de contato e tem alto potencial de sensibilização, mas não foram constatados efeitos teratogênicos. Em comparação com os demais clareadores usados comumente para o tratamento de manchas, é menos irritante e mais suave e não causa fotossensibilização, o que permite que se use durante o dia (RENDON; GAVIRIA, 2005). ■ Hidroquinona: acarreta efeitos citotóxicos linfocitários, observa- dos pelo prejuízo de diferentes funções celulares (LEE et al., 2002; DIMITROVA et al., 2005), na proliferação e secreção de citocinas, tanto das células circulantes e de órgãos linfóides secundários quanto de células provenientes da medula óssea (MCCUE et al., 2003; CHO, 2008), além de causar inibição da blastogênese e inter- ferência na progressão do ciclo de células T (FRAZER-ABEL et al., 2007). O tratamento com hidroquinona pode causar vermelhidão, coceira, descamação, inflamação excessiva, vesículas (bolhas) e sensação leve de queimação. Outras reações menos frequentes também podem derivar do uso, como manchas marrons reversíveis nas unhas. Não se deve utilizar hidroquinona em grandes áreas do corpo, evitando o contato com os olhos e em pele irritada e com presença de queimaduras solares. Gestantes e lactantes também não devem usar o produto. Ativos clareadores8 A partir de 31/12/2007, o uso da hidroquinona foi proibido em muitos continentes e, de acordo com a Resolução DC/ANVISA nº. 215, de 25/07/2005, a hidroquinona não pode ser utilizada em cosméticos como agente para clarear a pele localmente em concentração de 2%, e sua utilização em produtos cosméticos foi proibida a partir de 2007 (ANVISA, 2005). Mesmo com a publicação da resolução RDC 03/2012, que não cita a substância hidroquinona, a Anvisa tem negado o registro de produtos cosméticos que contenham a hidroquinona. Inclusive os produtos que já estavam no mercado antes da norma já retiraram a hidroquinona da sua composição, já que o registro de cosméticos tem validade de 5 anos e, no momento da renovação do registro, a Anvisa exigiu que as empresas retirassem a substância dos cosméticos que ainda trouxesse a hidro- quinona na sua formulação. No Brasil, não existe cosmético com hidroquinona em sua fórmula. Esse ativo é autorizado em medicamentos, mais especificamente na categoria dos desmelanizantes, que têm concentração de 4% na forma de creme ou gel dermatológico. Além disso, medicamentos desse tipo estão sujeitos a indicação médica (AGÊNCIA..., 2012). ■ Ácido azelaico: o uso do ácido pode levar ao surgimento de irritações locais, como, por exemplo, rubor ou descamação, assim como pru- rido e ardor, que diminuem no decurso do tratamento. Dependendo do tipo de formulação, a maior parte da dose aplicada é excretada inalterada na urina. A Câmara Técnico de Cosméticos (CATEC) recomenda proibir o uso do ácido azeláico em produtos cosméticos em qualquer concentração de uso, já que esse ácido não está inscrito no CIR (Cosmetic Ingredient Review) como substância de uso cosmético (AGÊNCIA..., 2005). ■ Arbutin (Uva ursi): apesar de alguns fabricantes contraindicarem o seu uso durante a gestação e a substância ainda não ser classificada pelo FDA, o arbutin tem sido frequentemente utilizado em gestantes, principalmente nas orientais. Não causa irritação e praticamente nenhuma reação de hipersensibilidade (AREFIEV; HANTASH, 2012; 9Ativos clareadores GAEDTKE, 2011). O arbutin é um clareador de origem natural e o seu principal componente é 4-hidroxifenil-glicosídeo. Em concen- tração usual, não apresenta toxicidade e atua de forma semelhante à hidroquinona (AZULAY; AZULAY, 2011). Em estudos, apresentou ação inibidora sobre a tirosinase, ausência de lesões e menor citoto- xicidade, sendo alternativa segura para tratamentos de hipercromias (MOREIRA et al., 2010). ■ Ácido retinóico: produz eritema, descamação e é fotossensibilizante — por isso, deve ser usado à noite. Não deve ser usado em mulheres grávidas. Em dermatologia, os retinóides são fármacos formalmente contraindicados para gestantes, pois são potencialmente teratogênicos e podem causar graves defeitos na face, nas orelhas, no coração e no sistema nervoso do feto. É indispensável o uso de fotoprotetores