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A prática da literatura no espaço escolar APRESENTAÇÃO Nesta Unidade de Aprendizagem, vamos fazer uma reflexão sobre a prática da literatura em sala de aula. Para isso, é preciso questionar sua própria relação com a literatura, enquanto professor. Você lê os livros escolhidos e procura relacionar-se com eles enquanto leitor, antes de ser professor, ou toma o volume nas mãos sem se preocupar em apreciar a obra? Você envolve-se com os livros de literatura, como com os livros didáticos que utiliza em sala? Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Analisar a prática pedagógica com relação à literatura em sala de aula.• Identificar oportunidades de melhoria com relação à literatura em sala de aula.• Construir estratégias que promovam a prática da literatura no espaço escolar.• DESAFIO "A literatura aproxima as pessoas. Através dela poderemos conseguir, na prática, que os nossos alunos tenham desejo de frequentar a escola, de caminhar em direção a ela, curiosos pela nova história ou pela continuação da história já iniciada pela professora. Por que não começar o turno de trabalho contando histórias? Sem rigor. Sem a obrigatoriedade de uma atividade, mas desejando essa atividade. Implicando as crianças nessa proposta. Deixando que cada um contamine a sala com fadas, cavalos alados, bruxas e feiticeiros, guerreiros possantes, armas e flores, guerras e amores e todos os elementos que contam sobre a vida pelo viés da metáfora" (LOIS, 2010, p. 84). Pensando nisso, seu desafio é criar uma atividade relacionada à leitura em sala de aula. Você deverá: 1. Dar um título para a atividade. 2. Estabelecer um objetivo - Aqui o mediador deverá registrar o que espera da atividade. Ou melhor, o que ele espera que os estudantes conquistem com essa atividade. O objetivo deverá ser criteriosamente definido, sem esquecer que não pretendemos pedagogizar a leitura e a escrita literária. 3. Descrever as etapas da atividade - Presumindo que o mediador já saiba a atividade que irá realizar, o livro que vai ler e as ideias que teve para conduzir o trabalho de literatura, resta agora descrevê-la passo a passo. 4. Descrever o material necessário para realização da atividade. Presumindo que o mediador já saiba a atividade que irá realizar, o livro que vai ler e as ideias que teve para conduzir o trabalho de literatura, resta agora descrevê-la passo a passo. INFOGRÁFICO O infográfico a seguir trata da importância de se aproveitar os espaços escolares para o trabalho com a leitura. CONTEÚDO DO LIVRO É interessante que o espaço físico da sala de aula ofereça aos estudantes uma condição material confortável para o estudo e a concentração. Entretanto, não é só isso que define o espaço como aprazível. Leia a o capítulo sobre "A prática da literatura no espaço escolar" do livro Literatura infantojuvenil. Este conteúdo servirá como base teórica desta unidade. Boa leitura! LITERATURA INFANTOJUVENIL Debbie Mello Noble A prática da literatura no espaço escolar Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Analisar a prática pedagógica com relação à literatura na escola. Examinar estratégias e práticas de leitura da literatura em sala de aula. Apontar os elementos constituintes de um plano de aula sobre lite- ratura infantojuvenil. Introdução O papel da literatura na escola tem se transformado ao longo dos anos, e ela tem perdido espaço, à medida que surgem, cada vez mais, outras formas de leitura, principalmente com a ampliação do acesso às novas tecnologias. No entanto, o cenário nem sempre foi esse. Por muito tempo, segundo Cosson (2015), a leitura de obras literárias completas foi um pressuposto básico da formação de um leitor. A literatura antiga foi base para o ensino do grego e do latim e, posteriormente, para o ensino da língua nacional. Na sala de aula dos dias de hoje, o professor encontra diversos desafios para efetivar com os alunos a prática da leitura literária. Dentre eles, está tanto a necessidade de proporcionar o acesso mediado de literatura a crianças e adolescentes de uma nova geração quanto a reflexão sobre o seu papel de professor e mediador. Neste capítulo, você verá uma reflexão sobre as possíveis concep- ções de leitura que podem ser assumidas pelo professor, bem como analisará o papel da escola em relação à leitura literária. Além disso, aprenderá diferentes estratégias