durante o dia (FIGUEIRÓ; FIGUEIRÓ-FILHO; COELHO, 2008). Esse ácido é restrito para fins cosméticos e sua venda é condicionada pela prescrição de um médico. Estudos demonstraram que o uso do protetor solar de amplo espectro, UVA e UVB, associado a cremes despigmentantes, constituem a base fundamental no tratamento do melasma (STEINER et al., 2009). Redutores de formadores de radicais livres ■ Vitamina C: pode ocorrer sensibilização cutânea em alguns indi- víduos na apresentação na forma ácida da vitamina a 10%, mas a vitamina é considerada muito segura para uso (GÊNCIA..., 2001). ■ Ácido ferúlico: tem uso contraindicado caso apresente alergia com algum componente como trigo, cevada ou milho (LIN et al., 2005). Ativos clareadores10 Para saber mais sobre a fisiopatologia do melasma, leia o artigo no link a seguir. https://goo.gl/WFdsKU Para combater a hiperpigmentação, é imprescindível adotar um conjunto de compor- tamentos para minimizar o aparecimento de manchas e reencontrar uma tez luminosa e homogênea. Há certas zonas de alto risco que devemos proteger com maior cuidado durante a exposição solar: o rosto, principalmente a zona zigomática, o contorno dos olhos, os lábios, o nariz, o peito, os ombros e as costas. Proteger o rosto da radiação ultravioleta retarda significativamente o processo de envelhecimento produzido pelos raios solares (FLOR; DAVOLOS; CORREA, 2007). Cosméticos clareadores e os diferentes fototipos cutâneos A cor da pele está relacionada a uma série de fatores. A pigmentação consti- tutiva da pele é herdada geneticamente, sem interferência da radiação solar e, portanto, constante. A cor facultativa da pele é reversível, pode ser induzida e resulta da exposiçãosolar (SOCIEDADE..., 2017). A mais famosa classi- fi cação dos fototipos cutâneos é a escala Fitzpatrick, criada em 1976 pelo médico norte-americano Thomas B. Fitzpatrick, que classifi cou a pele em fototipos de um a seis, a partir da capacidade de cada pessoa em se bronzear, assim como por sensibilidade e vermelhidão quando exposta ao sol. Confi ra a escala no Quadro 1: 11Ativos clareadores Maio (2011). Fototipos Descrição Sensibilidade ao sol I – Branca Queima com facilidade, nunca bronzeia Muito sensível II – Branca Queima com facilidade, bronzeia muito pouco Sensível III – Morena Clara Queima moderadamente, bronzeia moderadamente Normal IV – Morena Moderada Queima pouco, bronzeia com facilidade Normal V – Morena Escura Queima raramente, bronzeia bastante Pouco sensível VI – Negra Nunca queima, totalmente pigmentada Insensível Quadro 1. Classificação de Fitzpatrick É importante afirmar que, a partir dos graus IV ao VI, os melanócitos apre- sentam sensibilidade aumentada e resposta exagerada às agressões cutâneas, facilitando as hiperpigmentações pós-inflamatórias (SALGADO, 2011). Veja, a seguir, no Quadro 2, as substâncias relacionadas aos fototipos. Inibidores da tirosinase Substância Fototipos permitidos Referência Ácido kójico Indicado o uso em todos os fototipos. Entretanto, há profissionais que indicam o uso em fototipos de I a III em função da concentração utilizada e do local de aplicação. RENDON; GAVIRIA, 2005 Hidroquinona Indicado o uso em fototipos I, II e III. De qualquer maneira, dependendo da concentração utilizada e com acompanhamento de um profissional da área médica, é possível utilizar a hidroquinona em todos os fototipos. FRAZER- ABEL et al., 2007 (Continua) Ativos clareadores12 Inibidores da tirosinase Substância Fototipos permitidos Referência Ácido azelaico Indicado o uso em todos os fototipos. Entretanto, há profissionais que indicam o uso em fototipos de I a III em função da concentração utilizada e do local de aplicação. SARKAR; BHALLA; KANWAR, 2002 Arbutin Indicado o uso em todos os fototipos. Respeite sempre a concentração utilizada e o local de aplicação. AREFIEV; HANTASH, 2012 Licorice Indicado o uso em todos os fototipos. Respeite sempre a concentração utilizada e o local de aplicação. COSTA et al., 2010 Emblica Indicado o uso em todos os fototipos. Respeite sempre a concentração utilizada e o local de aplicação. COSTA et al., 2010 Ácido retinóico Indicado o uso em todos os fototipos. Respeite sempre a concentração utilizada e o local de aplicação. FIGUEIRÓ; FIGUEIRÓ- FILHO; COELHO, 2008 Redutores de formadores de radicais livres Substância Fototipos permitidos Referência Vitamina C Indicado o uso em todos os fototipos. Respeite sempre a concentração utilizada e o local de aplicação. RENDON; BENITEZ; GAVIRIA, 2004 Ácido ferúlico Indicado o uso em todos os fototipos. Respeite sempre a concentração utilizada e o local de aplicação. SAIJA et al., 2000 Resveratrol Indicado o uso em todos os fototipos. Respeite sempre a concentração utilizada e o local de aplicação. YANAGIHARA et al., 2012 Margarida Indicado o uso em todos os fototipos. Respeite sempre a concentração utilizada e o local de aplicação. COSTA et al., 2010 (Continua) (Continuação) 13Ativos clareadores Os queratolíticos podem resultar em clareamento cutâneo indireto em função do aumento da renovação celular. A seguir, veja alguns exemplos: Ácido glicólico: acelera o turnover da epiderme e estimula a síntese de colágeno. Diminui a adesão entre os corneócitos, melhorando a permeação de outros ativos associados. Ácido mandélico: atua na inibição da síntese da melanina e na melanina já depo- sitada na superfície da epiderme, ajudando a promover uma eficaz remoção dos pigmentos hipercrômicos. No mercado cosmético, podem ser encontrados diversos tipos de produtos com apelo clareador com ativos diferenciados e inovadores. São muito comuns as máscaras em pó para tratamentos clareadores e pós-depilação, promovendo oxigenação e iluminando a pele. Fonte: Adaptado de Rendon e Gaviria (2005), Frazer-Abel et al. (2007), Sarkar, Bhalla e Kanwar (2002), Arefiev e Hantash (2012), Costa et al. (2010), Figueiró, Figueiró-Filho Coelho (2008), Saija et al. (2000), Yanagihara et al. (2012) e Hakozaki et al. (2002). Inibidores da transferência de melanossomos Substância Fototipos permitidos Referência Niacinamida Indicado o uso em todos os fototipos. Respeite sempre a concentração utilizada e o local de aplicação. HAKOZAKI et al., 2002 (Continuação) Ativos clareadores14 1. Sabemos que, entre os fatores que afetam a pigmentação da pele, incluem-se os genéticos, hormonais e a ação dos raios UV e que todos os estágios da melanogênese estão sob controle genético. A partir dessa afirmação, assinale a alternativa correta. a) O uso de anticoncepcionais pode favorecer a mudança na coloração epidérmica. b) Os hormônios estrógenos e a testosterona podem provocar a hiperpigmentação do rosto e da epiderme genital. c) Os raios UVA podem favorecer a multiplicação dos melanócitos e estimular a atividade da tirosinase. d) O hormônio hipofisário EGF é o que favorece o estímulo da melanogênese. e) A gravidez e o uso de anticoncepcionais não podem acarretar mudança na coloração epidérmica. 2. O tratamento de alterações hiperpigmentadas pode ser feito com base em ativos cosméticos clareadores, que auxiliam a reduzir a hiperpigmentação da pele. Assinale a alternativa correta sobre os ativos e mecanismos de ação a seguir. 1) Arbutin: inibidor da tirosinase. 2) Ácido kójico: inibidor da tirosinase. 3) Ácido ferúlico: redutores de formação de radicais livres. 4) Niacinamida: inibidor da transferência de melanossomos. a) hidroquinona e ácido kójico. b) vitamina C e ácido kójico. c) ácido azelaico e ácido kójico. d) hidroquinona e ácido retinóico. e) vitamina C e ácido glicólico. 3. Qualquer substância química que apresenta efeito de interesse também vem acompanhada de efeitos colaterais. Inclusive, dependendo da natureza química da substância, deve-se restringir o uso em determinados públicos- alvo. Dessa forma, os ativos proibidos para gestantes são: a) hidroquinona e ácido kójico. b) vitamina C e ácido kójico. c) ácido azelaico e ácido kójico. d) hidroquinona e ácido retinóico. e) vitamina C e ácido glicólico. 4. O uso da hidroquinona é proibido em muitos continentes, pois pode causar vermelhidão, coceira, descamação, inflamação excessiva, vesículas (bolhas) e sensação leve de queimação. Em relação à comercialização e ao registro dessa substância no Brasil, assinale a alternativa correta. a) É proibido seu uso em qualquer forma de apresentação e registro. b) São permitidos cosméticos com hidroquinona em sua fórmula. c) São permitidos cosméticos com hidroquinona na categoria dos desmelanizantes em sua fórmula. 