e práticas de leitura literária na sala de aula e conhecerá os elementos que constituem um plano de aula de literatura infantojuvenil. A literatura na escola O espaço da literatura na escola sofreu diversas transformações ao longo do tempo. Essas transformações foram de ordem social, uma vez que o acesso ao livro e à literatura tornam-se cada dia mais distantes das classes menos privilegiadas; e de ordem técnica e pedagógica, com a entrada massiva dos livros didáticos, no século XX, e das novas tecnologias em sala de aula, nos dias atuais, que demandam do professor novos aprendizados e que dê conta de diferentes linguagens no seu dia a dia. Tudo isso reduziu o espaço da leitura literária na escola, mas não a extin- guiu. Para Cosson (2015), a leitura na escola tem se dividido pedagogicamente em uma leitura para fruição e deleite, geralmente no ensino fundamental, e a leitura aplicada, destinada ao aprendizado de algum outro elemento que não ela mesma, por exemplo, a utilização de um texto literário como pretexto para o ensino de gramática. Para o autor, nenhuma dessas concepções, praticadas isoladamente ou em apenas um dos níveis da educação básica, é eficaz. Segundo Cosson (2015, documento on-line), “A leitura literária na escola, portanto, precisa ter obje- tivos e práticas pedagógicas bem definidos que não devem ser confundidos simplesmente com o ensinar um conteúdo sobre a literatura, nem com uma simples atividade de lazer”. Um importante ponto para se pensar na prática da leitura literária na escola é compreender de que concepção de leitura está se falando. Esse aspecto é ressaltado por Ezequiel da Silva (1999, p. 11), quando afirma que o modo de compreender qualquer processo “[...] influencia diretamente as suas formas de agir quando esse processo for acionado na prática, em situações concretas de vida”. Assim, se o professor em formação entende que a leitura é um processo mecânico de decodificação e que basta ensinar o código à criança para torná-la leitora, esse é um aspecto que será reproduzido em sua prática docente. Para Silva (1999), esta é uma das formas de concepção de leitura entendidas como redutoras. Para o autor, essas concepções, se assumidas pelo professor, podem se opor ao objetivo da escola de formar os leitores necessários à nossa sociedade. Por esse motivo, é importante ressaltar que o acesso ao “código” da escrita é, sim, essencial à compreensão da leitura, porém igualmente importante é perceber que a criança já lê à sua própria maneira bem antes de ser alfabeti- zada. Segundo Maricato (2007, documento on-line), ela o faz “[...] folheando e olhando figuras, ainda que não decodifique palavras e frases escritas. Ela aprende observando o gesto de leitura dos outros — professores, pais ou outras crianças”. A prática da literatura no espaço escolar2 Para Ezequiel da Silva (1999, documento on-line), uma perspectiva inte- ressante de ser assumida pelo professor é a da leitura como “[...] uma prática social de interação com signos, permitindo a produção de sentido(s) através da compreensão-interpretação desses signos”. Em outras palavras, isso significa que o leitor, diante de um texto, produz sentidos a partir dos signos grafados, o que o permite acionar seu repertório prévio de experiências. Da mesma forma que os repertórios de cada sujeito são diferentes, suas formas de atribuir sentidos diante de um texto também serão. A concepção de leitura proposta por Silva(1999) pode ser sintetizada da seguinte maneira: ler é uma prática social; ler é interagir com o texto e com o repertório de experiências de cada um; ler é produzir sentidos; ler é compreender e interpretar. Não é somente a concepção de leitura adotada por parte dos professores que merece atenção. A prática da leitura literária nas escolas, muitas vezes, é completamente baseada nos trechos de textos literários disponíveis nos livros didáticos. E o livro didático, diante das precárias condições econômicas do sistema público escolar como um todo, é, muitas vezes, a única opção de o professor viabilizar o acesso a um mesmo texto por toda a classe. Esse material, no entanto, é quase sempre pouco convidativo, e, além disso, possui trechos reduzidos e descontextualizados de textos literários muito ricos. Segundo Martins (1997, p. 25), “Esses textos condensados, supostamente digeríveis, dão a ilusão de tornar seus usuários aptos a conhecer, apreciar e até ensinar as mais diferentes disciplinas”, mas, pelo contrário, podem acabar inibindo o gosto pela leitura. Por fim, ainda apresentam atividades de inter- pretação com uma única resposta prevista, centrando ainda mais a perspectiva de aluno e professor na leitura como tarefa e que não produz multiplicidade de interpretações. É claro que há exceções tanto no que se refere ao modo como o livro didático apresenta a leitura quanto à forma como a escola lida com esse material. No entanto, essa série de elementos, quando aparecem em uma sala de aula sem uma mediação adequada do professor, pode vir a afastar o aluno da leitura. É importante que a mudança de perspectiva de leitura se efetive, porém, alerta Silva (1999, documento on-line), “[...] também deve ser acompanhada de uma série de ações da organização escolar como um todo”. Isso quer dizer que não somente os professores podem acrescer suas práticas pedagógicas de 3A prática da literatura no espaço escolar ações consistentes relacionadas à leitura, mas também articular com a escola diferentes estratégias de promoção da leitura. A seguir, você verá algumas sugestões de como realizar essa articulação necessária. O papel da escola Se as gerações que chegam à escola estão cada vez mais “conectadas” em relação às novas tecnologias, o trabalho da escola não tem como ser outro além de uma prática que leve os alunos a “[...] transpor fronteiras simbólicas” (GALLO, 2012, p. 54). Esta transposição de fronteiras está diretamente relacionada à produção de gestos de interpretação pelo aluno. Isto é, a escola não é lugar de instrumentação técnica dos alunos, até porque esta geração já chega com uma bagagem diferente do que a escola poderia ensinar nesse sentido, mas o trabalho possível — e neces- sário — a ser realizado é o de “[...] compreensão dos vários tipos de organização textual, que compõem o mundo da escrita” (SILVA, 1999, documento on-line). Diante disso, existem algumas ações que podem ser tomadas pela escola como um todo nesse sentido. Para que o aluno tenha acesso a diferentes tipos de organização textual, dentre eles o texto literário, é preciso que a escola descentralize as ações relacionadas à leitura, que geralmente ficam a cargo somente dos professores alfabetizadores e de linguagens. A seguir, veja ações sugeridas por Silva (1999) para que a escola promova a leitura: discussão coletiva sobre a promoção da leitura a partir do projeto pe- dagógico da escola; estruturação ou melhoria do acervo da biblioteca, levando-se em con- sideração tanto os títulos canônicos quanto os best-sellers, obras pelas quais os jovens costumam se interessar mais; reflexão sobre o currículo de leitura ao longo das diferentes séries, para evitar redundâncias e permitir o planejamento de sequências mais pedagógicas e menos improvisadas. Nessas sugestões mais amplas de Silva, podemos englobar diversos outros elementos específicos. Por exemplo, a partir de uma reflexão coletiva sobre a promoção da leitura na escola, é possível organizar eventos literários, como saraus e feiras de troca de livros envolvendo toda a comunidade escolar. Em geral, os eventos literários, quando acontecem, centram-se na participação do aluno, sendo mais uma atividade obrigatória da qual ele precisa “dar conta”. Por outro lado, ao envolver verdadeiramente a comunidade escolar, contando A prática da literatura no espaço escolar4 não só com a presença de pais, familiares e amigos, mas com o envolvimento na organização e na apresentação destes também, a escola tira a leitura do lugar de obrigação e a coloca em um lugar de desfrute e reflexão coletivos. Você conhece o Sarau Cooperifa? A Cooperifa (2018) é um movimento cultural com 17 anos de atuação na periferia de São Paulo, promovendo atividades poéticas junto à comunidade. Algumas das intervenções culturais realizadas são: Cinema na laje, Chuva de livros, Várzea poética, Poesia no ar, Ajoelhaço, Natal com livros, Mostra cultural, Sarau nas escolas, Canja poética. O Sarau da Cooperifa ocorre toda terça-feira, no bar do Zé Batidão, localizado na Zona Sul de São Paulo. Tendo como um de seus organizadores o poeta Sérgio Vaz, o Sarau é uma oportunidade de descentralizar a literatura e fazer a comunidade da periferia ter acesso a ela. Segundo o poeta, “O Sarau da Cooperifa é quando a poesia desce do pedestal e beija os pés da comunidade”. Veja, no link a seguir, o