15Ativos clareadores AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Parecer Técnico nº 1, de 9 de junho de 2005. Proibição do uso de ácido azeláico em produtos cosméticos. Brasília, DF, 2005. 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EXERCÍCIOS 1) Entre os fatores que afetam a pigmentação da pele, incluem-se os fatores genéticos, os hormonais e a ação dos raios UV. Todos os estágios da melanogênese estão sob controle genético. A partir dessa afirmação, assinale a alternativa correta. A) O uso de anticoncepcionais pode favorecer a mudança na coloração epidérmica. B) Os hormônios estrógenos e a testosterona podem provocar a hiperpigmentação do rosto e da epiderme genital. C) Os raios UVA podem favorecer a multiplicação dos melanócitos e estimular a atividade da tirosinase. D) O hormônio hipofisário EGF favorece o estímulo da melanogênese. E) A gravidez e o uso de anticoncepcionais não podem acarretar na mudança da coloração epidérmica. 2) A realização do tratamento de alterações hiperpigmentadas pode ser feito com base em ativos cosméticos clareadores, que auxiliam na redução da hiperpigmentação da pele, de acordo com cada caso. Assinale a alternativa correta sobre as relações entre o ativo e os mecanismos de ação a seguir: a) Arbutin - inibidor da tirosinase. b) Ácido kójico - inibidor da tirosinase. c) Ácido ferúlico - redutores de formação de radicais livres. d) Niacinamida - Inibidores da transferência de melanossomos. A) Todos estão corretos. B) Apenas três estão corretos. C) Apenas dois estão corretos. D) Somente um está correto. E) Nenhum está correto. 3) Qualquer substância química que apresenta efeito de interesse vem acompanhada, também, de efeitos colaterais. Dependendo da natureza química da substância, deve- se restringir o uso em determinado público-alvo. Os ativos proibidos para gestantes são: A) hidroquinonae ácido kójico. B) vitamina C e ácido kójico. C) ácido azelaico e ácido kójico. D) hidroquinona e ácido retinoico. E) vitamina C e ácido glicólico. 4) O uso da hidroquinona é proibido em muitos continentes, podendo causar vermelhidão, coceira, descamação, inflamação excessiva, vesículas (bolhas) e sensação leve de queimação. Quanto à comercialização e ao registro dessa substância no Brasil, podemos afirmar que: A) o seu uso é proibido em qualquer forma de apresentação e registro. B) pode existir cosmético com hidroquinona em sua fórmula. C) pode existir cosmético com hidroquinona na categoria dos desmelanizantes em sua fórmula. D) pode ser comercializado o ativo na forma de medicamento, sem necessidade de indicação médica. E) pode ser comercializado o ativo na forma de medicamento, sujeito à indicação médica. 5) Segundo a classificação de Fitzpatrick e a indicação segura de ativos cosméticos de acordo com os profissionais, é recomendável respeitar o uso em fototipos elevados com os seguintes ativos: A) vitamina C e ácido azelaico. B) niacinamida e ácido azelaico. C) ácido kójico e niacinamida. D) ácido kójico e ácido azelaico. E) ácido kójico e vitamina C. NA PRÁTICA Os produtos cosméticos clareadores atuam em diversas etapas da síntese de melanina. Dessa forma, é possível encontrar inúmeros ativos em um mesmo produto que desempenhem ação clareadora para minimizar ou bloquear a pigmentação na pele. Na Prática, você vai conhecer um produto com essa proposta. SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Associação de emblica, licorice e belides como alternativa à hidroquinona no tratamento clínico do melasma Avaliação da eficácia e segurança clínica do complexo despigmentante emblica, licorice e belides, em comparação à hidroquinona 2%, na abordagem do melasma. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Hidroquinona: efeitos colaterais Neste vídeo, você verá uma explicação dos principais efeitos colaterais da hidroquinona ao ser usada no tratamento para clarear a pele. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
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