documentário sobre o Sarau da Cooperifa “Povo lindo, povo inteligente!”: https://qrgo.page.link/3RWcx Tirar a literatura do “pedestal” é desfazer a ideia do livro como “objeto sagrado”, segundo Soares (2007). Afinal, o livro é “[...] para estar nas mãos das pessoas, ser manipulado pelas crianças” (SOARES, 2007, documento on-line). Para que isso ocorra na escola, uma das possibilidades é desfazer a imagem da biblioteca como um “santuário” inacessível. Ao lançar um olhar coletivo para a biblioteca da escola, cabe repensar seus espaços, tornando-os mais atrativos, pensando em um espaço adequado para leitura, tirando a biblioteca de uma posição de “lugar que se vai visitar ocasionalmente com o professor por obrigação” para colocá-la no centro do cotidiano dos alunos, fazendo com que se apropriem do espaço, que sintam vontade de estar lá e de cuidá-lo. 5A prática da literatura no espaço escolar Estratégias e práticas de leitura literária em sala de aula A leitura literária na sala de aula pode partir de diferentes abordagens por parte do professor. Por um lado, ele deve se posicionar também como um leitor curioso; também deve ser um mediador de leitura e, ao mesmo tempo, ensinar literatura. Ler, mediar e ensinar, portanto, são os três verbos que devem fazer parte das estratégias para levar a leitura literária para a sala de aula. Veja, a seguir, como esses verbos podem se tornar práticas no dia a dia do professor. Ler Para ensinar literatura, é necessário, primeiramente, que o professor seja um leitor de literatura. É certo que os professores exercem grande infl uência na vida de seus alunos. Por esse motivo, um professor que está constantemente lendo, possui uma grande gama de histórias novas para abastecer seus alunos, mesmo que aquelas obras não sejam necessariamente trabalhadas em sala de aula. Logo, o professor curioso e leitor estará mais próximo de inspirar seus alunos a serem leitores curiosos assim como ele. Quando se fala na importância de um professor leitor de literatura, não se trata apenas da literatura canônica, voltada ao adulto, mas também da leitura de literatura infantojuvenil. É preciso que o professor desenvolva o interesse nas obras de destaque voltadas ao público infantil e adolescente. A professora Lizbeth Völker desenvolveu um trabalho que unia os interesses literários de seus alunos, geralmente ligados a best-sellers e obras adaptadas para o cinema, com a necessidade da escola de formar leitores competentes para a ampliação do corpus de leitura. A professora demonstrou verdadeiro interessepelos livros que seus alunos do 8º ano do ensino fundamental estavam lendo e percebeu que, estruturalmente, essas obras possuíam muitas semelhanças com obras canônicas que poderiam ser trabalhadas naquela turma. A partir dessa constatação, ela desenvolveu um trabalho em que os livros indicados por seus alunos serviam de mediadores da leitura canônica. Dessa forma, ela captou o interesse de seus alunos para outras obras que ampliassem seu repertório de leituras. A prática da literatura no espaço escolar6 Outra possibilidade de prática de leitura na sala de aula é a criação de espaços físicos e temporais de leitura para os alunos. É importante que os alunos percebam sua sala de aula não apenas como local onde atividades obrigatórias e muitas vezes maçantes ocorrem. Criar um espaço físico de leitura na sala de aula não necessita de muitos recursos: o professor pode criar uma “caixa do livro”, escolhendo um espaço da sala onde ela fique localizada e decorá-lo, desenvolvendo um “cantinho da leitura”, com almofadas ou mesmo criando rodas de leitura com as próprias cadeiras da sala de aula. Já o espaço temporal para a leitura deve ser pensado dentro do planejamento da aula do professor. É possível abrir espaços em sua aula destinados ao desfrute, pelos alunos, de obras que estejam na caixa de leitura, que sejam emprestadas da biblioteca ou trazidas de casa. A atividade, nesse caso, é a própria leitura, sem obrigações e tarefas extras. É importante que esta seja uma das formas de se criar o hábito da leitura, mas não a única. Veja, a seguir, a importância da mediação de leitura pelo professor. Mediar Segundo Cosson (2015), a mediação da leitura literária é, muitas vezes, perce- bida como “animação”. Ou seja, o professor acaba sendo o único responsável por desenvolver diferentes atividades criativas e despertar o interesse dos alunos pela leitura literária. No entanto, como você já viu anteriormente neste capítulo, esta deve ser uma das estratégias de introdução da leitura literária na escola, mas jamais deve ser tomada como única possibilidade. O ideal é que professor e comunidade escolar estejam unidos nesse propósito, bem como que o professor não seja apenas um mediador “animador”, como alerta Cosson e como você verá posteriormente. Veja um trecho da entrevista com o escritor Ricardo Azevedo (2006, documento on-line) na revista LeituraS sobre a importância da oralidade na leitura escolar: Na minha visão, desde o momento em que a criança aprende a ler, ela deve- ria saber que existem textos que são utilitários — que trazem informações concretas, funcionais — e também outros tipos de textos, de ficção, em prosa ou verso, que trazem uma série de maneiras de se lidar, por meio 7A prática da literatura no espaço escolar Veja, a seguir, algumas possibilidades de mediação necessárias para que a curiosidade sobre o mundo da literatura seja despertada nas crianças e nos adolescentes. Uma das práticas de leitura mais comuns nas salas de aula é a Hora do Conto, na qual o professor, o bibliotecário ou um convidado realizam a leitura de um conto atrativo para uma turma de crianças. Essa atividade é bastante interessante para desenvolver o gosto das crianças pelas histórias, e despertar nelas, especialmente naquelas ainda não alfabetizadas, a vontade de adentrar no mundo das letras por meio dos livros. Uma variação dessa atividade, voltada a adolescentes, é colocá-los no centro da contação de histórias. Inicialmente, essa atividade pode causar certo desconforto e vergonha, pois a idade em que geralmente se encontram os alunos de 6º a 9º ano do ensino fundamental é realmente um desafio em termos de desinibição e engajamento em atividades como esta. Contudo, com o incentivo do professor, que também pode se colocar em um papel vulnerável para iniciar, a atividade pode ser bem-sucedida. Assim, os alunos podem indicar aos colegas o que têm lido, possibilitando uma forma de ampliar o repertório de leitura de todos. Segundo Tébar (2011 apud COSSON, 2015, documento on-line): [...] nessas atividades de mediação, o professor deve guiar-se por princípios que envolvem diversidade, sensibilidade, valorização da experiência e da contemplação, afetividade e fortalecimento da autoestima para possibilitar ao aluno o desenvolvimento de suas potencialidades. do texto, com a subjetividade. Em relação à literatura popular (quadras, adivinhas, contos de espanto, esse tipo de texto que vem da tradição oral) há um aspecto muito importante: quando um professor apresenta um conto popular, uma adivinha, a criança que tem os pais pouco letrados tem a oportunidade de reconhecer naquela história algo familiar. ‘Minha avó sabe contar essa história...’. Assim, pode-se criar um círculo virtuoso, essa criança pode voltar, no dia seguinte, com um livro, para mostrar aos seus pais que aquela história que eles conhecem também tem na escola. Como 80% da população brasileira se encontra muito próxima da cultura popular, da linguagem oral, inclusive por influência da música, esse tipo de literatura deveria estar mais presente na escola, na minha opinião. A prática da literatura no espaço escolar8 Ensinar Essas e outras atividades são muito interessantes e podem motivar e gerar o prazer da leitura. No entanto, o professor não pode assumir um papel de mero “animador” de leitura; ele ainda deve estar na posição de ensinar literatura. E o que compõe a função de ensinar literatura? Para Colomer (2007 apud VÖLKER, 2014), a função do ensino literário seria a de capacitar os alunos para que possam ampliar seu corpus de obras literárias de modo mais amplo e complexo. No ponto de vista de Galvão e Batista ([201-?], documento on-line), o prazer e a alegria de ler são muitas vezes destacados quando se fala em ensino de leitura. Esse aspecto, no entanto, não era sequer comentado no passado, “[...] quando os ensinamentos morais e instrutivos eram consi- derados mais importantes e se pensava que a busca do prazer na leitura era prejudicial à formação de qualquer leitor — criança ou adulto”. Atu- almente, esse aspecto é tão fortemente cobrado dos professores, que estes acabam por colocar em segundo plano a necessidade de desenvolver as competências de leitura. Para que seja possível efetivamente ensinar a leitura literária na escola, Cosson (2015) resume algumas das recomendações dos principais estudiosos do tema no País: levar o aluno a desenvolver sua autonomia, construindo sua própria história de leituras; ser um leitor de literatura, ou seja, o professor deve ter construído seu repertório de leituras previamente; formar mais do que informar, isto é, acima de tudo, ensinar a ler, colocar a leitura efetiva dos textos no centro do processo; ser uma presença ausente, ou seja, ser uma presença sutil, conduzindo o processo de descoberta da leitura ao mesmo tempo que deixa o aluno se encantar por suas próprias descobertas. No ensino de leitura literária, principalmente para crianças e adoles- centes, é preciso também, segundo Frantz (2011), evitar alguns aspectos, como o didatismo e o pedagogismo, isto é, pensar a leitura apenas como meio para atingir um fim. Como visto anteriormente, a leitura pode ter função em si mesma, não precisando ser usada como pretexto para ativi- dades posteriores. 9A prática da literatura no espaço escolar Para refletir sobre a importância de poder “desfrutar” a literatura, assista à animação vencedora do Oscar de 2012, Os fantásticos livros voadores do Sr. Morris Lessmore. https://qrgo.page.link/Cv3vM Além disso, a autora aponta o moralismo, presente em diversas obras literárias infantojuvenis, como um aspecto a evitar. Quer dizer, é preciso escolher obras que não tenham por princípio a transmissão de morais e normas de comportamento. Além disso, é preciso que o professor evite a escolha de obras excessivamente infantis, que subestimem a capacidade de compreensão de crianças e adolescentes. Por outrolado, é importante que o professor seja capaz de, por meio do ensino de literatura, levar o aluno a perceber e valorizar as coisas do seu mundo, as suas próprias histórias de leitura e sua forma de compreensão e interpretação destas. Isso pode ser feito a partir tanto da escolha de obras para leitura que atinjam esses objetivos quanto por meio de atividades que levem ao gesto de interpretação próprio do aluno. Elementos para um plano de aula A elaboração de um plano de aula consistente é parte essencial do planeja- mento de qualquer aula. No entanto, quando se trata da promoção e do ensino da leitura literária na escola, é essencial que o professor atente para alguns elementos que não podem deixar de ser contemplados. Primeiramente, o professor deve pensar na temática a ser abordada em relação ao público-alvo, ou seja, à faixa etária adequada de seus alunos. A temática e a faixa etária são, portanto, o ponto de partida para uma aula ou um projeto de ensino de leitura adequados. Em seguida, é preciso elaborar um título relacionado ao tema escolhido para a aula. Também é essencial, nesse momento, refletir sobre a finalidade da aula para o público a quem se destina, pensando sempre no contexto de aprendizagem que se quer encaminhar. Com isso planejado, é possível passar à escolha dos gêneros textuais a serem trabalhados, tendo alguns gêneros principais como foco, para que as crianças/ os adolescentes tenham contato com uma certa normatização apropriada de A prática da literatura no espaço escolar10 cada gênero, necessária para, posteriormente, serem capazes de produzir textos coerentes com os objetivos a que se destinam. A propósito de objetivos, é necessário que o professor determine os objetos do conhecimento envolvidos na aula planejada, bem como as práticas de linguagem que serão mobilizadas. Veja, no Quadro 1, um modelo de plano de aula sobre contação de histórias no 2º ano do ensino fundamental. Fonte: Adaptado de Kimura (2018). Tópicos Descrição Título da aula Ouvir e contar histórias Finalidade da aula Refletir sobre o contexto de produção de um conto de fadas tradicional, reconhecendo suas finalidades, espaços e tempo em que ocorrem as interações Ano 2º ano do ensino fundamental Gênero Contos de fadas Objeto(s) do conhecimento Reconstrução das condições de produção e recepção de textos Prática de linguagem Leitura/escuta (compartilhada e autônoma) Quadro 1. Exemplo de plano de aula Para embasar o plano de aula, os objetivos imediatos, gerais e específicos deste, é preciso destacar, ainda, as habilidades envolvidas, de acordo com a Base Nacional Comum Curricular ou com o projeto político-pedagógico da escola. Veja um exemplo disso a seguir. EF15LP15 ■ Anos iniciais. ■ 1º ano. ■ Leitura/escuta (compartilhada e autônoma). ■ Reconhecer que os textos literários fazem parte do mundo do imaginário e apresentam uma dimensão lúdica, de encantamento, valorizando-os, em sua diversidade cultural, como patrimônio ar- tístico da humanidade. 11A prática da literatura no espaço escolar EF15LP01 ■ Anos iniciais. ■ 1º ano. ■ Leitura/escuta (compartilhada e autônoma). ■ Identificar a função social de textos que circulam em campos da vida social dos quais participa cotidianamente (a casa, a rua, a comunidade, a escola) e nas mídias impressa, de massa e digital, reconhecendo para que foram produzidos, onde circulam, quem os produziu e a quem se destinam. A importância da avaliação Um plano de aula de leitura adequado deve também prever as formas de avaliação dos alunos. Isso não quer dizer realizar atividades específi cas de avaliação, como provas e exercícios de interpretação de texto. Pelo contrário, é essencial que todo o processo seja valorizado, e não apenas um momento da aprendizagem. Em relação ao ensino de leitura, as formas de avaliação não são tão evidentes quanto em outros objetivos de aprendizagem. Assim, é possível elencar algu- mas sugestões de avaliação do processo de leitura, por exemplo, a observação contínua da participação do aluno nas atividades de leitura, sejam rodas de leitura, trocas de indicação de leituras entre os colegas ou outras; comentários sobre os gestos de leitura de cada aluno em relação às obras específicas que têm sido debatidas em aula; autonomia na escolha de obras a serem lidas em sala ou no empréstimo da biblioteca. Para dar conta de, posteriormente, levar essas avaliações aos pais, é possível criar uma forma própria de registro do desenvolvimento de cada aluno, como por meio de um memorial do professor sobre o desenvolvimento da turma, onde vá destacando, ao longo do projeto de leitura, como cada aluno tem se expressado e vivenciado as atividades realizadas, ou, ainda, por meio do registro, em vídeo, de algumas atividades mais lúdicas, ou até mesmo produzindo uma montagem teatral com os alunos a partir de suas diversas leituras ao longo de um projeto. Estas são apenas algumas sugestões para que você se inspire e crie seus planos de aula e formas de acompanhar e avaliar os alunos ao longo de sua prática de ensino de leitura literária na escola. A prática da literatura no espaço escolar12 AZEVEDO, R. Oralidade é porosidade. LeituraS, 2006. Disponível em: http://portal.mec. gov.br/seb/arquivos/pdf/2006/leituras1.pdf. Acesso em: 11 jun. 2019. COOPERIFA. São Paulo: [S. n.], 2018. 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[S. l.: s. n.], 2012. 1 vídeo (7 min). Publicado pelo canal ProLetramentoUEPG. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=y8hb5fsnrRM. Acesso em: 11 jun. 2019. 13A prática da literatura no espaço escolar OS FANTÁSTICOS livros voadores do sr. Morris Lessmore. [S. l.: s. n.], 2012. 1 vídeo (15 min). Publicado pelo canal Leo Madureira. Disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=LjkdEvMM5xs. Acesso em: 11 jun. 2019. SARAU da Cooperifa "Povo lindo, povo inteligente!". [S. l.: s. n.], 2013. 1 vídeo (50 min). Publicado pelo canal DGT Filmes. Disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=wwIy5pyoq0M. Acesso em: 11 jun. 2019. A prática da literaturano espaço escolar14 DICA DO PROFESSOR Assista ao vídeo a seguir e saiba mais sobre a prática da literatura na escola. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) A prática de sala de aula precisa ser mais consciente e prazerosa e, acima de tudo, mais transformadora. A respeito deste tema, é CORRETO afirmar que: A) A sala de aula é o espaço onde as crianças ficam um turno do seu dia. Por isso, é necessário tornar esse espaço o mais silencioso possível. B) O que define o espaço como “aprazível” é somente um espaço físico de sala de aula que ofereça aos estudantes uma condição material confortável para o estudo e a concentração. C) Um local agradável é aquele que abriga o desejo de ser interessante. Um espaço físico aprazível favorece o encontro de professores e estudantes para estabelecer trocas e sedimentar relações. D) Consagrar a sala de aula como um espaço que promove o compartilhamento de uma boa leitura não se traduz em um ponto de partida para estreitar os vínculos do estudante com a leitura. E) Para conseguir que os alunos tenham desejo de frequentar a escola, o professor deve inserir a literatura em sua prática de forma rigorosa. 2) Existem algumas saídas para se criar na sala de aula um espaço destinado aos livros de literatura. A respeito das estratégias para se criar uma minibiblioteca, é CORRETO afirmar: A) Antes de tudo deverá ser dito ao grupo sobre a minibiblioteca e as regras que farão parte do empréstimo dos livros. B) O número de livros pode ser variado. Com 15 livros você já pode começar seu espaço. Esses livros deverão ser trocados anualmente. C) Os livros deverão ser selecionados pelos alunos, com um critério que envolva a faixa etária e variedades dos gêneros textuais. D) Os livros deverão estar em espaços variados todos os dias. O importante é que a criança os tome para ler. E) Desde o início, é importante que o professor cobre um retorno sobre a leitura, o que pode ser feito por meio de uma atividade associada ao livro. 3) Além do espaço reservado aos livros na sala de aula, é muito importante que as escolas possuam sua própria biblioteca. A respeito da utilização desse espaço comum, pode-se afirmar CORRETAMENTE que: A) A biblioteca pode ser usada, também, como o espaço do bate-papo. Ela pode se tornar um ponto de encontro agradável para se colocar a conversa em dia. B) É importante criar rodas de leitura. Assim, o professor deve reunir o grupo, criar atividades de leitura em voz alta e interagir com a turma num grande jogo. C) Não se deve poluir as paredes da biblioteca. Deve-se evitar colar nas paredes recortes, fragmentos de livros, reportagens de jornal etc. D) Se, por algum motivo, a criança precisar se afastar da sala de aula, por motivos de indisciplina ou outros, esta é uma boa oportunidade para mandá-la para a biblioteca. E) É sabido que uma biblioteca deve conter todo tipo de livros. Entretanto, deve-se evitar o uso de gibis. 4) De acordo com o texto estudado, no que diz respeito ao início de uma prática com a literatura, é importante que o professor: A) faça rodas de conversa e, nestes momentos, peça que a criança fale exclusivamente de suas experiências literárias. B) exercite sua capacidade escrita para mostrar ao aluno que consegue desenvolver temas de interesse geral. C) Para não confundir ou sobrecarregar o estudante, evite misturar o texto literário com outros tipos de arte como teatro, cinema etc. D) comece e/ou termine o dia lendo uma história. É uma forma sorridente de desejar boas- vindas ou dizer "até amanhã". E) aproveite o momento do intervalo para ficar reservado na sala de aula e preparar novas atividades relacionadas à leitura. 5) Avaliar um estudante no trabalho com leitura e com literatura envolve aspectos que extrapolam os pedagógicos. De acordo com o texto lido, são estratégias para a avaliação: A) Observação do desenvolvimento da oralidade; registro de notas; incentivo aos mais retraídos; ficha de avaliação com histórico de evolução do estudante. B) Observação do desenvolvimento da escrita; registro dos comentários interessantes; incentivo aos mais retraídos; ficha de avaliação com histórico de evolução do estudante. C) Observação do desenvolvimento da oralidade; registro dos comentários interessantes; incentivo aos mais extrovertidos; ficha de avaliação com histórico de evolução do estudante. D) Observação do desenvolvimento da escrita; registro de notas; incentivo aos mais retraídos; ficha de avaliação com histórico de evolução do estudante. E) Observação do desenvolvimento da oralidade; registro dos comentários interessantes; incentivo aos mais retraídos; ficha de avaliação com histórico de evolução do estudante. NA PRÁTICA Pensando cada vez mais no papel da literatura em sala de aula, é importante que você busque introduzir o texto literário em sua prática, valendo-se de atividades lúdicas e criativas. Veja como exemplo, o roteiro proposto por Juracy Assmann Saraiva, para se trabalhar com o texto "O galo aluado" (CAPARELLI, Sérgio. O galo aluado. In: __. Boi da cara preta. Porto Alegre: L&PM, 1983. p.37). SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: LITERATURA NA ESCOLA BRASILEIRA: HISTÓRIA, NORMATIVAS E EXPERIÊNCIA NO ESPAÇO ESCOLAR Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! A IMPORTÂNCIA DA LEITURA LITERÁRIA PARA O ENSINO Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! A LITERATURA INFANTIL NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
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